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30 junho 2009

Desconhecimento do Futuro - Joanna de Ângelis

DESCONHECIMENTO DO FUTURO

Entre as inescrutáveis Leis de Deus chama a atenção, merecendo reflexões, a que se refere ao desconhecimento do futuro concedido à criatura humana.

Oportunidades surgem, nas quais, pessoas portadoras da faculdade precognitiva captam fragmentos de possíveis ocorrências porvindouras, no entanto, são sempre as de grave ressonância que se permitem registrar.

Em uma análise dos fenômenos proféticos têm primazia as ocorrências que são de caráter trágico, portadoras de comoção e terror, convidando a criatura humana, individual e coletivamente, à mudança de comportamento, de modo que com essa atitude possa alterar o rumo dos acontecimentos, mas o que raramente ocorre.

Destacam-se, no entanto, entre as notícias proféticas otimistas, que são raras, o nascimento de Jesus e a Sua missão extraordinária, por ser Ele o divisor das épocas, dando início à Era do amor que, lamentavelmente, ainda não se implantou na Terra, e só a pouco e pouco se instala nos corações.

Não obstante os anúncios alvissareiros, quando de Sua chegada Ele não encontrou receptividade; antes defrontou corações covardes e agressivos, em razão das aspirações exacerbadas dos Seus
contemporâneos, que aguardavam um Messias vingador dos seus sofrimentos, que lhes concedessem glórias e honras em detrimento da

restante Humanidade, mas que o túmulo sempre toma e desconsidera.

É providencial a ignorância do futuro, porquanto as resistências psicofísicas dos seres, como têm dificuldades para enfrentar o presente com calma, menos recursos possuem para viver por antecipação o amanhã.

Insistem, muitos indivíduos, em tentar descobrir os acontecimentos porvindouros, derrapando nas fantasias e ilusões com as quais se fascinam e se embriagam.

Soubesse-se das graves ocorrências por suceder e, sem dúvida, o sofrimento seria antecipado, gerando depressão e loucura, desespero
e suicídio.

Aguardar a chegada de tragédias e dramas, de infortúnios e dissabores constituiria desgraça injustificada, maior do que o fato em si.

Tivesse-se conhecimento por antecedência de sucessos felizes, de vitórias afetivas, de glórias por conquistar e a ansiedade tornaria desditoso o período que separa o momento da descoberta ao da sua concretização.

Ademais, nasceria tormentosa desconsideração pelo presente, cuja condução modificaria o futuro.
No rio do tempo somente o hoje é vital.

Vivê-lo com elevação e nobreza é a forma feliz de anular o ontem e programar o amanhã.

O ser humano está elaborado com equipamentos próprios para o trabalho de crescimento espiritual conforme as condições do planeta que habita.

Quem deseje conhecer o próprio como o futuro da Humanidade, examine o seu comportamento e escreva com atos atuais as determinantes que comporão as paisagens que irá defrontar mais tarde.

Não há favoritismo nas Leis de Deus, que facultem a uns conquistas e favores que a outros sejam negados.

Todos passam pelo mesmo crivo de elevação ao custo de esforço pessoal indeclinável.

Se aspiras conhecer o teu futuro, examina o teu presente, programando os teus pensamentos, palavras e atos que formarão o tecido do que está por vir.

Se aspiras saber do teu passado, aprofunda reflexões nos teus dias atuais e concluirás como ele ocorreu, em razão daquilo que és agora.

O desconhecimento do futuro, qual sucede com o do passado, é bênção da Vida, contribuindo para uma existência harmônica, embasada na confiança dos resultados do amor e do trabalho, que são alavancas promotoras do progresso para todos.

Quando Deus permite ao ser humano conhecer o futuro em caráter especial, assim o faz, objetivando o seu e o progresso da sociedade. A forma porém, como o indivíduo se utiliza desse conhecimento, é de sua inteira responsabilidade, assim como as conseqüências disso advindas.
A cada instante estás alterando o teu futuro mediante as tuas ações.

Desse modo, constrói-o em luz e em paz, mesmo que estejas caminhando entre sombras e sobre espículos que te ferem os pés.

Não desfaleças, e segue adiante no rumo do teu amanha, que começa agora.

Por: Joanna de Ângelis
Médium: Divaldo Pereira Franco

29 junho 2009

Aos Obreiros de Boa Vontade - André Luis

AOS OBREIROS DE BOA VONTADE

Meus irmãos: Jesus nos abençoe.

A obra do Senhor conta com servidores de todas as latitudes, tendências e direções.

Alguns somente cooperam em tarefas que lhes agradem.
São os obreiros caprichosos.

Outros não colaboram, se a multidão dos amigos não lhes observa os esforços.
São os obreiros vaidosos.

Alguns ajudam, segundo as circunstancias do tempo.
São os obreiros inconstantes.

Vários comparecem, a fim de reparar as contribuições alheias.
São os obreiros levianos.

Diversos colaboram indicando os defeitos dos companheiros.
São os obreiros escarnecedores.

Muitos auxiliam, quando há benefícios imediatos.
São os obreiros oportunistas.

Não poucos surgem no serviço, reclamando as vantagens para o seu circulo pessoal.
São os obreiros egoístas.

Grande parte intervém no trabalho, discutindo direitos e prioridades, privilégios e favores para si ou para aqueles que se lhes façam simpáticos.
São os obreiros apaixonados.

Inúmeros aparecem nos quadros da ação, enganando o tempo e menosprezando-o, recebendo sem dar, desfrutando sem retribuir e absorvendo a luz e a benção sem irradiá-las.
São os obreiros infelizes.

Mas, o Mestre glorifica-se nos cooperadores que não cogitam de prerrogativa e remuneração, que servem onde, como e quando determina a sua Vontade Sabia e Soberana.
São os “Obreiros da Boa Vontade”.

Por: Emmanuel
Do Livro: Através do Tempo,
Médium: Francisco Cândido Xavier - Espíritos Diversos

28 junho 2009

Trabalhar - Aparecida

TRABALHAR

Trabalho é a maior concessão de Deus no tempo, o grande renovador de tudo.

Não há névoa que resista à luz, nem chaga que lhe escape ao consolo.

Com ele olvidamos nossos pesares, encontramos os pesares alheios que nos solicitam concurso fraterno.

É por ele que adquirimos o verdadeiro senso das proporções, de vez que nos ensina a sanar as dores maiores do que as nossas.

Pelo trabalho a experiência terrestre se transforma em cântico de alegria.

A ele devemos o berço que nos recolhe, o coração materno que nos afaga, a escola que nos instrui, o lar que nos acalenta e o caminho em que se nos desdobra a compreensão.

Serviço é riqueza e cultura, educação e aprimoramento.

Se entre os homens trabalhar é a honra da criatura, na Vida do Espírito trabalhar significa elevação e progresso.

Temos, além da morte, a luta de mil faces diferentes, desafiando-nos a capacidade de auxiliar.

Entre a Terra e o Céu, há precipícios de angústia e vales de escuridão, nos quais a vaidade humana expia e chora... Dores incontáveis surgem, depois do túmulo, onde a colheita do remorso encontra espinheiros de sombra e fel.

Só o trabalho é bastante forte para penetrar nos antros do sofrimento, iniciando a obra da redenção para os companheiros que desejam renovação.

Por isso mesmo, a ele nos cabe empenhar o coração com ardoroso fervor, a fim de aprendermos que servir aos outros é servir a nós próprios.

Trabalhemos, na certeza de que os sentimentos e as idéias, as atitudes e os atos, as palavras e as mãos no trabalho do bem constituem as bases do santuário espiritual em que nos compete converter a própria vida, para que Jesus por nós se manifeste, na edificação do reino de Deus.

Por: Aparecida
Do livro: Temas da Vida,
Médium: Francisco Cândido Xavier

27 junho 2009

Concessões do Senhor - Nina Arueira

CONCESSÕES DO SENHOR

O Senhor!

Concede-nos as bênçãos da luz para que afastemos as angústias da treva.

Permite-nos as alegrias do amor a fim de que cessemos os conflitos do ódio.

Ensina-nos Suas Leis para que destruamos a ignorância.

Envolve-nos em dádivas do bem para que saibamos extinguir o mal.

Dá-nos prosperidade, avaliando-nos o espírito de serviço.

Auxilia-nos carinhosamente a fim de que auxiliemos os outros.

Confere-nos o máximo de energias em nosso benefício próprio para que algo façamos pelos semelhantes.

Proporciona-nos o discernimento, observando se já sabemos auxiliar com amor.

Renova-nos os laços afetivos, verificando-nos o equilíbrio no plano dos sentimentos.

Felicita-nos com revelações queridas, pensando o quilate de nossa renovação necessária.

Mostra-nos paisagens do passado, estabelecendo a harmonia do presente.

Abre-nos o jardim das afeições, ajuizando de nosso comportamento no Amor Universal.

Cede-nos o júbilo da aproximação de alguns laços precisos, analisando se já vivemos na fraternal aproximação com todos.

Empresta-nos tempo para fixarmos as experiências proveitosas.

Enche-nos de bênçãos a fim de que saibamos abençoar.

Dota-nos com soberanas consolações, verificando se sabemos estende-las aos outros.

Cerca-nos de benfeitores para que aprendamos a ciência de agradecer.

Concede-nos guias amorosos a fim de que orientamos retamente o próximo.

Dá-nos direito para descobrirmos nossos deveres.

Oferece-nos o roteiro do Evangelho para que nos elevemos aos montes da Eterna Luz!...

Por: Nina Arueira
Do livro: União em Jesus,
Médium: Francisco Cândido Xavier - Espíritos Diversos

26 junho 2009

Santuário Doméstico - Aires de Oliveira

SANTUÁRIO DOMÉSTICO

Meus amigos, o Senhor nos ilumine e fortaleça.

O Espiritismo é a grande luz que se derrama em catadupas de bênçãos sobre a humanidade sofredora e atormentada, e cada santuário doméstico que lhe entroniza a claridade no altar mais íntimo, é abençoado núcleo distribuidor dos celestes dons que fluem, incessantemente, do Alto.

Temos aqui, portanto, a revelação do porvir terrestre:

A verdade libertada dos templos de pedra que a algemam a férreos princípios convencionais, atravessando o lar, à maneira de corrente cristalina, aliviando corações dilacerados, sarando velhas úlceras e preparando almas para a Vida Eterna.

Prescindimos aqui do sacerdócio organizado porque individualmente cada companheiro oficia ao Supremo Senhor, no santuário de si mesmo; dispensamos o fausto do culto externo, porquanto, a veste do crente é a sua própria indumentária viva de sentimento edificante; não necessitamos de códigos preestabelecidos a legislarem sobre a nossa fé, porque a convicção de imortalidade nasce pura e sublime no livro de cada um de nós, expresso no coração com que amamos e vibramos dentro da vida.

Maior revelação não encontraremos por agora, além dessa bendita oportunidade de serviço com Jesus, em sagrado conjunto de forças a se desdobrarem, uníssonas, à procura da concretização da caridade e da harmonia na Terra.
Um lar sintonizado com o Cristo é uma orquestra divina.

Contemplam-se os instrumentos do bem, aí dentro, espontaneamente, compondo a música do Amor em derredor de todos os peregrinos que marcham nos círculos de luta redentora em busca da Espiritualidade Superior.

Não temos, desse modo, mensagem mais expressiva a recordar-vos senão a da oportunidade santificante que repousa em vossas mãos.

Cada servidor é chamado à tarefa que lhe é própria. Cada trabalhador tem serviço especializado na obra do mundo, qual ocorre à semente que se reveste de utilizada diferente nas leiras da vida.
Cada missionário permanece no ministério de que é detentor.

Cada conjunto de servidores, trabalhadores e missionários guardam responsabilidades diversas em nossos círculos.

Assim, saudamos, não só a fé renovadora que vos possui, mas também a diligência que vos assinala os passos no desempenho das obrigações que vos cumprem executar.

Crede que a riqueza do lar convertido em manancial do Evangelho é tesouro cobiçado por milhões de operários que perderam o dia ou que esfacelaram as ferramentas que a Bondade Divina lhes confiou.

Grande é, por isso, a vossa fortuna, à frente do erário eterno e maior será o vosso galardão se souberdes marchar unidos, ao encontro dos objetivos que nos entrelaçam os propósitos.

E essa jornada, meus amigos, no fundo, é constituída por serviço constante no bem.

Cada ângulo de dor do caminho, cada irmão desesperado, cada companheiro ignorante e desiludido representam ocasiões luminosas de ação com o Senhor.

O discípulo distraído costuma perder-se em cariadas e inúteis indagações com respeito às provas, olvidando que as provas mais elevadas da Terra não são aquelas que a dor traz habitualmente consigo, arrasando muitas vezes os corações desprevenidos e invigilantes.

Cada momento de socorro aos semelhantes, no capítulo da bondade e da tolerância, é realmente jubiloso minuto de prova benemérita, no qual poderemos desenvolver nossa capacidade máxima de assimilação do Evangelho Salvador.

Em vista dessa verdade, este é o nosso roteiro com o Cristo – atividade com Jesus, nos setores do esforço diário, a fim de que não precisemos escrever Espiritismo para os outros, mas que o Espiritismo escreva em nós as suas lições imperecíveis de iluminação, santificação e vitória.

Que o Divino Mestre nos abençoe a sublime aspiração de executar-lhe os desígnios soberanos e misericordiosos, onde estivermos, são os votos do irmão e servo reconhecido.

Por: Aires de Oliveira
Do livro: União Em Jesus,
Médium: Francisco Cândido Xavier - Espíritos Diversos

25 junho 2009

Na Seara Espírita - Irmão José

Na Seara Espírita

Na seara espírita onde foste chamado a servir, não critiques os companheiros, mesmo quando estejais a sós com alguém de tua inteira confiança.

Evita fomentar conversações inúteis, promotoras da desunião e da desconfiança.

Se te encontras imbuído do propósito de auxiliar, não apontes erros nos outros.

Não te esqueças que cada um deve colher os frutos de sua própria experiência e não queiras substituí-los no aprendizado que se lhes faz necessário.

Recordando a ti mesmo o quanto já te equivocaste, exercita a paciência e a compreensão para com aqueles que não te escutam os alvitres.

Valorizas os companheiros, destacando-lhes o esforço e a boa vontade nas tarefas que desempenham, sem exigir deles a perfeição que também não podes oferecer.

Não permitas que os assuntos levianos se alastrem no grupo a que pertences, minando-lhes as bases com a infiltração da intriga, que acaba por derrubar as mais sólidas construções de fraternidade.

Quando não tenhas o que conversar, relativamente às tarefas em pauta, antes que o tema descambe para a maledicência, provoque o diálogo em torno de uma das lições da Doutrina, canalizando as tuas idéias para o que seja proveitoso.

Educar a palavra é educar a alma em profundidade.

Se foste chamado a dirigir um grupo de amigos vinculados ao Espiritismo, reflete na responsabilidade de que te encontras transitoriamente investido e procura mantê-los unidos através do teu exemplo.

Não cultives preferências por este ou aquele.

Divide a tua atenção e o teu carinho, por igual, com todos eles.

Aprende a ouvir, para que saibas falar.

Lembra-te de que um dos maiores problemas que Jesus enfrentou, para nos ensinar o seu Evangelho, foi o do relacionamento entre os irmãos que lhe constituíam o colégio apostólico.

Não alimentes aversão por quem pensa diferente de teus pensamentos.

"Quem não é por nós, é contra nós; e quem conosco não ajunta, espalha." Não te arvores em juiz de quem quer que seja.

Os Espíritos Superiores que ditaram a Doutrina a Allan Kardec agitam quase que em completo anonimato, assinando as mais belas páginas apenas como "Um Espírito Familiar", "Espírito Amigo", "Guia Protetor", "João", "Lázaro", "Cáritas", "Simeão"...

Afastemos o personalismo de nossas cogitações.

Não queiramos ser o que sabemos que não somos.

Impessoalizemo-nos.

Quando não possas concordar com a orientação doutrinária deste ou daquele grupo, que acredita estar no caminho certo, ou quando ainda não consigas entender o posicionamento deste ou daquele companheiro de ideal, que defende firmemente o seu ponto de vista, silencia e espera.

De tua parte, sê sempre aberto ao diálogo, fugindo ao extremismo das idéias.

Se assim o fizeres, certamente errarás menos e colaborarás de forma mais eficiente na construção do Reino de Deus sobre a face da Terra.

Livro: Seara de Luz
Irmão José e Carlos A. Baccelli

24 junho 2009

Filosofia da Dor - Emmanuel

FILOSOFIA DA DOR

Quantas enfermidades pomposamente batizadas pela ciência médica não passam de estados vibratórios da mente em desequilíbrio? (Vinha de Luz)

*

A agonia prolongada pode ter finalidade preciosa para a alma e a moléstia incurável pode ser um bem, como a única válvula de escoamento das imperfeições do Espírito em marcha para a sublime aquisição de seus patrimônios da vida imortal. (Consolador)

*

Em muitas ocasiões, a contrariedade amarga é aviso benéfico e a doença é recurso de salvação. (Vinha de Luz)
*

Se te encontras atado ao leito, incapaz de mobilizar as próprias energias, em benefício de ti mesmo, recorda que, por vezes, a lição da enfermidade deve ser mais longa, a favor de nossa grande libertação no futuro. (Reformador - 02/1953)

*

O amor equilibra, a dor restaura. É por isso que ouvimos muitas vezes: Nunca teria acreditado em Deus se não houvesse sofrido. (Caminho, Verdade e Vida)

*

Ninguém passará ileso nos caminhos do mundo.

As pedras da incompreensão e da dor, no ambiente comum da existência carnal, chovem sobre todos. (Reformador - 10/1952)

*

A lei das provas é uma das maiores instituições universais para a distribuição dos benefícios divinos. (Consolador)

*

Um guia espiritual pode ser um bom amigo, mas nunca poderá desempenhar os vossos deveres próprios, nem vos arrancar das provas e das experiências imprescindíveis à vossa iluminação. (Consolador)

*

O sofrimento de muitos homens, na essência, é muito semelhante ao do menino que perdeu seus brinquedos. (Caminho, Verdade e Vida)

*

As enfermidades congênitas nada mais são que reflexos da posição infeliz a que nos conduzimos no pretérito próximo. (Pensamento e Vida)

*

O sofrimento é a forja purificadora, onde perdemos o peso das paixões inferiores, a fim de nos alçarmos à vida mais alta... Quase sempre é na câmara escura da adversidade que percebemos os raios da Inspiração Divina, porque a saciedade terrestre costuma anestesiar-nos o espírito. (Ave, Cristo!)

De "Palavras de Emmanuel",
de Francisco Cândido Xavier

23 junho 2009

Evolução do Espiritismo - André Luiz

EVOLUÇÃO DO ESPIRITISMO

Muito embora os desentendimentos e suplementações marginais, compreensivelmente encontradiços aqui e ali, em nossas atividades, não se pode negar o seguro avanço do Espiritismo, em seu primeiro século de existência.

Dentre as múltiplas conquistas em que se lhe verifica o progresso, apontemos ligeiramente nas construções que lhe dizem respeito:

A valorização do aspecto moral e das conseqüências religiosas.

O estabelecimento necessário da separação entre mediunidade e doutrina.

A acomodação do fenômeno em lugar adequado.

A compreensão do médium por personalidade humana falível.

O reconhecimento de que a desencarnação não altera a criatura de maneira fundamental.

O impositivo de análise nas comunicações e revelações.

A exigência de moralidade e objetivos edificantes nas investigações psíquicas.

O esclarecimento mais amplo em torno de determinadas manifestações dos desencarnados.

A sublimação gradativa das faculdades de efeitos físicos, transferidas de espetáculos menos úteis ao socorro da Humanidade sofredora.

O afastamento gradual da evocação direta.

O aperfeiçoamento das atividades alusivas à desobsessão.

O repúdio à polêmica religiosa.

A elevação do vocabulário doutrinário.

O desbaste natural das influências de outros credos e a poda espontânea de rituais do magismo.

A confirmação progressiva dos princípios espíritas por parte da ciência terrestre.

A melhoria dos processos de divulgação na imprensa falada e escrita.

A orientação clara quanto à educação da infância.

A formação de núcleos da juventude espírita em movimentos próprios.

A criação da literatura espírita.

A intensificação das obras de assistência social.

O culto do Evangelho em família, nos recintos domésticos.

A simplificação de hábitos e definição de atitude da vida dos espíritas.

À vista de semelhantes ocorrências, efetivamente incontestes, reunamos ideais e energias, emoção e discernimento na ampliação do trabalho espírita que nos compete na Seara Redentora de Jesus, com as chaves elucidativas de Allan Kardec, transformando convicção em serviço e convertendo as sensações do maravilhoso em noções de responsabilidade que nos preparem o cérebro e o coração para a Vida Maior.

De "Sol nas Almas",
de Waldo Vieira,
pelo Espírito de André Luiz

22 junho 2009

Alucinógenos, Toxicomania e Loucura - Joanna de Ângelis

ALUCINÓGENOS, TOXICOMANIA E LOUCURA

Dentre os gravames infelizes que desorganizam a economia social e moral da Terra atual, as drogas alucinógenas ocupam lugar de destaque, em considerando a facilidade com que dominam as gerações novas, estrangulando as esperanças humanas em relação ao futuro.

Paisagem humana triste, sombria e avassaladora, pelos miasmas venenosos que distilam os grupos vencidos pelo uso desregrado dos tóxicos, constitui evidência do engano a que se permitiram os educadores do passado: pais ou mestres, sociólogos ou éticos, filósofos ou religiosos.

Cultivado e difundido o hábito dos entorpecentes entre povos estiolados pela miséria econômica e moral, foi adotado pela Civilização Ocidental quando o êxito das conquistas tecnológicas não conseguiu preencher as lacunas havidas nas aspirações humanas—mais ampla e profunda integração nos objetivos nobres da vida.

Mais preocupado com o corpo do que com o espírito, o homem moderno deixou-se engolfar pela comodidade e prazer, deparando, inesperadamente, o vazio interior que lhe resulta amarga decepção, após as secundárias conquistas externas.

Acostumado às sensações fortes, passou a experimentar dificuldade para adaptar-se às sutilezas da percepção psíquica, do que resultariam aquisições relevantes promotoras de plenitude íntima e realização transcendente.

Tabulados, no entanto, programados por aferição externa de valores objetivos, preocuparam-se pouco os encarregados da Educação em penetrar a problemática intrínseca dos seres, a fim de, identificando as nascentes das inquietações no espírito imortal, serem solvidos os efeitos danosos e atormentadores que se exteriorizam como desespero e angústia.

Estimulado pelo receio de enfrentar dificuldades, ou motivado pela curiosidade decorrente da falta de madureza emocional, inicia-se o homem no uso dos estimulantes—sempre de efeitos tóxicos—, a que se entrega, inerme, deixando-se arrastar desde então, vencido e desditoso.

Não bastassem a leviandade e intemperança da maioria das vítimas potenciais da toxicomania, grassam os traficantes inditosos que se encarregam de arrebanhar catarmas que se lhes submetem ao comércio nefando, aumentando, cada hora, os índices dos que sucumbem irrecuperáveis.

A má Imprensa, orientada quase sempre de maneira perturbante, por pessoas atormentadas, colocada para esclarecer o problema, graças à falta de valor e de maior conhecimento da questão por não se revestirem os seus responsáveis da necessária segurança moral, tem contribuído mais para torná-lo natural do que para libertar os escravizados que não são alcançados pelos "slogans" retumbantes, porém vazios das mensagens, sem efeito positivo.

O cinema, a televisão, o periodismo dão destaque desnecessário às tragédias, aumentam a carga das informações que chegam vorazes às mentes fracas, aparvalhando-as sem as confortar, empurrando-as para as fugas espetaculares através de meandros dos tóxicos e de processos outros dissolventes ora em voga. . .

Líderes da comunicação? ases da arte, da cultura, dos esportes não se pejam de revelar que usam estimulantes que os sustentam no ápice da fama, e, quando sucumbem, em estúpidas cenas de auto-destruição consciente ou inconsciente, são transformados em modelos dignos de imitados, lançados como protótipos da nova era, vendendo as imagens que enriquecem os que sobrevivem, de certo modo causadores da sua desgraça...

Não pequeno número, incapaz de prosseguir, apaga as luzes da glória mentirosa nas furnas imundas para onde foge: presídios, manicômios, sarjetas ali expiando, alucinado, a leviandade que o mortificou . . .

As mentes jovens despreparadas para as realidades da guerra que estruge em todo lugar, nos países distantes e nas praias próximas, como nos intrincados domínios do lar onde grassam a violência, o desrespeito, o desamor arrojam-se, voluptuosas, insaciáveis, ao prazer fugidio, à dita de um minuto em detrimento, afirmam, da angustiosa expectativa demorada de uma felicidade que talvez não fruam. . .

Fixando-se nas estruturas mui sutis do perispírito, em processo vigoroso, os estupefacientes desagregam a personalidade, porquanto produzem na memória anterior a liberação do subconsciente que invade a consciência atual com as imagens torpes e deletérias das vidas pregressas, que a misericórdia da reencarnação faz jazer adormecidas... De incursão em incursão no conturbado mundo interior, desorganizam-se os comandos da consciência, arrojando o viciado nos lôbregos alçapões da loucura que os absorve, desarticulando os centros do equilíbrio, da saúde, da vontade, sem possibilidade reversiva, pela dependência que o próprio organismo físico e mental passa a sofrer, irresistivelmente...

Faz-se a apologia de uns alucinógenos em detrimento de outros e explica-se que povos primitivos de ontem e remanescentes de hoje utilizavam-se e usam alguns vegetais portadores de estimulantes para experiências paranormais de incursão no mundo espiritual, olvidando-se que o exercício psíquico pela concentração consciente, meditação profunda e prece conduz a resultados superiores, sem as conseqüências danosas dos recursos alucinatórios.

A quase totalidade que busca desenvolver a percepção extra-sensorial, através da usança do estupefaciente, encontra em si mesmo o substractum do passado espiritual que se transforma em fantasmas, cujas reminiscências assomam e persistem, passada a experiência, impondo-se a pouco a pouco, colimando na desarmonização mental do neófito irresponsável. Vale, ainda, recordar que, adversários desencarnados, que se demoram à espreita das suas vítimas, utilizam-se dos sonhos e viagens para surgirem na mente do viciado, no aspeto perverso em que se encontram, causando pavor e fixando matrizes psíquicas para as futuras obsessões em que se repletarão emocionalmente, famílias da infelicidade em que se transformam.

A educação moral à luz do Evangelho sem disfarces nem distorções; a conscientização espiritual sem alardes; a liberdade e a orientação com bases na responsabilidade; as disciplinas morais desde cedo; a vigilância carinhosa dos pais e mestres cautelosos; a assistência social e médica em contribuição fraternal constituem antídotos eficazes para o aberrante problema dos tóxicos—auto-flagelo que a Humanidade está sofrendo, por haver trocado os valores reais do amor e da verdade pelos comportamentos irrelevantes quão insensatos da frivolidade.

O problema, portanto, é de educação na família cristianizada, na escola enobrecida, na comunidade honrada e não de repressão policial...

Se és jovem, não te iludas, contaminando-te, face ao pressuposto de que a cura se dá facilmente.

Se atravessas a idade adulta, não te concedas sonhos e vivências que pertencem à infância já passada, ansiando por prazeres que terminam ante a fugaz e enganosa durabilidade do corpo.

Se és mestre, orienta com elevação abordando a temática sem preconceito, mas com seriedade.

Se és pai ou mãe não penses que o teu lar estará poupado. Observa o comportamento dos filhos, mantém-te, atento, cuida deles desde antes da ingerência e do comprometimento nos embalos dos estupefacientes e alucinógenos, em cuja oportunidade podes auxiliá-los e preservá-los.

Se, porém, te surpreenderes com o drama que se adentrou no lar, não fujas dele, procurando ignorá-lo em conivência de ingenuidade, nem te rebeles, assumindo atitude hostil. Conversa, esclarece, orienta e assiste os que se hajam tornado vitimas, procurando os recursos competentes da Medicina como da Doutrina Espírita, a fim de conseguires a reeducação e a felicidade daqueles que a Lei Divina te confiou para a tua e a ventura deles.

Por: Joanna de Ângelis
Do livro: Após a Tempestade,
Médium: Divaldo Pereira Franco

21 junho 2009

Paradigmas e Preconceitos - Orson Peter Carrara

Paradigmas e Preconceitos

Posturas resistentes só embaçam o progresso

Uma frase atribuída a Albert Einstein agiganta um dos maiores desafios da evolução humana: o preconceito. A frase é: "é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito". O preconceito, segundo o dicionário (1), é conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados; opinião desfavorável, concebido antecipadamente ou independente de experiência ou razão. A própria definição já indica o equívoco de sua existência e danosas conseqüências.

O preconceito é responsável pela manutenção de paradigmas que têm atravancado o progresso humano. A palavra paradigma não tem uma conceituação que indique dificuldades ou males, mas como ela significa (1) modelo, padrão, protótipo, está sujeita, em ações concretas e nos relacionamentos humanos, à ação do nefasto preconceito e suas manifestações.

Estas reflexões surgiram em virtude da leitura de pequeno texto, que abaixo reproduzimos, de autoria desconhecida:

COMO NASCE UM PARADIGMA

Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro colocaram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão.

Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os
outros enchiam-no de pancadas. Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas.

Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos.

A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais
subia a escada. Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro
substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato.

Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o fato. Um quarto e finalmente, o último dos veteranos foi substituído. Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas.

Se fosse possível perguntar a algum deles por que batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: "Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui..."
Você não deve perder a oportunidade de passar esta história para seus amigos, para que, vez por outra, questionem-se por que estão batendo...

Neste ponto podemos notar como a frase atribuída a Albert Einstein ganha força. Quantas e quantas situações, da vida real, não estão enquadradas nesses preconceitos impostos, dificultando, pois, a mudança de paradigmas impregnados de vícios e resistências que atravancam o progresso.

Lucidez de Kardec

E melhor ainda é defrontar-se com a lucidez de Allan Kardec em texto publicado na Revista Espírita, de julho de 1862 (2), quando, em matéria que intitulou O Ponto de Vista, a abordagem abre caminho sobre a questão do foco de visão em que se coloca qualquer observador, sofrendo aí, neste caso, as influências de si mesmo e das circunstâncias em que se coloca. Aspectos, importância, detalhes, gravidade, foco, opções ou decisões mudam completamente de direção se alterado o ponto de vista em que se situam possíveis contendores ou diante de desafios individuais.

Apresentando o novo ponto de vista que o Espiritismo apresenta para a vida e sua finalidade, Kardec apresenta essa preciosidade:

"(...) mostra-nos a vida da alma, o ser essencial, porque é o ser pensante (...) Entretanto o homem, colocando no centro da vida, com esta se preocupa como se fosse durar sempre. Para ele tudo assume proporções colossais: a menor pedra que o fere afigura-se-lhe um rochedo; uma decepção o desespera; um revés o abate; uma palavra o enfurece. (...) Triunfar é o fim de seus esforços, o objetivo de todas as suas combinações; mas, quanto à maioria delas, que é o triunfo? Será, se não possuem os meios de vida, criar por meios honestos uma existência tranqüila? Será a nobre emulação de adquirir talento e desenvolver a inteligência? Será o desejo de deixar, depois de si, um nome justamente honrado e realizar trabalhos úteis para a humanidade? Não, triunfar é suplantar o vizinho, eclipsá-lo, afastá-lo, mesmo derrubá-lo, para lhe tomar o lugar. (...)"

E, referindo-se ao desejo de mudança de paradigmas pessoais e coletivos, à luz do pensamento espírita, pondera Kardec:

"(...) Como tudo isto muda de aspecto quando, pelo pensamento, sai o homem do vale estreito da vida terrena e se eleva na radiosa, esplêndida e incomensurável vida de além-túmulo! Como então tem piedade dos tormentos que se criou à vontade! Como então lhe parecem mesquinhas e pueris as ambições, a inveja, as suscetibilidades, as vãs satisfações do orgulho! É como se na idade madura considerasse os brincos infantis; (...)"

E, convenhamos, essas últimas linhas bem indicam as manifestações e os prejuízos de tolos preconceitos, originários de paradigmas que se estabelecem pela força, pelo orgulho. Infelizmente. Nada mais a acrescentar, apesar da exuberância do texto integral de Kardec. Aliás, diga-se de passagem, todo ele, convidativo à mudança de posturas, de abertura a novos pontos de vista, para paradigmas que estimulem o progresso e a disseminação de idéias que tragam o bem geral.

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(1) Michaelis, Editora Melhoramentos

( 2) Edição Edicel, tradução Júlio Abreu Filho.

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Matéria originariamente publicada na
Revista Internacional de Espiritismo,
edição de dezembro de 2005.
Autor: Orson Peter Carrara

20 junho 2009

Método Sábio e Justo - Orson Pete Carrara

Método Sábio e Justo

Você consegue imaginar outro método mais justo e sábio de nos fazer despertar, de nossos equívocos e muitas vezes insano comportamento, senão o de nos surpreendermos com os efeitos de nossas próprias escolhas?

Eis porque a expressão pedagogia é muito bem aplicada quando se refere ao modo como a vida encaminha a cada um de nós nos aprendizados necessários, porquanto em sua raiz grega original, pedagogo é o condutor de crianças.

Concorda o leitor o quanto ainda somos crianças? Sim, crianças no entendimento, nas fragilidades, nos equívocos. Quem de nós poderá erguer a própria voz e eleger o próprio comportamento e decisões com a segurança da sabedoria?

Não! Somos ainda aprendizes. Na infância, adolescência e mocidade ainda inseguros, vivendo os desafios da auto-afirmação. Na madureza, quando a experiência começa a mostrar caminhos, muitos de nós nos perdemos na fragilidade da suposta auto-competência; quando a madureza vai caminhando para a velhice, apesar da experiência acumulada, a fragilidade se acentua.

Seres humanos o que somos, sujeitos aos equívocos próprios de nossa condição, necessitados todos do aprimoramento próprio e dos aprendizados da convivência.

Nada mais sábio e justo, portanto, do que o método utilizado pela vida, para não dizer por Deus, para nos ensinar a viver: nossas escolhas geram efeitos que vão nos surpreendendo gradativamente.

Somos responsáveis pelo que pensamos, sentimos, fazemos... Não temos de reclamar de ninguém, pois somos os próprios geradores de nossos infortúnios ou das alegrias que possamos colher.

São das conseqüências de nossas decisões e escolhas que colhemos a experiência do aprendizado.

Podemos mesmo reclamar da situação que nos encontramos? Podemos realmente culpar alguém pelo que nos aconteceu?

Antes de acusar ou reclamar, passemos em revista os próprios atos do passado. Voltemos, passo a passo, nos rumos que escolhemos. Avaliemos, friamente, as decisões, posturas e mesmo as intenções e vontades. E vamos nos surpreender com a realidade de que o que estamos colhendo hoje é fruto de nós mesmos!

Equívocos, paixões, acertos e desacertos, escolhas, inseguranças, omissões, iniciativas, medos, ousadia ou acomodação fazem parte desse processo de aprendizado que devolve a cada um o resultado das próprias ações e escolhas.

Nada mais justo. Nada mais sábio. Um autêntico método de aprendizado.

Autor: Orson Peter Carrara

19 junho 2009

O Centro Espírita - J.Herculano Pires

O Centro Espírita

Se os espíritas soubessem o que é o Centro Espírita, quais são realmente a sua função e a sua significação, o Espiritismo seria hoje o mais importante movimento cultural e espiritual da Terra.

Temos no Brasil – e isso é um consenso universal – o maior, mais ativo e produtivo movimento espírita do planeta. A expansão do Espiritismo em nossa terra é incessante e prossegue em ritmo acelerado. Mas o que fazemos, em todo este vasto continente espírita, é um imenso esforço de igrejificar o Espiritismo, de emparelhá-lo com as religiões decadentes e ultrapassadas, formando por toda parte núcleos místicos e, portanto fanáticos, desligados da realidade imediata. Dizia o Dr. Souza Ribeiro, de Campinas, nos últimos tempos de sua vida de lutas espíritas: "Não compareço a reuniões de espíritas rezadores! "E tinha razão, porque nessas reuniões ele só encontrava turba dos pedintes, suplicando ao Céu ajuda.

Ninguém estava ali para aprender a Doutrina, para romper a malha de teia de aranha do igrejismo piedoso e choramingas. A domesticação católica e protestante criara em nossa gente uma mentalidade de rebanho. O Centro Espírita tornou-se uma espécie de sacristia leiga em que padres e madres ignorantes indicavam aos pedintes o caminho do Céu. A caridade esmoler, fácil e barata, substituiu as gordas e faustosas doações à Igreja. Deus barateara a entrada a entrada do Céu, e até mesmo os intelectuais que se aproximam do Espiritismo e que tem o senso crítico, se transformam em penitentes. Associações espíritas, promissoramente organizadas, logo se transformam em grupos de rezadores pedinchões. O carimbo da igreja marcou fundo a nossa mentalidade em penúria. Mais do que subnutrição do povo, com seu cortejo trágico de endemias devastadoras, o igrejismo salvacionista depauperou a inteligência popular, com seu cortejo de carreirismo político – religioso, idolatria mediúnica, misticismo larvar, o que é pior, aparecimento de uma classe dirigente de supostos missionários e mestres farisaicos, estufados de vaidade e arrogância. São os guardiães dos apriscos do templo, instruídos para rejeitar os animais sacrificiais impuros, exigindo dos beatos a compra de oferendas puras nos apriscos sacerdotais. Essa tendência mística popular, carregada de superstições seculares, favorece a proliferação de pregadores santificados, padres vieiras sem estalo, tribunos de voz empostada e gesticulação ensaiada. Toda essa carga morta esmaga o nosso movimento doutrinário e abre as suas portas para a infestação do sincretismo religioso afro-brasileiro, em que os deuses ingênuos da selva africana e das nossas selvas superam e absorvem o antigo e cansado deus cristão.

Não há clima para o desenvolvimento da Cultura Espírita. As grandes instituições Espíritas Brasileiras e as Federações Estaduais investem-se por vontade própria de autoridade que não possuem nem podem possuir, marcadas que estão por desvios doutrinários graves, como no caso do roustainguismo da FEB e das pretensões retrógradas de grupelhos ignorantes de adulterados. Teve razões de sobra André Dumas, do Espiritismo Francês, em denunciar recentemente, em entrevista à revista Manchete, a situação católica e na verdade de anti-espírita do Movimento Espírita brasileiro. A domesticação clerical dos espíritas ameaça desfibrar todo o nosso povo, que por sua formação igrejeira tende a um tipo de alienação esquizofrênica que o Espiritismo sempre combateu, desde a proclamação de fé racional contra a fé cega e incoerente, submissa e farisaica das pregações igrejeiras.

Jesus ensinou a orar e vigiar, recomendou o amor e a bondade, pregou a humanidade, mas jamais aconselhou a viver de orações e lamúrias, santidade fingida, disfarçada em vãs aparências de humildade, que são sempre desmentidas pelas ambições e a arrogância incontroláveis do homem terreno.

Para restabelecermos a verdade espírita entre nós e reconduzirmos o nosso movimento a uma posição doutrinária digna e coerente, é preciso compreender que a Doutrina Espírita é um chamado viril à dignidade humana, à consciência do homem para deveres e compromissos no plano social e no plano espiritual, ambos conjugados em face das exigências da lei superior da Evolução Humana. Só nos aproximaremos da angelitude, o plano superior da Espiritualidade, depois de nos havermos tornado Homens.

Os espíritas atuais, na sua maioria, tanto no Brasil como no mundo, não compreenderam ainda que estão num ponto intermediário da filogênese da divindade. Superando os reinos inferiores da Natureza, segundo o esquema poético de Léon Denis, na seqüência divinamente fatal de Kardec: mineral, vegetal, animal e homem, temos o ponto neutro de gravidade entre duas esferas celestes, e esse ponto é o que chamamos ESPÍRITA. As visões fragmentárias da Realidade se fundem dialeticamente na concepção monista preparada pelo monoteísmo. Liberto, no ponto neutro, da poderosa reação da Terra, o espírita está em condições de se elevar ao plano angélico. Mas estar em condições é uma coisa, e dar esse passo para a divindade é outra coisa. Isso depende do grau de sua compreensão doutrinária e da sua vontade real e profunda, que afeta toda a sua estrutura individual. Por isso mesmo, surge então o perigo da estagnação no misticismo, plano ilusório da falsa divindade, que produz as almas viajoras de Plotino, que nada mais são do que os espíritos errantes de Kardec. Essas almas se projetam no plano da Angelitude, mas não conseguem permanecer nele, cedendo de novo a atração terrena da encarnação.

Muitas vezes repetem a tentativa, permanecendo errantes entre as hipóstases do Céu e da Terra. Plotino viu essa realidade na intuição filosófica e na vidência platônica. Mas Kardec a verificou em suas pesquisas espíritas, escudadas na observação racional dos fatos. Apoiado na Razão, essa bússola do Real, ele nos livrava dos psicotrópicos do misticismo, oferendo-nos a verdade exata da Doutrina Espírita. Nela temos a orientação precisa e segura dos planos ou hipóstases superiores, sem o perigo dos ciclos muitas vezes repetidos do chamado Círculo Vicioso das Reencarnações, que os ignorantes pretendem opor à realidade incontestável da reencarnação. Pois se existe esse círculo vicioso, é isso bastante para provar o processo reencarnatório. O vício não está no processo, mas na precipitação dos homens e dos espíritos não devidamente amadurecidos, que tentam forçar a Porta do Céu.

Se no Brasil sofremos os prejuízos do religiosismo ingênuo de nossa formação cultural, na França e nos demais países europeus -segundo as próprias declarações de André Dumas – o prejuízo provém de um cientificismo pretensioso, que despreza a tradição francesa da pesquisa científica espírita, procurando substituí-la pelas pesquisas e interpretações parapsicológicas. Esse menosprezo pedante pelo trabalho modelar de Kardec levou o próprio Dumas a desrespeitar a tradição secular da Revue Spirite, transformando-a num simulacro da revista científica do Ano 2.000. As pesquisas da parapsicologia seguiram o esquema de Kardec e foram cobrindo no tempo, sucessivamente, todas as conquistas do sábio francês. Pegada por pegada, Rhine e seus companheiros cobriram o rastro científico de Kardec. O mesmo já acontecera com Richet na metapsíquica, com Crookes e Zollner e todos os demais. Toda a pesquisa psíquica honesta é válida, nesse campo, até mesmo a dos materialistas russos atuais ficaram presas ao esquema de Kardec, o que prova a validade irrevogável desta. Começando pela observação dos fenômenos físicos, todas as Ciências Psíquicas, nascidas do Espiritismo fizeram a trajetória fatal traçada pelo gênio de Kardec e chegaram as suas mesmas conclusões.

As discordâncias interpretativas foram sempre marcadas indelevelmente pelos preconceitos e as precipitações da advertência de Descartes no Discurso do Método e pela sujeição aos interesses das Igrejas, como Kardec já assinalara em seu tempo. A questão da terminologia é puramente supérflua, e como dissera Kardec, serve apenas para provar a leviandade do espírito humano, mesmo dos sábios, sempre mais apegado à forma que ao fundo do problema. No Espiritismo o quadro fenomênico foi dividido por Kardec em duas seções: Fenômenos Físicos e Fenômenos Inteligentes. Na Metapsíquica, Richet apresentou o esquema de Metapsíquica objetiva e Metapsíquica subjetiva. Na Parapsicologia os fenômenos espíritas passaram a chamar-se Fenômeno Psi, com divisão de Psicapa ( objetivos ) e Psigama ( subjetivos ). Quanto aos métodos de pesquisa, Crookes e Richet ativeram-se à metodologia científica da época, e Rhine limitou-se a passar dos métodos qualitativos para os quantitativos, inventando aparelhagens apropriadas aos processos tecnológicos atuais, apelando à estatística como forma de controle e comprovação dos resultados, o que simplesmente corresponde às exigências atuais nas Ciências.

Kardec teve a vantagem de haver acentuado enfaticamente a necessidade de adequação do método ao objeto específico da pesquisa. O próprio método hipnótico de regressão da memória, para as pesquisas da reencarnação aplicado por Albert De Rochas do século passado, foi aproveitado pelo Prof. Vladimir Raikov. Na Romênia, o preconceito quanto ao Espiritismo gerou uma nova denominação para Parapsicologia: Psicotrônica. Com esse nome rebarbativo, os materialistas romenos pretendem exorcizar os perigos de renascimento espírita em seu país.

Todos esses fatos nos mostram que a Doutrina Espírita não chegou ainda a ser conhecida pelos seus próprios adeptos em todo o mundo. Integrado no processo doutrinário de trabalho e desenvolvimento, o Centro Espírita carecia até agora de um estudo sobre as suas origens, o seu sentido e a sua significação no panorama cultural do nosso tempo. É o que procuramos fazer neste volume, com as nossas deficiências, mas na esperança de que outros estudiosos procurem completar o nosso esforço. Lembrando o Apóstolo Paulo, podemos dizer que os espíritas estão no momento exato em que precisam desmamar das cabras celestes para se alimentarem de alimentos sólidos. Os que desejam atualizar a Doutrina, devem antes cuidar de se atualizarem nela.

Autor: J. Herculano Pires
Na introdução do livro O CENTRO ESPÍRITA, Ed. Paideia

18 junho 2009

Para que educamos nossos filhos? - Momento Espírita

Para que Educamos Nossos Filhos?

São dias competitivos esses em que vivemos, sem sombra de dúvidas.

A sociedade, o mercado de trabalho, as necessidades pessoais, tudo ganha corpo e complexidade. A computação que há pouco não existia, interliga ou isola aqueles que dela não façam uso adequado.

Os cursos de línguas estrangeiras, as pós-graduações sem fim, os estudos, a escola, tudo em nome da competitividade.

Assim, o que ontem bastava para educar, hoje parece pouco.

E, na ânsia de dar instrumentos suficientes aos nossos filhos para enfrentar o monstro voraz da competitividade, vamos, sem medidas, buscando tudo e todos, para que ele possa ser o melhor, ser mais, ser o primeiro, ser, enfim, o que aprendeu a competir.

Para isso, não contamos os esforços nas horas infindas dos cursos, dos esportes, do reforço escolar, da aula, comprando as ferramentas para ele trabalhar, para ser competitivo.

Mas afinal, você já parou para se perguntar para que educamos nossos filhos? Que armas e que combates você deseja que ele esteja pronto para enfrentar?

Se nos perguntarem de que o mundo precisa, o que está em falta em nossa sociedade, de pronto elencamos as virtudes que nos fazem falta à alma: honestidade, respeito ao próximo, compaixão, solidariedade.

Afinal, quem de nós não desejaria um mundo cheio de tudo isso?

Pois bem, é esse o mundo que desejamos. E certamente é o mundo que desejamos para nossos filhos. Mas será que eles estarão preparados para um mundo assim?

Será que nossos filhos têm elementos na alma para viverem em um mundo de tolerância, compaixão, solidariedade? Quanto da alma de nossos filhos está pronta para um mundo desses?

Será que na educação de nossos pequenos há espaço para lições de tolerância?

A criança, o jovem que não experimenta a lição do conviver com as diferenças, vendo que somos apenas diferentes do lado de fora, mas por dentro somos todos filhos do Pai, jamais saberá do que se trata o tolerar.

E compaixão? Já tratamos dessa matéria na escola do coração, que nosso filho também cursa aqui na Terra?

Nenhuma criança ou jovem terá idéia do quanto a alma fica leve no prazer de minimizar a dor e dificuldade alheia, se nunca lhe oportunizarem fazê-lo.

Solidariedade. Já se falou nisso na escola do lar? Em um mundo onde as desigualdades florescem aqui e acolá, já paramos para ensinar aos nossos amores a necessidade de estender a mão para ajudar a minimizar a miséria, seja do corpo ou da alma alheia?

Não podemos esquecer que a primeira escola da vida é o lar, e é nele que as lições que desejamos para o mundo devem ser aprendidas.

De nada vale desejarmos um mundo sem violência, se não ensinamos a brandura e a mansuetude aos nossos filhos.

E em dias desafiadores como esses que se apresentam, onde as pessoas perdem referências de valores, onde as lições da alma perderam-se no afã de educar a mente, buscando apenas sermos competitivos, é no lar que devemos cultivar os valores nobres, que fazem a alma forte para enfrentar as dificuldades da vida.

Não mais a preocupação de aprendermos a ser competitivos, mas entendermos que ser colaborativos é a lição que a vida nos guarda como melhor aprendizado.

Afinal, a maior oportunidade que a vida nos oferece ao aqui estarmos é de fundamentalmente aprendermos a conjugar na prática vivencial de cada um, um único verbo: amar.

Redação do Momento Espírita

17 junho 2009

Afaste os Maus Espíritos - Orson Peter Carrara

AFASTE OS MAUS ESPÍRITOS
Por: Orson Carrara

Muita gente tem medo só de pensar nos espíritos. Que dizer então quando se tratarem de maus espíritos?

E, levados por uma suposta e antecipada proteção, utilizam-se de inúteis e variados meios que, dizem, protege contra a influência deles.

Com esse propósito de se defenderem ou afastarem supostas presenças de maus espíritos que lhes prejudiquem a vida ou os negócios, utilizam-se de processos vulgares que a nada levam.

Essas práticas recebem o nome de oferendas, exorcismos, etc. e são absolutamente inúteis, desgastantes, improdutivas e desnecessárias.

Antes de mais nada, é preciso que se repita que os espíritos são os seres humanos antes e após a existência na Terra.

Portanto, também somos espíritos. E, após a morte do corpo, habitaremos o mundo dos espíritos, com nossas virtudes, defeitos e conquistas morais e intelectuais.

Podemos afirmar como princípio geral que os maus espíritos aparecem ou se intrometem onde alguma coisa os atrai. E o que os atrai? É simples. Em primeiro lugar, as imperfeições morais; em segundo lugar a demasiada confiança com que são acolhidas as suas palavras.

As imperfeições morais são a inveja, a maledicência, a ganância, o egoísmo, o ciúme, a inveja, a intolerância, a irritação, a impaciência e outros males.

Portanto para que eles não sejam atraídos, basta substituir aqueles sentimentos pela paz, pela concórdia, pelo entendimento, pela paciência, pela calma, pelo amor ao próximo...

Todos aqueles que cultivarem virtudes e procurarem se corrigir das próprias imperfeições morais estão construindo legítima defesa contra o ataque ou intromissão de espíritos enganadores, inconvenientes ou causadores de perturbações.

E no caso de você participar de intercâmbio mediúnico (que não é exclusivo do Espiritismo), a ponderação e a reserva com que analise e aceite as comunicações é outro instrumento de defesa contra os maus espíritos.

Isso significa submeter todas as comunicações e supostas orientações advindas dos espíritos, através dos médiuns, aos critérios da lógica, do bom senso e do bem comum.

Agindo assim, pronto, estão afastados os maus espíritos, que perdem o acesso.

Não há mistérios. Onde o amor brote espontâneo, onde a fraternidade está presente, onde o esforço pelo bem comparece, os maus espíritos perdem acesso e meios de se intrometerem. Onde, porém, a tônica é o desrespeito, a desconfiança, a malícia, aí estão eles, em abundância.

Portanto, tudo depende de cada um mesmo. Ninguém é prejudicado senão porque se permitiu ser prejudicado pela própria conduta. Quem está e se esforça no bem, já, por si mesmo, está se protegendo. Simples!

Portanto, faça de seu lar um lugar protegido: afaste os maus espíritos.

Como? Com o esforço da conduta digna e reta! A começar no ambiente familiar.

16 junho 2009

Problema de Queixas - Cornélio Pires

PROBLEMA DE QUEIXAS

Tenho aqui sua consulta,
Meu caro Raimundo Seixas;
Você pede opinião
Quanto ao problema das queixas.

Sem rodeios sobre o assunto,
Posso afirmar, meu irmão,
Toda queixa, quase sempre,
É conversa gasta em vão.

A gente chora, reclama,
No entanto, o caso é sabido:
Lamentação sem trabalho
É voz de tempo perdido.

cada pessoa recebe
Certo serviço a fazer,
Somos nós servos da vida,
Cada qual em seu dever.

Se o espírito é rebelde,
Perante o mínimo encargo,
Inclina-se para a fuga
Começando em verbo amargo.

Lastima-se contra o tempo
Em tudo, seja onde for,
Censura-se o pó, a pedra,
O vento, o frio, o calor...

Mas nessa história de queixas,
Você pode registrar:
Quem caminha reclamando
Principia a piorar.

Dever é um fardo do Céu
E a quem o vote a desprezo,
Surge uma lei vigorosa
Impondo ao fardo mais peso.

Parece que Deus nos cede
Uma cruz de dons extremos,
Fugindo a ela, encontramos
As cruzes que merecemos.

Você recorda o Alexandre,
Clamava contra chefias...
Depois, ficou sem trabalho
Por mais de quinhentos dias.

Chorando quatro cruzeiros,
Saiu Antonico Brotas,
Vindo logo a tromba dágua
Levou-lhe o colchão de notas.

Reclamando anel perdido,
A irada Dona Rosenda,
Transportando vela acesa,
Incendiou a fazenda.

Ao queixar-se contra a esposa,
Laurindo da Conceição
Atirou dez mil cruzeiros
Na fogueira de São João.

Zangando-se contra a chuva
Dona Liquinha Pastura,
Ao correr, teve uma queda
De quatro metros de altura.

Penso hoje, caro irmão,
Pelas provas que já vi:
A pessoa, em se queixando,
Perde o controle de si.

Após a morte do corpo
É que se vê quanta gente
Lastima o tempo perdido
Ao zangar-se inutilmente.

Anote o caso em você,
Em você e em derredor:
Na vida de quem se queixa
A vida fica pior.

Se você quer ser feliz
Na terra e no Mais Além,
Trabalhe, siga e prossiga
Sem se queixar de ninguém.

Por: Cornélio Pires
Do livro: Baú de Casos,
Médium: Francisco Cândido Xavier

15 junho 2009

Em Louvor da Verdade - Bezerra de Menezes

EM LOUVOR DA VERDADE

Revelai-nos a sugestão de trabalho, embora rogueis a luz sem esforço.

... o Espiritismo que indaga simplesmente deu lugar, há muito tempo, ao Espiritismo que estende os braços.

... atravessais verdadeira floresta, onde os caminhos de volta ao campo da luz divina parecem intransitáveis.

Pensamentos de egoísmo, de incompreensão, de discórdia, vaidade e orgulho se entrechocam, à maneira de projeteis invisíveis ao redor de vossa personalidade, e se faz imperiosa a coragem para que os óbices multiplicados não nos vençam os labores recíprocos.

... efetivamente, a vossa procura é nobre e edificante.

... bem aventurados aqueles que demanda, a verdade e que anseiam por passagem libertadora no rumo da claridade eterna!

... não comeceis o empreendimento da própria iluminação, ao modo de um homem que iniciasse a construção de uma casa pelo teto.

... soletrai, antes de tudo, o alfabeto da bondade.

Sem as primeiras letras do amor, nunca entenderemos o sagrado poema da vida.

... é indispensável abrir o coração, vaso destinado às sementes do Céu, convertendo-nos em instrumentos do bem ativo e incessante.

... não iluminaremos a mente sem purificar os olhos, tanto quanto ninguém alcança o discipulado do Senhor, sem mobilizar as mãos na obra redentora da Terra.

... encetemos a reestruturação dos próprios destinos, compreendendo-nos mutuamente.

... que lição recolheremos na visita de benfeitores que residem à distância, se não aprendemos a fraternidade primária com o próximo?

... ouçamos a mensagem das necessidades que nos cercam.

Há dor e ignorância, treva e indiferença, na estrada em que pisais; entendamos, através delas, o nosso sentimento cristão, imitando o lavrador que não desampara a terra lodosa do charco.

... não esperemos o paraíso, quando ainda nem mesmo auxiliamos no trato do chão em que operamos.

... espíritos endividados, perante a Bondade Divina que nos deus ouvidos para registrar os ensinamentos da vida, olhos para surpreender a luz, braços para erguer o castelo de nossa própria felicidade e recursos imensos para dilatarmos o nosso próprio engrandecimento espiritual, guardemos a fé, servindo e auxiliando, corrigindo a nós mesmos e amando a todos, em louvor da verdade.

... nossa vida é um campo aberto.

Nosso coração é uma fonte.

Cada um de nossos atos é mensagem viva.

Que nossa alma se afeiçoe ao bem supremo, sob a inspiração de Jesus, a fim de que o mundo se transforme em seu Reino.

Por: Bezerra de Menezes
Do livro: "Bezerra, Chico e Você

14 junho 2009

Objurgatórias - Joanna de Ângelis

OBJURGATÓRIAS

Explicas a rebeldia atual e a debandada das trilhas luminosas da fé, porque a decepção marcou as experiências religiosas em que te envolveste, povoando-te de aflição e ralando-te o coração de dor.

Pedias paz e encontraste somente lutas.

Esperavas tranquilidade e achaste inquietude.

Desejavas saúde e enfrentaste enfermidades.

Aguardavas solicitude do Alto e os Ouvidos Cerúleos pareciam-te moucos às rogativas.

É natural, justificas, que a revolta se instalasse no coração.

Formulavas, a respeito do Espiritismo, conceitos diferentes; e a decepção, inevitavelmente, foi o amigo que te atendeu.

Todavia, és o único responsável.

Fé é lâmpada que clareia interiormente. Roteiro, e não transporte; estrada, e não porto de repouso.

O Espiritismo não equaciona dificuldades, consoante o engano de observação a que estás afeiçoado, na Terra.

Para muitos a Misericórdia divina deveria ser uma escrava às ordens de todas as paixões.

Todavia, o melhor remédio para determinadas baciloses é o bacilo-vacina.

Para muitas necessidades o socorro é, ainda, a necessidade em forma de aguilhão.

Deus nos ajuda, não como desejamos, mas consoante nossas reais necessidades.

Para certas feridas, o cautério com ferro em brasa é o melhor método curador...

Por que, então fazer do Nosso Pai ou da fé, nossos servos, transformando a justiça da Lei que nos conduz ao resgate, em preferencialismo para conosco, de maneira negativa e danosa?

Devem receber mais os que mais pedem ou aqueles que mais trabalham?

Abandona, portanto, objurgatórias e reclamações injustas, e serve.

Compromisso espiritista é ligação com deveres maiores.

Os Amigos Espirituais não te atenderão as comezinhas apelações, solucionando os problemas que deves resolver; no entanto, dar-te-ão, em colóquios sem palavras e estímulos sem nome, a harmonia que é o caminho da paz legítima e da felicidade real, longe de toda dor, agonia e morte, no formoso labor que se manifesta na luta de cada dia.

Por: Joanna de Ângelis
Do livro: Messe de Amor,
Médium: Divaldo Pereira Franco, Editora Leal

13 junho 2009

Por Que Dói Tanto? - Momento Espírita

Por Que Dói Tanto?

Não há quem caminhe pelas estradas da vida sem que cruze, em algum momento, pelos caminhos da dor. Em um mundo inconstante, onde as certezas são relativas, a dor é processo quase que inevitável.

Algumas vezes, ela vem carregando consigo a separação de quem amamos, pelo fenômeno da morte. Outras vezes é a doença que se instala, no nosso ou no corpo alheio.

Outras ainda, a dor é o revés financeiro, que nos perturba a mente e desfaz alguns planos.

Seja qual for sua origem, a dor vai sempre provocar momentos de reflexão e análise. Ela é o freio que a vida faz em nosso cotidiano, em nossos valores, em nossas manias mesmo, provocando o questionamento das coisas da vida e dos caminhos que percorremos.

Nesse questionamento, alguns optam pelo caminho da revolta. São os que maldizem a Deus, que se veem injustiçados, pois não mereciam tal desdita, que não veem utilidade nenhuma na dor, a não ser o sofrimento pelo sofrimento.

Outros utilizam a dor como aprendizado. São os que entendem os mecanismos de Deus como justos, e Deus como infinitamente amoroso para cada um de nós. Isso porque se Deus é a síntese maior do amor, certamente Seus desígnios são pautados pelo amor.

As perguntas: Por que comigo?, Será que eu mereço isso?, ou Para que tudo isso?, são os anseios de nossa alma a tentar entender as Leis da vida.

É necessário que repensemos qual o papel da dor para cada um de nós. Ela não é simples ferramenta de castigo de Deus, ou ainda, obra do acaso. Um Deus amoroso jamais agiria por acaso, ou castigaria Seus filhos.

Toda dor que nos surge é convite da vida para o progresso, para a reflexão, para a análise de nossos valores e de nosso caminhar.

Sempre que ela surge, traz consigo a oportunidade do aprendizado, que não se faria melhor de outra forma, caso contrário, Deus acharia outros caminhos.

Não que devamos ser apologistas da dor, e buscá-la a todo custo. De forma alguma. Deus nos oferece a inteligência, e os recursos das mais variadas ciências, para diminuir nossas dificuldades e dores.

Assim, para as dores da alma, devemos buscar os recursos da psicologia e da psiquiatria. Para as dificuldades do corpo físico, os recursos clínicos ou cirúrgicos.

Porém, quando todos esses recursos ainda se mostrarem limitados, a dor que nos resta é nosso cadinho de aprendizado. A partir daí, nossa resignação dinâmica perante os desígnios da vida nos ajudará a entender qual recado e qual lição a vida nos está oferecendo.

Quando começarmos a entender que a dor sempre vem acompanhada do aprendizado, começaremos a entender melhor a música da vida, e qual canção ela está nos convidando a aprender a cantar.

Afinal, nada que nos aconteça é obra do acaso. Somos herdeiros de nós mesmos, desde os dias do ontem, e hoje inevitavelmente nos encontramos com nossas heranças.

As carências de hoje é o que ontem desperdiçamos, e as dores que surgem são espinhos que colhemos agora, de um plantio que se fez deliberadamente nos caminhos percorridos.

A dor é mecanismo que a vida nos oferece de crescimento e aprendizado. Porém ela somente será necessária como ferramenta de progresso enquanto o amor não nos convencer e tomar conta do nosso coração.

A partir de então, não mais a dor será visita em nossa intimidade, pois toda ela estará tomada em plenitude pelo amor, que, como bem nos lembra o Apóstolo Pedro, é capaz de cobrir a multidão dos pecados.

Redação do Momento Espírita

12 junho 2009

Você sentirá saudades? - Momento Espírita

Você sentirá saudades?

Um famoso pensador, ao ser entrevistado, afirmou que uma das perguntas de maior teor filosófico que mais o fez pensar nos últimos tempos, tinha vindo de sua filha, uma menina de poucos anos de idade.

Afirmava o entrevistado que, certa feita, ao dar o beijo de boa noite para sua pequena, ela o surpreendeu com a seguinte pergunta: Pai, quando você morrer, irá sentir saudades de mim?

A pergunta da menina, longe da ingenuidade infantil, traz no seu bojo profundos questionamentos filosóficos. Você mesmo já se surpreendeu pensando naqueles que lhe antecederam na viagem de retorno ao mundo espiritual?

Já se perguntou onde estarão eles? Sentirão saudades de mim?

Ou já pensou em algum momento: Como pode o manto da morte ser capaz de destruir sonhos, romper laços fraternos, separar aqueles que se amam?

E já se questionou se aqueles a quem queremos bem, que nos são caros ao coração, que convivemos anos a fio, compartilhando anseios, dúvidas, desafios, medos, com a morte ficam irremediavelmente afastados de nós?

É comum dizermos: Perdi meu pai, ou Perdi meu filho, quando esses se vão com o fenômeno da morte. Será verdade que os perdemos?

A razão nos diz que não. Como pode a morte vencer os laços construídos ao longo dos dias, dos anos, feitos no olhar, na dedicação, na cumplicidade, no compartilhar de dores e felicidades?

Como pode o fenômeno biológico vencer os sentimentos verdadeiros, que nascem nos refolhos da alma e são guardados no coração?

Pensar dessa forma é imaginar que Deus pouca importância daria para o amor. Afinal, de que valeria amar alguém, se isso tudo nos levaria ao nada?

Já que a morte do corpo é inevitável, inevitável seria então perder nossos amores.

A lógica nos conduz ao entendimento das Leis de Deus, a nos explicar que os laços de amor vencem as distâncias provocadas pelo tempo e pelo espaço.

Aqueles que se amam, onde estiverem, continuarão se amando, mesmo que momentaneamente apartados.

E é isso que a morte do nosso corpo físico nos provoca. Temporariamente, ficamos apartados daqueles a quem amamos.

No entanto, logo mais, em um tempo que a vida nos dirá, nos reencontraremos, com as saudades daqueles que, após longa viagem, se reencontram para reviver o carinho, afeto e sentimentos que sempre existiram.

Quem parte de retorno ao mundo espiritual, pelo fenômeno da morte do corpo físico, é alguém que nos antecede na viagem de volta.

Como nos ama, de lá fica nos aguardando, para um reencontro inevitável. Naturalmente sente saudades como nós, sente nossa falta, como sentimos nós a dele.

* * *

Quando a saudade dos amados apertar nosso peito, que nossos pensamentos sejam de carinho, com a certeza de que nos encontraremos.

Aguardemos sem revolta pois afinal, dia desses lá estaremos nós, a revê-los, no retorno que também faremos ao mundo espiritual.

11 junho 2009

Mãe em Desespero - Orson Peter Carrara

MÃE EM DESESPERO
Por: Orson Peter Carrara

Salão cheio, palestra prestes a ser iniciada. Pequeno tumulto, vozerio na surdina chama a atenção. Uma mãe adentra o salão, procura alguém como quem busca orientação. Segue-a um adolescente, olhos vermelhos, expressão de contrariedade.

Apesar da contrariedade, senta-se numa das cadeiras do salão. A mãe, muito nervosa, é levada para pequena saleta, para ser atendida com reserva, onde revela seu drama: filho rebelde, agressivo, indiferente às orientações da família e ainda com o agravante do envolvimento às drogas.

A chegada tumultuada devia-se ao fato de violenta discussão entre o filho e os pais, ainda dentro do carro, devido à recusa para vinda à instituição. O pai, que ali nunca entrara, forçara o filho a acompanhar a mãe, vindo também a encontrar-se no salão com as demais pessoas.

São situações comuns em nossos dias. Os pais se desesperam, como é natural. Perde-se o rumo. A agressividade tem invadido os lares, desnorteando comportamentos e destruindo a serenidade que se precisa para viver como criaturas que buscam o progresso e o bem próprio ou da própria família.

O que fazer nesses novos tempos? Como enfrentar esses desafios intensos que rondam a família humana? Qual a solução, afinal, para tudo isso? E, considere-se ainda, os fatores como conflito de gerações, pressão da mídia, a imaturidade própria de cada idade e a presença terrível do egoísmo que ainda se faz presente nos corações, dando origem à rebeldia, ao orgulho e seus desdobramentos.

Os caminhos de superação são vários e naturalmente se alteram conforme a realidade própria de cada família. São eles o diálogo em família, a terapia profissional através da psicologia, o envolvimento com atividades construtivas e humanitárias e, óbvio, a prece, a fé. Esta, a fé, é o melhor dos caminhos. Através desse sentimento abrigado no coração – e unicamente através dessa virtude extraordinária – somos capazes de remover os obstáculos quase intransponíveis que muitas vezes adentram nossa intimidade pessoal e familiar, com os prejuízos próprios que desestruturam violentamente nossos melhores anseios de paz e progresso.

É ela que nos convida à prece. É ela que pode colocar recursos na água que ingerimos. É ela, a fé, que pode mentalizar luzes protetoras em torno do lar e da pessoa que amamos – muitas vezes nossos próprios filhos – e mesmo sobre nós mesmos. É ela que nos leva ao diálogo com Deus.

Se pensarmos bem, a ÚNICA solução para os problemas do mundo, para as tensas questões do relacionamento, dos desafios da família e mesmo nas empresas ou até nas questões internacionais, está no Evangelho, que em síntese recomenda o respeito ao próximo, em toda sua intensidade.
Poderemos ouvir o questionamento de como vão nos respeitar, quando estamos na condição de pai e mãe, filhos e jovens imaturos sem experiência de vida e ainda pressionados por inúmeros desafios? A resposta é simples: novamente o Evangelho. Desde cedo, na educação. E se não tínhamos esse conhecimento antes, nunca é tarde para implantar a disseminação desses valores no coração.

Afinal, o Evangelho traz a caridade. Quando a caridade chega, a indiferença se põe em retirada. O orgulho e o egoísmo se afastam, a agressão se envergonha e as portas para o amor se escancaram para o bem de todos. Medo, traumas e angústias são atenuados ou até extintos, porque passamos a confiar e agir no bem. Todos são beneficiados, pois ela traz a força do amor.

Amor como o de mãe, incomparável como se sabe!

10 junho 2009

Velha Dica, Sempre Esquecida - Orson Carrara

VELHA DICA, SEMPRE ESQUECIDA
Por: Orson Peter Carrara

As instituições espíritas estão vivendo momento difícil de sua história: a sensibilização geral da própria família espírita para o efetivo estudo e comprometimento com a lúcida proposta apresentada pela Doutrina Espírita.

Costuma-se dizer que falta trabalhador, que muitos não comparecem nem ajudam quando mais se precisa, que em muitos casos há uma debandada geral, que falta responsabilidade e por aí vai...

Deixemos esse aspecto negativo de lado. Cada criatura é dona de seus próprios rumos e não temos o direito de questionar as opções. Temos é que fazer a nossa parte.

Todavia, há um segredo esquecido. Da entrevista com Sandra Borba – renomada expositora espírita de Natal-RN, publicada na revista eletrônica www.oconsolador.com , edição 98 de 15/03/09, extraímos uma das perguntas e respectiva resposta para apreciação do leitor e objetivo da presente abordagem:

O Consolador: Há uma maneira de sensibilizar mais a família espírita para o estudo e comprometimento com a proposta espírita?
Resposta: A instituição espírita deve se tornar uma comunidade educativa, pela própria natureza pedagógica da Doutrina. Obviamente que não lidamos com processos invasivos na intimidade dos frequentadores das casas espíritas, mas podemos sensibilizar as famílias e os trabalhadores através das diversas atividades já desenvolvidas no interior das instituições, sem que nos sintamos inibidos de buscar novas práticas, respeitando o bom senso que deve caracterizar nossos processos comunicativos e interativos. Existe algo, porém, que precisa urgentemente ser repensado entre nós: a casa espírita não é apenas o ponto de encontro de trabalhadores, mas a escola de almas de irmãos que necessitamos estreitar nossos laços de amizade, inclusive fora do espaço institucional.

Os grandes ou pequenos problemas de relacionamento interno, nas instituições, podem ser atenuados e até resolvidos se pararmos para pensar um pouco no final da resposta de Sandra: Existe algo, porém, que precisa urgentemente ser repensado entre nós: a casa espírita não é apenas o ponto de encontro de trabalhadores mas a escola de almas de irmãos que necessitamos estreitar nossos laços de amizade, inclusive fora do espaço institucional.

Eis o detalhe: almas de irmãos que precisam estreitar laços de amizade, inclusive fora do espaço de convivência do trabalho espírita. Vivemos apressados, correndo, apenas vinculados à rotina do trabalho, esquecendo-nos de estender as mãos e conviver também fora do ambiente físico da instituição a que nos vinculamos.

Precisamos nos colocar mais na condição de irmãos, seres humanos com suas lutas humanas semelhantes, ao invés de nos postarmos simplesmente como orientadores da vida alheia, quando na verdade igualmente somos todos necessitados de orientação.

E como seres humanos precisamos todos uns dos outros. Mais do que imaginamos. Esse toque de fraternidade é o detalhe para mutuamente nos sensibilizarmos. Essa atenção provinda da fraternidade, da empatia, eis o segredo de aperfeiçoarmos os relacionamentos.

09 junho 2009

A Lição do Semeador - Selma Lagerlof

A Lição do Semeador

Ulverson Olsson era um homem portador de caráter especial, que se tornara indiferente ao bem, afirmando que ninguém realizava qualquer coisa de útil, que não mantivesse sob disfarce os interesses inescrupulosos dos desejos egoísticos.

Nascera num lar abastado de família tradicional e a ociosidade dele fizera um fútil, destituído dos sentimentos superiores de solidariedade e de amor.

Nos seus comentários ácidos sempre destilava pessimismo, a soldo de um comportamento cínico e destruidor.

Zombava da ingenuidade de Nils Holgersson e da pata Abba de Kebnekaise em sua viagem fantástica pelas fronteiras da Suécia demarcando as regiões, reduzindo todos os atos de amor a lendas e fantasias da imaginação de pessoas que considerava servis…

Tendo visitado a Lapônia (Lapplandis lãn) desconsiderava as tradições e as heranças místicas do seu nobre povo, lamentando não haver nascido na formosa região, onde os gênios e as fadas confraternizam com as criaturas vegetais, animais e humanas, para ter o prazer de as negar.

Como a sua existência era ociosa, viajava, quase sem cessar, a fim de apaziguar o vazio interior, que resultava da falta de objetivos elevados com que a existência humana se torna digna e formosa.

Insensível ao amor, comprometera-se intimamente gratificar qualquer pessoa cujos gestos de abnegação fossem destituídos de ambições egotistas.

Mesmo quando se referia a Jesus, em cuja doutrina fora educado, recusava-se a render-se ao Amor capaz de apaziguar todas as inquietações com a doçura do Seu olhar, com a musicalidade da Sua voz e com a inefável bondade do Seu coração.

Nesse tormento, fizera-se solitário e, porque não dizer, infeliz.

A felicidade é filha predileta do sentimento dos deveres tranquilamente cumpridos, mas Ulverson, distanciado do trabalho de solidariedade humana, não atendia a compromissos morais relevantes, nem desempenhava atividades que lhe exalçassem o caráter.

Nem mesmo as doces criancinhas conseguiam arrancar-lhe um sorriso de carinho ou um gesto afetuoso.

Dizia que se tratava de seres desagradáveis, e que, ingênuas na infância iam crescer depois, tornando-se arrogantes e desagradáveis quando adolescentes e adultos...

Parecia a figueira que secou, a grave lição apresentada por Jesus, no Seu Evangelho, como ensinamento profundo a respeito da produção que tudo e todos devem cumprir.

O seu mau humor tornara-o uma pessoa indelicada e desagradável.

A vida humana é rica de oportunidades para amar-se e confraternizar-se, espalhando alegrias e produzindo bem-estar.

Existem muitos corações afetuosos que perderam o rumo e, semelhantes a embarcações sem leme, navegam à matroca, correndo riscos numerosos.

Também são incontáveis aqueles que experimentam sofrimento e solidão, por não encontrarem uma palavra de amizade ou de compreensão, ajuda fraternal e entendimento, capazes de diminuir-lhes as culpas, os conflitos, as aflições pessoais...

Toda vez quando alguém se resolve por ajudar outrem, torna-se melhor, descobre o valor da existência e enriquece-se de alegria.

Não era o caso de Olsson, o viajante desencantado de si mesmo.

Numa das viagens, enquanto caminhava triste, observou um homem de avançada idade, que plantava pinheiros… Silenciosamente, cavava o buraco na verde relva e colocava uma semente, cobria-a e seguia adiante.

Parecia cansado, vergado ao peso dos anos, mas o semblante apresentava um sorriso jovial e encantador.

Tudo nele denotava a presença da felicidade, que nascia nas fibras delicadas do amor.

O rosto se encontrava iluminado por um sorriso gentil.

Quando Olsson o viu, sentiu-se estranhamente atraído pelo semeador, a quem interrogou:

Essa terras lhe pertencem, considerando-se que o senhor está plantando essas pináceas que crescem lentamente e que a sua idade não lhe permitirá vê-las grandiosas?

Não, não me pertencem essas terras. São da comunidade e delas cuido para que permaneçam exuberantes em decorrência das árvores nelas plantadas e replantadas.

Certamente não as verei adultas e belas. Mas isso, para mim, não é importante, porque todas essas que existem a volta, não fui eu quem as plantou, e aqui estão oferecendo-nos madeira, sombra, beleza, mantendo a natureza em triunfo…

Ele fez uma pausa, e logo prosseguiu:

Quando eu era jovem, plantava legumes porque podia alimentar-me deles pouco tempo depois. Com o tempo ocorreu-me plantar árvores…

E o que o senhor ganha com isso? – interrompeu-o, desconfiado.

Ganho a alegria de semear. Recordo-me que muito antes de mim, houve Alguém que semeou vidas para todo o sempre. Mesmo quem planta árvores pensa em acolher-se na sua sombra, o que não é o meu caso, mas quem planta vidas, semeia para a eternidade, sem esperar qualquer recompensa. Foi o que fez Jesus…

Nunca devemos semear esperando a colheita por nós mesmos, mas por todos aqueles que virão depois.

Não espera nenhuma compensação?

Sim, o prazer de semear, de plantar beleza, de participar da vida.

Emocionado, pela primeira vez, Ulverson Olsson, saltou do animal e acercando-se do ancião, disse-lhe com inusitada alegria:

Permita-me plantar árvores com você e cuidar da sua vida, porque sou jovem e cheio de energias.

Como Alguém plantou vidas, espero que Ele aceite que eu seja cuidador também da vida que Ele semeou.

A partir dali, em face da lição do semeador, Ulverson fez-se, também, semeador de esperança, de alegria, de paz, de árvores e de vidas…

Selma Lagerlöf
Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco,

na noite de 28 de maio de 2008,
em Estocolmo, Suécia.