Total de visualizações de página

31 agosto 2013

Como Servimos na Seara Espírita - Alinkdar de Oliveira



COMO SERVIRMOS NA SEARA ESPÍRITA? 
 
O título desse texto pode levar-nos a um equívoco: a de julgar que seja lícito exigir padrões de comportamento e de linguagem aos seguidores da Doutrina Espírita. Exigir, nunca. Haja vista que o mal mais fácil de ser alastrado em qualquer grupo, por mais sério que seja este, é a institucionalização de normas, que, se em questões específicas tem o seu mérito, tem também o grande demérito de, no assunto espiritualidade, burocratizar o que não deve e não pode ser burocratizado: o trato com a alma. Sobretudo, respeitemos o livre-arbítrio do próximo. Também afastemo-nos, com todas as nossas forças, da descabida vestimenta de defensores da pureza doutrinária nos outros. Defendamos, sim, a pureza Doutrinária em nós, através do empenho em aplicarmos os conceitos espíritas. Que nunca esqueçamos que uma das importantes formas de incentivarmos a mudança do outro, é pelo nosso exemplo, é pela nossa conduta. Percebe-se que, infelizmente, o Movimento Espírita está em parte, burocratizado e, felizmente, em boa parte tendo portas abertas para importantes mudanças. Hoje é realidade a efervescência de métodos e trabalhos auto-educativos. O que nos faz vislumbrar que tende a desaparecer – se não no curto, mas no médio prazo - o espírito institucional que trazemos de vidas passadas. Haja vista que ainda há Centros Espíritas e Entidades Representativas onde o culto ao externo prevalece ao interno. No entanto, contracenando com esta situação adversa, percebe-se hoje grande progresso no interesse em – enquanto espíritas – caminharmos na direção dos princípios elementares do Espiritismo, o que representará um grande avanço para nós, espíritas, e para a humanidade. Como ainda há Centros Espíritas que cultuam o personalismo (em número cada vez menor) sugiro neste espaço alguns passos para desburocratizarmos o que precisa ser desburocratizado. As idéias a seguir não têm o espírito de ditar normas, o propósito é apontar sugestões. 

1) Sobre o personalismo no movimento espírita. O personalismo é uma das mais fortes manifestações negativas do ego. 

Ouvi certa vez de um budista que quando não estamos bem com os outros é o ego manifestando- se. Disse ele que o ego é irreal, não existe. É como a escuridão, só existe na ausência da luz. Quando bem nos conhecermos, quando a luz divina for nossa manifestação natural, o ego não terá espaço para manifestar-se. Mas...como ainda estamos longe de vivenciarmos a luz divina, então que procuremos estar no comando do ego, em vez de sermos por ele comandados. Assim, o teremos como importante aliado. Sobre o personalismo no movimento espírita, diz o Dr. Bezerra de Menezes: “Ninguém pode vendar os olhos a título de caridade, porque deliberadamente o apego institucional marcou esse segundo período de nossas lides, em muitas ocasiões, com enfermiças atitudes de desamor como forte influência atávica de milenares vivências. Isso era previsível e, por fim, repetimos velhos erros religiosos.(...) Há de se ter em conta que nos referimos ao institucionalismo como grilhão pertinente a todos nós, sem jamais vinculá-la a essa ou àquela entidade organizativa em particular, porque semelhante marca de nosso psiquismo, por muito tempo ainda, criará reflexos indesejáveis na obra do bem. O institucionalismo é fruto da ação dos homens; ele em si não é o nosso adversário maior e sim os excessos que o tornam nocivo.” Importante observação: No parágrafo anterior o insigne Dr. Bezerra de Menezes faz referência ao “segundo período de nossas lides”. Para o leitor que ainda não leu um dos livros-base para a liderança espírita dos novos tempos (livro Seara Bendita, Editora Dufaux), transcrevo a seguir a síntese dos três períodos do Espiritismo, apontados pelo citado mestre (Dr. Bezerra) no mencionado livro. A seguir os três períodos da implantação do Espiritismo, cada um deles com a duração de 70 anos, a partir da primeira edição d’O Livro dos Espíritos. O primeiro constituiu o período da consagração das origens e das bases em que se assentam a Doutrina, que lhe conferiram legitimidade; O segundo coincide com o fechamento do século e do milênio, foi o tempo da proliferação; O terceiro coincide com o momento atual. Disse Dr. Bezerra que “é a etapa da fraternidade na qual a ética do amor será eleita como meta essencial, e a educação como passo seguro na direção de nossas finalidades”. 

2) Sobre a importância do afeto. Grande parte dos Centros Espíritas não demonstra alegria e entusiasmo em receberem novas pessoas. 

Sabemos que é significativo o número de pessoas que chegam ao Centro Espírita pela DOR, isto é, em momentos em que estão fragilizadas e carentes. Por isto necessitam sentirem-se acolhidas. Acolhidas com o real afeto, afeto verdadeiro. Recebermos – na porta da entrada do Centro Espírita - um "seja bem vindo", dito com um sorriso no rosto é muito importante, faz bem para nossa alma (isto é, para nós mesmos). Assim como, na saída da Sala do Passe, nos é estimulante ouvirmos e sentirmos a energia positiva de frases como: "Vá, com Deus e volte sempre". 

3) Sobre as orações de abertura das atividades espíritas. 

Nas orações iniciais ou finais de um evento espírita, temos por hábito começar dizendo: “Neste instante deixemos os nossos problemas fora deste ambiente...”. Por que deixarmos nossos problemas fora do ambiente espírita? Por que exigir que aquela pessoa que chegou com um grande problema tenha a força para esquecê-lo, mesmo que seja de forma momentânea? Se o ambiente espírita é apropriado para orientar, consolar e encaminhar, por que não adotarmos outra maneira de iniciar nossas orações? Por exemplo, poderíamos adotar essa forma: “Irmão amigo, se você tiver algum problema que o atormente, vivencie-o em sua mente. Traga-o para este ambiente. Sinta como ele lhe faz mal. Perceba como ele lhe prejudica. Agora, lembre-se de Jesus, o Mestre, que disse „Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida‟. Lembre-se de que nosso Mestre por nada nos censura, que Deus, nosso Pai, nos aceita como somos, com todos os nossos acertos e com todos nossos erros. Repita mentalmente, irmão amigo, as palavras que vem a seguir. Repita-as com muita emoção, pois quando colocamos emoção no pensamento mais facilmente abrimos o canal da oração. Fale mentalmente como se Jesus estivesse à sua frente, pois que de fato Ele está: „Jesus Mestre querido, tu que disseste Não Temas Eu Estou Contigo. Dê-me forças para que eu também possa estar contigo. Sei que estás sempre próximo, mas tenho que aprender a fazer minha parte, caminhando em sua direção. Dê-me forças, Mestre, para que eu possa ir ao seu encontro e que essa oração inspire-me a visualizar a melhor maneira de resolver esse problema que tanto me atormenta.‟ Agora, ainda mentalizando Jesus, continuemos nossa oração, agradecendo por tudo de bom que Jesus e os bons amigos nos propiciam...” (a partir desse momento o orador profere as mais apropriadas palavras de ânimo e agradecimento para a ocasião e a circunstância). Um dos motivos de pedir ao irmão que se lembre do seu problema em vez de esquecê- lo, é que a psicologia afirma que só vencemos um problema quando dele temos consciência. Por exemplo, quem tem medo de falar em público (e a maioria das pessoas o têm) só irá dominar esse medo conscientizando-se de que o medo realmente está presente. E a partir daí adotar métodos para ter controle sobre o mesmo. Desta forma, no momento inicial da oração, pedir ao outro para esquecer dos seus problemas é uma maneira inadequada de enfrentar a questão, ao mesmo tempo em que não estaremos respeitando a condição emocional do irmão que está necessitando de apoio. 

4) Sobre os textos de divulgação distribuídos nas entradas dos Centros Espíritas. 

Há panfletos de divulgação de nossa Doutrina, geralmente distribuídos na porta de entrada, que traz as seguintes informações: “Espiritismo, a terceira revelação.”; “Espiritismo, a Doutrina que responde aos questionamentos fundamentais do ser humano.”, etc.. Expressões como estas não são necessariamente atraentes para quem visita um Centro Espírita pela primeira vez. Elas passam uma imagem de prepotência, ares de superioridade. A linguagem que atrai o visitante é aquela em que, mais do que valorizar o Espiritismo, valoriza-se a grata presença dele no recinto.

5) Sobre o pedido feito aos freqüentadores dos Centros Espíritas: “Nosso Centro Espírita está precisando de trabalhadores voluntários.” 

Muito mais produtivo do que divulgar “Nosso Centro Espírita está precisando de trabalhadores voluntários” é mudar para “Nosso Centro Espírita, através da oferta do trabalho voluntário, está propiciando oportunidades a quem procura um sentido para a vida.” O que, além de ser um comunicado mais atrativo, traduz a mais pura realidade, tirando do Centro Espírita a imagem de “pedinte”, substituindo-a pela imagem de “ofertante”.

6) Sobre a linguagem utilizada em entrevistas em rádio, jornal e TV. 

Tem sido comum nas entrevistas de confrades espíritas, os mesmos colocarem ênfase nas questões científicas e filosóficas de nossa Doutrina, em detrimento ao aspecto religioso da mesma. Se Jesus evidenciou a importância do amor, na frase “Conhecereis os meus discípulos por muito se amarem”, é porque os aspectos amoroso, religioso e transcendental mais nos aproximam de Deus. Os espíritas, sem ser regra geral, são conhecidos por serem pessoas boas e caridosas. No entanto, quando entrevistados, projetam a imagem de pessoas que mais valorizam o conhecimento do que o amor ao próximo. Discute-se a reencarnação, o intercâmbio com o mundo espiritual, mas, muitas vezes, nas entrevistas, não são abordados a importância do afeto, o fato de que somos todos irmãos, o fato de que todas as religiões têm sua importância e valor, etc.. O “amai-vos e instrui-vos” do Espírito Verdade, foi por muitos de nós simplificado para “instrui-vos”. Chegada é a hora de do retorno ao original “amai-vos e instrui-vos”. Para que estejamos em sintonia com a mensagem de Cristo, importante é, nas entrevistas em rádio, jornal e televisão: Ser humilde, sem ser submisso; Ser sincero, sem ofender; Ser objetivo, sem ser agressivo; Mencionar sempre o nome de Jesus. Pois, muitos não espíritas consideram-nos “não cristãos”, e surpreendem-se quanto mencionamos o nome do Mestre; Respeitar as instituições em geral, pois, respeitando a religião alheia, abrimos portas para que a nossa também seja respeitada; Ser sobretudo amável e alegre (um sorriso no rosto é diamante lapidado)

7) Sobre a afirmação “o serviço de unificação é urgente, porém, não apressado”. 

 No livro Seara Bendita, Editora Dufaux, um dos pronunciamentos do Dr. Bezerra de Menezes, autor da frase em destaque (logo acima), esclarece-nos como podemos estar interpretando-a de forma muito equivocada. Vamos ao seu pronunciamento: “Afirmamos outrora que o serviço da unificação é urgente, porém, não apressado. Verificamos no tempo que alguns corações sinceros e leais, entretanto, sem larga vivência espiritual, inspirados em nossa fala, elegeram a lentidão em nome da prudência e a acomodação passou a chamar-se zelo, cadenciando o ritmo das realizações necessárias ao talante de propósitos personalistas na esfera das responsabilidades comunitárias. O receio da delegação, a pretexto de ordem e vigilância, escondeu propósitos hegemônicos em corações desavisados, conquanto amantes do Espiritismo. Em verdade, a tarefa é urgente, não apressada, mas exige ousadia e dinamismo sacrificial para encetar as mudanças imperiosas no atendimento dos reclames da hora presente, e o hábito de esperar a hora ideal converteu-se, muita vez, em medida emperrante.” 

Finalizando 

Queridos confrades, encerro este texto com a transcrição de mensagem de Dr. Bezerra de Menezes no já citado livro Seara Bendita, referindo-se aos Centros Espíritas: “Respeitaremos em nome do amor a quantos ainda estagiam nas formalidades e convencionalismos. Firmaremos bases seguras fora dos limites da conveniência, para assegurar, aos mais novos que chegarão, a oportunidade de vislumbrarem horizontes que atendam as suas exigentes expectativas, com as quais renascerão no soerguimento desse período de moralização e atitude, nesse momento de Espiritismo por dentro e não fora de nossos corações.” 


Alkindar de Oliveira 


30 agosto 2013

A Capacitação do Trabalhador da Mediunidade - Rose Figueiredo



A CAPACITAÇÃO DO TRABALHADOR DA MEDIUNIDADE

A especialização na tarefa mediúnica é mais que necessária.

Os benfeitores espirituais nos esclarecem que a mediunidade é recurso de trabalho e aprimoramento para o homem da Terra. “É talento divino para edificar o consolo e a instrução entre os homens.” (Seara dos Médiuns – Cap. Médiuns Transviados / O Livro dos Médiuns, Q. 220)

Emmanuel ainda nos ensina que a mediunidade “[...] é uma das mais belas oportunidades de progresso e de redenção concedidas por Deus aos seus filhos misérrimos”. (O Consolador – Q. 382)

Através do maravilhoso intercâmbio entre os dois planos da vida, o ser humano ajuda-se, mutuamente, em favor do seu aprimoramento, sob a supervisão amorosa de Deus. A mediunidade é, pois, sublime instrumento da bondade divina para redimir o ser das suas amarras milenares, transformando-o em agente impulsionador do progresso na Terra. Daí a grande responsabilidade daquele que assume a tarefa de trabalhar em favor de si mesmo e do bem comum, utilizando os recursos da mediunidade. É imprescindível que se instrua, a fim de conhecer os caminhos seguros da sua execução.

Emmanuel esclarece que “a primeira necessidade do médium é evangelizar-se a si mesmo antes de se entregar às grandes tarefas doutrinárias [...]”. (O Consolador – Q. 387)

Elucida também que “a especialização na tarefa mediúnica é mais que necessária e somente de sua compreensão poderá nascer a harmonia na grande obra de vulgarização da verdade a realizar”. (O Consolador – Q.388)

Entendemos, também, que a prática mediúnica exige disciplina, renúncia e mesmo sacrifícios pessoais. Precisa haver, por parte do trabalhador, comprometimento e busca constante da sublimação das energias psíquicas, para que os frutos do seu labor mediúnico sejam proveitosos a si mesmo e aos demais. Portanto, pela complexidade de que se reveste a prática mediúnica, o trabalhador necessita buscar o conhecimento, a fim de exercer a tarefa enobrecedora do intercâmbio produtivo.

Allan Kardec já destacava a importância de um curso regular de Espiritismo, “[...] com o fim de desenvolver os princípios da Ciência e de difundir o gosto pelos estudos sérios. Esse curso teria a vantagem de fundar a unidade de princípios, de fazer adeptos esclarecidos, capazes de espalhar as ideias espíritas e de desenvolver grande número de médiuns” (Obras Póstumas, 2ª Parte, Projeto 1868 – item Ensino Espírita)

O Codificador também alerta em O Livro dos Médiuns: Todos os dias a experiência nos traz a confirmação de que as dificuldades e os desenganos, com que muitos topam na prática do Espiritismo, se originam da ignorância dos princípios desta ciência [...]. (O Livro dos Médiuns, Introdução)

A Doutrina Espírita, através dos seus ensinos, nos oferece a orientação segura para o correto exercício da mediunidade, fazendo com que a sua prática se torne fonte de luz e esclarecimentos.

É necessário, portanto, estudá-la de forma metódica e sistemática, à luz do Evangelho de Jesus, antes e após o ingresso na tarefa mediúnica.

A capacitação do trabalhador deve, pois, estar assentada em dois fundamentos básicos, que constituem os seus referenciais:

a) o conhecimento doutrinário, extraído das obras codificadas por Allan Kardec, e, das suplementares a estas, de autoria de Espíritos fiéis às orientações da Doutrina Espírita;

b) conduta espírita, ética e moral, segundo as orientações de Jesus, contida no seu Evangelho.

(Apostila de Estudo e Prática da Mediunidade, Programa II, 3ª Ed. Brasília – FEB 2007 – Roteiro 4, página 90)

Essa capacitação deve buscar, principalmente, favorecer o aprofundamento de temas doutrinários, sobretudo os relacionados à prática mediúnica, desenvolvendo o gosto pelo estudo espírita. 

Deve ainda preparar o trabalhador para exercer a mediunidade de forma natural, como é preconizada pela Codificação Espírita. Neste sentido, é importante atentar para o seguinte conceito de médium, existente em O Livro dos Médiuns: Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, rara são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. (O Livro dos Médiuns – Q. 159)

Assim sendo, todos nós somos capazes de registrar, consciente ou inconscientemente, ideias e sugestões dos Espíritos. Portanto, todos podem, em princípio, participar de uma reunião mediúnica e para ela contribuir positivamente, sendo, porém, necessária a preparação devida a tão importante tarefa.

A capacitação do trabalhador da mediunidade, além de enfocar o conhecimento teórico, necessita oferecer a oportunidade da experimentação. Para se desenvolver qualquer habilidade é necessário que o candidato tenha conhecimento da teoria e realize exercícios continuados. Assim também ocorre com as faculdades psíquicas. Para saber se alguém possui algum tipo de mediunidade é preciso exercitá-la.

Allan Kardec esclarece: [...] por nenhum diagnóstico se pode inferir, ainda que aproximadamente, que alguém possua essa faculdade. Os sinais físicos, em os quais algumas pessoas julgam ver indícios, nada têm de infalíveis. Ela se manifesta nas crianças e nos velhos, em homens e mulheres, quaisquer que sejam o temperamento, o estado de saúde, o grau de desenvolvimento intelectual e moral. Só existe um meio de se lhe comprovar a existência. É experimentar. (O Livro dos Médiuns – Q. 200)

A capacitação deve, ainda, auxiliar o trabalhador a se integrar nas atividades da Casa Espírita. É importante que o medianeiro, além da sua atuação nas reuniões de estudo da mediunidade, seja também um participante ativo das demais tarefas da Casa. Isto vai favorecer o desenvolvimento das habilidades necessárias para o exercício do intercâmbio mediúnico.

Outro fator a se considerar na preparação do trabalhador da mediunidade é a conscientização da importância do trabalho em equipe. Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades são a soma de todas as dos seus membros. O sucesso da tarefa mediúnica é resultado da união dos seus participantes.

Em O Livro dos Médiuns, segunda parte, item 341, o Codificador estabelece as condições para a boa produtividade da reunião mediúnica, das quais destacamos: Perfeita comunhão de vistas e de sentimentos; Cordialidade recíproca entre todos os membros; Ausência de todo sentimento contrário à verdadeira caridade cristã. Como nos alerta o Espírito Emmanuel, não pode “haver construção útil sem estudo e atividade, atenção e suor”. (Seara dos Médiuns – Cap. Mediunidade e Trabalho)

Quem queira sinceramente contribuir no intercâmbio mediúnico, precisa estudar sempre e buscar o próprio burilamento interior, a fim de produzir o melhor na Seara do Senhor.

“Mas, exercer a mediunidade como força ativa no ministério do bem é fruto da experiência de quantos lhe esposam a obrigação, por senda de disciplina e trabalho, consagrando-se, dia a dia, a estudar e servir com ela.” (Seara dos Médiuns – Cap. Aptidão e Experiência)
“Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.” ( O Evangelho Segundo O Espiritismo – Cap. 6, item 5) Esta é a inolvidável advertência do Espírito de Verdade, gravada na Codificação Espírita.


Matéria de Rose Figueiredo

Referências Bibliográficas: Seara dos Médiuns / O Consolador – Francisco C. Xavier / Emmanuel. O Livro dos Médiuns / O Evangelho Segundo O Espiritismo – Allan Kardec.

29 agosto 2013

Desequilíbrios - Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

 

DESEQUILÍBRIOS

Encarnados, quando se alimentam demasiado, desequilibram o aparelho digestivo, e a má digestão certamente os incomodará. 

Do mesmo modo, podemos nos equilibrar e desequilibrar pelos nossos atos. Ações boas nos equilibram, harmonizando-nos com a perfeição. 

Ações más danificam o perfeito, desequilibram, trazendo sempre a doença e o sofrimento como causa desse desequilíbrio.

E quando sofremos sem nos revoltar acabamos por entender que foram nossos atos negativos que motivaram nosso sofrimento. Ao mudarmos nossa maneira de viver, teremos aprendido mais uma lição. Se não aprendermos pelo amor, acabaremos aprendendo pela dor. 

A mente e o corpo não são criados por nós, apenas os desenvolvemos. Tanto a mente como o corpo anseiam pela harmonia, que compõe a natureza. 

Essa harmonia só é possível quando não há interesse pessoal e quando todos trabalham com um único objetivo, o do bem comum. 

Agindo egoisticamente, nós nos separamos espontaneamente do movimento da vida. É como se o feto recusasse o sangue da mãe que o sustenta. 

A mente e o corpo, privados dos fluidos cósmicos, pelo egoísmo, entram em estado de perturbação. 

O remorso destrutivo desequilibra bastante. Muitos, ao desencarnarem, percebem o tanto que erraram, perturbando-se demasiado e, sem um preparo especializado das colônias, uma compreensão, ao reencarnar passam para o corpo esse desajuste. Essas deficiências também podem ocorrer quando abusam do corpo saudável, danificando-o com drogas ou matando-o, e eles podem então ser privados em outra encarnação de um corpo perfeito. 

Também o desequilíbrio mental pode ser causado por abuso da inteligência, prejudicando os outros. 

As anomalias físicas não existem como punição de Deus, mas sim como consequência do nosso remorso destrutivo, de uma vivência com fins próprios, e não como participantes da humanidade. 

Reconhecer que erramos é fundamental, punirmo-nos, por incrível que pareça, é uma atitude de egoísmo. 

Que seria mais agradável a Deus: ser um peso para a sociedade, ou reconhecer nossos desacertos e preparar-nos convenientemente para ser um daqueles que constroem e enobrecem os seres humanos?


Livro: O Vôo da Gaivota, cap. Colóquio Interessante
Espírito Patrícia
psicografia de Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho


28 agosto 2013

Espiritsmo e Evangelho - Emmanuel


ESPIRITISMO E EVANGELHO


Decididamente, o Espiritismo é o movimento libertador das consciências em sua gloriosa tarefa de reestruturar o mundo.

A princípio, a ciência experimentou. Em seguida, a filosofia codificou-lhe os princípios.

Agora, porém, urge cristianizar-lhe os princípios.

Não basta desvelar o horizonte, nem doutrinar a multidão para a grande jornada. É imperioso traçar um roteiro de trabalho e cumpri-lo, para que não alcancemos a eminência do monte, desconhecendo a luz e a grandeza do serviço que nos cabe desenvolver, junto dela.

Eis porque, na curva descendente da civilização em que vivemos, clamamos pelo cultivo da Sementeira Divina do próprio homem, para que se lhe desate no coração a sagrada herança de amor e sabedoria.

A hora é naturalmente grave pelas nuvens de incompreensão que turvam os dias porvindouros.

Não nos cansaremos de repetir a advertência, porque o sábio da desintegração atômica ainda se acha envenenado pelo vírus da hegemonia política; a inteligência que se eleva com asas metálicas à imensidão do firmamento estuda os processos mais eficazes de operar a destruição em baixo, e o raciocínio que escreve páginas comovedoras nem sempre se levanta para o idealismo superior.

Antigamente, o laboratório poderia pesquisar sozinho, e a academia justificava a exclusividade do ministério da discussão. Hoje, contudo, meus amigos, a Doutrina Consoladora exige a aliança de todos os valores para que o cérebro e o coração permaneçam a serviço do Cristo, na obra da fraternidade e da paz.

Em verdade, nenhum de vós outros alegará desconhecimento, com respeito às tempestades renovadoras que se aproximam. Ninguém pode prever o curso da negra torrente do ódio e da incompreensão no Planeta, em face do movimento apocalíptico que se esboça nos caminhos do mundo…

Em razão disso, a meditação com aproveitamento das horas, na construção dos alicerces do Terceiro Milênio, constitui imperativo fundamental do esforço moderno em todos os bastidores espiritualistas da atualidade.

É necessário estender mais luz em derredor da senda humana.

O Espiritismo descortina.
O Evangelho, contudo, orienta.


O Espiritismo informa.
O Evangelho, todavia, ilumina.


O Espiritismo entusiasma.
O Evangelho, porém, santifica.


O Espiritismo leciona.
O Evangelho, no entanto, define.

É imperioso enfrentar o problema de nossa própria luta regenerativa para que a renovação interior se processe segura e definitiva.

Nos primórdios da Causa, era natural que a pergunta sistematizada e o conflito verbal dominassem as fontes da revelação, mas nos tempos que correm é imprescindível que o manancial do bem dimane cristalino do centro de nós mesmos a beneficio do mundo.

Antes do conhecimento iluminativo, compreendia-se o impulso com que nos abeirávamos do Plano Superior, sentindo-nos famintos da graça e esperando que o Senhor no-la dispensasse, à maneira de um rei terrestre em sua carruagem de púrpura e flores, cercada de mendigos.

Entretanto, nos dias abençoados que vos assinalam a experiência purificadora, é indispensável preparar a acústica, do ser, para que ouçamos a voz do Céu, que nos pede o coração de modo a consagrá-lo ao serviço redentor da Humanidade.

Assim, pois, meus amigos, indagando ou ensinando, crendo ou investigando, estudando ou discutindo, não nos esqueçamos, em Jesus, da religião do sacrifício, com a inteligência evangelizada, convertendo as nossas mãos pelo trabalho incessante, na fraternidade e na sublimação do mundo, em asas de sabedoria e de amor para a Vida Imortal.


Emmanuel (espírito)
Psicografia de Francisco Cândido Xavier
Livro: Doutrina de Luz


27 agosto 2013

Ser Nós Mesmos - Hammed


SER NÓS MESMOS

As dificuldades de nosso desenvolvimento e crescimento espiritual se devem ao fato de que nem sempre conseguimos encontrar com facilidade nossa própria maneira de viver e evoluir. Cada um de nós está destinado a participar de urna maneira específica e peculiar na obra da criação. Entretanto, é imprescindível compreendermos nosso valor pessoal como seres originais, ou seja, criados por Deus “sob medida”, percorrendo, particularmente, nosso caminho e assumindo por completo a responsabilidade pelo nosso próprio crescimento espiritual.

Ser nós mesmo é tomar decisões, não para agradar os outros que nos observam, mas porque estamos usando, consciente e res ponsavelmente, nossa capacidade de ser, sentir, pensar e agir.

Ser nós mesmos é eliminar os traços de dependência que nos atam às outras pessoas. Não nos esquecendo, porém, de respeitar-lhes a liberdade e a individualidade e de defender também a nossa, sem o medo de ficar só e desamparado. 

Ser nós mesmos é viver na própria “simplicidade de ser” libertos da vaidosa e dissimulada auto-satisfação, que consiste em fazer gênero de “diferente” perante os outros, a fim de ostentar uma aparência de “personalidade marcante”.

Ser nós mesmos é acreditar em nosso poder pessoal, elaborando um mapa para nossos objetivos e percorrendo os caminhos necessários para atingi-los.

No Novo Testamento, capítulo 7, versículo 13, assim escreveu Mateus em seus apontamentos: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição (…)”.

Pelo fato de a porta ser estreita, deveremos atravessá-la – um de cada vez – completamente sozinhos, acompanhados apenas pelo mundo de nossos pensamentos e conquistas íntimas.

A “porta é estreita”, porque ainda não entendemos que, mesmo vivendo cm comunidade, estaremos vivendo, essencialmente, com nós mesmos, pois para transpor essa porta é preciso aprender a arte de “ser”.

Efetivamente, atingiremos nossa independência quando percebermos a inutilidade dos passatempos, das viagens, do convencionalismo da etiqueta, do consumismo que fazemos somente para conquistar a aprovação dos outros, e não porque decorrem de nossa livre vontade.

Eliminar o domínio, a autoridade ou a influência das ideias, das pessoas, das diversões, dos instintos, do trabalho e dos lugares não significa que precisamos extirpar ou abandonar completamente todas essas coisas, mas somente a dependência. Podemos nos ocupar desses assuntos quando bem quisermos, conforme nossas necessidades e conveniências, sem a escravidão do condicionamento doentio.

Passar por esse “trajeto restrito” é ter a coragem de romper as amarras internas e externas que nos impedem a conquista da liberdade. Perguntemo-nos: quantos dos nossos atos e atitudes são subprodutos de nossas dependências estruturadas na subordinação da sociedade? A submissão social tem sua base inicial na busca de aprovação dos outros, colocando os indivíduos na posição de permanentes escravos e pedintes do aplauso hipócrita e do verniz da lisonja.

A travessia desse “longo caminho ermo” nos levará ao Reino dos Céus, estruturado e localizado na essência de nós mesmos. Para tanto, devemos recordar-nos de que as Leis Divinas estão escritas na nossa consciência, cabendo-nos aprender a interpretá-las em nós e por nós mesmos.

Jesus Cristo, constantemente, referia-se a esse Reino Interior como sendo a morada de Deus em nós. Por voltarmos costumeiramente nossos olhos para fora, e não para dentro de nós mesmos, é que nunca conseguimos vislumbrar as riquezas de nosso mundo interior.
Mateus prossegue em seus comentários dizendo: “(…) apertado é o caminho que leva à vida, e poucos há que o encontrem”. Por “vida” devemos entender não apenas a manutenção da vida biológica na Terra, que é passageira e fugaz, mas a plenitude da Vida Superior, iniciada sobretudo na vivência do mundo interior.

Nossa autonomia, tanto física, emocional, mental como espiritual, está diretamente ligada às nossas conquistas e descobertas íntimas. Nossa tão almejada realização interior está relacionada com o conhecimento de nós mesmos.

“Apertado é o caminho”, porque exige esforços importantes para que possamos eliminar nossos laços de dependência neurótica, os quais nos condicionam a viver sem usufruir nossa liberdade interior, aceitando ser manipulados pelos juízos e opiniões alheias.

A liberdade se inicia no pensamento para, posteriormente, materializar-se na exterioridade, quebrando, então, os grilhões da dependência. Os Espíritos Amigos enfocaram o assunto com muita sabedoria, afirmando: “No pensamento goza o homem de ilimitada liberdade, pois que não há como pôr-lhe peias. Pode-se-lhe deter um vôo, porém, não aniquilá-lo.”¹

¹ O Livro dos Espíritos, Questão 833: Haverá no homem alguma coisa que escape a todo o constrangimento e pela qual goze ele de absoluta liberdade? No pensamento goza o homem de ilimitada liberdade, pois que não há como pôr-lhe peias. Pode-se-lhe deter um vôo, porém, não aniquilá-lo.

Livro: As Dores da Alma, item Dependência
Espírito Hammed
Psicografia de Francisco do Espírito Santo Neto



26 agosto 2013

Dejastustado - Irmão X


 
DEJASUSTADO

Conheço-lhe os males, meu amigo, e reconheço a oportunidade de suas considerações.

Após o surgimento da sublime luz da crença em sua alma, parece-lhe a paz um mito distante. “Meu coração ganhou fé – assevera você –, mas perdeu a tranqüilidade.” A palestra inteligente de preciosos amigos não acende em seu espírito o interesse de outro tempo. Se falam de economia, lembra você o serviço imenso de Jesus no setor da repartição dos bens terrestres; se comentam a política, você recorda o programa do Cristo nas atividades do amor ao próximo. Quando a Ciência, a Arte e a Literatura não sintonizam com as suas aspirações presentes, doloroso tédio invade-lhe o coração. Tolera as conversações sem movimentá-las e é com esforço que, muita vez, acompanha os comentários da vida e do mundo no círculo dos parentes, aos quais deve o tesouro dos júbilos familiares.

A espiritualidade superior é, agora, sua preocupação dominante. Em muitas ocasiões, assemelha-se ao homem de um velho conto, de minha meninice, perdido em gruta escura e selvagem, procurando acesso ao oxigênio leve do campo.

Antigamente, o mundo materializado fascinava-lhe os olhos. Era preciso correr na conquista de conhecimentos e vantagens, instalar a personalidade na galeria da evidência social e política e adaptar-se às dominações do momento, a fim de atender aos imperativos da existência terrestre. Mas, depois... Uma luz forte colheu-lhe a mente na estrada. Deslumbrado a princípio, você acreditou que era mais uma lâmpada festiva, no castelo das sensações; no entanto, aos poucos, reconheceu que não se tratava de uma claridade como as outras. Porque você tratou sempre os problemas da vida alimentando o firme desejo de acertar, encontrou a luz elevados recursos em sua sinceridade, e penetrou seu país interior, devagarinho, iluminando-lhe a consciência. Desde então, nasceu novo entendimento em sua alma. Transformaram-se as paisagens internas e externas. Muitos quadros que lhe pareciam grandiosos, tornaram-se insignificantes. Situações invejáveis que noutra época seduziam seu coração, constituem hoje zonas escuras de que você foge naturalmente amedrontado. Vantagens converteram-se em perigos, conquistas em responsabilidades e muitos ganhos, que se lhe figuravam indispensáveis na tabela de aquisições do mundo, representam agora para você derrotas e perdas, que é necessário evitar em benefício de sua própria felicidade.

Desajustado! Desajustado!

Seu pensamento repete essa definição todos os dias e seus velhos afeiçoados renovam a mesma observação. Debalde, procuram nos seus gestos, atitudes e palavras, o homem que você já foi. Alguns afirmam que a velhice prematura se assenhoreou de seus dias, exclamam outros que a experiência religiosa lhe embotou o raciocínio. Você mesmo, em momentos de prova mais áspera, esforça-se inutilmente por tornar ao passado. Todavia, não é mais possível o caminho de regresso. A verdade domina a fantasia e você é compelido a permanecer na mesma posição de deslocamento espiritual.

Desajustado! Desajustado!

Desde alguns séculos, existe no mundo a chamada legião dos homens “marginais”. São eles judeus alemães, nas sociedades germânicas; anglo-indianos, em círculos indus; mestiços na África Portuguesa e na Ilha de Java. Sentem-se deslocados, ansiosos, insatisfeitos... Chamam-lhes “sem pátria”, viajando a caminho de um porto que jamais encontrarão. Exasperam-se e sofrem, sem remédio que lhes cure a chaga íntima. Um deles, Stefan Zweig, sensibilidade extraordinária a serviço da inteligência, enfadado de fichários e passaportes, angustiado pela sua condição de peregrino internacional, preferiu o suicídio, menosprezando os dons de Deus.

Seu sofrimento, porém, meu amigo, era pior. Seu desajustamento, mais grave. Não havia pátrias terrenas que lhe pudessem satisfazer o ideal, porque a fé conferira ao seu coração a cidadania do mundo. Sofreria pelo brasileiro, como pelo javanês; meditaria na dor comum, onde essa dor aparecesse. Desprendera-se dos laços humanos, embora permanecesse dentro deles, segundo a expressão física. Era um prisioneiro libertado, conservando os grilhões por amor ao dever. O sangue que lhe corria nas veias modificara-se. Pertencia ao organismo da Humanidade. É por isso que a sua angústia interior ultrapassara a aflição dos que disputam urna pátria terrestre, confinada por pontes, árvores, rios ou cercas de arame. Ansiava o seu coração por uma esfera mais alta, onde pudesse pulsar ao ritmo da compreensão universal.

Para você, também, não há outro remédio na Terra senão prosseguir avante, procurando manter no seu espírito a bênção da divina serenidade. E quando o desalento assediar, de longe, o seu coração, lembre-se da súplica de Jesus, em favor dos continuadores amados. No capítulo dezessete, do Evangelho de João, o Mestre exclama : – “Não são do mundo, como eu do mundo não sou.” Não ignorava que a sua lição deslocaria a mente dos aprendizes, reajustaria os valores da existência aos olhos de cada discípulo, perante a revelarão da eternidade e lhes traria profunda renovação interior. Compreendia Jesus que esse trabalho é básico e essencial na edificação do Reino de Deus, e reconhecendo que necessitava esclarecer os aprendizes, de maneira inequívoca, Ele mesmo tomou a posição da margem. Nem no Céu, onde não poderia descansar ainda, nem na Terra, onde não conseguiria identificar-se com a maioria dos mortais e, sim, na cruz, na situação de Marginal Divino, convidando as criaturas ao monte da Ressurreição.

É evidente, pois, que o Cristo previu esse desajustamento temporário e espera que o cooperador fiel de sua obra tome a cruz que lhe pertença e lhe siga os passos, a caminho da Vida Imortal

Pelo Espírito Irmão X
Do livro: Lázaro Redivivo
Médium: Francisco Cândido Xavier

25 agosto 2013

Escolhos da Mediunidade - Martins Peralva


ESCOLHOS DA MEDIUNIDADE
 
"Qualidade mediúnica é talento comum a todos. Mas, exercer a mediunidade como força ativa no ministério do bem é fruto da experiência de quantos lhe esposam a obrigação, por senda de disciplina e trabalho, consagrando-se, dia a dia, a estudar e servir com ela”. Emmanuel

A mediunidade é o meio de que dispõem os Espíritos para suas comunicações com os encarnados.

Através dela, ocorrem fatos sublimes ou negativos, seja do ponto de vista fenomênico, no que tange à evidência e comprovação da imortalidade da Alma e de sua comunicabilidade com os vivos do mundo físico, seja do ponto de vista intelectual, espiritual.

Todavia, pela mediunidade mal-iniciada, mal-conduzida, mal-orientada - mediunidade sem Jesus e sem Allan Kardec, a serviço de humanos interesses, podem surgir conseqüências imprevisíveis.

São os escolhos da mediunidade.
Seus perigos.
Seus obstáculos.

PROBLEMA MORAL - Sob o ponto de vista técnico, de sua realização como fenômeno, a mediunidade independe do fator moral. Há medianeiros evangelizados, como os há, em grande número, inteiramente infensos a qualquer programa superior, no que toca ao comportamento individual, bem como à aplicação de suas faculdades. Contudo, sob o ponto de vista dos frutos, dos resultados, o fator moral é de profunda importância, isto porque, os bons médiuns sintonizam com Bons Espíritos, assim como servidores incorretos, irresponsáveis sintonizam com entidades do mesmo teor. Médiuns sérios atraem Espíritos sérios; médiuns levianos atraem Espíritos levianos. O ensino vem dos Espíritos Superiores. Procede de Allan Kardec e Léon Denis, ou de Emmanuel e André Luiz, pela mediunidade abençoada de Francisco Cândido Xavier, que expendem, sobre o assunto, judiciosas considerações. O medianeiro que se não ajusta aos princípios morais pode ser vitimado pela ação do mundo espiritual inferior.

ESGOTAMENTO FISICO-MENTAL - Um dos escolhos da mediunidade é a sua prática com o médium cansado, em decorrência de atividade desordenada, que sobre excede sua capacidade física. O esgotamento físico e/ou mental, antecâmara da estafa, de recuperação difícil, debilita as energias do medianeiro, podendo, dependendo de sua resistência moral, torná-lo vítima de Espíritos maldosos. Tão logo perceba pronunciados sinais de fadiga, além da normal, deve o médium confiar-se a repouso e tratamento, por tempo adequado, para que o refazimento se faça.

EVOCAÇÕES - Allan Kardec adverte os espíritas para as evocações, porta aberta para que entidades desocupadas, zombeteiras e mistificadoras veiculem noticias espetaculosas, inverídicas, mirabolantes, que agradam aos curiosos. Espíritos irresponsáveis adoram os evocadores, que lhes fomentam as investidas. Os evocadores constituem, em verdade, excelente platéia para os Espíritos menos elevados. Ao contrário das evocações, um dos mais sérios escolhos da mediunidade, as comunicações espontâneas convém acentuemos - são as mais belas, as mais convincentes, embora numas e noutras não devamos prescindir da vigilância aconselhada pelo Codificador.

lNTERROGATÓRlOS - Na mediunidade exercida em harmonia com Jesus e Kardec, que nos ensinam o amor fraterno, o lema é SERVIR, com abstenção da curiosidade negativa. Interrogatórios espirituais não são aceitos pelos Espíritos Superiores, credores do nosso respeito, nem pelos Espíritos sofredores, que se magoam. O dirigente deve possuir tato para entender os Espíritos que se comunicam, oferecendo-lhes amor, tolerância e compreensão, mesmo em se tratando de entidades perturbadoras, que procuram fazer-se notadas ou se impor através de um linguajar colorido, ou de conceitos lisonjeiros. O dirigente que se preocupa, excessivamente, em interrogar os Espíritos, à maneira dos cadastristas do mundo, pode, muita vez, ter diante de si um Instrutor Espiritual, que não dispõe de tempo para submeter-se a interrogatório, em perquirição sistemática, inadequada.

FUTILIDADES - Que o campo mediúnico é inçado de perigos, de obstáculos, de dificuldades, de escolhos todos nós o sabemos. Dirigentes, médiuns e cooperadores que se preocupam com assuntos banais, não devem esperar boas companhias, nem bons resultados, O semelhante atrai o seu semelhante. Quem semeia ventos, colhe tempestade. O serviço mediúnico, uma das coisas mais sérias do Espiritismo, não comporta irresponsabilidade, nem desrespeito, nem superficialidades.

DESARMONIA - Na condição atual do nosso mundo, de expiação e provas, é impossível organizar-se uma equipe mediúnica com pessoas perfeitas, sublimadas. A perfeição é, ainda, um objetivo a alcançar. O que se alvitra, o que se preconiza é a formação de grupos mediúnicos integrados por irmãos que se estimem, que se entendam. Irmãos equilibrados e corretos em suas intenções, sem embargo das naturais deficiências humanas. Um grupo harmônico, que trabalha com sinceridade, recebe amparo dos Bons Espíritos, que lhe sustentam as energias interiores. Vibrações antagônicas desfavorecem o trabalho mediúnico.

GRATUIDADE - Boa prática mediúnica é a que se realiza em função do Bem, com integral desinteresse pelas coisas materiais. O “dai de graça o que de graça recebestes”, do Evangelho de Jesus, deve acompanhar o médium em todos os instantes de sua existência, a fim de que Espíritos inferiorizados não se lhe ajustem ao campo psíquico, desorientando-lhe a mente, perturbando-lhe a atividade, conspurcando-lhe a consciência, em nefasta simbiose. O exercício mediúnico tem que ser constante doação na vida do medianeiro, com integral desinteresse por qualquer tipo de recompensa.

TRABALHO ISOLADO - É desaconselhável o desempenho mediúnico isolado. Em reuniões domiciliares ou em recintos estranhos ao Centro Espírita. Tarefas mediúnicas em residências oferecem perigo, podendo gerar processos obsessivos em seus moradores. (*) Nos lares, recomenda-se, apenas, o Culto do Evangelho no Lar, com leituras, comentários e preces em favor de seus componentes e de pessoas alheias ao círculo familiar.

MÉDIUNS-DIRIGENTES - A pessoa que detém recursos mediúnicos de incorporação não deve presidir reuniões mediúnicas. Agitações, tumultos, turbulências podem assinalar o clima de tais reuniões. Entidades desordeiras ocasionalmente podem assenhorear-se da organização do médium-dirigente, de maneira a estabelecer o pânico, a confusão, o temor.
A tarefa do médium é a que corresponde à sua própria condição: oferecer a sua faculdade aos que já transpuseram as fronteiras do túmulo. Ajudar a encarnados e desencarnados.

ANlMISMO - Um dos mais freqüentes escolhos da mediunidade é o animismo, fenômeno pelo qual a pessoa arroja ao passado os próprios sentimentos, de onde recolhe as impressões de que se vê possuído. No fenômeno anímico "o médium se expressa como se ali estivesse, realmente, um Espírito a se comunicar". O médium portador desse desajuste deve ser amparado, pacientemente, "com os recursos da caridade evangélica, podendo transformar-se em valioso companheiro".

ENDEUSAMENTO DE MÉDIUNS - O endeusamento de médiuns é, sem dúvida, um dos mais funestos escolhos da mediunidade, o que maiores prejuízos causa ao médium, atingindo-o, duramente, a curto, médio ou longo prazo. O espírita esclarecido é cauteloso nas referências ao companheiro da mediunidade, quando a boa palavra se faz necessária, em forma de estimulo e amparo. Mais do que todos os escolhos, o endeusamento é o ópio dos médiuns, podendo fazê-los resvalar, inapelável.

MISTIFICAÇÕES - Não devemos confundir "mistificação" com "animismo“. Na primeira, temos a mentira; no segundo, o desajuste psíquico. A responsabilidade pelas mistificações resulta, mais, da estrutura da equipe mediúnica, do que das entidades que veiculam a mentira. O conceito evangélico de que "quem busca, acha" tem validade, também, na vivência mediúnica. Mentes despreparadas, corações invigilantes, propósitos inferiores, insinceridade no trabalho cooperam nas ocorrências da mistificação. Amor entre os companheiros mediunicamente consagrados ao socorro aos sofredores diminui as possibilidades de mistificação, preserva o agrupamento contra a investida dos desocupados da Espiritualidade, resguarda o medianeiro.

FALTA DE ESTUDO - A falta de estudo, evangélico e doutrinário, constitui sério escolho na prática mediúnica. O médium deve ler, estudar, refletir, assimilar e viver, quanto lhe seja possível, as edificantes lições do Evangelho e do Espiritismo, a fim de que possa oferecer aos Espíritos comunicantes os elementos necessários a uma proveitosa comunicação. O médium estudioso, além disso, é instrumento dócil, maleável, acessível. Tem, sempre, uma boa roupagem para vestir as idéias a ele transmitidas. O que não estuda, nem se renova, cria dificuldades à transmissão da mensagem, favorecendo a desconexão.

AUSÊNCIA DE TRABALHO - A ausência de trabalho é, realmente, um grave escolho da mediunidade, isto porque a ferramenta mediúnica exige utilização constante, ação continua, não somente pela necessidade de aprimoramento das antenas psíquicas, como também pelo imperativo da conquista do sentimento do amor. O trabalho assegura assistência espiritual superior, protege o médium contra o assédio e o domínio de entidades menos felizes, constrói preciosas amizades nos planos físico e subjetivo. Harmonia fluídica, amor e confiança, destreza psíquica e apuro vibracional representam o somatório da atividade mediúnica exercida na disciplina do trabalho.

EDUCAÇÃO MEDIÚNICA - A educação mediúnica, por sinônimo de ”desenvolvimento mediúnico", deve ser iniciada no devido tempo, na época apropriada, isto é, ao se verificar a espontânea eclosão da faculdade. Não devemos “querer" o desenvolvimento mediúnico, mas "amparar" a faculdade que surge, pelo estudo e pelo trabalho, pela oração e pela prática do Bem. Forçar a eclosão da mediunidade, ou o seu desenvolvimento, significa abrir as portas do animismo, com sérios inconvenientes para o equilíbrio, a segurança e a produtividade do medianeiro. Outrossim, é anti-doutrinário induzir o médium, ostensiva ou veladamente, a oferecer passividade a tal ou tal Espírito. A mente do companheiro, iniciante ou já afeito ao intercâmbio, deve permanecer livre como o pensamento e clara como um regato, a fim de que a filtragem mediúnica não se condicione, nem se subordine, inteiramente, à interferência do médium. A educação mediúnica deve ser, em qualquer circunstância, espontânea. Natural. Suave. Sem qualquer tipo de violência, externa ou interna.


FONTE:
Martins Peralva; “ESTUDANDO A MEDIUNIDADE”, FEB

24 agosto 2013

Drama na Sombra - Espírito Jorge


DRAMA NA SOMBRA
 
No encerramento de nossas atividades na noite de 9 de julho de 1954, tivemos a presença de Jorge, um irmão que nos era desconhecido e com quem tomáramos o primeiro contacto um ano antes.

Mobilizando as faculdades psicofônicas do médium, relatou-nos o seu “drama na sombra”, oferecendo-nos com ele preciosos elementos de estudo.

Ouvindo-o, lembramos-lhe a primeira manifestação, em julho de 1953, quando foi auxiliado por nossos Benfeitores Espirituais, através de nosso Grupo.

Apresentara-se como um louco. Sustentava a cabeça entre as mãos, queixando-se desesperadamente, e alegando que trazia o crânio estilhaçado pela bala de revólver com que exterminara o próprio corpo e cujo estampido parecia eternizar-se dentro de seu cérebro.

Regressando ao nosso Grupo com o presente relato, mostra como age sobre nós a Lei de Causa e Efeito. Homicida direta e indiretamente e suicida, torna-se obsidiado pelas suas vítimas, após o crime em que se comprometeu na existência da carne, fazendo-se presa de Espíritos infernais nas regiões inferiores a que desceu pelo suicídio e somente consegue reequilibrar-se, assimilando com boa-vontade o auxílio que lhe foi prestado pelos Espíritos Benevolentes e Amigos.

Importante notar que as suas vítimas, com delitos menores, voltam à reencarnação antes dele e ser-lhe-ão pais terrestres, em futuro próximo, para que, dentro do “carma” elaborado pelo trio, possam os três caminhar unidos nas provações expiatórias com que se redimirão diante da Lei.


Quem agradece com sinceridade traz aos benfeitores aquilo de melhor que possui.

Sou pobre vítima do crime e do suicídio que vem depositar em vossas preces uma singela flor de gratidão.

No entanto, para comentar o favor recebido, peço permissão para que minhas lembranças recuem no tempo.

Corria o ano de 1917 e sentia-me um homem feliz entre os mais felizes.

Era moço, otimista e robusto.

Avizinhava-me dos trinta anos e sonhava a organização de meu próprio santuário doméstico.

Anita era minha noiva.

Aqueles que amaram profundamente, guardando, inalteráveis, no peito, a primavera das primeiras aspirações, poderão compreender a floração de esperança que brilhava em minhalma.

A escolhida de minha mocidade encarnava para mim o ideal da perfeita mulher.

Preparávamos o futuro, quando um primo, de nome Cláudio, veio viver em nossa casa no Rio, à caça de estabilidade profissional para a juventude, necessitada de maiores experiências.

Acolhido carinhosamente por meus pais e por mim, e mais moço que eu próprio, passou a ser meu companheiro e meu irmão.

O infortúnio, porém, como que me espreitava de perto, porque Cláudio e Anita, ao primeiro contacto, pareceram-me transfundidos na ventura de velho conhecimento.

Pouco a pouco, reconheci que a criatura querida me escapava dos braços e, mais que isso, notei que o amigo se erguia em meu adversário, porque blasonava de minha perda, ironizando-me a inferioridade física.

No decurso de alguns meses, por mais tentasse distanciá-los discretamente, Cláudio e Anita estreitavam os laços da intimidade afetiva, até que fui apeado de meu projeto risonho — tudo quanto a Terra e a vida me ofereciam de melhor.

Instado para entendimento pela antiga noiva, dela recolhi observações inesperadas.

Nosso compromisso era apenas ilusão...

Andara mal inspirada...

Eu não representava para ela, em verdade, o tipo ideal do companheiro...

Não seríamos felizes...

Melhor desfazer a aliança amorosa, enquanto o tempo nos favorecia visão justa...

Senti-me desfalecer.

Preferia a morte à renúncia.

Entretanto, era preciso sufocar o brio humilhado, asfixiar o coração e viver...

Para vós outros, semelhantes confidências podem constituir uma confissão demasiado infantil, todavia, dela necessito para salientar o benefício recolhido em nossas preces.

Recalquei o sofrimento moral.

Escoaram-se os dias.

Cláudio era filho adotivo de nossa casa, comensal de nossa mesa.

Sentindo-se meu irmão, não suspeitava que um ódio terrível se me desenvolvia no coração invigilante.

Meses transcorreram e a gripe, em 1918, castigava a cidade.

Estendera-se a epidemia e Cláudio não lhe resistiu ao assalto. Caiu sob invencível abatimento.

Fui-lhe o enfermeiro desvelado, no entanto, mal podia suportar o devotamento de que o via objeto, por parte da mulher que eu amava.

Não compreendia por que se confiara ela a tamanha versatilidade, e, observando-a, firme e abnegada, em torno do rapaz, entreguei-me gradativamente à idéia do crime.

Numa noite de febre alta, em que o doente reclamava maiores demonstrações de paciência e carinho e em que Anita, fatigada, obtivera, enfim, alguns momentos de sono, eliminei todas as dúvidas. Á guisa de remédio, administrei ao enfermo o veneno que o afastaria para sempre de nós.

Na manhã imediata, um cadáver representava a resposta de meu despeito às esperanças da mulher que me preterira.

A morte, contudo, não conseguiu desuni-los, porque Anita, embora afagada por mim, fez-se arredia e desconfiada. Parecia procurar em meus olhos a sombra do remorso que passara a flagelar-me o coração. E, apática, desalentada, renunciando ao porvir, rendeu-se à depressão orgânica, que, aos poucos, lhe abriu caminho para o sepulcro.

Revelava-se contente por entregar ao polvo invisível da tuberculose a taça do próprio corpo.

Quando me vi sozinho, sem os dois, mergulhei no desânimo e no arrependimento.

E entre a silenciosa interrogação de meus pais e a tortura interior que passou a possuir-me, escutava-lhes a voz, desafiando-me em cada canto:

— Jorge! Jorge! que fizeste? que fizeste de nós? Jorge! Jorge! Pagarás, pagarás!...

Os dois fantasmas inexoráveis impeliam-me à morte.

Inútil tentar resistência.

Percebia-os em toda parte, fosse em casa, na via pública ou dentro de mim...

E o desejo de minha própria exterminação começou a empolgar-me...

Em dado instante, resolvi não mais me opor à tentação.

Meus pais eram bons, carinhosos e devotados.

Não lhes podia dar o espetáculo de um suicídio aberto.

Na manhã fatídica, porém, notifiquei à minha mãe que faria a limpeza na arma de um amigo.

Ela pediu-me cuidado.

Contemplei-a enternecidamente pela última vez.

Aqueles cabelos brancos rogavam-me que eu vi-vesse!.

Fixei a mesa de escritório em que meu pai, ausente, costumava trabalhar, e a figura dele visitou-me a imaginação, induzindo-me à calma e ao respeito à vida...

Hesitei.

Não seria mais justo continuar sofrendo no mundo para, com mais segurança, reparar meus erros?

Entretanto, as acusações, em voz inarticulada, martelavam-me o cérebro.

—Jorge, covarde! que fizeste de nós?...

Decidi-me sem detença.

Demandei o quarto de dormir e com o revólver emprestado espatifei meu crânio.

Ah! desde então suspirei por morar no inferno de fogo terrestre que seria benigno comparado ao tormento que passei a experimentar!...

Creio hoje que as grandes culpas nos transformam o espírito numa esfera impermeável, em cujo bojo de trevas sofremos irremediável soledade, punidos por nossa própria desesperação.

Tenho a idéia de que todos os padecimentos se congregavam em mim.

Desejava ver, possuía olhos, e não via.

Propunha-me ouvir qualquer voz familiar, identificava meus ouvidos, e não ouvia.

Queria movimentar as mãos e, sentindo-as embora, não conseguia acioná-las.

Meus pés! Possuía-os, intactos, entretanto, não podia movê-los.

Achava-me na condição dos mutilados que prosseguem assinalando a presença dos membros que a cirurgia lhes arrancou.

Comigo uma vida nova de fome, sede, amargura e remorso passou a desdobrar-se...

O estampido não tinha fim.

Sempre a bala aniquilando-me a cabeça...

Depois de largo tempo, cuja duração não me é possível precisar, notei que vozes sinistras imprecavam contra mim... Pareciam nascer de furnas sombrias situadas em minhalma...

E sempre envolto na sombra sibilante, sentia um fogo diferente daquele que conhecemos na Terra, uma espécie de lava comburente e incessante, vertendo chamas vivas, a se entornarem de minha cabeça sobre o corpo...

Debalde acariciava o anseio de domir.

Torturava-me a fome, sem que eu pudesse alimentar-me.

Algumas vezes, pressentia que nuvens do céu se transformavam em temporal... Guardava a impressão de arrastar-me dificilmente sobre o pó, tentando recolher algumas gotas de chuva que me pudessem dessedentar...

Mas, como se eu estivesse vivendo num cárcere inteiriço, sabia que a chuva rumorejava por fora sem que eu lograsse uma gota sequer do precioso líquido.

E, em meio aos tormentos inomináveis, sofria mordidelas e alfinetadas, quais se vermes devoradores me atingissem o crânio, carcomendo-me todo o corpo, a partir da planta dos pés.

Em muitas ocasiões, monstros horripilantes descerravam-me as pálpebras que eu não conseguia reerguer e, como se me falassem através de pavorosas janelas, gritavam sarcasmos e palavrões, deixando-me mais desesperado e abatido.

Sempre aquela sensação da cabeça a esmigalhar-se, dos ossos a se desconjuntarem e da mente a obstruir-se, sob o império de forças tremendas que, nem de leve, até hoje, minha inteligência poderia definir ou compreender...

De nada me valiam lágrimas, petitórios, lamentação...

Ansiava pela felicidade de tocar algum móvel de substância material... Clamava pela bênção de poder transformar as mãos numa concha simples, a fim de recolher algo do pó terrestre e localizar-me por fim...

Assim vivi na condição de um peregrino enovelado nas trevas, até que alguém me trouxe ao vosso templo de orações.

Agora que recuperei a noção do tempo, digo-vos que isso aconteceu precisamente há um ano...

Pude conversar convosco, ouvir-vos a voz.

O médium que me acolheu, à maneira de mãe asilando um filho, era um ímã refrigerante.

Transfundir-me nas sensações de um corpo físico, de que me utilizava transitoriamente embora, deu-me a idéia de que eu era uma lâmpada apagada, buscando reanimar-me na chama viva da existência que me fora habitual e cujo calor buscava reaver desesperadamente.

Depois de semelhante transfusão de forças, observei que energias novas fixavam-se-me no espírito, refazendo-me os sentidos normais e, então, pude gemer...

Tive a felicidade de gemer como antigamente, de chorar como se chora no mundo...

Conduzido a um hospital, recebi tratamento.

Decorridos dois meses, passei a freqüentar-vos o ambiente.

Aprendi a encontrar o socorro da oração e, mais consciente de mim, indaguei por Cláudio e Anita.

Obtive a permissão de revê-los.

Oh! prodígio! reencontrei-os enlaçados num lar feliz, tão jovens quanto antes...

Recém-casados, desfrutavam a ventura merecida...

Marido e mulher, haviam reconstituido a união que eu furtara...

Aproximei-me deles com imensa emoção.

A noite avançava plena...

Extático, rememorando o pretérito, reconheci que os dois haviam entrado nas vibrações radiosas da prece, passando, logo após, ao sono doce e tranqüilo.

Minha surpresa fez-se mais bela.

Afastando-se suavemente do corpo físico, ambos estenderam-me os braços, em sinal de perdão e de amor...

E, enquanto me entregava ao pranto de gratidão, alguém que está convosco (1), e é para todos nós uma irmã devotada e infatigável, anunciou-me aos ouvidos:

— Jorge, o novo dia espera por você. Cláudio e Anita, hoje reencarnados, oferecem-lhe ao coração a bênção de novo abrigo ... Em verdade, você receberá um corpo castigado, um instrumento experimental em que se lançará à recuperação da harmonia... A fim de restaurar-se, sofrerá você como é justo, mas todos nós, na ascensão para Deus, não prescindiremos do concurso da dor, a divina instrutora das almas... Regozije-se, ainda assim, porque, neste santuário de esperança e ternura, será você amanhã o filho abençoado e querido!...

Despedi-me, radiante.

E agora, tomado de fé viva, trago-vos a mensagem de meu reconhecimento.

Oxalá possa eu merecer a graça de um corpo torturado e doente, em que, padecendo, me refaça e em que, chorando, me reconforte...

Sei que, para as minhas vítimas do passado e benfeitores do presente, serei ainda um fardo de incerteza e lágrimas, contudo, pelo trabalho e pela oração, encontraremos, enfim, o manancial do amor puro que nos guardará em sublime comunhão para sempre.

Amigos, recebei minha ventura!

Para exprimir-vos gratidão nada tenho... Mas, um dia, estaremos todos juntos na Vida Eterna e, com o amparo divino, repetirei convosco a inesquecível invocação desta hora: «Que Deus nos abençoe!...

OBS: (1) O comunicante refere-se ao Espírito Meimei. - Nota do organizador.



Fonte:
Livro Instruções Psicofônicas
Psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier
Pelo espírito Jorge, edição FEB