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31 outubro 2021

A Sabedoria de envelhecer - Momento Espírita

 
A SABEDORIA DE ENVELHECER

Ele é um homem com mais de oitenta anos. Forte, daqueles bons italianos.

Um exemplo de saber envelhecer. Ele já se deu conta, há muito tempo, que o vigor da juventude o deixou.

Mas, isso não quer dizer que se acomodou. Faz tudo o que o corpo ainda lhe permite.

Até há pouco tempo, dirigia seu carro e, em determinadas épocas, tomava da esposa, dizia Inté para os filhos e netos e saía a viajar.

De cada vez, um local diferente.

Vamos conhecer tal lugar? - Perguntava para a esposa, cuja idade beira a dele.

Quer dizer, perguntava por perguntar, porque a senhora, também disposta, sempre concordava.

Fecham o apartamento e lá se vão para uma estância, uma estação de águas, um hotel fazenda.

Há pouco, completaram suas bodas de ouro e os filhos promoveram uma grande festa.

Ele compareceu no mais belo e alinhado terno, bigodes aparados, cabelo branco bem penteado e a seriedade, disfarçando a emoção.

Ela, num lindo vestido longo, azul turquesa, encantando os olhos dele, como se fossem os anos primeiros de convivência.

Recentemente, amigos de ideal espírita decidiram por prestar-lhe homenagem, pelos anos de dedicação à causa. Pelo seu pioneirismo, alçando a bandeira da Doutrina Espírita em terras onde apenas despontava, tímida.

De imediato, sua memória e sua ética foram ativadas.

Por que eu? Antes de mim, houve quem fizesse muito mais do que eu. E melhor.

E recordou do amigo, por cujas mãos conheceu a Doutrina Espírita. E esteve presente para a entrega da homenagem. Naturalmente, ele também foi homenageado.

Emocionado, agradeceu, dizendo não merecer porque, dizia, da Doutrina Espírita recebera o melhor. Ele era, portanto, um devedor.

E, incentivou à juventude, aos atuais trabalhadores a continuarem no bendito labor da divulgação, espalhando luzes, aclarando mentes e corações.

Comoveu a todos.

Simples, embora detentor de considerável patrimônio e posses, abraça com vigor os amigos.

Faz questão de um bom papo, embora a dificuldade, por vezes, para ouvir. Mas, ele ajusta o seu aparelho para a surdez e participa.

Não tem vergonha de tornar a perguntar, quando não entende.

Sábio, não fala se não tem certeza de ter bem entendido a pergunta.

Sabe calar-se quando muitos falam ao mesmo tempo, dificultando-lhe a captação das palavras.

Ainda guarda um ar de maroto, por vezes, mostrando que o viço infantil não morreu em sua intimidade.

Assim, outro dia, em pleno café da manhã com amigos, quando todos já haviam terminado a refeição e se entretinham à mesa, conversando, ele tomou de uma faca e a introduziu no pote de doce de leite.

Trouxe-a com a ponta carregada do precioso doce. Olhou para a esposa, exatamente como criança que sabe que, o que vai fazer está errado, e lambeu-a, com prazer.

Todos riram. Ele também. Havia acabado de fazer uma peraltice bem própria de criança.

Mas, afinal, quando envelhecemos com sabedoria, somos assim.

Maduros no agir, jovens no pensar, crianças para o prazer de viver intensamente cada dia.

Pessoas frívolas, que somente valorizam o exterior, temem envelhecer.

Pessoas ponderadas envelhecem sorrindo. Sabem que o vigor da juventude é passageiro e aproveitam a madurez dos anos para semear sabedoria e colher venturas.

Venturas por ter educado filhos para o bem e para o amor.

Por ter cultivado o afeto no matrimônio. Por ter construído amizades sólidas, independentes de idade, raça, cor, nível social.

Aprendamos com quem sabe envelhecer!

Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita v. 13 e no livro Momento Espírita, v. 6, ed. FEP.

30 outubro 2021

É Possível Comprar o Céu? – Sidney Fernandes

 

É POSSÍVEL COMPRAR O CÉU?


Podemos negociar com a divindade? O futuro além desta vida depende de fatores materiais? E o mérito, como fica?

É muito conhecida a reação do indivíduo que, deitado numa rede, ao sentir repentina vontade de trabalhar, ficou bem quietinho, até a vontade passar. Se fôssemos eleger um hino à indolência, talvez essa fosse a imagem perfeita para caracterizar o ânimo do preguiçoso.

Interessante observar o comportamento de determinadas pessoas, que agem e pensam de acordo com esse hino e depois se ressentem de suas precárias condições de vida. Costumam chamar de sorte o sucesso do esforçado e dedicado.

A questão do mérito é abordada pela sociedade humana, desde que foi constituída. Existem os que, cedo, constatam que sem ele não há como sobreviver. Batalham, esforçam-se e fazem por merecer vida digna. Há, no entanto, os que se consideram espertos e querem os mesmos direitos dos que trabalham, fazendo nada.

Estes, em todos os setores de relação humana, procuram atalhos com o intuito de ludibriar a natureza e os pares da sociedade em que vivem. Vão mais longe. No campo da religião, por exemplo, alimentam a absurda pretensão de enganar o criador, transgredir suas leis e ainda se sair bem, quando partem desta para outra vida.

Como ainda estamos longe da perfeição, semelhantes intenções malignas, tão comuns e corriqueiras em nosso mundo, representariam monstruosas exceções em planetas mais adiantados. Tais quais, por exemplo, as vendas de indulgências por pessoas inescrupulosas e destituídas de princípios religiosos autênticos.

Martinho Lutero, monge alemão, revoltou-se e deflagrou a reforma protestante em 1517, assim como os reformistas John Wycliffe, João Huss e Jerônimo de Praga, que também se insurgiram contra os excessos, a cobiça e a vilania dos equivocados, que pretendiam conspurcar o poder religioso da época.

O auge dos escândalos das indulgências ocorreu no século XVI, com o lançamento de uma política aberta de venda de certificados absolvitórios capazes de extinguir qualquer pecado.

Surpreendi-me, caro leitor, ao encontrar uma pintura datada de 1530, denominada A venda de indulgências, de Augsburg.

Embora saibamos dos desmandos do passado, em que os mais elementares princípios de justiça, perante os homens e perante as leis divinas, hajam sido conspurcados pelo egoísmo humano, as verdades, quando são apresentadas cruamente, ainda causam perplexidade.

Um balcão de negócios, tendo, de um lado, dois comerciantes: um recolhendo o dinheiro — que se poderia chamar de vendedor —, e o outro, fornecendo o documento de quitação dos pecados. À frente, longa fila de pecadores, cristãos não praticantes da fé, interessados em diminuir ou extinguir penas previstas para os erros cometidos.

As indulgências eram verdadeiros passaportes para o céu. Eram vendidas a céu aberto, por sacerdotes, profissionais, mascates, chamados de perdoadores(quaestores), portadores de cartas que teriam o condão de extinguir qualquer tipo de pecado. Não existia crime, nem o mais cruel, que não pudesse ser remido, mediante o pagamento de vasta soma de dinheiro.

Tornou-se popular a expressão que libertava as pessoas das penas eternas:

No momento em que uma moeda tilinta no fundo do gazofilácio, uma alma escapa do purgatório.

Cristãos autênticos, que se esforçavam para se manter distantes do pecado, ficavam desconcertados com a subversão de interesses, ao presenciar o comércio clandestino de uma mercadoria denominada excedentes de mérito.

Acreditava-se que essa matéria-prima se originava de Jesus, de Maria e de muitos outros santos, e era comercializada por aqueles que se consideravam seus depositários, os detentores dos poderes eclesiásticos.

No meu livro Luzes em Paris, cito João Huss, John Wycliffe e Jerônimo de Praga, esses importantes reformistas que se insurgiram contra a ambição e a ganância dos que deveriam dar o exemplo de dignidade e não representavam com fidelidade os postulados da Igreja Romana.

***

A princípio, as indulgências tinham objetivo nobre. Religiosos bem-intencionados, sensibilizados pela sincera intenção de pecadores arrependidos que queriam se redimir de seus erros, davam-lhes nova oportunidade de atenuarem suas faltas, por intermédio de doações, encaminhadas a hospitais, asilos, orfanatos, pobres miseráveis e viúvas desamparadas. Com efeito, baseavam-se na frase de Pedro: o amor cobrirá a multidão de pecados, contida em sua primeira epístola, para tentar efetivamente ajudar os crentes

Com o tempo, cresceu o olho dos religiosos, diante dos altos valores que circulavam por suas mãos e que passaram a guardar para a igreja e para si próprios.

***

É possível comprar o céu?

Pecadores e pretensos religiosos do passado pensavam que sim. Infelizmente, muita gente ainda hoje acha que pode comercializar com a divindade. Contratos de fé, vassouras ungidas, terreno no céu, contrato de compra com Deus, autenticado com o sangue do cordeiro na forma de uma cruz… Estes são alguns tristes exemplos encontrados em rápida busca pela internet, atestando que nos tempos atuais ainda existe muita gente procurando atalhos para o céu.

Os que defendem esse tipo de prática argumentam que no livro Atos, 16:30-31, há a seguinte promessa:

— Que é necessário que eu faça para me salvar?

— Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa.

Nesse caso, segundo eles, bastaria ter fé e os objetos ou documentos vendidos aos fiéis seriam suficientes para salvar a alma dos pecadores.


Esquecem-se de uma outra passagem, contida na epístola de Tiago, 2:17:

— Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.

Na Doutrina Espírita não se encontra a salvação com contratos ou terrenos no céu. Dizem a lógica e também a sociedade humana, esta desde que tomou consciência do mérito, que todo e qualquer objetivo somente poderá ser alcançado se houver esforço, dedicação e muito trabalho. Não há atalhos ou quebra-galhos. Tudo, para ser alcançado, exige o preço a ser pago.

Jesus salva — segundo a Doutrina Espírita — quando superamos a preguiça, quando abraçamos o trabalho e a determinação para superar nossos defeitos e desenvolver a nossa transformação interior.

O autêntico espírita aceita Jesus e a sua salvação, mas sabe que precisará batalhar, merecer, amar e praticar a caridade. Ninguém — nem mesmo o mais injusto dos homens — premia quem não merece. Assim também é a vida, sob o olhar de Deus. Somente se salva quem tem o mérito do esforço.

***


A qual grupo você pertence?

Ao time da indolência? Dos espertos? Daqueles que ainda estão querendo comprar indulgências ou pretensos salvo-condutos? Ou ainda está atrás de uma chave mágica que proporcione o sucesso e a salvação? Ou do atalho para o céu?

Nesse caso, estas palavras não lhe servem e muito menos todo o manancial do Cristo e da Doutrina Espírita à disposição. Infelizmente você ainda está arriscado a cair em mãos inescrupulosas e estelionatárias, que lhe prometerão o céu em troca de alguns trocados e lhe provocarão decepção ao descobrir que foi enganado, ao conhecer a vida verdadeira.

Mas, se você, caro leitor, está disposto a suar, trabalhar, estudar, concentrar suas forças e energias para se tornar melhor… Se você está disposto a promover a sua transformação moral e a minimizar suas más tendências… E toda noite faz sua reflexão para identificar erros cometidos durante o dia a fim de evitá-los, no dia seguinte…

Então você já pode se considerar um espírito a caminho do bem, à procura do verdadeiro mérito, que lhe abrirá ainda mais as portas desta existência e da espiritualidade maior.


Sidney Fernandes
Fonte: Kardec Rio Preto

29 outubro 2021

Espiritismo, misticismo, sentimento religioso e positivismo: uma resposta de Léon Denis - Jáder dos Reis Sampaio


 
ESPIRITISMO, MISTICISMO, SENTIMENTO RELIGIOSO E POSITIVISMO:
UMA RESPOSTA DE LÉON DENIS


Acabo de ler um artigo de Léon Denis, publicado na revista Le Spiritisme, de junho de 1889 [*], no qual ele comenta a proposta do Sr. Marius George de criar em meio ao espiritismo um grupo positivista, que se apoiasse exclusivamente nos fatos e abandonasse tudo o que pudesse pertencer "ao domínio da hipótese".

Denis estava participando da organização de um congresso organizado pela União Espírita Francesa, e confirma ao seu correspondente que "sua forma de ver será acolhida não só pelo congresso, mas de forma permanente por todos os seus irmãos, com o respeito que é devido às convicções sinceras e esclarecidas" (p. 81)

A seguir, Marius afirma que a obra de Allan Kardec "está manchada com dogmatismo e misticismo" e que por isso guardaria pouca relação com "os gostos e aspirações" da época em que eles viviam.

Denis argumenta que Kardec agrupou e coordenou o ensino dos espíritos, de forma a lhe dar um "corpo" de doutrina. Ele afirma que isso levou o espiritismo à "idade adulta". Ele afirma que todos os que fugiram desse método, com teorias pessoais, edificaram obras efêmeras. Ele se refere a Roustaing, como exemplo, dizendo que ele merece o epíteto de místico com mais justiça.

Analisando Kardec ele cita o combate, com rigor, dos dogmas católicos em O evangelho segundo o espiritismo, O céu e o inferno e A gênese. Mostra a diferença do conceito de Deus entre os católicos, e penso que também entre os deístas como Voltaire, porque fala do Deus-relojoeiro, e faz uma imagem muito interessante, que já havia percebido na leitura de O céu e o inferno, a substituição de um Deus visto como imperador do universo (cercado por seus anjos-cavaleiros), por uma "imensa república de mundos governada por leis imutáveis, acima dos quais paira a Razão, Razão consciente, que conhece a si mesma e que é dona de si, que é Deus." (p. 82)

Surpreendendo seu interlocutor, Denis afirma que a noção de Deus nos escapa (ele está discutindo com Marius George o misticismo da concepção de Deus) assim como as noções positivistas de infinito e eternidade. Em outras palavras, ele aponta uma contradição interna do positivismo: conceitos que não surgem da observação de fatos, mas da razão.

O autor espírita francês continua dizendo que Kardec entende "o sentimento religioso como uma força" que pode ser utilizada para o bem da humanidade. Ele afirma que a humanidade não tem menos necessidade do ideal que do real.

Para ele, "o ideal é essa intuição do melhor que nos eleva acima do visível, do conhecido, do realizado, em direção de concepções e de formas mais perfeitas." (p. 82) Nessa frase, Denis mostra a seu interlocutor que uma visão exclusivamente positivista seria reducionista, defendendo certo idealismo (escola filosófica).

Outra colocação genial de Denis foi reconhecer que o sentimento religioso foi explorado por uma casta sacerdotal que produziu abusos em seu nome, mas que "fortificado pela ciência e pela Razão ele se tornará motivo de aperfeiçoamento individual e de transformação social". (p. 82)

O espírita de Tours faz um análise das religiões e mostra que sua parte exclusivamente humana e material é a "das definições, dos dogmas e de todo o aparato dos cultos e dos mistérios", da mesma forma que Kardec havia discutido em seu artigo de 1868.

Ele afirma que as experiências espíritas dão uma base sólida à crença na vida futura, retirando-a do domínio das hipóteses e situando-a no domínio dos fatos (ele estaria se referindo a uma teoria baseada em evidências, como se diz hoje?). Também afirma que "seria uma grande falta, deixar às igrejas o monopólio da ideia de Deus".

Com uma frase contundente, Denis reafirma a insuficiência do positivismo e o valor do sentimento religioso, quando escreve: "A missão do espiritismo não é excluir o sentimento religioso do coração humano e a noção de Deus, mas sim secularizá-los, para purificar, para elevá-los, para apoiá-los na razão, a fim de torná-lo o motivo de melhoria." (p. 83)

O mais interessante do artigo é ver que mesmo se opondo claramente à tese da redução do espiritismo aos limites traçados pelo positivismo, Denis respeita seu interlocutor. Ele conclui seu artigo dizendo:

"Mas qualquer que seja sua opinião sobre este assunto, creia, meu amigo e irmão, que estamos de acordo em pontos suficientes para que certas diferenças de opinião não nos possam separar e que você vai me encontrar sempre disposto a caminhar de mãos dadas na conquista de destinos melhores para nós e para a humanidade." (p. 83)


Um texto muito importante para refletirmos no meio espírita, nos dias de hoje.

Jáder dos Reis Sampaio
Fonte:
Espiritismo Comentado


28 outubro 2021

Contato com Espíritos no Presídio - Wellington Balbo

 
CONTATO COM ESPÍRITOS NO PRESÍDIO

Alguns anos atrás minha filha, Olívia, começou a queixar-se de influência espiritual.

Segundo ela, o Espírito de uma menina a perseguia causando-lhe embaraços de todos os tipos. Falava com ela e aparecia-lhe em sonhos.

Como na época morávamos juntos, resolvi, certo dia, conversar com o Espírito que perseguia minha filha.

Fomos até a sala, oramos, e eu, em voz alta, iniciei a fala. Disse para o Espírito sobre Jesus, abordei a questão do amor, perdão, vida após a morte e pedi que seguisse seu caminho, deixando Olívia em paz.

A situação resolveu-se e, desde então minha filha não mais acusou a presença da entidade que apoquentava sua vida.

Bem provável ter sido o caso de um Espírito ainda sem conhecer sua real condição. Parecia-me, realmente, uma entidade muito mais perdida do que má.

Por que contei este fato?

Porque algumas pessoas consideram que não se deve estabelecer contato com os Espíritos fora do ambiente do centro espírita.

Esquecem, todavia, que os Espíritos estão entre nós, a todos os instantes, e basta o pensamento para que os imortais estejam mais próximos.

Aliás, Kardec trouxe um Espiritismo com Espíritos, sem grande cerimônia para contatar os imortais.

Segundo Kardec bastava o sentimento fervoroso e o desejo sério de instruir-se para, então, ser digno de receber os bons Espíritos, fosse onde fosse, estivesse onde estivesse.

Muito mais do que a geografia, ensina Kardec que o importante é o coração puro.

No que concerne a manifestação dos Espíritos, Kardec narra pitoresco fato:

Conta ter recebido carta de um presidiário que se convertera ao Espiritismo.

A missiva está na Revista Espírita, fevereiro de 1864. O detento informa que o Espiritismo teve o poder de levá-lo à reflexão.

Ele, então, ao conhecer o Espiritismo pode perceber o mal que havia feito, sendo, pois, despertado para uma nova vida por meio da fé.

Mas eis que o presidiário informa estar contatando os bons Espíritos no presídio.

E eles, os bons Espíritos, não lhe faltavam a assistência e compareciam, ditando-lhe palavras reconfortantes.

Ou seja, o presidiário era médium e fazia o contato com os Espíritos na própria cela em que se encontrava.

Kardec encerra o texto de forma primorosa, informando-nos que nenhum obstáculo, nem mesmo o fato de se estar na prisão é impeditivo de confabular com os bons Espíritos, pois estes manifestam-se aqui, ali e acolá…

Quer o homem queira ou não, os Espíritos são livres e não aceitam que neles se coloquem amarras de qualquer tipo.

E como são livres, estarão onde bem quiserem e entenderem, não sendo, pois, apenas o centro espírita palco para a presença das entidades desencarnadas.

Elas estão por toda parte e a nós cabe entender como se processa este contato para, então, colaborar de alguma forma, caso se faça necessário nosso concurso.

Pensemos nisso.

Wellington Balbo
Fonte:
Agenda Espírita Brasil

27 outubro 2021

A criança ante o futuro - Vianna de Carvalho

 
A CRIANÇA ANTE O FUTURO

Todos somos unânimes em afirmar que a criança de hoje é o futuro da Humanidade. Nada obstante, a jornada educacional da criança é, em especial, a grande saga de libertação da ignorância e construção da plenitude.

Na história da educação a criança tem sido o laboratório onde se operam os métodos psicopedagógicos mais valiosos, resultado natural da experiência e dos estudos sobre o ser em formação.

No passado, algo remoto, a criança era considerada um adulto em miniatura.

Não merecendo cuidados especiais, com exceção da fase inicial da existência, era tratada com desprezo e má vontade.

Nas famílias possuidoras de recursos pecuniários era entregue a famílias que se encarregavam de cuidá-la e devolvê-la após o período de formação, quando poderia auxiliar no trabalho.

Sua indumentária e comportamento eram semelhantes aos do adulto, não poucas vezes, sendo assassinada pelos genitores que a faziam sucumbir como se fosse de maneira natural, escapando facilmente às leis muito benignas em relação ao infanticídio.

Muitas eram asfixiadas no leito de dormir, como se houvesse sido um fenômeno natural.

O Estado e a Religião dominante contribuíam de forma significativa para a manutenção da hediondez.

Pouco antes do século X, percebeu-se que a fragilidade e a inocência da criança deveriam ser preservadas, poupando-a dos vícios e da degradação vigentes em toda parte.

Posteriormente, o eminente pedagogo checo Jan Comenius lutou estoicamente para demonstrar que a criança é um ser em formação, que necessita de amparo e de cuidados muito especiais para formação da sua fase juvenil e adulta.

Dedicando-se a defender o infante das armadilhas da vida adulta, foi praticamente o primeiro defensor do amparo e zelo pelo ser em desenvolvimento, trabalhando-lhe o íntimo de modo a desenvolver os germes de sabedoria que lhe jaziam adormecidos, desse modo preparando-a para a vida no futuro.

Mais tarde, Johann Heinrich Pestalozzi dedicou a existência a orientar a criança de maneira especial, despertando-lhe os tesouros íntimos, que se enfloresceriam e dariam frutos de beleza e de harmonia.

Afinal, a criança, pelo fenômeno natural se transforma em adulto, conduzindo os valores que tenha acumulado nas fases anteriores do seu desenvolvimento intelecto-moral.

Dignificando-a com o seu exemplo de ternura e a sua abnegação natural, respeitava-lhe o estágio, estimulando os seus interesses na aprendizagem e enriquecimento pessoal para os enfrentamentos do porvir, enquanto abria espaços mentais para a plenitude da futura sociedade.

Logo após ou concomitantemente, Jean-Jacques Rousseau passou a considerar de vital importância o investimento na educação infantil por meio de significativa contribuição pedagógica e psicológica.

No século XIX Fröebel, o sensível mestre alemão iniciou os excelentes labores dos Jardins de Infância e propiciou cuidados especiais na formação do caráter e da personalidade da criança, enquanto ofereceu educação e instrução conforme a sua capacidade de absorção psíquica e emocional.

Contribuições valiosas do ponto de vista fisiológico no século anterior, por meio de Pavlov, facultaram modificações profundas nos programas educacionais.

A Dra. Maria Montessori logo depois iniciou o seu precioso labor na Casa dei Bambini e nossos horizontes abriram-se para trabalhos fecundos quais os de Anísio Teixeira, Piaget e iluminados mestres, que culminaram com Delors e a sua proposta sobre o conhecimento.

Vivem-se na atualidade recursos extraordinários de educadores, alguns inspirados como Paulo Freire, enquanto a sociedade distraída das suas responsabilidades morais, destrói os lares e atira a criança a lamentável orfandade de pais vivos e fornecedores de objetos tecnológicos, de modo a abandoná-los à própria sorte.

Nesse estado psicológico de abandono, o educando amadurece e experimenta múltiplas agressões no santuário do lar, enquanto participa dos conflitos dos pais nos relacionamentos apressados, sem estrutura afetiva, padece insegurança e medo que o empurram na direção dos vícios consumptores entre os quais o sexo irresponsável e a drogadição infame.

A educação, sob qualquer aspecto considerado, é um ato de amor que começa na gestação e se prolonga indefinidamente.

Exige seriedade e investimento afetivo, embora os métodos e técnicas utilizados se baseiem no exemplo de conduta dos pais e educadores, que plasmarão no caráter em formação os pródromos do bem viver e do respeito à vida.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o extraordinário educador polonês Janusz Korczak informava: Nós pagamos para formar o espírito da criança. O que acontece com o seu coração?

Ele o demonstrou com a própria existência, cuidando das crianças que se encontravam em abandono pelas ruas de Varsóvia.

Quando em agosto de 1942 as suas crianças foram condenadas aos fornos crematórios pelos nazistas, ele as guiou, a fim de que tivessem confiança e adentrou-se com elas no campo de extermínio, embora a sua vida pudesse ser poupada, e deu-a aos educandos para que tivessem dignidade mesmo no momento da morte cruel.

O seu amor e a sua fé, embora não fossem totalmente de alguém que se envolvesse com dogmas e postulados religiosos, levaram-no a educar e exemplificar como o mais importante dever do cidadão.

O materialismo disfarçado que vige em quase toda parte faculta o campo do prazer em vez do dever do recato e da dignificação humana, abre o campo do prazer de todos os matizes, para que as criaturas humanas, aturdidas e irresponsáveis, atirem-se à caça do gozo sem restrição nem equilíbrio.

Nesse contexto, é inegável a necessidade da mudança ético-moral e de comportamento, conforme a Doutrina de Jesus-Cristo, atualizada e vivida pelos Seus discípulos verdadeiros, hoje renascidos na Doutrina Espírita, a fim de que se perceba que Ele prossegue como o Educador por excelência, que ampara a criança e a atrai ao Seu regaço com respeito e ternura.

Igualmente, Seu discípulo Allan Kardec viveu a educação e, mediante o pensamento espírita, oferece o legado que constitui um profundo respeito pela vida infantil, utilizando-se das condições hábeis para construir a sociedade feliz de hoje e do futuro.

Vianna de Carvalho
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica de 25 de julho de 2019, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.

26 outubro 2021

Um casal tem o direito de limitar o número de filhos? - Espiritismo Na Rede

 

UM CASAL TEM O DIREITO DE LIMITAR O NÚMERO DE FILHOS?


Penso que a resposta a essa questão, que é bem atual e preocupa tanto o homem, já foi dada com clareza por Joanna de Ângelis em seu livro Após a Tempestade, cap. 10, psicografado por Divaldo Franco.

O homem – afirma Joanna, em sua privilegiada posição de Espírito que vê as duas faces da existência humana, a visível e a invisível – pode e deve programar a família que lhe convém ter, o número de filhos e o período propício para a maternidade, mas jamais se eximirá aos imperiosos resgates que deve enfrentar, tendo em vista seu próprio passado. Os filhos não são realizações fortuitas.

Procedem de compromissos aceitos antes da reencarnação pelos futuros pais, de modo a edificarem a família de que necessitam para a própria evolução. É, evidentemente, lícito aos casais adiar a recepção de Espíritos que lhes são vinculados, impossibilitando mesmo que reencarnem por seu intermédio. Mas as Soberanas Leis da Vida dispõem de meios para fazer que aqueles rejeitados venham por outros processos à porta dos seus devedores ou credores, em circunstâncias talvez mui dolorosas, complicadas pela irresponsabilidade desses cônjuges que ajam com leviandade, em flagrante desconsideração aos códigos divinos.

Entende o Dr. Jorge Andréa (Encontro com a Cultura Espírita, págs. 77, 105 e 106) que o planejamento familiar é questão de foro íntimo do casal. Mas pergunta: Será preferível um Espírito reencarnar num lar pobre com as habituais dificuldades de subsistência, ou ficar aturdido e acoplado à mãe que lhe fechou os canais, criando, nessa simbiose, neuroses e psicoses de variados matizes?

Respondendo a isso, ele próprio esclarece (Forças Sexuais da Alma, cap. V, págs. 124 a 126) que, na maioria das vezes, os Espíritos, quando vêm para a reencarnação, de há muito já estão em sintonia com o cadinho materno. Se os canais destinados à maternidade são neutralizados e fechados, é claro que haverá distúrbios, principalmente no psiquismo de profundidade, isto é, na zona inconsciente ou espiritual, onde as energias emitidas por essas fontes não encontram correspondência em seu ciclo.

Seria melhor, portanto, não opor obstáculos à volta dos Espíritos a um corpo de carne, pois o espírita não ignora a seriedade da planificação reencarnatória. É razoável pensar, pois, que antes de retornarmos às experiências físicas nos tenhamos comprometido a receber, como filhos, um número determinado de Espíritos. A prole estaria, assim, com sua quota previamente estabelecida quando ainda nos achávamos nos planos espirituais. Rejeitar alguém convidado para vir seria equivalente a romper um compromisso, um contrato, um acordo, como fazem os que desertam das responsabilidades, o que não é raro na sociedade em que vivemos.


Fonte: Espiritismo na Rede


25 outubro 2021

A Paternidade Ausente Sob a Ótica da Doutrina Espírita - Carla Silvério

 
A PATERNIDADE AUSENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA ESPÍRITA

A questão da paternidade, dentro da Doutrina Espírita, é vista como sendo de grande importância e de fundamental relevo para a formação do Espírito reencarnado através dos laços havidos com seus pais no planejamento reencarnatório para a nova existência que passa a vivenciar.

Segundo as lições contidas em O Livro dos Espíritos, Questão 582 (KARDEC, 2019), os Espíritos nos dizem claramente que a paternidade é verdadeira missão e, ao mesmo tempo, um dever, que diz respeito, mais do que se imagina, à responsabilidade do ser humano em relação ao futuro.

A mesma Questão ainda afirma que Deus colocou o filho sob a tutela de seus pais para que estes o guiem no bom caminho. Deve, pois, todo aquele que experimenta a graça divina da paternidade, exercê-la com responsabilidade, ciente de que os frutos plantados com os filhos serão colhidos mais adiante, pois, se o filho sucumbir por culpa dos pais, estes é que sofrerão as consequências da queda daquele que ficou sob sua guarda nesta encarnação.

Por outro lado, sendo os pais responsáveis, diligentes e exercendo a paternidade voltada para a formação do bom caráter de seus filhos, então não são responsáveis pela queda de sua prole, conforme Questão 583 de O Livro dos Espíritos (KARDEC, 2019). Contudo, não podemos nos esquecer de que, como nos é ensinado ainda na mesma Questão, quanto mais árdua for a experiência da paternidade vivenciada pelos pais com os filhos, maior será a sua missão em direcionar esse Espírito em sua formação dentro da senda do bem, e tanto maior serão os méritos desses pais vitoriosos em desviar seus filhos do mau caminho.

Os pais, ao exercerem a missão-dever de educar seus filhos com responsabilidade, amor e afeto, proporcionam-lhes a oportunidade de crescimento e desenvolvimento intelecto-moral e, principalmente, Espiritual, e é na infância que se forma a personalidade do Ser recém reencarnado (KARDEC, 2019, Questões 383 e 384).

A presença do pai na criação de seu filho é, pois, missão-dever que deve ser cumprida diligentemente (KARDEC, 2019, Questão 208), uma vez que exercem os pais grande influência sobre seus filhos no desenvolvimento de sua educação.

Sabe-se que o planejamento reencarnatório inclui, dentre outras questões, a escolha da família na qual o Espírito irá reencarnar, dentro do que lhe é melhor e mais adequado para as provas e expiações de que necessita para a existência vindoura (KARDEC, 2019, Questão 258), e é em meio aos laços familiares que a reencarnação acontece.

Mas, então, como entender o abandono paterno sob a ótica da Doutrina Espírita?

Como dito, a família na qual o Espírito irá reencarnar é escolhida de antemão, ainda no plano espiritual, mas nem sempre a reencarnação acontece em núcleo familiar onde há afeto e amor. Por vezes, são os laços familiares criados pela sabedoria infinita de Deus por meio da reencarnação a chance de se expiar desavenças passadas e se criarem novos vínculos afetivos, justamente superando dificuldades no convívio, exercitando o perdão mútuo e, assim, evoluírem.

Assim, a escolha daquele que será o pai em sua existência próxima, e com o qual há graves desavenças a serem superadas, possibilita ao Espírito reencarnante maior chance de se apagar as mágoas passadas com o aprendizado do amor e do perdão pela convivência íntima das relações familiares, resultando em sua maior evolução (haja vista optar por ter uma vivência familiar árdua).

Entretanto, nem sempre é possível tal resiliência no âmbito familiar. Por vezes, aquele escolhido para exercer a missão-dever da paternidade ainda se apresenta equivocado em sua vivência material, não se distanciando de seus maus pendores mesmo após a vinda ao mundo material de seus filhos, casos em que, infelizmente, são comuns em pais ausentes e/ou omissos em relação aos filhos.

Quando se observa cenário prejudicial à boa formação dos filhos pelo mau exemplo daquele destinado à paternidade, melhor será ao Espírito em formação que não conviva com seu pai, para não receber deste orientações e direcionamento errôneos, prejudicando sobremaneira a sua evolução. Desta forma, a paternidade ausente pode ser para alguns um grande alívio, e, para outros, um grande pesar.

Sabe-se que a ausência paterna gera grandes e graves reflexos psicológicos na formação dos filhos, e todos os prejuízos sofridos pelo filho abandonado serão suportados pelo pai ausente, ainda que o filho seja resiliente e não se desvie do bom caminho, apesar de suas mazelas familiares.

Todo mal que é gerado ao próximo será cobrado no futuro, assim é a Lei de Causa e Efeito, não necessariamente da mesma forma e na mesma proporção. É certo que o plantio nos é facultativo, mas a colheita do que foi outrora plantado nos é obrigatória, sendo que o livre arbítrio de todos é sempre respeitado.

A escolha do caminho que se segue em cada uma das encarnações pelas quais se passa é exclusivamente do Espírito reencarnado. Assim, deixar de exercer a missão-dever da paternidade quando lhe é dada é opção íntima pelo plantio amargo de um futuro próximo.

Os débitos já existentes entre pais e filhos, decorrentes de vidas passadas, serão somados às novas dívidas geradas pelo abandono paterno suportado pelos filhos na reencarnação vivenciada por ambos, quando deveriam acertar suas arestas. Todo aquele que se acovarda frente à sua missão paternal responsável e amorosa comete não penas falta moral com a mãe, que se vê obrigada a suportar todos os reflexos da maternidade solo, sem que assim tivesse escolhido, mas, principalmente, falta moral com seu filho, que se desenvolverá sem os laços paternais. A todos os pais ausentes, por quaisquer motivos forem, deve-se exortar sobre as consequências de seus atos sob a luz da Lei de Causa e Efeito, já que Deus é infinitamente justo e bom, e ninguém se furta à justiça divina.

Que todos os pais tenham para si a ciência de suas responsabilidades com o Espírito que lhe foi confiado.

Carla Silvério
Fonte: Blog Letra Espírita

Referências:

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 24ª reimp. Capivari: Editora Eme, 2019.


24 outubro 2021

Transeuntes - Joanna de Ângelis


TRANSEUNTES

Desejaria ser como eles.

Renteiam contigo, produzindo em alta escala com a leviandade de quem ignora o tesouro de que dispõem.

Uns falam, e o calor das ovações que recebem desata-os em sorrisos largos e festivos que te encantam.

Outros escrevem, e as moedas da admiração que lhes chegam as mãos se convertem em adornos faiscantes que te fascinam.

Alguns recuperam a saúde no próximo enfermo com aplicação de passes, e o respeito de que se sentem distinguidos te emociona.

Muitos escutam orientação segura, e são classificados como seres especiais, apresentando-se como se o fossem, despertando-te inveja.

Diversos vêem homens que vivem além da esfera física, e são homenageados pelo carinho de todos, enquanto fremes de angústia.

Vários materializam desencarnados e coletam os pingentes brilhantes da admiração geral, que te deslumbram.

Outros mais, ainda, realizam prodígios cercados de consideração e louvaminhas, em febril contentamento que te desvanece.

* * *

Consignas, algo decepcionado, que as tuas possibilidades mediúnicas são escassas, dúbias mesmo, deixando-te algo confuso em muitas circunstâncias...

As Entidades que te utilizam os recursos, consideras, são tão doentes e perturbados quanto tu mesmo.

Nada dizem nem realizam de original, que se constitua novidade.

Reportam-se a acontecimentos triviais, referem-se à dor, à miséria, à decepção de que se acham possuídos...

Nem palavras candentes.

Nem páginas brilhantes.

Nem recuperações orgânicas estupefacientes.

Nem informações retumbantes.

Nem visões celestes.

Nem ectoplasmias atraentes.

Somente se referem à necessidade de renovação e trabalho.

Além deles, os que te buscam são obsidiados, inquietos, doentes, pessoas na última quadra da vida...

Como renovar-se, porém, e trabalhar, remoqueias intimamente, se foste tão pouco aquinhoado?

Sentes a necessidade de difundir a luz que se irradia da Mensagem Espírita, no entanto...

Não te perturbes, não desanimes.

O Espiritismo se apresenta e se afirma pela conduta dos que o expõem sem se impor a ninguém.

Os transeuntes da carruagem dourada da mediunidade deslumbrante são como tu mesmo, enfermos graves em desfile da ilusão.

Demandam o túmulo, que os aguarda inexoravelmente, enganados, enganadores...

São doentes do espírito em adiantado grau de desequilíbrio.

É verdade que portam o tesouro medianímico em alta expressão fenomênica para que não digam ignorar, mais tarde, as informações do Mundo Imortal para onde seguem.

Enquanto se divertem, aumentam compromissos, agravam responsabilidades.

Todos os louvores que recebem ficarão com a massa carnal, silenciosos e inexpressivos no sepulcro.

Muitos, no entanto, antes mesmo do retorno à vida espírita, constatam, no abandono de que se vêem objeto pelos seus admiradores, também transeuntes da vida, o travo de fel e o azedume do arrependimento, tarde demais.

Mediunidade é compromisso com a consciência sedenta de recomposição do passado. É meio de servir com segurança e desprendimento, por ensejar trabalho a outrem, por intermédio de alguém...

Ajuda, pois, aqueles que no além túmulo sofrem e te advertem com a aflição deles.

Talvez não sejas um grande médium, conhecido e disputado pela louvação dos homens; no entanto, procura constituir obreiro do amor, que não é ignorado pelos infelizes, podendo ser identificado pelos sofredores da Erraticidade.

* * *

Jesus, o impoluto Médium de Deus, quando esteve conosco e deu início ao seu apostolado de amor excepcional, esqueceu, deliberadamente, magos e adivinhos do seu tempo, sensitivos de renome e profetas conhecidos, videntes famosos e escribas célebres, retóricos apaixonados e curadores distinguidos para selecionar atormentados, doentes, sofredores e perturbados das cercanias das cidades por onde deambulava; erguendo do lodo e amparando do abismo os que se tresloucaram para, com eles, levantar, como levantou, a mais duradoura e nobre construção que o espírito humano conhece: a redenção do homem.

Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo P. Franco
Livro: Dimensões da Verdade - 27

23 outubro 2021

Busquemos harmonia - Nilton Moreira

 
BUSQUEMOS HARMONIA

Queremos sempre ter saúde que proporcione prazer de viver e cumprir normalmente nossas atividades, conquistando objetivos planejados e chegarmos ao limite possível da felicidade. Mas é um desejo complexo pois a todo momento situações adversas se apresentam.

Mas qual a maneira mais indicada para driblarmos intempéries porvindouras? O pensamento positivo e bom astral é fundamental, pois promovemos energia aos nossos órgãos para atuarem com vontade máxima e evitamos moléstias.

Somos uma máquina e se o combustível é de ruim qualidade não funcionará em plenitude! O combustível é o pensamento, e quando partimos para o desânimo o cansaço toma conta. Quando nos irritamos a pulsação sobe juntamente com a pressão arterial, aparecendo sudorese, dores de cabeça, o que faz mal ao coração.

Mas atualmente está difícil nos mantermos harmônicos por muito tempo. Aparecem as ansiedades em razão da violência nas ruas; luta por ocupar o poder a todo custo, as vezes derrubando outrem; pandemia impondo distanciamentos e isolamentos de pessoas. Mas é preciso aquietar nossa mente para ter o corpo material em harmonia. Pensemos mais antes de responder certas contrariedades, pois a vida se encarrega de cobrar com sofrimento daquele que está agindo fora da Lei de Deus, e a prova disso é que os sofrimentos chegam até nós diferentemente uns dos outros! Para o aprimoramento moral cada um traz para este mundo histórico gravado no corpo fluídico, já que viemos a terra para polimento e aparar arestas com nossos semelhantes. Somos espíritos em evolução e por isso é fundamental a paz interior para possibilitar aclaramento de ideias e tomarmos atitudes equilibradas.

Outro fator que contribui muito para a paz interior é a meditação. Dediquemos momentos de recolhimento mental sintonizando com a Espiritualidade Maior. Jesus nosso intermediário com Deus nos escutará e providenciará sempre o socorro para nossas ansiedades. O som de uma fonte d’agua ou som ambiental de pássaros ou rebentação de ondas do mar auxiliam na emancipação da alma.

Nosso mentor espiritual, anjo de guarda estará conosco e nosso corpo receberá as benesses da energização, podendo-se dizer que somos assim agraciados pelo passe espiritual no momento de meditação. Boas leituras nos motivam também a evolução mental para conseguirmos enfrentar as vicissitudes. Espiritas se utilizam do Evangelho no Lar abrindo ao acaso o Evangelho Segundo o Espiritismo de Allan Kardec, lendo um pequeno trecho. É uma maneira de harmonizar-se.

Busquemos elevar o espírito incessantemente que nos fará fortificar a mente, carreando energias benéficas ao corpo material.

Nilton Moreira
Fonte: Artigo da Semanal - Estrada Iluminada



22 outubro 2021

Por que se diz que o Espiritismo é ciência? - Donizete Pinheiro

 
POR QUE SE DIZ QUE O ESPIRITISMO É CIÊNCIA?

O Espiritismo tem um tríplice aspecto, ou três bases fundamentais. É uma CIÊNCIA experimental, fundada na observação e análise dos fatos decorrentes das relações entre o mundo espiritual e o mundo corporal. É também uma FILOSOFIA, porque a partir das conclusões sobre esses fatos dá uma interpretação à vida da criatura humana, respondendo às questões relacionadas com a sua origem, sua essência e seu destino. Mas é também uma RELIGIÃO, porque de tudo isso se extrai consequências morais indispensáveis ao aprimoramento íntimo da pessoa, consoante os ensinamentos de Jesus Cristo. Esse sentimento religioso, no entanto, não decorre de uma institucionalização, com chefes e dogmas a serem obrigatoriamente obedecidos, mas é despertado no coração do ser, ligando-o pessoalmente ao Criador.

Cada um desses aspectos mereceria especial atenção, mas a pergunta é referente ao científico, e sobre ele nos estenderemos.

Ciência é o conjunto de conhecimentos sobre determinados fatos da natureza. Da diversidade desses fatos originaram as variadas ciências, cada uma com suas especialidades, métodos e instrumentos de pesquisa e ação. Muitas vezes, pela similitude dos fatos, métodos e conclusões de uma ciência podem ser aproveitados por outra. Nem sempre, porém, isso é possível.

É o que ocorre com os fenômenos espirituais, que não encontraram explicação na ciência já existente. Durante muito tempo foram considerados segredos de Deus, milagres, coisas do demônio, forças mentais, porque nenhuma outra explicação razoável se apresentava. Somente com Allan Kardec, que codificou as revelações dos Espíritos, feitas através da mediunidade, é que se encontrou a chave desses fenômenos ditos sobrenaturais: o princípio espiritual.

Não existindo ainda aparelho capaz de detectar esse elemento espiritual, por ser etéreo, de natureza oposta ao elemento material conhecido por nós, a ciência espírita manteve-se no método da observação e da comparação. O estudo de fatos e mais fatos, aqui e ali, por diversos experimentadores da maior seriedade e cultura, levou à conclusão incontestável sobre a veracidade da sobrevivência da alma; da vida organizada no pós-morte; da existência do perispírito, ou corpo fluídico, que serve de intermediário entre o mundo espiritual e o material; da possibilidade da ação dos Espíritos sobre a matéria e da comunicação entre os chamados mortos e vivos; e, também, da reencarnação.

É ainda no elemento espiritual, em especial no perispírito, que se encontra a explicação lógica para fenômenos como a vista dupla, a visão à distância, o sonambulismo, a premonição, aparições, transfigurações, transmissão do pensamento, curas, obsessões e desobsessões, materialização e transporte de objetos.

Assim como qualquer revelação científica importante, os conhecimentos da ciência espírita causam profunda repercussão na vida do ser humano, alterando seus costumes, suas crenças e suas relações sociais, sendo elemento destruidor do materialismo, do orgulho e do egoísmo ainda reinantes em nosso mundo. Quando os cientistas admitirem a existência desse mundo espiritual, e com sua sabedoria empenharem-se no aprofundamento do estudo, a Humanidade terá dado grande passo ao encontro da sua felicidade.


Donizete Pinheiro
Fonte:Agenda Espírita Brasil


Nota do Autor:  Texto contido no capítulo 15 de obra do autor.

21 outubro 2021

Duvidar, sempre! - Marcelo Henrique Pereira

Charles Fourier
 
DUVIDAR, SEMPRE!

Aquele que duvida verdadeiramente, procura, e aquele que procura, encontra”, Charles Fourier (Revista Espírita, abril, 1869).

Duvidar ou não duvidar, eis a questão!

Infantes, duvidamos de pais e mestres, quando não dos amigos de faixa etária, quando eles nos dizem algo que escapa de nossa compreensão momentânea.

Adolescentes, duvidamos dos conselhos dos mais velhos, diante das situações da vida, imaginando que, conosco, será tudo diferente.

Adultos, duvidamos de muitas de nossas conclusões, sobretudo as que vêm de primeiro impulso e, receosos, repetimos raciocínios que nos levem a resultados diferentes.

Maduros, duvidamos, desconfiados, de certas pessoas que de nós se aproximam, com o receio de sermos iludidos ou enganados.

Idosos, duvidamos do porvir, que é apresentado pelas religiões como algo distante de nossos sentimentos, ao mesmo tempo em que, racionalmente, custamos a crer que o nada seja o nosso destino final. Eis que chegamos, todos, à Doutrina dos Espíritos por uma (ou várias) dúvida(s), persistentemente ecoando em nosso íntimo, para a busca dos porquês da existência. Eis que, encontrando respostas, nos vemos diante de que muitas delas são não-satisfativas, porque nos impeles a outras perguntas, sucessivamente.

Eis que, encontrando respostas, nos vemos diante de que muitas delas são não-satisfativas, porque nos impeles a outras perguntas, sucessivamente.

Então, quando vemos um sem-número de espíritas em “zonas de conforto”, como se soubessem muitas coisas, ou repetindo um “mantra” de que as obras de Kardec já disseram tudo à Humanidade, traduzindo a inteligência e a perspicácia das Almas Invisíveis e Sábias, constatamos que MUITOS ainda não entenderam a real proposta da Filosofia Espírita.

E a opinião de Fourier, registrada por Kardec, no laboratório de sua Revue Spirite, longe de nos apresentar certezas definitivas, para as nossas procuras, apresenta-nos, vez por outra, alguns encontros. E estes encontros nos levarão, indefinidamente, a continuar procurando…

Marcelo Henrique Pereira
Fonte: Portal Casa Espírita Nova Era

20 outubro 2021

Atualização científica na divulgação do Espiritismo - Ricardo A. Terini

 
ATUALIZAÇÃO CIENTÍFICA NA DIVULGAÇÃO DO ESPIRITISMO

Estamos divulgando a Doutrina pari-passo com a Ciência, como preconizava Kardec? Que imagem estamos deixando: de um Espiritismo moderno e atual ou de uma doutrina ultrapassada?

“O Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto.” [Kardec, A., A Gênese, cap. I, item 55]

Na formulação do Espiritismo como ciência de observação, Allan Kardec sempre se preocupou em apresentar os conceitos doutrinários associados às ideias científicas vigentes na sua época, com o objetivo de integrá-lo à cultura vigente. Fez isso nas várias obras espíritas que publicou, com referência aos campos contemporâneos da astronomia, da química, da física, da geologia, da paleontologia, da biologia, não para congelar essas noções científicas no corpo da Doutrina, mas, ao contrário, para demonstrar que “fé inabalável é aquela que pode enfrentar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade”.

Atualmente, mais de 160 anos depois desse início, os estudiosos e divulgadores do Espiritismo nem sempre se dão conta dessa relativização e, ao invés de aprender com a coragem de Kardec e cotejar os conceitos espíritas com as ciências da época (no caso, a nossa!), tratam, às vezes, os conceitos científicos daquela época (século XIX) como se fossem os mesmos ainda hoje. Resultado: contaminam os conceitos atualíssimos da Doutrina Espírita com um anacronismo e um dogmatismo científico injustificável. Neste artigo, focamos particularmente a questão da classificação das espécies da Natureza, relacionada ao caráter evolucionista do Espiritismo.

No 4º. capítulo do livro 1º. de O livro dos Espíritos, Allan Kardec se propõe a abordar os seres vivos, sua variedade e a causa de sua vitalidade. Após a questão 71, Kardec conceitua:

“Podemos fazer a seguinte distinção: 1º. – os seres inanimados, formados somente de matéria, sem vitalidade nem inteligência: são os corpos brutos; 2º. – os seres animados não pensantes, formados de matéria e dotados de vitalidade, mas desprovidos de inteligência; 3º. – os seres animados pensantes, formados de matéria, dotados de vitalidade e tendo ainda um princípio inteligente que lhes dá a faculdade de pensar.”

Nessa definição inicial, a preocupação foi apenas diferenciar os seres que tem vida (pensantes e não-pensantes) daqueles que são inertes (hoje citados mais como objetos, componentes, energias etc., do que como seres).

Mais tarde, no capítulo XI da 2ª. parte de “O Livro dos Espíritos”, Kardec ensaiaria uma classificação dos seres da Natureza, que analisamos a seguir (grifos nossos).

“585. Que pensais da divisão da Natureza em três reinos, ou melhor, em duas classes: a dos seres orgânicos e a dos inorgânicos? Segundo alguns, a espécie humana forma uma quarta classe. Qual destas divisões é preferível?

– Todas são boas, conforme o ponto de vista. Do ponto de vista material, apenas há seres orgânicos e inorgânicos. Do ponto de vista moral, há evidentemente quatro graus.

(Comentário de Kardec) Esses quatro graus apresentam, com efeito, caracteres determinados, muito embora pareçam se confundir nos seus limites extremos. (…) Note-se primeiro que as qualificações orgânico e inorgânico, nesses textos, não se referem necessariamente às definições de compostos orgânicos e inorgânicos da Química atual, já que tanto os seres animados (vivos) quanto os inanimados (inertes) podem ser compostos de substâncias orgânicas ou inorgânicas. Ex.: Nossas células (vivas) contêm compostos inorgânicos (sais minerais, água) e orgânicos (proteínas, vitaminas, lipídeos); por outro lado, uma taça de vinho (inerte) contém álcool, uma substância orgânica.

A divisão da Natureza mencionada por Kardec nesse capítulo XI seria, então:

A. Sob o ponto de vista material: seres orgânicos e seres inorgânicos
B. Sob o ponto de vista moral: reinos mineral, vegetal, animal e (?) hominal.


Mas essa é a divisão da Natureza proposta em 1735 pelo botânico, zoólogo e médico sueco Carl von Linné (1707-1778), na sua obra de vários volumes Systema naturae, que era ainda aceita e ensinada no século XIX. Linné (ou Linnaeus, como foi latinizado, ou apenas Lineu), em sua classificação, baseou-se nas diferenças morfológicas externas das várias espécies conhecidas dos seres da Criação (menos de 20.000). Orgulhoso do seu trabalho, afirmava que “Deus criou, Lineu organizou”.

Kardec era um pesquisador e professor do século XIX, atualizado com as ciências naturais… de sua época. E não podia ser diferente. Isso quer dizer que ele esteja ultrapassado? Não, porque ele estava em dia com as descobertas e já não admitia o que a Ciência havia desmentido (ex.: a Terra como Centro do universo; a Criação em seis dias etc.). A divisão de Lineu era a noção aceita cientificamente, do ponto de vista da natureza material. Os Espíritos que assessoraram Kardec na elaboração do Espiritismo, cientes disso, afirmaram, referindo-se às classificações da natureza, que “Todas são boas, conforme o ponto de vista”.

Muita coisa progrediu nos instrumentos e na visão da Ciência, desde então. Já em 1866, o naturalista alemão E. Haeckel propunha os reinos Protista (bactérias, algas, fungos e protozoários), Plantae e Animalia como componentes da Natureza, descartando a matéria bruta (minerais). No meio do século XX, H. Copeland introduziria um quarto reino, o Monera (≡ formas primitivas), para as bactérias, que têm uma organização celular sem núcleo, enquanto os outros três reinos são formados por organismos eucarióticos (com núcleo). Em 1969, Robert Whittaker incluiu os fungos numa nova classificação dos organismos em cinco reinos, ainda ensinada em algumas escolas brasileiras. Esses reinos, que se diferenciam pelo tipo de nutrição do ser vivo e pela organização de suas células, são: (unicelulares) Monera e Protista, e (multicelulares) Fungi, Plantae e Animalia.

No final do século XX, quando se consolidou a aceitação de que toda vida na Terra tinha uma origem comum, surgiu a necessidade de agrupar os reinos até então reconhecidos num patamar mais abrangente: o domínio. Em 1990, Carl Woese propôs o agrupamento dos diferentes reinos em três grandes domínios: Bacteria, Archaea e Eukarya, que refletem a aceitação das diferenças fundamentais do genoma dos seres vivos, devidas a relações evolutivas entre eles. Mais recentemente, mas com grande aceitação, está o sistema dos dois domínios e seis reinos proposto por T. Cavalier-Smith: Protista, Archaebacteria, Eubacteria, Fungi, Plantae, Animalia.


A Fig. 1
:
esquematiza didaticamente a sequência cronológica dos sistemas de classificação dos seres vivos propostos após Lineu, em que os mais recentes incluem os domínios e os reinos.
(Adaptado de WIKIPEDIA: Domínio (Biologia))


Essa evolução da Ciência só vem reforçar a visão evolucionista da Doutrina Espírita. O próprio Kardec, de sólida formação científica e pedagógica, tinha clareza sobre o fato da evolução dos conhecimentos científicos. Na própria A Gênese, os Espíritos mostram que divisam mais claramente a natureza, embora deixem sempre ao homem o trabalho da pesquisa que lhe cabe desenvolver: “Cada criatura mineral, vegetal, animal ou qualquer outra — uma vez que existem muitos outros reinos naturais, de cuja existência sequer suspeitamos — sabe, em virtude desse princípio vital universal, adequar as condições de sua existência e de sua duração.” [Kardec, A., A Gênese, cap. VI, item 18, grifo nosso]

É importante que os espíritas tenham consciência disso, o quanto possível, e que não repitam apenas, em cursos e palestras, os textos doutrinários sem análise crítica e razoável atualização científica, sob pena de comprometer a credibilidade pública da Doutrina na própria sociedade.

O movimento espírita não pode ignorar o progresso sério das ciências, sob o risco de repetir o que ocorreu com a Igreja cristã que, até há pouco tempo, teimava que os métodos anticoncepcionais eram de inspiração diabólica, sendo atropelada pelo progresso e reduzindo seu protagonismo na sociedade. Se queremos que a Doutrina Espírita, monumento de coerência e luz para a humanidade, não seja guardado apenas nas estantes, como obra histórica, é necessário lembrar o alerta de Allan Kardec, no cap. I, item 16, de A Gênese:

“O Espiritismo e a Ciência se completam um ao outro: a Ciência, sem o Espiritismo, se encontra impotente para explicar certos fenômenos somente pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltaria o apoio e o controle.”

Referências:
 
KARDEC, A. O livro dos Espíritos. Trad. J. Herculano Pires. 69. ed. São Paulo: LAKE, 2012.

KARDEC, A. A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Trad. João Teixeira de Paula. 25. ed. São Paulo: LAKE, 2014.

TERINI, R.A. Espiritismo e evolução do princípio inteligente: três reinos? Jornal de Estudos Espíritas. N. 8, 010205 (2020).

Ricardo Andrade Terini 
 
Universidade de São Paulo (USP). Instituto de Física (IF). Possui graduação em Física (Bacharelado, 1980; 
Licenciatura, 1983) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; mestrado em Física (1986) e doutorado em Fisica Nuclear Experimental pela PUC-SP (1991). Saiba mais. Publicado no site Espiritismo Com Kardec

19 outubro 2021

Bulimia e Espiritismo - Fernanda Oliveira

 
BULIMIA E ESPIRITISMO

“Meu corpo, não meu agente, meu envelope selado, meu revólver de assustar, tornou-se meu carcereiro me sabe mais que me sei. “(Carlos Drummond de Andrade)

No momento atual a sociedade associa beleza e sucesso à magreza. A magreza apresenta-se como a forma mais representativa de sucesso social, a gordura é encarada como desleixo e falta de controle pessoal sendo considerada como verdadeiro sinônimo de feiúra. A procura por um padrão ideal de beleza e a obsessão pela estética “ perfeita” imposta pela sociedade promove o aumento de casos de transtornos alimentares.

Os transtornos alimentares são doenças psiquiátricas caracterizadas por desvios do comportamento alimentar, com elevadas taxas de morbidade e mortalidade, principalmente na população jovem. As pessoas que sofrem de transtornos alimentares, geralmente tem características psicológicas bastante parecidas, como por exemplo a falta de autoconfiança e autoestima, por vezes excesso de perfeccionismo ou necessidade de controlar tudo. Os trans“Meu corpo, não meu agente, meu envelope selado, meu revólver de assustar, tornou-se meu carcereiro me sabe mais que me sei. “(Carlos Drummond de Andrade)

No momento atual a sociedade associa beleza e sucesso à magreza. A magreza apresenta-se como a forma mais representativa de sucesso social, a gordura é encarada como desleixo e falta de controle pessoal sendo considerada como verdadeiro sinônimo de feiúra. A procura por um padrão ideal de beleza e a obsessão pela estética “ perfeita” imposta pela sociedade promove o aumento de casos de transtornos alimentares.

Os transtornos alimentares são doenças psiquiátricas caractetornos alimentares também costumam ter como desencadeante algum evento significativo como perdas, separações, mudanças, doenças orgânicas, distúrbios da imagem corporal (como a insatisfação), depressão, ansiedade e até mesmo traumas de infância. Tendo a sua incidência aumentada nas últimas décadas, afeta predominantemente as mulheres e são mais frequentes nos países ocidentais.

Os fatores sociais são verdadeiros influenciadores e pressionam de todos os modos com as marcas colocando em seus comerciais, em sua maioria só pessoas magras, a publicidade alimentar com os seus produtos dietéticos e light e a valorização de uma imagem padrão estética conduzem a alterações do comportamento alimentar responsáveis por uma série de problemas físicos, mentais e emocionais que, quando não causam situações irreparáveis, só com grande dificuldade são ultrapassados. Os padrões de beleza e magreza a serem seguidos como sinônimos de sucesso feminino expressam, no corpo das mulheres, uma série de práticas e normas de controle social que podem ser entendidas como novas exigências da atualidade.

A bulimia é um transtorno alimentar com episódios repetidos e alternados de um grande desejo alimentar com uma enorme ingestão de alimentos seguidos por comportamentos compensatórios inapropriados, como, o vômito induzido, diuréticos, laxantes ou outras medicações, jejum ou exercício físico excessivo com o intuito de impedir o aumento do peso.

O corpo físico expressa o que vai nos nossos pensamentos, atitudes, no nosso interior e coração. Segundo Kardec : “ As doenças fazem parte das provas e das vicissitudes da vida terrena; são inerentes à grosseria da nossa natureza material e à inferioridade do mundo que habitamos.” . As doenças são resultado de um comportamento desequilibrado da mente que acaba promovendo desequilíbrio físico, emocional e psíquico. Através de escolhas equivocadas e ilusórias feitas durante a vida acabamos desequilibrando nosso corpo físico e mente.

A Lei da Conservação é uma lei natural que ensina que a vida num corpo físico é necessidade ao aperfeiçoamento dos seres e que o corpo é um instrumento de trabalho e evolução; que é necessário moderação para manter o equilíbrio. Conforme a questão 727 de O Livro Dos Espíritos : “Contra os perigos e os sofrimentos é que o instinto de conservação foi dado a todos os seres.” A lei de conservação lhe prescreve, como um dever, que mantenha suas forças e sua saúde para proporcionar seu crescimento moral e espiritual.

A Doutrina Espírita tem como um de seus propósitos melhorar e auxiliar nossa jornada evolutiva, de forma consciente e na pratica do bem. O Espírito é responsável por seus atos e atitudes, por sua livre escolha, enquanto não procurar se aperfeiçoar será responsável pela sua condição de felicidade ou infelicidade A filosofia espírita abre as portas das investigações e da reflexão enobrecendo assim o conhecimento do ser humano.

A cura de qualquer patologia está condicionada a vontade e ao mérito do individuo que procura terapia, tratamentos para aliviar os sintomas e busca se modificar para as causas do transtorno; essa analise significa reforma intima, trabalho de autoconhecimento, dialogo interno o resgate e conhecimento de si mesmo.

Necessitamos nos localizar no Universo, perceber nossa oportunidade de amadurecimento, escolher o caminho que vamos percorrer, fazendo da nossa vida terrena um aperfeiçoamento moral. Onde o Evangelho segundo o Espiritismo deixa de ser um livro e passa ser um roteiro de bem viver.

Não se pode falar em uma vida digna sem saúde. Ter saúde é o primeiro requisito de uma vida minimamente satisfatória. A saúde objetiva a vida do ser humano com ela pode-se pensar em desenvolvimento e crescimento da qualidade de vida da sociedade. Não há como pensar em educação, trabalho, lazer sem a saúde. A cura é a restauração biológica que reorienta o espírito, é como perder o caminho, a direção e depois retornar para a rota. Dentro de cada um está a sua cura para todos os males. Não existe mudança nos efeitos se não mudarmos as causas.

Ao aceitarmos aquilo que somos, a nossa mente fica relaxada e serena. A busca pelo equilíbrio faz com que cuidemos de todas as áreas de nossa vida com atenção e cuidado proporcionando assim uma vida plena e saudável.

Vamos caminhando buscando o equilíbrio em nossas atitudes, conhecendo nossos propósitos e promovendo o bem.


Fernanda Oliveira
Fonte:
Blog Letra Espírita

Referências:

1- O corpo- Carlos Drummond de Andrade - Editora Companhia das Letras

2-. O Evangelho segundo o Espiritismo. Allan Kardec-Editora Federação Espírita Brasileira.

3-O Livro dos Espíritos. Allan Kardec-Editora Federação Espírita Brasileira.

4- O Consolador- Chico Xavier- Editora Federação Espírita Brasileira.


5- Transtornos Mentais- Suely Schubert- Editora InterVidas.

6- https://saude.abril.com.br/alimentacao/principais-tipos-transtorno-alimentar/

7- https://blog.psicologiaviva.com.br/transtorno-alimentar/


18 outubro 2021

Riqueza e Pobreza Qual a Maior Provação? ´ - Simara Lugon Cabral

 
RIQUEZA DE PROBREZA QUAL A MAIOR PROVAÇÃO?

“E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.” (Mateus, 19:24)

Todos os dias vemos muitas pessoas jogando na loteria, outras trabalhando exaustivamente até o limite de suas forças, outras cometem atos ilícitos, todos em busca da riqueza e abundância dos bens terrenos, como se um grande patrimônio pudesse trazer a solução de todos os problemas. Mas será que uma grande soma em dinheiro realmente resolve os infortúnios ou será a riqueza uma tentação capaz de trazer maiores transtornos do que os que a pessoa tinha antes?

A desigualdade social existe em todos os lugares do mundo mas em alguns países ela é mais acentuada. De acordo com o IBGE, em 2018 o rendimento mensal dos 1% mais ricos do Brasil era quase 34 vezes maior do que o rendimento da metade mais pobre da população. Durante a pandemia, essa desigualdade aumentou. De um lado vemos pessoas ostentando todo tipo de luxo: viagens, carros importados, mansões, roupas de grife enquanto a maior parte da população luta diariamente para ter acesso aos direitos básicos: alimentação, educação, saúde, direito à moradia, ao trabalho dentre outros.

O psicólogo norte americano Abraham H. Maslow criou um conceito chamado “A Pirâmide de Maslow” que determina as condições para que cada pessoa alcance sua satisfação pessoal, ou seja, se sinta feliz e realizada. Na base da pirâmide estão as necessidades básicas para a felicidade e elas vão se modificando até atingir o topo da pirâmide que seria a realização pessoal completa conforme a imagem abaixo.


Conforme pode-se observar, para ter acesso à base da pirâmide é necessário que se tenha uma condição financeira que propicie acesso à alimentação, água e moradia, o que deveria ser um direito básico do ser humano. Em seguida, segurança do corpo, do emprego e de recursos, o que também depende do dinheiro. A partir daí as necessidades não são mais relacionadas aos bens materiais, e sim às boas relações sociais, amizades, desenvolvimento da auto estima, aceitação perante as dificuldades da vida entre outras. Portanto, de acordo com a psicologia o dinheiro pode trazer a segurança necessária para se obter um certo grau de satisfação, no entanto a felicidade plena não é atingida através de uma grande fortuna, luxo ou satisfação das vaidades.

De acordo com a Doutrina Espírita, a prova da riqueza e a da pobreza são difíceis porém necessárias ao aprimoramento moral, pois enquanto na pobreza o ser humano precisa desenvolver a resignação, a paciência e a humildade, na riqueza ele precisa praticar a caridade, evitar abusos e tentações que aparecem das mais variadas formas. É preciso lembrar que as duas provas são situações temporárias que podem ser alternadas na mesma ou na próxima encarnação. No livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Lacoirdaire (Constantina, 1863) diz: “Sabei contentar-vos com pouco. Se sois pobres, não invejeis os ricos, pois a fortuna não é necessária à felicidade. Se sois ricos, não esqueçais que esses bens vos foram confiados e que tendes de justificar o emprego deles, como uma prestação de contas de tutela. Não sejais administradores infiéis, fazendo-as servir à satisfação do vosso orgulho e vossa sensualidade. Não vos julgueis no direito de dispor exclusivamente em vosso favor daquilo que não é senão um empréstimo, e não uma doação. Se não sabeis restituí-lo, não tendes mais o direito de pedir. E recordai que aquele que dá aos pobres, quita-se da dívida que contraiu com Deus.” Por isso quando a prova da miséria chega até o homem, ele deve enfrentá-la com confiança e resignação, e caso a prova da riqueza venha a aparecer, deve-se recordar das palavras do Mestre Jesus no Evangelho de Mateus 6:19-21: “Não acumulem tesouros sobre a terra, onde as traças e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntem tesouros no céu, onde as traças e a ferrugem não corroem, e onde ladrões não escavam, nem roubam. Porque, onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração.

Em “O livro dos Espíritos”, nas questões de 814 a 816, é explicado que Deus concede a riqueza a uns e a miséria a outros para experimentar os espíritos de formas diferentes e é dito que as duas provas apresentam graus elevados de dificuldade: “A alta posição do homem neste mundo e a autoridade sobre os seus semelhantes são provas tão grandes e tão escorregadias como a miséria, porque, quanto mais rico e poderoso é ele, tanto mais obrigações tem que cumprir e tanto mais abundantes são os meios de que dispõe para fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo emprego que dá aos seus bens e ao seu poder. A riqueza e o poder fazem nascer todas as paixões que nos prendem à matéria e nos afastam da perfeição espiritual. Por isso foi que Jesus disse: “Em verdade vos digo que mais fácil é passar um camelo por um fundo de agulha do que entrar um rico no reino dos céus.” Lembrando apenas que na tradução do hebraico, a mesma palavra era usada para “camelo” e “cabo” e o mais provável é que “cabo” fosse a tradução correta, pois faria mais sentido. Desta frase dita por Jesus, pode-se compreender que a prova da riqueza é mais perigosa para o homem pois a tentação de abusar dos recursos e de apegar-se aos bens materiais é quase irresistível para o homem comum, caso ele não esteja focado na vida futura e no seu desenvolvimento moral.

Deste modo aquele que acredita ser a riqueza uma solução para as dificuldades da vida terrena ignora o real objetivo de sua encarnação, que é a evolução espiritual e não a aquisição de bens materiais ou a satisfação dos desejos fugazes da carne. Quando se deixa levar pelas paixões materiais e busca apenas os prazeres efêmeros, o homem perde de vista a vida futura e se afasta do seu aprimoramento moral. Por isso, a despeito de que qualidade seja a provação que esteja enfrentando, o importante é que se empenhe para alcançar o desenvolvimento das virtudes da alma, seja a paciência, a resignação ou a submissão à vontade de Deus, e sempre que possível que o homem lembre-se de trabalhar ativamente no auxílio ao próximo e na construção de um mundo melhor, onde todos possam ter dignidade para viver. E como disse Chico Xavier: “Você nem sempre terá o que deseja mas enquanto estiver ajudando os outros, encontrará os recursos de que precisa”.

Portanto, ao buscar o aperfeiçoamento moral além da melhoria das condições materiais, o homem estará desenvolvendo suas próprias virtudes e simultaneamente, levando todo a humanidade a progredir, elevando a categoria do planeta a um patamar onde não exista a miséria, a fome e a violência e onde todos tenham a oportunidade de viver e não apenas de tentar sobreviver. O progresso da humanidade depende do esforço de cada um dos habitantes do planeta, desde que abdiquem de seus desejos egoístas, sua ambição, seu orgulho e deixem predominar o amor ao próximo, a caridade e a benevolência dado que somente assim as injustiças sociais não terão mais vez e a fraternidade, a solidariedade e o amor reinarão na Terra. 
 
Simara Lugon Cabral

Referências:

1. Bíblia Online. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br>. Acessado em 10 de Julho de 2021.

2. Desigualdade social. Disponível em < https://www.politize.com.br/desigualdade-social/>. Acesso em 08 de Julho de 2021.

3. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Matheus Rodrigues de Carvalho. 43ª reimpressão. Capivari, SP: Editora EME, 2018.

4. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Matheus Rodrigues de Carvalho.24ª reimpressão. Capivari, SP: Editora EME, 2019.

5. Pirâmide de Maslow. Disponível em:
. Acesso em 14 de Julho de 2021.