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31 dezembro 2009

Templo Vivo - Agar

Templo Vivo

É uma felicidade encontrar o reduto dos trabalhadores operantes do Espiritismo.

Que dizer duma comunidade de abelhas consagradas ao perene descanso na colméia? De árvores que florescessem verdejantes, mas sem frutos? De fontes abertas, todavia sem água que traduza socorro ativo aos sedentos?

Não suportamos que nós, os desencarnados, estejamos repousando em calmaria destruidora. O nosso esforço é ingente, o trabalho é incessante. Temos, também, em todas as direções de nossa luta, os centros espirituais de serviço aos semelhantes. Nossos agrupamentos, contudo, não se restringem aos incensos da adoração e, sim, estendem-se a tarefas eficientes e seguras, nas quais, qual acontece num conjunto musical, cada companheiro é um instrumento adequado à harmonia do todo e cada coração é ferramenta bendita para que a vontade de Jesus se manifeste. Aqui temos, pois, uma demonstração dos templos de fé viva no futuro mundo.

Cada crente é colaborador vivo da obra do Mestre Divino. Este usa a palavra para a edificação coletiva, outro emprega as mãos fraternas no auxílio curativo, enquanto outros se utilizam de forças benéficas e salutares para a transmissão dos valores espirituais de planos mais altos.

Trabalhemos assim, meus amigos, conscientes de que o Espiritismo Cristão é processo renovado com Jesus, escola para ensinar, casa de produção incessante do bem e sementeira viva de bênçãos e luzes, em que todos nós, individualmente, podemos contribuir com a nossa parte na construção do Reino de Deus na Terra.

O porvir acena-nos à frente, induzindo-nos para o Alto. A fé sem obras congela o pensamento e determina a anestesia temporária do espírito.

O serviço é a alma de nossas organizações que se dirigem para o mundo regenerado, com vistas à vida eterna. Jesus é o Senhor da Verdade e do Bem, é o Príncipe da Paz e o Salvador dos Homens. Entretanto, é também o Trabalhador Divino de pá nas mãos, limpando a eira do mundo. E se não sabemos, ainda, dentro de nossa insignificância, ligar-nos ao Supremo Orientador do Planeta, através da Verdade que ainda não conquistamos inteiramente, do Bem que ainda não sabemos praticar com a perfeição desejada e da Paz que ainda não sabemos preservar em nós mesmos, busquemo-lo por intermédio do trabalho no bem, porque o serviço é o caminho aberto a todas as criaturas, desde o verme até o anjo, na direção de Deus.


Por: Agar
Do livro: Nosso Livro
Médium: Francisco Cândido Xavier - Espíritos Diversos

30 dezembro 2009

Familiares - Néio Lúcio

Familiares

Enquanto aguardava o médico, Tia Eunice, em determinado instante, avisou-me de que iria ao interior buscar os familiares, e saiu, deixando-me entregue aos pensamentos novos que me invadiam a cabeça.

Decorridos alguns minutos, abriu-se a porta e nossa tia chegou acompanhada por outras pessoas.

A princípio, julguei que fossem muitas, mas eram duas apenas – vovó Adélia e primo Antoninho.

Vovó prendeu-me atenção ,mais fortemente. Não estava trêmula, nem curvada. Pareceu-me muito mais moça, alegre e forte. Seus olhos, serenos e lúcidos, irradiavam aquela mesma bondade de outros tempos.

A surpresa de vê-la, junto de mim, enchia-me de encantamento e satisfação.

Que alívio!

Lembra-se de quando vovó se retirou da residência, muito mal, para casa de saúde?

Desde então, jamais a vimos.

Mamãe anunciou-nos então a morte da santa velhinha, sem permitir que a seguíssemos, na grande viagem que a levou a efeito para a derradeira visita.

Freqüentemente, ambos comentávamos as grandes saudades que nos deixara vovó. Ela sempre nos assistira com excessiva ternura. Dominava-nos com amor e bondade. Perdoava-nos todas as faltas. Poderá você aliviar a alegria que senti, vendo-a aproximar-se?

Ao lado dela, estava Antoninho, que reconheci, de pronto. Nosso primo havia igualmente “morrido”, em hospital distante de nós. Pousou os olhos afetuosos e doces em mim, tranqüilizando-me o coração...

Verdadeira torrente de perguntas atravesso-me o cérebro naqueles momentos rápidos.

Muitas vezes ouvira dizer, aí na Terra, que após a morte do corpo seríamos conduzidos ao Céu ou ao Inferno. O que eu via, porém, era a continuação da paisagem familiar, querida e confortadora. Vovó, Tia Eunice e Antoninho estavam ali, mais vivos que nunca, diante de mim, desfazendo nosso velho engano de que houvessem desaparecido para sempre na morte.

Nossa carinhosa velhinha e o primo abraçaram-me, sorridentes.

Vovó chorou de alegria ao beijar-me, aconchegando-me ao colo, como antigamente.

Perguntou-me por todos. Lamentou não ter podido acompanhar minha vinda, no que foi substituída por Tia Eunice, e declarou que visitaria mamãe na primeira oportunidade. Indagou, bondosa, se você e eu ainda éramos aqueles mesmos pequenos endiabrados que lhe escondiam os óculos para ganhar brinquedos e merendas.

Amparando-me nos braços de vovó, tão carinhosa e tão boa, senti muitas saudades de mamãe e chorei bastante.

Nossa querida velhinha, porém, consolou-me, explicando que, um dia, mamãe e vocês virão também para o nosso novo lar.

Por: Néio Lúcio
Do livro: Mensagens do Pequeno Morto
Médium: Francisco Cândido Xavier

29 dezembro 2009

E a tormenta cessou ... - Momento Espírita

E a tormenta cessou ...

Em uma passagem do Evangelho, narra-se que os Apóstolos se encontravam em um barco, em plena tempestade.

No meio do mar, a embarcação era açoitada pelas ondas e por fortes ventos.

Em dado momento, Jesus, que estava orando em um monte, dirigiu-se para junto dos Apóstolos, andando sobre as águas.

Os Apóstolos se assustaram muito, até que o Cristo os tranquilizou.

Pedro pediu que Jesus o fizesse ir até Ele, por sobre as águas.

O Mestre assentiu e o chamou.

Pedro começou a andar sobre o mar, mas teve medo e principiou a afundar.

Jesus estendeu a mão e o socorreu, lamentando a pequenez da fé do pescador.

Quando o Messias subiu no barco, o vento acalmou.

Essa passagem evangélica possui extrema beleza e profunda significação.

À parte o inegável poder de Jesus sobre os elementos, pode-se fazer uma leitura focada no poder transformador de Sua mensagem.

No mundo, as criaturas padecem vergastadas pelo vendaval das suas paixões.

Muitas contraem variadas enfermidades pelo descontrole no comer e no beber.

Outras sucumbem aos tóxicos de variadas nomenclaturas.

Há quem perca a dignidade no desregramento sexual.

São incontáveis os vícios e grandes os prejuízos que causam.

Gula, vaidade, egoísmo, crueldade, desonestidade e destemperanças as mais diversas ensejam funestas consequências.

Muitas das criaturas que se infelicitam, realmente gostariam de viver com dignidade e todas desejam ser felizes.

Embora alguns desatinos pareçam sedutores, cedo ou tarde mostram seu lado amargo.

O problema é que muitos se afirmam frágeis em excesso para vencer suas más tendências.

Não é possível ser ingênuo e imaginar que a renovação moral se dê por um passe de mágica.

Maus hábitos cristalizados por longo tempo não somem apenas porque a criatura decidiu mudar.

Entretanto, a renovação é sempre possível e corre por conta da perseverança de quem a deseja.

Nessa luta contra as trevas internas, surge a importância da fé.

Pedro afundou por duvidar, conforme assentou o Cristo.

Então, importa acreditar firmemente que a retificação da própria realidade espiritual é possível.

Talvez hajam algumas quedas, mas a crença no sucesso necessita estar sempre presente.

Essa crença será tão mais efetiva quanto mais se baseie nas propostas do Cristo.

A vivência da fraternidade, da esperança e da pureza constitui o maior antídoto contra as ilusões do mundo.

Quando Jesus realmente adentra o barco da vida de alguém, cessam as tormentas das paixões.

Surge a paz, não como um privilégio, mas como consequência natural de uma vida digna.

Pense nisso.

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 3, do livro A mensagem do Amor Imortal, pelo Espírito Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.

28 dezembro 2009

Um Homem chamado Jesus - Momento Espírita

Um Homem chamado Jesus

Certa vez, um Espírito Sublime deixou as estrelas, revestiu-Se de um corpo humano e veio habitar entre os homens.

Porque fosse um exímio artista plástico, habituado a modelar as formas celestes, compondo astros e globos planetários, tomou da madeira bruta e deu-lhe formas úteis.

Durante anos, de Suas mãos brotaram mesas e bancos, onde amigos e irmãos se assentavam para repartir o pão.

Para receber os seus corpos cansados, ao final do dia, Ele preparou camas confortáveis e, porque amasse a todos os seres viventes, não esqueceu de providenciar cochos e manjedouras onde os animais pudessem vencer a fome.

Porque fosse artista de outras artes, certo dia deixou as ferramentas com que moldava a madeira, e partiu pelas estradas poeirentas.

Tomou do alaúde natural de um lago, em Genesaré, e ali teceu as mais belas canções.

Seu canto atraía crianças, velhos e moços. Vinham de todas as bandas.

A entonação de Sua voz calava o choro dos bebês e as dores arrefeciam nos corações das viúvas e dos desamparados.

As harmonias que compunha tinham o condão de secar lágrimas e sensibilizar corações endurecidos.

Como soubesse compor poemas de rara beleza, subiu a um monte e derramou versos de bem-aventuranças, que enalteciam a misericórdia, a justiça e o perdão.

Porque Sua sensibilidade Se compadecia das dores da multidão, multiplicou pães e peixes, saciando-lhe a fome física.

Delicado na postura, gentil no falar, por onde passava deixava impregnado o perfume de Sua presença.

Possuía tanto amor que o exalava de Si aos que O rodeassem. Uma pobre mulher enferma tocou-Lhe a barra do manto e recebeu os fluidos curadores que lhe restituíram a saúde.

Dócil como um cordeiro, abraçou crianças, colocou-as em Seus joelhos e lhes falou do Pai que está nos céus, que veste a erva do campo e providencia alimento às aves cantantes.

Enérgico nos posicionamentos morais, usou da Sua voz para o discurso da honra, defendendo o templo, a casa do Pai, dos que desejavam lesar o povo já por si sofrido e humilhado.

Enalteceu os pequenos e na Sua grandeza, atentava para detalhes mínimos.

Olhou para a figueira e convidou um cobrador de impostos a descer a fim de estar com Ele mais estreitamente.

Acreditavam que Ele tomaria um trono terrestre e governaria por anos, com justiça.

Ele preferiu penetrar os corações dos homens e viver na sua intimidade, para que eles usufruíssem de paz e a tivessem em abundância.

Seu nome é Jesus, o Amigo Divino que permanece de braços abertos, declamando os versos do Seu poema de amor: Vinde a mim, vós todos que estais aflitos e sobrecarregados e eu vos aliviarei...

Redação do Momento Espírita, com pensamentos finais, do cap. 3 do livro Quem é o Cristo?, pelo Espírito Francisco de Paula Vítor, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter.

27 dezembro 2009

Convite à Fraternidade - Joanna de Ângelis

CONVITE À FRATERNIDADE

"Ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo do alqueire, mas no velador."
(Mateus, 5:15.)

Abençoado pela oportunidade de progredir em regime de liberdade relativa, no corpo que te serve de esteio para a evolução, considera a situação dos que foram colhidos pelas malhas da criminalidade e expungem em regime carcerário os erros, à margem da sociedade, a benefício deles mesmos e da comunidade.

Visitá-los constitui dever impostergável.

Não é necessário que sindiques as razões que os retêm entre as grades ou no campo aberto das colônias agrícolas correcionais ou que te inquietes em face aos dramas que os sobrecarregam.

Há sim, alguns que são criminosos impenitentes, reincidentes, sem coração... Doentes, portanto, psicopatas infelizes ou obsidiados atormentados, sem dúvida...

Outros, no entanto...

Mães que não suportaram os incessantes maus-tratos de companheiros degenerados;

irmãos avassalados pelo que consideravam injustiças terríveis e não tiveram energias para superar o momento crítico;

operários espezinhados que não dispunham de forças para vencer a crise;

patrões ludibriados que tomaram a justiça nas mãos;

jovens viciados por este ou aquele fator desequilibrante, que agiram atados sob a constrição de drogas ou paixões;

homens e mulheres probos que foram surpreendidos pela infelicidade num momento de fraqueza;

adolescentes ou anciãos que foram levados ao furto pela fome...

Quantas crianças, também, em Reformatórios, Escolas corretivas, porque não tiveram um pouco de carinho e desde cedo somente receberam reproche e desprezo social!

Podes fazer algo.

Tens muito para dar, especialmente no que diz respeito a valores morais e espirituais.

Confraterniza com eles e acende nas suas almas a flama do ideal imortalista, para que encontrem mesmo aí onde sofrem um norte que lhes constitua bússola e rota na imensa noite do desespero que sempre irrompe nas celas em que se demoram enjaulados por fora ou encarcerados por dentro.

Constatarás que ajudá-los é ajudar-se e ser fraterno para com eles é libertar-se de várias constrições que te inquietam, pondo a luz da tua fé no velador da fraternidade.

De "Convites da Vida",
de Divaldo Pereira Franco - Espírito Joanna de Ângelis

26 dezembro 2009

Compaixão - Hammed

COMPAIXÃO

Ter compaixão é possuir um entendimento maior das fragilidades humanas. É quando nos tornamos mais realistas, menos exigentes e mais flexíveis com as dificuldades alheias.

Compaixão - manifestação de um coração aberto.

"Há mais felicidade em dar que em receber" *1. De bem-aventurado vem a palavra beato - do latim beatus, que significa "feliz". Beatificar alguém é declará-lo na plenitude da felicidade; por isso é que chamamos comumente de venturosas as pessoas felizes.

Cristo usava com frequência essa forma literária em seus discursos: "Bem-aventurados são aqueles que...". Essas bem-aventuranças eram e são a fórmula que o Mestre Jesus recomendava para conquistar a verdadeira felicidade ou para alcançar uma vida plena.

Ter compaixão é possuir um entendimento maior das fragilidades humanas. É quando nos tornamos mais realistas, menos exigentes e mais flexíveis com as dificuldades alheias.

Se quisermos a paz do mundo, sejamos pessoas felizes. O bem-aventurado é um agente da paz, pois as criaturas maduras possuem uma compassiva "noção de vida". Por isso, afirmam os Espíritos Benevolentes: "(...) aquele que vê claramente as coisas tem uma ideia mais justa do que o cego. Os Espíritos veem o que não vedes; eles julgam, pois, de outro modo que vós, mas ainda uma vez, isto depende da sua elevação"*2.

Ao abrirmos o coração para alguém, vivenciamos uma forma de empatia - sentimos o que ele sentiria caso estivéssemos vivenciando a sua situação. Isso é uma questão de ressonância. Só podemos apoiar e cooperar se nossos estados interiores forem sensibilizados; apenas podemos compartilhar a alegria ou a tristeza de alguém se elas também nos tocarem. Se não nos permitimos sentir medo, amor, tristeza ou alegria, não podemos reagir a esses sentimentos diante das pessoas e podemos até duvidar de que elas os estejam experimentando.

Compaixão está associado a empatia. Perde o bom senso quem não estabelece limites nos bens que vai dar ou receber. Alguns de nós fazemos favores ou concedemos benefícios aos outros sem critério ou fundamentação alguma.

No entanto, empatia não é medir ou julgar alguém por nós. Não é nos colocarmos no lugar da criatura e ficarmos ilusoriamente imaginando seu sofrimento. Empatia é o contato direto do nosso coração com o coração de outro ser humano.

A ajuda verdadeiramente sapiencial é aquela que permite que as pessoas à nossa volta aprendam a se desenvolver, solucionando suas dificuldades por si mesmas.

O ser compassivo não invade a vida alheia. Os indivíduos só mudam quando estão prontos para mudar.

Algumas religiões podem distorcer nossa concepção de mundo, utilizando a culpa ou o fanatismo como forma de nos controlar ou de nos forçar a dar coisas. A viseira do emocionalismo pode nos levar à frustração e ao desapontamento. Podemos ser coagidos a conceder benefícios ou participar de doações materiais, usando uma forma distorcida de compaixão. Muitos de nós nos doamos porque esperamos receber em troca atenção e respeito de outras pessoas. Isso não é ajuda real nem mesmo está unido ao amor; mais se assemelha a uma forma de barganha, seguida de eterna cobranças.

Para que possamos cooperar efetivamente com alguém, é preciso abrirmos mão de nossa arrogância salvacionista, ou seja, acreditar que a redenção das almas que amamos depende, única e exclusivamente, de nosso desempenho e de nossa dedicação. Cada pessoa é uma obra-prima de
Deus e, quando subestimamos a força divina que há no outro, nossos relacionamentos ficam anêmicos e áridos. A compaixão salvaguarda a liberdade de sentir, pensar e agir.

Os bem-aventurados aos quais se referia Jesus são felizes porque reconheceram que não devem viver de forma ególatra; devem viver, sim, uma existência de auxílio a si mesmo e ao bem comum. Compaixão é o desenvolvimento do sentimento de fraternidade que move o ser fraterno
a ter uma noção ética com vistas à integração e à solidariedade entre pessoas.

*1. Atos, 20:35.

*2. Questão 241 (O Livro dos Espíritos). Os Espíritos tem do presente uma ideia mais precisa e mais justa que nós? "Do mesmo modo que aquele que vê claramente as coisas tem uma ideia mais justa do que o cego. Os Espíritos vem o que não vedes: eles julgam, pois, de outro modo que
vós, mas ainda uma vez, isto depende da sua elevação."

De "Os prazeres da alma",
de Francisco do Espírito Santo Neto,
pelo Espírito Hammed

25 dezembro 2009

Na Noite de Natal - Cármen Cinira

NA NOITE DE NATAL

Noite de Paz e amor!
Repicam sinos,
Doces, harmoniosos, cristalinos,
Cantando a excelsitude do Natal!...
A estrela de Belém volta, de novo,
A brilhar, ante os júbilos do povo,
Sob a crença imortal.
De cada lar ditoso se erradia
A glória da amizade e da harmonia,
Em festiva oração;
Une-se o noivo à noiva bem-amada,
Beija o filho a mãezinha idolatrada,
O irmão abraça o irmão.
Dentro da noite, há corações ao lume
E há sempre um bolo, em vagas de perfume,
Sob claro dossel...
Em edens fechados de carinho,
De esperança e de mel.
Mas, lá fora, a tristeza continua...
Há quem chora sozinho, em plena ria,
Ao pé da multidão;
Há quem clama piedade e passa ao vento,
Ralado de tortura e sofrimento,
Sem a graça de um pão.
Há quem contempla o céu maravilhoso,
Rogando à morte a bênção do repouso
Em terrível pesar!
Ah! Como é triste a imensa caravana,
Que segue, aflita, sob a treva humana
Sem consolo e sem lar...
Ti, que aceitaste a luz renovadora
Do Rei que se humilhou na manjedoura
Para amar e servir,
Volve o olhar compassivo à senda escura,
Vem amparar os filhos da amargura,
Que não podem sorrir.
Desce do pedestal que te levanta
E estende a mão miraculosa e santa
Ao desalento atroz;
Para unir-nos no Amor, fraternalmente,
Desceu Jesus do Céu Resplandecente
E imolou-se por nós.
Vem medicar quem geme na calçada!...
Oferece à criança abandonada
Um velho cobertor;
Traze a quem sofre a lúcida fatia
Do teu prato de sonho e de alegria,
Temperado de amor.
Visita as chagas negras da mansarda
Onde a miséria súplice te aguarda
Em nome de Jesus,
Há muita criança enferma, quase morta,
Que só pede um sorriso brando à porta,
Para tornar à luz.
Natal!... Prossegues o Mestre, de viagem,
Em vão buscando um quarto de estalagem,
Um ninho pobre, em vão!...
E encontra sempre a cruz, ao fim da estrada,
Por não achar socorro, nem pousada
Em nosso coração.

Espírito: CÁRMEN CINIRA.
FONTE: LIVRO ANTOLOGIA MEDIÙNICA DO NATAL
Psicografia: Francisco Cândido Xavier


24 dezembro 2009

Convite de Natal - Maria Dolores

CONVITE DE NATAL

Enquanto a glória do natal se expande
Aqui, ali, além
Toda a Terra se veste de esperança
Para a festa do bem !

Natal ! ... Refaz-se a vida, alguém ressurge
Nos clarões com que o céu te anuncia ....
É Jesus pedir-te que repartas do teu pão de Alegria.

Para louvar-lhe os dons da presença Divina,
Não digas, alma irmã, que nada tens;
A riqueza do amor, no coração fraterno,
É o maior de teus bens...

Quando o dia se esvai e a noite desce
Ao comando da sombra que a domina,
Para varrer a escuridão da estrada
Basta a luz de uma vela pequenina.

O deserto se esfalfa em longa sede,
Na solidão em que se configura ...
Se chega simples fonte,
Ei-lo mudado em flórida espessura! ....

Ninguém sabe tão bem, senão aquele
Que a penúria desgasta ou desconforta,
O valor de uma veste contra o frio,
O Tesouro de um prato dado à porta.

A migalha de força é a base do universo,
Desde a furna terrestre à estrela mais remota !...
Todo livro se escreve, letra a letra,
Compõe-se a melodia, nota a nota

Alma irmã, no serviço da bondade
Jamais te afirmes desfavorecida
Pobres sementes formam ricas messes !
Assim também na vida . . .

O cobertor, o pão, a prece, o abraço,
Uma frase de paz e compreensão
Podem criar prodígios de trabalho
De reconforto e de ressurreição

Natal ! ... dá de ti mesmo o quanto possuas,
No amparo à retaguarda padecente;
Toda bênção de auxílio é socorro celeste,
Que Deus amplia indefinidamente.

Natal ! recorda o Mestre da Bondade !
Ele, o cristo e Senhor
Acendeu sobre a Terra o sol do Novo Reino
Com migalhas de amor!

Maria Dolores (espírito) / psicografia de Francisco Cândido Xavier

23 dezembro 2009

O Mensageiro da Estrada - Irmão X

O Mensageiro da Estrada

Mediunidade a serviço dos semelhantes!

Diz você que isso custa caro, e fala em renúncia e problemas pessoais. Mas, esquecer-se-á você dos benefícios que os dotes medianímicos trazem a todos aqueles que os mobilizam na extensão das boas obras? Olvidará quantas vezes a empresa do bem lhe arrebatou o coração às garras do mal? Pense nisso, meu caro missivista, e não atire fora as suas vantagens que superam de muito os obstáculos que, proventura, lhe estorvem a vida.

A esse respeito, conto a você, em versão nova, uma lenda antiga que corre o mundo cristão, desde longo tempo.

Certo homem, que se reencarnara a fim de educar-se em duras provas, quais sejam enfermidades, abandono e solidão, montou a choupana que lhe serviria de casa à beira de estrada deserta e poeirenta, a cavaleiro de fundo vale, onde uma fonte permanente mantinha no chão seco larga faixa de verdura.

Viajores iam e vinham e, fôssem eles ocupantes de carruagens, ou simplesmente pobres romeiros a pé, ei-los que paravam junto ao casebre, contentes e agradecidos por encontrarem, ali, com o homem solitário, uma bênção muito rara na região: a água pura.

O ermitão, em demonstrações de bondade incessante, várias vezes, diariamente, descia a encosta agressiva até o manancial e enchia o cântaro, regressando vereda acima, tão-só no intuito de oferecer água cristalina aos viajantes diversos.

Na faina de auxiliar, entrou em contacto com um Espírito angélico a quem o Senhor incumbira de velar por todos os que transitassem pela extensa rodovia, e o eremita, profundamente emocionado e feliz, passou a chamar-lhe Anjo da Estrada.

Estabeleceu-se para logo, entre os dois, suave convívio. Nenhum dos passantes lhe via o celestial companheiro; entretanto, para o solitário, aquele benfeitor espiritual se transformara em presença sublime. Se cansado, eis que o Anjo lhe restaurava as energias; se doente, recebia dele o remédio salutar. Se triste, recolhia-lhe as exortações confortativas e, quando em dúvida sobre doenças e dificuldades naturais do cotidiano, tomava-lhe as sugestões tocadas de amor. O Amigo do Céu descia com ele até à fonte, tantas vezes quantas fôssem necessárias, ajudava-o a transportar o grande vaso cheio, narrava-lhe histórias das Mansões Divinas, recobria-lhe a alma de tranquilidade e júbilo sereno.

O tempo rolou e trinta anos dobraram sobre aquela amizade entre duas criaturas domiciliadas em mundos diferentes.

A estrada era sempre uma estalagem da Natureza, albergando viajores que se renovavam constantemente, mas o ermitão, conquanto satisfeito, mostrava agora a cabeleira branca e os ombros caídos.

Certa feita, um homem prático, de passagem pelo lugar, em lhe enxergando a cabeça vergada ao peso do cântaro bojudo, observou-lhe, conselheiral:

- Amigo, porque um sacrifício assim tão grande? Não seria melhor e mais justo transferir a casa para a fonte, ao invés de buscar a fonte para casa?

O doador de água estremeceu de alegria. Como não pensara nisso antes? Da idéia à realização mediaram poucos dias... No entanto, em carregando o velho material da velha choca para a reentrância do vale, ei-lo que vê o amigo angélico em lágrimas copiosas...

- Anjo bom, porque choras?

E a resposta veio célere:

- Pois, então, não percebes? Concedeu-me o Senhor a tarefa de proteger as vidas de quantos se arriscaram na estrada... Enquanto lá te achavas, oferecendo água límpida aos que viajam com sede, tinha eu a permissão de trocar contigo as bênçãos da amizade. Mas agora... Se preferes o menor esforço, é forçoso que eu me resigne a distância de ti, esperando que alguém se decida a cooperar comigo, junto dos viajores que me cabe amparar na condição de zelador do caminho!...

O eremita não hesitou. Suspendeu a mudança, tornou ao lugar primitivo, retomou a sua venturosa paz de espírito ao pé da multidão anônima a que prestava serviço, e preferia trabalhar e ser feliz, em companhia do mensageiro celeste. Com quem partiu para o Mais Além, no dia em que lhe surgiu a morte do corpo.

Como é fácil de ajuizar e de ver, meu caro amigo, abençoe a sua possibilidade de dessedentar os peregrinos da romagem terrestre com as águas puras de fé viva, esclarecimento, pacificação e consolo, sem se fixar nos eventuais sacrifícios que isso lhe custe. Você compreenderá, um dia, que vale muito mais livrar-se alguém de aflições e tentações, junto dos Espíritos Benevolentes e Amigos, que viver à conta de nossas próprias imperfeições das existências passadas, e que é muito melhor desencarnar sofrendo, mas servindo ao próximo, em favor da própria libertação espiritual, que ter de acompanhar o desgaste repelente do corpo, a pouco e pouco, em facilidade e descanso, para afundar, de novo, no momento da morte, na corrente profunda de nossas paixões e desequilíbrios.


Por: Irmão X
Do livro: Estante da Vida,
Médium: Francisco Cândido Xavier

22 dezembro 2009

O Valor do Auxílio - Irmão Saulo

O Valor do Auxílio

O valor do auxílio não está na intenção do pedinte, mas na intenção do doador. Quem trabalha no bem deve dar sem olhar a quem. Ante a Vida Maior, como ensina Albino Teixeira, o que vale é o que fazemos em favor do bem. Se os que nos procuram trazem o coração envenenado, a mente cheia de suspeitas injustas e o ardil nos lábios, é evidente que são os mais necessitados. Pois pode haver maior necessidade do que aquela que ignora a si mesma?

Se os Espíritos Superiores não advertem o médium quanto as más intenções do consulente, é porque este deve ser socorrido e o médium precisa aprender a auxiliar até mesmo quando enganado.

O resultado das boas ações é computado pela evolução. O galhofeiro de hoje evoluirá amanhã e acabará por envergonhar-se de si próprio.

Precisamos considerar que a Terra é ainda um reduto da ignorância. O consulente ardiloso ignora a extensão da sua maldade. Tanto assim que busca a verdade através da mentira. Não compreende a importância do ato mediúnico e por isso não pode avaliar o que faz. Age inconscientemente no uso da própria consciência. Pode haver maior alienação do que essa? O médium, pelo contrário, está na plena posse da sua consciência voltada para o bem. Pode haver maior integridade moral no comportamento humano?

Que importa se o consulente alardear que enganou o médium? Acaso o médium não é uma criatura humana e, portanto, falível? Quer o médium gozar da infalibilidade, quer ter algum privilegio na sua condição humana? Mediunidade a serviço do bem é aprendizado como qualquer outro. Se o médium se sentisse infalível, estaria à beira da falência. É melhor falir entre os homens ou perante os homens, por amor, do que falir ante a Espiritualidade Superior por vaidade e orgulho.

A obra mediúnica sincera e nobre não é afetada por alguns episódios de prova. Os benefícios semeados através do trabalho digno não são depreciados pela maledicência e a ignorância. Os que receberam o bem de que necessitavam saberão multiplicá-lo ao seu redor. Porque grande é o clamor dos que sofrem e mesquinho o esgar dos zombeteiros. Prosseguir no bom combate, à maneira de Paulo, é o dever de todos os médiuns a serviço do bem.

Por: Irmão Saulo
Do livro: Diálogo dos Vivos,
Médium: Francisco Cândido Xavier e J. Herculano Pires

21 dezembro 2009

O Homem do Mundo - Um Espírito Protetor

O HOMEM NO MUNDO

10. Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração dos que se reúnem sob as vistas do Senhor e imploram a assistência dos bons Espíritos.

Purificai, pois, os vossos corações; não consintais que neles demore qualquer pensamento mundano ou fútil. Elevai o vosso espírito àqueles por quem chamais, a fim de que, encontrando em vós as necessárias disposições, possam lançar em profusão a semente que é preciso germine em vossas almas e dê frutos de caridade e justiça.

Não julgueis, todavia, que, exortando-vos incessantemente à prece e à evocação mental, pretendamos vivais uma vida mística, que vos conserve fora das leis da sociedade onde estais condenados a viver. Não; vivei com os homens da vossa época, como devem viver os homens.

Sacrificai às necessidades, mesmo às frivolidades do dia, mas sacrificai com um sentimento
de pureza que as possa santificar.

Sois chamados a estar em contacto com espíritos de naturezas diferentes, de caracteres opostos: não choqueis a nenhum daqueles com quem estiverdes. Sede joviais, sede ditosos, mas seja a vossa jovialidade a que provém de uma consciência limpa, seja a vossa ventura a do herdeiro do Céu que conta os dias que faltam para entrar na posse da sua herança.

Não consiste a virtude em assumirdes severo e lúgubre aspecto, em repelirdes os prazeres que as vossas condições humanas vos permitem. Basta reporteis todos os atos da vossa vida ao Criador que vo-la deu; basta que, quando começardes ou acabardes uma obra, eleveis o pensamento a esse Criador e lhe peçais, num arroubo dalma, ou a sua proteção para que obtenhais êxito, ou a sua bênção para ela, se a concluístes. Em tudo o que fizerdes, remontai à Fonte de todas as coisas, para que nenhuma de vossas ações deixe de ser purificada e santificada pela lembrança de Deus.

A perfeição está toda, como disse o Cristo, na prática da caridade absoluta; mas, os deveres da caridade alcançam todas as posições sociais, desde o menor até o maior. Nenhuma caridade teria a praticar o homem que vivesse insulado. Unicamente no contacto com os seus semelhantes, nas lutas mais árduas é que ele encontra ensejo de praticá-la. Aquele, pois, que se isola priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de aperfeiçoar-se; não tendo de pensar senão em si, sua vida é a de um egoísta. (Capítulo V, nº 26.)

Não imagineis, portanto, que, para viverdes em comunicação constante conosco, para viverdes sob as vistas do Senhor, seja preciso vos cilicieis e cubrais de cinzas. Não, não, ainda uma vez vos dizemos. Ditosos sede, segundo as necessidades da Humanidade; mas, que jamais na vossa felicidade entre um pensamento ou um ato que o possa ofender, ou fazer se vele o semblante dos que vos amam e dirigem. Deus é amor, e aqueles que amam santamente ele os abençoa.

Um Espírito Protetor. (Bordéus, 1863.)
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
CAP. XVII – SEDE PERFEITOS

20 dezembro 2009

Analisa a Natureza - Lancellin

ANALISA A NATUREZA

A natureza é o livro de Deus, escrito e mantido pelas Suas sábias leis.

Quem se afastar destes conceitos divinos sofre os contrastes da sua própria natureza.

Há sempre rejeição onde não existe harmonia.

Esquecer as coisas naturais é fechar os olhos diante dos caminhos a serem seguidos.

O homem inteligente pesquisa na fonte geradora ocomportamento das coisas e estuda, com grande empenho, a vida vegetal e animal, para depois começar a compreender a sua própria vida, que se manifesta ante as suas necessidades, por misericórdia e bondade divina.

O corpo humano tem grande analogia com o Universo.

As leis que regem um, garantem o outro.

As mãos que fizeram um, estruturaram o outro, com o mesmo amor e a mesma sabedoria.
O complexo humano é, pois, um universo em miniatura.

As primeiras lições escolares, quando os alunos atingissem certo discernimento, deveriam ser de Biologia, com todas as suas divisões, para que o ser humano pudesse compreender e respeitar o aparelho que lhe serve de aprendizado nas lides do mundo e lhe oferece oportunidade de avaliar suas próprias forças.

A reencarnação é como que um prêmio entregue ao espírito para sua evolução espiritual.

E a segunda lição que deveria ser ministrada aos iniciantes no saber seria a função das leis espirituais, que chegam ao nosso conhecimento como sendo leis morais.

A criança deve participar deste empenho de Deus para a nossa felicidade. Elas são ensinadas, mas a assimilação melhor se dá através da visão do exemplo.

O que os pais e professores fazem tem mais valor do que o que eles dizem.

Quando um professor falar de determinado assunto aos seus alunos, deve, em seguida, testemunhá-lo através de um fato e, se possível, um fato da natureza. Esse deve ser o procedimento de todos os homens do saber.

O grande tribuno, famoso por suas prédicas, nunca se esquece dos fenômenos naturais, porque a Natureza é o exemplo do Nosso Pai Celestial.

Não percas teu tempo ensinando e fazendo coisas vãs. As oportunidades são preciosas para quem já despertou para a luz do entendimento.

Começa analisando teus pensamentos e educando-os, começa analisando tuas palavras e disciplinando-as. Começa analisando teus atos e corrigindo o que existe de errado.

Estuda o livro da natureza e copia sua perfeita harmonia.

Se não sabes como começar, usa a prece, que ela lhe dará a visão indispensável para tal evento espiritual.

Se ainda não podes compreender, junta-te aos mais velhos que já têm algumas experiências e aprende com eles nesta escola de luz, sempre à vista das criaturas de boa vontade.

Podes constantemente investigar a própria vida. Investiga teu corpo e vê como ele obedece a teu comando; torna a investigar e observa que ele está atento a outros comandos que não percebes.

Aprofunda-te mais um pouco e verás que ele é um perfeito aparelho cósmico, com funções que escapam às sensibilidades humanas.

E os outros corpos, dos quais apenas ouves, de quando em vez, falar? Não esmoreças. Começa pelo físico, que chegarás a eles.

E para o espírito? A caminhada é muito longa... mas conheceremos a Verdade, cada vez mais.

Livro: Cirurgia Moral
Médium: João Nunes Maia,
pelo espírito Lancellin

19 dezembro 2009

Como Deveis Orar - Miramez

COMO DEVEIS ORAR

"Tu, porém, quando orares, entra no teu aposento, e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto: e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará". Mateus - Cap.6, v.6

"Portanto, vós orareis assim: Pai nosso que estais nos céus; santificado seja o vosso nome:"Pai de amor e bondade, derramai sobre todos nós as bênçãos do trabalho, que equilibra; o amor da caridade, que conforta; e a caridade do amor, que ilumina; e também, Senhor, se for hora, bafejai-nos com a Vossa sabedoria, desde que acheis que possamos respeitar-Vos com a força soberana do saber. Contudo, faça-se a Vossa vontade, e não a nossa.

"Venha a nós o Vosso reino, faça-se a Vossa vontade, assim na Terra como no céu ".

Que o Vosso reino apareça entre os homens, pela Vossa excelsa misericórdia, despertando em cada coração os sentimentos mais puros que ali dormitam, fazendo com que o reino da Boa Nova se instale nesse símbolo da vida e que a Vossa vontade seja lei em toda a terra, e a Vossa paz, um clima permanente em toda a vida.

"O pão nosso de cada dia, dai-nos hoje";

Suprema Inteligência do Universo. abençoai nossos caminhos e deixai que o Suprimento Divino farte as nossas necessidades humanas, para que. envolvidos nessa força misericordiosa do amor, possamos entender um Pai tão justo e bom, que antes ignorávamos. Pedimos que nos deis hoje - todavia, Vós sabeis mais do que nós o que nos falta.

"E perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores";

Inteligência Maior, causa primária de todas as coisas, pelo Vosso amor para com os espíritos que criastes, perdoai as nossas faltas, não as tirando como em um passe de mágica, mas dando-nos oportunidades de resgatá-las. Permiti que fiquemos livres dos nossos ofensores, transformando-os em companheiros do nosso coração para a jornada de cada dia. E que a visão da verdade, nascida do Vosso amor para conosco, encontre nas fibras mais intimas dos nossos seres, ressonâncias correspondentes, na certeza de que, conhecendo-as, estejamos na plenitude da felicidade. Mesmo assim, cumpra-se a Vossa vontade e não a nossa.

"E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal; pois vosso é o reino, o poder e a glória, para sempre. Assim seja:"

Soberano Arquiteto do Universo, criastes leis para nos proteger, ampliastes conceitos, através dos Vossos emissários, para nos amparar, e estabelecestes, no mundo íntimo de cada ser, uma consciência, para nos guiar. Mas permiti, Pai Celestial, que possamos compreender as Vossas leis e obedecê-las. Permiti, Senhor, que possamos sentir os Vossos conceitos e vivê-los. Permiti, Luz Inconfundível, Sol Eterno de todos os universos, que possamos sentir, ouvir e obedecer a Vossa vontade, pelos canais sublimados da consciência. Porque Vós sois o poder de todas as coisas, porque Vossa é a glória de todos os reinos. Assim seja.

"Tu porém, quando orares, entra no teu aposento, e fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará".

De "Alguns ângulos dos ensinos do Mestre",
de João Nunes Maia,
pelo Espírito Miramez

18 dezembro 2009

Oração e Cura - Emmanuel

ORAÇÃO E CURA
Questão nº 176 - § 8º - o Livro dos Médiuns

Recorres à oração, junto desse ou daquele enfermo, e sofres, quando a restauração parece tardia.

Entretanto, reflete na Lei Divina a que todos, obrigatoriamente, nos entrosamos.

Isso não quer dizer devamos ignorar o martírio silencioso dos companheiros em calamidade do campo físico.

Para tanto, seria preciso não haver sentimento.

Sabemos, sim, quanto dói seguir, noite a noite, a provação dos familiares, em moléstias irreversíveis; conhecemos, de perto, a angústia dos pais que recolhem no coração o suplício dos filhinhos torturados no berço; partilhamos a dor dos que gemem nos hospitais como sentenciados à pena ultima, e assinalamos o tormento recôndito dos que fitam, Inquietos, em doentes amados, os olhos que se embaciam...

***

Observa, porém, o quadro escuro das transgressões humanas que nos rodeiam.

Pensa nos crimes perfeitos que injuriam a Terra; na insubmissão dos que se rendem às sugestões do suicídio, prejudicando os planos da Eterna Sabedoria e criando aflitivas expiações para si mesmos; nos processos inconfessáveis dos que usam a inteligência para agravar as necessidades dos semelhantes e na ingratidão dos que convertem o próprio lar em reduto do desespero e da morte...

Medita nos torvos compromissos dos que se acumpliciam agora com os domínios do mal, e perceberás que a enfermidade é quase sempre o bem exprimindo reajuste, sustando-nos a queda em delitos maiores.

***

Organizemos, assim, o socorro da oração, junto de todos os que padecem no corpo dilacerado, mas, se a cura demora, jamais nos aflijamos.

Seja o leito de linho, de seda, palha ou pedra, a dor é sempre a mesma e a prece, em toda parte, é bênção, reconforto, amparo, luz e vida.

Lembremo-nos, no entanto, de que lesões e chagas, frustrações e defeitos, em nossa forma externa, são remédios da alma que nós mesmos pedimos à farmácia de Deus.

De "Seara dos Médiuns"
de Francisco Cândido Xavier
pelo Espírito Emmanuel

17 dezembro 2009

Defesa Contra Obsessão - Irmão X


A dor ainda se apresenta-nos por ser um mecanismo evolutivo. Não se trata de punição ou castigo - expressões essas inexistentes no vocabulário espírita, mas sim de um mecanismo educativo. Vejamos o caso abaixo narrado pelo nobre espírito Irmão X.

DEFESA CONTRA OBSESSÃO

Doía ver o irmão Maurício Tessi, prostrado, na crise aguda de artrite reumatóide. Orava, sofria, esperava.

A dor espraiava-se de um dos joelhos intumescido, assaltando o corpo.

Acompanhando-lhe a mãezinha desencarnada, Dona Etelvina, que nos fora devotada amiga na Terra, partilhávamos a oração, enquanto a equipe de enfermeiros espirituais atuava com recursos curativos do nosso plano de ação.

Finda a tarefa de auxílio, ergueu-se a velha amiga e perguntou, respeitosamente, ao dirigente da turma:
– Meu amigo, posso, na condição de mãe, saber por que motivo tanto demora a definitiva recuperação de meu filho?

O interpelado disse apenas:

– Sem dúvida. Aqui está o registro das reações dele nos dias últimos...

E com a exatidão de um técnico, no setor de trabalho que lhe é próprio, sacou da pasta pequena folha de papel em que nos foi possível, de imediato, ler as seguintes indicações, simples e expressivas, que se interrompiam justamente no dia de nossa presença, no quarto humilde:

MAURÍCIO TESSI - 36 anos no corpo físico.

DOENÇA – Providencial.

FASE – Experimentação.

MÉRITO INDIVIDUAL POR SERVIÇO À COMUNIDADE, ATÉ OS PRIMEIROS SINTOMAS DA MOLÉSTIA – Nenhum.

MOTIVO – Defesa contra obsessão e loucura.

AUXÍLIO A RECEBER – Socorro em bases de magnetismo curativo, somente para a sustentação de forças orgânicas e alívio controlado, até a melhora espiritual positiva.

HISTÓRICO – Os amigos e benfeitores do interessado, residentes nas Esferas Superiores, depois de lhe endossarem a presente reencarnação, observaram-lhe a tendência para estragar, de modo completo, a oportunidade recebida. Preocupados, solicitaram seja ele mantido em condições enfermiças, conforme os remanescentes das dívidas cármicas que ainda carrega no extrato corpóreo. Assim agiram para evitar-lhe a indesejável associação com Espíritos infelizes, procedentes de suas existências passadas, caídos, desde muito tempo, em processos de vampirização e criminalidade, com os quais o beneficiário vinha, a pouco e pouco, se acomodando.

ANOTAÇÕES DE 4 A 28 DE JANEIRO DE 1967 - DATAS DE OBSERVAÇÃO ESTADO FÍSICO CONDIÇÕES ESPIRITUAIS

4 - Crise - Fé, oração, humildade.

5 - Melhora - Tranquilidade, teimosia.

6 - Grande melhora - Agressividade, pensamentos escusos. Obsessores perto.

7 - Crise - Obediência, conformação, gentileza.

8 - Crise aguda - Elevação moral, prece.

9 - Crise aguda - Nobres promessas de serviço ao próximo, altura mental.

10 - Melhora - Bom humor, rebeldia.

11 - Grande melhora - Intolerância, idéias menos dignas, obsessores atraídos.

12 - Grande melhora - Desequilíbrio, obsessores no aposento.

13 - Crise - Serenidade

14 - Crise agravada - Emoções superiores

15 - Crise aguda - Fé comovente, simpatia, generosidade.

16 - Melhora - Calma, irritação.

17 - Grande melhora - Pensamentos inconfessáveis, obsessores próximos.

18 - Grande melhora - Obsessores dominando.

19 - Crise - Obsessores repelidos.

20 - Crise aguda - Confiança em Deus.

21 - Crise aguda - Votos de trabalho santificante, planos de caridade.

22 - Melhora - Marasmo, azedume.

23 - Grande melhora - Idéias lastimáveis, obsessores interessados.

24 - Grande melhora - Obsessores na aura, caos intenrior.

25 - Crise - Brandura, confiança.

26 - Crise aguda - Afabilidade, benevolência.

27 - Crise aguda - Doçura, lucidez, piedade para com os outros.

28 - Crise aguda - Formosa renovação íntima. Raios de luz em momentos de prece.

A irmã Etelvina restituiu a folha de notas, entre serena e triste, agradecendo ao prestimoso cooperador:

– Obrigada, amigo. Maurício é meu filho. Antes, contudo, tanto ele e eu, quanto vós, somos filhos de Deus. E a Lei do Senhor foi criada para o bem de nós todos.

Em seguida, nosso grupo dispersou-se, mas permaneci longo tempo, junto ao enfermo, tentando meditar em minhas próprias necessidades e aproveitar a lição.

Autor: Irmão X
Psicografia de Chico Xavier

16 dezembro 2009

A Dor - Léon Denis

A DOR

Tudo o que vive neste mundo, natureza, animal, homem, sofre e, todavia, o amor é a lei do Universo e por amor foi que Deus formou os seres.

Contradição aparentemente horrível, problema angustioso, que perturbou tantos pensadores e os levou à dúvida e ao pessimismo.

O animal está sujeito à luta ardente pela vida. Entre as ervas do prado, as folhas e a ramaria dos bosques, nos ares, no seio das águas, por toda a parte desenrolam-se dramas ignorados. Em nossas cidades prossegue sem cessar a hecatombe de pobres animais inofensivos, sacrificados às nossas necessidades ou entregues nos laboratórios ao suplício da vivissecção.

Quanto à Humanidade, sua história não é mais que um longo martirológio.
Através dos tempos, por cima dos séculos, rola a triste melopéia dos sofrimentos humanos; o lamento dos desgraçados sobre com uma intensidade dilacerante, que tem a regularidade de uma vaga.

A dor segue todos os nossos passos; espreita-nos em todas as voltas do caminho. E, diante desta esfinge que o fita com seu olhar estranho, o homem faz a eterna pergunta: Por que existe a dor?
É, no que lhe concerne, uma punição, uma expiação, como o dizem alguns?
É a reparação do passado, o resgate das faltas cometidas?

Fundamentalmente considerada, a dor é uma lei de equilíbrio e educação.

Sem dúvida, as falhas do passado recaem sobre nós com todo o seu peso e determinam as condições de nosso destino. O sofrimento não é, muitas vezes, mais do que a repercussão das violações da ordem eterna cometidas; mas, sendo partilha de todos, deve ser considerado como necessidade de ordem geral, como agente de desenvolvimento, condição do progresso. Todos os seres têm de, por sua vez, passar por ele. Sua ação é benfazeja para quem sabe compreendê-lo; mas, somente podem compreendê-lo aqueles que lhe sentiram os poderosos efeitos. É principalmente a esses, a todos aqueles que sofrem, têm sofrido ou são dignos de sofrer que dirijo estas páginas.

A dor e o prazer são as duas formas extremas da sensação. Para suprimir uma ou outra seria preciso suprimir a sensibilidade. São, pois, inseparáveis em princípio e ambos necessários à educação do ser, que, em sua evolução, deve experimentar todas as formas ilimitadas, tanto do prazer como da dor.

A dor física produz sensações; o sofrimento moral produz sentimentos.
Mas, como já vimos, no sensório íntimo, sensação e sentimento confundem-se e são uma só e mesma coisa.

O prazer e a dor estão, pois, muito menos nas coisas externas do que em nós mesmos; incumbe, pois, a cada um de nós, regulando suas sensações, disciplinando seus sentimentos, dominar umas e outras e limitar-lhes os efeitos.

Epíteto dizia: “As coisas são apenas o que imaginamos que são.” Assim, pela vontade podemos domar, vencer a dor ou, pelo menos, fazê-la redundar em nosso proveito, fazer dela meio de elevação.

A idéia que fazemos da felicidade e da desgraça, da alegria e da dor, varia ao infinito segundo a evolução individual. A alma pura, boa e sábia não pode ser feliz à maneira da alma vulgar. O que encanta uma, deixa a outra indiferente. À medida que se sobe, o aspecto das coisas muda. Como a criança que, crescendo, deixa de lado os brinquedos que a cativaram, a alma que se eleva procura satisfações cada vez mais nobres, graves e profundas. O Espírito que julga com superioridade e considera o fim grandioso da vida achará mais felicidade, mais serena paz num belo pensamento, numa boa obra, num ato de virtude e até na desgraça que purifica, do que em todos os bens materiais e no brilho das glórias terrestres, porque estas o perturbam, corrompem, embriagam ficticiamente.

É muito difícil fazer entender aos homens que o sofrimento é bom. Cada qual quereria refazer e embelezar a vida à sua vontade, adorná-la com todos os deleites, sem pensar que não há bem sem dor, ascensão sem suores e esforços.

O gênio não é somente o resultado de trabalhos seculares; é também a apoteose, a coroação de sofrimento. De Homero a Dante, a Camões, a Tasso, a Mílton, todos os grandes homens, como eles, têm sofrido. A dor fez-lhes vibrar a alma, inspirou-lhes a nobreza dos sentimentos, a intensidade da emoção que souberam traduzir com os acentos do gênio e que os imortalizou. É
na dor que mais sobressaem os cânticos da alma. Quando ela atinge as profundezas do ser, faz de lá saírem os gritos eloqüentes, os poderosos apelos que comovem e arrastam as multidões.

Dá-se o mesmo com todos os heróis, com todos os grandes caracteres, com os corações generosos, com os espíritos mais eminentes. Sua elevação mede-se pela soma dos sofrimentos que passaram. Ante a dor e a morte, a alma do herói e do mártir revela-se em sua beleza comovedora, em sua grandeza trágica, que toca às vezes o sublime e o nimba de uma luz inextinguível.

Suprimi a dor e suprimireis, ao mesmo tempo, o que é mais digno de admiração neste mundo, isto é, a coragem de suportá-la. O mais nobre ensinamento que se pode apresentar aos homens não é a memória daqueles que sofreram e morreram pela verdade e pela justiça? Há coisa mais augusta, mais venerável que seus túmulos? Nada iguala o poder moral que daí provém. As almas que deram tais exemplos avultam aos nossos olhos com os séculos e parecem, de longe, mais imponentes ainda; são outras tantas fontes de força, mais imponentes ainda; são outras tantas fontes de força e beleza onde vão retemperar-se as gerações. Através do tempo e do espaço, sua irradiação, como a luz dos astros, estende-se sobre a Terra. Sua morte gerou a vida, e sua lembrança, como aroma sutil, vai lançar em toda a parte a semente dos entusiasmos futuros.

É, como nos ensinaram essas almas, pela dedicação, pelo sofrimento dignamente suportados que se sobem os caminhos do céu. A história do mundo não é outra coisa mais que a sagração do espírito pela dor. Sem ela, não pode haver virtude completa, nem glória imperecível.

É necessário sofrer para adquirir e conquistar. Os atos de sacrifício aumentam as radiações psíquicas. Há como que uma esteira luminosa que segue, no Espaço, os Espíritos dos heróis e dos mártires.

Aqueles que não sofreram, mal podem compreender estas coisas, porque, neles, só a superfície do ser está arroteada, valorizada. Há falta de largueza em seus corações, de efusão em seus sentimentos; seu pensamento abrange horizontes acanhados. São necessários os infortúnios e as angústias para dar à alma seu aveludado, sua beleza moral, para despertar seus sentidos adormecidos. A vida dolorosa é um alambique onde se destilam os seres para mundos melhores. A forma, como o coração, tudo se embeleza por ter sofrido. Há, já nesta vida, um não sei quê de grave e enternecido nos rostos que as lágrimas sulcaram muitas vezes. Tomam uma expressão de beleza austera, uma espécie de majestade que impressiona e seduz.

Michelangelo adotara como norma de proceder os preceitos seguintes: “Concentra-te e faze como o escultor faz à obra que quer aformosear. Tira o supérfluo, aclara o obscuro, difunde a luz por tudo e não largues o cinzel.”

Máxima sublime, que contém o princípio de todo o aperfeiçoamento íntimo. Nossa alma é nossa obra, com efeito, obra capital e fecunda, que sobrepuja em grandeza todas as manifestações parciais da Arte, da Ciência, do gênio.

A dor não fere somente os culpados. Em nosso mundo, o homem honrado sofre tanto como o mau, o que é explicável. Em primeiro lugar, a alma virtuosa é mais sensível por ser mais adiantado o seu grau de evolução; depois, estima muitas vezes e procura a dor, por lhe conhecer todo o valor.

A dor física é, em geral, um aviso da Natureza, que procura preservar-nos dos excessos. Sem ela, abusaríamos de nossos órgãos até ao ponto de os destruirmos antes do tempo. Quando um mal perigoso se vai insinuando em nós, que aconteceria se não lhe sentíssemos logo os efeitos desagradáveis? Iria cada vez lavrando mais, invadir-nos-ia e secaria em nós as fontes da vida.

Às almas fracas, a doença ensina a paciência, a sabedoria, o governo de si mesmas. Às almas fortes pode oferecer compensações de ideal, deixando ao Espírito o livre vôo de suas aspirações até ao ponto de esquecer os sofrimentos físicos.

A ação da dor não é menos eficaz para as coletividades do que o é para os indivíduos. Não foi graças a ela que se constituíram os primeiros agrupamentos humanos? Não foi a ameaça das feras, da fome, dos flagelos que obrigou o indivíduo a procurar seu semelhantes para se lhe associar? Foi da vida comum, dos sofrimentos comuns, da inteligência e labor comuns que saiu toda a Civilização, com suas artes, ciências e indústrias!

A dor é como uma asa dada à alma escravizada pela carne para ajudá-la a desprender-se e a elevar-se mais alto.
Por trás da dor, há alguém invisível que lhe dirige a ação e a regula segundo as necessidades de cada um, com uma arte, uma sabedoria infinitas, trabalhando por aumentar nossa beleza interior nunca acabada, sempre continuada, de luz em luz, de virtude em virtude, até que nos tenhamos convertido em Espíritos celestes.

Por mais admirável que possa parecer à primeira vista, a dor é apenas um meio de que usa o Poder Infinito para nos chamar a si e, ao mesmo tempo, tornar-nos mais rapidamente acessíveis à felicidade espiritual, única duradoura. É, pois, realmente, pelo amor que nos tem, que Deus envia o sofrimento. Fere-nos, corrige-nos como a mãe corrige o filho para educá-lo e melhorá-lo; trabalha incessantemente para tornar dóceis, para purificar e embelezar nossas almas, porque elas não podem ser verdadeiras, completamente felizes, senão na medida correspondente às suas perfeições.

À medida que avançamos na vida, as alegrias diminuem e as dores aumentam; o corpo e o fardo da vida tornam-se mais pesados. Quase sempre a existência começa na felicidade e finda na tristeza. O declínio traz, para a maior parte dos homens, o período moroso da velhice com suas lassidões, enfermidades e abandonos. As luzes apagam-se; as simpatias e as consolações retiram-se; os sonhos e as esperanças desvanecem-se; abrem-se, cada vez mais numerosas, as covas em roda de nós. É então que vêm as longas horas de imobilidade, inação, sofrimento; obrigam-nos a refletir, a passar muitas vezes em revista os atos e as lembranças de nossa vida. É uma prova necessária para que a alma, antes de deixar seu invólucro, adquira a madureza, o critério e a clarividência das coisas que serão o remate de sua carreira terrestre. Por isso, quando amaldiçoamos as horas aparentemente estéreis e desoladas da velhice enferma, solitária, desconhecemos um dos maiores benefícios que a Natureza nos proporciona; esquecemos que a velhice dolorosa é o cadinho onde se completam as purificações.

Nesse momento da existência, os raios e as forças que, durante os anos da juventude e da virilidade, dispersávamos para todos os lados em nossa atividade e exuberância, concentram-se, convergem para as profundezas do ser, ativando a consciência e proporcionando ao homem mais sabedoria e juízo. Pouco a pouco vai-se fazendo a harmonia entre os nossos pensamentos e as radiações externas; a melodia íntima afina com a melodia divina.

Há, então, na velhice resignada, mais grandeza e mais serena beleza que no brilho da mocidade e no vigor da idade madura. Sob a ação do tempo, o que há de profundo, de imutável em nós, desprende-se e a fronte dos velhos aureola-se de claridades do Além.

A todos aqueles que perguntam: Para que serve a dor? Respondo: Para polir a pedra, esculpir o mármore, fundir o vidro, martelar o ferro. Serve para edificar e ornar o templo magnífico, cheio de raios, de vibrações, de hinos, de perfumes, onde se combinam todas as artes para exprimirem o divino, prepararem a apoteose do pensamento consciente, celebrarem a libertação do Espírito!
E vede qual o resultado obtido! Com o que eram em nós elementos esparsos, materiais informes e, às vezes até, o vicioso e decaído, ruínas e destroços, a dor levantou, construiu no coração do homem um altar esplêndido à Beleza Moral, à Verdade Eterna!

A dor será necessária enquanto o homem não tiver posto o seu pensamento e os seus atos de acordo com as leis eternas; deixará de se fazer sentir logo que se fizer a harmonia. Todos os nossos males provêm de agirmos num sentido oposto à corrente divina; se tornarmos a entrar nessa corrente, a dor desaparece com as causas que a fizeram nascer.

Por muito tempo ainda a Humanidade terrestre, ignorante das leis superiores, inconsciente do futuro e do dever, precisará da dor para estimulá-la na sua via, para transformar o que nela predomina, os instintos primitivos e grosseiros, em sentimentos puros e generosos. Por muito tempo terá o homem de passar pela iniciação amarga para chegar ao conhecimento de si mesmo e do alvo a que deve mirar. Presentemente ele só cogita de aplicar suas faculdades e energias em combater o sofrimento no plano físico, a aumentar o bem-estar e a riqueza, a tornar mais agradáveis as condições da vida material; mas, será em vão. Os sofrimentos poderão variar, deslocar-se, mudar de aspecto; a dor persistirá, enquanto o egoísmo e o interesse regerem as sociedades terrestres, enquanto o pensamento se desviar das coisas profundas, enquanto a flor da alma não tiver desabrochado.

Ó vós todos que vos queixais amargamente das decepções, das pequeninas misérias, das tribulações de que está semeada toda a existência e que vos sentis invadidos pelo cansaço e pelo desânimo: se quereis novamente achar a resolução e a coragem perdidas, se quereis aprender a afrontar alegremente a adversidade, a suportar resignados a sorte que vos toca, lançai um olhar
atento em roda de vós!

Considerai as dores tantas vezes ignoradas dos pequenos, dos deserdados, os sofrimentos de milhares de seres que são homens como vós; considerai estas aflições sem conta; cegos privados do raio que guia e conforta, paralíticos impotentes, corpos que a existência torceu, ancilosou, quebrou, que padecem de males hereditários! E os que carecem do necessário, sobre quem sopra, glacial, o inverno! Pensai em todas essas vidas tristes, obscuras, miseráveis; comparai vossos males muitas vezes imaginários com as torturas de vossos irmãos de dor, e julgar-vos-eis menos infelizes, ganhareis paciência e coragem e de vosso coração descerá sobre todos os peregrinos da vida, que se arrastam acabrunhados no caminho árido, o sentimento de uma piedade sem limites e de um amor imenso!

Às vezes julgamo-nos capazes e dignos de chegar às grandes altitudes, e, sem o sabermos, mil cadeias acorrentam-nos ainda a este planeta inferior.

Não compreendemos o amor em sua essência sublime, nem o sacrifício como épraticado nas Humanidades purificadas, em que ninguém vive para si ou para alguns, mas para todos. Ora, só os que estão preparados para tal vida podem possuí-la. Para nos tornarmos dignos dela, será preciso desçamos de novo ao cadinho, à fornalha, onde se fundirão como cera as durezas do nosso coração.

E, quando tiverem sido rejeitadas, eliminadas as escórias de nossa alma, quando nossa essência estiver livre de liga, então Deus nos chamará para uma vida mais elevada, para uma tarefa mais bela.

O mal moral existe na alma somente em suas dissonâncias com a harmonia divina. Mas, à medida que ela sobe para uma claridade mais viva, para uma verdade mais ampla, para uma sabedoria mais perfeita, as causas do sofrimento vão-se atenuando, ao mesmo tempo que se dissipam as ambições vãs, os desejos materiais. E de estância em estância, de vida em vida, ela penetra na grande luz e na grande paz onde o mal é desconhecido e onde só reina o bem!

Léon Denis - Obra: O Problema do Ser, do Destino e da Dor