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14 agosto 2016

As "curas" superficiais que contrastam com a força do Evangelho - Jorge Hessen



AS “CURAS” SUPERFICIAIS QUE CONTRASTAM COM A FORÇA DO EVANGELHO

Se há um assunto que Kardec não priorizou na Codificação foi a mediunidade de “cura” e sequer tocou no assunto sobre “cirurgiões do além”. Em face disso, tenho sido recorrente quando aponto o modo inconveniente (doutrinariamente falando) dos centros espíritas que propõem as velhas de sessões de “cura” com ou sem “fantasmas cirurgiões”. Não ignoro os efeitos relativamente interessantes alcançados por alguns raros médiuns de “cura”, mas não entendo como imprescindível e nem valorizo esse tipo de mediunidade. Ainda que saiba que as práticas fora da boa lógica não desmerecem o fenômeno mediúnico.

Em que pese terem despertado curiosidades de cientistas e estudiosos no Brasil e no exterior em face do uso de apetrechos cirúrgicos estranhos, alguns até mesmo enferrujados, doutrinariamente jamais identifiquei nas mediunidades de José Arigó, Rubens Faria, Edson Queiroz, João de Deus e quejandos como instrumentos importantes para difusão dos princípios espíritas, inobstante seja o Espiritismo capaz de explicar as intervenções de “médicos do além” nos fenômenos de “cirurgias espirituais”.

Obviamente, quando os médicos encarnados compreenderem o valor da mediunidade (em suas várias tipificações) e sobretudo da obrigatoriedade de mudança de comportamento moral do homem, a medicina da terra ampliará o seu poder terapêutico. Não sou dos que aceitam ou deixem de aceitar um Espiritismo sem “espíritos”, mas creio que a legítima mediunidade transformadora, a da cura real, é a mediunidade da mudança de conduta, do amor ao próximo, da caridade, da paciência, da tolerância, da benevolência, da indulgência e do perdão. Ou seja, uma instituição espírita pode funcionar impecavelmente sem absoluta necessidade da mediunidade, pelo menos a tal “ostensiva”.

Em face disso, um Centro espírita não deve privilegiar ou provocar os fenômenos mediúnicos “ostensivos”, mormente aqueles centros que apenas são voltados à “cura” espiritual ou física. A instituição deve priorizar acima de tudo (e de todos) os estudos, principalmente do Evangelho, e ponto!. Ah! Proclamam, há muitos sofredores no mundo. Sim e daí? Obviamente ninguém sofre os imperativos das dores por prazer, contudo por indigência moral. É da Lei de Causa e Efeito e ponto!. Ofertemos o Evangelho, eis aí o remédio para todas as dores.

Em suma, fazer caridade com mediunidade sem o adequado entendimento dos seus perigos e contra indicações pode levar a distúrbios mentais. Não estou censurando a mediunidade, mas refletindo a mesma sob outro enfoque, propondo enxergar outra finalidade de percepção “extra-sensorial”. Ora, se ela está no cotidiano de cada um e se manifesta por tipos diversos e foi herdada nessa longa estrada evolutiva que percorremos, ela deve ser utilizada como potencial de transformação pessoal, sem necessidade de apelos sistemáticos aos irmãos do além.

Parafraseando Herculano Pires através de outra interpretação, reafirmo que a reforma íntima é o nosso passaporte para a espiritualidade, e não a mediunidade. Até porque os Espíritos não estão à disposição para promover curas de patologias que não raro representam providências corretivas para nosso crescimento espiritual no buril expiatório. Nesse sentido, enfatizo que os dirigentes de núcleos espíritas deveriam promover bases de estudos e reflexões sobre as propostas do Evangelho, em vez de encetarem trabalhos espirituais para os “curanderismos” superficiais.



Jorge Hessen


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