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31 julho 2011

Deus Existe? - Momento Espiríta


Deus Existe?

A pergunta ainda baila na mente de muitas pessoas. Criaturas que se dizem agnósticas, descrentes de Deus.

Pessoas que têm ideias muito próprias a respeito da Criação, como se a harmonia que a tudo rege não nos dissesse, em altos brados, que uma ideia diretriz comanda o Universo.

Mas, para quem tem olhos de ver, basta um perpassar de vistas pela natureza para concluir pela existência desse Criador incriado, perfeição inigualável.

Como se poderia, de outra forma, admirar os campos de lavanda, perfumados e coloridos?

Quando se admira o arco-íris, já nos indagamos quem o traça de forma tão perfeita, nos céus?

Quem dobra as pétalas dos botões, que se abrem em corolas brilhantes?

Quem coloca música tão diversa no cantar das águas do rio manso, da cachoeira altíssima, das cataratas volumosas?

Como admirar a pétala aveludada de uma rosa, sem se perguntar quem nela colocou tanta maciez?

Quem dispôs que, no mesmo canteiro de jardim, que recebe o mesmo sol, a mesma chuva, sementes minúsculas que, por vezes até se assemelham, confundindo o leigo, se tenha resultado tão diverso?

Aqui as rosas apresentam seu brilho nas pétalas, ali os cravos espalham perfume, logo além as margaridas se exibem, enquanto o vento as vai despetalando e murmurando: bem-me- quer, mal-me-quer, ela me ama, ela não me ama...

Quem estabelece a rota dos astros no infinito? Quem determina que a gravidade nos mantenha presos ao planeta, enquanto ele gira vertiginosamente no espaço, em dois movimentos constantes, de rotação e translação?

Quem explica isso? Leis. Leis universais. Mas quem as estatuiu? Quem estabeleceu a rota do sol, das estrelas, das galáxias que se movem no infinito?

Quem criou a lei que determina se perpetuem nossos traços em nossos descendentes? E que, ao demais, é regida por uma lei de amor em que, quando as etnias se mesclam, as raças se misturam, novos e belos espécimes aparecem?

Quem definiu que duas minúsculas gotículas originassem um novo ser?

A tudo isso, o vento responde, a cascata faz eco e os astros estribilham em coro: Deus! Senhor dos mundos! Senhor do Universo.

Foi Deus que tudo criou, concebeu e não cessa de criar, surpreendendo o homem a cada passo.

O homem que, estudando, observando, se dá conta de que quanto mais descobre, menos sabe e mais há por descobrir.

O infindável mundo de Deus, sem fronteiras, em constante expansão.

Um mundo que se agiganta no espaço e se esconde no microcosmo.

Um mundo a ser estudado para que se louve o seu Criador. Um Deus Pai que a cada dia engendra um espetáculo na aurora e outro no crepúsculo.

Um Deus de amor que compõe sinfonias nas águas que descem dos montes e nos filetes que escorrem quase ocultos por entre pequenos seixos.

Um Deus que dedilha sinfonias na cabeleira do arvoredo e murmura canções na pradaria...

Um Deus! Um Pai! Nosso Pai!

Redação do Momento Espírita

30 julho 2011

Carta às Mães que Perderam seus Filhos - Momento Espírita


Carta às Mães que Perderam seus Filhos

Mãezinha querida... Seu coração está em pedaços...

Não há dor maior do que a perda de um filho...

Aprendemos a amá-los de uma forma tão grandiosa, tão completa, que não conseguimos mais enxergar o mundo sem a sua presença ao nosso lado.

Descobrimos um tipo de amor que nos faz crescer e nos faz amar a vida como nunca antes havíamos amado.

E subitamente são levados... Aos poucos meses, nos primeiros anos... Ou um pouco mais tarde. Levados de nosso regaço através da morte tão cruel.

Mãezinha querida... Seu coração pede consolo, pede uma razão para continuar vivendo...

E esta razão estará sempre em seu amor por eles.

Primeiramente pelo amor aos que ficaram e respiram também o ar de seu amar: filhinhos, esposo, pais, amigos queridos.

Mas também pelo amoraos que partiram porque, mãezinha querida, eles continuam a existir e a amá-la como antes o faziam.

A morte não mata o Espírito e também não mata o amor.

“Um pai, uma mãe, nunca deveriam enterrar seus filhos” – diz o pensamento popular, fazendo menção à ordem natural da vida para os que deveriam partir antes.

Porém, a verdade é que você não enterrou seu filhinho, mãe: o que ali foi deixado sob a terra era apenas sua vestimenta corporal para esta breve encarnação.

Seu filho, sua filha continuam existindo. E todo amor que construíram no aconchego de seu lar não foi perdido: será a semente de um novo amanhã, quando voltarão a se encontrar.

Os planos maiores do Universo – ainda desconhecidos por nós – definiram que precisavam ir mais cedo, por razões especiais.

Voltaram para a verdadeira vida, o mundo espiritual, onde estão recebendo todo auxílio necessário para que sejam bem recepcionados em sua nova realidade.

Deus está com seus filhos nos braços, mãezinha.Segura-os através de seus tantos trabalhadores do bem, que estão encarregados de receber as almas após a desencarnação.

Você não perdeu seus filhos, embora a realidade pareça mostrar isso diariamente, pelo buraco que suas ausências na Terra deixaram.

Não... Você não perdeu seus filhos. A desencarnação é apenas o final de uma etapa e começo de outra.

Não perdemos as pessoas, assim como não se perde o amor semeado no coração.

Quando a saudade apertar e o ar parecer faltar, lembre, mãezinha, dos momentos felizes com eles, lembre de abraçá-los com carinho em suas orações aos céus.

Eles receberão seu abraço e ficarão felizes por saber que em sua alma não há revolta, não há ódio ou rancor, há apenas a natural e saudável saudade.

Através da oração você poderá manter um contato constante com eles, pois a prece une os “dois mundos”.

Diga que os ama muito, que sente falta, é certo, e que é este amor que lhe sustenta os dias na Terra, esperando o sonhado momento do reencontro.

Mãezinha querida... Você não está sozinha neste momento difícil: Deus está com você. Conte com Ele.

Redação do Momento Espírita

29 julho 2011

Kardec e Napoleão - Irmão X


KARDEC E NAPOLEÃO

Logo após o 18 Brumário, (09 de novembro de 1799), quando Napoleão se fizera Primeiro-Cônsul da República Francesa, reuniu-se, na noite de 31 de dezembro de 1799, no coração da latinidade, nas Esferas Superiores, grande assembléia de Espíritos sábios e benevolentes, para marcarem a entrada significativa do novo século.

Antigas personalidades de Roma imperial, pontífices e guerreiros das Gálias, figuras notáveis da Espanha, ali se congregavam à espera do expressivo acontecimento.

Legiões dos Césares, com os seus estandartes, falanges de batalhadores do mundo gaulês e grupos de pioneiros da evolução hispânica, associados a múltiplos representantes das Américas, guardavam linhas simbólicas de posição de destaque.

Mas não somente os latinos se faziam representar no grande conclave. Gregos ilustres, lembrando as confabulações da Acrópole gloriosa, israelitas famosos, recordando o Templo de Jerusalém, deputações eslavas e germânicas, grandes vultos da Inglaterra, sábios chineses, filósofos hindus, teólogos budistas, sacrificadores das divindades olímpicas, renomados sacerdotes da Igreja Romana e continuares de Maomet ali se mostravam como em vasta convocação de forças da ciência e da cultura da Humanidade.

No concerto das brilhantes delegações que ali formavam, com toda a sua fulguração representativa, surgiam Espíritos de velhos batalhadores do progresso que voltariam à liça carnal ou que a seguiriam, de perto, para o combate à ignorância e à miséria, na laboriosa preparação da nova era da fraternidade e da luz.

No deslumbrante espetáculo da Espiritualidade Superior, com a refulgência de suas almas, achavam-se Sócrates, Platão, Aristóteles, Apolônio de Tiana, Orígenes, Hipócrates, Agostinho, Fénelon, Giordano Bruno, Tomás de Aquino, S. Luís de França, Vicente de Paulo, Joana D'Arc, Tereza D'Avila, Catarina de Siena, Bossuet, Spinoza, Erasmo, Mílton, Cristóvão Colombo, Gutemberg, Galileu, Pascal, Swedenborg e Dante Aliguieri, para mencionar apenas alguns heróis e paladinos da renovação terrestre; e, em plano menos brilhante, encontravam-se no recinto maravilhoso, trabalhadores de ordem inferior, incluindo muito dos ilustres guilhotinados da Revolução, quais Luís XVI, Marie Antoinette, Robespierre, Danton, Madame Roland, André Chenier, Bailly, Camille Desmoulins, e grandes vultos como Voltaire e Rousseau.

Depois da palavra rápida de alguns orientadores eminentes, invisíveis clarins soaram na direção do plano carnal, e, em breves instantes, do seio da noite, que velava o corpo ciclópico do mundo europeu, emergiu, sob a custódia de esclarecidos mensageiros, reduzido cortejo de sombras, que pareciam estranhas e vacilantes, confrontadas com as feéricas irradiações do palácio festivo.

Era um grupo de almas, ainda encarnadas, que, constrangidas pela Organização Celeste, remontavam à vida espiritual, para a reafirmação de compromissos.

À frente, vinha Napoleão, que centralizou o interesse de todos os circunstantes. Era bem o grande corso, com os seus trajes habituais e com o seu chapéu característico.

Recebido por diversas figuras da Roma antiga, que se apressavam em oferecer-lhe apoio e auxílio, o vencedor de Rivoli ocupou radiosa poltrona que, de antemão, lhe fora preparada.

Entre aqueles que o seguiam, na singular excursão, encontravam-se respeitáveis autoridades reencarnadas no Planeta, como Beethoven, Ampère, Fúlton, Faraday, Goethe, João Dálton, Pestalozzi, Pio VII, além de muitos outros campeões da prosperidade e da independência do mundo.
Acanhados no veículo espiritual que os prendia à carne terrestre, quase todos os recém vindos, banhavam-se em lágrimas de alegria e emoção.
O Primeiro-Cônsul da França, porém, trazia os olhos enxutos, não obstante a extrema palidez que lhe cobria a face. Recebendo o louvor de várias legiões, limitava-se a responder com acenos discretos, quando os clarins ressoaram, de modo diverso, como se se pusessem a voar para os cimos, no rumo do imenso infinito...

Imediatamente uma estrada de luz, à maneira de ponte levadiça, projetou-se do Céu, ligando-se ao castelo prodigioso, dando passagem a inúmeras estrelas resplendentes.

Em alcançando o solo delicado, contudo, esses astros se transformavam em seres humanos, nimbados de claridade celestial.

Dentre todos, no entanto, um deles avultava em superioridade e beleza. Tiara rutilante brilhava-lhe na cabeça, como que a aureolar-lhe de bênçãos o olhar magnânimo, cheio de atração e doçura. Na destra, guardava um cetro dourado, a recamar-se de sublimes cintilações.

Musicistas invisíveis, através dos zéfitos que passavam apressados, prorromperam num cântico de hosanas, sem palavras articuladas.

A multidão mostrou profunda reverência, ajoelhando-se muitos dos sábios e guerreiros, artistas e pensadores, enquanto todos os pendões dos vexilários arriavam, silenciosos, em sinal de respeito.
Foi então que o grande corso se pôs em lágrimas e, levantando-se, avançou com dificuldade, na direção do mensageiro que trazia o báculo de ouro, postando-se, genuflexo, diante dele.

O celeste emissário, sorrindo com naturalidade, ergueu-o, de pronto, e procurava abraçá-lo, quando o Céu pareceu abrir-se diante de todos, e uma voz enérgica e doce, forte como a ventania e veludosa como a ignorada melodia da fonte, exclamou para Napoleão, que parecia eletrizado de pavor e júbilo, ao mesmo tempo:
- Irmão e Amigo ouve a Verdade, que te fala em meu espírito! Eis-te à frente do apóstolo da fé, que, sob a égide do Cristo, descerrará para a Terra atormentada um novo ciclo de conhecimento...

César ontem, e hoje orientador, rende o culto de tua veneração, ante o pontífice da luz! Renova, perante o Evangelho, o compromisso de auxiliar-lhe a obra renascente!...

Aqui se congregam conosco lidadores de todas as épocas. Patriotas de Roma e das Gálias, generais e soldados que te acompanharam nos conflitos da Farsália, de Tapso e de Munda, remanescentes das batalhas de gergóvia e de Alésia aqui te surpreendem com simpatia e expectação... Antigamente, no trono absoluto, pretendias-te descendente dos deuses para dominar a Terra e aniquilar os inimigos... Agora, porém, o supremo Senhor concedeu-te por berço uma ilha perdida no mar, para que não te esqueças da pequenez humana e determinou voltasses ao coração do povo que outrora humilhaste e escarneceste, a fim de que lhe garantas a missão gigantesca, junto da Humanidade, no século que vamos iniciar..."

...Cânticos de alegria e esperança anunciaram nos céus a chegada do século XIX e, enquanto o Espírito da Verdade, seguido por várias coortes resplandecentes, voltava para o alto, a inolvidável assembléia se dissolvia.

O apóstolo que seria Allan Kardec, sustentando Napoleão nos braços, aconchegou-o de encontro ao peito e acompanhou-o, bondosamente, até religá-lo ao corpo de carne, no próprio leito.

...Em 3 de outubro de 1804, o mensageiro da renovação renascia num abençoado lar de Lião, mas o Primeiro-Cônsul da República Francesa, assim que se viu desembaraçado da influência benéfica e protetora do Espírito de Allan Kardec e de seus cooperadores, que retomavam, pouco a pouco, a integração com a carne. confiantes e otimistas, engalanou-se com a púrpura do mando e, embriagado de poder, proclamou-se Imperador, em 18 de maio de 1804, ordenando a Pio VII viesse coroá-lo em Paris.

Napoleão, contudo, convertendo celestes concessões em aventuras sanguinolentas, foi apressadamente situado, por determinação do Alto, na solidão curativa de Santa Helena, onde esperou a morte, enquanto Allan kardec, apagando a própria grandeza, na humildade de um mestre-escola, muita vez atormentado e desiludido, como simples homem do povo, deu integral cumprimento à divina missão que trazia à Terra, inaugurando a era espírita-cristã, que, gradativamente, será considerada em todos os quadrantes do orbe como a sublime renascença da luz para o mundo inteiro.

Cartas e Crônicas, 28
Irmão X
Médium: F. C. Xavier
edição FEB

28 julho 2011

Libertação Gloriosa - Joanna de Ângelis


LIBERTAÇÃO GLORIOSA

"A ignorância é mãe de muitos males que afligem a criatura humana e responde por inúmeros crimes que se alastram na sociedade. Em razão de não estar informada em torno dos deveres humanos e espirituais da criatura, a ignorância investe, audaciosa, disseminando a agressividade e o estupor, mantendo o primarismo e comprazendo-se nas atitudes infelizes.

Uma palavra esclarecida pode conduzir as pessoas ao superior destino para o qual estão rumando. Mediante informações equilibradas e saudáveis, podes esparzir esperança e alegria de viver, proporcionando encantamento e liberdade de ação.

Por meio do luminoso esclarecimento, renascem no imo daquele que o recebe a coragem e a alegria de encontrar-se em processo de reparação dos erros praticados ontem ou remotamente, dignificando-se perante a própria consciência, assim como diante da Consciência Cósmica.

Quando as dores de qualquer matiz encontram agasalho no recesso dos seres e esses não identificam a sua finalidade, não entendendo a lei de causa e efeito, elas transformam-se em látego impiedoso que dilacera a alma, atirando as suas vítimas no calabouço da revolta e do desespero. Sem o amparo da compreensão, o nada se apresenta como sendo a solução, abrindo as portas para o suicídio nefando....

O ser esclarecido não mais se permite a dúvida em torno da imortalidade, na qual se encontra mergulhado, seja no corpo ou fora dele, mantendo contato com os Espíritos que o precederam no retorno ao país de origem e aguardando o seu momento de também volver....

Esclarecido em torno do significado existencial, dos objetivos de que a reencarnação é portadora, o ser humano desperta para a compreensão da terrestre caminhada , experimentando inexprimível alegria de viver conscientemente.

Aquele que se esclarece em torno da vida espiritual encontra um tesouro que pode multiplicar, mimetizando todos os outros que se lhe acercam, ao tempo que diminui a densidade miasmática predominante.

A palavra de amor e de esclarecimento que nasce nas emoções da solidariedade e da compaixão transforma-se em estrela luminífera, mantendo claridade esfuziante à sua volta".

Joanna de Ângelis (espírito)
Psicografia de Divaldo Franco
Livro: Entrega-te a DEUS

27 julho 2011

Santificação Maternal - Amélia Rodrigues


Santificação Maternal

Quando percebeste as sublimes vibrações da maternidade no teu seio, foste tomada pela aflição, considerando-se a magnitude do evento para o qual não te sentias preparada.

Não desejavas um filho, nem esperavas que o incidente sexual de que participaste, resultasse na concepção...

De imediato surgiu-te a ideia infeliz do aborto criminoso como solução para o que se te apresentava como problema desafiador.

Anelavas por um futuro rico de oportunidades e de triunfos, o que então se tornaria difícil em razão da presença do filhinho não programado e que nasceria em circunstâncias desfavoráveis.

Quando comunicaste ao companheiro responsável pela tua gravidez, de maneira cruel e cínica, ele escusou-se a qualquer responsabilidade, informando que eras adulta e conhecias os métodos impeditivos da concepção, havendo-te permitido a fecundação com intenções secundárias e infamantes...

A seguir, desapareceu da tua existência, deixando-te abatida e insegura, dominada pelo medo de enfrentar a família e a sociedade que te não compreenderiam a conduta.

Felizmente, na circunstância aflitiva, resolveste buscar refúgio na oração em que leniste a alma sofrida, tomando a decisão de prosseguir corajosamente.

Aqueles eram dias de muita hipocrisia e intolerância.

Nada obstante, aceitaste o desafio, pagando o preço da atitude impensada, quando te facultaste a comunhão sexual irresponsável, e enfrentaste todos os empecilhos que se te apresentaram...

...E renasceu nos teus braços o anjo filial que santificou a tua maternidade.

Embora as dificuldades que advieram, os sacrifícios que te impuseste na condição de mãe solteira e solitária, conseguiste avançar com decisão, amparando o filhinho amado que se transformou na razão mais nobre da tua atual existência.

Transformaste as noites insones ao seu lado febril em experiências de iluminação, entregue ao desvelo e à meditação.

Acompanhaste todos os teus passos inseguros e tentativas de crescimento, oferecendo-lhe ternura, autoconfiança e amor.

O tempo transcorreu lento, mas feliz.

Hoje, quando recordas a jornada vivenciada, emocionas-te e agradeces a Deus haver-te concedido a bênção da maternidade, que soubeste santificar através do amor e da abnegação.

Nunca te arrependeste da decisão de tornar-te mãe.

Aureolada pelos júbilos do dever cumprido, sorris, jubilosamente, e, ditosa, bendizes o filhinho que se transformou em cidadão e ao teu lado está construindo o mundo novo de esperanças e realizações edificantes pelo qual todos lutamos.

Deus te abençoe, mãe abnegada e feliz!

* * *

A maternidade, em qualquer circunstância em que se apresente, é dádiva sublime do amor de Deus para todas as criaturas.

Por mais perversa apresente-se a situação em que se concebeu, jamais se permita o aborto criminoso, ceifando a vida do ser inocente que necessita experienciar a oportunidade de crescimento para Deus e para si mesmo.

Ser mãe é tornar-se cocriadora com a Divindade, em sublime oportunidade de santificação.

Viver, portanto, a maternidade em todas as suas expressões, é conquista sublime da criatura humana no seu processo antropopsicológico da evolução.


Amélia Rodrigues

Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na manhã de 4 de março de 2011, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, BA.

26 julho 2011

A Obra de Kardec e Kardec Diante da Obra - Hermínio C.Miranda


A OBRA DE KARDEC E KARDEC DIANTE DA OBRA

Sempre haverá muito que aprender na obra de Allan Kardec, não apenas aqueles que se iniciam no estudo da Doutrina Espírita, como também os que dela já têm conhecimento mais profundo. Isso porque os livros que divulgam idéias construtivas — e especialmente idéias novas — nunca se esgotam como fonte de onde fluem continuamente motivações para novos arranjos e, portanto, de progresso espiritual, sem abandonar a contextura filosófica sobre as quais se apóiam. Para usar linguagem e terminologia essencialmente espíritas, diríamos que o perispírito da doutrina permanece em toda a sutileza e segurança de sua estrutura, ao passo que o espírito da Doutrina segue à frente, em busca de uma expansão filosófica, sujeito que está ao constante embate com a tremenda massa de informação que hoje nos alcança, vinda de todos os setores da especulação humana. De fato, a Doutrina Espírita está exposta às mais rudes confrontações, por todos os seus três flancos ao mesmo tempo: o filosófico, o científico e o religioso. A cada novo pronunciamento significativo da filosofia, da ciência ou da especulação religiosa, a doutrina se entrega a um processo introspectivo de auto-análise para verificar como se saiu da escaramuça.

Isso tem feito repetida mente e num ritmo cada vez mais vivo, durante mais de um século. E com enorme satisfação, podemos verificar que nossas posições se revelaram inexpugnáveis. Até mesmo idéias e conceitos em que a Doutrina se antecipou aos tempos começam a receber a estampa confirmatória das conquistas intelectuais como, para citar apenas dois exemplos a reencarnação e a pluralidade dos mundos habitados. Poderíamos citar ainda a existência do perispírito que vai cada dia mais tornando-se uma necessidade científica, para explicar fenômenos que a biologia clássica não consegue entender.

Quando abrimos hoje revistas, jornais e livros sintonizados com as mais avançadas pesquisas e damos com o nome de importantes cientistas examinando a sério a doutrina palingenésica ou a existência de vida inteligente fora da Terra, somos tomados por um legítimo sentimento de segurança e de crescente respeito pelos postulados da doutrina que os Espíritos vieram trazer-nos.

Tamanha era a certeza de Kardec sobre tais aspectos que escreveu que o Espiritismo se modificava nos pontos em que entrasse em conflito com os fatos científicos devidamente comprovados.

Essa observação do Codificador, que poderia parecer a muitos a expressão de um receio ou até mesmo uma gazua para eventual saída honrosa, foi, ao contrário, uma declaração corajosa de quem pesou bem a importância do que estava dizendo e projetou sobre o futuro a sua própria responsabilidade. O tempo deu-lhe a resposta que ele antecipou: não, não há o que reformular, mas se algum dia houver, será em aspectos secundários da doutrina e jamais nas suas concepções estruturais básicas, como a existência de Deus, a sobrevivência do Espírito. a reencarnação e a comunicabilidade entre vivos e "mortos".

O que acontece é que a doutrina codificada não responde a todas as nossas indagações, e nem as de Kardec foram todas resolvidas nos seus mínimos pormenores e implicações. “O Livro dos Espíritos” é um repositório de princípios fundamentais de onde emergem inúmeras “tomadas” para outras tantas especulações e conquistas e realizações. Nele estão os germes de todas as grandes idéias que a humanidade sonhou pelos tempos afora, mas os Espíritos não realizam por nós o nosso trabalho. Em nenhum outro cometimento humano vê-se tio claramente os sinais de uma inteligente, consciente e preestabelecida coordenação de esforços entre as duas faces da vida — a encarnada e a desencarnada. Tudo parece — e assim o foi — meticulosamente planejado e escrupulosamente executado. A época era aquela mesma, como também o meio ambiente e os métodos empregados. Para a carne vieram os espíritos incumbidos das tarefas iniciais e das que se seguiram, tudo no tempo e no lugar certos. Igualmente devem ter sido levadas em conta a fragilidade e as imperfeições meramente humanas, pois que também alternativas teriam sido planejadas com extremo cuidado. Há soluções opcionais para eventuais falhas, porque o trabalho era importante demais para ficar ao sabor das imperfeições humanas e apoiado apenas em dois ou três seres, por maiores que fossem. Ao próprio Kardec, o Espírito da Verdade informa que é livre de aceitar ou não o trabalho que lhe oferecem. O eminente professor é esclarecido, com toda a honestidade e sem rodeios, que a tarefa é gigantesca e, como ser humano, seria arrastado na lama da iniqüidade, da calúnia, da mentira, da infâmia. Que todos os processos são bons para aqueles que se opõem à libertação do homem. Que ele, Kardec, poderia também falhar. Seu engajamento seria, pois, de sua livre escolha e que, se recusasse a tarefa, outros havia em condições de levá-la a bom termo.

O momento é dramático. É também a hora da verdade suprema, pois o plano de trabalho não poderia ficar comprometido por atitudes dúbias e meias-palavras. Aquilo que poderia parecer rudeza de tratamento é apenas ditado pote seriedade do trabalho que se tinha a realizar no plano humano.
Kardec aceitou a tarefa e arrostou, com a bravura que lhe conhecemos, a dureza das aflições que sobre ele desabaram, como estava previsto. Tudo lhe aconteceu, como anunciado; os amigos espirituais seriam incapazes de glamourizar a sua colaboração e minimizar as dificuldades apenas para induzi-lo a aceitar a incumbência.

Por outro lado, se ele era, entre os homens, o chefe do movimento, pois alguém Unha que o liderar, compreendeu logo que não era o dono da doutrina e jamais desejou sê-lo. Quando lhe comunicam que foi escolhido para esse trabalho gigantesco, sente com toda a nitidez e humildade a grandiosidade da tarefa que lhe oferecem e declara que de simples adepto e estudioso a missionário e chefe vai uma distância considerável, diante da qual ele medita, não propriamente temeroso, mas preocupado, dado que era homem de profundo senso de responsabilidade. Do momento em que toma a incumbência, no entanto, segue em frente com uma disposição e uma coragem inquebrantáveis.

Esse aspecto da sua atuação jamais deve ser esquecido a consciência que tem da sua posição de coordenador do movimento e não de seu criador. Não deseja que a doutrina nascente seja ligada ao seu nome. Apaga-se deliberadamente e tenazmente para que a obra surja como planejada, isto é, uma doutrina formulada pelos Espíritos e transmitida aos homens pelos Espíritos, contida numa obra que fez questão de intitular “O Livro dos Espíritos”. Por outro lado, não é intenção dos mensageiros espirituais — ao que parece — ditar um trabalho pronto e acabado, como um “flash” divino, de cima para baixo.
Deixam a Kardec a iniciativa de elaborar as perguntas e conceber não a essência do trabalho, mas o plano geral da sua apresentação aos homens. A obra não deve ser um monólogo em que seres superiores pontificam eruditamente sobre os grandes problemas do ser e da vida; é um diálogo no qual o homem encarnado busca aprender com os irmãos mais experimentados novas dimensões da verdade. E preciso, pois, que as questões e as dúvidas sejam levantadas do ponto de vista humano, para que o mundo espiritual as esclareça na linguagem simples da palestra, dentro do que hoje se chamaria o contexto da psicologia específica do ser encarnado. Por isso, Kardec não se julga o criador da Doutrina, mas é infinitamente mais do que um mero copista ou um simples colecionador de pensamentos alheios. Deseja apagar-se individualmente para que a obra sobreleve às contingências humanas; a Doutrina não deve ficar “ligada” ao seu nome pessoal como, por exemplo, a do super-homem a Nietszche, o islamismo a Maomé, o positivismo a Augusto Comte ou a teoria da relatividade a Einstein; é, no entanto, a despeito de si mesmo, mais do que simples colaborador, para alcançar o estágio de um co-autor quanto ao plano expositivo e às obras subseqüentes. Os Espíritos deixam-lhe a iniciativa da forma de apresentação. A princípio, nem ele mesmo percebe que já está elaborando ‘O Livro dos Espíritos”; parece-lhe estar apenas procurando respostas às suas próprias interrogações. Homem culto, objetivo, esclarecido e com enormes reservas às doutrinas religiosas e filosóficas da sua época, tem em mente inúmeras indagações para as quais ainda não encontrara resposta. Ao mesmo tempo em que vai registrando as observações dos Espíritos, vai descobrindo um mundo inteiramente novo e insuspeitado e tem o bom senso, de não se deixar fascinar pelas suas descobertas.

E, pois, ao sabor de sua controlada imaginação que organiza o esquema das suas perguntas e quando dá conta de si tem anotações metódicas, lúcidas, simples de entender e, no entanto, do mais profundo e transcendental sentido humano. Sem o saber, havia coligido um trabalho que, pela sua extraordinária importância, não poderia ficar egoisticamente preso à sua gaveta; era preciso publicá-lo e isso mesmo lhe dizem os Espíritos. Assim o fez e sabemos de sua surpresa diante do sucesso inesperado da obra.

Daí em diante, isto é, a partir de “O Livro dos Espíritos”, seus amigos assistem-no, como sempre o fizeram, mas deixam-no prosseguir com a sua própria metodologia e nisso também ele era mestre consumado, por séculos de experiência didática. As obras subseqüentes da Codificação não surgem mais do diálogo direto com os Espíritos e sim das especulações e conclusões do próprio Kardec, sem jamais abandonar, não obstante, o gigantesco painel desenhado a quatro mãos em “O Livro dos Espíritos”.

Conversando uma vez, em nosso grupo, sobre o papel de certos espíritos na história, disse-nos um amigo espiritual que é muito importante para todos nós o trabalho daqueles a quem ele chamou Espíritos ordenadores. São os que vêm incumbidos de colocar em linguagem humana, acessível, as grandes idéias.
Sem eles, muito do que se descobre, se pensa e se realiza ficaria perdido no caos e na ausência de perspectiva e hierarquia. São eles —Espíritos lúcidos, objetivos e essencialmente organizadores — que disciplinam as idéias, descobrindo-lhes as conexões, implicações e conseqüências, colocando-as ordenadamente ao alcance da mente humana, de modo facilmente acessível e assimilável, sob a forma de novas sínteses do pensamento. São eles, portanto, que resumem um passado de conquistas e preparam um futuro de realizações. Sem eles, o conhecimento seria um amontoado caótico de idéias que se contradizem, porque invariavelmente vem joio com o trigo, na colheita, e ganga com ouro, na mineração. São eles os faiscadores que tudo tomam, examinam, rejeitam, classificam e colocam no lugar certo, no tempo certo, autruisticamente, para que quem venha depois possa aproveitar-se das estratificações do conhecimento e sair para novas sínteses, cada vez mais amplas, mais nobres, mais belas, ad infinitum.

Allan Kardec é um desses espíritos. Não diremos que seja um privilegiado porque essa classificação implica idéia de prerrogativa mais ou menos indevida e as suas virtudes são conquistas legítimas do seu espírito, amadurecidas ao longo de muitos e muitos séculos no exercício constante de uma aguda capacidade de julgamento — é, pois, um direito genuinamente adquirido pelo esforço pessoal do espírito e não uma concessão arbitrária dos poderes superiores da vida. O trabalho que realizou pela Doutrina Espírita é de inestimável relevância. Para avaliar a sua importância basta que nos coloquemos, por alguns instantes, na posição em que ele estava nos albores do movimento. Era um homem de 50 -anos de idade, professor e autor de livros didáticos. Sua atenção é solicitada para os fenômenos, mas ele não é de entregar-se impulsivamente aos seus primeiros entusiasmos. Quer ver primeiro, observar, meditar e concluir, antes de um envolvimento maior.
Quando recebe a incumbência e percebe o vulto da tarefa que tem diante de si, nem se intimida, nem se exalta. É preciso, porém, formular um plano de trabalho. Por onde começar? Que conceitos selecionar? Que idéias têm precedência sobre outras? Serão todas as comunicações autênticas? Será que os Espíritos sabem de tudo? Poderão dizer tudo o que sabem?

É tudo novo, tudo está por fazer e já lhe preveniram que o mundo vai desabar sobre ele. O cuidado tem de ser redobrado, para que o edifício da doutrina não tenha uma rachadura, um fresta, um ponto fraco, uma imperfeição; do contrário, poderá ruir, sacrificando toda a obra. Os representantes das trevas estão atentos e dispostos a tudo. Os Espíritos o ajudam e o inspiram e o incentivam, embora sejam extremamente parcimoniosos em elogios e um tanto enérgicos nas advertências. Quando notam um erro de menor importância numa exposição de Kardec, não indicam o ponto fraco; limitam-se a recomendar-lhe que releia o texto, que ele próprio encontrará o engano. Do lado humano, encarnado, da vida, é um trabalho solitário. Não tem a quem recorrer para uma sugestão, um conselho, um debate. Os amigos espirituais somente estão à sua disposição por algum tempo, restrito, sob limitadas condições, durante as horas que consegue subtrair ao seu repouso, porque as outras são destinadas a ganhar a vida, na dura atividade de modesto guarda-livros.

Sem dúvida alguma, trata-se de um trabalho de equipe, tarefa pioneira, reformadora, construtora de um novo patamar para a escalada do ser na direção de Deus. As velhas doutrinas religiosas não satisfazem mais, a filosofia anda desgovernada pelos caminhos da negação e a ciência desgarrada de tudo, aspirando ao trono que o dogmatismo religioso deixou vago. No meio de tudo isso, o homem que pensa e busca um sentido para a vida se atormenta e se angustia, porque não vê suporte onde escorar sua esperança. A nova doutrina vem trazer-lhe o embasamento que faltava, propor uma total reformulação dos conceitos dominantes. Ciência e religião não se eliminam, como tantos pensavam; ao contrário, se completam, coexistindo com a filosofia. O homem que raciocina também pode crer e o crente pode e deve exercer, em toda a extensão, o seu poder de análise e de crítica. Isso não é apenas tolerado, senão estimulado, pois entende Kardec que a fé só merece confiança quando passada pelos filtros da razão. Se não passar, é espúria e deve ser rejeitada.

Concluindo, assim, o trabalho que lhe competia junto aos Espíritos ainda lhe resta muito a fazer, e o tempo urge. Incumbe-lhe agora inserir a nova doutrina no contexto do pensamento de seu tempo — como se diria hoje.
Terminou o recital a quatro mãos e começa o trabalho do solista, porque o mestre ainda está sozinho entre os homens, embora cercado do carinho e da amizade de seus companheiros espirituais. Atira-se, pois, ao trabalho. A luz do seu gabinete arde até altas horas da noite. E preciso estudar e expor aos homens os aspectos experimentais implícitos na Doutrina dos Espíritos.
Desses aspectos, o mais importante, sem dúvida, é a prática da mediunidade, instrumento de comunicação entre os dois mundos. Sem um conhecimento metodizado da faculdade mediúnica, seria impossível estabelecer as bases experimentais da doutrina. Daí, o “O Livro dos Médiuns”.

Em seguida, é preciso dotar o Espiritismo de uma estrutura ética. Não é necessário criar uma nova moral; já existe a do Cristo. O trabalho é enorme e exige tudo de seu notável poder ordenador. E que o ensinamento de Jesus, com a passagem dos séculos e ao sopro de muitas paixões humanas, ficara soterrado em profunda camada de impurezas. Kardec decidiu reduzir ao mínimo os atritos e controvérsias, buscando nos Evangelhos apenas o ensinamento moral, sem se deter, portanto, na análise dos milagres, nem dos episódios da vida pública do Cristo, ou dos aspectos que foram utilizados para a elaboração dos dogmas. Dentro dessa idéia diretora, montou com muito zelo e amor “O Evangelho segundo o Espiritismo”. O problema dos dogmas — pelo menos os principais —ficaria para “O Céu e o Inferno” e sobre as questões científicas ainda voltaria a escrever em “A Gênese”.

E assim concluía mais uma etapa da sua tarefa. O começo, onde andaria? Em que tempo e em que ponto cósmico? Era — e é — um espírito reformador, ordenador, preparador de novas veredas. A continuação, seus amigos espirituais deixaram-no entrevê-la ao anunciar-lhe que se aproximava o término da existência terrena, mas não dos seus encargos: voltaria encarnado noutro corpo, lhe disseram, para dar prosseguimento ao trabalho. Ainda precisavam dele e cada vez mais. Nada eram as alegrias que experimentava ao ver germinar as sementes que ajudara a semear; aquilo eram apenas os primeiros clarões de uma nova madrugada de luz. Quando voltasse, teria a alegria imensa de ver transformadas em árvores majestosas as modestas sementeiras das suas vigílias, regadas por dores muitas. Não seria mais o vulto solitário a conversar com os Espíritos e a escrever no silêncio das horas mortas —teria companheiros espalhados por toda a Terra, entregues ao mesmo ideal supremo de trabalhar sem descanso na seara do Cristo, cada qual na sua tarefa, conforme seus recursos, possibilidades e limitações, dado que o trabalho continua entregue a equipes, onde o personalismo não pode ter vez para que as paixões humanas não o invalidem.

“De modo que — dizia Paulo — nem o que planta é alguém, nem o que rega, senão Deus que a faz crescer.

E o que planta e o que rega são iguais; se bem que cada um receberá o seu salário segundo seu próprio trabalho, já que somos colaboradores de Deus e vós, campo de Deus, edificação de Deus” (1 Coríntios, 3:7 a 9).

Trabalhadores de Deus desejamos ser e o seremos toda vez que apagarmos o nosso nome na glória suprema do anonimato, para que o nosso trabalho seja de Deus, que faz germinar a semente e crescer a árvore, e não nosso, que apenas confiamos a semente ao solo. Somos portadores da mensagem, não seus criadores, porque nem homens nem espíritos criam; apenas descobrem aquilo que o Pai criou.

São essas as dominantes do espírito de Kardec. Sua vitória é a vitória do equilíbrio e do bom senso, é a vitória do anonimato e da humildade, notável forma de humildade que não se anula, mas que luta e vence. Como figura humana, nem sequer aparece nos livros que relatam a saga humana. Para o historiador leigo, quem foi Kardec? Seu próprio nome civil, Hippolyte-Léon Denizard Rivail, ele o apagou para publicar seus livros com o nome antigo de um obscuro sacerdote druida.

De modo que não é somente a obra realizada por Kardec que devemos estudar, é também sua atitude perante a obra, porque tudo neste espírito é uma lição de grandeza em quem não deseja ser grande.

Nas Fronteiras do Além
Autor: Hermínio C Miranda

25 julho 2011

Visão Retrospectiva no Instante da Morte - Waldo Lima do Valle


VISÃO RETROSPECTIVA NO INSTANTE DA MORTE

Este é um dos fenômenos mais singulares que ocorrem em todos os casos de morte natural e, até mesmo, em algumas mortes subitâneas, por acidentes diversos.

A pessoa, nos instantes finais de sua existência, vê passar diante de si, como numa tela de cinema ou num monitor de vídeo, toda a Vida que está prestes a deixar. Os primeiros meses do renascimento, a pré-infância, a infância, a puberdade, a adolescência, a juventude e a fase adulta, tudo, tudo que foi experimentado em cada um desses estágios do desenvolvimento bio-psicológico do ser humano, vem à tona com uma riqueza de pormenores, absolutamente, incomum.

Deve-se este fenômeno ao registro minucioso feito pelo corpo perispiritual de todos os acontecimentos vividos pelo ser humano em cada uma de suas existências. Nada deixa de ser fixado pelo envoltório sutil da alma, e é, graças a essa transcrição minuciosa, que podemos, aqui mesmo, em nosso mundo e, mais tarde, na Vida Espiritual, lembrar-nos de todas as nossas existências pregressas.

Essa visão retrospectiva possibilita ao ser uma contemplação crítica e analítica de todas as ações por ele praticadas, durante a última existência, num prévio julgamento consciencial, com vistas à situação que ele merece na Pátria Espiritual.

Através desse retrospecto, pode o espírito avaliar a imensa distância que ainda o separa de um viver, realmente, pautado dentro da legislação divina.
Por outro lado, verifica-se, também, que até o centavo que um dia doamos, como esmola, ao mais humilde dos pedintes, ali está registrado.

0 fenômeno é instantâneo. Acontece num átimo. 0 que mais importa, entretanto, não é a sua duração, mas a sua qualidade. Mesmo os segredos mais íntimos que, por vezes, o ser humano reprime para o seu inconsciente, vêm à tona com absoluta fidelidade, numa demonstração de que nada permanecerá enterrado, para sempre, nos porões da mente.

E isto apenas confirma as palavras de Jesus, quando disse:

Nada há oculto que não venha, um dia, a ser conhecido.

Nessa retrospectiva, os fatos negativos servem de advertência, e possibilitam ao espírito entrever as conseqüências cármicas que, no futuro, eles desencadearão. Isto nas almas mais esclarecidas, com senso de responsabilidade e noções precisas de Vida Eterna e reencarnação. Já os fatos positivos, também recordados, servem como estímulo a um maior crescimento moral e espiritual nas novas dimensões da Vida em que a alma está penetrando.

0 grande vate português Luiz de Camões, em soneto célebre, afirma: - Numa hora, encontro mil anos e é de jeito que em mil anos não encontro uma hora... De fato, o tempo psicológico do espírito e suas vivências espirituais não são medidos exteriormente com os parâmetros habituais dos ponteiros dos relógios. Esse tempo não cronológico, representado pelo acúmulo de experiências vividas, só pode ser avaliado, interiormente, em visões retrospectivas, no instante da morte, ou nos estados de emancipação da alma. No sonho, no sono hipnótico ou sonambúlico, é perfeitamente possível ao espírito reviver, em segundos, fatos que ocuparam, por vezes, metade de uma existência.

Ao despertar no Além e na posse integral dessa visão panorâmica de sua última existência, o espírito transformar-se-á no grande juiz de si mesmo, no tribunal silencioso de sua consciência...

Cap. 25 do livro Morrer e Depois
Autor: Waldo Lima do Valle
Editora: A União

24 julho 2011

Companheiros Alterados - Emmanuel


COMPANHEIROS ALTERADOS

Quantas pessoas te cruzam o caminho, em plenitude de sanidade física, suportando enfermidades espirituais que desconheces? Se conduzidas a exame num laboratório, mostrarão índices perfeitos de equilíbrio orgânico, entretanto, nos recesso do próprio ser, são doentes da alma, em estado grave, reclamando assistência.

Daí nasce o impositivo da serenidade e da tolerância, em observando o comportamento estranho ou registrando determinados conceitos que não esperávamos da atitude ou dos lábios daqueles que convivem conosco.

Esse amigo que se revelava, até ontem, inteiramente ao nosso lado, caminha hoje em direção oposta, ferindo-nos a sensibilidade; a esposa, dantes compreensiva e leal, distanciou-se psicologicamente de nós, ao toque de afinidades outras que haverá descoberto; o esposo devotado e fiel terá cedido a convites outros, abandonando-nos a companhia e desamparando os próprios filhos na idade tenra; esse ou aquele filho ou essa ou aquela filha, depois de crescidos, desprezaram os princípios que nos serviram de alicerces à vida, afastando-se-nos do caminho, conquanto o amor, que nos dediquem, lhes fique inalterável no coração.

Em semelhantes conflitos da alma, é indispensável saber ouvir e suportar, sem reclamações que lhes suscitariam perturbações de resultados imprevisíveis.

Ignoras quais as moléstias da alma de que estarão sendo portadores e, enquanto no corpo físico, não consegues avaliar as forças obsessivas que estarão agindo, por trás de alguém que a suposta normalidade parece favorecer.

Se encontras algum ente amado, em erro manifesto, suporta com paciência o desequilíbrio em andamento e se ouves opiniões contraditórias ou insensatas, não discutas, acirrando animosidade ou separação.

Acalma-te e fala, asserenando o ambiente em que te vês, porque uma só frase de incompreensão ou de azedume, pode ser o fator desencadeante de terrível brecha para a selvageria da delinqüência ou para as calamidades da obsessão.


Pelo Espírito Emmanuel
Do livro: Inspiração
Médium: Francisco Cândido Xavier

23 julho 2011

Regar a Alma - Momento Espírita


REGAR A ALMA


Vivemos dias de estiagem.

Estiagem de afeto.

Dias em que a alma se ressente da ausência de diálogo e de compreensão.

Dias em que os seres se isolam no próprio egoísmo e se trancam com as suas próprias dores, nas furnas da angústia e da depressão.

Afogam-se nas próprias lágrimas e escutam apenas os próprios lamentos.

Ignoram as dores alheias e desprezam as verdades do próximo.

Vivemos dias de grande amargura.

Dias de solidão em meio à turba que passa sem destino, nem rumo.

Dias em que as pessoas, apesar de toda a riqueza e de todos os recursos dos quais dispõem, sentem-se arrastadas pela correnteza bravia da vida, como se nada pudesse ser feito para evitar tamanha desdita, como se fosse fatal a queda, o fracasso humano.

Muitos se perguntam: "onde foi parar a esperança? Como recuperar a paz perdida?"

Ora, a esperança e a paz jamais deixaram de habitar as paragens onde sempre foram encontradas.

Permanecem encantando as almas que as buscam com sinceridade e persistência, nos caminhos do bem.

Não foram elas que abandonaram o homem.

Em verdade, foi o próprio homem que as confundiu com as ilusões passageiras.

Foram tomadas por miragens incapazes de sustentar por longo período a satisfação fugaz dos primeiros tempos.

Ludibriado pelo próprio querer o homem passou a buscar em outras fontes a água da vida.

Abandonou a estrada das virtudes, que tem portas estreitas, passando a trilhar a senda do equívoco. Valeu-se do livre-arbítrio para fazer as mais variadas escolhas.

No entanto, tais escolhas, em sua grande maioria, foram embasadas apenas na satisfação imediata dos próprios desejos.

Os compromissos anteriormente assumidos foram relegados ao esquecimento.

As responsabilidades decorrentes da própria vontade foram ignoradas.

Com isso, não haveria como existir nos campos da vida paisagem diversa da qual hoje encontramos.

Desertos e desolação.

Angústia e desesperança.

As sementes espalhadas pelo divino semeador jazem ocultas entre a erva-daninha e o pedregulho.

Permanecem inertes, como se fossem incapazes de tocar o coração humano, rompendo a casca da indiferença e fazendo brotar, finalmente, a flor do entendimento.

Vivemos dias de estiagem.

Nossas almas clamam pela rega abençoada que lhes concederia a alegria verdadeira que desconhecem.

Clamam por ela, mas, no entanto, raramente se dispõem a recebê-la.

Ei-la que surge em cada um dos exemplos irretocáveis do cristo.

Faz-se presente em nossas vidas por meio das mensagens de elevada vibração dos espíritos benfeitores.

Comparece diante de nós em cada gesto de amor que recebemos ou que presenciamos.

Aproveitemos a seiva divina para dessedentar nossos espíritos tão necessitados da paz oferecida pelo cristo.

Deixemos que nossas almas, tão sedentas do bem, sejam, de uma vez por todas, tocadas pela mensagem de amor e de esperança ensinadas por Jesus.

Reguemos nossas consciências com os ensinamentos do mestre, a fim de que brote em nós os frutos da compaixão e da verdadeira fraternidade.

Só assim veremos renascer, no solo da nossa alma, a gloriosa esperança.


Equipe de Redação do Momento Espírita

22 julho 2011

Frases - Espíritos Diversos


FRASES

Se alguém te desfecha vibrações contrárias à tua felicidade, endereça a esse alguém a tua silenciosa mensagem de harmonia e de amor com que lhe desejas felicidade maior.
Paz e Renovação. Emmanuel

Despeito - um tirano oculto
Que faz vitimas sem fim.
Nos símbolos da Escritura,
A inveja matou Caim.
Trovas do Mais Além. Fidélis Alves

Dá de teu campo de amor,
Tanto aos santos quanto aos brutos,
As árvores não conhecem
Quem lhes colhe os próprios frutos.
Trovas do Mais Além. Fidélis Alves

Nunca admita que o bem possa ser praticado sem dificuldade.
Paz e Renovação. André Luiz

Quando o tédio te procura, vai à escola da caridade ela te acordará para as alegrias puras do bem e te fará luz no coração, livrando-te das trevas que costumam descer sobre as horas vazias.
Coragem. Emmanuel

Não creias que possas desfrutar, em caráter permanente, de benefícios que não plantaste.
No Portal da Luz. Emmanuel

Felicidade é lavoura
Em que servir é dever
Tanto mais a gente planta
Quanto mais pode colher.
Trovas do Mais Além. Deraldo Neville

O trabalho digno é a cobertura de sua independência.
Sinal Verde. André Luiz

Amigo, você já reparou o efeito renovador de um sorriso?
Ideal Espírita. Valérium

Se você tem qualquer mágoa remanescente da véspera, comece o dia, à maneira do sol:
- Esquecendo a sombra e brilhando de novo.
Sinal Verde. André Luiz

Trabalho será sempre o prodígio da vida criando reconforto e progresso, alegria e renovação.
Coragem. Emmanuel

O braço sem capital -
Engelho que se amofina
O capital sem o braço -
Cachoeira sem usina.
Orvalho de Luz. Albérico Lobo

Na morte, convém saber,
É novo câmbio a seguir.
Quem guardou, toca a perder,
Quem deu, vem a possuir.
Orvalho de Luz. Américo Falcão

Amor puro,- dom perfeito,-
Não muda seja onde for.
Amor que morre no peito
No fundo não era amor.
Trova do Mais Além. Sabino Batista

Sempre que o espinho da maledicência repontar nas flores do entendimento amigo, procure isolá-lo em algodão de bondade, sem desrespeitar os ausentes e sem ferir aos que falam.
Sinal Verde. André Luiz

Não critique, auxilie.
Sinal Verde. André Luiz

Se tempestades sempre novas te vergastam a alma, continua semeando... E, se banimentos e solidão devem constituir a herança transitória do teu destino recorda o divino semeador que, embora piedoso e justo, preferiu a cruz por amor à verdade. E prossegue semeando, mesmo assim, na certeza que Deus te basta, porque tudo passa no mundo, menos Deus.
Ideal Espírita. Meimei

Quando a rosa se desabotoa na paisagem, não quer saber quantos espinhos se lhe cravam na haste; espalha perfume e beleza, atenta ás finalidades para as quais se vê nascida.
Passos da Vida. Emmanuel

No que tange a sofrimentos do amor, só Deus sabe onde estão a queda ou a vitória.
Sinal Verde. André Luiz

Lembra-te de que o débito da ternura e da gratidão jamais termina.
No Portal da Luz. Emmanuel

Sofremos, sim... Mas nem tanto...
A dor mais dura e feroz
É a dor do orgulho ferido,
Rugindo dentro de nós.
Orvalho de Luz. Eugênio Rubião

Apenas Deus pode julgar o intimo de cada um.
Sinal Verde. André Luiz

Alegria de uma casa
Tem este preço comum:
Um tanto de caridade
Da parte de cada um.
Orvalho de Luz. Múcio Teixeira

A humildade é um anjo mudo.
Sinal Verde. André Luiz

Não exija perfeição nos outros e nem mesmo em você,
mas procure melhorar-se quanto possível.
Coragem. André Luiz

Abriga-te na humildade,
Não busque mundana estima.
O ouro afunda no mar,
A palha fica por cima.
Orvalho de Luz. Regueira Costa

Quem vive de se ferir, acaba na condição de espinheiro.
Sinal Verde. André Luiz

Quem diz que o tempo traz apenas ilusões é que não tem feito outra coisa senão iludir-se.
Sinal Verde. André Luiz

Tudo vence no caminho
Mesmo os empeços mais vastos,
Quem traz a cabeça nova
Em cima dos ombros gastos.
Orvalho de Luz. Teotônio Freire

Mero dever melhorar-nos, melhorando o próprio caminho em regime de urgência. Todavia, abstenhamo-nos do hábito de remexer inutilmente as feridas, alargando-lhes a extensão.
Paz e Renovação. Emmanuel

O amor verdadeiro auxilia sem perguntar.
Sinal Verde. André Luiz

Ciência clara do acerto
Enfeixada em nota breve:
Distinguir o que se pode
Daquilo que não se deve.
Trovas do Mais Além. Boris Freire

Ame sem exigências, aceitando as criaturas queridas como são,
sem pedir-lhes certificados de grandeza.
Paz e Renovação. André Luiz

Dos conceitos sobre o amor
Tenho este por mais nobre;
Com amor o pobre é rico,
Sem amor o rico é pobre.
Orvalho de Luz. Toninho Bittencourt

Diante de quaisquer transes da vida, tudo venceremos se nos dispusermos a esquecer o mal, crer no bem e servir com amor.
Paz e Renovação. Bezerra de Menezes.


Espíritos Diversos
Do livro: Calendário Espírita
Médium: Francisco Cândido Xavier

21 julho 2011

Entrega-te a Deus - Joanna de Ângelis


ENTREGA-TE a DEUS


A DESENFREADA BUSCA DO PRAZER ENTORPECE OS SENTIDOS das criaturas que se arrojam aos despenhadeiros da aflição.

Jamais houve tantas gloriosas conquistas do conhecimento e da razão, como sucede na atualidade, sem que se manifestem correspondentes vitórias sobre as paixões primevas (1), que permancecem em predomínio, atormentando aqueles que lhes tombam nas armadilhas bem urdidas (2).

O ser conquistador dos espaços siderais ainda não logrou autoconquistar-se, libertando-se das amarras vigorosas dos vícios e dos instintos agressivos.

Sonhando e viajando no rumo do infinito, aturde-se e perde-se nas mesquinharias do cotidiano a que valoriza excessivamente. Em razão disso, há grandezas no seu comportamento e pequenezes nas aspirações, raramente superando os limites do imediatismo atormentador.

O andarilho das estrelas perde-se no matagal sombrio da convivência familiar, no trabalho, na sociedade, acumulando amarguras e ansiedades que ressumam (3) continuamente, entre receios injustificáveis e fugas espetaculares em direção ao consumismo e às angústias que não tem sabido diluir.

Ambicionando sempre a aquisição da cornucópia (4) da fortuna material para atender às ansiedades que o atormentam, desejando saciedade, não se satisfaz quando a possui, anelando (5) sempre por mais, nem se harmoniza, quando em carência do supérfluo, que o libera da carga aflitiva dos valores sem valor, mas aos quais atribui significados.

Dois mil anos de cristianismo, infelizmente deturpado na sua essência, transformando em culto social e em projeção humana, oferecem uma lamentável história de insucessos espirituais e de tragédias defluentes do poder econômico, da situação religiosa, dos destaques comunitários...

Os exemplos de Francisco de Assis, de Teresa D’Ávila, de João da Cruz, ou mais recentes de Madre Teresa de Calcutá e de Francisco Cândido Xavier, dentre outros admiráveis missionários de Jesus, abrilhantam as histórias de fé, mas não se tranforam em motivos para que sejam repetidos com o mesmo sentido de dedicação e de renúncia pelas coisas e opção pela verdade.

As disputas pelas posições transitórias e as intrigas contínuas que distraem os frívolos e perturbam a marcha do progresso espiritual sucedem-se calamitosas, agora ampliadas pelos extraordinários recursos do YouTube, do Orkut, do Twitter e do Facebook, assim como de outros programas que deveriam servir de campo de edificação de vidas, desmoralizando pessoas que se desagradam, trabalhadores que são fiéis ao compromisso, transformando-se em técnicas de destruição dos valores nobres.

A onda de materialismo sem disfarce, expressando-se pelo erotismo e pelo deboche, pela nudez que passou a ser recurso para chamar a atenção e exaltar a degradação da criatura, contrapõe-se à ética do bem proceder e da dignidade, que perdem o significado ante o volume de perversão que toma conta da sociedade.

Quanto maior e mais comentado o escândalo, mais promovido se torna aquele que o promove, atingindo culminâncias entre os coetâneos (6), sendo, logo depois, aplaudido e reconduzido aos postos dos quais é expulso por corrupção e vulgaridade. Nada obstante, todos esses que assim se comportam não conseguem evadir-se dos conflitos internos que os atormentam e disfarçam, consumindo-lhes as energias e empurrando-os para os anestésicos do alcoolismo, da drogadição, do sexo sem significado...

... E tombam nas depressões profundas, nos suicídios discretos ou espetaculares, na transferência psicológica para os demais, dando lugar à violência, ao terrorismo, ao crime, às guerras no lar, nas ruas, no trabalho, em toda parte...

Fala-se muito sobre Jesus, que permanece o grande desconhecido da cultura e da civilização modernas.

Mito para uns, Deus para outros, homem comum e depravado como alguns o biografam autorretratando-se, é usado para debates e comentários, autopromoções e agressões fanáticas, sem que a sua mensagem tenha lugar nas mentes ou nos corações.

Para diminuir a situação desastrosa em que se encontram as criaturas terrestres, o espiritismo veio iluminar a senda a percorrer, penetrar o cerne dos sentimentos e libertar a razão das heranças perversas do passado, não encontrando ainda o solo fértil para alcançar a meta a que se destina.

Grande número daqueles que o abraçam, vinculados às amarras ancestrais das experiências vivenciadas, em vez de viverem a humildade e o serviço, atiram-se na arena das competições mentirosas do mundo, gerando cismas e exibindo a falsa cultura de que se dizem portadores, apontando erros, impondo seus pontos de vista, distantes do compromisso com a consciência do dever de amar e servir, de edificar o bem em toda a parte mediante os recursos disponíveis.

É compreensível que essa conduta se expresse, porque a evolução é muito lenta, e ninguém consegue de um salto abandonar o primarismo em que estagiou por longo período, a fim de alcançar os patamares da razão e do sentimento nobre.

Nada, porém, impedirá a vitória d’O Consolador, e todos aqueles que se lhe oponham padecerão o efeito danoso da sua conduta insensata, o que é inevitável.

É necessário amar e compreender a todos, procurando modificar as estruturas do pensamento e do comportamento doentios que vigem na sociedade aflita, oferecendo Jesus e sua doutrina com a pulcritude (7) e beleza com que ele e os seus primeiros discípulos e seguidores nos oferecem, e de que Allan Kardec se fez o impar mensageiro dos novos tempos.

O retorno à simplicidade do coração, à convivência com os infelizes que enxameiam em todos os segmentos da sociedade, à bondade fraternal e à gentileza amorosa para com o próximo, no lar, no trabalho, na rua, faz-se inadiável, e ninguém impedirá que tal aconteça.

Reencarnam-se em massa os missionários da Nova Era, totalmente entregues a Deus, a fim de romperem com a escuridão que domina o mundo e tornarem-se estrelas luminíferas (8) apontando os rumos da plenitude.

Conhecer o espiritismo é uma honra que nem todos valorizam, porque, alguns, apressados em transformar o mundo sem a correspondente mudança interior, vilipemdiam-no (9), combatem-no por meios dos atos, embora dizendo-se vinculados à doutrina, o que lamentarão mais tarde, quando realmente despertarem para a imortalidade na qual se encontram situados.

Há, sem dúvida, muitas bênçãos e exemplos dignificadores que se transformam em roteiros de vida para os que são sinceros e seguem na retaguarda, confiantes na autossuperação moral e na conquista da paz interior.

Que permaneçam irretocáveis os servidores de Jesus na luta autoiluminativa, esparzindo (10) a doutrina espírita em toda a parte por intermédio do pensamento, das palavras e dos atos!


Joanna de Ângelis (espírito)
Psicografia de Divaldo Pereira Franco

Introdução do Livro: Entrega-te a Deus

Salvador, 14 de julho de 2010


Glossário:

1) primevo: dos primeiros tempos

2) urdir: enredar, tramar, mquinar

3) ressumar: manifestar-se de maneira evidente

4) cornucópia: fonte de riqueza ou prosperidade

5) anelar: desejar intensamente

6) coetâneo: contemporâneo

7) pulcritude: formosura, perfeição

8) luminífero: que tem luz, que a produz

9) vilipendiar: rebaixar; considerar sem valor

10) esparzir: disseminar, difundir

20 julho 2011

Violência Juvenil - Delmo Martins Ramos


Violência Juvenil

Dentre tanta violência no mundo de hoje, tão banalizadas pela frequência, ficaram marcadas em nossas mentes os fatos acontecidos em Brasília, quando jovens de classe média alta atearam fogo em um índio, e a terrível chacina protagonizada nos EUA por duas crianças de 11 e 13 anos que chocaram o mundo.

Hoje se assiste a repetição desses atos que estão se tornando banais.

Esses fatos, infelizmente, não são isolados, pois nesse meio tempo outros tantos aconteceram. A violência juvenil tem crescido em todas as partes do mundo, não podendo assim ser explicada apenas pelo subdesenvolvimento e miséria. O mundo em que vivemos é um grande campo de batalha para o ser humano, que trabalha por toda a sua existência em busca do desenvolvimento intelectual e do aperfeiçoamento moral.

É na família, a grande responsável pela sua educação básica, que recebe as primeiras noções de vida. Ali ele manifesta as boas e más tendências, e ao serem identificados os germes dos vícios morais, principalmente do egoísmo e do orgulho, devem ser combatidos incansavelmente. Importante também é o incentivo ao desenvolvimento das virtudes inatas, bem como a aquisição de outras necessárias ao seu desenvolvimento moral.

Posteriormente, como complemento da educação familiar, vem a educação formal proporcionada pelas escolas, onde a criança desenvolverá seu intelecto e terá o reforço dos ensinamento éticos e morais. Na solidificação desse processo educativo, a religião representa um papel importante através dos ensinamentos espirituais que proporciona, desenvolvendo a moral do ser humano.

Pela falta de acesso a esse processo educativo, se explicaria a violência entre as crianças de rua, sem família, educação e religião; discriminadas pela sociedade e abandonadas pelo poder público. Mas como explicar a repetição desse comportamento entre as crianças e jovens de classe média onde, teoricamente, não faltam esses elementos fundamentais para o desenvolvimento do ser humano?

Sem nos aprofundarmos muito nesta análise, constatamos que as falhas estão na estrutura de nossa sociedade que está podre e carcomida pelos interesses puramente materiais e pessoais. A família, a célula máter da sociedade, está desestruturada na busca frenética de seus pares pelas coisas materiais e na ânsia da satisfação de seus interesses pessoais. A busca desses objetivos absorve os pais, pouco tempo restando para a educação dos filhos, que fica a cargo da TV. São crianças abandonadas no próprio lar, cercadas do conforto que a moderna tecnologia pode oferecer. Para compensar, satisfazem todos seus caprichos e lhes dão toda a liberdade que quiserem.

As escolas, por sua vez, se preocupam apenas em preparar seus alunos para a competição do mercado de trabalho, onde nem sempre a ética moral conta. Quanto mais sucesso profissional e material seus alunos tiverem no futuro, mais conceituada será a escola e mais cara será sua mensalidade.

Em meio a tudo isto estão as religiões. A maioria presa a rituais, dogmas, tradições e mercantilismo, esquecidas que sua verdadeira função é encaminhar o homem na busca dos bens espirituais. É preciso, pois, a reforma urgente da estrutura da sociedade em suas bases, na busca dos verdadeiros
valores que devem interessar ao homem para a realização do objetivo maior
que é sua evolução espiritual.

Texto de Delmo Martins Ramos


19 julho 2011

EM Prece a Jesus - Cerinto


EM PRECE A JESUS


Senhor Jesus!

Divino condenado sem culpa!...

Enquanto Te rememoramos o madeiro de ignomínia, lança Tua benção sobre nós, os que nos enfileiramos, junto à rebeldia do Mau Ladrão...

Tu que Te confiaste à extrema renúncia pelos que padeciam na miséria, não Te esqueças daqueles que ainda estendem na Terra o sofrimento e a ignorância, a fome e a nudez!

Muitos, ó Eterno Benfeitor, Te rogarão socorro para os que foram relegados à intempérie, entretanto, nós sabemos que a Tua presença sublime aquece todos os que foram abandonados à noite da provação e, por isso, rogar-Te-emos abrigo para as mãos que erguem templos em Tua memória, esquecendo fora das portas os que soluçam de frio.

Ah! Senhor! quantos Te pedirão pela ovelha estraçalhada, longe do aprisco!... Nós, no entanto, não desconhecemos que o Teu olhar vela, poderoso e vigilante, ao pé de todos os vencidos, convertendo-lhes a dor em pão de Tua graça, nos celeiros da eterna vitória!... Suplicar-Te-emos, assim, abençoes o lobo que se julga triunfante.

Mestre da Cruz, compadece-Te, pois, de todos nós, os que Te buscamos com a oração do arrependimento, crucificados ainda no madeiro de nossa crueldade, algemados ao cárcere de nossos próprios crimes garroteados pelas recordações dolorosas que nos entenebrecem a consciência!

Ampara-nos, Senhor, a nós, os que abusamos da inteligência, os que exploramos as viúvas e os órfãos, os que deliberadamente fugimos ao amor que nos ensinaste!...

Excelso Benfeitor, estende sobre nós Teu olhar compassivo, Tu, Senhor, que, enquanto recebias as manifestações de solidariedade e apesar das mulheres piedosas de Jerusalém, pensavas em como haverias de converter a fraqueza de Pedro em resistência e como haverias de levantar o espírito de Judas, nosso irmão!...

Ó Senhor, compadece-Te, ainda, das cruzes que talhamos, das aflições criadas por nós mesmos e lança do lenho que não merecias, o Teu olhar de perdão sobre as nossas dores, para que sejamos, ainda, hoje como ontem, aliviados por Tuas sublimes palavras: – “Perdoa-lhes, meu Pai, porque efetivamente não sabem o que fazem”.


Pelo Espírito Cerinto
Do livro: À Luz da Oração
Médium: Francisco Cândido Xavier

18 julho 2011

O Preço da Remissão - Hilário Silva


O PREÇO DA REMISSÃO

I

No grande castelo português do século XVII, José Antônio Maria de Alenquer, jovem senhor feudal, chama os três servidores mais íntimos a conselho.

Quer liquidar José Joaquim, o pequeno bastardo, nascido nos últimos tempos da existência do pai viúvo.

Manuel Macário, o mordomo, a esposa e a filha ouvem-no, interessados.

Ganharão pequena fortuna pela cumplicidade.

E José Joaquim, menino de sete anos, que se deslumbra perante a vida, é conduzido pelos quatro a extenso poço lotado de peixes vorazes. E, enquanto a criança fita o bojo das águas, o irmão desapiedado arroja-lhe o corpo frágil no precipício.

Leve rumor.

Um grito abafado. E depois o silêncio.

José Antônio Maria de Alenquer senhoreia enorme herança. E a vida continua ...

II

8 de fevereiro de 1957. Telegrama dos jornais: " A criança foi devorada em vida pelas piranhas!

Em poucos minutos, dela só restava o esqueleto!

Presenciada pelos pais do menor a horripilante cena!

A população da pequena cidade de Monte Alegre, no Baixo Amazonas, ainda não se refez do choque emocional causado pela tragédia que envolveu uma criança de sete anos, devorada em vida e em poucos minutos por um cardume de famintas piranhas e, o que é pior, na presença dos pais e de irmã menor, todos horrorizados.

O menino Adílson, a vítima, filho do pescador Darlan, era uma criança muito estimada pela sua vivacidade e seu temperamento ameno. No dia em que perdeu a vida, de maneira tão brutal, havia sido mandado pelo pai, em companhia de sua irmã Josefina, de onze anos, numa pequena canoa, a fim de levar um recado a um conhecido, na outra margem do rio Gurupatuba, que corre nos fundos da casa do pescador.

Já no meio da travessia, Adílson, a um movimento menos feliz, perdeu o equilíbrio e caiu na água.
Incontinenti, o local onde mergulhou o menor tingiu-se de sangue.

A infortunada criança caíra exatamente num cardume de vorazes piranhas, que em poucos minutos, ou mesmo segundos, a devoraram.

Horrorizados, os pais de Adílson e a irmãzinha do menino assistiram à cena impressionante, sem nada poderem fazer, tal a conhecida rapidez com que age essa espécie de peixe.

Refeito da brutalidade da cena e passado o cardume, o pai de Adílson, como um louco, mergulhou nas profundas águas do rio e de lá voltou trazendo, apenas, um esqueleto, quase totalmente descarnado.

Essa ocorrência deixou chocados a quantos dela tiveram conhecimento."

III

A voracidade das piranhas e o assombro da pequena família foram o preço da remissão da falta cometida...

- FIM -

Do livro "A Vida Escreve"
Pelo Espírito Hilário Silva
Médiuns: Francisco Cândido Xavier, Waldo Vieira

17 julho 2011

O Espírito da Maldade - Neio Lúcio


O ESPÍRITO DA MALDADE

O Espírito da Maldade, que promove aflições para muita gente, vendo, em determinada manhã, um ninho de pássaros felizes, projetou destruir as pobres aves.

A mãezinha alada, muito contente, acariciava os filhotinhos, enquanto o papai voava, à procura de alimento.

O Espírito da Maldade notou aquela imensa alegria e exasperou-se. Mataria todos os passarinhos, pensou consigo. Para isto, no entanto, necessitava de alguém que o auxiliasse. Aquela ação exigia mãos humanas. Começou, então, a buscar a companhia das crianças. Quem sabe algum menino poderia obedecê-lo?

Foi a casa de Joãozinho, filho de Dona Laura, mas Joãozinho estava muito ocupado na assistência ao irmão menor, e, como o Espírito da Maldade somente pode arruinar as pessoas insinuando-se pelo pensamento, não encontrou meios de dominar a cabeça de João.

Correu à residência de Zelinha, filha de Dona Carlota. Encontrou a menina trabalhando, muito atenciosa, numa blusa de tricô, sob a orientação materna, e, em vista de achar-lhe o cérebro tão cheio das idéias de agulha, fios de lã e peça por acabar, não conseguiu transmitir-lhe o propósito infeliz.

Dirigiu-se, então, à chácara do senhor Vitalino, a observar se o Quincas, filho dele, estava em condições de servi-lo. Mas Quincas, justamente nessa hora, mantinha-se, obediente, sob as ordens do papai, plantando várias mudas de laranjeiras e tão alegre se encontrava, a meditar na bondade da chuva e nas laranjas do futuro, que nem de leve percebeu as idéias venenosas que o Espírito da Maldade lhe soprava na cabeça.

Reconhecendo a impossibilidade de absorvê-lo, o gênio do mal lembrou-se de Marquinhos, o filho de Dona Conceição. Marquinhos era muito mimado pela mãe, que não o deixava trabalhar e lhe protegia a vadiagem. Tinha doze anos bem feitos e vivia de casa em casa a reinar na preguiça.

O Espírito da Maldade procurou-o e encontrou-o, à porta de um botequim, com enorme cigarro à boca. As mãos dele estavam desocupadas e a cabeça vaga.

— “Vamos matar passarinhos?” — disse o espírito horrível aos ouvidos do preguiçoso.

Marquinhos não escutou em forma de voz, mas ouviu em forma de idéia.

Saiu, de repente, com um desejo incontrolável de encontrar avezinhas para a matança.

O Espírito da Maldade, sem que ele o percebesse, conduziu-o, fàcilmente, até à árvore em que o ninho feliz recebia as carícias do vento. O menino, a pedradas criminosas, aniquilou pai, mãe e filhotinhos. O gênio sombrio tomara-lhe as mãos e, após o assassínio das aves, levou-o a cometer muitas faltas que lhe prejudicaram a vida, por muitos e muitos anos.

Somente mais tarde é que Marquinhos compreendeu que o Espírito da Maldade somente pode agir, no mundo, por intermédio de meninos vadios ou de homens e mulheres votados à preguiça e ao mal.

Do livro "Alvorada Cristã"
Pelo Espírito Neio Lúcio
Médium: Francisco Cândido Xavier

16 julho 2011

Selo do Amor - Emmanuel


SELO DO AMOR

Pelo caminho da ascensão espiritual, denominado "cada dia", encontrarás variados recursos de aprimoramento, a cada passo.

É o trabalho que te espera a noção de responsabilidade no devotamento ao dever.
É a oportunidade de praticar o bem, incessantemente.

É o companheiro da parentela consanguínea que te não compreende ainda e, junto do qual, podes exercer o ministério do auxílio e do perdão.

É o adversário que te combate os propósito de melhoria com quem a luta te possibilita a hora de paciência e aprendizado.

É a tentação sedutora, que nasce das profundezas de teu próprio ser, em cujo clima é possível desenvolver a tua resistência para a aquisição de novo poder moral.

É o espinho que te fere ou a pedra que te maltrata, que se fazem benfeitores de tua jornada, por te descerrarem o santuário da prece e da humildade, se a tua mente vive acordada à luz do Senhor.
É a dificuldade que, muitas vezes, te surpreende nos lábios dos mais queridos, constrangendo-te à consolidação de virtudes imprecisas.

Segue adiante, amando, crendo, esperando e servindo sempre.
Cada obstáculo e cada amargura guardam raízes no processo educativo de nossa própria regeneração.
Cada ensinamento tem o seu lugar, a sua hora e a sua finalidade.

Aproveita semelhantes bênçãos, de conformidade com os padrões de Jesus que passou entre nós fazendo o bem, que nos ama desde o princípio e que permanecerá conosco, até o fim dos séculos.

Dirás, talvez, diante de nosso apelo: - "Não compreendo, não me lembro, não posso...

O Senhor, entretanto, não nos impõe fardos que não possamos suportar, não nos endereça problemas que não estejamos aptos a resolver e jamais esqueçamos que a reencarnação traz o selo do amor divino, em benemérito esquecimento, enriquecendo-nos de bênçãos de reaproximação, fraternidade e serviço, a fim de executarmos, sem percalços invencíveis, o trabalho de nossa própria redenção.

Do livro "Instrumentos do Tempo"
Pelo Espírito Emmanuel
Médium: Francisco C. Xavier

15 julho 2011

Epístola ao Menestrel de Deus - Joanna de Ângelis


Epístola ao Menestrel de Deus

Pai Francisco!

Abençoai-nos!

Evocando aquela tarde de 4 de outubro de 12261, com céu transparente e azulado, há setecentos e oitenta e quatro anos, três meses e um dia, quando vos preparáveis para o retorno ao Grande Lar, murmurastes para os poucos irmãos que vos cuidavam: - Fiz o que me cabia. E após suave pausa, entrecortada pela respiração débil, conluístes: - Que Cristo vos ensine o que vos cabe.

As Irmãs cotovias, algumas das quais vos ouviram cantar a Palavra um dia no passado, fizeram-se presentes com outras, alegres com a vossa libertação, voando em círculos sobre a choupana modesta em que vos encontráveis na amada Porciúncula.

Encerrava-se naquele momento uma parte da saga incomparável do vosso testemunho de amor ao Amigo crucificado, crucificado que também estáveis...

Toda uma epopeia de sacrifícios e abnegação ficaria inscrita nas páginas da História, demonstrando quanto se pode fazer e viver sob a inspiração do amor de totalidade.

Quando, na igrejinha de São Damião, atendestes ao convite que Jesus vos fez, nem sequer tínheis ideia do que vos iria acontecer, mas assim mesmo seguistes adiante...

Naquele período o tédio vos dominava e os prazeres do mundo, filhos da fortuna assim como das honras da cavalaria que antes vos fascinavam, cederam lugar ao fastio, a um vazio existencial, no qual a angústia se alojava, estiolando-vos os sentimentos.

Só depois compreendestes o que Ele desejava e, dando-vos conta do seu significado, renunciastes aos bens do mundo e aos vínculos com a família biológica, a fim de renascerdes das próprias cinzas e abraçardes a Humanidade como vossa irmã.

Desnudando-vos em plena praça, renunciastes a tudo, iniciando a trajetória pela via dolorosa, cantando os dons da pobreza e a fortuna da humildade.

Aqueles que vos conheceram anteriormente, quando jovial e extravagante, não puderam acreditar na grande revolução interna e pensaram tratar-se de alguma nova excentricidade...

Diante, porém, dos fatos grandiosos resultantes da vossa transformação, diversos deles foram buscar-vos para que lhes ensinásseis a técnica luminosa da entrega total a Jesus.

...E porque nada tínheis, vós e eles buscastes refúgio entre os leprosos que se escondiam nos escombros em Rio Torto, que se transformaram no suntuoso lar de vossas residências.

Não faltaram aqueles contemporâneos que vos definiram como um bando de vagabundos e desorganizados, porque eles se encontravam asfixiados pelos gazes das utopias e falácias do corpo transitório, embora os vossos feitos em favor dos infelizes. Era, porém, a mentalidade da época de trevas e de ignorância que conseguistes iluminar.

Pedradas, humilhações de todo porte, perseguições e zombarias, fome e necessidades, conseguistes transformar em estímulo para a incomum entrega a Deus.

Quantas vezes, interrogastes: - Quanto é demasiado? ou melhor, reflexionando, pensastes: Sou eu o proprietário de minhas posses ou elas me possuem?

Acostumado antes ao conforto e ao luxo, ao poder e ao destaque entre os endinheirados, era natural que buscásseis o equilíbrio entre a posse e o possuidor, resolvendo então por nada possuirdes.

Selecionastes os recursos para a empresa de santificação, utilizando-vos da não-posse como sendo a libertadora da alma.

Quando a fome derivada dos jejuns e da falta de alimentos vos excruciava a todos, vosso canto em homenagem à Irmã Alegria diminuía a tristeza geral e emoções sublimes tomavam conta de todos vós...

Buscastes com o pequeno grupo o apoio do papa Inocêncio III, o homem mais poderoso da época, mergulhado em luxo e diplomacia, pompa exorbitante e indiferença pela fé, não porque necessitáveis dele, que nada possuía para oferecer-vos em espiritualidade, mas para evitardes a pecha degradante de heresia em vossa e na conduta daqueles que vos seguiam. E apesar de tudo, o sensibilizastes pela pureza, candura e devotamento a Jesus, dele conseguindo somente uma bênção, perfeitamente dispensável, e algumas palavras de encorajamento.

Vistes ali, no Palácio de Latrão, em Roma, o anticristianismo, o burlesco, o jogo dos interesses vis, nos quais Jesus estava ausente...

As vossas palavras e exemplos tornaram-se estrelas iluminando a grande noite da Idade Média e avolumaram-se aqueles que buscavam Jesus despido das mentiras humanas e dos rituais enganosos da tradição teológica.

O vosso é o Jesus da simplicidade, da pobreza, do amor aos infelizes, da renúncia às ilusões e da sublimada entrega a Deus, não aquele a quem diziam seguir...

Quando Clara buscou o vosso auxílio, deixando para trás o mundo de fantasias, acolhestes a jovem afetuosa, sem recear o poder da sua família, tonsurando-a de imediato, para que ficasse sob a proteção da Igreja e não fosse obrigada a retornar ao século.

Intimorato guerreiro do amor, quanta coragem tínheis!

As vossas dores físicas, naqueles dias, despedaçavam o vosso corpo frágil e afligiam a alma veneranda: malária em surtos contínuos com febre e dores estomacais, com o baço e o fígado comprometidos não conseguiram desanimar-vos...

Ao lado dessas aflições vosso corpo foi lentamente transformado num jardim, no qual passaram a desabrochar as primeiras rosas arroxeadas da hanseníase...

Suportáveis tudo com paz, cantando louvores a Deus e aos Irmãos da Natureza.

Em vossa ingenuidade, um pouco antes, pensando em converter a Jesus o sultão al-Malik-al-Kamir, viajastes ao Egito com vosso irmão Iluminatus, conseguindo dialogar com o nobre muçulmano, que acenou com a paz a Pelágio mais de uma vez, e que a recusou, redundando em tragédia a Quinta Cruzada.

Embora sentindo-vos fracassar no empenho para a conversão do monarca, buscastes os leprosos e os mais ínfimos pelos sítios por onde peregrinastes.

Com anuência do sultão gentil visitastes os lugares onde nascera, viera e morrera o Amor Incomum, fortalecendo-vos para as crucificações do futuro a que seríeis submetido.

Quando retornastes à querida Assis, já sentíeis as dores quase insuportáveis da conjuntivite tracomatosa, muito comum no Oriente, e que atinge ainda hoje milhões de vítimas, levando-as à cegueira.

Aconselhado por frei Elias e o cardeal Ugolino, que vos amava, aceitastes em submeterdes-vos ao tratamento especial contra o tracoma em Rieti, nas mãos do médico que aqueceu dois ferros até os tornar brasas vivas e vos cegou, na ignorância presunçosa, atribuindo-se conhecimentos que não possuía, abrindo na vossa face duas imensas feridas que chegavam às orelhas. E nem sequer reclamastes, exclamando, confiante: - Oh, Irmão fogo!... Sê bondoso comigo nesta hora...

Como se não bastasse, posteriormente, a fim de estancar a purulência dos vossos ouvidos, novamente experimentastes barras de ferro em brasa que os penetraram, sem que exteriorizásseis um gemido único...

Oh! Pai Francisco!

Nas tempestades que sacudiram então o vosso trabalho e no abandono a que vos atiraram alguns daqueles que ainda amavam mais o mundo e suas mentiras, buscastes meditar nos montes Subásio e Alverne, no último do qual Jesus crucificado, conforme ocorrera diante do crucifixo de São Damião, vos assinalou com a stigmata, que alguns negariam depois...

Quando alguém vos interrogou, posteriormente, o antigo jovem trovador reagiu, dizendo: - Cuide da sua vida.

Não desejáveis que ninguém soubesse da vossa perfeita união com Ele, o Rejeitado sublime.

Aneláveis por viver e sofrer como Ele vivera e sofrera, embora vos considerásseis inútil servo ou um homem inútil.

Com o coração trespassado pelas setas contínuas da ingratidão de muitos que agasalhastes no peito como se fossem cordeiros mansos, embora fossem serpentes venenosas que vos picaram mil vezes, assim mesmo continuastes amando-os.

Assim é o mundo com as suas mancomunações!

Os utilitaristas e a sua perversidade sempre estão presentes em todos os lugares.

Aqueles porém, que vos atraiçoaram também morreram, Pobrezinho de Deus, e despertaram com a hanseníase na alma...

Não vós!

Ave canora que éreis, ascendestes na escala da evolução, vencendo todos os limites e dimensões do conhecimento, recebido por Ele, que vos aguardava com a ternura infinita que reserva para aqueles que O amam.

Ei-los, os ingratos, que se encontram de volta à Terra destes dias, recordando-vos, arrependidos e afáveis, buscando a reabilitação.

Apiedai-vos de todos eles, os vossos crucificadores, e amparai-os na esperança e na coragem para conseguirem a autoiluminação.

Menestrel de Deus!

Neste momento em que a Ciência e a Tecnologia soberbas falharam na tarefa de fazerem felizes os seres humanos, intercedei ao Pai por todos nós que ainda transitamos pela senda libertadora, buscando a perdida alegria que desfrutávamos ao vosso lado, naqueles inolvidáveis dias.

Pai Francisco!

Abençoai-vos, mais uma vez.

Joanna de Ângelis.
Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica da noite de 5 de janeiro de 2011, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.