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05 junho 2006

Velórios - Joanna de Ângelis

Pintura: Dying de Alex Grey
Diante do corpo de alguém que demandou a Pátria Espiritual, examina o próprio comportamento, a fim de que não te faças pernicioso, nem resvales pelas frivolidades, que nesse instante devem ser esquecidas.

O velório é um ato de fraternidade e de afeição aos recém-desencarnados que, embora continuem vinculados aos despojos, não poucas vezes permanecem em graves perturbações.

Imantados à organização somática, da qual são expulsos pelo impositivo da morte, que o surpreende com o "milagre da vida", não obstante em outra dimensão, desesperam-se, experimentando asfixias e desassossegos de difícil classificação, acompanhando o acontecimento em crescente inquietude.

Raras pessoas estão preparadas para entender o fenômeno da morte, ou possuem suficientes recursos de elevação moral a fim de serem transladadas do local mortuário, de modo a serem certificadas do ocorrido em circuntâncias favoráveis, benignas.

No mais das vezes, atropelam-se com outros desencarnados, interrogam os amigos que lhes vêm trazer o testemunho último aos despojos carnais, caindo quase sempre, em demorado hebetamento ou terrível alucinação...

Em tais circunstâncias, medita a posição que desfrutas nos casos da vida orgânica, considerando a inadiável imposição do teu regresso à Espiritualidade.

Se desejas ajudar o amigo em trânsito, cujo corpo celas, ora por ele.

No silêncio a que te recolhes, evoca os acontecimentos felizes a que ele se encontrava vinculado, os gestos de nobreza que o caracterizaram, as renúncias que se impôs e os sacrifícios a que se submeteu... Recorda-o lutando e renovando-se.

Não o lamentes, arrolando os insucessos que o martirizaram, as aflições em rebeldia que experimentou.

O choro do desespero como as observações malévolas, as imprecações quanto as blasfêmias ferem-nos à semelhança de ácido derramado em chagas abertas.

De forma alguma registres mágoas ou desaires entre ti e ele, os vínculos da ira ou as cicatrizes do ódio ainda remanescentes.

Possivelmente ele te ouvirá as vibrações mentais, sem compreender o que se passa, ou sofrerá a constrição das tuas lembranças que acionarão desconhecidas forças na sua memória que, então, sintonizará contigo, fazendo que as paisagens lembradas o dulcifiquem - se são reminiscências felizes - ou o requeimem interiormente - se são amargas ou cruéis - fomentando estados íntimos que se adicionarão ao que já experimenta.

A frivolidade de muitos homens tem transformado os velórios em lugares de azedas recriminações ao desencarnado, recinto de conversas malsãs, cenáculo de anedotário vinagroso e picante, sala de maledicências insidiosas ou agrupamento para regabofes, onde o respeito, a educação, a consideração à dor alheia, quase sempre batem em retirada...

...E não pode haver uma dor tão grande na Terra, quanto a que experimenta alguém que se despede de outrem, amado, pela desencarnação!

Sem embargo, o desencarnado vive.

Ajuda-o nesse transe grave, que defrontarás também, quando, quiçá, este por quem oras hoje seja as duas mãos da cordialidade que te receberão no além, ao iniciares, por tua vez, a vida nova...

Unge-te, pois, de piedade fraternal nas vigílias mortuárias, e comporta-te da forma como gostarias que procedessem para contigo nas mesmas circunstâncias.

"Deixai que os mortos enterrem os seus mortos." Lucas 9:60 "Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma vive melhor quando livre do seu invólucro corporal." E.S.E. cap. V, item 21

Livro: Florações Evangélicas - Psicografia Divaldo Pereira Franco

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