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31 outubro 2017

A escola é outro lar - Scheilla,

 (Crédito: Leguth)

A ESCOLA É OUTRO LAR


Falamos aos estudantes que desejam ouvir, que a escola é o prosseguimento do lar, os professores, os segundos pais, que devem conduzir os discípulos para maiores entendimentos, sem esquecer a educação espiritual.

Deves aproveitar todos os momentos de ensino, pois a instrução verte de muitos esforços, de tempo e mesmo de recursos materiais. Todo desperdício nos causa danos na consciência. Abre a tua boa vontade em todos os chamados para os caminhos que engrandecem a alma, e sê paciente, atencioso, humilde e prestativo, onde o aprendizado te convidar.

Não cries problemas para as escolas, nem dificuldades para os mestres. Eles são, igualmente, humanos e, ao ensinar, também aprendem.

Reúne as tuas forças para combater as tuas inferioridades e não desprezes a instrução, porque o conhecimento, irmanado ao Amor, é força de Deus para nos ajudar a servir melhor.

A escola é outro lar e, quando dela saíres, para te moveres em outras faixas da vida, considera-as como sequências dos estabelecimentos de ensino e da tua casa. Ajuda, quando solicitado, e aprende quando for conveniente para o teu entendimento. Não percas tempo, por ser ele espaço de ouro divino. Porém, não deves te esquecer da educação dos teus sentimentos, antes da instrução. A sabedoria é maravilhosa, mas sem o Amor, pode causar-nos danos de difícil reparo. Compete-nos, a todos nós, entender essa verdade, alimentando-a todos os dias, e não nos divorciarmos, nunca, das ideias que o Cristo pregou, na formação do Seu colégio apostolar.

O Evangelho, em todas as tuas dificuldades, é o melhor conselheiro. Em poucas linhas ele nos mostra a melhor atitude.

Onde estiveres, procura atender, porque tudo na vida são lições, que devemos assimilar, com muito carinho e amor.

Silencia, nos ataques, e observa se a razão está com o detrator. Se não, de qualquer forma estarás exercitando a tolerância.

O orgulho e o egoísmo provocam desarmonia, mesmo que fiquem escondidos nas dobras mais íntimas de nosso ser. Não penses que já estás livre desses monstros que escurecem os nossos sentimentos de fraternidade e de amor. Esses vícios costumam dormir um pouco, com os nossos esforços de autoeducação, mas de vez em quando acordam, procurando dominar-nos. O vigiar e orar de Jesus Cristo deve ser permanente, em todos os sentidos, e ainda lutarmos contra eles. As armas que poderão vencê-los são o Amor e a Caridade, que se dividem em muitas outras, menores, mas também necessárias.

As dificuldades da vida de relações são escolas que sucedem ao lar, permanecendo ligadas a ele como a base e a força para todos os aperfeiçoamentos dos homens.

Enquanto os lares não tiverem harmonia, não poderá existir sociedade bem orientada, porque os dirigentes desta provêm da organização familiar.

Não deves esquecer-te do Cristo, em casa, como também de convidá-Lo para te acompanhar à escola.



De “Chão de Rosas”, de João Nunes Maia, pelo Espírito Scheilla



30 outubro 2017

A Condição primeira - Richard Simonetti



CONDIÇÃO PRIMEIRA


O primeiro encontro com Emmanuel haveria de marcar para sempre a existência de Chico, a partir de uma recomendação do mentor, quanto ao mais importante no exercício da faculdade mediúnica.

Jovem, ainda, vinte e um anos, ouviu dele a informação de que havia uma tarefa que ambos deveriam cumprir, na promoção do livro espírita.

Inexperiente, o médium informou, emocionado, que estaria disposto, se os bons Espíritos não o abandonassem.

– Você não será desamparado, desde que trabalhe, estude e se esforce no Bem.
– O senhor acha que estou em condições de aceitar o compromisso?
– Sim, mas é preciso que respeite as três condições básicas.
– A primeira?
– Disciplina.
– A segunda?
– Disciplina.
– A terceira?
– Disciplina.

Na bem-humorada tríplice afirmação, Emmanuel deixa bem claro que o fundamental para o exercício da mediunidade é a obediência às regras.

***

Um confrade comentou que estava participando de um curso para otimização do tempo.

Fiquei admirado.
– É necessário um curso?
– Sim, a gente vai aprender como não perder tempo.

Evocando primeiro encontro de Chico com Emmanuel, comentei:
– Eu resumiria o curso todo numa única aula, mais exatamente, numa única palavra: disciplina.

Em qualquer setor de atividade humana, desde as tarefas mais triviais, o êxito está diretamente subordinado ao empenho de cumprir as normas.

· A dona-de-casa que faz um bolo, sem atentar às medidas exatas e ao procedimento correto, não vai se dar bem.

· O motorista que não respeita as normas de trânsito candidata-se a multas ou acidentes.

· O viajante que não checa as condições de seu veículo poderá ficar na estrada.

· O aluno que não observa horários para as tarefas e o estudo, fora da sala de aula, dificilmente ultrapassará os limites da mediocridade.

· O professor que não prepara sua aula vai perder-se em divagações.

Tudo isso envolve disciplina.

Fico imaginando como Chico poderia ter produzido a montanha de livros que o notabilizou, sem horários definidos para o exercício da psicografia, que cumpria religiosamente.

 ***

O sucesso de qualquer médium ou agrupamento mediúnico depende do empenho por observar as disciplinas do serviço. Destacam-se:

· Assiduidade.

· Pontualidade.
· Estudo.

· Perseverança.

São indispensáveis, particularmente para vencer a pressão de Espíritos que se infiltram entre os participantes, procurando comprometer o trabalho.

Exploram sempre a tendência à indisciplina, sugerindo-lhes, pelos condutos do pensamento, um afrouxamento:

· Por que ir hoje ao Centro?
A chuva e o frio pedem o aconchego do lar.

· Há aquele capítulo especial da novela.

Pequeno atraso não terá importância. Perderá apenas a parte teórica.

· Estudar para quê?
Você já sabe tudo!

· O dia foi cheio de contratempos.
É justo que tire uma folga para descansar.

· Não vale a pena continuar!
Que proveito tirar daquelas manifestações repetitivas, dos sofredores do Além?

O sucesso ou insucesso em qualquer atividade, particularmente no intercâmbio com o Além, condiciona-se à nossa visão da disciplina.
Se a consideramos um fardo pesado, teremos dificuldades.

Felizes aqueles que, como Chico, a elegem por parte integrante de suas vidas.

Estes obtêm sucesso.

Melhor: cumprem os compromissos que assumiram ao receber a honrosa tarefa de intermediar os contatos do Céu com a Terra.


Richard Simonetti


29 outubro 2017

Amor Impossível - Adenáuer Novaes



AMOR IMPOSSÍVEL


Se você ama alguém que não lhe pode corresponder, lembre-se daqueles que não têm um amor ao menos para chorar suas lágrimas. Se o amor é uma conquista, alguns ainda não a alcançaram.

Se a pessoa que você ama já tem compromisso, evite viver uma relação paralela que poderá machucar seu coração. Nossos sentimentos comandam nossa vida, deixá-los à deriva é perigo para nossa própria sobrevivência.

Ninguém que se aventura numa relação paralela consegue dela sair sem marcas. Os motivos que levam alguém a tal aventura geralmente se enraízam em vidas passadas.

Quem ama nem sempre consegue correspondência com o ser amado. Às vezes nos deparamos com os amores platônicos ou não recíprocos. Respeitar os limites do outro é fundamental para nosso equilíbrio psíquico.

Quando você se deparar com um amor proibido atravessando seu percurso de vida, olhe para si mesmo e conscientize-se de que você não merece pagar preço tão alto por uma ligação que não possa ser postergada.

Se o seu amor não é correspondido ou é platônico e o outro não sabe nem lhe dá atenção, não espere que um milagre resolva a situação. Lance-se ao seu próprio destino buscando realizações superiores.

Não lamente a saída de alguém de sua vida. Reenquadre a posição que você deve ocupar na vida perante o futuro, sem aquela pessoa. O outro que saiu, apenas desocupou o espaço por você constituído. Permita que algo nobre ocupe devidamente aquele lugar.

Se você se encontra em solidão, observe à sua volta e verá que, mesmo acompanhada, muita gente está só. A companhia do amor é a paz da consciência e o pensamento voltado para o futuro.

Por contingências reencarnatórias, o amor entre duas pessoas poderá estar separado pelos laços de parentesco, pelo compromisso do outro, por expiações ou pela preferência sexual. Nesses casos, aja com cautela e equilíbrio, considerando que a separação imposta pela vida representa processo educativo em curso.

Muitas vezes tetantamos colocar num ponto máximo de nossa vida, o amor a uma pessoa em lugar do amor a Deus, à vida ou, até mesmo, a si próprio.

Esse amor exagerado tende a anular.

quem a ele se entrega.

Em determinada fase de nossa vida nos encontramos com um outro que inunda nossa consciência alojando-se sem pedir licença, parecendo ser a única razão de existirmos. Muitas vezes se trata de fascinação movida por carências não atendidas. Valorização de si mesmo e autoestima, são fundamentais para o reequilíbrio psíquico.

As barreiras da posição social, do nível intelectual e outras erigidas pelo preconceito, são contingências que nos ensinam a grandeza da vida verdadeira, da qual somos originários e para a qual voltaremos como espíritos.

Se o amor possível está difícil, o impossível merece a nossa cautela para não se tornar uma armadilha cármica a nos aprisionar na teia das reencarnações expiatórias.

O amor não-amado, Jesus, soube entender os homens, face à ignorância espiritual da humanidade. O seu amor é o amor possível e libertador. O amor não correspondido é aquele que devemos esquecer a fim de buscarmos outro amor, que preencherá nossa vida de felicidade e paz. A fixação nele é porta aberta à obsessão e a anulação de si mesmo.

O amor impossível nos aprisiona e nos faz estacionar diante da vida. Sua presença em nossa consciência e em nosso coração, impede-nos de crescer e evoluir.

Se não conseguimos realizar o amor que nos parece o máximo de nossa vida, lembremo-nos que um outro amor pode estar a nos esperar do outro lado da vida, confiante em nosso amadurecimento antes da partida.

O amor dos entes queridos, que nos antecederam na viagem de retorno ao mundo espiritual, bem como daqueles que pertenceram ao nosso passado reencarnatório, estará sempre presente em nossas vidas na medida em que permaneçamos trabalhando em favor do amor e para que o amor alcance os que dele carecem.

Amanhã poderemos estar diante de algo muito importante do que aquele amor que nos impede o crescimento. Na manhã seguinte, certamente o dia poderá ser mais acolhedor. Acredite no amor possível, é ele que nos faz crescer.

Jesus nos ensinou que o amor é sempre possível àquele que pensa no bem.

Adenáuer Novaes


28 outubro 2017

Doutores em Amor - Orson Peter Carrara



DOUTORES DO AMOR


Nós, iniciantes aprendizes na arte e na ciência de amar, faladores teóricos da sabedoria do Evangelho e tímidos ou receosos praticantes do amor trazido ao planeta pelo Mestre da Humanidade, temos mesmo muito que aprender até que nos capacitemos devidamente aos caminhos da iluminação interior. Pelo menos, todavia, já estamos a caminho. Estamos aprendendo e de tanto falar, comentar, escrever, vamos gradativamente assimilando as questões.

A expressão “doutores em amor” foi usada por Lúcius, na psicografia de André Luiz Ruiz, no livro Herdeiros do Novo Mundo, mais um clássico da lavra do competente autor espiritual e boa sintonia do médium, na edição do IDE. A citação está no capítulo 12 – Dúvidas e Orientações, e consta da página 129 da 1ª edição. No citado capítulo o autor relata o caso de dois trabalhadores de uma instituição religiosa que resolveram unir as próprias vidas nos caminhos do afeto após o homem enviuvar, sendo a moça bem mais jovem e economicamente mais necessitada. Pronto! Foi o suficiente para o desabrochar dos estiletes metais de inveja, de crítica e condenação, especialmente dos numerosos “doutores em amor” que usavam da tribuna para falar de amor ao próximo ou de senhoras ditas pulcras, conforme citado no próprio texto, detentores todos apenas do conteúdo intelectual e ainda distantes da prática autêntica do amor. 

Convenhamos, ainda somos assim. Mesmo em nossas instituições. 

O exemplo citado no capítulo ocorreu numa instituição espírita! A moça, no caso citado, teve que se afastar das reuniões públicas face à hostilidade silenciosa e maldosa da condenação que julga com crueldade.

E isto, como se sabe, afeta diretamente o ambiente de trabalho, tão carinhosamente preparado pelos espíritos benfeitores de toda instituição que se dedica ao bem, com prejuízos evidentes e gradativos que abrem caminho às inteligências ainda voltadas ao combate da luz.

É... Temos todos muito que aprender. Ainda somos muito teóricos, fazemos citações de capítulos, páginas, autor, etc. Mas nos corroemos por dentro com egoísmo feroz nas tentativas de impor e condenar.

Nas lamentáveis lutas internas das instituições – religiosas ou não –, ainda travadas com disputas de cargos ou pontos de vista, fica evidente na indicação do autor espiritual no mesmo capítulo que “(...) a luta do presente é a do indivíduo mudar-se a si mesmo para auxiliar na mudança do todo (..)”. E continua no capítulo seguinte: “(...) A Misericórdia nos convoca a modificar nossos sentimentos (...)”.

Eis a solução para inúmeros desafios defrontados diariamente em nossa realidade cotidiana, seja na vida familiar ou coletiva, na profissão ou nos trabalhos e ideais a que nos entregamos.

Algo para pensar seriamente.

Aliás, fica a dica do livro, uma obra notável!


Orson Peter Carrara


27 outubro 2017

A força do nosso pensamento - Adriana Machado



A FORÇA DO NOSSO PENSAMENTO


A Humanidade não tem conhecimento do poder que o pensamento possuiu. Por isso, em razão de não darmos o devido valor ao seu potencial, construímos tantas doenças em nós. Pelo pensamento equivocado, trazemos para nós o desconforto, as tristezas, as angústias, as insatisfações que provocam o desequilíbrio orgânico que causa as doenças físicas.

Nós somos filhos do Supremo Criador e temos em nós o Seu DNA que nos dá a capacidade de construir o que quisermos no nosso mundo interior e ao redor de nós.

Tal capacidade nos dá condições de, devagar, mas com consistência, trazer ao nosso mundo interior a harmonia ou a desarmonia. Sendo a primeira, não precisaremos nos preocupar, mas, vivenciando a segunda, devagar e ininterruptamente, esta produz os elementos intoxicantes que maculam a integridade dos nossos corpos físico e perispirítico. Assim, por meio do pensamento negativo, o segundo corpo é atingido primeiramente, contaminando o primeiro, nos infectando duplamente.

É importante notarmos, porém, que não é da noite para o dia que essa construção se dá. Levamos um tempo para adoecer sob essas condições e isso é uma dádiva da providência divina. Entretanto, da mesma forma que levamos tempo para nos adoecer, precisaremos também de tempo para nos curar, porque o processo de “ida e vinda” que utilizamos é o mesmo. O ponto crucial aqui é que não nos enxergamos adoecendo porque as nossas atitudes vinculadas ao pensamento destrutivo podem até nos incomodar, mas não são vistas como algo preocupante porque são embasadas nas crenças que carregamos. Assim, temos a falsa visão de que adoecemos rápido, o que não é verdade. Levamos anos neste processo de enfermidade e queremos, em dias, a cura de nossos males.

Para vivermos em harmonia e em paz, precisamos cultivar os pensamentos positivos para que não intoxiquemos o nosso templo físico com os vícios inerentes às nossas paixões.

Um bom exemplo é o de uma pessoa ansiosa. Ela leva anos impactando o seu corpo físico e emocional com os seus temores e pessimismo até que se vê em uma crise de pânico. A partir daí, naturalmente, tentará buscar compreender o que a levou a este estado de dor e, compreendo a causa, mudar a sua construção. Essa pessoa, no entanto, não tem condições de mudar radicalmente o seu comportamento, mas poderá, com determinação, conhecer-se para depurar os seus pensamentos e atitudes, atingindo no seu tempo individual a sua cura interior. Friso que, nos casos mais graves, como o que mencionamos, deve-se associar o tratamento psíquico espiritualizado (busca do autoconhecimento e pensamentos construtivos) com o tratamento médico especializado, porque o organismo já estaria intoxicado de tal forma que o doente se sentiria incapacitado de lutar contra a sua enfermidade.

No mais, não poluamos o nosso mundo com incertezas que enfraquecerão quem somos, que enfraquecerão a nossa fé em Deus.

Sejamos positivos sempre porque estaremos, assim, sendo construtores divinos de nossa própria felicidade e cura interior.


Adriana Machado


26 outubro 2017

Clientelismo - Walkiria Lúcia de Araújo Cavalcante



CLIENTELISMO


“A sombra coletiva, no entanto, prossegue inquietando, e os indivíduos, açodados pelo ego não superado, esperam o Messias que os liberte dos vícios e da indolência sem o auto esforço, que lhes conceda felicidade sem a ocorrência de vexames, sem lutas, esquecendo-se que, mesmo que tal absurdo se fizesse normal, não poderia impedir-lhes a ocorrência da morte física, o enfrentamento com a autoconsciência e com a Realidade. ” (Livro: Jesus e o Evangelho a Luz da Psicologia Profunda, cap. 28 – Mediunidade)

A questão da transferência para outro a solução de problemas que pertencem a própria criatura é algo que perpassa os tempos. Assim foi a época do Mestre Jesus quando queriam que os profetas, por estarem em contato maior com Deus (segundo o que o povo hebreu acreditava) trouxessem respostas prontas para as situações vividas. Jesus tendo ciência dos enfrentamentos com relação a isso deixou-nos as seguintes passagens:

A árvore que produz maus frutos não é boa e a árvore que produz bons frutos não é má; – porquanto, cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto. Não se colhem figos nos espinheiros, nem cachos de uvas nas sarças. – O homem de bem tira boas coisas do bom tesouro do seu coração e o mau tira as más do mau tesouro do seu coração; porquanto, a boca fala do de que está cheio o coração. (S. LUCAS, cap. VI, vv. 43 a 45.)V Pode parecer simplória e até rudimentar tal comparação. Pois imaginar que uma árvore produza frutos diferentes daquilo que ela é, seria irreal. Mas o contexto em que se apresenta é diferente. Nos dias atuais, com exceções dignas feitas, as criaturas vivem sem aprofundar as relações interpessoais, em geral, isto favorece ao conhecimento equivocado dos outros e de nós mesmos. Pois para fazermos parte de determinados agrupamentos sociais e até familiares começamos por nos moldarmos aquele agrupamento e a trilogia: atos, valores morais e razão fica prejudicada.

Os nossos atos decorrem dos valores morais que possuímos, estes por sua vez são forjados no juízo de valor que fazemos (razão). Destaque para os valores morais no sentido que eles são sedimentados em virtude de aprendizado de outras encarnações; das informações que nos são ministradas, acadêmicas ou não e fruto do aprendizado da convivência social. Quando mesmo a razão nos fornece os materiais necessários para um justo juízo de valor, mas os nossos valores morais estão mesclados com interesses egoísticos começamos por produzir atos que não se coadunam com a consciência. Fazendo assim, que a má árvore produza aparentemente bons frutos para o agrupamento que fazemos parte. Sabemos o que é o certo, mas produzimos o errado que é tido como certo pelas pessoas que nos rodeiam, pois isto supre os interesses momentâneos.

Tende cuidado para que alguém não vos seduza; – porque muitos virão em meu nome, dizendo: “Eu sou o Cristo”, e seduzirão a muitos. Levantar-se-ão muitos falsos profetas que seduzirão a muitas pessoas; – e porque abundará a iniquidade, a caridade de muitos esfriará. – Mas aquele que perseverar até o fim se salvará. Então, se alguém vos disser: O Cristo está aqui, ou está ali, não acrediteis absolutamente; – porquanto falsos Cristos e falsos profetas se levantarão que farão grandes prodígios e coisas de espantar, ao ponto de seduzirem, se fosse possível, os próprios escolhidos. (S. MATEUS, cap. XXIV, vv. 4, 5, 11 a 13, 23, e 24; S. MARCOS, cap. XIII, vv. 5, 6, 21 e 22.)

A sede de novidade é grande na criatura. Somando-se a isso a dificuldade em lidar com as frustações, temos como resultado a busca incessante, em forma de clientelismos, das pessoas nas instituições religiosas, especificamente as espíritas, tentando encontrar nos palestrantes e nos médiuns principalmente respostas para as suas agruras, como se tais criaturas fossem detentoras de respostas sobrenaturais e que pudessem de alguma forma resolver os problemas da humanidade, como por um passe de mágica.

Somos criaturas falhas, que também experienciamos os nossos momentos de dificuldades e que transmitimos as mensagens evangélicas de acordo com o arcabouço moral que possuímos. Quando não conseguimos realizar algo, não significa que não possa ser realizado. Só não pode ser realizado naquele momento ou da forma como gostaríamos. Assim também o é com relações as dificuldades vividas durante a encarnação. Tudo segue um encadeamento lógico, necessário para a nossa evolução. Não podemos e não devemos estender a outros ombros situações que pertencem a nós resolver. Encontraremos sim, o apoio necessário para avançarmos, a orientação pontual sobre temas que possuímos dúvidas, mas jamais como deveremos fazer. Somos responsáveis por nós mesmos.

Antigamente elegíamos estátuas de barro para glorificar, hoje, algumas criaturas equivocadas o fazem com relação aos palestrantes e aos médiuns. Da mesma maneira existem criaturas tão equivocadas que se auto intitulam salvadores da humanidade ou o próprio Cristo como a passagem evangélica nos traz. Assim, vemos pessoas desistindo do movimento espírita (a caridade esfriando), pois não elegeram como móvel norteador a doutrina, mas as pessoas que proferem esta fé vida.

Quanto maior o conhecimento e o discernimento mais fácil torna-se a compreensão da criatura diante da vida e mais fácil torna-se a caminhada. Necessitamos redobrar a vigilância, para como o Evangelho nos alerta no cap. XX, item 4 – Missão dos Espíritas: “Só lobos se prendem em armadilhas de lobos.” Se algo de sobrenatural pode acontecer, será a presença constante do Mestre Jesus em nossas vidas. Faz mais de dois mil anos de presença física entre nós, mais foi tão intensa que é como se ainda ele convivesse conosco. E ainda convive, sua presença amorosa e lumirífica nos envolve a todos constantemente. Tenhamos fé em Deus. Acreditemos que não estamos desamparados e que por mais turbulosa que a passagem sobre a Terra nos pareça, tenhamos a certeza que não estamos sozinhos, que o Mestre amado nos acompanha os passos bem de perto, nos sustentando e amparando. Não precisamos endeusar ninguém. Temos Deus em nossas vidas, temos Jesus a nos mostrar o caminho a seguir.


Walkiria Lúcia de Araújo Cavalcante 
RIE – Revista Internacional de Espiritismo – Outubro de 2015


25 outubro 2017

A corrente do bem - Jaime Facioli



A CORRENTE DO BEM


Todo ato de generosidade ou de altruísmo traz em sua natureza as blandícias do amor fraterno, que possibilita a elevação moral e espiritual.

A construção da felicidade é um projeto de vida que todas as criaturas anseiam e para o qual trabalham com imensa sofreguidão. É também o porquê de espíritos se candidatarem para a grande viagem de provas e expiações, presentemente em trâmite pelo belíssimo planeta Terra, anelando construir essa exultação na mansão dos mais puros sentimentos d’alma.

Não há dúvida de que são aspirações pulcras para edificar o castelo destinado à habitação do espírito, conscientes de que esse galardão não será fácil de obter, pois o caminho a ser percorrido tem abrolhos, espinhos e tormentas, razão pela qual muitos se deixam descoraçoar nos calhaus dos exames a que se submetem.

Indispensável anotar que os que vêm na retaguarda da existência, sem esforço, anelam por dias de formosura, de alegria e de prazer, imaginando que o mundo onde habitam seja um planeta de veraneio. Não é. Os profitentes do Espiritismo sabem muito bem que o orbe é de provas e expiações, ou sob outra dicção, os viandantes são responsáveis pela edificação de tudo que cativam na jornada, em direção ao progresso a que estão destinados.

A avenida para a conquista da felicidade é alinhar-se na corrente do bem, máxime porque esse proceder traduz as lições do Divino Jardineiro para amar ao próximo e fazer a ele tudo o que se deseja para si, pois todo ato de generosidade ou de altruísmo traz em sua natureza as blandícias do amor fraterno, que possibilita a elevação moral e espiritual dos que o praticam, servindo de arrimo para conduzir os que se esforçam por ter puro o coração.

Sem contradita, é esse o curso para atingir as culminâncias dos altiplanos celestiais, pois no dizer do poeta Carlos Drummond de Andrade: “A vida é uma sucessão de acontecimentos.” Traduzindo esse sentimento poético, poder-se-á dizer que se colocam em movimento as energias poderosas do universo para trabalhar a favor dos sentimentos puros ou nebulosos, e é exatamente com esse arrimo que se afirma: todo bem que se faz advoga a favor daquele que o pratica, quando menos se espera.

Nesse sentido, ainda que se admita no exercício do livre-arbítrio, a existência de criaturas que optam pela porta larga, o que é inconteste é a existência daqueles que transitam por esse mundo belo, colorido e consentido, construindo o edifício da bem-aventurança. Trata-se de arautos do bem que trabalham incansavelmente iluminando o caminho daqueles que vêm na retaguarda, razão por que colocam setas luminosas indicando o caminho para os esplendores celestes. Entre eles, não será reprochável anotar: Mohandas Karamchand Gandhi; Martin Luther King Jr.; Dr. Bezerra de Menezes; Santa Madre Teresa, nascida em Calcutá; Eurípedes Barsanulfo; Léon Denis, o emérito educador; Hippolyte Léon Denizard Rivail, conhecido também como Allan Kardec; Cairbar Schutel, o Bandeirante do Espiritismo, fundador da Casa Editora O Clarim e, entre tantos construtores da corrente do bem, o enviado do Pai Celestial, Jesus de Nazaré.

Para ilustrar o tema sub óculis e discursar a favor da edificação das algemas do bem, demonstrando à sociedade que não há necessidade de fazer das naturais dificuldades um holocausto, diga-se que, de fato, há sempre um gesto de amor, uma palavra de carinho, de ajuda, permitindo distender e expandir o bem em todas as direções, como ensinou o Sublime Mensageiro, para a edificação do palácio da esperança, anelado por todos na grande viagem da vida.

Para bem sedimentar os conceitos que devem servir de espeque aos interessados em se incorporarem na corrente do bem, para desfrutarem da felicidade proposta pelo Divino Jardineiro, há uma história sobre a vida de um personagem conhecido por Bryan, tema de filme, que ora se relata, parafraseando ao sabor das emoções e da verve do articulista para dessedentar a sede de aprendizado dos candidatos à alegria de viver. Conta-se que certa feita, um homem viu um carro parado à beira de uma estrada, e ao lado do veículo – por sinal, um veículo top de linha, um Mercedes-Benz – uma senhora demonstrando certa idade, apesar de bem vestida, encontrava-se sozinha e estampava no rosto preocupação, na tarde chuvosa, fria e obnubilada. Bryan, apesar do entardecer, logo notou que ela precisava de ajuda. Estacionou seu velho carro na frente daquele luxuoso automóvel e foi ao encontro daquela senhora com aparência de quem precisava de ajuda. Ao caminhar para o seu propósito de ajudar a anciã, ainda ouvia nitidamente a carroceria de sua envelhecida camionete sendo sacudida pelo motor recauchutado, e ao se aproximar da reluzente Mercedes, a mulher sorriu-lhe, mas não pôde disfarçar o medo estampado em seu olhar, diante de sua aparência, malvestido. Pensou consigo mesma: “Que será de mim?” Ninguém tinha parado para ajudá-la em mais de uma hora. Quem era aquele homem? Ele iria machucá-la? Ele parecia pobre e faminto, e não tinha um aspecto confiável.

Bryan, ao seu turno, sensível em sua alma, quiçá ajudado pelo seu anjo da guarda, percebeu que ela estava morrendo de medo, máxime porque ele bem conhecia o que ela estava sentindo; era aquele pavor do desconhecido, um arrepio que só as pessoas na eminencia de um perigo já sentiram, por isso ele disse: “Senhora, eu estou aqui para ajudá-la. Por que a senhora não espera dentro do carro enquanto vejo se posso solucionar o problema de seu veículo, afinal aqui está muito frio. A propósito, meu nome é Bryan Anderson.”

Em verdade, o problema do carrão da mulher era um simples pneu furado, mas considerando sua idade certamente era um imenso desafio. Disso sabendo, Bryan engatinhou para baixo do veículo e procurou sozinho a melhor posição para ajustar o macaco. Em pouco tempo conseguiu trocar o pneu, mas ficou com as mãos sujas e os dedos machucados, pequeno contratempo enquanto ele apertava os parafusos da roda, e ela, abaixando o vidro da janela, começou a conversar com ele. A senhorinha contou que não era daquela região e ali estava de passagem. De qualquer forma estava muito feliz pela ajuda recebida e não sabia como agradecê-lo por seus préstimos. Bryan em resposta apenas sorriu. Agora, já aliviada de suas preocupações iniciais, a idosa mulher perguntou quanto lhe devia, dizendo que pagaria a quantia que ele pedisse, até porque pensava consigo mesma em todas as coisas terríveis que poderiam ter acontecido, caso essa bondosa pessoa não tivesse parado. Bryan respondeu que o serviço nada custara, porque para ele este ato de auxílio não tinha sido um trabalho e confessava-lhe, na intimidade de seu coração, que apenas auxiliava alguém que precisava de sua ajuda. Para ele, isso já era o suficiente, porque tinha por hábito assim proceder, máxime porque Deus sabia quantas outras pessoas já o tinham auxiliado e socorrido no passado e que em verdade, esse era o seu modo de vida e não tinha nenhuma intenção de mudar o seu procedimento.

A mulher, imensamente agradecida – até pelas reservas mentais que fizera –, insistiu, e ele então para não lhe parecer mal educado, disse-lhe se ela realmente quisesse ter esse gesto de generosidade, que o pagamento fosse então na mesma moeda. Admirou-se a anciã, tentando imaginar como fazer para atender à solicitação de seu benfeitor. Bryan, percebendo o embaraço, disse-lhe em voz suave que da próxima vez que ela visse alguém precisando de ajuda, que ela oferecesse àquela pessoa a assistência necessária. Em seguida, despediram-se; Bryan esperou que a mulher partisse e retornou ao seu caminho, pensando consigo mesmo que as dificuldades não eram privilégio de ninguém e que ele mesmo também estava experimentando naquele dia frio o sabor das experiências amargas, mas apesar de tudo, sentia-se feliz e agradecido pela vida, confiante em Deus, conforme a sua fé no Senhor da Vida.

Alguns quilômetros depois, a senhora avistou uma pequena lanchonete. Ela entrou para comer alguma coisa, refazer-se das tensões pelas quais passara e relaxar um pouco antes de reiniciar o trecho final de sua viagem. Tratava-se de um lugar sombrio de pouco conforto e do lado de fora havia duas bombas de gasolina caindo aos pedaços. Nesse instante, uma garçonete, vendo que a idosa tinha o cabelo molhado da chuva fina, carinhosamente lhe trouxe uma toalha seca, auxiliando-a a recompor-se, e a pretexto de descontraí-la, a atendente, portadora de um sorriso doce, com ela conversou. A personagem desse relato, mulher experiente da vida, percebeu que a garçonete estava grávida de cerca de oito meses, pensou que deveria ser muito cansativo trabalhar de pé com uma barriga já tão grande e se questionou como alguém que tinha tão pouco podia ser tão gentil e amorosa com os outros. Neste momento ela se lembrou de Bryan.

Após terminar sua refeição, a cliente pagou a conta com uma nota de US$ 100 e a garçonete foi pegar o trocado. Contudo ao voltar para entregar o troco, qual não foi a sua surpresa ao perceber que a senhora não estava mais na mesa. Estupefata diante da significativa gorjeta, meditava consigo o porquê de tanta generosidade, quando viu algo escrito em um guardanapo. Lágrimas escorreram dos seus olhos ao ler a mensagem: “Você não me deve nada. Eu também já estive no seu lugar. Um dia alguém me ajudou da mesma maneira que eu estou te ajudando. Se você quiser me agradecer, então faça o seguinte: não deixe que esta corrente do bem acabe e pare em você; distenda em favor do próximo.”

Sob o pedaço de papel estavam mais quatro notas de US$ 100. No restaurante, aquela foi uma tarde movimentada, com muitas mesas para limpar e clientes para servir, mas a garçonete conseguiu chegar até o fim do dia ainda sorrindo. Ao chegar em casa e deitar na cama, ela ficou meditando sobre a bênção daquele dinheiro e sobre a mensagem que a nobre idosa escreveu.

Oh! Meu Deus. Como aquela mulher poderia ter adivinhado o quanto ela e seu esposo estavam precisando daquela ajuda? Com o marido desempregado e o nascimento do bebê no próximo mês, as coisas ficariam muito mais difíceis. A garçonete, ainda uma menina, sabia muito bem as dificuldades do consorte e o quanto ele estava preocupado. Foi nesse momento que ao vê-lo dormindo ao seu lado, com a consciência e o semblante tranquilos, ela lhe dá um beijo e sussurrou no seu ouvido: “Vai ficar tudo bem. Eu te amo, Bryan Anderson.”

Sem dúvida, comove os corações generosos saber que a construção da felicidade necessita despertar para a realidade da existência com os ensinamentos de Jesus, fazendo ao próximo aquilo que se deseja para si, pois isso é tarefa para hoje, envolvendo-se nas inúmeras oportunidades que a trajetória da existência oferece aos viajores construindo a felicidade.


Revista Internacional de Espiritismo • Outubro 2017



24 outubro 2017

Quem escolhe as nossas doenças? - José Luiz Condotta



QUEM ESCOLHE AS NOSSAS DOENÇAS?

É a herança espiritual que comanda a herança genética.


Todo espírito ao reencarnar escolheu para si o necessário para evoluir na sua caminhada purificadora rumo à perfeição. Traz na sua linha do destino as metas (provas e expiações) a serem cumpridas, e quando superadas avança na escala evolutiva. André Luiz[1] esclarece que no plano reencarnatório o espírito prevê a forma física, a paisagem doméstica, o ambiente social, o concurso materno, bem como as principais dificuldades a serem vencidas. É um plano construtivo e não um fatalismo. Não existe um destino fixo e sim flexível, pois todos reencarnam com independência relativa.

O espírito reencarnante traz consigo a somatória de todos os seus reflexos, bons ou não, colhidos através do tempo (herança espiritual), que agora farão parte do molde espiritual fornecido à formação e à estruturação do corpo físico, quando a este se ajusta célula a célula, organizando todo o seu desenvolvimento e comandando o seu fisiologismo. É a herança espiritual que comanda a herança genética.

A mente (espírito) age sobre o meio interno do citoplasma da célula influindo na configuração genética do reencarnante, fornecendo ao corpo todas as suas características, que nada mais são que os reflexos do estado do espírito. Portanto, da mente comandante se originam as energias espirituais que chegam aos trilhões de células do organismo físico, que quando perturbadas emitem raios magnéticos de alto poder destrutivo, provocando alterações no fisiologismo físico: as doenças.

A própria consciência do espírito faz as escolhas que poderá suportar e cumprir no traçado do destino que seguirá ao reencarnar-se. É a conta do destino criada por ele mesmo, como ensina André Luiz. É o espírito que terá que enfrentar as consequências dos seus próprios atos.V Dentro dessas escolhas estão as propensões às doenças de todos os tipos conforme a necessidade para a sua evolução. O espírito pode estar predeterminado a ter uma doença, mas não necessariamente a terá. Existem inúmeros fatores para que isso não ocorra durante a sua atual vida na Terra, uma vez que o traçado do destino não é absoluto e pode ser alterado conforme o trabalho no bem, pois a postura moral clara e correta interfere em todas as funções celulares através da harmonia das vibrações da alma.

Diante das escolhas, o homem-espírito pode aliviar as suas provas tornando a passagem na Terra mais prazerosa e extasiante, dando à vida um sabor agradável. Por outro lado, ao contaminar-se em excesso com as tentações da matéria, certamente haverá alterações em suas condutas sadias e com isso poderá sentir dor e sofrimento, deixando à vida o sabor da amargura. Tudo nos leva a crer que o homem não utiliza adequadamente os atributos do espírito, em especial o livre-arbítrio. Em consequência, quase sempre, não escolhe o melhor para si. Nesta ocorrência poderão advir o sofrimento, as dores e as doenças. É bom sempre lembrar do Apóstolo Paulo[2]: “Tudo o que o homem semeia, colherá.”

Quem escolhe as nossas doenças? A resposta é óbvia: somos nós mesmos. Como? Quando elaboramos a programação reencarnatória, quando praticamos ações inadequadas nesta nova vida corporal, ou ainda, uma associação dessas duas possibilidades.

As Leis da Natureza, elaboradas com absoluta perfeição, mostram que para receber alguma coisa, seja o que for, precisamos merecê-la. Cada um de nós sofre pela própria evolução conquistada durante toda a existência. Neste momento temos aquilo que merecemos. O corpo físico, veículo de expressão do espírito, exterioriza o equilíbrio ou a desarmonia vibracional no mundo da matéria, no plano inferior da evolução. Dessa forma, fica claro que o nível evolutivo, ainda a desejar dos humanos, é o responsável pelo sofrimento e pela dor e, quase sempre, está ligado às mais diferentes doenças.

É interessante notar que quando se busca a causa primordial dos sofrimentos de qualquer espécie, direta ou indiretamente, se chega, invariavelmente, ao espírito. “Ninguém poderá dizer que toda enfermidade, a rigor, esteja vinculada aos processos de elaboração mental, mas todos podemos garantir que os processos de elaboração da vida mental guardam positiva influenciação sobre todas as doenças.”[3]

Comumente observamos que uma dor moral, uma mágoa, uma preocupação intensa, um estresse no trabalho, podem trazer sintomas físicos como dores musculares, falta de apetite, cansaço fácil, insônia etc. Todos esses estados angustiantes provocam excitações nas vibrações do espírito que repercutem, via centros nervosos, no organismo humano. Podemos dizer que todos os transtornos emocionais acabam afetando o corpo físico quando exterioriza os sintomas referentes ao desequilíbrio dessas vibrações. Em sentido inverso, uma lesão ou qualquer alteração funcional do corpo físico é transmitida, via sistema nervoso, ao corpo astral (perispírito), proporcionando alterações em suas vibrações que serão sentidas no organismo.

Devemos entender que nem todos os estados de doença são fruto das experiências remotas (vidas passadas), contudo, esse passado reflete o estado do espírito em nova vida. Existem estados que são gerados pela conduta atual do homem-espírito quando age comandado por suas imperfeições, como orgulho, egoísmo, vaidade, desamor etc. Seja qual for o caso, o espírito, com os seus corpos sutis, está sempre envolvido nas manifestações das doenças através do seu desequilíbrio energético.

As doenças congênitas, muito estudadas pela ciência espírita, são efeitos físicos dolorosos com muito sofrimento, proporcionando ao espírito uma enorme contensão em suas ações presentes, decorrentes das lesões do seu corpo astral em vidas anteriores, quando abusou do dom da vida, contrariando as leis maiores. São exemplos de graves lesões perispirituais: suicídio, Síndrome de Down, paralisia cerebral, oligofrenia (deficiência mental), desvios de caráter e de personalidade, dependências químicas, distúrbios sexuais e muitas outras enfermidades. Diante da consciência em débito, o espírito escolhe o mais necessário para a sua evolução.

Aproveitando a oportunidade, perguntamos: quem escolhe as nossas curas? Também é óbvia a resposta: nós mesmos. Como? Interagindo com Deus e procurando seguir as suas leis. Com isto, estamos cuidando de nossas imperfeições e corrigindo nossos equívocos, na busca da cura de feridas que infligimos a nós mesmos e aos outros. Estamos procurando o equilíbrio das vibrações das nossas almas. Estamos buscando a saúde.

Referências: 

1. XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da Luz. Pelo espírito André Luiz. 41.ed. Cap. 13 (Reencarnação). Brasília: FEB, 2006.

2. Bíblia de Jerusalém. Epístola aos Gálatas. VI.7. São Paulo: E. Paulinas, 1980.

3. XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e Vida. Pelo espírito Emmanuel. 7.ed. p. 127. Rio de Janeiro: FEB, 1983.


José Luiz Condotta
Revista Internacional de Espiritismo • Outubro 2017


23 outubro 2017

Promessas e Penitências - Octávio Caúmo Serrano



PROMESSAS E PENITÊNCIAS


Observa-se que o pagamento da promessa quase sempre está condicionado ao benefício recebido. Depois que a moça arranja marido ou o jovem passa no vestibular é que ofertam ao santo as velas ou fazem as penitências. Primeiro o favor e depois o pagamento!

Se para nada se aproveita, que sentido pode ter para as divindades a despesa ou o sacrifício das pessoas? Poderíamos fazer uma trova dizendo: “A luz que ilumina a alma/é somente a da oração/porque a luz da vela acesa/só gera mais poluição.”

O Espiritismo traz-nos clareza sobre o assunto no Capítulo V de O Livro dos Espíritos, em Privações Voluntárias. Mortificações. A pergunta 720 é: “São meritórias aos olhos de Deus as privações voluntárias com o objetivo de uma expiação igualmente voluntária?” Resposta: “Fazei o bem ao vosso semelhante e mais mérito terás.”

Na questão 721, temos: “É meritória, de qualquer ponto de vista, a vida de mortificações ascéticas que desde a mais remota antiguidade teve praticantes no seio de diversos povos?” Resposta: “Procurai saber a quem ela aproveita e tereis a resposta; se somente serve para quem a pratica e o impede de fazer o bem, é egoísmo, seja qual for o pretexto com que entendam de colori-la. Privar-se a si mesmo e trabalhar para os outros, tal a verdadeira mortificação, segundo a caridade cristã.”

A conclusão a que nos leva o Espiritismo é que o dinheiro gasto nas velas, nas fitas, nas flores, deveria ser gasto no pão para um faminto. A energia despendida para subir a escada de joelhos ou para a longa caminhada, às vezes com o flagelo de uma cruz nos ombros, deveria ser usada para ajudar alguém a erguer sua moradia, para cuidar de uma criança pobre, para levar um doente até o hospital. Essa energia tem seu gasto recompensado porque se fundamenta na caridade sem egoísmo e sem esperar retribuições.

No que concerne às autoflagelações que existem em muitas partes do mundo, quando o homem crucifica-se ou agride-se com chicotadas ou outros petrechos, sangrando suas costas, aquestão 725 nos ensina: “P: Que se deve pensar das mutilações operadas no corpo do homem ou dos animais?” R: “A que propósito, semelhante questão? Ainda uma vez: perguntai sempre a vós mesmos se é útil aquilo de que porventura se trate. A Deus não pode agradar o que seja inútil e o que for nocivo Lhe será sempre desagradável. Porque, ficai sabendo, Deus só é sensível aos sentimentos que elevem para ele a alma. Obedecendo-lhe a lei e não a violando é que podereis forrar-vos ao jugo da vossa matéria terrestre.”

Pensamos que basta apenas um pouco de bom senso para saber que as oferendas ou as penitências visando benefícios próprios não têm o menor sentido. Quanto às romarias ou procissões a locais santos, além do valor turístico e cultural outra finalidade não têm. Se para nos livrarmos dos pecados temos de ir a Santiago de Compostela, a Jerusalém ou Roma, a Fátima ou Lourdes, a Meca ou Medina, a grande maioria que é pobre neste planeta ficará sem acesso a esses benefícios. Quando o homem tem o coração aberto e se abriga na simplicidade e na solidariedade, Deus – e seus emissários – vem até ele, sem que precise viajar. A única viagem que deve fazer é para dentro de si mesmo, renovando-se na fé e acreditando que é filho dileto do Criador e merecedor de toda a Sua proteção. A sintonia com a divindade não se faz em lugares determinados, mas na intimidade do próprio coração.

Para reforçar o que dissemos, ainda em O Livro dos Espíritos, na questão 726, está dito que: “Os sofrimentos voluntários para nada servem, quando não concorrem para o bem de outrem. Supões que se adiantam no caminho do progresso os que abreviam a vida, mediante rigores sobre– humanos, como fazem os bonzos, os faquires e alguns fanáticos de muitas seitas? Vistam o indigente, consolem o que chora, trabalhem pelo que está enfermo; sofram privações para alívio dos infelizes e então suas vidas serão úteis e, portanto, agradáveis a Deus. Sofrer alguém voluntariamente, apenas para seu próprio bem, é egoísmo; sofrer pelos outros é caridade: tais os preceitos do Cristo.”

Para finalizar, dizemos que quem deseja progredir, que trabalhe e estude sempre e muito. Quem deseja ter felicidade, que modifique sua maneira de ser e de pensar. Convém recordar a passagem da mãe que pediu ajuda ao preto velho para seu filho passar nos exames escolares. O bom homem mandou o seguinte recado: “Fala pro menino enfiar a cara nos livros, dia e noite, que preto velho vai ajudar.” Receita simples para o sucesso!

Que nossa penitência seja sempre a de esforçar-nos para melhorar e combater os nossos defeitos; e nossa promessa, a de trabalhar pelo semelhante para ajudar na harmonia do mundo. O resto é tempo perdido e pura ilusão.

A soberana proposta do Espiritismo é que lutemos pela nossa renovação. É esta a finalidade que nos traz de volta ao mundo material. Nada tem mérito se não for conquistado com o próprio esforço, porque cada virtude adquirida corresponde à superação de um defeito. Não se pode ser humilde e orgulhoso ao mesmo tempo. Imaginar que podemos comprar nossa reforma íntima com uma vela acesa, um buquê de flores ou uma penitência sem proveito é pura tolice. São os talismãs e patuás usados por espíritos atrasados. Quem quer receber o bem, faça o bem. Não há outro caminho!


Octávio Caúmo Serrano
RIE-Revista Internacional de Espiritismo – outubro de 2012


22 outubro 2017

A Dor do Abandono - Momento Espírita




A DOR DO ABANDONO



Era uma manhã de sol quente e céu azul quando o humilde caixão, contendo um corpo sem vida, foi baixado à sepultura.

De quem se trata? Quase ninguém sabe.

Muita gente acompanhando o féretro? Não. Apenas umas poucas pessoas.

Ninguém chora. Ninguém sentirá a falta dela. Ninguém para dizer adeus ou até breve.

Logo depois que o corpo desocupou o quarto singelo do asilo, onde aquela mulher havia passado boa parte da sua vida, a moça responsável pela limpeza encontrou em uma gaveta ao lado da cama, algumas anotações.

Eram anotações sobre a dor...

Sobre a dor que alguém sentiu por ter sido abandonada pela família num lar para idosos...

Talvez o sofrimento fosse muito maior, mas as palavras só permitem extravasar uma parte desse sentimento, grafado em algumas frases:

Onde andarão meus filhos?

Aquelas crianças ridentes que embalei em meu colo, alimentei com meu leite, cuidei com tanto desvelo, onde estarão?

Estarão tão ocupadas, talvez, que não possam me visitar, ao menos para dizer “Olá, mamãe”?

Ah! Se eles soubessem como é triste sentir a dor do abandono... A mais deprimente solidão...

Se ao menos eu pudesse andar... Mas dependo das mãos generosas dessas moças que me levam todos os dias para tomar sol no jardim... Jardim que já conheço como a palma da minha mão.

Os anos passam e meus filhos não entram por aquela porta, de braços abertos, para me envolver com carinho...

Os dias passam... E com eles a esperança se vai...

No começo, a esperança me alimentava, ou eu a alimentava, não sei...

Mas, agora... Como esquecer que fui esquecida?

Como engolir esse nó que teima em ficar em minha garganta, dia após dia?

Todas as lágrimas que chorei não foram suficientes para desfazê-lo.

Sinto que o crepúsculo desta existência se aproxima...

Queria saber dos meus filhos...

Dos meus netos...

Será que ao menos se lembram de mim?

A esperança, agora, parece estar atrelada aos minutos... que a arrastam sem misericórdia... para longe de mim.

Às vezes, em meus sonhos, vejo um lindo jardim...

É um jardim diferente, que transcende os muros deste albergue e se abre em caminhos floridos que levam a outra realidade, onde braços afetuosos me esperam com amor e alegria...

Mas, quando eu acordo, é a minha realidade que eu vejo... Que eu vivo... Que eu sinto...

Um dia alguém disse que a vida não se acaba num túmulo escuro e silencioso. E Esse Alguém voltou para provar isso, mesmo depois de ter sido crucificado e sepultado...

E essa é a única esperança que me resta...

Sinto que a minha hora está chegando...

Depois que eu partir, gostaria que alguém encontrasse essas minhas anotações e as divulgasse.

E que elas pudessem tocar os corações dos filhos que internam seus pais em asilos, e jamais os visitam...

Que eles possam saber um pouco sobre a dor de alguém que sente o que é ser abandonado...

* * *

A data assinalada ao final da última anotação, era a data em que aquela mãe, esquecida e só, partiu para outra realidade.

Talvez tenha seguido para aquele jardim dos seus sonhos, onde jovens afetuosos e gentis a conduzem pelos caminhos floridos, como filhos dedicados, diferentes daqueles que um dia ela embalou nos braços, enquanto estava na Terra.


Redação do Momento Espírita


21 outubro 2017

Qual é o peso do nosso fardo? - Adriana Machado

  

QUAL É O PESO DO NOSSO FARDO?


Algumas experiências passarão sem nos apercebermos delas e outras, serão lembradas por um instante. Outras ainda, por toda uma vida carnal, mas algumas, irão muito além. Isso porque elas nos marcarão e se o fizeram, foi porque, positiva ou negativamente, nos chamaram a atenção para algo importante que há em nós.

Sendo assim, que relevância elas terão para nós? E quais delas serão consideradas verdadeiros fardos que preferiríamos não as tê-las vivenciado?

Primeiramente, precisamos entender o que é um fardo!

Desde quando eu comecei a estudar a doutrina espírita sempre pensei em fardo (= algo volumoso e pesado) como tudo aquilo que vivenciei (ou vivencio) que foi (ou é) ruim e que me trouxe (ou traz) desconforto de alguma forma, ou seja, sempre escutei a palavra “fardo” junto à ideia de alguma adversidade na vida do ser em crescimento!

Mas, quanto mais eu estudo e escuto a espiritualidade, quanto mais eu me aprofundo nos conceitos cristãos desta doutrina, mais eu percebo que fardo é nada mais nada menos do que a somatória de inúmeras experiências que me fizeram dar mais um passo para a minha evolução, independentemente de ter sido positiva ou não.

Assim, não podemos simplificar o fardo como se fosse somente as experiências que consideramos negativas, porque as positivas também nos fizeram amadurecer a nossa visão das circunstâncias vivenciadas. Se não entenderam, eu explico: como posso pensar que o fardo é somente uma experiência negativa (e assim menosprezá-lo) se tudo o que eu vivo me acrescenta algo que me dá condições de superar-me?

Todo fardo tem o significado de conjunto: fardo de cerveja, fardo de roupas, fardo de palha... Todos eles são formados por seus inúmeros elementos independentes, que, sendo iguais ou diferentes, juntos formarão o “fardo”. Também assim é a vida. Os fardos que enxergamos em nossas experiências são, cada um deles, um conjunto de todos os elementos que vivencio para superar determinada circunstância, com o qual vou amadurecer. E não conseguirei atingir o meu intento sem a somatória de todas elas: das boas ou não tão boas lições da vida.

Se assim é, porque acredito que os meus fardos são pesados? Porque, ainda, pela minha imaturidade, não enxergo o benefício dessas mesmas experiências e me agarro a ideia do peso reunido das circunstâncias que me atormentam o coração, não deixando as boas experiências trazerem leveza ao pacote inteiro.

Ainda, deixo de enxergar elemento por elemento, o que poderia aliviar o tal peso: “se o fardo de cerveja está muito pesado para transportá-lo, aquele que o carrega, pode encarregar-se de retirar do engradado as garrafas vazias para que o peso do fardo fique no limite de suas forças.” Nesta exemplificação, tento mostrar que, na maioria das vezes, somos nós que desejamos carregar um peso desnecessário ou tudo de uma só vez, mesmo quando já podemos escolher dar um fim imediato e útil a algumas experiências que a formam.

Quando nos incomodamos com determinadas situações, isso já é um sinal que poderíamos ter mudado ou deixado alguns desses elementos pelo caminho, mas por nossa livre escolha não nos desagarramos deles. Assim, vejamos: poderemos ser levados a vivenciar um relacionamento abusivo (por sabermos, inconscientemente, que ele será útil ao nosso crescimento), mas jamais estaremos presos a ele. Se estamos, é porque acreditamo-nos dele merecedores e não nos desapegaremos dele até que compreendamos essa verdade.

Em uma síntese, a cada dia, nos deparamos com inúmeras experiências que nos levarão a nos sentir felizes ou tristes, ansiosos ou esperançosos, indignados ou satisfeitos... Tais experiências serão por nós absorvidas como momentos de vivências, em cuja circunstância tivemos uma reação frente aos resultados conquistados. Poderemos abandonar várias posturas e empreender mudanças substanciais no nosso viver, mas para isso, haverá desgaste. Para cada resultado, daremos a nossa nota que estará intimamente ligada à nossa interpretação sobre aquilo que foi para nós bom ou não tão bom. Daí, vem a nossa noção do peso de nossos fardos!

Que possamos entender que nada nos é trazido para retroagirmos em nosso caminhar, e que o objetivo da vida não é nos deixar alquebrados pelo caminho por carregarmos pesos excessivos, mas sim que aprendamos que tudo nos é (ou nos foi) útil e enquanto acreditarmos que os nossos fardos são formados somente das experiências “negativas”, as positivas jamais amenizarão o seu peso. Qual é o peso do nosso fardo? Aquele que desejarmos lhe dar.