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31 maio 2020

Precisamos falar de morte - Dora Incontri

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No mundo contemporâneo, quase nunca se pode falar da morte. Não é de bom tom. A morte a gente hoje esconde, do luto muitos se envergonham. Antigamente, quando morria alguém próximo, carregava-se na roupa um sinal de luto. O doente morria em casa, cercado de familiares. Os velórios feitos na sala, todos participavam, inclusive as crianças. Hoje não. A morte fica à distância. Na UTI, a pessoa morre só. Os velórios, às vezes me choca, são lugares de conversas frívolas – só às vezes, quando parte alguém mais jovem ou mais tragicamente, ouve-se o pranto dos mais próximos.

E de repente, a morte invade o mundo. Não que ela não nos visite todos os dias. Mas agora, são milhares diariamente, a ponto de faltar covas, a ponto de não termos números exatos. Já houve outras ondas de morte na história de séculos atrás ou na história recente: a peste negra, a peste bubônica, a gripe espanhola, as duas grandes guerras… Nesses momentos, os lutos são mais complicados, deixam marcas mais profundas. Morrer um ser amado num leito tranquilo, cercado pelos familiares em despedida (assim morreu minha mãe), é uma dor, mas uma dor pacífica, que se torna saudade amena. Mas perder um ser amado sem se encontrar o corpo mutilado numa guerra ou sem se poder despedir como se deve, como agora com esse coronavírus, aí a dor é mais angustiante e a marca depois terá de ser muito tratada, com assistência terapêutica e espiritual. É o que se chama luto complicado.

Entretanto, essas ondas de mortes coletivas, que nos angustiam tanto, são momentos que nos chamam a pensar na vida e na morte, nossa e do outro, lembrando que se há algo que nos iguala enquanto humanidade é a nossa finitude. Todos vamos enfrentar esse momento. Uma pandemia apenas pode convocar algumas pessoas mais cedo do que o esperado, e convocar muito mais pessoas ao mesmo tempo.

Pensar na morte faz bem, é educativo, é necessário – porque, como diria Renato Russo, é preciso amar as pessoas, como se não houvesse amanhã. Quando temos sempre a consciência de nossa finitude, ficamos mais perto dos que amamos, criamos com mais visceralidade, preocupamo-nos em deixar as coisas terminadas e bem feitas a cada dia. E procuramos uma consciência que esteja em paz, para o grande dia da passagem.

Estou sendo fúnebre? Não, apenas a morte faz parte da vida. E agora nos lembramos disso todos os dias. 

Para mim, que sou espiritualista e, mais especificamente espírita, a morte não é o fim, mas apenas um recomeço, uma passagem para outra dimensão da existência. Eu, que sou médium, tenho vivências diárias dessa outra dimensão e dos seres que lá habitam e que continuam nos seguindo de perto. Claro que essa convicção não nos exime do luto por alguém que partiu, mas nos consola e nos levanta o ânimo, lembrando do reencontro que virá, quando a nossa hora chegar.

Quando a morte se apresenta mesmo, não há como revidar, não há como fugir. Ela nos leva e ponto.

Mas há outras espécies de morte – que podem nos afligir: a morte de nossos sonhos, a morte de nossas esperanças, a morte de projetos em que investimos suor e sangue. Todos os brasileiros, conscientes, lúcidos, estamos cientes do imenso número de mortes por coronavírus, que sequer são notificadas, mas também estamos sentindo a morte da nossa democracia (que nunca foi muito viva, na verdade), a morte de nossos projeto de país independente (que nunca foi realizado também), a morte de elementos civilizatórios em nossa sociedade. Bem no momento em que enfrentamos a onda de mortes coletivas no mundo e no Brasil, também temos que lidar com a morte de tudo aquilo que considerávamos princípios e marcos legais e sociais para sermos minimamente uma nação. Por isso, urge uma reação. Porque contra essas mortes, podemos lutar. Quando chega a nossa hora de partirmos dessa para melhor, não há o que nos segure aqui.

Mas não somos obrigados a aceitar o decreto de morte de tudo o que nos é caro: a cultura, a arte, a cidadania, a educação, a ciência, o bom senso e o sentimento de sermos brasileiros. E ainda assim nos sentimos impotentes e por isso a sensação de luto é maior, parece incontornável. Precisamos sacudir essa passividade e nos mobilizarmos. Precisamos levantar a cabeça e não colocá-la sob a lâmina no carrasco. Enquanto seres humanos, vamos morrer, mais dia, menos dia; enquanto coletividade, sociedade, nação – o que fizermos hoje terá ressonâncias para nossos filhos e netos. Tenhamos compaixão do futuro e façamos a nossa parte, para tirar do poder os que o tomaram de assalto para destruir o país.


Dora Incontri


30 maio 2020

Sonhos Elucidativos - Nilton Moreira



SONHOS ELUCIDATIVOS


O sonho sem dúvida é um complemento do que vivenciamos quando estamos em vigília. Não é apenas um mundo virtual. Durante o sono, temos capacidade de resolver situações de que somos acometidos por ansiedade durante o dia. É na emancipação da alma que vamos colocar em prática a busca por soluções. Certamente devemos nos preparar para adentrarmos no sono, para que consigamos a conexão entre nossos anseios e a solução deles que muitas das vezes não depende só de nós.

Quando dormimos e nos propomos a tentar achar solução para determinada situação do nosso dia, entramos em contato com outros que também estão dormindo e desprendidos do corpo físico, mas também podem ser que estejam no plano espiritual por terem já desencarnado (morrido).

Disse ser necessária uma preparação para haver a conexão com entidades que possam nos auxiliar, pois que isso depende das nossas atitudes, costumes, hábitos, padrão vibratório, desejos, já que quando dormimos estamos livres para ir onde quisermos, claro dentro dos limites estabelecidos pela espiritualidade, mas se gostamos de estar em companhia de amigos em um bar, por exemplo, vamos procurar nos juntar com eles. Por outro lado se gostamos de leituras e atitudes humanitárias, vamos para bibliotecas ou entidades assistenciais. É assim que funciona.

João Evangelista, quando estava na ilha de Patmos, recebe de Jesus a revelação do apocalipse, o que acontece através de sonhos.

Vamos encontrar também a solução para resolver o sonho que teve o faraó, interpretado por José, que teve aplacada a fome que se desenhava ao Egito na época.

É através dos sonhos que os espíritos amigos, que podem ser familiares que se foram, amigos, vizinhos ou simpatizantes, vêm nos alertar, incentivar, socorrer, acalmar, intuir no melhor caminho ou atitude a seguir. Não vão nunca resolver os problemas para nós, mas certamente nos ajudam em muito.

É comum também estarmos nesta vida trabalhando em obras de assistência, ajudando com amor ao próximo, isso em razão de profissão ou nas horas que temos folga, e ao mesmo tempo, no momento do sono desenvolver tarefas na espiritualidade, pois muitas vezes dormimos e voltamos ao local de caridade para planejar o próximo dia dependendo da obra que estamos desempenhando.

Einstein certa noite estava confuso com certas configurações do universo e ele foi levado em sonho para local longínquo, e depois descreve que viu certo ângulo do universo, e acorda e passa então a decifrar conceitos astronômicos, que resolve do ponto de vista de suas pesquisas.

Para que possamos usufruir das experiências vivenciadas no sonho, temos de ao deitarmos elevarmos o pensamento a Deus e pedir para que nosso Mentor Espiritual nos guie no sono e que tenhamos êxito nas nossas ansiedades, pois do contrário fica difícil.


Muita paz amigos.

Nilton Moreira
Coluna Semanal - Estrada Iluminada
Fonte: Espirit Book


29 maio 2020

Pirataria Não é de Deus - Sobre Filmes e PDFs Espíritas- Jaime Ribeiro



NÃO É DE DEUS - SOBRE FILMES E PDF's ESPÍRITAS


Qual deve ser a atitude do Espírita diante das violações dos direitos autorais.

Se eu fosse Asclépios, o sublime visitante dos círculos mais altos da vida do nosso planeta, que ficou conhecido por meio do livro Obreiros da Vida Eterna de André Luiz e psicografia do médium Chico Xavier, eu retiraria uma folha do meu pergaminho e com apenas poucas linhas terminaria este texto citando o versículo doze do capítulo do Evangelho de Mateus: "Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas". Certamente as pessoas entenderiam imediatamente o que tenho para dizer.

Contudo, sou apenas mais um habitante da crosta terrestre, na luta pela evolução e vou ter que me estender um pouco mais que Asclépios.

Pirataria é crime. Não existe meio termo ou relativização desse tipo de delito.
Enviar cópias de PDFs de livros, espalhar por aí vídeos com direitos autorais reservados ou comprar cópias não autorizadas de CDs ou DVDs é desonesto. É trapacear, em um só golpe, quem acreditou e investiu dinheiro em um sonho, quem dedicou tempo e trabalho para escrever ou filmar uma obra e também ser desonesto com o sistema de impostos do governo. Significa um pouco pior do que “não dar a César o que é de César”, é jogar contra toda uma cadeia de pessoas e organizações.

Violar os direitos autorais não é errado apenas porque a lei humana não permite, isso todos já sabem, mas também porque viola o que Kardec chamou no capítulo XI do Evangelho Segundo o Espiritismo de "a expressão mais completa da caridade, porque resume todos os deveres do homem para com o próximo”. Ele se referiu ao mandamento “amar ao próximo como a si mesmo”.

Independente de ser Espírita ou não, atentar contra o direito do próximo é antiético, não importa se isso é feito com a desculpa de ajudar quem quer que seja. Ainda mais que quando se trata de uma obra espírita, na maioria das vezes, boa parte da receita é destinada a manter atividades humanitárias de várias instituições.

Algumas pessoas tentam justificar a pirataria e sua difusão com questões como: "é a mensagem do Espiritismo e de Jesus, enviando de graça estou divulgando a Doutrina", ou "e as pessoas que não podem comprar, como vão ter acesso ao nosso conteúdo?" ou por último, tentam defender que todo conteúdo espírita deveria ser distribuído de graça. Pessoal, nós só podemos doar o que nos pertence. Mesmo aquilo que circula na internet ou está com o link no site de alguma Casa Espírita pode não ter licença para ser compartilhado.

Até as obras de Chico Xavier e de Divaldo Franco não escaparam de ter PDFs piratas dos seus livros circulando sem qualquer pudor em sites e grupos das casas espíritas. Isso é ainda mais surpreendente porque todos sabem que os direitos autorais dessas obras foram doadas para apoiar a manutenção da Federação Espírita Brasileira e da Mansão do Caminho. Eles não liberaram as obras para domínio público.

Sabemos que as pessoas que compartilham esses conteúdos fazem com boa vontade e a Lei de Deus sempre leva em conta a intenção, mas é nosso dever como espíritas saber interpretar o texto impecável de Allan Kardec sobre o que é ser um Homem de Bem: "o verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem”.

Algumas vezes, recebemos o conteúdo ilegal, como aconteceu comigo recentemente com o filme "Divaldo, o Mensageiro da Paz", pelas mãos de amigos queridos e não paramos para pensar que aquilo estava ferindo o direito de alguém.

Grande parte das pessoas se acostumaram tanto com o jeitinho brasileiro que qualquer chance de economizar, ou de favorecer um amigo para que não gaste dinheiro, as isenta de refletir e lembrar que pessoas que não conhecemos podem estar sendo prejudicadas.

Amar e respeitar o próximo e ter empatia, não serve apenas para aqueles que podemos ver e nos são familiares. Essa lei deve ser aplicada para toda a humanidade.

É importante lembrar que precisamos ser melhores do que quem avança sobre as cargas dos caminhões que tombam e furtam o produto que está no chão. De alguma forma aquelas pessoas tentam se convencer de que um veículo de rodas para o ar é símbolo de permissão para cometer um crime.

A internet também não é um carro tombado.
Existem incontáveis conteúdos gratuitos sendo produzidos e publicados todos os dias nas diversas plataformas digitais que podem e devem ser compartilhados sem custo.
É nossa obrigação respeitar, prestigiar e ser grato por encontrarmos pessoas dispostas a investir na divulgação da Doutrina Espírita.


Agora, acredito que encontrei a palavra que o nosso irmão dos ciclos mais altos nos falaria após retirar uma outra folha de seu pergaminho alvinitente e ler para nós o versículo dezoito do capítulo cinco da carta de Paulo para os Tessalonicenses: "Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco".

A única forma de sermos gratos a quem dedicou trabalho, tempo e dinheiro em produzir uma obra para a divulgação da Doutrina Espírita é honrando os seus direitos e sendo honestos com eles mesmos em suas ausências.

Por isso, peço perdão por ter abordado esse assunto de uma forma menos delicada do que o iluminado Asclépios faria, mas acredito que é a única maneira de entendermos de uma vez por todas a gravidade que envolve a pirataria e porque ela não é de Deus.


Jaime Machado
Fonte: Intelítera

28 maio 2020

Obsessões - Joanna de Ângelis



OBSESSÕES


Toda fixação indevida nos processos mentais e emocionais em torno de pessoas, fatos e coisas converte-se em estado perturbador do comportamento, empurrando o indivíduo para os transtornos de ordem neurótica assim como psicótica

Esses procedimentos, que podem preceder à existência atual, como surgir durante a vilegiatura do momento, decorrem das ambições desmedidas, dos desregramentos comportamentais, dos anseios exagerados que afetam o metabolismo cerebral, propiciando a produção descompensada de enzimas que afetam a harmonia do sistema nervoso em geral e do comportamento em particular.

À medida que constituem imperativo dominador, tornam-se obsessões que passam a inquietar o indivíduo, levando-o a estados mais graves na área da saúde mental. Surgem, então, as obsessões compulsivas, os estados de fragmentação da personalidade a um passo da degeneração do comportamento.

Outras vezes, trata-se de fenômenos que procedem de outras existências, nas quais o Espírito malogrou, sendo objeto de conflitos profundos ou de circunstâncias agressivas que lhe danificaram os equipamentos perispirituais, ora modeladores das ocorrências doentias.

Paralelamente, em razão de condutas extravagantes, no campo da Ética e da Moral, das ações mentais e comportamentais, aqueles que se lhes fizeram vítimas, embora vivendo em outra dimensão, na Esfera espiritual, sintonizam com o responsável pela sua desdita e dão curso a perseguições, ora sutis, ora violentas, no campo psíquico, e se instalam outros tipos de obsessão. Essas, portanto, de origem espiritual, em face da presença de faculdades mediúnicas no paciente, que passa a sofrer constrangimentos mais diversos, até derrapar nos abismos da alucinação, do exotismo, das alienações mentais.

Ninguém foge da própria consciência, que é o campo de batalha onde se travam as lutas da reabilitação ou os enfrentamentos da regularização de atitudes malsãs.

Por isso, ainda são o controle mental e a educação do pensamento que podem representar a eficiente terapia de prevenção de distúrbios, como a curadora para os processos de ordem espiritual, desde que alterando a faixa vibratória por onde transitam as ideias, se superiores, eleva-se, ficando indene à sintonia com os seres atrasados, e, se negativas, passando a frequentar os níveis onde se encontram e se digladiam as energias e sentimentos em constante litígio, vinculando-se a essas emissões deletérias, que terminam por afetar o organismo físico e os complexos mecanismos mentais, responsáveis pelo conjunto produtor da saúde.

As obsessões que resultam de traumas psicológicos, de conflitos de profundidade, de insuficiência de enzimas neuronais específicas, surgem também da interferência das mentes dos seres desencarnados, interagindo sobre aqueles aos quais são direcionadas, em processos perversos de vingança.

A saúde exige cuidados específicos que lhe podem e devem ser dispensados, a fim de manter-se inalterada, ou, quando afetada, esforços especiais para reconquistá-la sob orientação especializada na área médica, tanto quanto direcionamento espiritual, a fim de realizar o seu mister, que é auxiliar o Espírito encarnado na sua viagem celular, temporária, a caminho da plenitude que pode ser antevista na Terra, porém, somente desfrutada depois da reencarnação, quando os implementos corporais sujeitos ao mecanismo degenerativo da própria matéria não mais se encontrem sob os imperativos da Lei de Entropia e da fragilidade de que é constituído.


Joanna de Ângelis
Médium: Divaldo P. Franco 
Livro: Vida - Desafios e Soluções


27 maio 2020

Lealdade - Divaldo P.Franco



LEALDADE


Caracterizam os relacionamentos humanos a amizade e a confiança como sendo os elementos que unem uma à outra criatura.

Nessa fase inicial da convivência a alegria desarma os sentimentos e o bem-estar se instala contribuindo para o seu prolongamento.

Nesse ínterim, as conversações cordiais facultam o desvelamento da conduta de cada qual, que relata a sua forma de ser, libera as emoções e narra com bondade o seu lado desconhecido. Com o tempo, as revelações fazem-se mais profundas e significativas, de forma que se passa a identificar melhor o mundo interior do outro até mesmo ocorrências que dormem no seu íntimo. Planos cuidadosos são discutidos, projetos são participados e revelações que dizem respeito ao sentir e ao ser tornam-se parte das conversações que estruturam as afeições.

Nada obstante, o tempo diminui ou aumenta o entusiasmo pela convivência e mais ou menos se desnudam as paisagens pessoais, relativas a si mesmos e a outras pessoas.

Tudo respira confiança e representa inteireza de caráter.

Os grupos sociais são formados pelas afinidades ideológicas ou de outra natureza, e as comunidades crescem dentro dos padrões dos seus interesses.

Parece haver uma bem trabalhada solidificação nos laços do afeto.

De repente, porém, surge um mal-entendimento, uma discrepância opinativa ou de conduta, uma mudança idealística e, não raro, o relacionamento que parecia firme desestrutura-se, abre-se campo à censura, a acusações descabidas, e lamentavelmente à deslealdade.

Narram-se informações verdadeiras e falsificadas sobre um como sobre o outro, ampliam-se os comentários maledicentes e surgem inimizades que levam a combates perversos, inconcebíveis.

A deslealdade é doença moral que afeta a sociedade e a corrompe.

A mudança de opinião de um amigo sobre outro, que se lhe torna até adversário, não deve transformar-se em liça para desmoralização, em mínima homenagem às horas felizes que foram vividas.

No matrimônio, por exemplo, as afeições explodem em júbilos e paixões, apegos e ciúmes até o momento em que algo não corresponde aos egos imaturos nos casais e as brigas, as infâmias, os crimes, os feminicídios covardes destroem vidas. Famílias se desagregam, filhos ficam órfãos de pais vivos e a Humanidade cambaleia por falta de amor e de dignidade.

Na política, é mais que lamentável, a ponto de ser um capítulo chocante da indignidade humana.

Quase ninguém escapa dessa falha moral: a deslealdade!

O ser humano evolui do bruto ao sensível, do animalesco ao angélico, e será sempre de bom alvitre incluir-se a lealdade como fator essencial na educação das criaturas.

Foi um amigo que traiu Jesus e outro que O negou, quando poderia ser bem diferente para o mundo melhor.


Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 30/04/20

26 maio 2020

Gosto, Dever e Necessidade - Orson Peter Carrara



GOSTO, DEVER E NECESSIDADE



A necessidade se impôs primeiro, talvez o gosto veio em seguida e o dever acabou se desenvolvendo por si mesmo, face a imperativos inadiáveis que se apresentam.

Sim, o trabalho. Exigiu-se trabalhos variados por necessidade inclusive de sobrevivência e proteção. Essa necessidade desenvolveu o gosto e este mostrou o dever.

Os sábios desígnios da Providência conduzem a evolução humana com sabedoria, fazendo-nos gradativamente sentir, descobrir e viver, para finalmente encantar-se com a solidariedade que envolve tudo e todos.

Há uma finalidade na arte de viver. Essa arte vai sendo gradativamente assimilada. Para uns antes, para outros depois, mas todos integrados, ainda que de forma parcial ou nos variados estágios de aprendizado e amadurecimento com que se apresentam os comportamentos humanos. Fatalmente seremos levados a assimilar o que é a Vida, seus objetivos, e especialmente a grandeza da obra da Criação.

Não é por acaso os embates em que nos envolvemos nos relacionamentos, nos desafios da profissão e da ciência, ou mesmo no educandário familiar e seus conflitos. Tudo isso visa amadurecer a mentalidade humana, moral e intelectualmente, para então alcançarmos o perfeito entendimento de nossa condição como filhos do Ser Supremo, quando estaremos integrados na solidariedade plena que é Lei da Vida, solicitando-nos estender mutuamente mãos e sentimentos para equilibrar a sociedade.

O que vivemos atualmente é resultante da indiferença, da omissão e especialmente do egoísmo que nos permitimos, distanciados ainda ou imaturos no entendimento do que é viver e trabalhar pelo próprio desenvolvimento e simultaneamente pelo bem do próximo. Almas amadurecidas empenham-se no bem coletivo, disciplinam a si mesmas e se tornam referência onde atuam. Nós, imaturos ainda, aí estamos a provocar toda série de dificuldades, criando obstáculos, adotando tolices dispensáveis, adiando providências para o próprio bem e especialmente nos deixando seduzir por paixões variadas e interesses marcados pelo egoísmo.

O trabalho, pois, remunerado ou não, é por necessidade (de sobrevivência ou de tantas outras classificações e que desenvolvem a inteligência e a moralidade, beneficiando amplamente a convivência social), por gosto (quando aprendemos a amar o que fazemos ou nos dedicamos com desprendimento a atividades que nos deem satisfação, nos variados campos da existência) ou por dever (quando sentimos que há uma lei de solidariedade que nos pede estendermos nosso tempo, nossa experiência, nosso saber, nossas habilidades, nossos recursos em favor de uma vida social equilibrada).

Pensemos, pois, leitor (a) na importância de nosso trabalho, de nosso conhecimento, de nossa habilidade, de nossa experiência. Quantos benefícios já distribuídos, quantos méritos que no tempo trarão inúmeras alegrias (se é que já não trouxeram). Todos as temos. Basta pensar de que forma fazer isso frutificar em favor uns dos outros. É a consciência da solidariedade.

Por necessidade, por gosto, por dever, trabalhemos! O trabalho é lei da vida. Tudo trabalha e isso mantém a ordem e o equilíbrio. Fruto da Lei do Progresso e da Lei de Conservação, o trabalho convoca cada um de nós onde estamos.

A presente abordagem foi inspirada no subtítulo O Ponto de Vista, constante do Capítulo II – Meu Reino não é deste mundo – de Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo.


Autor: Orson Peter Carrara

25 maio 2020

Os flagelos destruidores na visão Espírita - Espiritistimo na Rede



OS FLAGELOS DESTRUIDORES NA VISÃO ESPÍRITA


Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso é que somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que somente ao bem se dediquem. Havendo chegado o tempo, grande emigração se verifica dos que a habitam: a dos que praticam o mal pelo mal, ainda não tocados pelo sentimento do bem, os quais, já não sendo dignos do planeta transformado, serão excluídos, porque, senão, lhe ocasionariam de novo perturbação e confusão e constituiriam obstáculo ao progresso.

Irão expiar o endurecimento de seus corações, uns em mundos inferiores, outros em raças terrestres ainda atrasadas, equivalentes a mundos daquela ordem, aos quais levarão os conhecimentos que hajam adquirido, tendo por missão fazê-las avançar.

Substituí-los-ão Espíritos melhores, que farão reinem em seu seio a justiça, a paz e a fraternidade. A Terra, no dizer dos Espíritos, não terá de transformar-se por meio de um cataclismo que aniquile de súbito uma geração.

A atual desaparecerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que haja mudança alguma na ordem natural das coisas. Tudo, pois, se processará exteriormente, como sói acontecer, com a única, mas capital diferença de que uma parte dos Espíritos que encarnavam na Terra aí não mais tornarão a encarnar.

Em cada criança que nascer, em vez de um Espírito atrasado e inclinado ao mal, que antes nela encarnaria, virá um Espírito mais adiantado e propenso ao bem. Muito menos, pois, se trata de uma nova geração corpórea, do que de uma nova geração de Espíritos. Sem dúvida, neste sentido é que Jesus entendia as coisas, quando declarava: “Digo-vos, em verdade, que esta geração não passará sem que estes fatos tenham ocorrido.” Assim, decepcionados ficarão os que contem ver a transformação operar-se por efeitos sobrenaturais e maravilhosos.

A época atual é de transição; confundem-se os elementos das duas gerações. Colocados no ponto intermédio, assistimos à partida de uma e à chegada da outra, já se assinalando cada uma, no mundo, pelos caracteres que lhes são peculiares. Têm ideias e pontos de vista opostos as duas gerações que se sucedem. Pela natureza das disposições morais, porém, sobretudo disposições intuitivas e inatas, torna-se fácil distinguir a qual das duas pertence cada indivíduo.

Cabendo-lhe fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por inteligência e razão geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior. Não se comporá exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham predispostos a assimilar todas as ideias progressistas e aptos a secundar o movimento de regeneração.

O que, ao contrário, distingue os Espíritos atrasados é, em primeiro lugar, a revolta contra Deus, pelo se negarem a reconhecer qualquer poder superior aos poderes humanos; a propensão instintiva para as paixões degradantes, para os sentimentos anti fraternos de egoísmo, de orgulho, de inveja, de ciúme; enfim, o apego a tudo o que é material: a sensualidade, a cupidez, a avareza. Desses vícios é que a Terra tem de ser expurgada pelo afastamento dos que se obstinam em não emendar-se; porque são incompatíveis com o reinado da fraternidade e porque o contato com eles constituirá sempre um sofrimento para os homens de bem.

Quando a Terra se achar livre deles, os homens caminharão sem óbices para o futuro melhor que lhes está reservado, mesmo neste mundo, por prêmio de seus esforços e de sua perseverança, enquanto esperem que uma depuração mais completa lhes abra o acesso aos mundos superiores.

Não se deve entender que por meio dessa emigração de Espíritos sejam expulsos da Terra e relegados para mundos inferiores todos os Espíritos retardatários. Muitos, ao contrário, aí voltarão, porquanto muitos há que o são porque cederam ao arrastamento das circunstâncias e do exemplo. Nesses, a casca é pior do que o cerne.

Uma vez subtraídos à influência da matéria e dos prejuízos do mundo corporal, eles, em sua maioria, verão as coisas de maneira inteiramente diversa daquela por que as viam quando em vida, conforme os múltiplos casos que conhecemos. Para isso, têm a auxiliá-los Espíritos benévolos que por eles se interessam e se dão pressa em esclarecê-los e em lhes mostrar quão falso era o caminho que seguiam.

Nós mesmos, pelas nossas preces e exortações, podemos concorrer para que eles se melhorem, visto que entre mortos e vivos há perpétua solidariedade. São chegados os tempos É muito simples o modo por que se opera a transformação, sendo, como se vê, todo ele de ordem moral, sem se afastar em nada das leis da natureza. Sejam os que componham a nova geração Espíritos melhores, ou Espíritos antigos que se melhoraram, o resultado é o mesmo. Desde que trazem disposições melhores, há sempre uma renovação.

Assim, segundo suas disposições naturais, os Espíritos encarnados formam duas categorias: de um lado, os retardatários, que partem; de outro, os progressistas, que chegam. O estado dos costumes e da sociedade estará, portanto, no seio de um povo, de uma raça, ou do mundo inteiro, em relação com aquela das duas categorias que preponderar.

Uma comparação vulgar ainda melhor dará a compreender o que se passa nessa circunstância. Figuremos um regimento composto na sua maioria de homens turbulentos e indisciplinados, os quais ocasionarão nele constantes desordens que a lei penal terá por vezes dificuldades em reprimir. Esses homens são os mais fortes, porque mais numerosos do que os outros. Eles se amparam, animam e estimulam pelo exemplo.

Os poucos bons nenhuma influência exercem; seus conselhos são desprezados; sofrem com a companhia dos outros, que os achincalham e maltratam. Não é essa uma imagem da sociedade atual? Suponhamos que esses homens são retirados um a um, dez a dez, cem a cem, do regimento e substituídos gradativamente por iguais números de bons soldados, mesmo por alguns dos que, já tendo sido expulsos, se corrigiram. Ao cabo de algum tempo, existirá o mesmo regimento, mas transformado. A boa ordem terá sucedido à desordem.

As grandes partidas coletivas, entretanto, não têm por único fim ativar as saídas; têm igualmente o de transformar mais rapidamente o espírito da massa, livrando-a das más influências e o de dar maior ascendente às ideias novas. Por estarem muitos, apesar de suas imperfeições, maduros para a transformação, é que muitos partem, a fim de apenas se retemperarem em fonte mais pura.

Enquanto se conservassem no mesmo meio e sob as mesmas influências, persistiriam nas suas opiniões e nas suas maneiras de apreciar as coisas. Uma estada no mundo dos Espíritos bastará para lhes descerrar os olhos, por isso que aí veem o que não podiam ver na Terra. O incrédulo, o fanático, o absolutista, poderão, conseguintemente com ideias inatas de fé, tolerância e liberdade. Ao regressarem, acharão mudadas as coisas e experimentarão a influência do novo meio em que houverem nascido. Longe de se oporem às novas ideias, constituir-se-ão seus auxiliares.

A regeneração da humanidade, portanto, não exige absolutamente a renovação integral dos Espíritos: basta uma modificação em suas disposições morais. Essa modificação se opera em todos quantos lhe estão predispostos, desde que sejam subtraídos à influência perniciosa do mundo.

Assim, nem sempre os que voltam são outros Espíritos; são com frequência os mesmos Espíritos, mas pensando e sentindo de outra maneira. Quando insulado e individual, esse melhoramento passa despercebido e nenhuma influência ostensiva alcança sobre o mundo.

Muito outro é o efeito, quando a melhora se produz simultaneamente sobre grandes massas, porque, então, conforme as proporções que assuma, numa geração, pode modificar profundamente as ideias de um povo ou de uma raça. É o que quase sempre se nota depois dos grandes choques que dizimam as populações. Os flagelos destruidores apenas destroem corpos, não atingem o Espírito; ativam o movimento de vaivém entre o mundo corporal e o mundo espiritual e, por conseguinte, o movimento progressivo dos Espíritos encarnados e desencarnados.É de notar-se que em todas as épocas da História, às grandes crises sociais se seguiu uma era de progresso.

Opera-se presentemente um desses movimentos gerais, destinados a realizar uma remodelação da humanidade. A multiplicidade das causas de destruição constitui sinal característico dos tempos, visto que elas apressarão a eclosão dos novos germens. São as folhas que caem no outono e às quais sucedem outras folhas cheias de vida, porquanto a humanidade tem suas estações, como os indivíduos têm suas várias idades. As folhas mortas da humanidade caem batidas pelas rajadas e pelos golpes de vento, porém, para renascerem mais vivazes sob o mesmo sopro de vida, que não se extingue, mas se purifica.

Para o materialista, os flagelos destruidores são calamidades carentes de compensação, sem resultados aproveitáveis, pois que, na opinião deles, os aludidos flagelos aniquilam os seres para sempre. Para aquele, São chegados os tempos porém, que sabe que a morte unicamente destrói o envoltório, tais flagelos não acarretam as mesmas consequências e não lhe causam o mínimo pavor; ele lhes compreende o objetivo e não ignora que os homens não perdem mais por morrerem juntos, do que por morrerem isolados, dado que, duma forma ou doutra, a isso hão de todos sempre chegar. Os incrédulos rirão destas coisas e as qualificarão de quiméricas; mas, digam o que disserem, não fugirão à lei comum; cairão a seu turno, como os outros, e, então, que lhes acontecerá?


Eles dizem: Nada! Viverão, no entanto, a despeito de si próprios e se verão, um dia, forçados a abrir os olhos.


Redação do Blog Espiritismo Na Rede

Extraído do Livro: A Gênese - Capítulo XVIII - Itém 27 á 35 Allan Kardec , Tradução de Guillon Ribeiro Copyright © 1944 Federação Espírita Brasileira – FEB


24 maio 2020

Tempos de pandemia - Divaldo P.Franco



TEMPOS DE PANDEMIA


Sabemos, os cristãos, que a Humanidade passará por terríveis aflições, mais ou menos neste período. O Velho como o Novo Testamento referem-se a esses testemunhos mais de uma vez, elucidando que defluirão da conduta das pessoas no seu transcurso carnal.

Ninguém ignora que o Universo é mantido por Leis cosmofísicas extraordinárias, tenha-se ou não religião. A ordem mantém a Natureza dentro do equilíbrio que, em algumas vezes, se apresenta como um caos. E, mesmo nele, existe uma ordem que nos escapa.

Os seres humanos alcançamos em nossa evolução antropológica um nível invejável nas conquistas da ciência e da filosofia, sem que nos fizéssemos acompanhar de grau idêntico de moralidade. Os valores morais foram deixados à margem como castradores e ultrapassados.

As paixões sensoriais dominam a Humanidade que estorcega entre as asselvajadas e o vazio existencial, denominado como falta de sentido para a vida.

De tal maneira foram exauridos os gozos, que se saltou para as aberrações em grande violência contra o próprio viver, a fim de fruir-se prazer, que passou a ser o objetivo existencial, especialmente para os maduros e jovens.

As ansiedades pelas novidades moldam-lhes a cada momento, além das experiências mais chocantes num desrespeito total às resistências e constituições do organismo. Somente interessa o que choca e o que provoca satisfações quase sempre sadistas.

Violentadas as leis de harmonia que devem viger dentro de uma ordem transcendente, elas atendem as ansiedades mentais e emocionais em conteúdos semelhantes aos seus apelos.

... E a COVID-19 surgiu, ameaçadora...

Autoridades e povos desprevenidos e acostumados à desordem e aos seus hábitos não lhe deram valor e deixaram-se contaminar, complicando com as suas demandas políticas de baixo nível moral, tornando muito difícil os comportamentos que já são desvairados, pelo excesso de informações conscientemente equivocadas ou ocultando interesses subalternos da pior qualidade. Uns governantes impõem o isolamento enquanto outros estimulam a convivência perigosa e o horror, como o desprezo por informações que conduzem outros.

As terapias sofrem a interferência de pessoas totalmente desinformadas, mas poderosas, e embora já hajamos alcançado um milhão de curados, estamos sofrendo incertezas devastadoras.

Que fazer? Todos sabemos como ocorre o contágio desse mal: o contato direto com o vírus. Seja qual for a orientação que recebamos, sigamos o bom senso, a cultura já adquirida.

Assim, mantenhamos distância física do nosso próximo, usando máscara, lavando-nos com sabão e álcool em gel (especialmente as mãos) e oremos a Deus, o Supremo Governador do Universo.

Mantenhamos a calma e o respeito ao próximo, no lar ou fora dele.


Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 14/05/2020

23 maio 2020

Esperança: um santo remédio - Rogério Coelho



ESPERANÇA: UM SANTOS REMÉDIO


“(…) Doce é amar e perdoar sempre, sublime é a fé e dadivosa a Esperança.” André Luiz

No livro “Sublime expiação” (1), alega Armando ser “a mais áspera desgraça que pode acontecer a alguém é ver-se esse alguém obrigado a marchar na noite da descrença, após ter apagado a claridade da fé na mente e da esperança no coração”.

Perder a saúde é algo que nos afeta física e moralmente, fazendo-nos sentir a nossa fragilidade ao mesmo tempo em que corremos atrás dos médicos e também buscamos a esperança.

Os diagnósticos médicos não são infalíveis… Inúmeras vezes casos dados como perdidos invertem o quadro num piscar de olhos.

Certa vez, uma senhora acometida de tosse brônquica, tomou conhecimento por seu médico que sofria de câncer e teria no máximo somente mais dois meses de vida. A doente ficou deprimida, deixou de comer e em duas semanas perdeu oito quilos. Depois, consultando outro médico, este lhe explicou que alguns doentes cancerosos vivem “inexplicavelmente”, além do prazo previsto pelos médicos. Perante tal fato, ele nunca cogitava do tempo de sobrevida, concentrando-se, porém, em ministrar o tratamento adequado. Ele apresentou-a, também, a outra pessoa portadora do mesmo mal e que se havia recuperado.

Envolvida pelo macio algodão da Esperança, ela começou a reagir, passando a sentir melhoras substanciais, aumentando significativamente suas expectativas de vida.

Pelas abençoadas possibilidades mediúnicas de Divaldo Franco, Joanna de Ângelis esclarece ser “a esperança, irmã gêmea da fé, faculdade que infunde coragem. Constitui o plenilúnio dos que sofrem a noite do abandono e da miséria, conseguindo que lobriguemos o porvir ditoso, não obstante os intricados obstáculos do presente. É o cicio caricioso na enxerga da enfermidade, consolo junto ao espírito combalido exortando: “bom ânimo, coragem!”

Pobre daquele que vive sem a chama da esperança a clarear-lhe as veredas. Não podemos jamais deixar apagar-se essa luz para que não sejamos sufocados pelas trevas da aflição e da ansiedade…

Quando – verdadeiramente – compreendemos que as virtudes não são meras lentejoulas a enfeitar as férteis imaginações de criaturas vazias, não soará vã a exortação de Jesus: “sede perfeitos como perfeito é o Pai Celestial”. Tal exortação é a receita ideal para a conservação da saúde física e espiritual que mantém acesa a chama da esperança mesmo sob o aguilhão do sofrimento.

Em uníssono com o pensamento do Meigo Rabi, compôs Carmem Cinira: “não te prendas no sangue da pedrada, / Nem te agrilhoes a escombros… / Continua com Cristo a caminhada, / Sustentando a Esperança iluminada / Na cruz de espinhos que te verga os ombros”.



Rogério Coelho

Referência:

(1) Divaldo P. Franco Sublime expiação. Pelo Espírito Victor Hugo. Rio [de Janeiro]: FEB.

22 maio 2020

Espírita Faz Cirurgia Plástica? - Espiritistimo na Rede



ESPÍRITA FAZ CIRURGIA PLÁSTICA


Começamos essa reflexão lembrando que o espiritismo veio para conscientizar das verdades do mundo sem os dogmas que constituímos durante o passar de muitos séculos, levantando a bandeira do livre arbítrio e nos orientando à nossa responsabilidade sobre nossas próprias escolhas. O espiritismo não propaga nenhuma proibição, em nenhum aspecto, não nos limita e sim nos liberta para a consciência científica, filosófica e espiritual do nosso orbe, bem como do nosso universo. Justamente por isso, podemos tirar das obras básicas de Allan Kardec, o conhecimento necessário para ter um embasamento sobre esse tema.

Fato é, que ainda no plano espiritual, nós programamos nossas provas reencarnatórias, assim como nosso períspirito que, muitas vezes, alguma imperfeição ou desagrado físico, é fruto de uma escolha para nosso progresso, seja por expiação, seja por precaução para não nos perder no que, por muitas encarnações, podemos não ter perdido, a vaidade.

Não é possível exemplificar todos os casos pelos quais nascemos com determinado corpo físico pois isso envolve além dos traços genéticos pertencentes a grupos de regiões diferentes de todo o planeta, vivencias particulares de cada espírito, levando-nos a escolhas por essas determinadas experiências. Mas no mundo atual, com padrões de belezas pré-definidos por uma sociedade carente de Deus e cheia de materialismo, tomemos como exemplo uma cirurgia estética como prótese de silicone.

Precisamos inicialmente compreender que o nosso corpo é um empréstimo divino para auxiliar nosso progresso moral e intelectual nessa encarnação. Assim como quando tomamos algo emprestado de outrem e necessitamos do devido cuidado, temos que nos conscientizar da importância do cuidado com nossa saúde e nosso corpo, para que ele suporte o plano reencarnatório que programamos ainda no plano espiritual.

Não estamos aqui para definir o que é certo ou errado, criar dogmas comportamentais, nem nada que remeta a esse ponto. A questão que queremos expor é a que nos lembra a passagem de 1 Coríntios 6:12 "Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém” (1). Temos nosso livre arbítrio e a liberdade de ser, pensar e agir da forma que melhor entendermos como ideal, mas nem tudo que o mundo nos oferece é verdadeiramente necessário para se viver.

Em uma sociedade capitalista, que vive pelo ter, os parâmetros idealizados são meramente ilusórios e transitórios. Fomentamos em nós mesmos ideais que não passam de superficialidade, buscando se encaixar no que nos vendem como a imagem perfeita, seja materialmente, na busca de um status melhor, seja fisicamente na busca de um corpo perfeito.

Partindo desse ponto, podemos exemplificar através da menção da questão 258 do Livros dos Espíritos o questionamento que Kardec faz para a espiritualidade sobre a consciência que possuímos do que vamos passar aqui na Terra antes de reencarnarmos: Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena? “Ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de passar e nisso consiste o seu livre-arbítrio. ”

Sendo assim, se planejamos nossas provas e nosso períspirito através da necessidade de nossas expiações terrenas, querer alterar o que já programamos, seria ilógico do ponto de vida racional, pois enquanto encarnados temos nossa consciência limitada pelo véu do esquecimento de vidas passadas, alterar a programação que fizemos quando em consciência de tudo que já se passou em nossas outras encarnações é estar postergando ainda mais nosso progresso.

Porém, generalizar é algo que abre precedentes para injustiças, tendo em vista que para conseguir prosseguir a diante com nossas provas terrenas necessitamos estar bem conosco, tornando então, lícito o ato de querer melhorar a aparência para se sentir melhor consigo mesmo, além do fato de muitas intervenções cirúrgicas serem necessárias para o reparo de alguma falha congênita ou de alguma circunstância. Talvez o que devemos ter em mente, é a visão de um espírito eterno, o quanto isso vai influenciar na sua evolução moral e intelectual? Esse é o crivo que devemos levar não só nesse aspecto, mas em muitos outros temas de nossa vida, que, se pararmos para analisar que aqui fica tudo o que constituímos de material, nos fazem ver um outro sentido do mundo.

Somos irmãos de um mesmo pai, e enquanto voltamos nossos esforços de nos modificar para nós mesmos, estamos tapando os olhos para o mundo. Se o procedimento estético tornará a pessoa melhor interiormente e essa modificação interior for usada em prol de algo justo, com boas intenções, faz da cirurgia plástica algo de útil. Enquanto se o oposto, se os procedimentos forem feitos por mera estética visando somente a vaidade, cabe a cada um julgar a real necessidade de tal decisão.

Lembremos que somos eternos espíritos em construção e nosso corpo é a casa que o Pai nos emprestou para trilhar a nossa jornada, a nossa consciência é que irá cobrar todas as escolhas que fizemos durante esse percurso, deixando aqui todas as conquistas materiais e sendo reféns de tudo o que plantamos de bem em nosso caminho.

Cuide do seu espírito com a mesma intensidade que você cuida do seu físico.



21 maio 2020

Necessidade do trabalho - José Carlos Leal



NECESSIDADE DO TRABALHO



“A necessidade do trabalho é uma lei natural?” (OLE 674)

Com esta pergunta, Allan Kardec abre, no Livro dos Espíritos, a discussão sobre trabalho. O espírito responde a esta questão do seguinte modo; “O trabalho é uma lei natural, por isso mesmo é uma necessidade e a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque aumenta as suas necessidades e seus prazeres.”

Examinemos com mais cuidado esta resposta. Em primeiro lugar, ela diz que, de fato, o trabalho é uma lei natural. Esta colocação nos causa espécie porque, de um modo geral, encaramos o trabalho como uma atividade cultural realizada em certos locais, certas horas e subordinadas a determinadas leis. Entretanto, esta concepção de trabalho nos parece demasiadamente estreita.

Para se dizer que o trabalho é uma lei natural, temos que provar que ela pertence à natureza e não nos parece difícil demonstrar tal coisa. Se não, vejamos: as formigas trabalham incansavelmente (são inclusive, símbolos do trabalho) para manter os seus formigueiros organizados; as abelhas, em suas colmeias, fazem o mesmo; outros insetos trabalham fertilizando as flores; os castores constroem nos rios, diques de madeira; os pássaros fazem seus ninhos; os grandes predadores exercem a atividade da caça e assim por diante.

O homem, por sua vez, muito antes que houvesse a civilização, soube o acicate da sobrevivência; aprendeu a trabalhar. Foi, em verdade, o trabalho, que tornou o homem verdadeiramente humano.

Prestemos atenção, porém, à última parte da resposta onde o espírito fala das relações entre o trabalho e a civilização. Ali se diz que a civilização, aumentando as nossas necessidades e ampliando a nossa capacidade de desejar, aumentou também a nossa necessidade de trabalhar.

Esta é uma questão muito interessante e rica em ensinamentos. O animal trabalha para satisfazer as suas necessidades naturais de alimentar-se, agregar-se ou reproduzir-se; mas o homem cria necessidades artificiais e, por isso, aumenta a sua força de trabalho para produzir cada vez mais e adquirir coisas incessantemente.

Com isto, ele se reduz significativamente, trabalhando para ganhar dinheiro e com o dinheiro, conseguir coisas que nem sempre lhe são essenciais. Alguns homens mais espertos ou mais ativos, levam centenas ou mesmo milhares de outros homens a trabalharem para eles, tornando-se cada vez mais ricos materialmente, enquanto seus empregados ficam cada vez mais pobres.

Essa é uma distorção da ideia de trabalho, uma vez em que o ato de trabalhar transforma-se em suplício para o trabalhador e o faz uma pessoa negativista, que vê o trabalho como uma maldição e não como uma benção. Os exploradores se esquecem de que, ao explorarem o trabalho dos outros, perdem o melhor de si mesmos, chegando ao fim de suas vidas com sólidas contas bancárias, mas inteiramente vazios e com incrível débito ante a lei de Deus.

Quando o Espiritismo nos diz que o trabalho é uma lei natural, não está se referindo ao trabalho alienado ou ao trabalho escravo, mas a uma atividade profundamente útil ao progresso dos espíritos. Se não houvesse o trabalho, mesmo no modelo negativo que ainda o conhecemos, em razão da pouca evolução do planeta, a vida humana seria demasiadamente pobre. O trabalho torna o homem ousado e criativo e, quando feito com prazer, é uma atividade capaz de nos dar felicidade.



José Carlos Leal


20 maio 2020

Exteriorização da Alma - Momento Espírita



EXTERIORIZAÇÃO DA ALMA


"A boca fala do que está cheio o coração". (Lc 6.45)

Essa afirmativa de Jesus encerra grande sabedoria.

Significa que não somente as palavras, mas tudo o que vem do interior do homem é, de certa forma, a exteriorização de sua alma.

As cidades são a expressão de quem as constrói, de quem as habita, de quem as conserva.

Uma canção é a exteriorização da alma do compositor, assim como a escultura, a arquitetura, as artes plásticas, retratam a intimidade do seu criador.

Uma peça literária é a alma do escritor que se mostra em forma de palavras, frases, idéias...

É assim que pelo conteúdo das mais variadas formas de expressão, conhecemos a natureza daquele que as produz.

Almas sábias exteriorizam bondade, beleza, sabedoria...

Almas ignóbeis se revelam pelas produções corrompidas na base, idéias desconexas, infelizes, viciosas...

Suas expressões artísticas denotam baixeza e futilidade. São contraditórias e desprovidas de beleza.

Nas canções, a letra é carregada de palavras torpes. As notas, geralmente de melodia pobre, expressam o desarranjo da alma que através da música se exterioriza.

Os escultores dessa categoria apresentam sua intimidade nas formas retorcidas, grotescas, sem graciosidade. Comumente não causam bem-estar em quem as contempla.

Todavia, muito diversa é a expressão artística das almas nobres...

As composições musicais expressam sua grandeza d'alma. Produzem, em quem as ouve, profunda harmonia íntima, pois tocam as cordas mais sutis do ser, promovendo estesia e bem-estar.

As notas musicais têm sonoridade agradável e penetrante. A alma do artista se exterioriza, e sua sabedoria sensibiliza quem as sente, provocando emoções nobres e salutares.

É assim que a alma se mostra através das palavras, das artes, das ciências, e de todas as formas de expressão.

Às vezes, pessoas iletradas se apresentam com extremada beleza, através de palavras que brotam da alma como de uma fonte cristalina, plenas de sabedoria, de afeto, de ternura.

Trabalhadores simples, devotados, que realizam suas tarefas com dedicação e seriedade, demonstram trazer no íntimo uma fonte de riquezas.

Poetas, escritores, compositores, escultores, engenheiros, médicos, jardineiros, pedreiros, arquitetos, donas de casa, paisagistas e outros tantos cidadãos, mostram a alma através de suas realizações.

* * *

E a sua alma, como tem se exteriorizado?

Nas tarefas singelas que você realiza...

Nas muitas palavras que você pronuncia...

Nos conselhos que dá ao filho ou a um amigo...

Numa carta comercial que você escreve, ou numa declaração de amor, sua alma se exterioriza e se deixa ver...

Com suas ações, o mundo ao seu redor fica mais belo ou mais feio? Mais alegre, ou mais triste, mais nobre, ou mais pobre?

Para se conquistar a excelência nas ações cotidianas, é preciso considerar as quatro dimensões da experiência humana:

A dimensão intelectual, que almeja a verdade; a dimensão estética, que almeja a beleza, a dimensão moral, que almeja a bondade, a dimensão espiritual, que almeja a unidade.

E gravitar para a unidade divina, é o objetivo final da humanidade.

Busque plantar em sua alma a verdade, a bondade e a beleza.

Mas considere que a verdade é o solo mais propício para que germinem a bondade e beleza.

Pense nisso! Vale a pena!

Invista na sua alma!


Equipe de Redação do Momento Espírita

19 maio 2020

Saúde mental em tempos de coronavírus - Rodrigo Fonseca Martins Leite



SAÚDE MENTAL EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS

O instinto de sobrevivência é certamente o conjunto de comportamentos e reações fisiológicas mais ancestral da espécie humana: na reação de “luta ou fuga”, o organismo aumenta o rendimento cardiovascular e muscular e “pernas pra que te quero” para fugir do terror de uma ameaça grave à vida. Por isso, já adianto: minimizar a pandemia e desqualificá-la utilizando termos como “paranoia” ou “histeria coletiva” não contribui para o manejo adequado de um cenário inusual. Não é loucura se preocupar com a autopreservação.

A última pandemia foi a da gripe espanhola nos idos de 1918 e 1919 e não há ninguém vivo para contar a história. Temos que lidar com o medo e a incerteza e estes são os ingredientes da angústia coletiva que vivemos agora mais nitidamente no Brasil. Não se deixe conduzir pela negação. É preciso estar atento e forte. Os arautos da pós-verdade e os anticientíficos estão calados frente às evidências.

A redução do orçamento do Sistema Único de Saúde repercute negativamente na política pública de saúde mental. Em torno de 60% dos 5.570 municípios do País não têm um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) sequer e nem terão. A desassistência em saúde mental nos países em desenvolvimento é apontada pela Organização Mundial da Saúde desde sempre. Infelizmente, este diagnóstico não motiva suficientemente os gestores que, por conta de outras demandas críticas e a limitação orçamentária no setor, seguem encarando a política de saúde mental como algo secundário a despeito da elevação das taxas de suicídio, do uso problemático de álcool e drogas e do sofrimento psíquico geral advindo do desemprego, da falência financeira, da violência e dos lutos cotidianos. Somos o primo pobre e estigmatizado da saúde e recebemos a menor parte do bolo de recursos. Simples assim.

Espero que você já esteja sensibilizado pelo cenário que descrevi. Agora, imagine uma pandemia sobreposta: quem vai se lembrar dos portadores de transtornos mentais? Tivemos recentemente uma crise no abastecimento do carbonato de lítio em todo o território nacional. Essa medicação é a principal ferramenta farmacológica na estabilização de pessoas com transtorno bipolar em todo o mundo. Os motivos para tal não foram esclarecidos o suficiente: falta de matéria-prima? Desinteresse comercial pelo medicamento? Ficou realmente vago compreender por que uma medicação barata e corriqueira, cuja eficácia é comprovada desde os tempos hipocráticos, desapareceu das farmácias públicas e privadas.

Mais calamidades como terremotos, furacões, guerras, Brumadinho, Mariana e epidemias geram invariavelmente uma ruptura na logística de produção e distribuição de medicamentos essenciais. É um dos primeiros sintomas do colapso da saúde. O produtor não produz, o distribuidor não distribui e o paciente não acessa.

Os pacientes crônicos, incluindo os portadores de transtornos mentais graves e persistentes, fazem uso de medicação por tempo indeterminado. Ainda não foi divulgado nenhum plano de contingência para tal. Pensemos nos programas para pacientes com hipertensão, diabetes e HIV, por exemplo. O foco de todo o sistema será compreensivelmente voltado para a pandemia, mas os programas de saúde pública já instituídos não poderão ser negligenciados. É conhecido o fato de que portadores de transtornos mentais morrem precocemente por causas cardiovasculares como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral. São condições potencialmente evitáveis na presença de um sistema de saúde funcionando em condições normais de temperatura e pressão.

As epidemias em geral elevam as taxas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), diretamente relacionado a experiências catastróficas. Em Hong Kong, a epidemia do vírus da síndrome respiratória aguda (SARS) em 2003 trouxe cicatrizes psiquiátricas: 40% das pessoas que adoeceram de SARS grave estavam sofrendo de TEPT dez anos depois! Os transtornos mentais surgem de causas multifatoriais e o estresse é a gota d´água de uma tempestade perfeita neurofuncional que pode evoluir sob a forma de sintomas duradouros e incapacitantes e risco de suicídio.

Já que o debate nacional gravita basicamente em torno da economia, nunca é demais ressaltar que os transtornos mentais, em particular a depressão, os transtornos ansiosos e o uso problemático de substâncias são uma importante causa de incapacidade transitória ou permanente para o trabalho no mundo. Em 2015, os transtornos mentais corresponderam a 9,5% do montante de anos vividos com incapacidade definidos pela sigla DALY (disability adjusted life years) no Brasil.

Para simplificar, essa medida é a soma dos anos de vida perdidos por morte prematura e dos anos vividos com incapacidade. Alguns estudos epidemiológicos reportam que a primeira causa de anos vividos com incapacidade no Brasil se deve aos transtornos mentais. Vide o índice de afastamentos no trabalho relacionados à psiquiatria – o popular “CID-F”, muitas vezes prolongados ou definitivos. Com a pandemia, é plausível pensar num aumento significativo na quantidade de indivíduos com problemas de saúde mental. Investir nessa área é um dinheiro bem gasto em tempos de uma retração econômica em curso. Menos gente trabalhando é menos gente consumindo.

Vivemos uma discussão no meio médico e jurídico do País sobre as implicações éticas da telemedicina. Pois bem. A saúde mental tem inúmeras experiências bem-sucedidas com uso de tecnologias a distância no mundo e no Brasil. Estudos acadêmicos em telessaúde mental do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP trouxeram resultados promissores e seguros para o tratamento de pacientes com transtornos depressivos com essa ferramenta.

Com a limitação na circulação livre de pessoas, a possibilidade de quarentena e um cenário preocupante na saúde e na sociedade brasileira, para dizer o mínimo, a telemedicina terá um papel fundamental na manutenção e ampliação do acesso ao cuidado dos pacientes do sistema público ou privado. Crises trazem oportunidades.

Além disso, agora estamos incluindo o risco ocupacional dos profissionais de saúde. Somos uma população de risco e linha de frente assistencial num contexto de pandemia. Os conselhos, associações e sociedades profissionais juntamente com o Poder Judiciário poderiam catalisar a implantação definitiva da telessaúde no Brasil, além de outras reivindicações igualmente sensatas. Não podem faltar sabão, álcool-gel e equipamentos de proteção individual para médicos, enfermagem, pacientes e acompanhantes nos hospitais, por exemplo. Afastamentos e vidas de médicos, enfermeiras e outros profissionais seriam poupados e o acesso à saúde para a população, assegurado de uma forma mais inteligente.

As notícias da China, Itália e restante da Europa não nos deixam numa posição confortável. Temos que cuidar de quem cuida e rever o modo analógico de atuar na saúde. Os desafios do século XXI não permitem mais delongas.

Os três poderes, elaboradores e gestores de políticas públicas, formadores de opinião e os profissionais de saúde, da tecnologia da informação e do direito têm o dever de acelerar o debate social e concretizar planos para a grande crise que paira sobre o setor da saúde ao longo dos próximos meses. Não se trata de alarmismo. Trata-se de proatividade e responsabilidade ética e sanitária. Muito cedo para pensar nisso tudo?

Por Rodrigo Fonseca Martins Leite, médico psiquiatra e diretor de relações institucionais do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP.  Fonte: Jornal da USP


18 maio 2020

Isso também passa! - Daniele Barizon



ISSO TAMBÉM PASSA!


O mundo, de um momento para o outro, mudou. E nós, homens e mulheres até então despreocupados (ou melhor, preocupados tão somente com nossas questões/dificuldades hodiernas comuns), dotados de livre-arbítrio e da prerrogativa constitucional de ir e vir, nos vimos confinados, isolados, amedrontados em razão da propagação de um vírus capaz de afetar tragicamente os mais vulneráveis, incluindo nosso frágil sistema de saúde. Obrigados, à força, a sair da agradável zona de conforto que nos faz protagonistas absolutos de nosso cotidiano egoísta. Um baque e tanto, certamente. Contudo, não é novidade.

Embora, naturalmente, cada experiência seja única, esse não é o primeiro, e nem será o último obstáculo que, como coletividade, testemunharemos. Talvez o mais complexo da atual geração, porém, nós, como espíritos imortais, herdeiros de múltiplas existências, já passamos por inúmeras provas sombrias: guerras de aniquilação e anexação de territórios, inquisição, revoluções, peste negra, hanseníase, gripe espanhola, escravidão e holocausto. De cada uma delas, saímos um pouco mais fortalecidos, conscientes e instruídos. Melhor habilitados, em suma, a cumprir a meta ascensional evolutiva a que estamos destinados.

Essa, aliás, é a dinâmica da vida: conforme os séculos passam, estamos (ou deveríamos estar) mais aptos a apreender a verdade. Afinal, como narra o apóstolo Paulo, em sua epístola aos Coríntios: “Quando eu era menino; falava como menino; pensava como menino; raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino”.

Mas, o que isso quer dizer? Em nossa infância espiritual, Deus nos enviou, através de seus profetas, as verdades que, então, tínhamos condições de assimilar. A partir da vinda do Messias ao orbe terrestre, ao nosso período de maioridade (de acordo com Emmanuel, no livro A Caminho da Luz), chegam-nos outros axiomas sublimes. Na época da maturidade, por fim, vem a terceira revelação, a Doutrina Espírita, chamar-nos à realidade: não estamos aqui a passeio. A benção da reencarnação deve ser aproveitada em sua justa finalidade, qual seja, a do crescimento individual e coletivo. É hora de abandonar o menino que, teimosamente, habita em nós; de crescer e amadurecer; amealhar virtudes; vivenciar o Evangelho de Jesus, pondo em prática a máxima do “amor ao próximo como a ti mesmo”.

Não é, necessariamente, o fim dos tempos – quer dizer, não da forma que alguns apregoam. Todavia é, sim, o fim de uma era. Estações de dúvida, de temor e de dor conjunta induzem-nos à reflexão. Fazem-nos compreender que, a despeito do orgulho e egoísmo ainda presentes em nossas relações, somos seres sociais. Dependemos uns dos outros. Que a segurança e o bem-estar de todos sustenta-se no comportamento de cada um. No apoio mútuo. No olhar caridoso e igualmente respeitoso a nossos irmãos.

A pandemia do novo Coronavírus escancarou sim, nossos medos, ansiedades e problemas. Afetará, de forma contundente, nossa economia. Entretanto vem dando lugar, e nos parece, de forma irreversível, a uma nova postura perante o semelhante: mais humana, mais empática e mais terna. Mais próxima, enfim, das atitudes usuais que convém a um planeta regenerado – destino inexorável da Terra.

Tudo passa. Quando, em breve, isso também passar, certamente, estaremos mais próximo de uma sociedade rica em amor, igualdade, justiça e solidariedade.


Daniele Barizon


17 maio 2020

Cinco Possíveis Efeitos da COVID-19 na Prática Espírita - Marcus Vinicius de Azevedo Braga


CINCO POSSIVÉIS EFEITOS DO COVID-19 NA PRÁTICA ESPÍRITA


Muito se fala que o mundo não será mais o mesmo após a incidência da pandemia do novo corona vírus (que ocasiona a Covid-19) e muito se especula sobre os cenários, o que enseja um exercício de como seriam também os possíveis efeitos desse evento global sobre as práticas das casas espíritas, o que se tentará construir nesse singelo artigo.

A primeira suposição é de que seremos menos tolerantes com as mensagens apócrifas. Sim, vivemos uma profusão de mensagens qualificadas como Fake News nas redes sociais, na qual não se sabe o que é mentira ou meia verdade, e esse movimento influenciou também um sem número de mensagens psicografadas com informações que não fazem sentido, confundindo o público que se declara espírita em meio a tanta desinformação, o que gerou, inclusive, notas de esclarecimento de federativas.

Entretanto, uma percepção crescente no enfrentamento à Covid-19 é de que a desinformação alimenta o vírus, o que ensejou movimentos das pessoas, temerosas, por combater informações sem lastro, com mecanismos de verificação e um aumento de busca pela imprensa mais tradicional, para se informar e assim melhor se prevenir, em um movimento que se espera que contamine também os circuitos de informações espíritas, para que estas, mesmo de origem mediúnica – e que contraponham os protocolos oficiais – sejam combatidas.

Espera-se também que haja um maior exercício da solidariedade na prática espírita, pois o cenário atual e futuro aponta para efeitos funestos do isolamento, da doença e da crise econômica relacionada, de forma que herdaremos um mundo mais desigual em termos sociais, e com acentuação dos problemas.

Tal cenário pode provocar um resgate de nossos trabalhos de caráter assistencial, um tanto esquecidos das pautas espíritas, sem a adesão de novos voluntários, preteridos em função de outras pautas, mas que pela emergência dos problemas, podem trazer à baila novas frentes, inclusive em associação a outras denominações, nas chamadas redes assistenciais.

Apenas a título ilustrativo, uma breve consulta ao Periódico Reformador no ano de 1918, no meio da gripe espanhola, mostra na edição de maio de 2018, pp.349 e 384, como as casas espíritas se engajaram no atendimento assistencial aos afetados pela pandemia, o que demonstra como as nossas práticas são influenciadas por eventos dessa natureza.

O terceiro ponto que se antevê é o aumento (sim, ainda mais) da internet no movimento espírita. Essa quarentena ampliou sobremaneira o uso de lives, áudios compartilhados, podcasts e ainda fomentou a inovação de práticas e ações, de forma que as atividades doutrinárias migraram para o ambiente virtual, e aqueles que resistiam a usar essas facilidades, cederam pela força das circunstâncias.

Acredita-se também que na volta paulatina a normalidade, teremos um movimento menos presencial, com mais estruturas no mundo virtual, e isso se relaciona também com o quarto cenário previsto, de um espiritismo mais intimista, com menos caráter de massa.

Sim, pois ainda teremos restrições de aglomerações por um tempo. O retorno não será uma mudança de chave e sim uma volta gradual, com direito a recaídas, e muito, muito receio de todos, em especial no que se refere ao convívio. E tal condição inibirá os popularizados mega eventos que tem caracterizado o movimento espírita recentemente, prestigiando ações menores, nas próprias casas, frequentadas por pessoas que todos conhecem e já convivem, como um mecanismo de proteção sanitária que se observará no mundo fora da casa espírita e que se refletirá nela também.

Com isso, a impessoalidade dessas casas espíritas enormes, com pessoas que não se conhecem, e esses eventos de maior porte, congregando multidões, vai dar espaço a uma vivência mais fraterna, resgatando práticas de convívio um tanto esquecidas, que se combinadas com um mundo mais conectado, vai mudar em muito a nossa forma de interagir como movimento.

Por fim, pode parecer ingenuidade, mas é crível que esse movimento todo vá fortalecer o interesse nos aspectos científicos do espiritismo. Simples, pois a crise da Covid-19 se dá em uma batalha campal entre o pensamento científico, com método e evidências, com o mundo da pós verdade e o pensamento mágico, no qual o negacionismo e as soluções mirabolantes são confrontadas por opiniões sustentadas em pesquisas, e a ciência tem, no mundo todo, se fortalecido como forma de interpretação da realidade e que dá respostas convincentes ao mal que ronda as famílias.

A Covid-19 nos convidou a olhar a realidade dos fatos, o mundo real, pois é nesse mundo que estão seus efeitos. Nos instou a viver no mundo, sem ser do mundo. E a entrar nesse mundo, mesmo que trancado dentro de casa, e nesse sentido, o espiritismo lastreado no método kardequiano se apresenta como fonte segura nessa selva louca e desvairada que nos encontramos.

Pode parecer um excesso de otimismo essa visão dos possíveis efeitos da Covid-19 no movimento espírita, mas é só observar o cenário da sociedade, e o que virá, para entender como isso se refletirá na nossa prática. O historiador Leandro carnal, em entrevista televisiva no dia 26/03/2020, aponta que a peste negra forneceu os elementos para o renascimento, após o extenso período da Idade Média, e que a gripe espanhola se refletiu na preocupação com a saúde pública, reforçando que crises auxiliam a revisão de paradigmas, em especial no caso da Covid-19, que abala o cotidiano de todos nós, de uma forma que nenhuma das gerações encarnadas viveu.

Marcus Vinicius de Azevedo Braga

16 maio 2020

Justiça em Nós Mesmos - Joanna de Ângelis



JUSTIÇA EM NÓS MESMOS


Transitam à margem da consciência com os centros da lucidez nublados, vivendo trágicos espetáculos íntimos que remontam ao passado.

Passam, na vida física, hibernados espiritualmente.

Auto-flagelam-se, apagados para a liberdade.

Estão hipnotizados.

As experiências vividas na Erraticidade imprimiram-se no perispírito vigorosamente, e renasceram sob o império coercitivo das evocações...

Apegam-se às idéias extravagantes que vibram nos centros mentais.

Em semi-transe, enovelam-se, cada dia, mais fortemente nos liames do próprio desequilíbrio.

Mumificam-se em espírito.

São dignos de compaixão.

Estão no lar, nas oficinas de trabalho, nas ruas, em toda parte.

Creram no poder da posse...

Vilipendiaram a justiça, zombando da verdade.

Viveram para si mesmos, esmagando esperanças alheias, trucidando alheias aspirações.

Dormiram, enquanto na carne, na inconsciência da verdade, empedernindo os sentimentos, enregelando o coração.

Renasceram prisioneiros de si mesmos, depois das aflições punitivas vividas antes do berço...

Há, por isso mesmo, mais hipnoses entre desencarnados e encarnados do que pensam, na Terra, os homens.

* * *

Disciplina o querer para conduzires com equilíbrio o que tens.

Corrige o ambicionar a fim de viveres longanimente o que possuis.

Respeita o direito alheio ante o próprio direito.

Medita na transitoriedade do carro carnal que te conduz, aplicando as regras da conduta reta na vida diária, tendo em mente que nada passa ignorado... à consciência individual, que representa a Consciência Divina em nós.

O patrimônio mental registra todos os seus atos, aspirações e cuidados. Enganarás, passando despercebido diante de todos e desnudo ante ti mesmo.

Acomoda o coração, harmoniza o pensamento, aceita a dificuldade, faze o bem que possas, disseminando otimismo e entusiasmo mesmo que chovam sobre a tua cabeça incompreensões e apupos.

Os vivos-mortos não te compreenderão; os hipnotizados não alcançarão teus esforços; os hibernados estarão mentalmente distantes; os atormentados demorarão aquém; os precipitados não darão tempo; muitos quererão esmagar-te na ânsia louca de prosseguir na busca de coisa nenhuma. Prossegue tu, com o espírito alentado, alentando, o coração amante, amando, vivo e atuante para a vida imortal, apesar das sombras e de tudo, banhado e revigorado intimamente pelo Sol do Amor Total.

* * *

Em "A Gênese", o abençoado Codificador informa que o renascimento na carne não significa "punição para o espírito", conforme pensam alguns, mas uma condição inerente à inferioridade do Espírito e um meio de ele progredir; no entanto, aqueles que recomeçam desde o berço sob o entorpecimento moral e mergulham no desalinho mais tarde, vitimados por hipnoses espirituais inferiores, estão sendo punidos pela própria consciência ligada aos débitos que seguem a alma como a "sombra acompanha o corpo" aonde vai.

Vive, pois, mentalmente com elevação e sabedoria, entesourando amor e bondade porquanto se o "reino de Deus", como apregoou Jesus "está dentro de nós" a manifestação da justiça como corretivo aos nossos crimes demora-se, igualmente, conosco e em nós mesmos.


Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo P. Franco
Livro: Dimensões da Verdade - 20