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30 novembro 2015

Maledicência - Momento Espírita


MALEDICÊNCIA


No livro “A essência da amizade”, encontramos um precioso texto de autoria de Huberto Rohden, que trata da velha questão da maledicência.

Com o título de Não fales mal de ninguém, o referido autor tece os seguintes comentários: “Toda pessoa não suficientemente realizada em si mesma tem a instintiva tendência de falar mal dos outros.

Qual a razão última dessa mania de maledicência?

É um complexo de inferioridade unido a um desejo de superioridade.

Diminuir o valor dos outros dá-nos a grata ilusão de aumentar o nosso valor próprio.

A imensa maioria dos homens não está em condições de medir o seu valor por si mesma.

Necessita medir o seu próprio valor pelo desvalor dos outros.

Esses homens julgam necessário apagar luzes alheias a fim de fazerem brilhar mais intensamente a sua própria luz.

São como vaga-lumes que não podem luzir senão por entre as trevas da noite, porque a luz das suas lanternas fosfóreas é muito fraca.

Quem tem bastante luz própria não necessita apagar ou diminuir as luzes dos outros para poder brilhar.

Quem tem valor real em si mesmo não necessita medir o seu valor pelo desvalor dos outros.

Quem tem vigorosa saúde espiritual não necessita chamar doentes os outros para gozar a consciência da saúde própria.”(...) “As nossas reuniões sociais, os nossos bate-papos são, em geral, academias de maledicência.

Falar mal das misérias alheias é um prazer tão sutil e sedutor – algo parecido com whisky, gin ou cocaína – que uma pessoa de saúde moral precária facilmente sucumbe a essa epidemia.”

A palavra é instrumento valioso para o intercâmbio entre os homens.

Ela, porém, nem sempre tem sido utilizada devidamente.

Poucos são os homens que se valem desse precioso recurso para construir esperanças, balsamizar dores e traçar rotas seguras. Fala-se muito por falar, para “matar tempo”.

A palavra, não poucas vezes, converte-se em estilete da impiedade, em lâmina da maledicência e em bisturi da revolta.

Semelhantes a gotas de luz, as boas palavras dirigem conflitos e resolvem dificuldades.

Falando, espíritos missionários reformularam os alicerces do pensamento humano. Falando, não há muito, Hitler hipnotizou multidões, enceguecidas que se atiraram sobre outras nações, transformando-as em ruínas.

Guerras e planos de paz sofrem a poderosa influência da palavra.

Há quem pronuncie palavras doces, com lábios encharcados pelo fel.

Há aqueles que falam meigamente, cheios de ira e ódio.

São enfermos em demorado processo de reajuste.

Portanto, cabe às pessoas lúcidas e de bom senso, não dar ensejo para que o veneno da maledicência se alastre, infelicitando e destruindo vidas.

Pense nisso!

Desculpemos a fragilidade alheia, lembrando-nos das nossas próprias fraquezas.

Evitemos a censura.

A maledicência começa na palavra do reproche inoportuno.

Se desejamos educar, reparar erros, não os abordemos estando o responsável ausente.

Toda a palavra torpe, como qualquer censura contumaz, faz-se hábito negativo que culmina por envilecer o caráter de quem com isso se compraz.

Enriqueçamos o coração de amor e banhemos a mente com as luzes da misericórdia divina.

Porque, de acordo com o Evangelho de Lucas, “a boca fala do que está cheio o coração”.



29 novembro 2015

O Templo do Eterno - Léon Denis

 

 O TEMPLO DO ETERNO


“A razão e a consciência não só guiam nossa apreciação e nossos atos, mas também são os mais seguros meios para adquirir-se e possuir-se a verdade.”

O ensino dos santuários produziu homens realmente prodigiosos pela elevação de vistas e pelo valos das obras realizadas, uma elite de pensadores e de homens de ação, cujos nomes se encontram em todas as páginas da História. Daí saíram os grandes reformadores, os fundadores de religiões, os ardentes propagandistas: Krishina, Zoroastro, Hermes, Moisés, Pitágoras, Platão e Jesus; todos os que tem posto ao alcance das multidões as verdades sublimes que fazem sua superioridade. Laçaram aos ventos a semente que fecunda almas, promulgaram a lei moral, imutável, sempre e em toda parte semelhante a si mesma. Mas, não souberam os discípulos guardar intacta a herança dos mestres. Mortos estes, os seus ensinos ficaram desnaturados e desfigurados por alterações sucessivas. A mediocridade dos homens não era apta a perceber as coisas do espírito, e bem depressa as religiões perderam a sua simplicidade e pureza primitivas. As verdades que tinham sido ensinadas foram sufocadas sob os pormenores de uma interpretação grosseira e material. Abusou-se dos símbolos (*) para chocar a imaginação dos crentes, e, muito breve, a ideia máter ficou sepultada e esquecida...

...A verdade é comparável às gotas de chuva que oscilam na extremidade de um ramo. Enquanto aí ficam suspensas, brilham como puros diamantes aos raios do Sol; desde, porém, que tocam o chão, confundem-se com todas as impurezas. O que nos vem de cima mancha-se ao contato terrestre. Até mesmo ao seio dos templos levou o homem as suas concupiscências e misérias morais. Por isso, em cada religião, o erro, este apanágio da Terra, mistura-se com a verdade, este bem dos céus.

Pergunta-se algumas vezes se a religião é necessária.
A religião (do latim religare, ligar, unir), bem compreendida, deveria ser um laço que predesse os homens entre si, unido-os por um mesmo pensamento ao princípio superior das coisas. Há na alma um sentimento natural que a arrasta para um ideal de perfeição em que se identificam o Bem e a Justiça. Este sentimento, mais nobre que poderemos experimentar, se fosse esclarecido pela Ciência, fortificado pela razão, apoiado na liberdade de consciência, viria a ser o móvel de grandes e generosas ações; mas, manchado, falseado, materializado, tornou-se, muitas vezes, pelas inquietações da teocracia, um instrumento de dominação egoística.

A verdadeira religião é um sentimento; é no coração humano, e não nas formas ou manifestações exteriores, que está o melhor templo do Eterno.

Entre tanto, deve-se compreender que nem todos os homens se acham em vias de atingir esses píncaros intelectuais. Eis porque a tolerância e a benevolência são coisas que se impõem. Se, por um lado, o dever convida-nos a desprender os bons espíritos dos aspectos vulgares da religião, por outro, é preciso nos abstermos de lançar a pedra às almas sofredoras, lacrimosas, incapazes de assimilar noções abstratas, mas que encontram arrimo e conforto na sua fé.

(*) A ideia de Deus, outrora simples e grande nas almas, foi desnaturada pelo temor do inferno.

Autor: Léon Denis

28 novembro 2015

A solidão só existe para quem se auto-abandona - Ermance Dufaux

 

 A SOLIDÃO SÓ EXISTE PARA QUEM SE AUTO-ABANDONA

"E, despedida a multidão, subiu ao monte para orar à parte. E, chegada já a tarde, estava ali só." Mateus, 14:23

Não culpe ninguém pela sua solidão, pois ela é assunto pessoal e não da responsabilidade dos outros. É um capítulo triste da doença do auto-abandono. Solidão não é a falta de alguém ao seu lado. Solidão é a falta que você sente de si mesmo.

Quando você necessita estar rodeado de pessoas o tempo todo e se sente muito mal quando está só, isso pode estar acontecendo porque você ainda não é uma boa companhia para si mesmo.

Quando você se ama e gosta de estar com você, as atividades rotineiras se tornam extremamente preenchedoras. Cozinhar, ver um bom filme, ler um livro, realizar uma atividade física, pois quaisquer tarefas ficam prazerosas e gratificantes quando se está de bem internamente.

Procure o exercício do autoamor, invista em estar sozinho ocasionalmente. Combine com quem você ama fazer uma viagem ou passar um final de semana sozinho, para dar-se esse tempo pra um encontro com você. Tenha também um compromisso diário e interminável com a pessoa mais importante de sua vida: você! Seja seu melhor amigo, tenha seu espaço, cuide-se. Ser uma boa companhia para você mesmo é apenas um dos infinitos caminhos do auto-amor. Estar sozinho é muito diferente de estar solitário.

Jesus, foi sozinho na subida ao calvário, mas não solitário. Estava em um momento individual, consciencial, onde as opiniões e influências alheias tinham pouco alcance. Verônica, com uma toalha, secou-lhe o suor do rosto, e Simão Cirineu carregou a cruz por alguns metros. No mais, foram ataques e agressões. Quem cresce espiritual e emocionalmente sofre a pressão da ignorância proveniente do sombrio dos outros, é muito cobrado. Isso faz parte do aprendizado e do amadurecimento.

"E, chegada já a tarde, estava ali só". Jesus buscou estar sozinho para ter contato com o Pai. No seu recolhimento, ampliou forças e iluminou-se para cumprir Sua missão. E, em oração, realizou movimentos sagrados de reconexão com Sua individualidade.

A longa caminhada de melhoria espiritual é marcada pela presença da solidão. Naturalmente, quem assume o compromisso de aprimoramento da alma sentirá necessidade de ter etapas de isolamento temporário nos relacionamentos, de estar consigo e se entender.

Estar sozinho é necessário para resgatar o contato com sua essência. Depois desse tempo, você será impulsionado a resgatar sua sociabilidade novamente, mas com outros objetivos, bem diversos dos anteriores à sua melhora pessoal, com fins de completude e afeto, e não de controle e carência.

Ouse conquistar sua própria companhia em um tempo que é só seu. A solidão é uma mensagem da alma que diz: volte-se para se cuidar e se amar. Essa lição é individual e intransferível.

"A saudade de si mesmo é um sentimento que tem maltratado muita gente."


Da obra: "Jesus, a inspiração das Relações Luminosas" por Ermance Dufaux e Wanderley Soaeres de Oliveira Fonte: site "Fórum Espírita"

27 novembro 2015

Mansidão e Irritabilidade - Caírbar Schutel



MANSIDÃO E IRRITABILIDADE

Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra." (Mateus, V, 5.)

A delicadeza e a civilidade são filhas diletas da mansidão.

Pela mansidão o homem conquista amizades na Terra e bem-aventurança no Céu Inimiga da irritabilidade que gera a cólera, a mansidão sempre triunfa nas lutas, vence as dificuldades, enfrenta os sacrifícios.

Os mansos e os humildes de coração possuirão a Terra, porque se elevam na hierarquia espiritual e se constituem outros tantos propugnadores invisíveis do progresso de seus irmãos, guiando-lhes os passos nas veredas do Amor e da Ciência—nobres ideais que nos conduzem a Deus!

"Aprendei de mim, disse Jesus, que sou humilde e manso de coração."

É em Jesus que devemos buscar as lições de mansidão de que tanto carecemos nas lutas da vida.Embora enérgico, quando as circunstâncias o exigiam, o Sublime Redentor sábia fazer prevalecer a sua Palavra pelo poder da verdade que a embalsamava, e sem ódio, sem fel. combatia os vícios, os embustes que deprimiam as almas.

Sempre bom, lhano, sincero, caritativo, prodigalizava a seus ouvintes os meios de adquirirem o necessário à vida na Terra e a felicidade no Céu.

"Não vos encolerizeis para que não sejais condenados . "

A irritabilidade produz a cólera e a cólera é uma das causas predominantes de enfermidades físicas e males psíquicos.

A cólera engendra a neurastenia, as afecções nervosas, as moléstias do coração: é um fogo abrasador que corrompe o nosso organismo, é o vírus peçonhento que macula nossa alma.Filha do ódio, a cólera é um sentimento mesquinho das almas baixas, dos Espíritos inferiores.

Sem mansidão não há piedade, sem piedade não ha paciência, sem paciência não há salvação!

A mansidão é uma das formas da caridade que deve ser exercitada por todos os que buscam a Cristo.

É da cólera que nasce a selvageria que tantas vitimas tem feito.

Da mansidão vem a indulgência, a simpatia, a bondade e o cumprimento do amor ao próximo.

O homem prudente é sempre manso de coração: persuade seus semelhantes sem se excitar; previne os males sem se apaixonar; extingue as lutas com doçura, e grava nas almas progressistas as verdades que soube estudar e compreender.

Os mansos e humildes possuirão a Terra, e serão felizes, o quanto se pode ser no mundo em que se encontram.

Parábolas e Ensinos de Jesus – Caírbar Schutel

26 novembro 2015

Libertação Espiritual - João Marcus



LIBERTAÇÃO ESPIRITUAL


Às vezes me preocupava o mecanismo das leis cármicas. Pensava eu que a série de ações e reações se estendesse em espirais infinitas pelo tempo a fora. E isso me parecia contrário à ideia que sempre formulei da justiça divina.

Se ontem, num momento infeliz de desvario, estrangulei um irmão, alguém teria que me estrangular no futuro, para que se cumprisse a lei. Mas, o novo crime haveria de gerar, fatalmente, uma nova reação, abrindo outro ciclo e assim por diante, “ad infinitum”. De mais a mais, não havia, também, a dureza do “olho por olho, dente por dente”?

Acontece, porém, que as leis divinas são muito mais sábias e perfeitas do que sonhamos. Ao descer até nós, vindo das mais elevadas esferas espirituais, o Divino Mestre nos trouxe a mensagem da verdade suprema da vida – o amor. E como Ele próprio dizia, não vinha destruir a lei, mas fazê-la cumprir. Não se alterava a substância dos postulados cármicos; ficavam eles, porém, esvaziados do seu conteúdo de inexorabilidade, para adquirirem o suave colorido da reparação.

Ensinava o Amigo Sublime que só uma atitude poderia quebrar o círculo vicioso: o amor. Na verdade, colocou tão alto o conceito e a prática do amor entre as criaturas, que fez disso a nota dominante, o tema, o “leit motiv” de toda a sua insuperável pregação. A certa altura da vida, com o poder de síntese e de acuidade de que era dotado, no mais alto grau, como se quisesse deixar, numa só ideia, toda a sabedoria da vida – disse simplesmente: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei.” Já meditou o amigo leitor, com seriedade, na beleza e na profundidade daquela simples frase? Ela contém, não somente o mandamento supremo da lei – que séculos antes havia sido transmitido a Moisés –, como, também, a afirmação de que Ele, o Cristo, viera demonstrar e praticar a verdade do amor e não somente pregá-la. Aqueles que vivessem tal filosofia da vida estariam cumprindo a lei e seguindo os ensinos revelados pelos profetas através das idades.

Estava o Mestre oferecendo, a cada um de nós, os recursos necessários para que nós mesmos nos libertássemos das imposições do “olho por olho”.

Bastava amar. Quando nos pedissem para caminhar mil passos, caminhássemos mais dois mil por nossa conta. Se nos batessem em uma face, oferecêssemos a outra. Era lícito perdoar sete vezes? Perguntaram-lhe. Não sete, mas setenta vezes sete, foi a resposta.

Aí está o ponto onde se quebra a corrente cármica, se o desejarmos: na prática do amor e do perdão. Bem sabemos que é mais fácil falar que praticar, enquanto estivermos contidos pela nossa imperfeição, mas se perdoamos àquele que em nós feriu a lei e o ajudamos a recuperar-se, estaremos, por nossas próprias mãos, partindo o círculo de ferro. Se ainda não atingimos a perfeição moral de oferecer a outra face, caminhemos pelo menos a outra milha, os outros dois mil passos, para oferecer a nossa prece em favor daquele que nos ofendeu. Esse gesto talvez represente, nas telas infinitas do tempo, o progresso e a libertação de irmãos aos quais provavelmente devemos tantas outras reparações.

Graças a Deus, a despeito dos desacertos da época em que vivemos, há bastante beleza moral neste mundo. Muitos espíritos se deixaram impregnar de tal forma por esse perfume de amor e perdão, que imprimiram a marca de sua passagem na História.

Francisco de Assis, num transbordamento de amor incontido, pregava tanto aos homens como aos humildes seres da criação, procurando atrair todos para a luz. Tereza d’Ávila, em transportes de amor sublimado pelo Mestre, vivia entre este mundo e o outro. Joana d’Arc, sob a pressão desencadeada do poder terreno, não cessou de amar e perdoar. Gandhi, na fragilidade física, era um gigante de força espiritual e moral no seu amor pacifista pelos irmãos deserdados. Albert Schweitzer, mergulhado no coração da selva africana, cura, ensina, educa, ampara, sem outra paga que a satisfação de exercer o amor pelo ser humano.

Conhecemos, pois, o caminho da recuperação, aquele que leva para o Alto. É preciso rogar forças para que saibamos segui-lo; pedir a Jesus que nos amplie a capacidade de amar e compreender. Não que essa atitude seja de passividade inútil. Não. Amar, no mais puro sentido, é um programa de ação, é um roteiro de lutas, porque implica, em primeiro lugar, o combate ao nosso comodismo através dos milênios. Esse egoísmo cego talvez fosse necessário quando, na meia luz da consciência que despontava em nosso ser, nos distantes períodos encarnatórios, ainda não sabíamos que a vida continua depois da morte. Vivíamos, então, agarrados ferozmente ao corpo físico e às coisas da matéria, e por ela lutávamos, matávamos e roubávamos. Hoje não. Iluminados pela verdade superior, sabemos que o corpo é mero instrumento – e dos mais nobres – de trabalho e de evolução e, por estranho que pareça, quanto mais trabalhamos para os outros, mais realizamos para nós mesmos. Vemos, assim, que o egoísmo se sublimou numa forma superior de sentimento, pois que, por amor a nós mesmos e ao nosso progresso espiritual, somos levados a amar os outros. Então, isto tudo não é belo e maravilhosamente perfeito?

E quando dizemos que o amor é um programa de trabalho e de luta é porque temos que exercê-lo ativamente, esclarecendo, pelejando contra o erro, ajudando aos que precisam de ajuda, tolerando, enfim, porque essa é a lei que nos oferece a chave da libertação. :-*


João Marcus
MARCUS, João. "Candeias na noite escura". Pseudônimo de Hermínio C. Miranda. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1992. Cap. 4. Fonte: site "Fórum Espírita"

25 novembro 2015

Os Efeitos da Necrópisia (Autópsia) nos Espíritos - Divaldo P.Franco

 

OS EFEITOS DA NECRÓPSIA (AUTÓPSIA) NOS ESPÍRITOS

O Mentor permaneceu na Enfermaria, pelo período em que tinha curso a necrópsia para a identificação da causa mortis e outros comportamentos legais. ‘Observamos que os Espíritos, mesmos distanciados dos corpos que se faziam examinados, retratavam as ocorrências que os afetavam, provocando sensações cruciantes. ‘O motorista, por ser incurso em maior responsabilidade, manteve-se em sono agitado por todo o tempo. ‘Devido às fortes vinculações com a matéria, experimentava as dores que lhe advinham da autópsia de que o corpo era objeto. Embora contido por enfermeiros diligentes sofreu cortes e serração, profundos golpes nos tecidos e costuras... 

‘Recordemos que se encontrava sob amparo, não ficando, todavia, isento à responsabilidade pelos erros que a juventude extravagante lhe facultara. 

‘Em autópsia, muitos Espíritos que se deixaram dominar pelos apetites grosseiros e se ficam apenas no corpo, quando não fazem jus a assistência especializada, enlouquecem de dor, demorando-se sob os efeitos lentos do processo a que foram submetidos os seus despojos. ‘Desse modo, cada um dos jovens, apesar de todos haverem desencarnado juntos, no mesmo momento, experimentava sensações de acordo com os títulos que conduziam, de beneficência e amor, de extravagância e truculência. 

‘Correspondendo à hora do reconhecimento e translado dos corpos pelos familiares para as providências da inumação cadavérica, acompanhamos o despertar de quase todos, sob os duros apelos dos pais e irmãos, partindo, semi-hebetados, para os atender... (...) ‘As nossas providências de socorro não geram clima de privilégio, nem protecionismo injustificável. Cada um respira a psicosfera que gera no campo mental. 

Todos somos as aspirações que cultivamos, os labores que produzimos. A cruz, porém, é intransferível, de cada qual. Podemos ajudar a diminuir-lhe o peso, não a transferi-la de ombros. ‘A agitação era geral. Podíamos observar que rápidas flechadas de forte teor vibratório os alcançavam, fazendo-os estremecer, estorcegar. ‘O motorista subitamente apresentou uma facies de loucura, ergue-se, trêmulo, respondendo algo com palavras desconexas e como que envolto pelo fio de densa energia que o alcançava, pareceu sugado, desaparecendo... ‘- Foi atender – elucidou Dr. Bezerra – aos que o chamam sob chuvas de blasfêmias e acusações impróprias. ‘A família soube, pela Polícia, que ele havia ingerido alta dose de drogas, o que parecia responder pelo acidente, provocando, a informação, mágoa e revolta nos pais. ‘Em continuação, mais dois se evadiram do local de amparo obedecendo ao impositivo evangélico: “Onde estiver o tesouro, aí estará o coração”. ‘Fábio e outro amigo, porque não se encontrassem muito comprometidos com os vícios e viessem de uma estrutura familiar mais digna, foram poupados à presença do cadáver e às cenas fortes que se desenrolaram antes e durante a inumação dos corpos. ‘Não se furtariam, é certo, ao mecanismo de recuperação, apesar da ajuda da antiga mãezinha, que o reembalava nos braços, na condição de avó. ‘Desperta-se, cada dia, com os recursos morais com que se repousa, à noite. 

Divaldo P. Franco
‘Além do corpo, cada Espírito acorda conforme o amanhecer que preparou para si mesmo. (p. 94 a 96) -fonte: site/ Missionários da Luz


24 novembro 2015

Da Serenidade Humana - J. Herculano Pires


DA SERENIDADE HUMANA
 

A serenidade baixa do céu sobre os homens. Mas, às vezes, serpeia docemente aos nossos pés, na cantiga de córrego, ou adormece em reflexos aos nossos olhos, na face de um lago.

Todos os homens admiram a serenidade, embora vivam na inquietação e a ela se acomodam. Imperadores e príncipes, como o Doge de Veneza, a República Sereníssima, atribuem-se o título de serenos. E os poetas e os pintores jamais encontraram motivos mais belos que a serenidade de um rosto de criança, de jovem ou de mulher.

Serena é a vida, quando feliz. Serenas correm as nuvens, na transparência azul do céu. Serenas são as flores, e serena é a brisa que as embala e carrega os seus aromas. Sereno é o ar, nas manhãs de primavera, e serenas as estrelas, nas noites de inverno.

Até mesmo a tempestade é serena na sua fúria, pois o que dela nos parece fúria decorre das diferenças de tempo. Um minuto de temporal equivale a uma hora de rotina humana. É assim que a própria aceleração do tempo, que nos parece inquietação, também se transforma em serenidade, quando atinge a velocidade máxima. Serenos giram os mundos no infinito, como serenos giram os elétrons no finito das constelações atômicas.

Certa manhã de abril, do ano de 1935, vi a serenidade fluir sobre a cumeeira das casas, na cidadezinha de Cerqueira César. Parei na rua, para contemplar o sereno espetáculo. Não era o tempo, nem o vento, nem as nuvens que corriam. Era a serenidade, essa inexprimível doçura das coisas, que fluía sobre as cumeeiras de telhas enegrecidas, tendo por fundo o azul do céu.

Nesse dia, perguntei a mim mesmo por que motivo não somos serenos, mas inquietos, e muitas vezes até mesmo tumultuosos.

Lembrei-me da ataraxia de Demócrito, de Epicuro e de Zenão, e as palavras de Jesus soaram-me aos ouvidos da alma: "A minha paz vos dou, mas não vo-la dou como a paz do mundo". Nesse mesmo dia, resolvi que procuraria descobrir o segredo da serenidade.

Faz hoje trinta anos que isso aconteceu, e até agora não consegui a chave do mistério. Seria fácil dizer, como Sartre faz com a liberdade, que a serenidade é a essência do homem. Mas como prová-lo, se o homem não é livre nem sereno, e sim, pelo contrário, o escravo inquieto de si mesmo? Seria fácil dizer, também, que a serenidade é a essência das coisas, ou até mesmo a essência do mundo. Mas como demonstrá-lo, se as coisas e o mundo nos mostram ao mesmo tempo a serenidade e a inquietação?

Poderíamos dizer ainda, como Platão, ou como Sócrates e ele, a propósito do amor, que a serenidade é uma falta, um vazio do ser, que procura o seu preenchimento. Mas o ser pleno de serenidade e o ser vazio - se é que a inquietude pode ser alguma coisa de vazio, e a serenidade uma plenitude - por acaso não são, ambos, essencialmente a mesma coisa?

O máximo que podemos alcançar é que a serenidade é a serenidade. E essa tautologia se justifica pela sua própria necessidade. Pois como definir a serenidade, senão pelo que ela realmente é? E o que ela pode ser, senão serenidade? Inútil, pois, procurarmos novas palavras, para definirmos aquilo que já definimos com uma única e bem aplicada palavra, que se ajusta perfeitamente ao seu conceito.

Saindo, porém, das coisas, dos seres em geral, e do mundo com sua mundanidade, e deixando além de nós e do mundo a imensidade cósmica, tentemos descobrir o que é a serenidade humana. Que não é a serenidade-título dos príncipes, bem o sabemos. Porque a maioria dos príncipes serenos somente o são no tratamento convencional um Duque sereníssimo, que é o exemplo vivo da inquietação e da precipitação.

Poderíamos dizer, com Epicuro, o sereno injustiçado, que a serenidade é a ausência de movimento, de agitação. Mas, se a serenidade é uma ausência, jamais a alcançaremos. E se ela exclui o movimento, como falarmos do homem sereno, que só poderia ser um cadáver? E se ela exclui também a agitação, como falarmos da brisa serena, que agita serenamente as flores?

Lembro-me do príncipe André, de Guerra e Paz, de Tolstoi, caído no campo de batalha de Austerlitz, e descobrindo no alto a serenidade do céu. Suas palavras são as de um homem que a si mesmo se encontra nas coisas, mas não propriamente nas coisas, e sim na serenidade das coisas, Ouçamo-las: "como se explica que eu nunca tenha visto, um céu tão alto? Como me sinto feliz, de tê-lo finalmente descoberto!"

Talvez tenhamos nessas duas frases a chave do mistério. A serenidade do céu esteve sempre aberta sobre a cabeça do príncipe, desde que ele nasceu. Mas nunca ele a vira, porque, ou corria entre Moscou e Kiev, ou corria no campo de batalha, antes de ser ferido. Por isso, a sua conclusão é perfeita, como a de um silogismo, quando acrescenta: "Sim, tudo é fatuidade, perfídia, salvo o céu infinito! Nada existe além dele. Mas ele próprio não existe. nada existe além da calma e do repouso. Deus seja louvado."

André substitui a palavra única por duas: "calma e repouso". Mas não tem a pretensão de dizer outra coisa. Quer apenas explicar-se melhor a própria descoberta. A serenidade, então, seria a própria existência? Heidegger explicou que a existência é um sair fora de nós mesmos: ec-sistir. E parece ter razão, quando analisamos o que chamamos por existência. Ora, a serenidade não pode ser isso, pois ou ela está conosco, e a sentimos em nós mesmos, ou não a temos. Por outro lado, a serenidade de fora deve ser aquela paz do mundo, paz exterior, que Jesus diferenciou da sua própria paz.

Não a serenidade não pode ser o existir, mas talvez seja o ser, pois aquilo que é, como ensinou Aristóteles, é. Mas então seria o ser, não enquanto ser, mas como ser, na aparente indiferença e alheiamento da terceira pessoa: é. Este é pode ser ele e pode ser eu. É ao mesmo tempo unidade e desdobramento, mas desdobramento voltado para a unidade. Só ele explicaria o fato de o príncipe André aceitar e rejeitar, ao mesmo tempo, que a serenidade seja e não seja existência.

Quando vi a serenidade fluindo na cumeeira das casas, ela estava também em mim. O príncipe André a viu no céu alto e sombrio de Austerlitz, em meio da refrega, mas só a viu porque estava ferido, lançando ao solo, fora da refrega. E porque, assim excluído subitamente da inquietação geral, encontrou-se a si mesmo, o que, por sua vez, lhe permitiu encontrar o céu, que estava ali mesmo, sobre a sua cabeça, e no entanto ele havia perdido.

No dia 26 de abril de 1935, chegando em casa, fui ao meu quarto e escrevi, na primeira página de um livro de leitura habitual - e por sinal um livro de literatura inquieta, mas que leio até hoje e me dá serenidade - aquilo que chamei de trilogia do serenista. Pensei que o serenista seria o amante da serenidade, e que devia, por isso mesmo, ter alguma coisa que o guiasse em direção a ela.

Por que trilogia? Talvez em homenagem a Pitágoras, que descobriu a harmonia. Ou talvez, por ser o meio mais cômodo de indicar, em apenas três proposições, um longo caminho, que o serenista terá de descobrir por si mesmo. Hoje, trinta anos depois, procuro simplificá-la, diminuindo das frases algumas palavras excessivas. e posso reproduzi-la assim: 

1º Procura sempre a perfeição.
2º Nunca te deixe abater.
3º Eleva-te sempre às circunstâncias.

Nada me parece mais prático, até hoje, do que essa pequena tríade, quase simplória, para alcançarmos a serenidade. E embora tenha de confessar que ainda não a encontrei na plenitude desejada, posso afirmar que dela me aproximei algumas vezes. além disso, essa tríade, de tipo gaulês, me parece muito útil para se tentar a explicação do que seja, pelo menos, a serenidade humana.


José Herculano Pires
Fonte: FRATERLUZ - Fraternidade Espírita Luz do Cristianismo

23 novembro 2015

Vícios - Richard Simonetti


VÍCIOS

1. O que você acha do cigarro?
Como dizia velho confrade, o cigarro é esse enroladinho de fumo que tem uma brasa de um lado e um bobo do outro.

2. São milhões de bobos no Mundo?
Em relação aos vícios existem em quantidade bem maior do que você imagina. Vastíssima parcela da população insiste em ouvir o canto da sereia, que representa o apelo às delícias da vida, mergulhando em tormentosos abismos. Procuram prazer no cigarro, no álcool, nas drogas, colhendo em breve doenças e sofrimentos.

3. Por que os coroas ficam cutucando a gente em relação ao assunto? Afinal, também não cultivaram ou cultivam viciações?
Justamente por isso devem ser ouvidos. Sentem na própria pele as conseqüências do vício.

4. E daí, não temos o direito de colher nossas próprias experiências?
Sem dúvida. Afinal, um câncer no pulmão, uma cirrose hepática, um distúrbio nervoso e tantos outros males provocados por cigarros, bebidas e drogas talvez não lhe pareçam um preço muito alto a ser pago em futuro próximo pela satisfação efêmera do presente.

5. Admitindo que você tem razão, como vencer essa dependência? Parece algo obsessivo, quase uma segunda natureza...
Toda pessoa que se inicia no vício é um obsidiado em potencial. Há viciados do Além que transformam os da Terra em instrumentos para satisfação do vício, numa associação psíquica que é uma espécie de transe mediúnico às avessas. Na função normal, o médium capta as impressões do Espírito. Na comunhão obsessiva o Espírito colhe as sensações do viciado.

6. Tenho, então, parceiros invisíveis, como aproveitadores de uma bituca?
Isso mesmo. Daí falharem freqüentemente os tratamentos de desintoxicação do viciado. A pressão espiritual é muito forte.

7. Os parceiros invisíveis não deixam?
Os Espíritos não têm o poder irresistível de nos induzir ao vício ou alimentá-lo. É que dificilmente o viciado se convence de que é imperioso deixar o vício, em favor de sua saúde. No fundo sempre imagina que não é tão mal assim.

8. O que deve fazer o indivíduo que quer vencer o cigarro, as drogas, o álcool?
Há vários métodos, mas o que realmente funciona começa a partir de uma firme determinação nesse sentido. É preciso orar muito, ligando-se aos benfeitores espirituais que trabalham por sua recuperação. Freqüentar reuniões de assistência espiritual, no Centro Espírita. Submeter-se ao passe magnético. Confiar em si mesmo e valorizar suas potencialidades como filho de Deus.

Repetir sempre: Com a proteção divina hei de conseguir. Como está em O Evangelho Segundo o Espiritismo, ajuda-te que o Céu te ajudará. Pode parecer careta, mas funciona.

De Richard Simonetti
 De “Não pise na bola


22 novembro 2015

O Perispírito e os Membros Fantasmas - Carlos Bernardo Loureiro


O PERISPÍRITO E OS MEMBROS FANTASMAS

O professor Ernesto Bozzano, no seu livro "Desdobramento - Fenômenos de Bilocação", refere-se à idéia de integridade nos amputados que experimentam a sensação perfeita da existência da parte do corpo que lhes foi retirada.

Em sua obra, Bozzano invoca o testemunho de notáveis fisiologistas, entre os quais figuram Weir Mitchell, Bernstein e Pitres, que assim se manifestaram sobre o momentoso assunto:

"As ilusões dos amputados são um fato normal;... "

Com efeito, para Piset, que fez suas investigações entre soldados do Primeiro Império, de quatrocentos e cinqüenta amputados somente quatorze não apresentaram o fenômeno do membro fantasma. A ilusão somente faltava uma vez em trinta casos. Quase sempre a ilusão sobrevinha logo após a cirurgia; todavia, algumas vezes ocorria mais tarde, mas sempre em tempo bastante próximo. 

O professor William James, um dos pais da Psicologia, investiu seriamente nesse campo de pesquisa, chegando a notáveis e lúcidas conclusões, que corroboram aqueloutras até então firmadas. O professor James, nos seus trabalhos, reporta-se a um trecho de uma obra do fisiologista A. Valentim, segundo o qual se pode admitir que "as sensações de integridade" também existem nos casos de deformações congênitas de membros, como por exemplo:

"Certa jovem de 15 anos e um homem de 40, os quais só possuíam uma mão normal, sendo que a outra apresentava, em lugar dos dedos, ligeiras proeminências carnudas, sem ossos, tinham a sensação precisa de dobrar os dedos inexistentes todas as vezes que dobravam o coto informe".

O professor Bozzano vai ainda mais adiante em suas pesquisas sobre os "membros fantasmas", acrescentando: 

"Resta-me, enfim, mostrar que se chegou também a obter fotografia do braço fluídico de um amputado e isso graças ao magnetizador Alphonse Bouvier. No ‘Journal du Magnétisme’, julho de 1917, Bouvier publicou longa relação sobre o modo pelo qual chegou a fotografar um membro amputado, relação essa ilustrada com um bom clichê 'onde aparece a sombra fluídica de um braço ausente’, é, diríamos, a presença da ausência..."

Nos livros: "Gestalt Psychology (N.Y., 1950) de F. Katz, e "Phantoms in Patients with Leprosy and Elderly Digital Amputers" (N.Y., 1956), de P. Simmel, são relatados fatos referentes a amputações normais e de membros nos leprosos. De acordo com as observações dos pesquisadores, os pacientes, após a amputação de braços e de pernas, continuaram a constatar a presença da parte amputada, chegando a movê-la e a sentir cócegas naquele local. E ainda mais: a percepção pode durar, não só longo tempo, mas toda a vida. F. Katz, por sua vez, afirma: 

"Se uma pessoa, com uma perna amputada, chega a uma parede, ela parece atravessá-la... a lei da impenetrabilidade da matéria julgo que não se aplica a este caso ".

Por outro lado, a declaração de P. Simmel não é menos valiosa, quanto à comprovação de existência do "perispírito" :  

"Após minhas experiências com leprosos, verifiquei que a perda gradual das partes do corpo por absorção, por ser lenta e demorada, não produz fantasmas, e o mais notável é que, na amputação de restos de dedos e artelhos, estes efeitos se reproduzem não como as partes que havia, mas, sim, perfeitas, isto é, como antes da absorção".

Conta ele fato interessante: 

"(...) quando acordou da anestesia, procurou pegar o pé. A sensação da existência do membro amputado persiste, e a paciente esquece, tenta pisar e cai. Dizia, mais tarde, que podia movimentar os dedos fantasmas (...)". 

E pararam, nesse ponto, sem mais nada a acrescentar. Apesar de serem autoridades em sua especialidade, certos fenômenos escapam do domínio de seu raciocínio, uma vez que se põem, apenas, ao nível da matéria tangível, sensorial... 

Além das experiências supracitadas, surgem outras mais surpreendentes e que vêm ratificar a tese espírita de que "as sensações, emoções e impulsos não se localizam no cérebro, como o querem os fisiologistas e psicólogos, e, sim, no Espírito". Na obra "Espiritismo Dialético" (1960), do pensador espírita argentino Manuel S. Porteiro, encontramos fatos assombrosos para os psicólogos, mostrando, claramente, que os indivíduos com lesões graves, mesmo em centros nervosos, continuam a se comportar naturalmente: 

1) Apresentado à Academia de Ciências de Paris pelo Dr. Aguepin, em 24 de março de 1945: "Após operar um soldado que havia perdido enorme parte do hemisfério cerebral esquerdo (substância cortical e branca, núcleos centrais etc. ), comprovou que o mesmo continuou a se comportar normalmente, a despeito das lesões e perdas de circunvoluções básicas às funções essenciais". 

2) Tamto Lisboa, chamado o Lusitano, publicou, em seu livro "Práctica Médica", no final do século XVI, o seguinte caso: "Um menino de 10 anos recebeu uma forte pancada no crânio, que cortou o osso e a membrana cervical, dando passagem à massa encefálica. Ao contrário do esperado, a ferida cicatrizou. Três anos depois, morria hidrocéfalo. O crânio foi aberto e, para espanto dos médicos, não se encontrou o cérebro: em seu lugar havia um liquido. Esse fato foi considerado extraordinário, pois o menino viveu durante três anos nesta situação e na plenitude de suas faculdades psíquicas... ".

Para explicar esses e outros fatos análogos, os materialistas recorrem à hipótese do fisiologista francês Pierre Flourens, segundo o qual um hemisfério cerebral pode suprir a falta de outro. E que dirão quanto à ausência total da massa encefálica? Aí é que o materialismo se vê obrigado a ceder terreno à Ciência Espírita e, não só nesses fenômenos, mas em outros, estudados pela Psicologia de maneira carente ou insatisfatória, como, por exemplo, a dupla personalidade.

Com o Espiritismo, poder-se-á chegar a uma conclusão: ir mais além e interpretar o inexorável, isto porque a resposta está em nós mesmos, no conhecimento da essência do ser humano e das partes de que é composto!

Carlos Bernardo Loureiro
Jornal Mundo Espírita de Outubro de 98

21 novembro 2015

Maria Modesto Cravo

( Maria Modesto Cravo)*

MENSAGEM PSICOGRAFADA POR DONA MODESTA SOBRE OS ATENTADOS EM PARIS


Os atentados terroristas em Paris são como uma febre no organismo social. Dói, incomoda e leva a procurar um remédio. E a febre é apenas o sintoma de um drama de natureza moral e espiritual que nunca esteve tão elevado em toda a história da humanidade terrena. O terrorismo nada mais é que a velha necessidade do homem de anular a diferença para preponderar. No caso, usando a lamentável atitude de violência. O nome desse sentimento é poder.

Poder é a coroa de ouro das organizações mais sombrias de todos os tempos. É a mais antiga doença do ser espiritual que faz seu aprendizado nessa escola de provas e expiações onde o egoísmo ainda é soberano.

Uma espessa camada miasmática se forma na chamada psicosfera, a parte astral do planeta mais próxima da matéria física. Esse cinturão de sombras é o resultado dos dejetos mentais da mente encarnada e desencarnada. Culpa, medo, ódio e poder se aglutinam junto a outras matérias mentais formando essa nuvem cinzenta e com vida própria.

A Terra não colhe o fruto indigesto proveniente apenas das cabeças terroristas orientadas pela ganância extremista de grupos de poder. Cada vez que alguém tenta anular a diferença, é uma bomba lançada no fortalecimento desse cinturão de trevas em torno do planeta.

Anular a diferença significa todo ato no qual não se consegue respeitar e reconhecer que o que pertence ao outro é de responsabilidade dele. Existe uma compulsiva e desastrosa necessidade no coração humano de convencer, controlar, mudar, transformar e moldar o outro aos seus modelos de viver. Isso é poder. Isso é terrorismo nos relacionamentos por meio de micro-violências.

O terrorismo que explode no Bataclan é o efeito dessa onda miasmática milenar que assola nossa casa planetária. Quando você respeita o outro, quando você reconhece o direito do outro de viver a experiência que lhe convém, quando você percebe que só tem poder real é sobre você mesmo, as relações vão mudar, o mundo começará também a mudar.

Tenham esperança. A febre social em Paris leva todos os continentes a procurarem ajuda na erradicação de suas doenças. Em meio às dolorosas convulsões nasce uma nova ordem que não tardará.

Quer colaborar com esse novo tempo? Comece a desarmar-se. Retire esses explosivos de pretensões e endurecimento na conduta. Liberte-se dessa ânsia de preponderar seja onde for. Melhor que dominar é ser feliz.
Contribua com a diminuição do terrorismo no nosso planeta abençoado.

Deixe de querer ter razão sempre.


Eu, Maria Modesto Cravo, amante do Cristo e servidora do bem, lhes abençoo com paz. 14/11/15.


*Dona Modesta (Biografia)

Maria Modesto Cravo nasceu na cidade de Uberaba-MG, em 1899.


​ Teve formação católica e casou-se aos 17 anos com Nestor Cravo fixando residência em Belo Horizonte onde nasceram os seis filhos do casal.

Sentindo os primeiros fenômenos de desiquilíbrio físico-mental em sua esposa, seu marido recebeu orientação para que levasse sua esposa ao encontro de Eurípedes Barsanulfo, na cidade de Sacramento-MG.

​ Lá, Eurípedes, constatando a existência de suas faculdades mediunicas, submete-a de imediato a tratamento físico-espiritual através da fluidoterapia pois seu organismo achava-se muito debilitado, em função de grave quadro obsessivo.

Em poucos dias, Maria Modesto apresentava significativa melhora, sendo convidada a trabalhar na equipe mediúnica. Passado pouco tempo, já recuperada, Maria Modesto é orientada por Eurípedes Barsanulfo a mudar-se para Uberaba para desenvolver importante trabalho espiritual a que já estava destinada. 

Em janeiro de 1919, funda com outros abnegados servidores, o Ponto Bezerra de Menezes, onde passa a servir a enfermos e necessitados. Surge assim, oficialmente, o primeiro núcleo do Espiritismo aberto ao público em Uberaba.
A sua assistência não se limitaria ao intercâmbio espiritual. Em 1922 inicia a realização do Natal dos Pobres, beneficiando os necessitados que ali buscavam o amparo, além da assistência prestada aos cegos, presidiários e outras instituições.

No Ponto, recebe do Dr. Bezerra de Menezes (1831/1900) a incumbência de criar uma nova instituição, o Sanatório Espírita de Uberaba. A planta arquitetônica do Sanatório é recebida mediunicamente por Maria Modesto.

Em 1928, a pedra fundamental é lançada pelo presidente do Centro Espírita Uberabense, médico sanitarista Henrique von Krugger Schroeder.

​ Em 1933 o Sanatório é inaugurado, sendo contratado para o cargo de primeiro diretor clínico, Dr. Inácio Ferreira, jovem psiquiatra formado pela Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Junto ao Sanatório Espírita, o trabalho de Maria Modesto foi constante, tendo a benfeitora encontrado ainda tempo para auxiliar na fundação da União da Mocidade Espírita de Uberaba (UMEU) e do Lar Espírita para Moças em 1949, este juntamente com o Dr. Inácio que doa o terreno. É importante lembrar que Chico Xavier, quando ainda morador de Pedro Leopoldo, costumava vir a Uberaba à serviço para participar anualmente da Exposição Agropecuária. Nessas oportunidades era sempre acolhido por Dona Modesta que o levava para participar das atividades do Centro Espírita Uberabense e às sessões noturnas no Sanatório Espírita. Dona Modesta, como era carinhosamente chamada, considerada a Grande Dama da Caridade de Uberaba, manteve durante toda a sua vida incansável trabalho em prol de todos os necessitados da região. Em julho de 1963, já com sérios problemas de saúde, transfere-se para Belo Horizonte, onde vem a falecer em 1964, após prolongada enfermidade.

20 novembro 2015

Que significa a "Cremação" para o Espiritismo - Emmanuel

 
QUE SIGNIFICA A "CREMAÇÃO" PARA O ESPIRITISMO?


De quando em quando, amigos da Terra nos inquirem com respeito aos resultados possíveis da cremação que tenhamos porventura experimentado após o afastamento do corpo denso. E efetivamente o assunto se reveste de significação e proveito, pelas repercussões do processo crematório no plano espiritual.

Por muito se examine, no mundo, a presença da mortefísica, conferindo-se-lhe foros de igualdade em quaisquer circunstâncias, o óbito não é idêntico no caminho de todos. Qual ocorre no berço, quando o renascimento estabelece condições diferentes, do ponto de vista orgânico, para cada um de nós, a separação do veículo terrestre está revestida de características originais para cada indivíduo.

Além da existência comum na Terra, nem todas as criaturas se observam imediatamente exoneradas da inquietação e do trauma, da ansiedade ou do apego exagerado a si próprias.

Temos companheiros que, na desencarnação pelo fogo se liberam de improviso de qualquer conexão com os recursos que usufruíram na experiência material.

Entretanto, encontramos outros, em vasta maioria, que embora a lenta desencarnação progressiva que atravessaram, se reconhecem singularmente detidos nas impressões e laços da vida material, notadamente nas primeiras cinqüenta horas que se seguem à derradeira parada cardíaca no carro fisiológico.

Fácil observar, em vista disso, que o período de espera, no espaço razoável de setenta e duas horas, entre o enrijecimento do corpo físico e a cremação respectiva, é tempo valioso para a generalidade de todos aqueles que se encontram em trânsito de uma vida para outra.

Isso é compreensível porque se muitos irmãos dispensam semelhante cuidado, desde os primeiros instantes de silêncio no cérebro, outros, aos milhares, se observam vinculados aos tecidos inertes de que já se desvencilharam, no anseio, embora vão, de revivescê-los.

À face do exposto, nós, os amigos desencarnados, nada poderíamos aventar fundamentalmente contra a cremação. No entanto, entendendo que os nossos amigos - os homens da Esfera Física - ainda não dispõem de instrumento para analisar os graus de extensão e de intensidade do relacionamento entre o espírito recém-desencarnado e os resíduos sólidos que lhes pertenceram no mundo, consideramos justo que se lhes rogue o citado período de repouso, a favor dos chamados mortos, em câmara fria que lhes conserve a dignidade da forma.

Depois disso o sepultamento ou a cremação nada mais representam, para a alma, que a desagregação mais lenta ou mais rápida das estruturas entretecidas em agentes físicos, das quais se libertou.


Emmanuel
Do livro "Caminhos de Volta"
Médium:Francisco C. Xavier

19 novembro 2015

Lei da Afinidade - Hugo Lapa



LEI DA AFINIDADE


Uma das leis mais importantes do universo é a lei da afinidade ou sintonia.

Essa verdade foi expressa no esoterismo na frase “Semelhante atrai semelhante”.

Buscamos as pessoas, os lugares e as atividades que correspondem a nossas afinidades, desejos, vibrações e aspirações.

Cada pessoa está no local que se sente atraída, sintonizada e satisfeita. Ninguém nos envia para um ou outro local, mas cada alma naturalmente vai para o lugar que sente afinidade.

Se quiser conhecer a si mesmo, pergunte-se quais são suas afinidades e com que você se sintoniza.
Quando sentimos afinidade por uma pessoa, há alguma coisa em nós que é semelhante a algo que existe nessa pessoa. Há uma ressonância de modos de ser, personalidade e vibração.

Por outro lado, quando uma pessoa sente repulsa pela outra, uma antipatia gratuita, uma ojeriza pelo comportamento e personalidade, pode haver algo semelhante em você.

Aqueles que buscam o negativo, possuem algo dentro de si que se sente atraído pelo negativo.
Nesse âmbito, não existe o certo e o errado, o bom e o mau, existe apenas aquilo que uma pessoa atrai ou repele dentro de suas afinidades.

Não acredite ser necessariamente mau ou errado aquilo que não está de acordo com sua sintonia.
Aquele que assiste programas sensacionalistas na TV que só promovem a violência, deve se perguntar porque a violência o atrai. Talvez essa mesma violência esteja de alguma forma presente dentro dele.

Uma mulher que só se relaciona com homens cafajestes, que a maltratam, deve refletir no motivo de se sentir atraída por esse tipo de homem. O que ela está buscando nesse modelo masculino?
Não culpe um grupo de jovens por terem levado seu filho às drogas, mas antes se pergunte porque ele sentiu afinidade com esse grupo e permitiu que o levassem as drogas. Que recompensa ele estava buscando?

Se você gosta de estilos musicais pesados, com letras banais, de sexualidade exacerbada, essa é a sua vibração, ao menos em algum nível do seu ser.

Mas se você gosta de musicais mais tranquilas, com letras edificantes, de sonoridade profunda, com instrumentos mais refinados, há algo em você que busca ou já está em conformidade com essa vibração.

É como um rádio: quem com sua vibração só sintoniza frequências AM, recebe o som todo distorcido; e quem sintoniza com FM, já recebe o som mais puro e claro.

Renascemos nos abismos infernais mais profundos, ou nos mais elevados paraísos celestiais graças aos nossos desejos que criam as afinidades e sintonias.

Cada ser gera uma vibração, que se encontra em ressonância com aquilo que atrai ou repele. E tudo o que atraímos ou repelimos gera emoções e cria experiências de vida que trazem lições e amadurecimento espiritual.

Não adianta proibir uma pessoa de encontrar-se com o objeto de sua afinidade, pois cada um precisa experimentar tudo o que existe de positivo e negativo em sua sintonia e vibração, pois é assim que evoluímos.

Para mudar seu destino, mude sua sintonia; para mudar sua sintonia, encontre suas afinidades; para mudar suas afinidades, reconheça seus mais profundos desejos e aspirações, inclusive aqueles que você quer ocultar de si mesmo.

Não reprima sua vibração, apenas mude sua afinidade, como se muda de sintonia AM para FM na rádio.

Sintonize com o amor, a paz e bem, e você expressará o amor, a paz e o bem em sua vida.


Hugo Lapa 

18 novembro 2015

Apelos de Bezerra - Orson Peter Carrara


APELOS DE BEZERRA

São veementes e constantes os apelos dos Espíritos em favor da aproximação dos espíritas para maior eficácia nas abençoadas tarefas espíritas. Dentre os inúmeros apelos constantes desde a obra da Codificação, destacam-se no século atual os apelos trazidos pelo Dr. Bezerra de Menezes. Nem é preciso citar um ou outro. São bastante conhecidos e divulgados, sempre citados na imprensa e mesmo em livros, embora encontrem muitas dificuldades de execução dentro do Movimento.

É aquela abordagem, aquele convite, aquele apelo mesmo para que os espíritas unam esforços, esqueçam motivos de desunião e se voltem para o trabalho comum, pois que a obra do Cristo não pode estar sujeita aos nossos caprichos e melindres pessoais.

Na verdade, o tempo de progresso espera pelo nosso trabalho em favor do progresso humano, pelas próprias luzes que a Doutrina traz.

Será que esses permanentes apelos dos Espíritos não desejam realmente dizer que precisamos superar todas essas dificuldades de relacionamento, de interpretação para juntarmos forças em favor do trabalho que se espera de cada um? Ora, pois é isto mesmo! Os Espíritos contam com nosso trabalho no exemplo da compreensão e da tolerância, virtudes basilares de nossa Doutrina. O projeto de Jesus precisa de homens dispostos à boa vontade, através da união, embora com pontos de vista distintos.

Todos tem direito de pensar o que quiserem. Superemos as divergências e unamo-nos nos pontos comuns do trabalho ativo. 

Ninguém é obrigado a pensar pelas nossas cabeças, afinal somos seres livres, pensantes e dotados de liberdade.

Em favor do Movimento, em atenção aos apelos dos Benfeitores, superemos as dificuldades do presente e voltemo-nos ao principal objetivo do Movimento Espírita: Aproximar os espíritas para divulgar, estudar, viver a Doutrina. Em favor do homem!


Orson Peter Carrara
Jornal Verdade e Luz Nº 166 Novembro de 1999

17 novembro 2015

Não tenho tempo - Noeval de Quadros



NÃO TENHO TEMPO


Todos reclamamos da falta de tempo. Parece que o dia encurtou, não tem mais 24 horas. Ou então, que essas 24 horas já não são mais suficientes.

Há aquele brocardo segundo o qual `se queres que alguma coisa seja feita, peça a alguém que não tenha tempo'. Ou seja: quanto mais ocupada a pessoa, mais tempo ela arranja para fazer as coisas. Como se explica esse milagre?

Normalmente, a modorra é contagiante. Basta que fiquemos algumas horas ou alguns dias sem fazer nada, para dar ainda mais vontade de nada fazer. Daí é um passo para a depressão e para os males que provém do ócio e da cabeça vazia.

Domenico de Masi, educador italiano, que esteve recentemente no Brasil, até recomenda o ócio. Ócio criativo, segundo ele. Na verdade, ócio é nada fazer e, todavia, no caso, o que ele propõe é fazer algo: é parar para criar, para permitir-se os vôos da alma, para aprender a pensar.

Um dos grandes males da atualidade é o enfado.

As pessoas procuram encher sua vida com bastantes afazeres porque sentem um grande enfado quando têm algum tempo disponível. Na verdade, não sabem como aproveitá-lo.

Estamos desaprendendo o pensar criativamente, o pensar retamente, o sentir prazer em aprender ouvindo nosso interior.

O enfado é ainda maior quando a pessoa se aposenta ou diminui repentinamente o seu ritmo de trabalho e constata que não se preparou convenientemente para ocupar de forma útil o seu tempo.

Tem sentido, portanto, a afirmativa de que "o ócio feliz não é o permanente e final, mas sim aquele que se desfruta nos intervalos da luta pela vida e que valoriza o dolce far niente".

Em O HOMEM INTEGRAL, Joanna de Ângelis, pela psicografia de Divaldo Franco, analisa _ pelo lado da vida profissional - a questão do homem imprescindível, do homem do primeiro lugar, daquele que se julga o todo poderoso e que, mais cedo ou mais tarde, se vê desbancado por outro mais jovem, mais preparado, mais estudioso e que o passa para trás.

Decorre daí a importância de diversificarmos bem as nossas atividades, de não nos considerarmos `insubstituíveis', de procurarmos `abrir espaços' para aqueles que estão chegando e que _ de uma forma ou de outra - irão ocupar o nosso lugar.

Prepararmo-nos para que isto não nos traga grandes seqüelas psicológicas.

Esta recomendação vale não apenas para os cargos e funções exercidos na vida profissional, como também para os cargos de direção e de colaboração nas casas espíritas.

Muitos de nós dizemos que é preciso renovação, mas na hora de cedermos o nosso lugar ficamos intimamente vibrando _ até inconscientemente - para que o outro não se dê tão bem naquele lugar que era nosso. Pobre vaidade humana, que ainda precisa desse tipo de emulação!

Alguns dizem que o sentido da vida é fazer o que se gosta. Poucos já pararam para refletir em que é mesmo que gostariam de ocupar o seu tempo, se pudessem dele dispor de forma integral.

Muitos alegam não ter tempo, mas em verdade não querem verdadeiramente ter tempo, porque não saberiam o que fazer com ele. Como não treinamos simplificar a existência, vamos entulhando a nossa vida com coisas que exigem ser mantidas. Como afirma Lia Diskin, na revista Planeta Meditação nº 11 p.21, "quanto mais coisas tenho, mais tempo tenho de dedicar a elas. As coisas se tornam usurpadoras do meu tempo!".

Ainda segundo Joanna de Ângelis, no livro `VIDA:DESAFIOS E SOLUÇÕES', "o ser humano experimenta sessenta mil pensamentos por dia, em média, o que demonstra a grandeza, a majestade da sua organização mental". Como o homem é resultado do que pensa, temos sessenta mil oportunidades diárias de nos organizarmos melhor, de nos aperfeiçoarmos, de aproveitarmos melhor o tempo. Quantos de nós, porém, ainda pensamos em matar o tempo e, assim, esquecidos de que a vida se escoa lenta mas inexoravelmente, vamos gastando os minutos, as horas e os dias, sempre distraídos com coisas menos importantes e deixando para amanhã o que gostaríamos de fazer. Ou o que é pior: aquilo que a voz da consciência diz que viemos comprometidos a fazer, nesta encarnação.

Joanna ensina - agora no livro AUTODESCOBRIMENTO - que quando queremos realmente alguma coisa devemos marcar dia e hora. Desse modo, a mensagem fica gravada no subconsciente e acaba ocorrendo. Quando não queremos que aconteça, dizemos amanhã, talvez, provavelmente e essa oportunidade certamente não acontecerá, porque não estamos certos de que queremos que ela aconteça.

Sempre que queremos algo, nós achamos tempo, porque `tempo é prioridade' e se queremos realmente alguma coisa, nós a colocamos como prioridade.

O colunista Dino Almeida escreveu:

"Qual a reclamação mais ouvida atualmente? Falta de tempo. Homens e mulheres, tão envolvidos com a luta diária pela sobrevivência, reclamam que a vida moderna lhes exige tempo demais.

Na verdade, boa parte dos conflitos pessoais _ pais e filhos, marido e mulher, patrão e funcionários _ acontece pela falta de tempo. Desentendimentos, discussões e mal-entendidos poderiam ser evitados com alguns minutos a mais de diálogo.

Mas não dá tempo. O pai passa um sermão na filha, mas não ouve a sua (dela) versão dos fatos. O marido discute com a mulher e bate a porta, o patrão humilha o empregado sem que ele sequer tenha cinco minutos para explicar o que deu errado.

Ouvir as pessoas é fascinante. Ouvir atentamente, olhando nos olhos, esperando o momento certo para falar com calma e ponderação, sem querer se impor ao interlocutor, já ajudaria muito. 

Pense nisso!" (jornal Gazeta do Povo de 22-3-00)." Zilda Arns, da Pastoral da Criança, na sua longa vida dedicada à caridade, constatou que as pessoas andam com a auto-estima cada vez mais baixa. Por isso, a partir do segundo semestre deste ano, a Pastoral pretende desenvolver um programa, sobretudo com a população mais carente, que se chama "reaprendendo a conversar"¸ para que as pessoas redescubram o prazer do diálogo, da troca, de encontrar tempo para ouvir e para falar.

Assim, é importante que nos disciplinemos e que passemos a organizar melhor a vida, procurando administrar sabiamente o nosso tempo, para fazer não apenas as coisas urgentes como também as importantes e não perder, jamais, a perspectiva de que há que existir um equilíbrio entre as quatro necessidades humanas fundamentais (físicas, sociais, mentais e espirituais), merecendo, todavia, maior atenção aquela que trata do nosso ser imortal.

Importante, também, lembrarmos de ocupar o nosso tempo com o `trabalho-abnegação' ao invés do `trabalho-remuneração'. Há tantas maneiras de ajudarmos alguém ou alguma instituição...

E, como nos ensina a Doutrina, quando o servidor está pronto, o trabalho aparece.

Com o pretexto de que estamos sempre precisando aumentar a nossa renda, vivemos cumulando afazeres para ganhar mais; para possuir mais; para nos preocupar mais; e tudo isso para quê?

Alexandre, o Grande, foi visitar o pensador grego Diógenes, de quem era fã. Diógenes perguntou-lhe os planos para o futuro. Alexandre disse que queria conquistar a Grécia.

"- E depois disso?" perguntou-lhe Diógenes.

Alexandre disse que iria conquistar a Ásia Menor.
"-E depois disso?"

Alexandre disse que pretendia conquistar o mundo.
"- E depois disso?"

Alexandre disse que então pretendia descansar e se divertir.

Diógenes então lhe falou:
"- Então, porque não se poupa esse trabalho todo e não começa a descansar e a se divertir desde agora?"

...Para os que desejam se aprofundar um tanto mais na difícil tarefa de lidar com o tempo, recomendamos o livro "First Things First - Como definir prioridades num mundo sem tempo", de Stephen Covey, lançado no Brasil pela Editora Campus.

Nele, entre outras coisas, o autor nos ensina que

"a administração tradicional do tempo lida com o cronos, palavra grega que significa o tempo medido pelo relógio. Cronos é o tempo linear e em seqüência é ele quem dita o ritmo de nossas vidas. Mas existe outra maneira de abordar a vida: kairos. Aqui o tempo passa a ser algo que é vivido, algo do qual se tira valor. Quando perguntamos "você passou bem o seu dia?" não estamos nos referindo ao tempo linear daquele dia, mas à qualidade desse tempo. Ou seja: kairos é o tempo qualitativo".

Outro autor, o filósofo Jacob Needleman, na sua interessante obra "O tempo e a alma", da Ediouro, mostra que o tempo é a maior carência do homem moderno. Somos escravos do tempo e, ao mesmo tempo, pobres dele. `Coisas que se costumava considerar como sinais de sucesso _ ser ocupado, ter muitas responsabilidades, estar envolvido em muitos projetos ou atividades _ hoje representam aflições', diz ele.

É preciso encontrar a medida certa. O homem comum só a encontra depois de muito penar e refletir. O homem de senso moral mais amadurecido a encontra por intuição.

Alguém disse como era interessante observar a saída dos metalúrgicos da fábrica de automóveis, da Grande ABC, na sexta-feira à tarde. Quando abriam os portões, pareciam pássaros soltos da gaiola, correndo para a liberdade. Sentimento oposto, de verdadeira prisão, se observava no rosto de cada um, quando retornavam na segunda-feira de manhã.

Poderia alguém perguntar: `mas como ser feliz, tendo de trabalhar feito um escravo, a maior parte do tempo?'

Talvez este seja um dos males da cultura ocidental: ainda não conseguimos encontrar prazer _ e não enfado _ na atividade que desenvolvemos de segunda a sexta-feira.

Ainda somos criaturas muito imperfeitas, querendo sorver a vida de um gole só, nesse espaço que medeia entre a sexta e a segunda-feira.

Ainda não descobrimos o prazer da atividade diária bem dosada, com pausa para a reflexão, para observar as nossas atitudes diante da vida, procurando melhorar a qualidade do nosso tempo, para `ficar com a melhor parte', como recomendou Jesus, na passagem registrada por Lucas, no seu Evangelho:

"Marta, Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas; entretanto, uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada."

Chico Xavier certa feita foi consultado sobre como é que ele conseguia autografar mais de 2000 livros por noite, depois das sessões habituais no Centro Espírita em que atuava, em Uberaba.

Com naturalidade, ele respondeu:

"- Simplesmente vou autografando, de um em um..."

Preciosa lição: nem desespero, nem indiferença. Simplesmente, ele ia autografando, de um em um. Nesse espaço de tempo, ia atendendo e conversando com várias pessoas, numa prosa agradável, bem-humorada e repleta de ensinamentos. Sempre, todavia, dando atenção máxima àquela pessoa a quem se dirigia.

Lição preciosa para nós que vivemos reclamando da falta de tempo, atropelando compromissos e superlotando cada vez mais as nossas agendas, sem a preocupação de estabelecer prioridades e de viver com intensidade aquilo que estamos a fazer no momento. 

Cuidemos dos nossos afazeres, um a um, cuidemos melhor da qualidade do nosso tempo, deixemos de ficar tanto tempo hipnotizados em frente da TV, de engolir tanta informação sem conseguir analisar, de ler tantas coisas absolutamente inúteis, de viver sem selecionar os nossos pensamentos, apenas porque a maioria das pessoas `normais' também faz isso.

Se conseguirmos fazer essa mudança, o tempo terá aumentado significativamente. Ou, pelo menos, não mais seremos seus escravos.


Noeval de Quadros
Jornal Mundo Espírita de Outubro de 2000