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28 fevereiro 2021

Considerando o Problema da Fome - Joanna de Ângelis


CONSIDERANDO O PROBLEMA DA FOME

Estatísticas apresentam as calamidades resultantes da fome e os olhos do mundo se voltam para o futuro, receosos, estudando apressadas soluções...

A expectativa em termo da superpopulação do Globo nos próximos decênios gera desequilíbrio, aflição...

Economistas e técnicos outros de várias estruturas do conhecimento examinam os prognósticos sombrios e encolhem os ombros...

Religiosos e pensadores, lamentando o crescimento exagerado da espécie humana, atemorizam-se e falam com pessimismo sobre o amanhã...

Eugenistas chamados a liça e ginecologistas, ouvidos, sugerem, indiferentes, às altas personalidades que administram as nações, o controle da natalidade.

Cabidos e conclaves, congressos e concílios discutem a questão, e lentamente disseminam nas mentes e nos corações a falsa necessidade da limitação dos filhos, em audaciosos decretos de morte do presente para a humanidade que não se deseja permitir venha a nascer...

(...) E pretendem alguns, desse modo, converter o amor mas suas bases sagradas através do matrimônio, em ingresso grosseiro no reino das emoções bastardas... No entanto, casais impossibilitados de procriar, monetariamente abastados, submetem-se aos modernos processos da inseminação...

* * *

Estatísticas revelam, e o mundo se estarrece, com os elevados índices de criminalidade...

Atentados ao pudor, desrespeito aos direitos alheios, agressão à propriedade, assaltos, crimes à mão armada...

A delinquência juvenil cresce a cada minuto.

O desequilíbrio moral, por parte dos adultos, aumenta desgovernado.

Os crimes passionais entre pessoas idosas multiplicam-se, volumosos.

Selvageria, abastardamento do caráter e da inteligência, neuroses e psicoses atestam, em incontrolável desdobramento, a via calamitosa por onde segue o homem...

Educadores, psicólogos, analistas e assistentes sociais chamados a opinar, prescrevem, depois de exames minuciosos, com frieza, a necessidade de liberdade e educação.

O despovoamento dos campos, o superpovoamento das capitais e cidades litorâneas leva os detentores do poder econômico a investimentos de altos lucros, criando problemas de fome...

* * *

Há 2.000 anos, no entanto, Jesus, o educador por excelência, prescreveu afável: "Amai-vos uns aos outros", e, como os homens olvidaram a fórmula eficaz para se manterem dignos, criando, em consequência, os lamentáveis problemas do presente, o Espiritismo, que hoje revive o Divino Mestre e O traz no coração humano, também concita ao amor como única terapêutica para todos os males da atualidade.

Há fome, sim, na terra. Mas a mais elevada expressão da fome, hoje, como ontem, é a fome de amor.

Há crime, sim, na terra. Mas a causa da criminalidade exagerada, hoje mais do que ontem, provém da fome de amor.

Há guerra e dor, sim, na terra. Mas por fome de amor. É a fome do amor que está levando o homem ao desespero...

O amor, e somente o amor, propicia construções eternais.

O controle da natalidade, pois, é crime diante da Consciência Divina, considerando que, através do amor todos os problemas encontram solução e que, acima do nosso amor, o Amor de Nosso Pai espalhado pelo Universo, que a tudo sustenta e vitaliza; vigilante, à hora própria intervém, equacionando todos os enigmas que o nosso limitado amor não consegue resolver...

Joanna de Ângelis
Médium: Divaldo P. Franco
Livro: Dimensões da Verdade - 48

27 fevereiro 2021

Psiquismo e Halo energético - Ricardo Gandra di Bernardi


PSIQUISMO E HALO ENERGÉTICO

O verbete "aura" tem origem no latim e significa "sopro de ar". Aura e psicosfera são utilizados, comumente, como sinônimos se referindo ao halo energético existente em torno de todo ser vivo. Existem muitos sinônimos para designar aura ou psicosfera, no entanto, vamos nos ater aos utilizados em nosso meio, isto é, na literatura e nas entidades espíritas.

O termo "psicosfera" encontramos nas obras espíritas de escol, termo inicialmente mencionado pelo Espírito André Luiz através da fantástica mediunidade de Chico Xavier. Segundo Ele, "Todos os seres vivos, dos mais rudimentares aos mais complexos se revestem de um halo energético que lhes corresponde à natureza.¹ "

Nos seres vivos primitivos e simples, o halo energético por eles irradiado decorre das atividades físicas que executam, além das emoções rudimentares e manifestações dos seus instintos. Seres unicelulares como as bactérias já manifestam essa irradiação. Em nós, seres humanos, essas irradiações são enriquecidas pela atividade mental, ou seja, pelas irradiações das emoções e pensamentos. Este halo energético reflete o grau evolutivo de cada Espírito.

As irradiações que produzimos além de se exteriorizar, elas interpenetram o corpo físico, demonstrando assim, como somos um conjunto de várias dimensões que interagem sempre e ininterruptamente. Poderíamos dizer que, como cada pessoa possui um vestuário, cada um de nós possui uma psicosfera, mas, além de estarmos vestidos pela nossa psicosfera, nós mesmos a fabricamos. O halo energético, que nos envolve, possui cores que variam muito conforme o estado físico, emocional ou mental de cada pessoa. De um modo didático, poderíamos dizer que as cores mais claras correspondem a pensamentos positivos, construtivos e mais em harmonia com a Lei do Amor Universal, portanto, observadas em Espíritos mais evoluídos. As cores e tonalidades mais escuras são comuns aos espíritos mais densos, tanto encarnados como desencarnados.

A psicosfera humana pode ser percebida e analisada por médiuns videntes ou por espíritos desencarnados que tenham desenvolvido esta capacidade. A observação dessa estrutura energética pode ser muito útil para avaliações de saúde, condições morais e intelectuais de uma pessoa. Com relação especificamente aos médiuns videntes, é fundamental que estes, além da capacidade anímica de ver a aura, tenham o conhecimento e ética espíritas para só se pronunciar de maneira construtiva e respeitosa em locais e momentos muito adequados. Com relação à opiniões e descrições da nossa psicosfera, feita por Espíritos desencarnados, lembremo-nos que eles são pessoas como nós, portanto, os há em todos os níveis de sabedoria e ética.

A nossa psicosfera não é estática, há um dinamismo constante. As energias ou fluidos extrafísicos, estão em contínuo movimento, pois o ser vivo está captando e emitindo a todo instante. Deste modo, quando as energias harmônicas provindas de um pensamento equilibrado de um indivíduo, seja encarnado ou desencarnado, interagem com a nossa psicosfera, pode haver uma absorção, por sintonia. Havendo sintonia, (mesmo momentânea), há uma força centrípeta, ou seja, que puxa para o centro, para a intimidade energética da pessoa.

Quando não ocorre sintonia, por não haver afinidade com determinados pensamentos externos, estes são rejeitados pelo nosso corpo mental ². Há uma força centrífuga que elimina o componente estranho. Este mecanismo, muitas vezes, é automático e inconsciente, pois são conquistas do nosso Espírito, arquivadas em núcleos vibratórios.

Um pensamento de ódio, por exemplo, pode fazer parte por um determinado tempo da nossa aura, enquanto mantemos este sentimento. À medida que efetuamos a reforma íntima, modificamos aquele sentimento negativo, por falta de nutrição energética e falta de sintonia, o arquivo relativo àquele ódio é gradativamente eliminado da nossa atmosfera fluídica.

Todas as energias que produzimos passam a fazer parte de nossos arquivos e, na sequência, se entrelaçam com outras energias semelhantes, tanto de encarnados como de desencarnados. Estes entrelaçamentos ocasionam sensações agradáveis ou desagradáveis em nós e, também, nas pessoas com as quais convivemos.

Sentimentos de empatia ou de repulsa a outrem são, frequentemente, decorrentes de percepções inconscientes de emanações energéticas da psicosfera da pessoa. Devem ser compreendidos e trabalhados com resiliência e amor, além de prudência. A falta de afinidade entre os campos energéticos das pessoas costuma gerar diversas dificuldades ou incômodos, enquanto a similitude de vibrações gera um fluxo agradável de energias.

Espíritos superiores tem psicosfera tão sutil que não permite aos Espíritos inferiores vê-los. Há uma diferença de frequência vibratório significativa que impede a sintonia. As sessões mediúnicas fazem a ponte de contato ou intermedia planos espirituais de densidade diferente.

André Luiz nos exemplifica, em várias obras, que espíritos superiores pelo comando do corpo mental alteram temporariamente sua psicosfera deixando-a mais densa para adentrar em locais trevosos para melhor executarem seus trabalhos nesses ambientes. Ao tornarem mais densa ou menos sutil sua psicosfera, evitam serem reconhecidos como seres superiores gerando sentimentos de animosidade ³.

Somos artífices que esculpem a própria escultura. Criamos nosso próprio destino. A espiritualidade de luz emite ondas de amor e sabedoria constantemente, cabe a nós voltarmos nossos radares mentais na direção correta para captarmos o Amor Universal. Cedo ou tarde nos identificaremos com a centelha divina ou o “Deus em nós”.    
 
Ricardo Di Bernardi*

*Ricardo Gandra Di Bernardi é médico, escritor e conferencista espírita.

Bibliografia:

1. XAVIER, Francisco Cândido/Espírito André Luiz, Evolução em dois mundos, Ed. FEB, pág. 163.
2. XAVIER,
Francisco Cândido/Espírito André Luiz, Evolução em dois mundos, Ed. FEB, cap. II, pág. 25.
3. XAVIER, Francisco Cândido/Espírito André Luiz, Libertação, Ed. FEB, pág. 67.
4. CENTRO ESPÍRITA LUZ DA CARIDADE, Curitiba. A Dança das energias – Uma abordagem da energia mental, cap. 5, Psicosferas e Energia Mental.
5. ICEF- Instituto de Cultura Espírita de Florianópolis- Reuniões de Estudo www.icefaovivo.com.br

26 fevereiro 2021

Ninguém escapa - Nilton Moreira

 
NINGUÉM ESCAPA

Cada um leva e conduz a vida como bem entende, mas tem aqueles que deixam a vida lhe levar como diz o poeta. Tem alguns que se preocupam com o modo de viver e tem outros que nem vê a vida passar, pois nada de bom produzem.

Nestes dias estranhos onde enfrentamos doenças, competições para galgar cargos, poder, desafios para melhorar o padrão de vida não basta pensarmos que tudo depende de nós. De fato nós é que temos que dar o primeiro impulso para atingir objetivos, mas acima de nós está a Lei Divina e o Criador sabe o que é melhor para nós.

Os materialistas nos momentos difíceis ficam sem chão, pois acreditando apenas em suas capacidades ficam frustrados quando impotentes perante certas angústias vivenciadas o que não acontece com o espiritualista, pois este recorre imediatamente à oração para se religar com o Pai, buscando na fé a ajuda e esclarecimento para enfrentar o momento difícil.

É evidente que não estamos abandonados aqui no Planeta, pois cada um de nós tem diferentes situações na vida tanto boas como ruins e é através da fé que vamos encontrar explicações para os diversos matizes que a vida impõe a cada um.

Certamente o que de ruim nos acontece é causado por nós mesmos através da lei de causa e efeito, pois toda vez que praticamos o mal ou tomamos atitude que possa prejudicar outrem estamos transgredindo a Lei Divina, da qual não escapamos de maneira alguma, pois que diferentemente da lei do homem, ela é perfeita. Portanto vamos ter de nos deparar com situação de dificuldade para que na dor sintamos a necessidade de mudar nossa conduta, já que pelo amor não conseguimos.

Todos nós de uma maneira geral temos sob nossa responsabilidade os desígnios de algum vegetal, animal ou pessoa, e certamente somos os responsáveis pelo que possa acontecer a estes. Se falharmos na missão que concordamos em cumprir antes de nascermos, responsabilizados seremos. É um pai ou mãe que não cuida bem do filho o deixando transviar-se; é um patrão que se torna incompetente sob seus empregados; é um comandante que determina ordem equivocada a seus soldados, é um governante, seja ele na qualidade de rei, presidente, governador ou prefeito que lidera um povo e age como tirano por negligência, imprudência, desonestidade ou ambição. A todos é imposto um preço. Isto é da Lei de Deus. Ninguém escapa.

Então, não pensemos que as dores que sentimos são fruto do acaso ou injustas. Temos sim de nos modificarmos para que através de uma conduta honesta possamos receber as benesses do que Jesus nos falou.

Paz a todos.

Nilton Moreira
Coluna Semanal - Esrada Semanal
Fonte:
Espirit Book


25 fevereiro 2021

Possessão: há a posse física do encarnado? - Paulo da Silva Neto Sobrinho

(Emily Rose)
 
 POSSESSÃO: HÁ POSSE FÍSICA DO ENCARNADO?

E o homem que estava possesso do espírito mau pulou sobre eles com tanta violência, que tiveram de fugir daquela casa, sem roupas e cobertos de ferimentos. (Atos 19, 16)

Introdução

Por várias vezes nos deparamos com essa dúvida. Muitas pessoas nos perguntam se, nos casos de obsessão, há verdadeiramente uma posse física do encarnado, quer dizer, o espírito obsessor entraria no corpo do obsidiado, passando a agir por ele.

As nossas experiências nos levam a crer que, em alguns casos, sim. É importante ressaltar que não estamos generalizando para todos os casos de obsessão. Vamos contar uma ocorrência que nos levou a isso. Realidade x teoria: Um paciente em obsessão

Cerca de ano e meio atrás, fomos chamados para ajudar uma moça que já estava hospitalizada, mas que parentes perceberam estar ela influenciada por espíritos. Quando chegamos ao local onde se encontrava, vimos que a possibilidade de estar mesmo sob influência espiritual era evidente. Falava com voz masculina coisas que em seu estado normal não lhe era habitual. Tinha segurando-lhes os braços dois homens fortes, restringindo-lhe os movimentos, pois queria agredir a si mesma. Tivemos notícias que o pároco da cidade havia passado por lá, disse que, quando ela ficasse boa, ele voltaria. Como se diz popularmente: aí até nós!

A equipe de médiuns, que nos acompanhava, também teve a mesma impressão que nós. Passamos, então, a estabelecer diálogo com os espíritos. Vários se apresentaram, mas ao final, conseguimos libertá-la daquelas influências. Voltou ao seu normal.

Passados alguns dias, novamente fomos chamados para ajudar essa moça. Desta vez, estava em sua própria residência, com os mesmos sintomas, falando com voz que não era a sua, e tentando se agredir. Na oportunidade conversamos com vários espíritos. A situação estava difícil, pois mal acabávamos de convencer um espírito a se afastar da moça, “entrava” outro. E, assim, ficamos por mais de uma hora. Por fim, dada a nossa incapacidade de resolver a questão, recomendamos aos familiares que a levasse ao Hospital Espírita André Luiz, na capital mineira, para avaliação e tratamento, se a situação o exigisse.

A equipe do Hospital constatou que a moça, realmente, estava sob forte influência espiritual, recomendando que seu nome fosse levado para a reunião específica de desobsessão e que, por um tempo longo, tomasse passe semanalmente, além de ter receitado medicamentos para tranqüilizar a paciente, de conformidade com os procedimentos médicos para o caso.

Daí sempre que podia, a família a levava ao Grupo Espírita que freqüentávamos. Na hora do passe, era um sufoco, pois a moça fechava os olhos, e pronto, entrava em sintonia com os espíritos que a perseguiam. Isso fez com que orientássemos que não a deixassem concentrar-se, quando no momento do passe.

Entretanto, numa certa vez, após adentrar a cabine de passes, entrou em transe, numa nítida sintonia espiritual. Aliás, nunca vimos uma pessoa sintonizar tão facilmente quanto ela. Fomos imediatamente chamados para ajudar. Embora a situação fosse extremamente inadequada, iniciamos o diálogo com o espírito que a assediava, e, com muito custo, conseguimos dele a promessa de que iria “sair” da moça. Imediatamente após ele dizer isso, a moça perdeu todo o controle do corpo, caindo ao chão, sem que pudéssemos fazer absolutamente nada, dada a rapidez com que isso aconteceu. Ajudado pelos companheiros, mas com dificuldade, a colocamos numa cadeira, tentando reanimá-la, o que ocorreu poucos minutos depois. Não se lembrou de absolutamente nada do que lhe ocorreu nesse período de tempo. Saiu naturalmente como entrou, de forma que quem a viu sair da cabine de passes, não percebeu nada do ocorrido.

Foi a partir desse episódio que passamos a questionar a afirmativa de que todos os fenômenos mediúnicos têm como base a mente, em outras palavras, tudo ocorre em nível de sintonias mentais, entre os envolvidos. Mas, o fato ocorrido, nos remetia a acreditarmos que havia realmente uma posse física, o que, a nosso ver, justificava a queda da moça após a saída do espírito, se assim podemos nos expressar, não conseguindo, o seu próprio espírito, voltar a tempo de controlá-lo de modo a evitar a queda.

Essa questão foi amplamente debatida entre os membros do Grupo, e na ocasião, chegou às nossas mãos um texto publicado no site Portal do Espírito, em que o articulista defendia, ou melhor, demonstrava que Kardec havia falado algo a respeito disso. Vejamos, então nas obras kardequianas o que podemos encontrar.

O assunto nas Obras Básicas O que encontramos no que disse Kardec iremos apresentar em ordem cronológica, para que fique clara a evolução do entendimento sobre o assunto.

1) Abr/1857 – O Livro dos Espíritos

Abordado nas seguintes questões:

473. Pode um Espírito tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é, introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado neste corpo?

“O Espírito não entra em um corpo como entras numa casa. Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas, o encarnado é sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material.”

474. Desde que não há possessão propriamente dita, isto é, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de a sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada? “Sem dúvida, e são esses os verdadeiros possessos. Mas, é preciso saibas que essa dominação não se efetua nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por desejá-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitavam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos”.

O vocábulo possesso, na sua acepção vulgar, supõe a existência de demônios, isto é, de uma categoria de seres maus por natureza, e a coabitação de um desses seres com a alma de um indivíduo, no seu corpo. Posto que, nesse sentido, não há demônios e que dois Espíritos não podem habitar simultaneamente o mesmo corpo, não há possessos na conformidade da idéia a que esta palavra se acha associada. O termopossesso só se deve admitir como exprimindo a dependência absoluta em que uma alma pode achar-se com relação a Espíritos imperfeitos que a subjuguem.

Nessa circunstância, não há nenhuma margem para dúvidas de que não há mesmo possessão física, mas subjugação. E Kardec coloca por que não quer usar o termo possessão, já que poderiam relacioná-lo com demônios, que não existem para o Espiritismo, senão na figura de espíritos imperfeitos dedicados ao mal.

2) Jan/1861 – Livro dos Médiuns

No capítulo XXIII, intitulado Da Obsessão, Kardec volta novamente ao assunto.

240. A subjugação é uma constrição que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado. Numa palavra: o paciente fica sob um verdadeiro jugo.

A subjugação pode ser moral ou corporal. No primeiro caso, o subjugado é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas: é uma como fascinação. No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários. Traduz-se, no médium escrevente, por uma necessidade incessante de escrever, ainda nos momentos menos oportunos. Vimos alguns que, à falta de pena ou lápis, simulavam escrever com o dedo, onde quer que se encontrassem, mesmo nas ruas, nas portas, nas paredes.

Vai, às vezes, mais longe a subjugação corporal; pode levar aos mais ridículos atos. Conhecemos um homem, que não era jovem, nem belo e que, sob o império de uma obsessão dessa natureza, se via constrangido, por uma força irresistível, a pôr-se de joelhos diante de uma moça a cujo respeito nenhuma pretensão nutria e pedi-la em casamento. Outras vezes, sentia nas costas e nos jarretes uma pressão enérgica, que o forçava, não obstante a resistência que lhe opunha, a se ajoelhar e beijar o chão nos lugares públicos e em presença da multidão. Esse homem passava por louco entre as pessoas de suas relações; estamos, porém, convencidos de que absolutamente não o era; porquanto tinha consciência plena do ridículo do que fazia contra a sua vontade e com isso sofria horrivelmente.

241. Dava-se outrora o nome de possessão ao império exercido por maus Espíritos, quando a influência deles ia até à aberração das faculdades da vítima. A possessão seria, para nós, sinônimo da subjugação. Por dois motivos deixamos de adotar esse termo: primeiro, porque implica a crença de seres criados para o mal e perpetuamente votados ao mal, enquanto que não há senão seres mais ou menos imperfeitos, os quais todos podem melhorar-se; segundo, porque implica igualmente a idéia do assenhoreamento de um corpo por um Espírito estranho, de uma espécie de coabitação, ao passo que o que há é apenas constrangimento. A palavra subjugação exprime perfeitamente a idéia. Assim, para nós, não há possessos, no sentido vulgar do termo, há somente obsidiados, subjugados e fascinados.

Ainda aqui Kardec não muda de opinião, mantém a que possuía a respeito desse assunto, apenas esclarecendo-a mais detalhadamente do que havia feito anteriormente.

3) Dez/1863 – Revista Espírita

Aqui Kardec muda de opinião, retificando o que havia dito anteriormente, após ter uma prova que há possessão física sim. Vejamos quando ele narra o seguinte:

Um caso de possessão

Senhoria Julie

Dissemos que não havia possessos no sentido vulgar da palavra, mas subjugados; retornamos sobre esta afirmação muito absoluta, porque nos está demonstrado agora que pode ali haver possessão verdadeira, quer dizer, substituição, parcial no entanto, de um Espírito errante ao Espírito encarnado. Eis um primeiro fato que é a prova disto, e que apresenta o fenômeno em toda a sua simplicidade. (…)

(…) Ele [o espírito] declara que, querendo conversar com seu antigo amigo, aproveitou de um momento em que o Espírito da Senhora A…, a sonâmbula, estava afastado de seu corpo, para se colocar em seu lugar. (…)

P. Que fez durante esse tempo o Espírito da senhora A…? – R. Estava lá, ao lado, me olhava e ria de ver-me nesse vestuário.

Transcrevemos, como viram, apenas o que nos interessou para o nosso estudo. Entretanto, partindo das próprias afirmações de Kardec, algumas pessoas colocam como ainda não doutrinária essa questão, por estar apenas na Revista Espírita.

De fato, é perfeitamente aceitável pensar assim diante do que Kardec disse:

A Revista é, freqüentemente, para nós, um terreno de ensaio destinado a sondar a opinião dos homens e dos Espíritos sobre certos princípios, antes de admiti-los como partes constitutivas da Doutrina. (A Gênese, Introdução, 1868).

Teríamos por aqui também dado esse assunto por encerrado, já que a evidência era demasiadamente forte para contestarmos, apesar de, particularmente, não vermos a questão dessa forma. Pois, para nós, a mudança de opinião é clara demais na Revista Espírita, não se tratando de questão que teria sido colocada para ver as opiniões sobre o assunto.

Mas continuando as pesquisas deparamos com algo que não deixará dúvidas, ficando claro que faz parte, sim, dos princípios constitutivos da Doutrina. Vejamos, então, o que encontramos, por último, no que pesquisamos.

4) Jan/1868 – A Gênese

Essa questão volta agora em definitivo nesse livro, no capítulo XIV, Os Fluidos, quando, tratando das obsessões, Kardec diz:

46 – Assim como as enfermidades resultam das imperfeições físicas que tornam o corpo acessível às perniciosas influências exteriores, a obsessão decorre sempre de uma imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau, A uma causa física, opõe-se uma força física; a uma causa moral preciso é se contraponha uma força moral. Para preservá-lo das enfermidades, fortificasse o corpo; para garanti-la contra a obsessão, tem-se que fortalecer a alma; donde, para o obsidiado, a necessidade de trabalhar por se melhorar a si próprio, o que as mais das vezes basta para livrá-lo do obsessor, sem o socorro de terceiros. Necessário se torna este socorro, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque nesse caso o paciente não raro perde a vontade e o livre-arbítrio.

Quase sempre a obsessão exprime vingança tomada por um Espírito e cuja origem freqüentemente se encontra nas relações que o obsidiado manteve com o obsessor, em precedente existência.

Nos casos de obsessão grave, o obsidiado fica como que envolto e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. É daquele fluido que importa desembaraçá-lo, Ora, um fluído mau não pode ser eliminado por outro igualmente mau. Por meio de ação idêntica à do médium curador, nos casos de enfermidade, preciso se faz expelir um fluido mau com o auxílio de um fluido melhor.

Nem sempre, porém, basta esta ação mecânica; cumpre, sobretudo, atuar sobre o ser inteligente, ao qual é preciso se possua o direito de falar com autoridade, que, entretanto, falece a quem não tenha superioridade moral, Quanto maior esta for, tanto maior também será aquela.

Mas, ainda não é tudo: para assegurar a libertação da vítima, indispensável se torna que o Espírito perverso seja levado a renunciar aos seus maus desígnios; que se faça que o arrependimento desponte nele, assim como o desejo do bem, por meio de instruções habilmente ministradas, em evocações particularmente feitas com o objetivo de dar-lhe educação moral. Pode-se então ter a grata satisfação de libertar um encarnado e de converter um Espírito imperfeito.

O trabalho se torna mais fácil quando o obsidiado, compreendendo a sua situação, para ele concorre com a vontade e a prece. Outro tanto não sucede quando, seduzido pelo Espírito que o domina, se ilude com relação às qualidades deste último e se compraz no erro a que é conduzido, porque, então, longe de a secundar, o obsidiado repele toda assistência. É o caso da fascinação, infinitamente mais rebelde sempre, do que a mais violenta subjugação. (O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII.)

Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso meio de que se dispõe para demover de seus propósitos maléficos o obsessor.

47. – Na obsessão, o Espírito atua exteriormente, com a ajuda do seu perispírito, que ele identifica com o do encarnado, ficando este afinal enlaçado por uma como que teia e constrangido a proceder contra a sua vontade.

Na possessão, em vez de agir exteriormente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado; toma-lhe o corpo para domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado pelo seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte. A possessão, conseguintemente, é sempre temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado, pela razão de que a união molecular do perispírito e do corpo só se pode operar no momento da concepção. (Cap. XI, nº 18.) De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito se serve dele como se seu próprio fora: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com seus braços, conforme o faria se estivesse vivo. Não é como na mediunidade falante, em que o Espírito encarnado fala transmitindo o pensamento de um desencarnado; no caso da possessão é mesmo o último que fala e obra; quem o haja conhecido em vida, reconhece-lhe a linguagem, a voz, os gestos e até a expressão da fisionomia.

48. – Na obsessão há sempre um Espírito malfeitor. Na possessão pode tratar-se de um Espírito bom que queira falar e que, para causar maior impressão nos ouvintes, toma do corpo de um encarnado, que voluntariamente lho empresta, como emprestaria seu fato a outro encarnado. Isso se verifica sem qualquer perturbação ou incômodo, durante o tempo em que o Espírito encarnado se acha em liberdade, como no estado de emancipação, conservando-se este último ao lado do seu substituto para ouvi-lo.

Quando é mau o Espírito possessor, as coisas se passam de outro modo. Ele não toma moderadamente o corpo do encarnado, arrebata-o, se este não possui bastante força moral para lhe resistir. Fá-lo por maldade para com este, a quem tortura e martiriza de todas as formas, indo ao extremo de tentar exterminá-lo, já por estrangulação, já atirando-o ao fogo ou a outros lugares perigosos. Servindo-se dos órgãos e dos membros do infeliz paciente, blasfema, injuria e maltrata os que o cercam; entrega-se a excentricidades e a atos que apresentam todos os caracteres da loucura furiosa.

São numerosos os fatos deste gênero, em diferentes graus de intensidade, e não derivam de outra causa muitos casos de loucura. Amiúde, há também desordens patológicas, que são meras conseqüências e contra as quais nada adiantam os tratamentos médicos, enquanto subsiste a causa originária. Dando a conhecer essa fonte donde provém uma parte das misérias humanas, o Espiritismo indica o remédio a ser aplicado: atuar sobre o autor do mal que, sendo um ser inteligente, deve ser tratado por meio da inteligência. (1).

49. – São as mais das vezes individuais a obsessão e a possessão; mas, não raro são epidêmicas. Quando sobre uma localidade se lança uma revoada de maus Espíritos, é como se uma tropa de inimigos a invadisse. Pode então ser muito considerável o número dos indivíduos atacados. (2).

***

(1) Casos de cura de obsessões e de possessões: Revue Spirite, dezembro de 1863, pág., 373; – janeiro de 1864, pág. 11; – junho de 1864, pág. 168; – janeiro de 1865, pág. 5; – junho de 1865, pág. 172; – fevereiro de 1868, pág. 38; – junho de 1867, pág. 174.

(2) Foi exatamente desse gênero a epidemia que, faz alguns anos, atacou a aldeia de Morzine na Sabóia. Veja-se o relato completo dessa epidemia na Revue Spirite de dezembro de 1862, pág. 353; janeiro, fevereiro, abril e maio de 1863, págs. 1, 33, 101 e 133.


5) Fev/1869 – Revista Espírita

Na narrativa de Kardec a respeito de um espírito que não acreditava ter morrido, mas apenas sonhando, podemos encontrar mais alguma coisa sobre o assunto de que estamos tratando. Vejamos:

Na sessão da Sociedade de Paris, de 8 de janeiro, o mesmo Espírito veio se manifestar de novo, não pela escrita, mas pela palavra, em se servindo do corpo do Sr. Morin, em sonambulismo espontâneo. Ele falou durante uma hora, e isso foi uma cena das mais curiosas, porque o médium tomou a sua pose, seus gestos, sua voz, sua linguagem ao ponto que aqueles que o tinham visto o reconheceram sem dificuldade. (…)

Numa outra reunião, um Espírito deu sobre este fenômeno a comunicação seguinte:

Há aqui, uma substituição de pessoa, uma simulação. O Espírito encarnado recebe a liberdade ou cai na inação. Digo inércia, quer dizer, a contemplação daquilo que se passa. Ele está na posição de um homem que empresta momentaneamente a sua habitação, e que assiste às diferentes cenas que se realizam com a ajuda de seus móveis. Se gosta mais de gozar da sua liberdade, ele o pode, a menos que não haja para ele utilidade em permanecer espectador.

Não é raro que um Espírito atue e fale com o corpo de um outro; deveis compreender a possibilidade deste fenômeno, então que sabeis que o Espírito pode se retirar com o seu perispírito mais ou menos longe de seu envoltório corpóreo. Quando esse fato ocorre sem que nenhum Espírito disto se aproveite para ocupar o lugar, há a catalepsia. Quando um Espírito deseja para ali se colocar para agir, toma um instante a sua parte na encarnação, une o seu perispírito ao corpo adormecido, desperta-o por esse contato e restitui o movimento à máquina; mas os movimentos, a voz não são mais os mesmos, porque os fluidos perispirituais não afetam mais o sistema nervoso do mesmo modo que o verdadeiro ocupante.

Essa ocupação jamais pode ser definitiva; seria preciso, para isso, a desagregação absoluta do primeiro perispírito, o que levaria forçosamente à morte. Ela não pode mesmo ser de longa duração, pela razão de que o novo perispírito, não tendo sido unido a esse corpo desde a sua formação, não tem nele raízes, não estando modelado sobre esse corpo, não está apropriado ao desempenho dos órgãos; o Espírito intruso não está numa posição normal; ele é embaraçado em seus movimentos e é porque deixa essa veste emprestada desde que dela não tenha mais necessidade.

Aqui, então, diante do assunto incluído nas Obras Básicas, não há mais como contestar não ser tema constitutivo da Doutrina, embora, como já o dissemos, já o aceitávamos por estar tão objetivamente na Revista Espírita, e como resposta à experiência pessoal que tivemos, relatada anteriormente. A novidade é que Kardec afirma que até um Espírito bom poderá possuir o corpo de um encarnado, desde que as condições o exijam.

Opinião de Léon Denis

No capítulo XIX – Transes e Incorporação do livro No Invisível, Léon Denis fala justamente daquilo que estamos presentemente estudando. Vamos ver então o que disse o sucessor de Kardec:

O estado de transe é esse grau de sono magnético que permite ao corpo fluídico exteriorizar-se, desprender-se do corpo carnal, e à alma tornar a viver por um instante sua vida livre e independente. A separação, todavia, numa é completa; a separação absoluta seria a morte…. No transe, o médium fala, move-se, escreve automaticamente; desses atos, porém, nenhuma lembrança conserva ao despertar.

O estado de transe pode ser provocado, quer pela ação de um magnetizador, quer pela de um Espírito. Sob o influxo magnético, os laços que unem os dois corpos se afrouxam. A alma, com seu corpo sutil, vai-se emancipando pouco a pouco; recobra o uso de seus poderes ocultos, comprimidos pela matéria. Quanto mais profundo é o sono, mais completo vem a ser o desprendimento. (…)

No corpo do médium, momentaneamente abandonado, pode dar-se uma substituição de Espírito. É o fenômeno das incorporações. A alma de um desencarnado, mesmo a alma de um vivo adormecido, pode tomar o lugar do médium e servir-se de seu organismo material, para se comunicar pela palavra e pelo gesto com as pessoas presentes.

Nesse ponto Léon Denis cita Dr. Oliver Lodge e o professor Myers como testemunhos da realidade desses fatos. E continuando, lemos:

Indagam certos experimentadores: o Espírito do manifestante se incorpora efetivamente no organismo do médium? Ou opera ele antes, a distância, pela sugestão mental e pela transmissão de pensamento, como o pode fazer o Espírito exteriorizado do sensitivo?

Um exame atento dos fatos nos leva a crer que essas duas explicações são igualmente admissíveis, conforme os casos. As citações que acabamos de fazer provam que a incorporação pode ser real e completa. É mesmo algumas vezes inconsciente, quando, por exemplo, certos Espíritos pouco adiantados são conduzidos por uma vontade superior ao corpo do médium e postos em comunicação conosco, a fim de serem esclarecidos sobre sua verdadeira situação. Esses Espíritos, perturbados pela morte, acreditam ainda, muito tempo depois, pertencerem à vida terrestre. Não lhes permitindo seus fluidos grosseiros o entrarem em relação com os Espíritos mais adiantados, são levados aos grupos de estudo, para serem instruídos acerca de sua nova condição. É difícil às vezes fazer-lhes compreender que abandonaram a vida carnal, e sua estupefação atinge o cômico, quando, convidados a comparar o organismo que momentaneamente animam com o que possuíam na Terra, são obrigados a reconhecer o seu engano. Não se poderia duvidar, em tal caso, na incorporação completa do Espírito.

Noutras circunstâncias, a teoria da transmissão, a distância, parece melhor explicar os fatos. As impressões oriundas de fora são mais ou menos fielmente percebidas e transmitidas pelos órgãos. Ao lado de provas de identidade, que nenhuma hesitação permitem sobre a autenticidade do fenômeno e intervenção dos Espíritos, verificam-se, na linguagem do sensitivo em transe, expressões, construções de frases, um modo de pronunciar que lhe são habituais. O Espírito parece projetar o pensamento no cérebro do médium, onde adquire, de passagem, formas de linguagem familiares a este. A transmissão se efetua em tal caso no limite dos conhecimentos e aptidões do sensitivo, em termos vulgares ou escolhidos, conforme o seu grau de instrução. Daí também certas incoerências que se devem atribuir à imperfeição do instrumento.

Ao despertar, o Espírito do médium perde toda consciência das impressões recebidas no sentido de liberdade, do mesmo modo que não guardará o menor conhecimento do papel que seu corpo tenha desempenhado durante o transe. Os sentidos psíquicos, de que por um momento haviam readquirido a posse, se extinguem de novo; a matéria estende o seu manto; a noite se produz; toda recordação de desvanece. O médium desperta num estado de perturbação, que lentamente se dissipa.

As colocações de Léon Denis, vêm corroborar o que o próprio Kardec fez sobre a possessão. Agora, mais do que nunca, ficamos convictos dessa realidade, uma vez que todas as colocações estão coerentes entre si, não havendo, portanto, algo que demonstre qualquer contradição entre elas.

Conclusão

O que aprendemos como uma oportuna lição, é que sempre devemos fazer nossas pesquisas em todos os livros de Kardec, até que não tenhamos a opinião final, não podemos ficar com a primeira opinião que venha a aparecer. Conforme ficou demonstrado nesse estudo, Kardec mudou de opinião sobre a possessão, daí poderemos dizer que não colocou nada como verdade absoluta, mas como sempre, passível de novos entendimentos. Vai mais longe: “Se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro sobre um ponto, modificar-se-á sobre esse ponto; se uma nova verdade se revela, ele a aceita” (A Gênese, pág. 40).

Devemos, pois, reformular nossos conceitos sobre a possessão, tendo em vista que deverá prevalecer a última opinião de Kardec, e é ela que vem dizer da possibilidade real da possessão, por um espírito, do corpo de um encarnado. Poderemos dizer que na subjugação o encarnado não quer fazer, mas é constrangido a fazer aquilo que o espírito obsessor deseja que ele faça. A atuação do espírito é por envolvimento. Nessa hipótese ele, o encarnado, está consciente da situação, mas nada pode fazer para evitá-la. Enquanto que na possessão o encarnado não tem a mínima idéia do que está lhe acontecendo, faz, sem tomar consciência, a vontade do espírito, conforme percebemos senão em todos, pelo menos na maioria dos casos de que tomamos conhecimento. Nessa situação é completamente inconsciente, não oferecendo a mínima resistência à vontade do obsessor, que faz dele uma marionete, se assim podemos nos expressar.

Por outro lado, poderemos ainda acrescentar, apenas para reforçar essa idéia, algumas coisas que encontramos no livro Nos Domínios da Mediunidade, Chico Xavier, ditado por André Luiz.

Vejamos os trechos:

“Falando a respeito de determinado médium está dito: ‘Quando empresta o veículo a entidades dementes ou sofredoras, reclama-nos cautela, porquanto quase sempre deixa o corpo à mercê dos comunicantes, quando lhe compete o dever de ajudar-nos na contenção deles, a fim de que o nosso tentame de fraternidade não lhe traga prejuízo à organização física’”. (pág. 30).

Segundo pensamos se o médium “empresta o veículo a entidades”, é porque os espíritos tomam posse do corpo físico dele ou, no linguajar popular, incorpora-se no médium. “… Entretanto, adaptando-se ao organismo da mulher amada que passou a obsidiar, nela encontrou novo instrumento de sensação, vendo por seus olhos, ouvindo por seus ouvidos, muitas vezes falando por sua boca e vitalizando-se com os alimentos comuns por ela utilizados. Nessa simbiose vivem ambos, há quase cinco anos sucessivos, contudo, agora, a moça subnutrida e perturbada acusa desequilíbrios orgânicos de vulto”. (pág. 54).

É praticamente o que diz Kardec ao final do item 47, na última passagem citada logo acima. A única divergência é que Kardec diz de posse momentânea, e aqui descreve uma com, provavelmente, cinco anos de duração.

“Notamos que Eugênia-alma afastou-se do corpo, mantendo-se junto dele, a distância de alguns centímetros, enquanto que, amparado pelos amigos que o assistiam, o visitante sentava-se rente, inclinado-se sobre o equipamento mediúnico ao qual se justapunha, à maneira de alguém a debruçar-se numa janela”. (págs. 54/55).

“… nesses trabalhos, o médium nunca se mantém a longa distância do corpo…” (pág. 56).

Impressionante como esse trecho se assemelha à fala do espírito que explicava como possuía o corpo físico da Senhora A…, na possessão citada pela Revista Espírita. E para quem assistiu ao filme Ghost essa descrição faz-nos lembrar do que acontecia com a personagem vivida por Whoopi Goldbrg, que antes brincava de “receber” espíritos, e depois passou a “recebê-los” de fato.

Vejam bem, tudo isso se ajusta ao que está dito em A Gênese, mas mesmo que no livro do autor espiritual André Luiz se relatem fatos extremamente idênticos, lemos nessa obra o seguinte:

“Achando-se a mente na base de todas as manifestações mediúnicas, quaisquer que sejam os característicos em que se expressem…” (pág. 18)

Isso vem justamente contradizer, salvo melhor juízo, o que está descrito nesse livro, quando dos casos de incorporação e dos de obsessão, uma vez que, por eles fica caracterizada a posse do corpo do médium ou do obsidiado, respectivamente. Assim, acreditamos que poderia estar havendo um certo exagero em se dizer de forma absoluta que a mente está na base de todas as manifestações mediúnicas, como se afirma no mencionado livro. A não ser que estejamos entendendo de maneira errada o que quer colocar o autor espiritual. Poderia, quem sabe, estar mesmo querendo dizer que essa base é a mente do desencarnado, não como sendo a ligação mental entre os envolvidos no fenômeno mediúnico.

Podemos ainda citar o Dr. Hermani Guimarães Andrade que utilizou quase das mesmas passagens que citamos de André Luis, quando estudo a questão das incorporações mediúnicas, obsessões e possessões. A certa altura diz-nos esse saudoso mestre:

A “incorporação mediúnica” pode, também, distinguir-se por diversas modalidades de comunicação: psicofonia, psicografia, possessão parcial ou total das manifestações de habilidades não aprendidas tais como nos casos de psicopctografia, psicocirurgia, psicoescultura,, psicomúsica, escrita automática incontrolável com xenografia, xenoglossia, múltipla personalidade, transfiguração (esta última pertencendo também ao capítulo das ectoplasmias), etc.

O mecanismo da “incorporação mediúnica” é fácil de compreender. Ela pode principiar pela aproximação da entidade que deseja comunicar-se. Esta poderá eventualmente influenciar o “médium”, facilitando-lhe o “transe”. O médium passa então a sofrer um desdobramento astral (OBE) e sua cúpula juntamente com o corpo astral deslocam-se parcial ou totalmente de maneira a permitir que a cúpula e o corpo astral do Espírito comunicante ocupe parcial ou totalmente o campo livre deixado pelo “corpo astral” do médium. A incorporação é tanto mais perfeita quanto maior o espaço é cedido pelo astral do médium ao afastar-se do seu corpo físico, deixando lugar para a cúpula com o corpo astral dôo comunicador. Este – o Espírito comunicante – deverá sofrer um processo semelhante ao desdobramento astral,, para permitir que sua cúpula e corpo astral possam justapor-se ao espaço livre deixado pelo médium (ver fig. 16).

Na figura 16 mostramos esquematicamente o mecanismo de uma incorporação mediúnica completa. Há casos em que a parte astral do médium se desloca só parcialmente, permitindo que apenas uma fração do astral do Espírito comunicador entre em contacto com a zona anímico-perispirítica daquele. Mesmo nestas condições pode haver comunicação, a qual poderá ser em parte direta e em parte telepática. Em semelhante circunstância há sempre possibilidade de controle das comunicações, por parte do mediu. Este poderá interferir no processo, ainda mesmo que totalmente afastado, pois a ligação com a sua zona anímico-perispirítica não cessa. Há sempre a presença do “cordão prateado” garantindo o domínio do próprio equipamento somático.

Podemos aceitar, sem medo de estarmos totalmente errados, que, em alguns casos, há mesmo o que, popularmente, já se diz de situações como essas, qual seja, a real incorporação, no sentido exato da palavra aplicado a esse fenômeno mediúnico, conclusão a que chegamos por esse estudo.

Paulo da Silva Neto Sobrinho

Julho/2004.

Referências Bibliográficas:

ANDRADE, H.G., Espírito, Perispírito e Alma, São Paulo: Pensamento-Cultrix, 2002.
DENIS, L., No Invisível, Rio de Janeiro: FEB, 1987.
KARDEC, A. A Gênese, Araras – SP: IDE, 1993.
_________ O Livro dos Espíritos, Araras – SP; IDE: 1987.
_________ O Livro dos Médiuns, Araras – SP, IDE: 1993.
_________ Revista Espírita, tomo XI, 1868, Araras – SP: IDE, 1993.
_________ Revista Espírita, tomo XII, 18969, Araras – SP: IDE, 2001.
XAVIER, F. C. Nos Domínios da Mediunidade, Rio de Janeiro: FEB, 1987.

24 fevereiro 2021

Enquanto brilhe o Sol - Divaldo Pereira Franco

 
ENQUANTO BRILHE O SOL

Enquanto brilhe o sol...

Há dias em que tudo parece sombreado, sem possibilidade de luz...

Programações cuidadosas tornam-se mais difíceis de realizadas, esperanças sustentadas em todos os momentos com alegria tornam-se mais distantes, os compromissos habituais parecem enfadonhos e inúteis, ao tempo em que uma onda de pessimismo toma conta dos nossos ideais.

Nesta quarentena longa, que se vem arrastando com vários ritmos e definições, tem havido aturdimento em muitas mentes, gerando grandes conflitos nos relacionamentos, afastando os indivíduos uns dos outros, produzindo tédio e ansiedade, assim como outros conflitos emocionais em razão da falta desse hábito de convivência.

Ideias estapafúrdias, nascidas nas fugas psicológicas da realidade, anunciam prazeres que exaurem e atentados contra a dignidade, como se fosse uma campanha bem dirigida contra a ordem, o equilíbrio e o dever, dando a impressão que essas são manifestações tabus que devem desaparecer da sociedade.

Nesse báratro perde-se o discernimento ante o que é ou não salutar, porque as filosofias existenciais e a política pervertida somente trabalham em favor dos seus interesses mesquinhos, pretendendo reduzir o seu humano contemporâneo ao indivíduo grosseiro e primitivo, por cujas experiências antropológicas transitou com êxito.

Campanhas sistemáticas muito bem urdidas trabalham contra a fé religiosa de qualquer espécie, como se isso resolvesse os graves problemas existenciais nas suas expressões mais significativas.

A educação, que deveria ser a base da construção do mundo novo, por ser o alicerce de glorificação da criatura humana, experimenta a banalização e o desprezo, porque, quanto menos educado (e disciplinado um povo), melhor para os dominadores de ocasião implantarem os seus regimes brutais e esmagadores das populações que permanecerão na miséria social e econômica.

Nada obstante, se arregimentam legiões enlouquecidas do mundo espiritual inferior que invadem o planeta ansiosas para transformar a abençoada Gaia em um núcleo de perversão, de crimes tornados legais pela desventura dos partidos políticos. Não será esta a primeira vez que ocorrerá. Periodicamente o planeta vê-se assaltado pelas guerras e desvarios, tudo transformando em sombras e desencanto, mas subitamente raia o Sol da liberdade, dos direitos humanos, das democracias, dos valores éticos e Deus abençoa a humanidade, envolvendo-a em conquistas da beleza e da paz.

Renasça em nossos corações a esperança, porquanto todos fomos criados para a plenitude.

Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 10.12.2020.


23 fevereiro 2021

Educacão em saúde - Recomendações importantes (8) - Gorduras trans: A mortal inimiga do ser humano - Américo Domingos Nunes Filho


 
EDUCAÇÃO EM SAÚDE
Recomendações importantes (8)
Gorduras trans: A mortal inimiga do ser humano


1) É rotineiro observar, no supermercado, as pessoas colocarem nos carrinhos de compra algumas caixinhas de margarina e de outros alimentos, contendo gordura vegetal hidrogenada. Infelizmente desconhecem o erro em que incorrem, prejudicando gravemente o organismo físico, antecipando o momento da morte e, o que é o pior, falecem através do suicídio indireto ou involuntário, com repercussão negativa na dimensão espiritual.

2) Quando os óleos vegetais passam por um processo de hidrogenação, isto é, são adicionadas em suas moléculas o hidrogênio, a substância final apresenta-se como gordura sólida, em temperatura ambiente, com ótimo aspecto e durabilidade aumentada. É denominada de gordura vegetal hidrogenada, propiciando o aumento do LDL (colesterol ruim), o qual aumenta as chances de doenças do coração, além de diminuir o HDL (colesterol bom), o qual evita problemas cardíacos. O LDL elevado pode ocasionar muitos problemas no organismo físico, que faculta o desencadeamento das afecções cardiovasculares, inclusive o temível infarto do miocárdio, como igualmente atua no aumento da obesidade abdominal e no processo inflamatório no organismo.

3) Deve-se evitar o consumo dessa prejudicial gordura, o que se torna muito difícil, porquanto os produtos industrializados, em sua grande maioria, a contêm. Deve-seAlém disso, sempre observar, sempre, no rótulo do alimento, se há a presença da gordura vegetal hidrogenada, principalmente em bolos, tortas, massas instantâneas, bolachas, pães, biscoitos, batatas fritas, sorvetes, maionese, pasteis, cremes vegetais, salgadinhos, frituras, margarinas, pipocas de micro-ondas e nos lanches de “fast-food”. Nunca E nunca comprar qualquer alimento sem a colocação no rótulo da lista dos ingredientes nele contidos. Se o alimento contiver no rótulo a gordura de coco, oliva ou palma, pode consumi-lo. Os alimentos de origem animal, como carne e leite, possuem quantidades insignificantes de gordura trans.

4) Como a gordura trans não é digerida, há acúmulo da substância nos vasos arteriais e no abdômen. A obesidade abdominal, excesso de peso que se desenvolve ao longo do tempo em torno do centro do corpo, também chamado de gordura visceral, associado à resistência à insulina (diabetes tipo 2), é denominada de Síndrome Metabólica, com sérios riscos para o sistema cardiovascular.

5) Portanto, quanto risco corre um indivíduo que se alimenta mal, principalmente consumindo comidas ricas em gorduras trans! Importante, além de se evitar o consumo das gorduras prejudiciais à saúde, o indivíduo tem que de fugir do sedentarismo, praticando atividade física regular. Assim fazendo, há haverá a diminuição do risco cardiovascular e muitos outros benefícios.

6) Certamente, os eventos festivos (aniversários, casamentos, etc.) são inundados de alimentos contendo alto teor de gordura trans. De início, são servidos os grandes vilões, os salgadinhos feitos de uma massa farinácea cheia de gordura vegetal hidrogenada, frita juntamente com a carne de vaca e frango moída. Depois, vem a distribuição de bolos, sorvetes e doces. Para terminar, o consumo prejudicial de refrescos artificiais e refrigerantes. Que desgraça!

7) Algumas pessoas, com muita frequência, comparecem a eventos sociais e, constantemente, estão ingerindo substâncias que estão lhe roubando significativo tempo de vida física. O conselho que a medicina dá para os que vão participar de festas com muita comida prejudicial é, exatamente, se alimentaremalimentar-se bem em casa e não ingerirem os “quitutes” imergidos na gordura trans, constantemente oferecidos nas festanças.

8) A Doutrina codificada pelo magnânimo Kardec ensina a importância dos cuidados a serem dispensados com o nosso veículo físico, imprescindível à evolução do espírito. Gozar uma vida saudável favorece o ser encarnado a completar o seu tempo de aprendizagem de forma natural e com muita produtividade.

Américo Domingos Nunes Filho 
 

22 fevereiro 2021

Vivi, mas esqueci - Sidney Fernandes


VIVI, MAS ESQUECI


O homem não pode nem deve tudo saber. Pelo esquecimento do passado, ele é mais ele mesmo. Allan Kardec

Nas várias
O homem não pode nem deve tudo saber. Pelo esquecimento do passado, ele é mais ele mesmo. Allan Kardec

Nas várias cidades por que passava uma companhia teatral, começaram a surgir casos de estupros e mortes de mulheres. Infelizmente, constatou-se que o criminoso era um ator que se revestia de tal forma das características de seu personagem a ponto de passar a cometer crimes hediondos. O ator permitia-se encarnar o cruel assassino.

Um ator pode assimilar intensamente a personalidade do personagem que representa, a ponto de confundir ficção com realidade? Normalmente não, pois na sua profissão o ator pode assumir vários papéis e continuar a ser ele mesmo. Há casos, no entanto, de desvios que demonstram confusão entre ficção e realidade.

O espírito, nas múltiplas existências que vivencia, não obstante encarnar em vários corpos, sempre mantém a sua individualidade, acumulando as várias experiências por que passou e jamais retrogradará. O honesto jamais será um ladrão, o virtuoso manterá a sua dignidade e, vencida a fase do egoísmo, o altruísta jamais abdicará de seus valores.

Da mesma forma que o desequilíbrio pode afetar o ator, a ponto de fazê-lo misturar ficção com realidade, lamentavelmente, muitos alienados mentais, internados em hospitais psiquiátricos, podem reviver personalidades de vidas anteriores.

O que normalmente é diagnosticado pela ciência médica como insanidade mental ou distúrbio psiquiátrico, muitas vezes representa tão somente o embaralhamento de percepções da vida atual com as de vidas anteriores.

Ainda que de forma rara, segundo O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, (questão 392) reminiscências do passado nem sempre contribuem adequadamente ao progresso do espírito. O esquecimento poupa o homem de recordações comprometedoras e indesejáveis, em relação às quais ele ainda não está devidamente preparado.

***

Considerando-se não recomendável qualquer iniciativa em que se revolva o passado, não deveria ser evitada? Nem sempre o trauma inicial causador dos desagradáveis sintomas da atualidade — fobias, síndrome do pânico, distúrbios de comportamentos sexuais, transtornos obsessivo-compulsivos (TOC), depressão, ansiedade e outros — encontra-se na infância da vida atual, como defendia Freud. Às vezes remonta a períodos mais distantes do tempo e, às vezes, a vidas anteriores.cidades por que passava uma companhia teatral, começaram a surgir casos de estupros e mortes de mulheres. Infelizmente, constatou-se que o criminoso era um ator que se revestia de tal forma das características de seu personagem a ponto de passar a cometer crimes hediondos. O ator permitia-se encarnar o cruel assassino.

Um ator pode assimilar intensamente a personalidade do personagem que representa, a ponto de confundir ficção com realidade? Normalmente não, pois na sua profissão o ator pode assumir vários papéis e continuar a ser ele mesmo. Há casos, no entanto, de desvios que demonstram confusão entre ficção e realidade.

O espírito, nas múltiplas existências que vivencia, não obstante encarnar em vários corpos, sempre mantém a sua individualidade, acumulando as várias experiências por que passou e jamais retrogradará. O honesto jamais será um ladrão, o virtuoso manterá a sua dignidade e, vencida a fase do egoísmo, o altruísta jamais abdicará de seus valores.

Da mesma forma que o desequilíbrio pode afetar o ator, a ponto de fazê-lo misturar ficção com realidade, lamentavelmente, muitos alienados mentais, internados em hospitais psiquiátricos, podem reviver personalidades de vidas anteriores.

O que normalmente é diagnosticado pela ciência médica como insanidade mental ou distúrbio psiquiátrico, muitas vezes representa tão somente o embaralhamento de percepções da vida atual com as de vidas anteriores.

Ainda que de forma rara, segundo O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, (questão 392) reminiscências do passado nem sempre contribuem adequadamente ao progresso do espírito. O esquecimento poupa o homem de recordações comprometedoras e indesejáveis, em relação às quais ele ainda não está devidamente preparado.

***

Considerando-se não recomendável qualquer iniciativa em que se revolva o passado, não deveria ser evitada? Nem sempre o trauma inicial causador dos desagradáveis sintomas da atualidade — fobias, síndrome do pânico, distúrbios de comportamentos sexuais, transtornos obsessivo-compulsivos (TOC), depressão, ansiedade e outros — encontra-se na infância da vida atual, como defendia Freud. Às vezes remonta a períodos mais distantes do tempo e, às vezes, a vidas anteriores.

BR Ocorre o que poderíamos chamar Considerando-se não recomendável qualquer iniciativa em que se revolva o passado, não deveria ser evitada? Nem sempre o trauma inide exceção à regra do esquecimento, quando espíritos superiores permitem que se levante parcialmente o véu do esquecimento, com um fim útil e jamais para atender vã curiosidade.

***

Perguntei, certa vez, a Richard Simonetti:

— Mas o que me diz do esquecimento do passado? Não é ilógico pagar um débito cuja origem desconhece­mos?

Respondeu-me:

— Há várias razões para essa amnésia. Ela funciona em nosso benefício, principalmente quando somos cha­mados à reconciliação com os desafetos de vidas anterio­res. Conseguiria você abraçar um filho sabendo que ele foi odiado inimigo?


Fiquemos com Emmanuel:

Se estais submersos em esquecimento temporário, esse olvido é indispensável à valorização de vossas iniciativas. Não deveis provocar esse gênero de revelações, porquanto os amigos espirituais conhecem melhor as vossas necessidades e poderão provê-las em tempo oportuno, sem quebrar o preceito da espontaneidade exigida para esse fim.

Sidney Fernandes
1948@uol.com.br
Fonte:
Kardec Rio Preto


21 fevereiro 2021

Fanatismo e Idolatria - Joanna de Ângelis


FANATISMO E IDOLATRIA

Fanáticos e idólatras de qualquer procedência são membros carcomidos do organismo enfermo da ignorância.

Mergulhados em densa treva mental, negam-se às bençãos da luz do discernimento, fechados nos corredores estreitos da intolerância renitente ou do pavor inexplicável.

Em todos os tempos sempre os houve.

Adorando os fenômenos da natureza por temê-los, ou erguendo totens e a eles oferecendo sacrifícios para apaziguá-los, o fanatismo e a idolatria atingiram o clímax quando, em holocausto, foi derramado sangue em seus altares macabros...

Com o avanço do pensamento e as abundantes conquistas da ciência, era de esperar se que não mais existisse clima para a floração desta fauna de doentes do espírito. No entanto, nos diversos arraiais do conhecimento eles aparecem e proliferam.

Não somente nas aldeias religiosas, também nas avenidas largas da cidades do saber surgem e se desenvolvem, em cultos de macabra animalidade, estes dois famélicos verdugos, revivendo os fastos do passado, quase esquecido...

O culto da personalidade, a adoração do eu e a receita do prazer são modernos meios de veneração às vacuidades em assinalado desrespeito à evolução e à civilidade

* * *

Há os que idolatram a mocidade que esfuma rapidamente.

Há os fanáticos por estreiteza de vistas em matéria de fé ou nas diretrizes do conhecimento.

Idolatria em torno de objetos, animais, pessoas, idéias que se consomem.

Objetos que pertenceram ao passado e rareiam, disputados por colecionadores dominados pela cobiça em idolatria fanática.

Aqui, as rédeas que pesaram sobre os escombros aristocráticos de Incitatus, o cavalo que Calígula elevou a cônsul.

Ali, o punhal com que o escravo assassinou a Domiciano.

Acolá, a espada de Napoleão, erguida nas batalhas de Toulon ou das campanhas na Itália.

Amontoados de fragmentos desta ou daquela madeira, de moedas, de sedas, de objetos e adornos...

No entanto, o fanatismo religioso e a idolatria pagã, que ainda perduram em algumas fileiras do Cristianismo, constituem nos dias atuais, chaga purulenta, aguardando o curativo do “bom-senso” e da “razão".

“Não esculpireis imagens para adora-las...” – disse o Senhor. Todavia, em nome da saudade, sob escusas de evocações sentimentais, em cultos funestos do medo, erguem-se altares e adoradores surgem, imprudentemente, aumentando o número de inseguros e sofredores.

Com os ensinamentos espíritas que reproduzem as lições cristãs, o homem desperta para a adoração “em espírito e verdade”.

Já não pode cultivar as transitórias alegações. Nem amontoar farrapos tarjados de celebridade.

Envolve-se nos tecidos da caridade, calça as sandálias da ação e unge-se de amor ao próximo.

Abre alamedas de luz nos bosques sombrios, ascendendo esperanças e distende a mensagem de libertação, vivendo o culto, da renovação íntima, incansavelmente.

* * *

Recebido em Cesaréia, por Cornélio que o aguardava entre familiares e amigos, Simão Pedro foi homenageado pelo anfitrião, que, emocionado, “prostou-se aos seus pés, e o adorou”. O velho pescador, a quem tanto deve a Boa Nova, recordando, talvez, o Mestre, num impulso generoso e viril, no entanto, levantou o amigo, dizendo: “Levanta-te, que eu também sou homem”.

Recordando a preciosa lição do servo devotado a Cornélio, anotado nos Atos dos Apóstolos, capítulo 10 e versículo 25 e 26, compenetremo-nos do dever de divulgar o Evangelho, em sua pureza primitiva, libertando mentes e corações do fanatismo e da idolatria, ensinando com firmeza e bondade que o paraíso não tem limites e a adoração que nós compete realizar está na tarefa de espiritualizarmos a nós mesmos, alongando à família humana o nosso labor, sem preferência, sem paixão, sem loucura...

Joanna de Ângelis
Médium: Divaldo Pereira Franco
Livro: Dimensões da Verdade - 46


20 fevereiro 2021

Educação, Educar-se é Importante - Nilton Cardoso


EDUCAÇÃO, EDUCAR-SE É IMPORTANTE

Quando uma Nação não se desenvolve dentro dos padrões normais de crescimento, seja por incompetência de seus governantes, ou em razão dos desvios serem tantos que não sobra recursos para os investimentos básicos como educação e saúde, o resultado é o parar no tempo, ocasionando a pobreza da população e desemprego.

Por outro lado, quanto mais pobre fica uma Nação, menos emprego é oferecido, o que gera angústia muito grande, e as pessoas que tem tendência para a prática do mal, deixam levar-se ao mundo do crime, por isso muitas vezes vemos nos países com o perfil de desemprego e pobreza, jovens sendo recrutados por facções para a atividade do tráfico, como um meio de ganhar algum dinheiro, que muitas das vezes serve de ajuda à família no sustento e custeio de despesas básicas.

A possibilidade de conseguir-se um bom trabalho está afeto ao grau de preparação que podemos oferecer, e neste aspecto tem mais possibilidade de emprego, aquelas pessoas que tem mais estudo, mais conhecimento, que possibilite assim somar dinamismo junto à empresa que o recrutará.

Estudar é a palavra chave para todos nós. Sem estudo dificilmente conseguimos espaço em alguma atividade rentável. É verdade que já tivemos até um presidente com mínimo grau de instrução, mas são raros os casos de sucesso no campo financeiro de pessoas que não possuem estudo.

A educação é base de tudo. Ela faz com que as portas do conhecimento se abram e assim consigamos vislumbrar caminhos, objetivos, soluções na nossa vida, que muitas vezes é complicada.

Um Homem certa ocasião esteve aqui conosco, isso há muito tempo, e uma das frases a ele atribuída foi “conhecereis a verdade e ela te libertará”. Ora, somente estudando é que vamos conhecer a verdade!

Jesus, na época que esteve conosco, não perdia tempo. Poderia ser em residências, margens de rios, caminhos, e até em meio a plantações, se reunia com quem queria ouvi-lo, e ensinava a todos, respondendo perguntas, num clima de amor, fraternidade e acima de tudo, simplicidade.

Hoje, é bem verdade que vivemos num mudo corrido, com pouco tempo para tudo, principalmente nas grandes metrópoles, e mesmo assim vemos pessoas se dedicando a estudar, pois sabem que este é o caminho.

As religiões também tem um papel importantíssimo na educação das pessoas, principalmente no que diz respeito a moral, e cada uma delas se propõe a dar espaço a que seus seguidores busquem nos grupos de estudos as respostas para as perguntas mais básicas que são de onde viemos, o que estamos fazendo aqui e para onde vamos. Claro que cada uma traz a teoria baseada nos seus princípios e disponibiliza a seus fiéis.

Educação é importante em todos os níveis possíveis, e nas religiões vamos encontrar o consolo para as aflições e as respostas para nossas ansiedades. Estude. Não perca tempo. Paz a todos.

Autor: Nilton Cardoso
Fonte: Portal do Espíritismo

19 fevereiro 2021

Fenômeno psicológico da dependência - Ricardo Gandra Di Bernardi

 
FENÔMENO PSICOLÓGICO DA DEPENDÊNCIA

Somos Espíritos encarnados, trazemos em nosso inconsciente grande manancial de energias construídas ao longo dos milênios, isto é, de inúmeras reencarnações. Nossas mentes produzem ondas, geram campos de força e tem facilidade de sintonizar com outras mentes que vibram na mesma faixa que a nossa, mas, quanto maior a fragilidade ou imaturidade espiritual mais buscamos, instintivamente, apoio em outras mentes.

São sobejamente conhecidos os sintomas e comportamentos das pessoas que se acham dependentes de substâncias químicas e podemos fazer uma analogia com a dependência psíquica. Indivíduos, encarnados ou desencarnados, quando apresentam desequilíbrios vibratórios decorrentes de mente enferma ou debilitada, podem se tornar dependentes de outras pessoas ou até mesmo de ambientes, esses Espíritos encontram-se em dependência psíquica.

O dependente químico tem sintomas iniciais de euforia e aparente bem-estar, mas, com o tempo, os malefícios começam a aparecer e cresce a dependência ao produto ou droga. Na fase de viciação, há diversos prejuízos, também para as pessoas de convivência diária, pois a ausência da substância química desenvolve comportamentos de agressividade, agitação e outros, ocasionando sérios problemas no meio familiar e social que convivem.

A dependência mental, como fragilidade espiritual, segue o mesmo raciocínio da dependência química. Conversas picantes, anedotas chulas e atitudes depreciativas tidas como divertidas, quando relacionadas a determinados grupos, etnias, lugares ou tipos de pessoas, são exemplos que poderão trazer sensações de prazer mórbido, e a repetição dessa conduta, determina uma dependência mental e viciação à padrões de pensamento de baixo teor vibratório.

Há uma sintonia do indivíduo com Espíritos desencarnados que se comprazem com futilidades, além do indivíduo sintonizar com ondas mentais de pessoas encarnadas que irradiam pensamentos do mesmo padrão. À medida que o Espírito (encarnado ou desencarnado) sintoniza com mentes desse jaez, passa a se alimentar de energia vital ou outras formas de energia provindas de mentes enfermas e, tal qual um dependente químico, passa a sentir falta da “alimentação” que o “nutre”. Sente-se carente da presença ou convívio de outras mentes enfermas com características semelhantes; já está, agora, na fase de dependência psíquica e se for afastado ou impedido do convívio com seus semelhantes - por orientação terapêutica ou espiritual -, pode apresentar agitação e agressividade exigindo cuidados especiais. Assim, observa-se que os sinais e sintomas do dependente psíquico, ao se ver privado de sua fonte de energias enfermas, se assemelham muito aos do dependente químico.

Existe, também, a dependência mental a uma pessoa, um líder por exemplo. O indivíduo sente um desejo incontido de estar próximo daquela pessoa, ser tocado, ouvir sem analisar, enfim, torna-se emocional e irracionalmente preso. Há inúmeras modalidades de dependência psíquica, por exemplo, necessidade exacerbada de fazer compras, prender-se a seriados na TV, internet, telefone celular, estádios de futebol, bares e outras, desde que essas atividades impeçam a pessoa de tornar-se mais produtiva, ampliando seus conhecimentos e valores da alma.

Quando esse tipo de distúrbio não é diagnosticado e tratado corretamente, o Espírito ao desencarnar leva consigo essa dependência e permanece atraído aos locais, atividades e pessoas às quais se encontra preso psiquicamente.

A leitura de bons livros, música elevada, filmes e documentários que tragam conhecimentos e estímulos aos bons princípios da ética são atividades que nos afastam das dependências psíquicas prejudiciais ao nosso Espírito. Buscarmos ambientes de harmonia e conversas saudáveis criam uma psicosfera favorável ao equilíbrio e refletem em nós a vontade do crescimento espiritual.

São preferências, desejos e vontades que determinam o tipo de energia que geramos e, principalmente, absorveremos e sentiremos falta quando estivermos privados dela. Vibremos no amor, alegria, tranquilidade, paz, estudo e trabalho que a atmosfera mental de nossos Espírito se enriquecerá com convivências construtivas, sem dependências psíquicas.

Todo costume, mesmo sendo elevado e construtivo deve libertar com responsabilidade e nunca prender.    
 
Ricardo di Bernardi

Bibliografia:

PALMEIRA, José A. M./ BORTOLETTO, Ivaneide./ PESCHEBÉA, Marisa. A Dança das Energias, Cap. 3, 3ª Edição, Curitiba, Ed. Centro Espírita Luz e Caridade, 2016.

KARDEC, Allan. O Livro dos médiuns. Tradução de Herculano Pires São Paulo, Ed. LAKE, 1973.

XAVIER, Francisco Cândido/Espírito André Luiz. Mecanismos da mediunidade. 8. Ed. Rio de Janeiro, FEB, 1959. Evolução em dois mundos. 9. Ed. Rio de Janeiro, FEB, 1959.


Dr. Ricardo di Bernardi é fundador de ex-presidente da AME Santa Catarina, médico e conferencista espírita internacional. 

18 fevereiro 2021

O impacto do suicídio na família - Cristiane de Carvalho Neves


 O IMPACTO DO SUICÍDIO NA FAMÍLIA

Atuo como psicóloga exclusivamente na clínica, e especialmente no enfoque sistêmico, nas perdas e no luto e em experiências traumáticas. Entretanto, independente da abordagem, o meu maior propósito quando recebo uma pessoa no consultório, é construir um vínculo afetivo e de escuta respeitosa com o paciente.

Trabalhando com famílias, pessoas enlutadas ou traumatizadas, acabamos por nos aproximar de situações relacionadas ao suicídio. São pessoas que vem por indicação do psiquiatra ou trazido por algum familiar. Outra situação que também me acontece muito é o atendimento de uma pessoa que me traz queixas diversas, porém, com risco velado para o suicídio. O estudo e trabalho sobre os processos do enlutamento me treinou a uma escuta atenta a essa questão do suicídio; uma escuta que me possibilitou captar essa possibilidade e abrir porta para que a pessoa fale sobre isso. Assim, nos conduzimos ao primordial sobre a atenção aos aspectos do suicídio: a importância de poder falar sobre os pensamentos suicidas como prevenção.

É difícil explicar por que algumas pessoas escolhem o suicídio, enquanto outras, em situação similar ou pior, não o fazem. Se conseguirmos olhar para ato suicida como algo mais complexo do que imaginamos, poderemos compreender e ajudar melhor a quem está precisando dessa atenção. Acreditamos que a nossa principal tarefa como profissionais, e principalmente, como pessoas que temos interesse pela vida das outras pessoas, é fazer a prevenção e posvenção ao suicídio.

A Prevenção se faz por meio da escuta ativa, da capacidade de se colocar no lugar do outro e de adentrar no mundo dele. E, para tal, não basta ser bom de coração, precisamos conhecer alguns aspectos que estão implicados na complexidade do comportamento suicida. Entre esses aspectos, temos os lutos não elaborados ou mal resolvidos; a precariedade afetiva nas relações familiares; o acúmulo de experiências de fracasso; um histórico de transtornos psíquicos; e, o mais agravante, a depressão, muitas vezes, não tratada por não ser admitida ou compreendida pela própria família.

Portanto, a Prevenção se refere ao que podemos fazer para evitar o suicídio. Enquanto, a Posvenção é um conjunto de intervenções para evitar que uma nova tentativa de suicídio aconteça. Na Posvenção criamos estratégias de cuidados com o enlutado ou sobrevivente por suicídio, a fim de evitar o luto complicado e a repetição do ato.

As pesquisas e a nossa prática clínica apontam que a maioria dos que cometeram suicídio, de alguma maneira, se comunicou com familiares, médicos ou amigos, antes de atentar contra a própria vida. Também, sabemos que existem casos de pessoas, especialmente, as crianças, os adolescentes e os idosos, que agiram com impulsividade, imaturidade ou esconderam suas intenções, e privaram-se de qualquer ajuda, de tratamento e prevenção. De qualquer forma, sabemos que o suicídio ainda é um tema tabu na nossa sociedade, devido à nossa dificuldade em acolher a dor expressada ou manifestada. Geralmente, sentimos impotentes e impactados, até por conta dos nossos preconceitos. E como um familiar, a situação ainda é pior, devido aos sentimentos de culpa e medo que nos paralisam.

O suicídio ou a sua tentativa, exerce na família um impacto que se manifesta de diferentes formas, a depender da maneira como a família irá enfrentar essa situação. Por exemplo, a forma como a família lida com situações traumáticas, vai determinar o processo de luto ou a sua reorganização em caso de tentativa frustrada do suicídio.

Por falta de conhecimento, podemos observar que há muito preconceito na sociedade sobre o que é o suicídio e, também, vemos isso acontecendo na família, impedindo uma comunicação aberta entre os membros da família sobre o que se passa com eles. Sempre que se fala em suicídio ou em tentativa de suicídio, a tendência é ignorar ou reprimir, ao mesmo tempo em que se quer ajudar e acolher. Por isso, o contato fica mais difícil e, muitas vezes, não acontece.

A pessoa que tenta o suicídio precisa de alguém para confiar, e o resgate ou a criação do vínculo é de extrema importância na família, podendo o aprendizado começar por meio da terapia com o vínculo terapêutico ou com o auxílio do terapeuta no sistema familiar. As famílias devem ser incluídas no tratamento de pessoas com ideação e principalmente com tentativa de suicídio. Às vezes, a família se sente muito culpada ou pode pensar que, se for atendida, roubará tempo do atendimento àquele que, na sua concepção, mais necessita.

Entretanto, com a participação da família no processo psicoterapêutico da pessoa com tentativa de suicídio, percebo, em alguns casos, a preocupação ou medo dos pais ou cuidadores em se “descobrirem” responsáveis por aquele comportamento do filho e não conseguirem carregar esse fardo. Porém, a ideia é poder trabalhar a coparticipação, assim como, a corresponsabilidade pela dinâmica relacional daquele sistema familiar, ajudando-os a encontrar uma nova forma de lidarem com as situações difíceis, juntos.

A pessoa quando chega ao ponto de atentar contra a própria vida, pode estar convivendo há bastante tempo com o sofrimento. É comum que o processo de comunicação entre os membros da família, principalmente com alguém que tentou o suicídio, fique frágil e truncado, não permitindo um bom acolhimento da pessoa, dificultando um trabalho preventivo. A prevenção nesses casos é muito necessária para que não haja uma nova tentativa. Cabe lembrarmos que é na crise que se ressignificam os papéis e se torna uma possibilidade de desenvolver a resiliência permitindo à família superar a desestruturação e se reorganizar a partir dela.

Quando alguém na família tenta suicídio ou quando morre por suicídio e isso não é conversado, criando um segredo, criam-se buracos dentro do sistema e acabam sendo preenchidos com inadequações, além de que vai sendo repassado de geração a geração, criando repetições de padrões anteriores. É desejável que o diálogo seja uma constante no sistema familiar, onde todos se sintam pertencentes e acolhidos em suas diferenças. Essa característica familiar será importante para que cada um na família se sinta respeitado na sua forma de expressar o seu sofrimento do luto.

O alerta sobre os cuidados com as pessoas que sofrem não deve se restringir apenas no mês de setembro, mas sim, durante o ano todo. Vamos cuidar da nossa família – fazendo o nosso melhor, ofertando atenção, carinho e respeito – e da nossa espiritualidade, nos conectando com a força maior que vem de Deus. É disso que todos nós precisamos.

Por Cristiane de Carvalho Neves
Psicóloga Clín. Esp. em Atend. Sistêmico Familiar e Luto
Fonte:
Medicina e Espiritualidade