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31 outubro 2020

O bom espírita e o espiritão - Marcelo Teixeira


O BOM ESPÍRITA E O ESPIRITÃO

O item 2 do capítulo 20 de “O Evangelho segundo o espiritismo”, de Allan Kardec, tem uma frase na qual passei a prestar a atenção e da qual passei a gostar muito quando li o livro “Celebrando o Evangelho segundo o espiritismo”, da historiadora e escritora fluminense Sônia Campos. Essa frase abre o último parágrafo do referido item, é da autoria do espírito Constantino e diz o seguinte: “Bons espíritas, meus bem-amados, sois todos trabalhadores da última hora”.

Sônia ressalta que não basta ser espírita; é preciso ser um bom espírita! E isso, acrescento, é porque o dito de Constantino está em um livro espírita. Se fosse num livro importante de outra religião, lá estaria escrito bons católicos, bons muçulmanos, bons evangélicos, bons judeus etc. E os ateus? Bem, acredito que, se houvesse uma espécie de livro sagrado dos ateus, estaria lá grafado: bons ateus.

Saindo do âmbito religioso, se dermos uma boa lida no código de ética de várias profissões, encontraremos não de forma explícita, mas nas entrelinhas, o seguinte: bons médicos, bons assistentes sociais, bons jornalistas, bons pedagogos, bons psicólogos… E mesmo nas profissões de saber não acadêmico, mas técnico, encontraremos contida, no dia a dia do profissional, algo similar a bons motoristas, bons encanadores, bons eletricistas e por aí vai. Isso porque, segundo a questão 621 de “O livro dos espíritos”, também de Kardec, a lei de Deus está escrita na consciência. Ninguém, portanto, precisa ser espírita para saber o que é agir corretamente dentro da profissão, sem dores de consciência. Isso significa amor ao próximo, um dito do Cristo que está implícito no modus operandi da nossa sociedade, quer percebamos, quer não.

Voltando ao tema que dá título a esse artigo, religião não é salvo conduto para ninguém, muito menos para os espíritas, que, muitas vezes, se acham uma espécie de povo escolhido por ter mais acesso às verdades além-túmulo. Não somos uma confraria de eleitos pelo Senhor porque somos espíritas. Isso não existe. Ser espírita não é suficiente. É preciso ser um bom espírita.

E como se reconhece o bom espírita? “Pela sua transformação moral e pelo esforço que empreende para domar as más tendências”, como diz o item 4 (não por acaso intitulado ‘Os bons espíritas’) do capítulo 17 também de “O Evangelho segundo o espiritismo”.

O bom espírita é, desse modo, alguém que está tentando melhorar a si próprio, não aos outros.

Resolvi escrever a esse respeito porque já vi muitos espíritas deveras preocupados em policiar o comportamento alheio para ficar se comparando – e se achando melhor – do que esse ou aquele trabalhador ou frequentador do centro. É o espírita que se acha mais espírita que o outro espírita.

Depois de muito pensar a respeito, criei um personagem chamado João, o espiritão. Trata-se daquela figura folclórica, caricata até, que inventou um modelo de espírita a ser seguido e acredita piamente que se encaixa nele com perfeição. João, o espiritão, e os que em torno dele gravitam costumam pensar da seguinte forma:

– João tem 10 tarefas no centro espírita. Vítor tem duas. Ah, então João é muito mais espírita que Vítor!

– João é heterossexual. Leonardo é gay. Ah, então João é muuuito mais espírita que Leonardo!

– João está casado há mais de 30 anos com a mesma mulher. Fábio é divorciado. Ah, então João é muuuuito mais espírita que Fábio!

– João não põe uma gota de álcool na boca. Maurício é apreciador de bons vinhos. Ah, então João é muuuuuuito mais espírita que Maurício!

– João, no carnaval, participa dos encontros de mocidade e da família que o movimento espírita promove. Samuel, há muitos anos, junto com um grupo de amigos, desfila no Salgueiro. Ah, aí não tem nem comparação! João é muuuuuuuuuuuito mais espírita que Samuel!

Quem disse que é assim que a banda toca? Quem disse que existe uma receita de bolo prontinha para seguirmos à risca a fim de nos tornarmos modelos de espírita a serem seguidos? E quem disse que ser um bom espírita implica em ser um modelo a ser seguido? Pelo que sei, modelo não é o presidente do centro, o médium famoso ou a palestrante badalada. Modelo, só o Cristo. Para mim, ele está de ótimo tamanho.

Que bom que João consegue ser muito dedicado ao movimento espírita! Que bom também que o casamento dele deu certo e que ele é bem sucedido em se desviar de hábitos que podem resultar em vícios! Deus o conserve assim! Ao mesmo tempo, ele não tem o direito de ficar se comparando com os companheiros de lida espírita. Ele não é impoluto. Ele não está acima de ninguém. Ele só é chato, sectário e arrogante com esse comportamento.

Se o verdadeiro espírita é aquele que se esforça para se melhorar, é bom deixar claro: todos nós estamos neste barco do esforço pessoal. E todos, incluindo João, estão sujeitos a altos e baixos.

Além disso, como estabelecer um parâmetro de comparação? Em que somos mais ou menos espíritas que esse ou aquele trabalhador do centro do qual fazemos parte? Não sejamos descaridosos. Cada um é espírita do jeito que pode e consegue. E nisso está o grande barato da doutrina espírita. Ela dá as coordenadas para que cada um trilhe o próprio caminho da forma que melhor lhe convier, desde que isso implique burilar a si mesmo, respeitar o próximo e contribuir para um mundo socialmente justo e equânime.

No entanto, João, o espiritão, ainda é comum de encontrar. Já deparei com vários. Desde o sujeito que ficou falando meses a fio do grupo, que foi a um congresso espírita na Europa e aproveitou a viagem pelo Velho Continente para degustar alguns vinhos, à dama que ficou escandalizada porque um dos jovens da mocidade – aluno de belas artes – havia conseguido um estágio como assistente de um conhecido carnavalesco do Rio de Janeiro. Isso sem falar dos que acham o fim da picada haver homossexuais fazendo palestra, evangelizando mocidade ou atuando em reuniões mediúnicas. É bom ter cuidado com o julgamento. No momento em que julgamos, abrimos um perigoso precedente para também sermos julgados, conforme alerta Jesus.

Certa vez, li algo muito interessante sobre o Super-homem, famoso super-herói norte-americano. Conta-se que, tão logo os gibis do Homem de Aço foram lançados, em meados do século 20, o sucesso foi imediato. Tempos depois, as vendas inexplicavelmente despencaram. A editora, então, encomendou uma pesquisa e descobriu o seguinte: os leitores estavam cansando do personagem. Motivo: perfeito demais, invencível demais; estava ficando sem graça. Foi então que surgiu a ideia de criar a kriptonita. Trata-se de fragmentos de rocha do planeta natal do herói – Kripton. A kriptonita tem o poder de tirar as forças do Super-homem, deixando-o frágil como qualquer um de nós.

Moral da história: não banque o perfeito, o espiritão. Muito menos o exemplo a ser seguido. Senão, mais dia, menos dia, a tua kriptonita aparece e você irá ao chão como ser humano imperfeito que é.

Sei de uma história muito boa, envolvendo um espiritão. No próximo artigo, eu conto. Até lá!


Marcelo Teixeira

 
Referências:

CAMPOS, Sônia. Celebrando o Evangelho segundo o espiritismo. Edição independente, 2015, Rio de Janeiro, RJ. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o espiritismo. 2ª edição, 8ª impressão, 2018, Federação Espírita Brasileira (FEB), Brasília, DF.

O livro dos espíritos. 60ª edição, 1984, Federação Espírita Brasileira (FEB), Brasília, DF. MORRIS, Matt; MORRIS, Tom. Super-heróis e a filosofia – Verdade, justiça e o caminho socrático. Ed. Madras. 1ª Ed., 2006, São Paulo, SP.

30 outubro 2020

A Fogueira da Inquisição e As Bruxas - Fernando Rossit



A FOGUEIRA DA INQUISIÇÃO E AS BRUXAS

Arrastadas de suas casas sem saber ao certo do que estavam sendo acusadas, as “bruxas” eram despidas e submetidas a um criterioso exame em busca das marcas de Satanás. Sardas, verrugas, um mamilo grande, olhos dessemelhantes ou azuis pálidos eram considerados sinais seguros de que a mulher, principal vítima da perseguição, travara contato com as forças do mal. Informada sobre as suspeitas que pesavam sobre ela, a mulher que resistisse às lágrimas ou murmurasse olhando para baixo, seguramente era uma seguidora dos espíritos malignos. Escaldadas em água com cal, suspensas pelos polegares com pesos nos tornozelos, sentadas com os pés sobre brasas ou resistindo ao peso das pedras colocadas sobre suas pernas, as rés não tardavam a gritar aos seus inquisidores que -“sim, era verdade”, que elas sacrificavam animais e criancinhas, evocavam demônios nas noites de lua cheia, e usavam ervas e feitiços para matar e trazer infelicidade aos inimigos.

Instaurada para identificar e punir os hereges e sua doutrina de oposição entre o bem do espírito e o mal do corpo, a inquisição foi oficializada em 1233, no papado de Gregório IX. Do momento em que a Igreja declarou que as antigas religiões pagãs eram uma ameaça hostil ao cristianismo, em 1320, até a última execução judicial, realizada em território polonês no final do século XVIII, milhares de pessoas, 80% mulheres, foram acusadas, investigadas e punidas com base em denúncias da vizinhança.

“A acusação de feitiçaria foi usada em muitas épocas, em muitas sociedades como uma forma de perseguição a inimigos”, reconhece o antropólogo Luiz Mott -, que podia lançar sobre qualquer pessoa de hábitos incomuns: moças muito bonitas e solteiras, anciãs que dividiam o lar apenas com animais, ou mães de filhos deficientes, por exemplo; a culpa pela doença do filho, a falta de leite da vaca, ou a ausência de desejo do marido, também eram motivos “claros”. As chances de escapar sem sofrer qualquer punição eram praticamente nulas, não estavam livres nem os que se negavam terminantemente a acreditar na existência da bruxaria.” [SHVOONG.com]

O Tribunal Da Inquisição

Para não ficar “completamente injusto com as bruxas e os bruxos”, os inquisidores criaram um tribunal, o Tribunal da Inquisição, para julgar as bruxas, além de realizar alguns testes como vimos acima (eram despidas e submetidas a um criterioso exame).

Nem sempre as Bruxas eram médiuns naturais, como se acredita. Bastava uma pessoa querer prejudicar a outra, fazia a denúncia e a morte era certa. Algumas, sim, eram médiuns naturais ostensivos – e como tais, as faculdades eclodiam naturalmente, sem controle do possuidor. Quando isso ocorria, a pessoa era presa e condenada, pois não podemos denominar o que se fazia de “julgamento”. Quer dizer, o médium era condenado à morte.

Claro que neste tribunal era quase impossível que as bruxas fossem inocentadas, pois não existia advogado, nem júri, por isso a bruxa era torturada e encaminhada à fogueira, no entanto se a bruxa pedisse perdão “pelo que fez” e beijasse a Cruz, eles a enforcavam e depois a queimavam mesmo assim.

Mas não eram somente as Bruxas que eram vítimas do tribunal. O Tribunal da Inquisição foi criado pela Igreja Católica Apostólica Romana, no período medieval, com o propósito de investigar, apurar, julgar e condenar os culpados por crimes de blasfêmia, heresia e outras práticas como a Bruxaria.

Se fosse qualquer estudioso, cientista ou inventor eles queimavam apenas os seus olhos para que não pudessem mais ler nem escrever.

O Tribunal era composto por eclesiásticos. Os suspeitos eram encarcerados (eram denunciados por um vizinho, um amigo ou um ambicioso qualquer), tinham seus bens confiscados e divididos entre a Igreja, o Estado e o denunciante e submetidos a um longo processo do qual costumeiramente constavam sessões de abdomináveis torturas e suplícios durante as quais deviam confessar suas culpas (que eles nunca sabiam qual era).


As principais torturas eram:

1) empalamento: é um método de tortura e execução que consistia na inserção de uma estaca pelo ânus, vagina, ou umbigo até a morte do torturado. A vítima, atravessada pela estaca, era deixada para morrer sentido dores terríveis, agravadas pela sensação de sede.

2) roda: tipicamente, a roda era nada mais do que uma grande roda de carroça com diversos raios. O condenado era amarrado a ela e seus membros, expostos entre os raios, eram quebrados com massas e martelos. O corpo despedaçado do condenado podia ficar exposto para o público.

3) polé: antigo instrumento de tortura no qual se pendurava o punido pelas mãos com uma corda e se prendia pesos de ferro nos pés, deixando-o cair com violência. (ver a coluna já publicada “As Causas Espirituais do ódio dos Mulçumanos contra os Cristãos”)

Julgados culpados eram entregues ao Estado (governo) para que lhe fosse aplicada a sentença (quase sempre a morte, muitas vezes queimados vivos). A Inquisição, nos seus últimos séculos, perseguiu e matou milhares de judeus, protestantes, “heréticos” e homens das artes e das ciências que ousaram contrariar os ditames da Igreja e das autoridades eclesiásticas. Com frequência a Inquisição foi usada por reis para justificar a prisão e execução de seus inimigos políticos, acusados de heresia.

Fernando Rossit
Fonte:
Kardec Rio Preto


29 outubro 2020

Na apresentação do Nosso Lar - Orson Peter Carrara


NA APRESENTAÇÃO DO NOSSO LAR


Na página Novo Amigo, assinada por Emmanuel em 03 de outubro de 1943, no conhecido livro Nosso Lar, que já se transformou em filme, entre as valiosas considerações ali constantes, há uma frase marcante: “(...) Os que colhem as espigas maduras, não devem ofender os que plantam a distância, nem perturbar a lavoura verde, ainda sem flor (...)”.

O contexto da afirmação inclui situação específica do pseudônimo adotado pelo Espírito autor da obra em referência, muito própria das grandes almas que não se preocupam em identificar- se, mas sim com o objetivo de somar forças para o bem geral da coletividade. Sugiro mesmo ao leitor que busque a obra e leia a página de Emmanuel para empolgar-se com o raciocínio do conhecido benfeitor que assina a apresentação da obra.

O que ocorre é que somos ávidos e ansiosos por forçar que outros pensem como nós, entendam ou percebam como nós, mas o “acordar” é individual, devido a fatores variados, mas a fraterna advertência citada convida-nos a aguardar a percepção alheia, que não ocorre em nosso ritmo, como também ainda estamos cegos e distraídos com outras percepções já conquistadas por pessoas de nossa convivência.

O que já conquistamos, o que já percebemos, talvez não tenha ainda sido percebido ou conquistado por outros. Por isso não temos o direito de ofender, forçar ou perturbar o estágio em que se situa cada pessoa, embora possamos colaborar com isso na divulgação ou compartilhamento saudável de informações que possam beneficiar muita gente.

Muitos ainda plantam, outros já colhem, em todos os sentidos. Outros ainda talvez estejamos sem flor, em lavoura verde e outros já desfrutam dos resultados dos frutos maduros.

Estamos todos neste caminho de aprendizado, cada um em seu estágio próprio. Isso abre imensa perspectiva de análise e percepção, sofrendo e exercendo enorme influência sobre vários aspectos, que devem ser considerados. Amplie o assunto e pense comigo na força de expressão: “colhem espigas maduras” ou “lavoura verde ainda sem flor”.


Por Orson Peter Carrara
Fonte:
Agenda Espírita Brasil

 

28 outubro 2020

Dormir para não sentir fome - Lillian Rosendo


DORMIR PARA NÃO SENTIR FOME

A arte possibilita uma estada mais amena em nossa viagem neste Lar planetário, a sensibilidade e a criatividade trabalham para suavizar a alma, e quando é aliada ao progresso da comunidade tem um valor ainda mais gratificante e, por falar em progresso, trataremos sobre a arte da combinação de sons e silêncio, a manifestação presente em nossas vidas desde os tempos primitivos, essa capacidade de traduzir sentimentos e valores quer seja de um grupo, de uma cidade, de um país, ou do mundo, quer seja de um ideal, de um movimento, quer seja de uma religião.

Allan Kardec, interessado em compreender a influência da música, pergunta aos Instrutores da Vida Maior se os Espíritos são sensíveis a ela  (1), e tem como resposta:

“– Quereis falar de vossa música? O que é ela perante a música celeste cuja harmonia nada na Terra vos pode dar uma ideia? Uma está para a outra como o canto de um selvagem está para uma suave melodia. Entretanto, Espíritos vulgares podem sentir um certo prazer ao ouvir vossa música, porque ainda não são capazes de compreender uma mais sublime. A música tem para os Espíritos encantos infinitos, em razão de suas qualidades sensitivas bastante desenvolvidas. A música celeste é tudo o que a imaginação espiritual pode conceber de mais belo e mais suave”.

Refletindo sobre essa elucidação dos benfeitores posso compreender que a elevação de pensamentos e de equilíbrio emocional poderá revelar esta estética suave, o encanto que ainda não amadurecemos o sentimento para perceber a melodia que conquistaremos com as atitudes rítmicas e os valores harmônicos que estamos por desenvolver.

A intenção norteia os mais íntimos desejos e determina o valor dos atos, o timbre dessa linguagem, a intensidade da comunicação universal quando utilizada gravemente para uma causa nobre e sua duração, bem como ajudar o outro movimentando a altura do querer bem, a fraternidade.

O Instituto Baccarelli, criado em 1996 após o incêndio que queimou parte dos barracos da favela de Heliópolis em São Paulo, tem como intuito ensinar músicas, ensejar um futuro para as crianças e promover ações sociais para a comunidade. (2)

Devido à pandemia, as aulas presenciais estão suspensas e um aluno não havia participado da aula on-line; questionado sobre o motivo, o garoto justificou que estava dormindo, pois “quando dorme não sente fome”, então, o Instituto se movimentou doando alimentos para a família e lançou a campanha de arrecadação de alimentos para as famílias que estavam atravessando situação semelhante. A Instituição não é autossustentável materialmente, entretanto, ela conta com voluntários que se sensibilizam com a comunidade e concentram suas energias, força e esforços para que elas tenham contato com a música, tocando um instrumento e, assim como muitos alunos, conseguirem viver da arte, não precisando dormir para enganar a fome.

Quando estou a par de tais movimentos caritativos, me sinto mais reconfortada também quando participo, mas não deveria. Os Benfeitores elucidam o que nos parece magnifico; não é grande coisa para eles, que nos observam como simples estudantes. O que faço é fraco e curto; os trabalhadores do Cristo têm consideração quando contribuímos para a elevação de nossos semelhantes e, por seu progresso (3), a assistência material não é o bastante assim como a nossa música, que requer a fonte sonora sublime. Mas posso tocar através das ondas que propagam as frequências da amizade, vibrando compreensão, alegria e gratidão.

Lillian Rosendo
Fonte:
Espiritismo na Rede
 
 
Referências bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile. 175° questão 251. Edição. Araras. São Paulo. Editora IDE. 2007.

2. Regiane Soares. Música vira instrumento de solidariedade em Heliópolis, zona sul de SP. Disponível em: link-1 Acesso em: 6 de set, 2020.

3. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile. 175° questão 316. Edição. Araras. São Paulo. Editora IDE. 2007.


27 outubro 2020

Razão de viver - Divaldo Pereira Franco


RAZÃO DE VIVER

No tumulto gigantesco destas horas de tempestade viral e moral, não poucos indivíduos estamos podendo manter uma diretriz de segurança que nos faculte uma existência harmônica.

As incomparáveis conquistas da inteligência em todas as áreas, especialmente na tecnologia de ponta, facultam-nos horizontes abençoados, concedendo-nos comodidades dantes jamais sonhadas, nada obstante, não equacionaram os desafios do sentimento, os problemas dos relacionamentos sociais e afetivos.

Prolongaram a vida física, abriram caminhos para realizações de beleza e divertimento, facilitaram o manejo dos instrumentos de trabalho, propuseram regras para a dignidade humana, trabalham para fazer desaparecer os preconceitos de qualquer procedência, diminuíram as distâncias e derrubaram algumas fronteiras...

Mas não foram suficientes para tornarem a sociedade mais feliz, eliminando os bolsões de intolerância e de ódio, os movimentos anarquistas e devastadores, as sublevações das massas esmagadas ante leis injustas e incapazes de trabalhar em favor do bem, tornando este um período de transição dolorosa, sem que se saiba quais as novas éticas que dignifiquem o indivíduo. Teorias rasteiras conclamam os descontentes a viverem o momento conforme suas necessidades, sem qualquer controle das emoções que visam apenas ao prazer, como se esse fosse a razão única de se viver.

Ao longo da cultura e da civilização, saímos do primarismo do instinto para os altos significados da emoção, e saturados de deveres e de prazeres, estamos sendo convocados a descer à vala das paixões servis e novamente nos afogarmos no paul dos tormentos.

A maioria das propostas sociológicas e filosóficas, não se levando em conta as dificuldades financeiras e as dificuldades para a conquista do trabalho edificante e honorável, traz o amargo conceito da rebelião contra Deus e os Seus missionários de amor que estiveram na Terra, vivendo e ensinando plenitude através do autoconhecimento e do mergulho nos arcanos originais da vida.

A rebelião busca destruir figuras de líderes honoráveis, a começar por Jesus Cristo, numa fúria assustadora, como se eles fossem os impedimentos para a libertinagem e a perversidade de todos os matizes.

O profano vem assumindo posturas de sagrado, enquanto este se transforma no responsável pelas misérias que desorganizam as criaturas.

Jamais uma proposta filosófica tendo por base o amor e o bem que se deve fazer ao próximo produz desarmonia nos delicados equipamentos mentais e emocionais do ser humano.

A História é um manancial de documentação a esse respeito. Ante o contubérnio extravagante e devastador das teorias destruidoras, seja o amor a nossa razão de viver.

Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 17.9.2020

26 outubro 2020

Auxílio agora - Joanna de Ângelis

 
AUXÍLIO AGORA

Viste muitos deles, possivelmente, enquanto se encontravam mergulhados nas roupagens carnais, experimentando rudes provas, e não os distinguiste com uma palavra sequer de misericórdia.

Agora te apiadas e sofre por eles.

Encontraste-os nos dias que se foram, perdidos na névoa das paixões, em sofrimentos atrozes; no entanto, receaste falar com eles a respeito da vida verdadeira.

Hoje, dominado por forte compaixão, exoras ao Senhor em favor deles.

Defrontaste-os, enquanto se demoravam no corpo denso, carregados de aflições; todavia, temeste que eles não te respeitassem os ideais, desconsiderando as tuas intenções.

Atualmente solicitas auxílio aos Numes Tutelares para que eles se recuperem e tenham paz.

Transitavam lado a lado contigo no caminho humano, dominado pela ignorância, mas pensaste que não te competia despertá-los do sono quimérico no qual vitalizavam ilusões.

Neste momento compreendes quanto eles sofrem e oras, emocionado, guardando a certeza de que a tua vibração os atingirá.

O que puderes fazer por eles, os nossos irmãos desencarnados, em sofrimento, faze-o.

Unge-te de contrição e amor e derrama do cálice dos teus sentimentos as vibrações puras que, em os alcançando, abrandarão suas ansiedades, lenirão suas feridas, diminuirão suas dores...

Oferece ao intercâmbio socorrista as tuas possibilidades medianímicas a fim de que sejam assistidos e medicados.

Ora por eles.

Pensa neles com carinho, considerando também o imperativo do teu retorno ao Mundo Espiritual onde agora se encontram.

* * *

Não te esqueças, porém, daqueles que estão na Terra reencarnados com necessidades imperiosas.

Uns renteiam contigo no lar, como verdugos da tua paz, obrigando-te a silêncios e renúncias em prol da harmonia doméstica.

Outros se encontram na oficina de trabalho como chefes ou subalternos, exigindo-te valiosos atestados de humildade.

Alguns estão ao lado dos teus amores, tratando-te com escárnio e zombaria, ferindo com estiletes de bem planejada impiedade os teus sentimentos nobres.

Diversos atropelam-te nas ruas, insidiosos e perturbados, malsinando tuas horas.

Vários distendem as mãos na tua direção, mendigando piedade...

Pensa nestes, os irmãos da caminhada física, necessitados do pão do teu exemplo e da lâmpada acesa da tua paciência.

Oferece-lhes a mensagem de esperança e alento com que a fé espírita te sustenta, com abnegação e sincero desejo de que sejam felizes, mesmo que eles não desejem seguir contigo nas linhas renovadoras por onde rumas.

Considera que necessitam de alguém que os ame no estado em que se encontram.

São nossos irmãos da retaguarda, que tiveram horas de amargura por culpa nossa e que o Senhor consentiu recomeçassem a experiência evolutiva ao nosso lado, a benefício nosso e em favor deles próprios.

Não esperes que desencarnem para que os ames ou ores por eles.

Ajuda-os desde já.

Possivelmente não te compreenderão nem deves esperar que te compreendam.

Aprendes, nas experiências socorristas através do concurso da mediunidade, que os náufragos de hoje no Além-Túmulo, já se encontravam perdidos desde antes de seguirem...

É verdade que Jesus atendeu os perseguidores do homem de Gadara com amor e severidade; socorreu, benigno, os obsessores do jovem epilético e, quanto possível, alongou sua mensagem aos atormentados que a morte colheu.

Todavia, o seu ministério de amor entre as criaturas da Terra foi exercido principalmente para aqueles considerados "irmãos difíceis" que terminaram por crucificá-lo, instigados embora por verdugos do Mundo Espiritual. No entanto, mesmo na Cruz foi para esses, os perseguidores e difíceis que Ele ofereceu a Sua mensagem de perdão como a ensinar-nos que as tarefas de redenção e amor, começa hoje e agora em nós e em torno de nós, no lar e em toda parte, ampliando-a até aqueles que partiram sem que saibamos onde e quando terminarão, porque espera Ele nos transformemos em "cartas-vivas" do seu Evangelho Redentor..

Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo P. Franco
Livro: Dimensões da Verdade - 10


25 outubro 2020

Educação para quê? - Jane Maiolo


EDUCAÇÃO PRA QUÊ?
A EDUCAÇÃO, SE BEM COMPREENDIDA, É A CHAVE DO PROGRESSO MORAL

A humanidade é, genuinamente, produtora de conhecimentos, desde os primórdios o homem procura solucionar problemas que afetariam sua sobrevivência senão utilizasse de seu bom gênio, da sua intuição, da sua inteligência.

A capacidade investigativa e criativa do homem possibilita-lhe sempre novos caminhos, novas descobertas, novas perspectivas.

Num cenário, propício a desenvolver as habilidades socioemocionais e sóciocognitivas, solidificado ao longo dos milênios, eis que surge a escola e consequentemente o professor.

Se a escola é um organismo vivo e complexo, cuja esperança é o currículo mais almejado, o professor é o oxigênio de todo esse corpo. Sentir-se professor é ter a lucidez da desconstrução contínua no momento histórico, líquido onde há de se reconstruir a cada instante.

O professor é o profissional cujo maior interesse é o aluno. É o aluno que interessa, que aprende, que avança, que cria, que inventa, que realiza, que lhe tira o sono, que lhe rouba a paz, que lhe impulsiona as mudanças e a aquisição de novos valores. Portanto, sem oxigênio o aluno não respira. O que seria o oxigênio se não tivesse função a cumprir? Certamente esse é um processo bilateral, aprende o aluno, mas também o professor. Talvez o professor saiba, sem saber, que a sua profissão lhe aproxima do amor ágape e que sua atuação deva ser um compêndio de valores e ações que contribuam para a transformação da sociedade tornando-a mais equilibrada, humana e socialmente justa, entretanto, educar para quê?

Notário aceitar que “a educação, se bem compreendida, é a chave do progresso moral, instrumento pelo qual a humanidade se renovará”, como afirmava o mestre lionês Hippolyte Léon Denizard Rivail.

Há décadas acompanhamos os sérios problemas dos desvios morais, do desequilíbrio no caráter e da ausência de valores elevados. O alto índice da violência como reflexo de uma sociedade sem inteligência racional, sem rumos e sem perspectivas progressistas demonstram como a revolução educacional é urgente.

Nas últimas três décadas 1,1 milhão de pessoas foram assassinadas no Brasil, o negro ainda hoje é sobre representado nos estratos sociais de mais baixa renda, o feminicídio ainda é crescente fortalecendo uma concepção de sociedade patriarcal. Relata o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) de 2013, que em 2012 foram notificados 50.617 casos de estupro no país.

O Brasil é um dos países mais violentos do planeta. A cada ano mais de 53 mil pessoas são assassinadas, outras 54 mil morrem em acidentes, inclusive os de trânsito, 12 mil se suicidam e 10 mil são fatalmente vitimados de forma violenta sem que o Estado consiga definir a causa do óbito. Educar pra quê?


Educação significa VIDA, vida que vale a pena preservar. Educar é parceria família e escola.

Valorizar o professor é questão de esperança nas futuras gerações. Que as políticas públicas possam contemplar o professor na sua identidade múltipla geradora de vida, sabedoria e esperança!

Os Homens, de boa vontade, se servirão de seu entendimento para iluminar os rumos da nossa Humanidade.

Referência:

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB , 2007- questão 917

https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/artigo/13/custo-da-juventude-perdida-no-brasil

 
Jane Maiolo

24 outubro 2020

A escravidão que não vemos no dia a dia - Espiritimo Comentado


 
A ESCRAVIDÃO QUE NÃO VEMOS NO DIA A DIA

Um tema que marcou profundamente a cultura brasileira e que podemos entender como uma “doença da sociedade” a ser tratada é a questão da escravidão. Como costuma acontecer, hoje nossa legislação proíbe o trabalho escravo, que vez por outra ainda sobrevive em rincões do país continental, mas a instituição da escravidão ainda está nas nossas mentes e é passada entre gerações.

Estou publicando esse texto no Espiritismo Comentado em homenagem a Bezerra de Menezes, que enquanto encarnado trabalhou pela abolição da escravatura, uma abolição que incluísse os escravos brasileiros na sociedade, e que após desencarnado continuou escrevendo sobre o tema. É uma questão muito cara ao cristianismo e ao espiritismo.

O Brasil é o país das Américas sem o “sonho americano”. Para a grande maioria dos brasileiros, o trabalho ainda não é a via promotora da ascensão e da independência do trabalhador. Um efetivo imenso de trabalhadores em nosso país recebe um salário tão ínfimo, e agora tão despido de garantias sociais, que não lhes permite manter uma família com um ou dois filhos, e quiçá até a si mesmo. O que causaria espanto nos países europeus ou na América do Norte, continua sendo visto como “natural” por um número majoritário dos brasileiros.

Ainda hoje há um grande efetivo de trabalhadores que são incapazes de se sustentar com seu próprio trabalho, legal e registrado e vivem em situação semelhante à vida nas senzalas. Com alimentação precária, sem instalações sanitárias mínimas, sem o direito à intimidade em função da precariedade do espaço, com acesso precário ao atendimento médico e dentário, muitos sem possibilidade de educação dos filhos ou acesso a instituições escolares tão aviltadas que são incapazes de assegurar a mínima formação cultural e profissional, sem direito efetivo à segurança e vivendo em relações de extrema violência.

A lei áurea data de 1888, mas a mentalidade escravagista, que acha natural que um trabalhador não se possa sustentar, não tenha capacidade de estudar, deva se contentar com um “bom patrão”, manteve diferenças absurdas em nossas leis, como uma espécie de trabalhador de “segunda linha”, os domésticos, que apenas em 2015 obtiveram direito a Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, adicional noturno, seguro-desemprego, entre outros direitos já assegurados a outras categorias de trabalhadores.

Uma grande massa de pessoas prefere as ruas das grandes cidades, lavando e “cuidando” de carros, vendendo objetos ou mesmo mendigando para viver e, talvez, recebam mais dinheiro que aqueles que trabalham.

Não bastasse esse país surreal, para não falar da criminalidade organizada e sua capacidade de recrutar jovens recém saídos da infância para as instituições do tráfico de entorpecentes e alucinantes, do furto e do roubo violento, ainda subsistem famílias e pequenas comunidades, em aglomerações sem acesso por estradas asfaltadas, em terras áridas ou improdutivas, em condições tão piores que as periferias e as ruas das grandes cidades, que alimentam continuamente os fluxos migratórios em busca, se bem sucedidos, da vida nas favelas ou nas ruas, que significa para eles algum avanço social. Esses têm ainda filhos sem acesso a postos de saúde, sem escolas, sem nada. Vivem sob o signo da esperança do socorro divino, quando têm o consolo de uma religião.

Enquanto tudo isso for visto como “normal” ou “natural” pelo brasileiro comum e, consequentemente, por seus representantes nos diversos órgãos de estado, continuaremos sendo escravagistas, mesmo depois da assinatura da lei áurea. Defenderemos a liberdade com as palavras, mas remuneraremos os que trabalham com valores tão mesquinhos que não assegurarão o mínimo: habitação, saúde, alimentação, educação e cultura. Enquanto não percebermos que toda pessoa humana tem direito a uma dignidade mínima e a viver com essa dignidade a partir de seu próprio trabalho, o tempo vai passar e continuaremos reproduzindo no Brasil a essência da antiga sociedade de senhores e escravos, considerada equivocadamente um mal do qual não se pode ficar livre em curto prazo, porque “as coisas sempre foram assim”.


23 outubro 2020

A Vida vale a pena – a Violência não - Vania Mugnato de Vasconcelos

 
A VIDA VALE A PENA - A VIOLÊNCIA NÃO

 
Para a pessoa que acredita em Deus pelos conceitos do cristianismo, o delito contra a vida própria ou de outrem, é igualmente crime contra as leis divinas e deve ser evitado – “não matarás”!

Sabemos que, conforme o censo 2010 do IBGE, no Brasil existem 86,6% de cristãos, o que faz presumir que 86,6% das pessoas cristãs também rejeitam o crime de morte – assassínio – e o suicídio. Será mesmo?

Segundo a Doutrina Espírita, tirar a vida é interromper a expiação ou missão dessa pessoa, sendo este um grande mal, pois cada um tem objetivos existenciais a cumprir que serão descontinuados ao se justiçar outrem por suas próprias mãos, ou eliminar a si mesmo.

Deus é justo e conhece todas as coisas, sabe a intenção recôndita de cada ato humano, pesando no julgamento da culpabilidade mais a intenção que a ação. Significa que não é apenas o ato que importa, havendo culpados aos olhos de Deus que são inocentes para os homens e vice-versa. E é importante lembrar que a lei de Deus é espiritual, as leis dos homens são materiais, uma não derroga a outra.

O homem é culpado quando comete crime contra outra pessoa e ,a não ser em caso de legítima defesa, não se justifica que ele viole o direito à existência de ninguém. Ainda assim, é imperativo que, sendo possível preservar a própria vida sem atentar contra a de quem agride, é o que se deve fazer.

Se em situação como a mencionada, de legítima defesa, é absolvido espiritualmente aquele que se defendeu, em outras situações não ocorrerá igual. Quanto menos se é constrangido pela força, mais responsável será o homem, especialmente quando agir com crueldade na realização de seus atos.

Também o suicídio deve ser rejeitado, o valor da vida independe de quem a pessoa é. Todas as experiências carnais geram aprendizado, entendimento, alteração de conduta e, ainda que inaplicado por imaturidade ou rebeldia, o que foi aprendido será utilizado um dia.

Para o Espiritismo a existência é oportunidade importantíssima que não deve ser desperdiçada. Vivendo um dia de cada vez, superaremos uma vida inteira sem precisar matar nem nos matar. Não quer dizer que seja simples ou fácil, mas que nosso esforço em prol da vida e da paz não será desvalorizado: todo vitorioso passou antes pelos sacrifícios pessoais que o transformaram na pessoa que venceu.

Vania Mugnato de Vasconcelos
Fonte: Kardec Rio Preto

22 outubro 2020

Sou Cristão, posso tecer críticas aos Políticos?


SOU CRISTÃO, POSSO TECER CRÍTICAS AOS POLÍTICOS?

Um assunto espinhoso é a chamada crítica.

Quem gosta de recebê-la? Ainda não ouvi quem goste, embora alguns já amadurecidos consigam filtrar e extrair pontos positivos sem se deixar abalar.

Emmanuel disse a Chico Xavier certa vez: Se as críticas são verdadeiras não reclame, se não são, nada de ligar para elas.

Boa orientação, mas para saber aplicá-la é preciso um tanto de sangue frio, de razão, de analisar a questão como se estivesse de fora. Eis ai um bom exercício para o progresso.

Mas por que falo da crítica? Abordo este tema por conta da crise que nosso país está enfrentando; crise moral, com desmandos, absurdos, corrupção e tantas outras situações que fazem corar o povo brasileiro.

Como proceder ante ao que está ocorrendo?

Como falar, discutir, argumentar, lutar pelos direitos e criticar sem faltar com a caridade cristã?

Complicado, porém, possível.

Para o cristão ainda mais complicado, porquanto Jesus recomendou o perdão, o não julgamento, o olhar o lado positivo das coisas.

Logo, sendo a Terra morada dos Espíritos imperfeitos fato é que muitos se sentem pouco à vontade para dar alguns “puxões de orelha” no semelhante.

Entretanto, vale lembrar que Jesus não se omitia diante das barbaridades de sua época. O mestre falava mesmo.

Ah, mas era Jesus… E ele podia fazer isso porque reunia condições morais para puxar a orelha de seus contemporâneos.

Digo a você que esse argumento é frágil. Naturalmente que estamos longe da natureza moral sublime de Jesus, todavia o fato de ainda sermos limitados não nos tira a possibilidade de enxergar inconvenientes e falar, criticar, argumentar.

Inconveniente, segundo os Espíritos, ver apenas o bem tapando os olhos para os absurdos.

Os Espíritos ensinam que é lícito repreender alguém desde que seja com fim útil e de forma moderada.

E onde está o problema?

O problema é que sempre queremos dar publicidade ao mal que os outros fazem, denegrindo o semelhante para que assim sejamos exaltados.

Todavia, ver apenas o bem e deixar as coisas como estão em omisso silêncio pode, também, ser configurado como falta de caridade.

E para ilustrar nosso texto deixo um fato que pude presenciar certa vez:

Um rapaz costumava apresentar-se aos clientes sempre com forte odor que exalava por baixo dos braços. Os colegas, constrangidos, nada diziam a ele, todavia quando o rapaz ausentava-se tome-lhe risadas e comentários nada caridosos. Eis que chegou alguém e o alertou sobre seu cheiro. Desde então ele corrigiu-se e passou a apresentar-se melhor. Suas vendas melhoraram, sua reputação cresceu, ele foi promovido a supervisor, de supervisor a gerente, de gerente a diretor… Neste caso o silêncio era pura omissão, e a repreensão tornou-se o gatilho que fez sua carreira ascender…

Vale pensar nisso, refletir no coletivo, conversar, discutir, falar sobre a situação do país e buscar alternativas para a melhoria de todos.

Deus observará nossa intenção, e se esta, mesmo quando tecermos críticas for a de dar nossa parcela de contribuição, sem o intuito de denegrir instituições ou pessoas, será sempre bem-vinda, pois gerará mudanças.

Wellington Balbo
Fonte: Espiritismo na Rede

21 outubro 2020

A Oração Curativa - Espírito Padre Eustáquio


A ORAÇÃO CURATIVA

A reunião da noite de 11 de novembro de 1954, trouxe-nos a confortadora visita do Espírito de Padre Eustáquio. Sacerdote extremamente consagrado ao bem, nosso amigo residiu, por alguns anos, em Belo Horizonte, onde, através de seu nobre coração e de sua mediunidade curadora, inúmeros sofredores encontraram alívio. Sempre rodeado por verdadeira multidão de infelizes, Padre Eustáquio foi o apóstolo das curas, das quais se ocuparam largamente os jornais de nosso País. E, continuando, além-túmulo, o seu ministério sublime, conforme a observação dos médiuns clarividentes de nosso grupo, compareceu às nossas preces acompanhado por uma pequena multidão de Espíritos conturbados e infelizes a lhe pedirem socorro.

O prezado visitante senhoreou as faculdades psicofônicas do médium com todas as características de sua personalidade, inclusive a mímica oratória e a voz que lhe eram peculiares quando encarnado. Sua alocução, de grande beleza para nós, em vista da simplicidade em que foi vazada, é portadora de expressivos apontamentos com respeito à oração.

Meus amigos...

Que a paz do Cristo permaneça em nossos corações, conduzindo-nos para a luz.

Fui padre católico romano, naturalmente limitado às concepções do meu ambiente, mas não tanto que não pudesse compreender todos os homens como tutelados de Nosso Senhor.

A morte do corpo veio dilatar os horizontes de meu entendimento e agora vejo com mais clareza a necessidade do esforço conjunto de todas as nossas escolas de interpretação do Evangelho, para que nos confraternizemos com fervor e sinceridade, à frente do Eterno Amigo.

Com esse novo discernimento, visito-vos o núcleo de ação cristianizante, tomando por tema a oração como poder curativo e definindo a nossa fé como dom providencial.

O mundo permanece coberto de males de toda a sorte.

Há epidemias de ódio, desequilíbrio, perversidade e ignorância, como em outro tempo conhecíamos a infestação de peste bubônica e febre amarela.

Em toda parte, vemos enfermidades, aflições, descontentamentos, desarmonias...

Tudo é doença do corpo e da alma.

Tudo é ausência do Espírito do Senhor.

Não ignoramos, porém, que todos temos a prece à nossa disposição como força de recuperação e de cura.

É necessário orientar as nossas atividades, no sentido de adaptar-nos à Lei do Bem, acalmando nossos sentimentos e sossegando nossos impulsos, para, em seguida, elevar o pensamento ao manancial de todas as bênçãos, colocando a nossa vida em ligação com a Divina Vontade.

Sabemos hoje que outras vibrações escapam à ciência terrestre, além do ultravioleta e aquém do infravermelho.

À medida que se desenvolve nos domínios da inteligência, compreende o homem com mais força que toda matéria é condensação de energia.

Disse o Senhor: -“Brilhe vossa luz” - e, atualmente, a experimentação positiva revela que o próprio corpo humano é um gerador de forças dinâmicas, constituído assim como um feixe de energias radiantes, em que a consciência fragmentária da criatura evolui ao impacto dos mais diversos raios, a fim de entesourar a Luz Divina e crescer para a Consciência Cósmica.

Vibra a luz em todos os lugares e, por ela, estamos informados de que o Universo é percorrido pelo fluxo divino do Amor Infinito, em freqüência muitíssimo elevada, através de ondas ultracurtas que podem ser transmitidas de espírito a espírito, mais facilmente assimiláveis por intermédio da oração.

Cada aprendiz do Evangelho necessita, assim, afeiçoar-se ao culto da prece, no próprio mundo íntimo, valorizando a oportunidade que lhe é concedida para a comunhão com o Infinito Poder.

Para isso, contudo, é indispensável que a mente e o coração da criatura estejam em sintonia com o amor que domina todos os ângulos da vida, porque a lei do amor é tão matemática como a lei da gravitação.

Mentalizemos a eletricidade, por exemplo, na rede iluminativa. Caso apareça qualquer hiato na corrente, ninguém se lembrará de acusar a usina, como se o fluxo elétrico deixasse de existir. Certificar-nos-emos sem dificuldade de que há um defeito na lâmpada ou na tomada de força.

Derrama-se o amor de Nosso Senhor Jesus Cristo para todos os corações, no entanto, é imprescindível que a lâmpada de nossa alma se mostre em condições de receber-lhe o Toque Sublime.

Os materiais que constituem a lâmpada são apetrechos de exteriorização da luz, mas a eletricidade é invisível.

Assim também, nós vemos o Amor de Deus em nossas vidas, por intermédio do Grande Mediador, Jesus Cristo, em forma de alegria, paz, saúde, concórdia, progresso e felicidade; entretanto, acima de todas essas manifestações, abordáveis ao nosso exame, permanece o invisível manancial do Ilimitado Amor e da Ilimitada Sabedoria.

Usando imagens mais simples, recordemos o serviço da água no abrigo doméstico. Logicamente, as fontes são alimentadas por vivas reservas da Natureza, mas, para que a água atinja os recessos do lar, não prescindiremos da instalação adequada. A canalização deve estar bem disposta e bem limpa.

Em vista disso, é necessário que todas as atitudes em desacordo com a Lei do Amor sejam extirpadas de nossa existência, para que o Inesgotável Poder penetre através de nossos humildes recursos.

O canal de nossa mente e de nosso coração deve estar desimpedido de todos os raciocínios e sentimentos que não se harmonizem com os padrões de Nosso Senhor.

Alcançada essa fase preparatória, é possível utilizar a oração por medida de reajuste para nós e para os outros, incluindo quantos se encontram perto ou longe de nós.

Ninguém pode calcular no mundo o valor de uma prece nascida do coração humilde e sincero diante do Todo Misericordioso.

Certamente as tinturas e os sais, as vitaminas e a radioatividade são elementos que a Providência Divina colocou a serviço dos homens na Terra. É também compreensível que o médico seja indispensável, muitas vezes, à cabeceira dos doentes, porque, em muitas situações, assim como o professor precisa do discípulo e o discípulo do professor, o enfermo precisa do médico, tanto quanto o médico necessita do enfermo, na permuta de experiência.

Isso, porém, não nos impede usar os recursos de que dispomos em nós mesmos. E estejamos convictos de que, ligando o fio de nossa fé à usina do Infinito Bem, as fontes vivas do Amor Eterno derramar-se-ão através de nós, espalhando saúde e alegria.

Assim como há lâmpadas para voltagens diversas, cada criatura tem a sua capacidade própria nas tarefas do auxílio.

Há quem receba mais, ou menos força.

Desse modo, conduzamos nossa boa vontade aos companheiros que sofrem, suplicando a Infinita Bondade em favor de nós mesmos.

É indispensável compreender que a oração opera uma verdadeira transfusão de plasma espiritual, no levantamento de nossas energias.

Se nos sentimos fracos, peçamos o concurso de um companheiro, de dois companheiros ou mais irmãos, porque as forças reunidas multiplicam as forças e, dessa forma, teremos maiores possibilidades para a eclosão do Amparo Divino que está simplesmente esperando que a nossa capacidade de transmissão e de sintonia se amplie e se eleve, em nosso próprio favor.

Mentalizemos o órgão enfermo, a pessoa necessitada ou a situação difícil, à maneira de campos em que o Divino Amor se manifestará, oferecendo-lhes nosso coração e nossas mãos, por veículos de socorro, e veremos fluir, por nós, os mananciais da Vida Eterna, porque o Pai Todo-Compassivo e Jesus Nosso Senhor nunca se empobrecem de bondade.

A indigência é sempre nossa.

Muitos dizem "não posso ajudar porque não sou bom", mas, se já fôssemos senhores da virtude, estaríamos noutras condições e noutras esferas.

Consola-nos saber que somos discípulos do bem e, nessa posição, devemos exercitá-lo.

Movimentemos a boa vontade.

Não temos ainda as árvores da generosidade e da compreensão, da fé irrepreensível e da perfeita caridade, mas possuímos as sementes que lhes correspondem.

E toda semente bem plantada recolhe do Alto a graça do crescimento.

Assim, pois, para que tenhamos assegurado o êxito da nossa plantação de qualidades superiores, é preciso nos disponhamos a fazer da própria vida um canal de manifestação do Constante Auxílio.

Todos temos provas, dificuldades, moléstias, aflições e impedimentos, contudo, dia a dia, colocando nosso espírito à disposição do Divino Amor que flui do centro do Universo para todos os recantos da vida, desenvolver-nos-emos em entendimento, elevação e santificação.

Trabalhemos, portanto, estendendo a oração curativa.

A vossa assembléia de socorro aos irmãos conturbados na sombra é uma exaltação da prece desse teor, porque trazeis ao vosso círculo de serviço aquilo que guardais de melhor e contais simplesmente com o Divino Poder, já que nós, de nós mesmos, nada detemos ainda de bom senão a migalha de nossa confiança e de nossa boa-vontade.

Em nome do Evangelho, sirvamos e ajudemos.

E que Nosso Senhor Jesus Cristo nos assista e abençoe.

Pelo Espírito Padre Eustáquio
Psicografia de Francisco Cândido Xavier
Livro: Instruções Psicofônicas. Lição nº 36 Página 167

20 outubro 2020

Sobre abortos e abortos - Marcelo Teixeira


SOBRE ABORTOS E ABORTOS


Júlia foi minha colega de trabalho. Quando ela ingressou na empresa, estava vindo de uma fase de desemprego. Meses depois, ela engravidou do quarto filho, que nasceu em novembro, lembro até hoje. Após a licença-maternidade, voltou com mil histórias para contar sobre a menina que tinha nascido para dar mais cor à vida dela, do marido e dos três filhos mais velhos – duas meninas e um menino.

Certa vez, quando almoçávamos juntos, ela me perguntou sobre a visão espírita do aborto. Disse, então, que o aborto não convinha porque o espírito se liga ao feto no momento em que óvulo e espermatozoide se encontram, que já há vida plena no embrião etc. Júlia, então, para o meu espanto, começou a chorar. E de remorso. Motivo: ela havia feito um aborto na época em que estava desempregada. Detalhe: o marido também estava sem trabalho. Desesperados, com orçamento apertado e três filhos para criar, acabaram optando pela interrupção da gravidez do quarto rebento. Disse a ela para ficar tranquila. Afinal, tempos depois de ela e o marido terem voltado a trabalhar, engravidara novamente e tivera a criança. A meu ver, os amigos espirituais haviam compreendido o sufoco material que a família atravessava e resolveram dar uma chance até a situação se recompor. Como ambos já estavam reinseridos no mercado de trabalho, nova gravidez acontecera e aquele espírito que tanto queria reencarnar havia tido o tão esperado ensejo. Ao saber disso, Júlia compreendeu a grandeza das leis de amor que regem o universo, respirou aliviada e almoçou em paz. E até onde eu percebera, dera adeus ao remorso.

Clarice estava grávida do primeiro filho. Quarto decorado, enxoval comprado. Seria também o primeiro neto de ambos os lados do casal. Por isso, os pais, os sogros, os irmãos e os cunhados de Clarice enchiam-na de mimos. Só que o menino nasceu com sérios problemas e durou pouquíssimas horas. Luto na família! Frustração geral! Clarice entrava no quartinho que seria do bebê e começava a chorar. Só que, em dado momento, deu-se conta que estava viva, era moça, tinha um marido e uma carreira e seguiu adiante, na certeza de que engravidaria novamente. E engravidou! Só que, por volta do terceiro mês, teve rubéola, doença que costuma acarretar malformações no feto, microcefalia, surdez, cegueira… Alguns familiares começaram a falar em aborto. Clarice e o marido, no entanto, resolveram dar uma chance à criança. Ela viria ao mundo e seria amada do jeito que viesse! E nasceu uma menina com uma anomalia mínima: um dedo faltando em uma das mãos. Somente isso! Depois dela, o casal teve mais dois filhos. A primogênita, hoje, é uma profissional liberal e mãe de família. E quase ninguém percebe que ela tem quatro dedos na mão esquerda. Ou será na direita? Nem sei, pois nunca prestei atenção!

Valéria tinha dois anos de casada quando o marido precisou viajar para o exterior a trabalho. Anos 60 do século XX, muitas novidades acontecendo pelo mundo. O marido estava em ascensão na empresa, e o ensejo de passar seis meses na matriz, na Europa, faria com que ele voltasse ocupando um cargo melhor, o que seria ótimo para a vida do casal.

Só que, um mês após a viagem, Valéria foi assaltada e estuprada. E descobriu-se grávida tempos depois! Apesar de estarmos na década dos hippies, dos Beatles e afins, a tradicional família brasileira de então jogava (e ainda joga) a culpa na mulher. Os pais e sogros de Valéria eram bem rígidos, e ela não contara a ninguém que havia sido estuprada, tamanha a vergonha! Como contar agora que engravidara! Como explicar ao marido o ocorrido quando ele retornasse? Como justificar a barriga de grávida que fatalmente apareceria? Ele acreditaria que a esposa havia sido vítima de um assalto seguido de estupro? Como provar?

Desesperada e sozinha, Valéria recorreu ao aborto. Apesar do procedimento agressivo e traumático, respirou aliviada. Tempos depois de o marido ter regressado, Valéria engravidou da primeira filha. Um menino e outra menina vieram nos anos subsequentes. Quando Valéria contou essa história ao marido, ambos já estavam na casa dos 50 anos. Abraçaram-se emocionados, e ele entendeu perfeitamente a dor, a angústia e a solidão pelas quais a amada passara. Seguiram felizes, com o amor fortalecido.

A gravidez de primeira viagem havia chegado para Marisa. Muita esperança e alegria entre ela e o amado. Jovem e professora de educação física, ela sabia o que era preciso para manter o corpo saudável. Por isso, exercitava-se e mantinha uma alimentação balanceada. Tudo para manter a própria saúde e a do bebê. Subitamente, aos três meses de gravidez, Marisa teve um sangramento intenso. A família correu com ela para o hospital, mas não teve jeito. Aborto espontâneo.

A vontade que Marisa sentiu nos primeiros dias depois da alta hospitalar foi de nunca mais sair de casa. Queria ficar no quarto, deitada. As forças lhe faltavam. Incentivada pela família e amigos, ela foi retomando o ritmo das atividades e recuperou a alegria de viver. Ao comentar comigo o acontecido, observou que a iminência da perda do filho fora, até então, a dor mais aguda que sentira. E completou: – Se eu, que sofri um aborto espontâneo, experimentei uma agonia indescritível a caminho do hospital, fico imaginando a dor moral pela qual passa a mulher que se dirige rumo a um aborto decidido por ela própria. Um aborto que ela fará por estar sozinha, desesperada, sem condições de criar a criança, pressionada ou abandonada pelo companheiro. Nenhuma mulher que tomou a decisão de fazer um aborto encara o procedimento como se fosse uma cirurgia corriqueira. A dor moral que senti ante o aborto espontâneo que sofri foi intensa, mas a dor que uma mulher que opta pela interrupção proposital da gravidez deve ser bem pior. Pensei, então, com os meus botões: – Ainda mais se levarmos em conta o local e as condições em que tudo é feito.

Estas são apenas quatro histórias que mostram como é complexa para a mulher a questão do aborto. Mostram também, como já observado em outro artigo de minha autoria, que um aborto nunca é igual a outro. Por isso, não dá para analisá-los sob a mesma ótica. Muito menos julgá-los.

Se para nós, míseros humanos imortais, essa premissa precisa prevalecer, imaginem para Deus, que é amor, conforme a bela e exata definição do apóstolo João. Se Deus é amor, ele não condena, não julga, não discrimina, não castiga. Nem perdoar ele perdoa, pois, para perdoar, ele precisa ter se ofendido. Mas como Deus não é uma pessoa, e sim uma força maior que não cabe dentro da estreiteza do nosso raciocínio, ele apenas ama!

A Providência Divina, uma espécie de sistema operacional do Criador, entendeu a angústia de Júlia e lhe possibilitou, em nova gravidez, receber a menina que fora abortada porque ela e o marido estavam em situação difícil. Também consolou Clarice quando da perda do primeiro filho e incentivou-a a levar a segunda gravidez a termo. Também deu a mão à Valéria no momento de decisão tão difícil, entendendo-lhe os motivos e possibilitando, mais adiante, o ensejo de ter três filhos com o homem que amava. E finalmente, amparou Marisa no momento do aborto espontâneo e deu-lhe forças para reerguer-se, preparando-a, futuramente, para ser mãe.

Deus age de forma diferente por diversas formas e circunstâncias. Conhece nossas forças e fraquezas, ampara-nos nos momentos de dor, entende nossas limitações e nos dá o ensejo de refazermos a jornada.

Por mais duras que sejam as críticas dos homens e os preceitos dessa ou daquela religião acerca do aborto, tenhamos em mente que Deus conhece intimamente cada um de nós. E que, quando muitos nos apedrejam e nos ferem, é ele que nos abraça e restaura nossas forças.


19 outubro 2020

Meu pai me visitou após desencarnar - Lourdes Coutinho


MEU PAI ME VISITOU APÓS DESENCARNAR


Fui visitada pelo meu pai 19 dias depois de desencarnado. Ele faleceu sem ver minha filha, que nasceu dias antes de sua morte.

Nesse dia, chegou uma conta de energia com valor absurdo, e eu logo pensei: “Só foi o papai morrer que começaram os problemas.”

Às onze da noite, minha bebê começou a chorar muito. Tirei-a do quarto para que meu marido pudesse dormir. Já na sala, com a luz acesa, tv ligada e a bebê no colo, vi meu papai entrar na sala normalmente: “Você não pensou que eu fosse sem ver minha neta, né?”

Naquele momento, tudo me pareceu normal. Vi como se ele a pegasse no colo, a olhasse, dizendo: “Que perfeição! Deus é maravilhoso”. Brincou com ela, que sorria pra ele, tendo poucos dias de vida.

Então ele me disse para mandar meu marido olhar a tomada do quarto que estava com fio descascado, “roubando” energia.

Ele disse que já ia, porque iria passar na casa da minha irmã, que morava nos fundos de casa, dizendo que precisava avisá-la para parafusar a fechadura da porta de entrada, que estava quase toda desparafusada, colocando em risco.

Ele beijou-me e saiu para a cozinha. Quando cheguei ali não vi meu pai, a porta estava fechada. Só aí me lembrei que ele havia morrido.

Enquanto voltava pra sala, pensei que pudesse ser sonambulismo.

Mas lembrei-me dele ter falado de ir na minha irmã. Então fiquei esperando clarear o dia, e na primeira luz que observei, saí. Eu estava confusa e pensando: “Como é que meu pai estava com uma blusa que não era dele e sim do meu primo já falecido?”

Chegando na casa da minha irmã, eu a encontro puxando o portão, rumo à minha casa. Percebi que ela também estava confusa, então eu disse: “Você não sabe o que me aconteceu” e ela disse: “Sei sim”.

Perguntei, pra confirmar, e ela me confirmou a roupa que ele estava.

Adentramos a sua casa, olhamos a porta e realmente estavam faltando parafusos na fechadura.

No abraçamos e choramos muito. Passamos o dia assim, falando, chorando, rindo, falando muito de papai.

Quando foi à noite, à procura de explicação, fui a uma casa kardecista e falei para pessoa que dirigia a casa o que tinha acontecido e percebi que esse senhor não acreditou. Fiquei chateada, quando ele me disse que era difícil encontrar na literatura espírita uma história como eu contava, com tanto pouco tempo, apenas 19 dias, de meu pai ter desencarnado.

Isso tudo aconteceu há 37 anos. Cerca de 5 anos atrás, eu, trabalhando num salão de cabeleireira, vejo passar na porta do salão esse senhor, seu Toninho. Eu vi que ele estava indo para casa ao lado, onde havia uma frequentadora da casa espiritual dele. Como eu sabia que ela não estava, fui ao seu encontro, para perguntar se ele queria deixar recado…

Quando abri a porta de vidro para falar, não vi mais ele. Quando a tal vizinha chegou, fui logo informando que seu Toninho havia lhe procurado. Completamente surpresa, ela me disse:

“Deixa de brincadeira; seu Toninho morreu há 15 dias”.

Entendi que o seu Toninho me apareceu para se retratar e para que eu divulgasse o fato, pois se ele na época não sabia de relatos de visitas de espíritos com 19 dias de desencarnados, agora eu tinha. E um fato que aconteceu com até menos tempo, apenas 15 dias de desencarnação.

Grata pelo espaço. Divulgar me fez bem. Estou me sentindo liberta. Paz de Deus a todos.

Lourdes Coutinho
Fonte: Correio Fraterno

18 outubro 2020

Intenção Predominante - Orson Peter Carrara


INTENÇÃO PREDOMINANTE


Afirma Cairbar Schutel em seu Preâmbulo, no livro Parábolas e Ensinos de Jesus (de 1928): “(…)

A intenção predominante de Jesus, não cansemos de repeti-lo, foi libertar os homens do jugo do dogma e excluir dos corações o espírito da dúvida que obsidia os relutantes, os indecisos e os que não sabem donde vieram, quem são e para onde vão (…)”.

Dogmas e espírito de dúvida realmente aprisionam, condicionam, resultando em lamentáveis fatos. Libertar-nos de tais prisões emocionais e psicológicas – normalmente decorrentes de dogmas e espírito de dúvida – significa serenidade e compreensão para os altos objetivos da vida. Saber quem somos, de onde viemos e para onde vamos, altera completamente o panorama e a perspectiva de nossos dias. A convicção firmada no raciocínio e na reflexão vai gradativamente construindo ambientes de serenidade, exatamente pela compreensão que traz.

Interessante observar a atualidade da observação na afirmação de Schutel: “excluir dos corações o espírito da dúvida que obsidia os relutantes, os indecisos, os que não sabem… “. Essencial essa providência, pois que a dúvida alimentada obsidia mesmo, causando variados transtornos no entender do processo de viver e aprender. Muito mais seguro prosseguir quando sabemos as razões de seguir adiante.

No texto, pois, do citado livro, de onde retiramos a afirmação, as considerações do autor são valiosas, pois que demonstra em poucos parágrafos o esforço de Jesus nessa direção: libertar da ignorância, romper os prejuízos dos condicionamentos causados pela limitação da visão humana.

E isso foi seguido por aqueles que o compreenderam e continua despertando continuamente outras almas para esse exato sentido da vida: não somos o corpo, esta é uma experiência temporária. Somos imortais, rumo aos grandes anseios da evolução. Sugiro ao leitor reler o citado e rico Preambulo.

Orson Peter Carrara
Fonte: Kardec Rio Preto

17 outubro 2020

Impedimentos - Joanna de Ângelis


IMPEDIMENTOS


No exercício mediúnico serás surpreendido por dificuldades e óbices que te impedem a ascensão, ao desejares evoluir.

Obstáculos do personalismo destruidor e empeços do egoísmo avassalante surgem a todo instante.

Dificuldades que te ferem os pés, a brotarem do solo; compromissos que te prendem ao porto de necessidades vigorosas, repontando dos recônditos íntimos.

Além desses, defrontarás, ainda, outros mais difíceis de serem vencidos.

Adversários do passado que te falarão a sutil e terrível linguagem da obsessão, através de intuições negativas, tentarão semear dúvidas, para que percas a coragem na luta.

Por meio de pensamentos cruéis, serás perturbado na estabilidade emocional, para que te detenhas na jornada evolutiva.

Em processos de inspiração negativa se utilizarão de idéia infeliz e pertinaz, ferindo-te os sentimentos, a fim de que te desiludas, em relação aos companheiros da seara onde mourejas...

Experimentarás, também, a incompreensão dos que te partilham as idéias, atormentados em si mesmos, que te verão através das lentes que elaboram para uso próprio.

Zombadores malsinantes se farão perseguidores gratuitos em vestes amigas, conservando no semblante o sorriso de acolhimento fraterno, enquanto escarnecem.

E dos que transpuseram a aduana da morte, sofrerás vibrações inferiores, os projéteis vigorosos dos pensamentos deles; deles registrarás o assédio constante, despertando em círculo de fogo no qual tua resistência poderá baquear.

* * *

Não te detenhas, porém. É necessário seguir adiante.

Se os obstáculos se demoram em ti mesmo, clareia a alma com a labareda da fé. Acende no coração a flama do culto ao dever e, genuflectindo-te intimamente, confia na Providência Divina, que está edificando o mundo novo com o barro deficitário da criatura humana.

Se os óbices repontam através dos companheiros atormentados, detém-te um pouco a meditar para prosseguir e realiza, outra vez, o exercício da oração e da paciência.

Não te agastes com eles, acionando a lâmina ferinte da língua, revidando os golpes recebidos. Lembra-te de que também eles são afligidos do caminho.

Imprescindível que evoluas para que outros evoluam através do teu exemplo.

Se apesar disso identificares nas tuas dores a força rude dos perseguidores desencarnados, procura, ainda uma vez mais, o santuário da prece e refugia-te na oração.

A oração é combustível excepcional para o lume da vida.

Vítima de hoje, algoz de ontem.

Filho rebelde de agora, pai descuidado do passado.

Cada um é herdeiro dos próprios atos...

Alegra-te e transforma tuas dores em oportunidade de meditação para eles, os teus perseguidores, conduzindo o teu fardo, na mediunidade – essa porta de luz – dignificando a consciência, a fim de galgares o monte da tua sublimação com nobreza, e poderes chegar aos braços da vida harmoniosa.

* * *

Aquele que serve ao Senhor, carregando a cruz da mediunidade encontra, a cada instante, justos e necessários motivos de provação e dor... Não é lícito, por isso, esquecer que, desdenhado, perseguido e vitimado pela impiedade, o Mestre Divino, plantado numa cruz, transformou esse instrumento de aflição e insulto em escada, através da qual estabeleceu a ponte de luz entre o mundo físico e o mundo espiritual.

.... “— E porque abundará a iniqüidade, a caridade de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar, até ao fim, se salvará”, — ensina com segurança o Senhor, consoante as anotações de Mateus, no Capítulo 24, versículos 12 e 13. Persevera, lutando contra os impedimentos e servindo, sejam quais forem as dores que defrontes.

Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo P. Franco
Livro: Dimensões da Verdade - 5