Total de visualizações de página

31 janeiro 2022

Espírito - Joanna de Ângelis


ESPÍRITO

CONCEITO


Individualidades inteligentes, incorpóreas, que povoam o Universo, criadas por Deus, independente da matéria. Prescindindo do mundo corporal, agem sobre ele e, corporificando-se através da carne, recebem estímulos, transmitindo impressões, em intercâmbio expressivo e contínuo.

São de todos os tempos, desde que a Criação sendo infinita, sempre existiram e jamais cessarão. Constituem os seres que habitam tudo, no Cosmo, tornando-se uma das potências da Natureza e atuam na Obra Divina como cooperadores, do que resulta a própria evolução e aperfeiçoamento intérmino.

Perdendo-se suas origens no intrincado da complexidade das leis, transcende ao entendimento humano o mecanismo de seu nascimento e formação, princípio inteligente que são, a glorificar a Obra de Deus em toda parte.

Indestrutíveis, jamais terão fim, não obstante possuindo princípio, quando a Excelsa Vontade os criou.

Dependendo do grau de seu desenvolvimento são imunes aos obstáculos de qualquer natureza material, por dotados de constituição específica, superior às organizações físicas, podendo irradiar-se em todas as direções e participar, simultaneamente, de inúmeros acontecimentos de uma só vez, sem qualquer prejuízo para a própria integridade.

CONOTAÇÕES

Buscando penetrar na realidade e constituição dos Espíritos, o que desvendaria os enigmas incontáveis da existência, os religiosos de todas as épocas estruturaram neles a base das afirmações éticas, estabelecendo a vida na Terra como consequência da vida espiritual, que sempre houve, mesmo sem a existência deste orbe. Dentro de tal premissa, a vida humana torna-se o resultado que decorre da outra, oportunidade que o Espírito usufrui para o crescimento, através de renascimentos sucessivos no corpo físico.

Doutrinas exóticas estabeleceram a concepção panteísta do Universo, através da qual os Espíritos seriam fragmentos de Deus, que a Ele se reintegrariam, desaparecendo, portanto, pela destruição da individualidade, nisto incluindo todas as coisas, como partes mesmas da Divindade.

Observações apressadas engendraram teorias outras, igualmente absurdas, tais a metempsicose, mediante a qual os Espíritos que se não houveram com equidade e nobreza na Terra a ela retornam, renascidos como animais inferiores.

Não há, porém, retrocesso nem regressão na escala espiritual, mediante a qual adicionam-se experiências da evolução, armazenando-se conquistas, transferindo-se de uma para outra vida aprendizagens e realizações.

Sendo infinito o progresso, numa existência o ser aprimora uma qualidade, enquanto dormem determinadas aptidões, e assim, incessantemente.

Sem nos reportarmos às augustas fontes da informação mediúnica, na Antiguidade Oriental, que hauriam nos Espíritos desencarnados o conteúdo de muitas das suas doutrinas religiosas e filosóficas, no século V, antes de Cristo, Tales, em Mileto, preocupado com o enigma da constituição da vida e particularmente da vida humana, interrogava sobre o Espírito e a Matéria.

Ensejava-se compreender ou decifrar a problemática do ser, inaugurando, a partir de então, o pensamento metafísico que se iria desdobrar, logo depois, nas escolas idealista e atomista, que tentaram colocar balizas demarcatórias nos planos da Criação.

Inicialmente considerado o Espírito como princípio vital, sopro de vida, foi-se deslocando entre os gregos para uma diferenciação da alma, que seria a expressão das manifestações afetivas inferiores, enquanto ele passava à representação das afeições superiores, princípio mais elevado-do que o indivíduo.

A doutrina aristotélica já apresenta essa conceituação mais ou menos definida, dando origem à formação ideológica entre o caráter metafísico e o psicológico do Espírito.

Embora o renascimento da doutrina neoplatônica entre os estudiosos de Alexandria, nos séculos V-VII, formulando judiciosas conceituações perfeitamente cristãs, dentre as quais a reencarnação, o pensamento aristotélico predominaria, sendo desdobrado e aceito por Tomás de Aquino, que apoiava o dogma romano nos seus alicerces, a prejuízo da revelação espiritual do Cristo, por longos séculos, a partir da Idade Média.

Com Hegel, o Espírito foi colocado filosoficamente em termos compatíveis, porquanto foram excluídas todas as teorias que o tornavam "fixo e imutável", apresentando a hipótese da sua evolução, transformações e inter-relacionamentos de todos os fatos que o influenciam.

As escolas de pensamento, então surgidas, apresentam confirmações ao conceito hegeliano ou combatem-no por meio do materialismo, que reduz o Espírito a uma conquista da própria matéria que, progredindo das formas mais simples às mais complexas, num momento imprevisível adquiriu consciência.

A revolução tecnológica, porém, iniciada no último quartel do século XIX, reduziu a matéria à condição de "energia condensada", transformando laboratórios e gabinetes científicos de pesquisa material em santuários de investigação em que a mente, o espírito, passam a ocupar lugar de destaque, nos quais, a pouco e pouco, o investigador consciente defronta a realidade do Espírito além da estrutura somática, a esta precedente e a ela sobrevivente.

CONCLUSÃO

Com a chegada do Consolador, conforme prometeu Jesus, através de Allan Kardec, o Espírito voltou a ser conceituado e tido na sua legítima acepção, demonstrando, pela insofismável linguagem dos fatos, a sua realidade, em vigoroso apelo ao pensamento e à razão, no sentido de fazer ressurgir a ética religiosa do Cristianismo.

Através desse renascimento cristão, opõe-se uma barreira ao materialismo e aponta-se ao que sofre o infinito horizonte do amanhã ditoso que o espera, após vencidas as dificuldades do momento, superadas as limitações, Espírito que é, em marcha na direção da Verdade.

ESTUDO E MEDITAÇÃO

"Os Espíritos são seres distintos da Divindade, ou serão simples emanações ou porções desta e, por isto, denominados filhos de Deus?" "Meu Deus! São obra de Deus, exatamente qual a máquina o é do homem que a fabrica. A máquina é obra do homem, não é o próprio homem. Sabes que, quando faz alguma coisa bela, útil, o homem lhe chama sua filha, criação sua. Pois bem! O mesmo se dá com relação a Deus: somos seus filhos, pois que somos obra sua".  (O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 77).

"Ao mesmo tempo que criou, desde toda a eternidade, mundos materiais, Deus há criado, desde toda a eternidade, seres espirituais. Se assim não fora, os mundos materiais careceriam de finalidade. Mais fácil seria conceberem-se os seres espirituais sem os mundos materiais, do que estes últimos sem aqueles. Os mundos materiais é que teriam de fornecer aos seres espirituais elementos de atividade para o desenvolvimento de suas inteligências"  (A Génese, Allan Kardec, cap. XI, item 8.)

Joanna de Ângelis
Médium: Divaldo Pereira Franco
Livro: Estudos Espíritas - 3


30 janeiro 2022

Podemos Reencarnar como um Animal? - Simara Lugon Cabral


PODEMOS REENCARNAR COMO UM ANIMAL?

“O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.” (João 3:6-8)

A palavra "reencarnação" deriva do latim, que significa "entrar na carne novamente" enquanto o termo “metempsicose” deriva do grego, de meta (mudança) e de psiquê (alma), sendo esta palavra utilizada para a reencarnação em outro ser vivo, podendo ser em um corpo humano, em animais ou vegetais. O conceito da metempsicose teria chegado até a Grécia pelo filósofo e matemático Pitágoras, que teria absorvido a ideia dos egípcios após uma viagem às Pirâmides de Gizé e difundido por Platão, que em sua obra Mênon afirma: “A alma é pois, imortal: renasceu repetidas vezes na existência e contemplou todas as coisas existentes na terra como no Hades e por isso não há nada que ela não conheça”.

A crença na reencarnação existe desde a idade da pedra, pois de acordo com arqueólogos, foram encontrados ossos de homo sapiens enterrados em posição fetal indicando que os sepultamentos eram realizados desta forma devido à crença deles de que nasceriam novamente. Entre as religiões reencarnacionistas destaca-se o hinduísmo, que crê que há uma centelha de consciência espiritual cuja evolução se dá através de uma sucessão de renascimentos. Cada vida ocorreria em um ser vivo adequado à sua evolução, que poderia ser vegetal, animal ou humano, o que seria determinado pelas ações positivas ou negativas do ser durante sua existência, o denominado carma.

Observa-se que a crença na metempsicose teve origem nas civilizações egípcia e indiana e a razão desta ideia ter partido destas localidades, de acordo com José Marcelo G. Coelho em seu artigo denominado “Metempsicose”, se deve ao seguinte fato: “Viajemos até uma constelação conhecida pelos astrônomos terrenos por Cocheiro, da qual faz parte uma estrela de nome Capela, um sol extremamente brilhante, em torno do qual, dentre outros, gira um planeta situado a aproximadamente 42 anos-luz. Havia, naquele orbe, determinada parcela da população agindo em total dissonância com o padrão evolutivo dos demais habitantes, razão pela qual, na medida em que desencarnavam, eram conduzidos para mundos inferiores, consonantes com seu nível moral; um destes planetas escolhidos foi a Terra. Aqui chegando, os exilados formaram as chamadas raças adâmicas, que originaram, inclusive, os povos do Egito e da Índia. Ocorreu que, diferentemente dos corpos de compleição refinada, típicos de seu ditoso planeta, tiveram que adotar, entre nós, veículos carnais ainda grosseiros, de aspecto pré-histórico, peculiar aos primeiros hominídeos. Daí, por conclusão, a sensação de terem vindo para habitar corpos animais, fato este que ficou gravado em seus inconscientes como uma punição divina, e que deu azo à teoria equivocada da metempsicose, que hoje deve ser compreendida como uma variante imprecisa da reencarnação — um dos princípios fundamentais do Espiritismo.”

Desta forma, compreende-se o motivo da crença na reencarnação de seres humanos em animais ter partido destes espíritos, visto que consideravam e sentiam que seu invólucro carnal terreno era mais grosseiro do que o que possuíam antes, assemelhando-se ao de um animal.

No entanto, a Doutrina Espírita ensina que do ponto de vista material existe uma divisão entre os seres orgânicos e inorgânicos e, do ponto de vista moral, quatro diferentes reinos, da seguinte forma (Questão 585 de “O Livro dos Espíritos): “A matéria inerte, que constitui o reino mineral, tem apenas uma força mecânica. As plantas, compostas por matéria inerte, são dotadas de vitalidade. Os animais, compostos de matéria inerte e dotados de vitalidade, têm também uma espécie de inteligência instintiva, limitada, e a consciência de sua existência e de sua individualidade. O homem, por ter tudo que têm as plantas e os animais, domina todas as outras classes através de uma inteligência especial, indefinida, que lhe dá a consciência de seu futuro, a percepção das coisas extramateriais e o conhecimento de Deus.” Tendo em vista esta divisão entre os reinos, o Espiritismo não compartilha da crença na metempsicose, pois entende que caso o ser humano pudesse reencarnar no corpo de um animal ele estaria retrocedendo e contrariando a Lei do Progresso, que ensina que o homem deve progredir sempre e não retrograda às condições primitivas.

Leon Denis, no livro “O problema do ser, do destino e da dor” declara: “A lei do progresso não se aplica somente ao homem; é universal. Há, em todos os reinos da Natureza, uma evolução que foi reconhecida pelos pensadores de todos os tempos. (...) Cada elo dessa cadeia representa uma forma da existência que conduz a uma forma superior, a um organismo mais rico, mais bem adaptado às necessidades, às manifestações crescentes da vida; mas, na escala da evolução, o pensamento, a consciência e a liberdade só aparecem passados muitos graus. Na planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente; à partir daí, o progresso, de alguma sorte fatal nas formas inferiores da Natureza, só se pode realizar pelo acordo da vontade humana com as leis Eternas”. Em “O Livro dos Espíritos”, a questão 611 também não deixa nenhuma dúvida a respeito da impossibilidade da metempsicose ocorrer: “A partir do momento que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período de humanidade, ele não tem mais relação com o seu estado primitivo e não é mais a alma dos animais, assim como a árvore já não é a semente. No homem, restam do animal apenas o corpo e as paixões que nascem da influência do corpo e do instinto de conservação inerente à matéria. Portanto, não se pode dizer que tal homem, é a encarnação do Espírito de tal animal e, consequentemente, a metempsicose, tal qual a entendem, não é exata.”

Desta forma compreende-se que o princípio espiritual é criado por Deus e após se aperfeiçoar em cada um dos reinos mineral, vegetal e animal, penetra no reino hominal como Espírito, dotado de consciência e senso moral e o desenvolvimento já adquirido não retrocede de acordo com as leis divinas. De acordo com Allan Kardec em sua obra “A gênese”: “(..) todos os seres espirituais têm o mesmo ponto de partida: todos são criados simples e ignorantes, com igual aptidão para progredir mediante sua atividade individual; todos atingirão o grau de perfeição compatível com a criatura, a partir de seus esforços pessoais; todos, sendo filhos de um mesmo Pai são objeto de igual solicitude e que não há nenhum mais favorecido ou melhor dotado que os demais, nem dispensado do trabalho imposto aos outros para atingir o objetivo.” O conhecimento da codificação espírita destaca a importância do esforço de cada indivíduo para buscar sua própria evolução, do momento em que é dotado de razão, consciência e consequentemente, da responsabilidade perante seus atos, pois já se torna capaz de distinguir o bem do mal.

Assim, apreende-se que está nas mãos de cada ser humano a chave para seu próprio progresso. A encarnação é valiosa oportunidade de burilamento espiritual e nenhum minuto da existência terrena deve ser desperdiçado, tendo em vista que o objetivo real da vida na carne é o progresso do espírito.No Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 4 no item 25, lê-se que: “Mas a encarnação não é para todos os Espíritos senão um estado transitório. É uma tarefa que Deus lhes impõe em sua entrada na vida, como primeira prova do uso que farão de seu livre arbítrio. Aqueles que cumprem essa tarefa com zelo, transpõem rápida e menos penosamente os primeiros graus de iniciação, e gozam mais cedo do fruto de seus trabalhos.” Que cada um aproveite sua passagem pela Terra para progredir e auxiliar a humanidade a evoluir através da caridade, do amor e da fraternidade, com respeito a todos os seres vivos e gratidão ao Criador lembrando-se que “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança” (Romanos 5:3-4.

Simara Lugon Cabral
Fonte: Blog Letra Espírita

Referências:

1. A reencarnação no mundo. Disponível em: https://www.revistaplaneta.com.br/a-reencarnacao-no-mundo/. Acessado em 05 de Dezembro de 2021.

2. Bíblia Online. Disponível em:
. Acessado em 04 de Dezembro de 2021.

3. COELHO, José Marcelo G.. Metempsicose. Disponível em:  https://clotildes.tripod.com/documentos/pdf/Metempsicose.pdf. Acessado em 05 de Dezembro de 2021.

4. DENIS, Leon. O problema do ser, do destino e da dor. 1ª edição da coleção Léon Denis. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

5. KARDEC, Allan. A gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Tradução de Cristina Florez da 4ª ed. Francesa. 1ª edição. Capivari, SP: Editora EME, 2020.

6. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Matheus Rodrigues de Carvalho.24ª reimpressão. Capivari, SP: Editora EME, 2019.

7. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Matheus Rodrigues de Carvalho. 43ª reimpressão. Capivari, SP: Editora EME, 2018.

8. PLATÃO. Mênon. 8ª ed. São Paulo, SP: Edições Loyola, 2001.

29 janeiro 2022

Dores Humanas – um olhar sobre as perdas na Pandemia - Cristiane de Carvalho Neves


DORES HUMANAS - UM OLHAR SOBRE AS PERDAS NA PANDEMIA

Quem de nós imaginaria passar por uma pandemia ou por um isolamento social? As nossas famílias enfrentaram algo inusitado e inesperado. Além das diversas perdas, que emocionalmente não devem ser comparadas, as pessoas estiveram consumidas pelo medo devido à alta possibilidade de um ou mais membros se contaminarem, também sentiram medo devido ao agravamento dos sintomas com possibilidade de morte após o contágio do vírus, e o nosso medo foi sendo reforçado diariamente conforme aumentava o número de infectados e mortos em todo o mundo.

A perda é um dos processos mais desorganizadores da vida humana. Não somente a perda de pessoas, mas qualquer processo de mudança de vida pelo fato de implicar o desaparecimento de uma antiga e conhecida condição, com a obrigatória passagem para uma nova e desconhecida fase. Isso descreve exatamente o que passamos. Rotinas bem estabelecidas precisaram ser readequadas às exigências sanitárias com restrições sociais. Com o coronavírus, na condição do isolamento, tudo mudou e repentinamente. Vimos correria aos supermercados e as pessoas desesperadas em busca de álcool em gel 70%, máscaras e outros... Tudo isso, já evidenciando um processo de adaptação à nova realidade que nos estava sendo imposta. Toda aquela realidade que conhecíamos estava sendo desfeita. Cada pessoa foi buscando se reorganizar à sua maneira, de acordo com os seus recursos disponíveis internos e externos, a essa nova condição de sobrevivência.

Além do mais, Baricca (2008) fala sobre a angústia que nós sentimos quando nos deparamos com a possibilidade de morte. Ela diz que a “angústia de morte significa, portanto, viver a presença imponente de uma ameaça à nossa existência.” [...] “Assim, pensar a própria morte, ou a sua possibilidade, provoca forte sentimento no ser humano, de modo que a angústia desencadeada é transformada, defensivamente, em medos e dificuldades.”

Tivemos uma preocupação com o movimento das nossas famílias durante essa crise que, podemos dizer, ainda atravessamos. A palavra crise na sua etiologia, pressupõe crescimento, oportunidade. Toda crise desestabiliza o que existia e abre uma oportunidade “sagrada” de reinvenção; uma oportunidade para a mudança. Para que a gente possa atravessar uma crise como algo sagrado, a gente precisa se perguntar qual é o meu propósito para hoje? E a família em crise pandêmica pode ser estimulada a enxergar o propósito de reinvenção daquele sistema; repensar o modo de relacionar uns com os outros como uma oportunidade de aproximação e aumentar a intimidade entre os membros da família; corrigir os erros, pedir perdão; propiciar novas formas de interação, o resgate de brincadeiras há tempos deixadas de lado; ou até novas receitas culinárias.

Considerando os cuidados com as nossas famílias, compreendemos a sua importância como matriz no desenvolvimento biopsicossocial do indivíduo – um sistema de vínculos afetivos por meio do qual se gera e se desenvolve a organização psíquica do indivíduo. Nesse sentido, esperamos que a família seja um lugar de segurança, cuidado e afeto. Esslinger (2008) corrobora com o conceito que Carter e McGoldrick definiram sobre família dizendo que é um “sistema movendo-se através do tempo, com papéis, funções e relacionamentos insubstituíveis. Esse sistema, por sua vez, tem seus ciclos, os quais podem ser facilitadores ou dificultadores na aceitação de mudanças, dentre elas, as perdas”.

Portanto, as famílias estão amedrontadas. O medo é instintivo e foi necessário na preservação enquanto espécie. O medo que desenvolvemos do novo coronavírus é algo natural, impossível de ser evitado. Esse medo tem dois lados: o positivo está em cuidar da vida, em não se colocar em situações de risco. O negativo ocorre quando o medo causa muito sofrimento, quando impede a continuidade da vida. Porque sentir medo nos serve como instinto de sobrevivência, que nos prepara para a luta ou fuga. Quando isso acontece, somos protegidos. Só não podemos viver o tempo todo assim como um alarme com defeito, pois teremos um desgaste psíquico.

Nesse momento de tantas perdas, precisamos compreender que cada pessoa lida com rompimentos afetivos à sua maneira. E precisamos saber respeitar o tempo de processo de luto individual. A mente do enlutado, no primeiro momento, está confusa com todo o desmoronar na vida dele. Dependendo do que falamos ao enlutado, podemos ajudar ou ferir ainda mais. Na verdade, quanto menos falar, melhor. Então, um abraço, um olho no olho, e o principal, apenas dizer “estou aqui com você”, já é o suficiente! Frases como “Agora ele já não sofre mais”; “O tempo cura tudo”; “É a vida, todos vamos morrer”; “Olha, que há pessoas que estão pior”; “Você é jovem, pode se casar novamente/ter outro filho”. Essas frases podem ser inadequadas de imediato e machucar ainda mais.

Entretanto, podemos dizer “Sinto muito pelo que está passando”; “Nem posso imaginar o que você está passando”; “Você é uma pessoa muito importante pra mim, pode contar comigo”; “Quer falar? Posso te ouvir”. Lembrando que a pessoa em luto se questiona sobre a capacidade do cuidador em o ajudar verdadeiramente: “Será que posso confiar em você? Será que realmente vai me entender?”

Devemos cuidar para não minimizar as nossas perdas cotidianas. Sofrimento não deve ser comparado. Cada qual sabe o quanto aquela perda lhe faz falta. Talvez, buscar formas de lidar com nossas perdas nesse tempo de pandemia seja o mais interessante, pois todos já passamos ou passaremos por algum tipo de perda significativa em algum momento da vida. As pessoas podem procurar ajuda em grupos de apoio ao luto; na conversa amiga e confiável; como também, buscar ajuda de um profissional de saúde, especialmente, um psicólogo. As pessoas precisam falar sobre o que estão enfrentando ao vivenciar suas perdas, para que possam seguir no curso do seu processo adaptativo do luto.

Cristiane de Carvalho Neves
Fonte: Medicina e Espíritualidade

Referências Bibliográficas:

BARICCA, A. M. Viver e Conviver com HIV/AIDS, In: Morte e existência humana: caminhos de cuidados e possibilidades de intervenção. Coord.: Kovács, M. J. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. Cap. I

ESSLINGER, I. De quem é a vida, afinal? Cuidando dos cuidadores (profissionais e familiares) e do paciente no contexto hospitalar. In: Morte e existência humana: caminhos de cuidados e possibilidades de intervenção. Coord.: Kovács, M. J. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. Cap. IX

28 janeiro 2022

O Livro dos Médiuns - Divaldo Pereira Franco

 
O LIVRO DOS MÉDIUNS

No dia 16 de setembro do ano 96 d.C., na cidade de Éfeso, o venerando sábio Apolônio de Tiana discursava no imenso teatro local para a multidão entusiasmada e comovida, quando, subitamente transfigurado, passou a informar que o imperador Tito Flávio Domiciano estava sendo assassinado naquele momento em sua liteira, em Roma.

Domiciano era um imperador temperamental e cruel, que submetia todos à sua perversidade. Era temido e respeitado.

O povo, surpreendido com a notícia algo disparatada, pela sua singularidade, acreditando que Apolônio estaria delirando em razão da sua avançada idade, abandonou o auditório com receio de que a notícia chegasse a Roma e pela sua inverdade voltasse toda a sua ira contra a cidade.

Após um breve período, chegaram as primeiras embarcações de Roma, e as notícias eram de que o imperador fora assassinado nas mesmas circunstâncias narradas pelo filósofo...

Essa narração foi escrita pelo historiador Filóstrato.

No dia 7 de outubro de 1571, o Papa Pio V estava numa reunião com cardeais e bispos em Roma, na Igreja de Santa Maria Maior. Ao entardecer, o Papa levantou-se e, acercando-se da janela, começou a dizer: Vejo as tropas de Don Juan (de Áustria) vencerem a Batalha de Lepanto, em Corinto, aprisionando e expulsando da Europa os mouros.

Vejo milhares de mortos flutuando entre as caravelas, prisioneiros e fugitivos, nessa que foi uma batalha terrível – continuou o Papa, visivelmente transtornado.

Por alguns momentos, ele permaneceu descrevendo a visão que o surpreendia, provocando indefinível angústia nos presentes, que não sabiam o que se passava.

Nesse estado, propunha:

Badalem os sinos de todas as igrejas e sejam celebrados “Te Deum” em toda parte, porque acabamos de ganhar a guerra...

Todos acreditaram que o Papa havia enlouquecido, mas atenderam as suas ordens.

A cidade engalanou-se, e festas explodiram em toda parte. Todavia, não chegavam informações a respeito dessa batalha, o que gerou uma onda de críticas e zombarias ao Papa.

Passada uma semana, uma caravela trouxe a notícia que confirmava totalmente o fenômeno de que fora objeto o religioso. Assim descreve o cardeal Bussotti, que estava presente na reunião...

Poderíamos narrar centenas de fatos semelhantes através da História, demonstrando a paranormalidade do ser humano.

Para alguns religiosos, são eles milagres da Divindade para chamar a atenção dos indivíduos.

Coube, porém, a Allan Kardec investigar essa notável manifestação paranormal e denominá-la como mediunidade, levando-o a publicar em janeiro de 1861 O Livro dos Médiuns, o maior estudo jamais realizado a respeito dela.

Neste mês de aniversário dessa obra máxima, louvamos o seu autor.

Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 13/01/22

27 janeiro 2022

Vida tecida em luz - Vianna de Carvalho (Foto: Lungdunum - Roman_theatre_in_Lyon)

(Foto: Lungdunum - Teatro Romano em Lyon)
 
VIDA TECIDA EM LUZ

Durante os dolorosos eventos trágicos registrados no século III d,C., em Lugdunum* (atualmente Lyon, na França), nos quais os discípulos de Jesus foram, mais de uma vez, martirizados, notabilizaram-se extraordinários servidores da Verdade, que superaram o holocausto, cantando hinos de amor ao Mestre Incomparável.

A partir daí, aureolados pelo sacrifício da própria vida, renasceram em diferentes períodos da História da Humanidade, a fim de preservarem a magnitude da doutrina de amor e de renúncia que Ele instalara na Terra, santificada pelo Seu próprio sacrifício na cruz.

Desfigurada pelos tormentos humanos na sucessão dos séculos, sempre foi reativada pelo retorno desses mártires ao proscênio terrestre, onde a vivenciaram integralmente, quando assinalaram a existência pela mansidão e pela misericórdia, pela abnegação e pela humildade, de forma que se pudesse retornar à pulcritude dos ensinamentos, conforme foram ministrados e vividos pelo Senhor e pelos Seus discípulos dedicados.

A fim de que ficasse imortalizada nas mentes e nos corações, a incomparável doutrina sempre os arrebatava, ao tempo em que demonstravam que somente por meio da entrega total das existências era possível tornar a vida significativa e digna de ser experienciada.

Graças a essa abnegação, o poder temporal que, por vezes, a asfixiava não conseguiu destruí-la, embora a tenha desfigurado nos seus conteúdos profundos de amor e de caridade.

Quando foi programada a chegada do Consolador à Terra, a fim de restabelecer-lhe os fundamentos e apresentá-la conforme é, missionários do Bem, acostumados a imolar-se em favor de sua grandeza, ofereceram-se para retornarem ao palco terreno e viverem-na em toda a sua pujança e significação.

Allan Kardec, o vaso escolhido, sob a inspiração do Espírito de Verdade, elegeu, entre os muitos candidatos que acorreram ao chamado para ajudá-lo, aqueles que permaneceriam na retaguarda, na espiritualidade, inspirando-o e conduzindo-o, enquanto outros volveriam ao invólucro material para demonstrar, pela vivência e pelo conhecimento, o valor grandioso do pensamento de Jesus redivivo no Espiritismo.

Desse modo, depois do memorável dia 18 de abril de 1857, quando foi publicado, em Paris, O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec, e a mensagem grandiosa espalhou-se como bênção inusual pela Terra, já descera às sombras do planeta um daqueles mártires de Lugdunum1 , que se denominara Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, cuja existência seria assinalada pela constante presença dos Céus, a fim de tecer em luz todos os seus dias até o momento da libertação carnal.

Sua existência foi assinalada pelos valores nobres que caracterizam os Espíritos ditosos, rica de experiências iluminativas, demonstrando a interferência do Mundo Maior em inúmeros lances, mantendo-o nos interesses e lutas do século até o momento em que foi convocado para a reabilitação da Mensagem sob a inspiração de Ismael, o Anjo protetor da nacionalidade brasileira.

A sua dedicação à caridade e ao reto cumprimento dos deveres demonstrou como é possível autoiluminar-se sem fugir ao convívio social e iluminar as vidas que se encontram em sombras e conflitos sem lhes criar novos tormentos.

Profundamente vinculado ao Evangelho, tornou-se exemplo do amor, à semelhança do Cantor de Deus, de Assis, no passado, em versão moderna, perfeitamente acessível a todos quantos necessitem de um sentido psicológico e ético para a jornada humana.

Concluída a tarefa, retornou em glória às Estâncias sublimes de onde veio, continuando a dedicar-se ao ministério de consolo e apoio aos filhos do Calvário, nas verdes terras do Brasil.

50 anos depois, todos dedicados à compaixão e à misericórdia, à inspiração do bem e das virtudes, foi homenageado nas Altas Esferas, quando a Mãe Santíssima propôs-lhe transferir-se para a região mais feliz, por haver atingido alto nível de evolução.

Amando, porém, os irmãos da retaguarda, ele solicitou permissão para ficar nas sombras da Pátria do Cruzeiro, enquanto houvesse dores a socorrer e lágrimas a enxugar...

Atendido pela Senhora Sublime, permanece até hoje sendo o lenitivo para os que sofrem e o afetuoso amigo dos infelizes em nome de Jesus.

Glória ao Dr. Bezerra de Menezes, no transcendente cumprimento do seu ministério iluminativo!

* * *

O livro que se irá ler (Bezerra de Menezes – O homem, seu tempo e sua missão, de Luciano Klein, ed. Federação Espírita do Estado do Ceará – Memorial Bezerra de Menezes) é um repositório de bênçãos, narrando a existência planetária do nobre Benfeitor da Humanidade, toda ela tecida em luz.

Que os conhecimentos hauridos após sua leitura e reflexão possam servir de roteiro de segurança e de conforto espiritual, apontando o rumo da plenitude a todos nós, que nos encontramos em lutas de recuperação espiritual.

Vianna de Carvalho
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na tarde de 19 de agosto de 2014, na Mansão do Caminho, em Salvador, Bahia.

*Colonia Copia Claudia Augusta Lugdunum era uma importante cidade romana na Gália, junto ao rio Ródano (artéria de ligação entre o centro da Gália e o Mediterrâneo), localizada no atual espaço geográfico de Lyon, na França. A cidade foi fundada em 43 a.C. por Lucius Plancus. Serviu como capital da província romana de Gallia Lugdunensis. Dois imperadores, Cláudio e Caracala, nasceram em Lugdunum. Em 177 d.C., ali ocorreu a terrível perseguição aos cristãos, durante o reinado de Marco Aurélio (161 – 180).

26 janeiro 2022

Esquecimento de Vidas Passadas - Ana Paula Januário


 ESQUECIMENTO DAS VIDAS PASSADAS

Será que já fui uma princesa/príncipe? Será que já convivi com fulano em outra vida? Será que já fiz isso ou aquilo? Quem nunca teve essas curiosidades? Todos nós, né? Sempre tem algo que temos curiosidade sobre nossas vidas passadas.

Mas fica o questionamento: Por que não conseguimos lembrar de nossas vidas anteriores?

“Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei”

Com essa citação do livro “O que é o Espiritismo” vale relembrar o que todos nós espíritas já sabemos, a existência da reencarnação. Deus com sua justiça e misericórdia oferece uma nova oportunidade para repararmos os equívocos cometidos em existências anteriores e desenvolver novos aprendizados. É nesse processo que o espírito inicia uma nova vida com uma roupagem diferente, porém com os mesmos conhecimentos e experiências de vidas passadas.

E de novo a pergunta do início do artigo vem à tona: Por que não conseguimos lembrar de nossas vidas anteriores? A resposta está no chamado “véu do esquecimento”, também conhecido como perda temporária da memória de vidas passadas.

O esquecimento do passado quando estamos encarnados na Terra, expressa a misericórdia de Deus em nosso favor, já que no estágio em que nos encontramos atualmente, o nosso passado não é tão agradável assim. Dessa forma, esse esquecimento temporário é necessário e benéfico aos nossos Espíritos como consta na explicação da questão 394 do Livro dos Espíritos:

“A lembrança de nossas individualidades anteriores teria inconvenientes muito graves; poderia, em certos casos, nos humilhar extraordinariamente e, em outros, exaltar o nosso orgulho e, por isso mesmo, entravar o nosso livre-arbítrio. Deus nos deu, para nos melhorarmos, o que nos é necessário e nos basta; a voz da consciência e nossas tendências instintivas, privando-nos do que nos poderia prejudicar, Acrescentemos, ainda, que se tivéssemos a lembrança de nossos atos pessoais anteriores, teríamos igualmente dos atos dos outros e esse conhecimento poderia ter os mais deploráveis efeitos sobre as relações sociais. Não havendo sempre motivos para nos glorificarmos do nosso passado, ele é quase sempre feliz quando um véu lhe seja lançado”.

Tendo em mente essas informações, vale ressaltar que o esquecimento do passado, das faltas cometidas não é um obstáculo ao progresso do Espírito, porque, se não tem uma lembrança precisa, o conhecimento que teve no estado errante e o desejo que tomou de as reparar guiam-no pela intuição e lhe dão o pensamento de resistir ao mal. Esse pensamento é a voz da consciência, que é secundada pelos Espíritos que o assistem, se escuta as boas inspirações que sugerem (KARDEC, 2008, questão 399).

Dessa forma, para enfatizar que o esquecimento do passado nada atrapalha a experiência atual, Kardec trouxe-nos uma reflexão no livro “O que é o espiritismo” no capítulo I no item “Esquecimento do Passado” quando é indagado se o homem pode aproveitar a experiência adquirida em outras vidas, levando em consideração que ao esquecer-se delas, parece estar sempre a recomeçar:

“Se, a cada existência, um véu é lançado sobre o passado, o Espírito não perde nada daquilo que adquiriu no passado: ele não esquece senão a maneira pela qual adquiriu a experiência. Para me servir da comparação do escolar, eu diria que: pouco importa para ele saber onde, como, e sob a orientação de que professores ele fez o ano anterior se, alcançando a quarta série ele sabe o que se aprende na anterior. Que lhe importa saber quem o castigou pela sua preguiça e sua insubordinação, se esses castigos o tornaram laborioso e dócil? É assim que, em se reencarnando, o homem traz, por intuição e como ideias inatas, o que adquiriu em ciência e moralidade. Eu digo em moralidade porque se, durante uma existência, ele se melhorou, se aproveitou as lições dasAna Paula Januário experiências, quando retornar, será instintivamente melhor; seu Espírito amadurece na escola do sofrimento e, pelo trabalho, terá mais firmeza; longe de Ana Paula Januáriodever a tudo recomeçar, ele possui um fundo cada vez mais rico, sobre o qual se apoia para progredir mais”.

Em consequência disso, podemos constatar que tudo que Deus fez está bem feito e que não nos cabe criticar-lhe as obras e dizer como deveria regular o Universo (KARDEC, 2008, questão 394). Até porque o Espírito renasce, frequentemente, no mesmo meio em que viveu e se acha em relação com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes fez. Se reconhecesse nelas as que odiou, talvez seu ódio se revelasse; em todos os casos, seria humilhado diante daqueles que houvesse ofendido (KARDEC, 2009, cap. V)

Entretanto, é importante lembrarmos que o esquecimento não ocorre senão durante a vida corporal; reentrando na vida espiritual, o Espírito retoma as lembranças do passado, sendo essa interrupção momentânea. Todavia, como já foi citado, ele tem algumas vezes uma vaga consciência e elas podem mesmo lhe serem reveladas em certas circunstâncias; mas é apenas pela vontade de Espíritos superiores que o fazem espontaneamente, com um fim útil e jamais para satisfazer uma vã curiosidade (KARDEC, 2008, questão 399).

Portanto, devemos sempre confiar em Deus e orar para que possamos ter a sabedoria e discernimento para seguir o melhor caminho em direção a evolução. Não há necessidade da curiosidade e ansiedade por lembranças passadas, o que lhe for servir, a espiritualidade superior tomará as providências devidas (RBN).

E para finalizar, trouxe algumas reflexões que podem nos ajudar quando bater aquela curiosidade ou anseio da lembrança de vidas passadas:

● Estou tendo a oportunidade de recomeçar, adquirir novas vivências e aprendizados sem lembranças perturbadoras que possam atrapalhar meu progresso; 
 
● Tendo em vista que renascemos frequentemente no mesmo meio em que vivemos, estou tendo a oportunidade de reconciliação com antigos adversários sem o constrangimento das recordações que a poderiam impedir;

● Estou tendo a oportunidade de superar traumas passados em circunstâncias renovadas.

Percebeu que só temos que agradecer a misericórdia de Deus? Que a cada dia possamos colocar em prática a gratidão em nossa vida!

Ana Paula Januário
Fonte:
Blog Letra Espírita

Referências:

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 177. ed. São Paulo: Ide, 2008.

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 363. ed. São Paulo: Ide, 2009.

KARDEC, Allan. O Que é o Espiritismo. 75. ed. São Paulo: Ide, 2009.

RBN, Esquecimento do Passado – Espiritismo sem Mistério. Disponível em: https://radioboanova.com.br/esquecimento-do-passado-espiritismo-sem-misterio/ Acesso em 2 dez. 2021.

25 janeiro 2022

Morte de crianças - Richard Simonetti

 
MORTE DE CRIANÇAS

O desencarne na infância, mesmo em circunstâncias trágicas, é bem mais tranqüilo, porquanto nessa fase o Espírito permanece em estado de dormência e desperta lentamente para a existência terrestre. Somente a partir da adolescência é que entrará na plena posse de suas faculdades.

Alheio às contingências humanas ele se exime de envolvimento com vícios e paixões que tanto comprometem a experiência física e dificultam um retorno equilibrado à Vida Espiritual.

O problema maior é a teia de retenção, formada com intensidade, porquanto a morte de uma criança provoca grande comoção, até mesmo em pessoas não ligadas a ela diretamente. Símbolo da pureza e da inocência, alegria do presente e promessa para o futuro, o pequeno ser resume as esperanças dos adultos que se recusam a encarar a perspectiva de uma separação.

Em favor do desencarnante é preciso imitar atitudes como a de *Amaro, personagem do livro “Entre a Terra e o Céu”, do espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, diante do filho de um ano, desenganado pelo médico, a avizinhar-se da morte. Na madrugada, enquanto outros familiares dormem, ele permanece em vigília, meditando. Descreve o autor:

“A aurora começava a refletir-se no firmamento em largas riscas rubras, quando o ferroviário abandonou a meditação, aproximando-se do filhinho quase morto. “Num gesto comovente de fé, retirou da parede velho crucifixo de madeira e colocou-o à cabeceira do agonizante. Em seguida, sentou-se no leito e acomodou o menino ao colo com especial ternura. Amparado espiritualmente por Odila*, que o enlaçava, demorou a olhar sobre a imagem do Cristo Crucificado e orou em voz em alta voz:

“Divino Jesus, compadece-te de nossas fraquezas!… Tenho meu espírito frágil para lidar com a morte! Dá-nos força e compreensão… Nossos filhos te pertencem, mas como nos dói restituí-los, quando a tua vontade no-los reclama de volta!…

“O pranto embargava-lhe a voz, mas o pai sofredor, demonstrando a sua imperiosa necessidade de oração, prosseguiu:

“- Se é de teu desígnio que o nosso filhinho parta, Senhor, recebe-o em teus braços de amor e luz! Concede-nos, porém, a mente, a nossa cruz de saudade e dor!… Dá-nos resignação, fé, esperança!… Auxilia-nos a entender-te os propósitos e que a tua vontade se cumpra hoje e sempre!…

“Jactos de safirina claridade escapavam-lhe do peito, envolvendo a criança, que, pouco a pouco, adormeceu.

“Júlio afastou-se do corpo de carne, abrigando-se nos braços de Odila, à maneira de um órfão que busca tépido ninho de carícias.”

A atitude fervorosa de Amaro, sua profunda confiança em Jesus, sustenta-lhe o equilíbrio e favorece o retorno de Júlio, o filho muito amado, à pátria espiritual, conforme estava previsto.

* Amaro é casado em segundas núpcias. Odila é a primeira esposa, desencarnada.

Richard Simonetti
Do livro: Quem tem medo da morte?
Fonte:
Portal do Espírito

24 janeiro 2022

Compromisso e Resgate - Joanna de Ângelis



COMPROMISSO E RESGATE
 
Na terra, estás em reparo.

Retificação íntima com recuperação externa.

Ajustamento pessoal e harmonia generalizada.

Em cada madrugada doirada tens um renascimento e contigo nova oportunidade de servir e renovar-te com irremovível compromisso com a vida.

Todo dia a experiência é lição significativa como bênção que não podes ignorar.

Erro da véspera, aprendizagem para o dia.

Como não é justo gastar o tempo em arrependimento desconcertante ou em arrolamento de erros, também não é justificável ignorar a própria imprevidência a pretexto de indiferença.

O erro ou o que passa como tal, deixado a esmo sem o devido tratamento, pode ser comparado a matéria em decomposição, dominada pela vérmina, exalando miasmas...

Sofrimento e enfermidade em todo lugar e também contigo.

Corrige-te agora e ajusta-te de imediato.

Amanhã o sol será o mesmo mensageiro da luz mas as circunstâncias, pessoas e coisas estarão diferentes... e tu também.

* * *

A vida se desenvolve em ciclos perfeitos e harmoniosos.

Este grão germina dentro de um período.

Esse embrião necessita de uma etapa completa para apresentar-se.

Há ordem no Universo...

O Sol na Via-Láctea, a hemácia na composição do sangue.

Desequilíbrio também é sinônimo de caos.

Peça gasta, implemento a substituir.

Equívoco constatado, reparação próxima.

Desconsideração à ordem pode denominar-se rebeldia passível de punição.

A ferramenta em abandono perde a eficiência.

O instrumento em uso excessivo gasta a precisão.

É indispensável cooperar com o curso do progresso.

Retornar para recompor.

Punição ao crime que é correção ao criminoso.

Lei e justiça.

* * *

Considerando a própria imperfeição firma o compromisso interior de não repetir enganos nem reincidir na criminalidade. Desperto para as paisagens superiores da existência, examina o que pretendes, como pretendes, até onde pretendes ir. Sem decisão bem delineada, as atitudes são sempre oscilantes e fracas.

Quem se encontra interessado na solução dos graves e afligentes problemas que angustiam o homem, resolve avançar, decidido, apagando o passado com o claro sol do trabalho realizador do presente, sem tibieza, porquanto verifica em si mesmo que só a retidão oferece meio seguro para uma consciência tranquila.

Joanna de Ângelis
Médium: Divaldo Pereira Franco
Livro: Dimensões da Verdade - 23


23 janeiro 2022

Guerras à Luz da Doutrina Espírita - Camila Vieira



GUERRAS À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA


Quando pensamos na palavra “guerra”, é inevitável não surgir imagens de destruição, morte e sofrimento em nossa mente. Sendo a Espiritualidade a força motriz na condução da evolução dos Espíritos, definindo estratégias e caminhos rumo ao progresso espiritual, será que as guerras são necessárias para nossa progressão? As guerras são fruto do planejamento da Espiritualidade?

Antes de respondermos a estes curiosos questionamentos, importante trazermos o que O Livro dos Espíritos diz a respeito das guerras. A obra básica de Allan Kardec possui um capítulo dedicado às leis morais que regem a vida espiritual, dentre elas a “Lei de Destruição”.[1] Ora, então é da natureza do Espírito a guerra? Sim e não.

Sabemos que existem Espíritos em diferentes graus de evolução, de forma que a sintonia do Espírito o atrai para mundos mais evoluídos se estes estiverem em ascensão espiritual, e para mundos menos evoluídos caso se encontrem ainda em grau de desenvolvimento primitivo. Sabemos também que o Planeta Terra se encontra no estágio de provas e expiações, ou seja, não tão primitivo na escala de progressão, mas ainda em busca da regeneração.

As guerras ocorrem em mundos selvagens habitados por Espíritos que ainda possuem fortes laços com a matéria e as paixões, civilizações que traçam um jogo de força entre seus interesses individuais.[2] Mas a guerra tende a desaparecer na medida em que estes Espíritos evoluem e praticam as leis divinas.[3]

Assim, não é correto afirmar que a guerra é inerente à natureza do Espírito, mas sim que está presente em trajetória espiritual por um período transitório, enquanto o Espírito não desenvolve totalmente suas capacidades pautadas nas leis do Cristo. Logo, não há guerras em mundos mais evoluídos, visto que os Espíritos que lá habitam adquiriram elevação espiritual incompatíveis com eventos mais rudimentares, como as guerras.

Então as guerras são necessárias? São planejadas pela Espiritualidade?

A Espiritualidade jamais realiza planejamentos que visam prejudicar a evolução dos Espíritos, muito pelo contrário. Na medida em que um Espírito se encontra na sua forma primitiva ou em desenvolvimento, passará por provas e expiações em mundos condizentes com referido grau evolutivo. Não é razoável dizermos que a Espiritualidade programa guerras, mas sim monitora o risco da ocorrência destes eventos em mundos marcados por civilizações ainda não evoluídas, jamais os desamparando. Lembrando que todo Espírito detém o livro arbítrio, tomando as rédeas de sua caminhada evolutiva; ainda que a Espiritualidade trace rotas para a condução deste Espírito, é ele que tem controle de seus passos.

Mas então por que a Espiritualidade não evita as guerras? Os Espíritos Benfeitores bem que tentam intervir sobre aqueles que estão em vias de cometerem atos de guerra, mas, como dito, os Espíritos possuem livre arbítrio em suas decisões. Estes Espíritos contam ainda com a influência de Espíritos inferiores, que, em manobra oposta aos Benfeitores, os persuadem para a guerra.

Contudo, uma guerra não só representa destruição sob a ótica espiritual, mas também reflete restabelecimento do equilíbrio; afinal, de toda destruição haverá uma reconstrução.

Esta lógica condiz com a lei moral do progresso: os Espíritos não nascem perfeitos, eles se desenvolvem em busca da perfeição. Assim, o caos será transformado em harmonia, e o desajuste em evolução. A Espiritualidade não dorme e está em constante assistência aos Espíritos em suas caminhadas rumo à evolução moral.

Camila Vieira
Fonte: Blog Letra Espírita


Referências:

[1] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Capivari, SP: Editora EME, 2019, capítulo 6.

[2] Idem, Ibidem, pergunta 742.

[3] Idem, ibidem, pergunta 743.


22 janeiro 2022

Reflexões - O Suicídio - Adelvair David



REFLEXÕES - O SUICÍDIO

É uma realidade triste e presente em todas as sociedades, em 2019, mais de 700 mil pessoas morreram por suicídio: uma em cada 100 mortes, o que levou a OMS a produzir novas orientações para ajudar os países a melhorarem a prevenção do suicídio e atendimento.

As razões, as suas causas vão ao infinito, pois que, cada pessoa sente o mundo e a si mesma conforme seus valores morais, sua evolução e seus sentimentos, mesmo quando o problema é semelhante a percepção de cada um é diferente.

De forma alguma desejamos minimizar o tormento que invade a alma de quem crê que essa é a solução, porém, compreendemos que a morte não existe, então o motivo que levou o aflito ao suicídio permanece acicatando o seu coração no outro plano da vida, o espiritual. Muitos que assim procedem dizem em mensagens que se pudessem voltariam atrás.

É necessário compreender que Deus não abandona os seus filhos em situação alguma, nem mesmo o suicida, sempre haverá no além mais de um amigo amoroso socorrendo, aconchegando, amando a fim de minimizar as ardências íntimas devido ao ato tresloucado, porém, importante sabermos que o enfrentamento da consciência é inevitável e dolorosa é a consequência, e ela dirá que nenhum de nós tem o direito de dispor da própria vida, pois somente Deus o pode.

Não devemos ser simplistas com relação à dor alheia, todos podemos acolher alguém que se encontra em desespero e sofrendo grande angústia, amparando, abraçando, aconselhando e encaminhando para os atendimentos especializados da ciência médica e psicológica, e ainda religioso quando a pessoa tem ou aceita uma religião. Mas é importante cientificar carinhosamente a pessoa que a morte não existe e que ela despertará com as impressões do seu ato muito presentes e perceberá que nada se resolveu, mas ao contrário, agravou-se.

Além de falar da imortalidade da alma, da busca do atendimento profissional adequado, podemos ajudar a pessoa a compreender que a prova neste mundo é temporária, que tudo passa e que a cada momento é possível recomeçar, esquecer ocorrências ruins, confiar na providência divina que permite o sofrimento a fim de lhe extinguir a causa que pode ser desta ou de outra vida, dizer ainda que Deus jamais nega ajuda a quem pede, orientar para a oração, orar com a pessoa, fazê-la perceber que não está sozinha.

Ensinam-nos os espíritos venerandos que o melhor preservativo contra o suicídio e a loucura são a calma, a resignação e a fé no futuro, porque dão serenidade para os enfrentamentos. Cultivemos esses valores e auxiliemos nossos irmãos também a fazê-lo, pois hoje servimos, amanhã somos os necessitados de que alguém nos sirva com o seu amor e dedicação.

Lembremo-nos sempre que ninguém foge da vida, porque ela prossegue, o amor será sempre o abrigo, o refúgio para todas as nossas dores, o amor que dermos nos abençoará os passos em toda parte.

Porque estaremos sempre vivos, vamos contribuir espalhando vida.

Adelvair David
Fonte:
Agenda Espírita Brasil


21 janeiro 2022

Mexericos reencarnatórios: a curiosidade de se saber quem foi quem - Marco Milani



MEXERICOS REENCARNATÓRIOS: A CURIOSIDADE DE SE SABER QUEM FOI QUEM

Não é de hoje que a questão sobre quem foi quem em reencarnações anteriores alimenta a fantasia de várias pessoas, geralmente aquelas desejando identificar em seu próprio passado elementos para satisfazer a curiosidade vaidosa.

No capítulo VII, de “O Livro dos Espíritos”, esclarece-se sobre a utilidade do esquecimento do passado. Em nosso atual estágio evolutivo, é proposital a inexistência de lembranças precisas sobre as experiências anteriores, pois, se assim não fosse, estaríamos expostos a gravíssimos inconvenientes.

Em alguns casos, as lembranças poderiam nos humilhar extraordinariamente; em outros, exaltar o nosso orgulho.

Allan Kardec sinaliza que, se quisermos saber como éramos, basta examinarmos as nossas tendências instintivas de hoje. Tendências boas expressam progresso moral. Tendências más explicitam orgulho e egoísmo, cabendo-nos o esforço do autoaprimoramento por meio de ações equilibradas.

Em casos específicos há utilidade em conhecer experiências passadas, porém sempre com seriedade e jamais para satisfazer uma curiosidade vã.

Modernamente, a Terapia de Vidas Passadas pode atuar nesse sentido, objetivando sanar transtornos e desconfortos psicológicos presentes por meio da revivência de experiências traumatizantes do passado. A catarse gerada atuaria favoravelmente na vida atual do indivíduo, alterando padrões de comportamentos nocivos para outros mais adequados. Certamente, essa técnica terapêutica deve ser desenvolvida por profissionais competentes que conseguirão avaliar a pertinência ou não de sua aplicação conforme as necessidades de cada paciente.

No movimento espírita, em particular, há adeptos com diferentes graus de maturidade sobre o assunto.

Alguns não se contentam com a curiosidade sobre si mesmos e também desejam perscrutar o passado alheio, especulando sobre as encarnações de personalidades variadas.

Nenhuma informação sobre “quem foi quem” revelada por um suposto médium, por mais famoso que esse seja, é isenta de dúvida. Toda revelação merece cuidado, principalmente se oriunda de uma única fonte.

Nos últimos anos, os entusiastas pelas reencarnações alheias dedicam tempo precioso para especular sobre o paradeiro de Emmanuel, o mentor espiritual de Chico Xavier que, segundo o médium mineiro, reencarnaria por volta do ano 2000.

Ora, supondo que essa informação seja verdadeira, qual é a utilidade de se saber onde está Emmanuel? Como ele se chama hoje? O que ele faz? A resposta é: nenhuma, além de se alimentar fantasias e misticismos.

Diferentemente de algumas tradições orientais que tentam identificar personalidades relevantes à própria religião, como os budistas fazem à procura do Buda reencarnado, não existe qualquer motivo útil no Espiritismo para buscas especulativas.

A Doutrina Espírita liberta consciências e esclarece sobre as reais necessidades dos seres. Todos nós reencarnamos para continuar a progredir moral e intelectualmente e refletimos as conquistas e erros que já tivemos em nossas muitas encarnações.

Hoje somos melhores do que ontem e trabalhemos para amanhã sermos melhores do que hoje.

Marco Milani
Jornal Correio Fraterno. Ed. 463. Jun/2015. p.6.
Fonte: Agenda Espírita Brasil

20 janeiro 2022

Déja Vu é um fenômeno Instigante - Jorge Hessen



DÉJÀ VU É UM FENÔMENO INSTIGANTE

O fenômeno se traduz por uma estranha impressão de já ter vivenciado a cena presente e mesmo saber o que se vai passar em seguida, ainda que a situação que esteja a ser vivida seja inédita. Conhecido como déjà vu, ou paramnesia (como também é conhecido), tem sido, ao longo dos anos, objeto das mais díspares tentativas de interpretação. Para Sigmund Freud, as cenas familiares seriam visualizadas nos sonhos e depois esquecidas e que, segundo ele, eram resultado de desejos reprimidos ou de memórias relacionadas com experiências traumáticas. Fabrice Bartolomei, Neurologista francês, a paramnesia é resultado de uma fugaz disfunção da zona do córtex entorrinal, situado por baixo do hipocampo e que se sabia já implicada em situações de "déjà vu", comuns em doentes padecendo de epilepsia temporal.

Experiências, conduzidas por investigadores do Leeds Memory Group, permitiram recriar, em laboratório e através da hipnose, as sensações de "déjà vu". Outros dados explicam que situações de stress ou fadiga possam favorecer, nesse contexto disfuncional, o aparecimento do fenômeno, mas a causa precisa deste "curto-circuito" cerebral permanece, ainda, uma incógnita.

Muitos de nós já tivemos a sensação de ter vivido essa situação que acabamos de relatar. Como já ter estado em um determinado lugar ou já ter vivido certa situação presente, quando, na realidade, isto não era de conhecimento anterior? Em alguns casos, ocorre a habilidade de, até, predizer os eventos que acontecerão em seguida, o que é denominado premonição. Seria um bug cerebral, premonição ou mera coincidência? A psiquiatria e a Doutrina Espírita explicam esta questão de formas diferentes.

Sabe-se que nossa memória, às vezes, pode falhar e nem sempre conseguimos distinguir o que é novo do que já era conhecido. "Eu já li este livro?" - "Já assisti a este filme?" - "Já estive neste lugar antes?" - "Eu conheço esse sujeito?" Estas são perguntas corriqueiras de nossa vida. No entanto, essas dúvidas não são acompanhadas daquele sentimento de estranheza que é indispensável ao verdadeiro déjà vu. Para alguns estudiosos, quando a sensação de familiaridade com as situações, lugares ou pessoas desconhecidas é freqüente e intensa, pode, até, ser um dos sintomas da epilepsia, na área do cérebro responsável pela memória, mas, essa mesma sensação pode indicar outros sintomas. Déjà Vu é um fenômeno anímico muito comum , embora de complexa definição científica.

Pode ocorrer com certa freqüência em indivíduos com distúrbios neuropatológicos, como a esquizofrenia e a epilepsia. Mas há, também, outras predisposições maiores por fatores não patológicos, como fadiga, estresse, traumas emocionais, excesso de álcool e drogas. Há, ainda, as teorias da psicodinâmica, da reencarnação, holografia, distorção do senso de tempo e transferência entre hemisférios cerebrais. São tão complexas as análises, que especialistas reagem contra a limitação do "vu", que restringiria ao mundo do que pode ser "visto", e já utilizam formas paralelas que fariam referência mais específica aos vários tipos de situação: "déjà véanus" ("já vivido"), "déjà lu" ("já lido"), "déjà entendu" ("já ouvido"), "déjà visité" ("já visitado") - o que pode, um dia, acarretar um "déjà mangé" ("já comido") ou um "déjà bu" ("já bebido").

Os especialistas, ainda, não sabem, concretamente, como ocorre, exatamente, a sensação do déjà vu em pessoas não epilépticas. A que ocorre em pessoas com a doença, no entanto, existem algumas hipóteses, como a batizada, pelo psicólogo Alan Brown, de "duplo processamento". (1) Segundo o psicólogo Alan Brown, professor da Universidade Southern Methodist, nos Estados Unidos, e autor do livro "The Déjà Vu Experience" (a experiência do déjà vu), dois terços da população mundial relatam ter tido, ao menos, um déjà vu na vida.

Para os conceitos espíritas tudo o que vemos e nos emociona, agradável ou desagradavelmente, nesta e nas encarnações pretéritas, fica, indelevelmente, gravado em alguma parte da região talâmica do cérebro perispiritual, e, em algumas ocasiões, a paramnesia emerge na consciência desperta. Pode, também, ser uma manifestação mediúnica se o médium entra, em dado momento, em um transe ligeiro, sutil, e capta a projeção de uma forma-pensamento emitida por um espírito desencarnado; essa é outra possibilidade.

A tese da reencarnação é difundida há milhares de anos. No Egito, um papiro antigo diz: "o homem retorna à vida varias vezes, mas não se recorda de suas pretéritas existências, exceto algumas vezes em sonho. No fim, todas essas vidas ser-lhe-ão reveladas." (2)

Em que pese serem as experiências déjà vu, segundo o academicismo, nada mais do que incidentes precógnitos esquecidos, urge considerar, porém, que existem situações dessa natureza que não podem ser explicadas dessa maneira. Entre elas, está em alguém ir a uma cidade ou a uma casa, pela primeira vez, e tudo lhe parecer muito íntimo, ao ponto de prever, com exatidão, detalhes sobre a casa ou a cidade; descreve, inclusive, a disposição dos cômodos, dos móveis, dos objetos e outros detalhes que estão muito além do âmbito da precognição normal. "Em geral, as experiências precógnitas são parciais e enfatizam certos pontos notáveis, talvez alguns detalhes, mas nunca todo o quadro. Quando o número de detalhes lembrado torna-se muito grande, temos que desconfiar, sempre, de que se trata de lembranças de uma encarnação passada". (3)

Apesar de não serem abundantes as publicações e depoimentos sobre o assunto, há teorias que associam o déjà vu a sonhos ou desdobramento do espírito, onde o espírito teria, realmente, vivido esses fatos, livre do corpo, e/ou surgiriam as lembranças de encarnações passadas, como disse acima, o que levaria à rememoração na encarnação presente. (4) Hans Holzer, registra uma história, em que ele descreve a experiência déjà vu: "durante a Segunda Guerra Mundial, um soldado se viu na Bélgica e, enquanto seus companheiros se perguntavam como entrar em determinada casa, em uma cidadezinha daquele país, ele lhes mostrou o caminho e subiu a escada à frente deles, explicando, enquanto subia, onde ficava cada cômodo. Quando, depois disso, perguntaram-lhe se havia estado ali antes, ele negou, dizendo que nunca havia deixado seu lar nos Estados Unidos, e estava dizendo a verdade. Não conseguia explicar como, de repente, se vira dotado de um conhecimento que não possuía em condições normais". (5)

Cremos que a experiência déjà vu é muito profunda e o sentimento é de estranheza. Devemos distinguir um sintoma do outro, pois, cada caso é um caso e nada acontece por acaso. Por ser um fenômeno profundamente anímico, é prudente separarmos as teorias da reencarnação, sonhos ou desdobramentos, das teorias de desejos inconscientes, fantasias do passado, mecanismo de autodefesa, ilusão epiléptica, entre outras, para melhor discernimento do que, realmente, seja uma paramnesia e o que seja, apenas, uma fantasia de nosso imaginário fecundo.


Referências:

(1) Disponível em
http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u566377.shtml

(2) Papiro Anana" (1320 A.C.)

(3) Revista Cristã de Espiritismo, edição 35

(4) Idem

(5) Idem

19 janeiro 2022

Por que ainda existe tanta violência? Ela um dia terá fim? - Donizete Pinheiro

 
POR QUE AINDA EXISTE TANTA VIOLÊNCIA? ELA UM DIA TERÁ FIM?

A violência reinante na Terra é sinal de que o instinto ainda prepondera. No princípio, quando o indivíduo era o troglodita das cavernas, equiparado a certos animais do nosso tempo, necessitava ele de mecanismos naturais que evitassem a destruição de sua espécie. Sem a razão que compreende e nem o sentimento que enobrece, só tinha a força bruta para repelir o ataque dos inimigos e proteger-se das intempéries. Forçado pela natureza a buscar mais conforto e segurança, desenvolveu a inteligência e amadureceu o sentimento, mas não o suficiente para dominar o instinto. Este, se importante no início da evolução da espécie humana, hoje se mostra perigoso aliado do orgulho, do egoísmo e da vaidade.

O valor que o indivíduo dá a si mesmo e às suas necessidades é inversamente proporcional à importância que ele dá ao seu próximo. Quanto mais gosta de si, menos vale o semelhante; quanto mais apego aos bens materiais, pouco se importa se os consegue em detrimento do patrimônio alheio. E quando se sente ferido em seu orgulho ou vê ameaçados os seus interesses, reage destruindo aquele ou aquilo que lhe é obstáculo, sem medir consequências. O instinto é perfeito, vai até o limite do necessário. Contrariamente, porém, o orgulho e o egoísmo não insaciáveis, sempre querem mais; são míopes, porque não conseguem enxergar senão a si próprios; e surdos, porque dão ouvidos somente aos apelos interiores.

Parece que o ser humano atual é mais violento do que o de ontem, mas na verdade, de uma maneira geral, ele é menos agressivo e menos cruel. Nessa avaliação, precisamos considerar que a população cresceu rapidamente desde o Século XIX e que hoje somos mais de 7 bilhões de pessoas ocupando o mesmo espaço, então é natural que a violência também tenha aumentado, e ao ser divulgada pela mídia sensacionalista dá-nos a impressão de que domina.

E Deus permite que isso esteja acontecendo porque vivemos os chamados tempos finais, em que muitos Espíritos estão tendo a última oportunidade de se adaptarem ao nosso planeta, que passa por uma transição para ser a morada de Espíritos em melhores condições morais. É a separação do joio e do trigo. O exame final desta fase do planeta. Recordemos as palavras de Jesus quando afirmou “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra” (Mateus, 5:5).

Certamente que, a violência terá um fim, mas este chegará mais depressa se cada um de nós começar logo a cultivar a mansuetude, a fraternidade e o respeito ao próximo; se rechaçar as ofensas com o silêncio e o perdão; se renunciar um pouco, para que seja possível a paz. É claro que podemos dialogar para esclarecer e inclusive usar a autodefesa, porque também é nosso dever impedir o crescimento do mal, ao mesmo tempo em que procuramos recuperar o criminoso. Tampouco podem ser excluídos os sistemas penais de contenção da criminalidade, porque ainda necessários à manutenção da ordem, ante a presença de infratores renitentes à mudança.

E quando na Terra estiverem vivendo apenas os mansos, o ser humano não mais buscará o paraíso, pois terá descoberto que o paraíso da felicidade mora dentro de si mesmo.

Donizete Pinheiro
Fonte: Agenda Espírita Brasil

Nota do Autor:

Texto do capítulo 26 – VIOLÊNCIA de livro do autor deste ensaio.


18 janeiro 2022

Atividades Espirituais - Manoel Philomeno de Miranda

 
ATIVIDADES ESPIRITUAIS

A dinâmica da ação é lei da vida. Em toda parte o movimento trabalha em favor da ordem e do equilíbrio. Por conseqüência, o repouso, a ociosidade propiciariam a ocorrência do caos.

Tudo quanto parece imóvel e imutável encontra-se em completa agitação, que os órgãos dos sentidos humanos e alguns delicados e complexos aparelhos não conseguem captar.

Sendo a vida terrestre natural efeito do mundo causal, de energia e de programação, neste as ações são responsáveis pelos valores que trabalham para a evolução espiritual do ser.

Nesses mundos intermediários entre o fisico e os mais felizes reinam incomparáveis movimentos de edificação, porquanto, também eles prosperam com a sua comunidade espiritual ascendendo na escala superior infinitamente.

Os espíritos que neles estagiam, são convidados a atividades inumeráveis, graças às quais dão prosseguimento aos labores que experienciaram na existência corporal e a morte não conseguiu interromper.

De outras vezes, programaram futuras realizações que deverão enfrentar, contribuindo para a renovação do planeta e a superação dos males que afligem as criaturas que hospedam.

Pesquisas nas diversas áreas da ciência, da tecnologia, do pensamento, das artes, da fé religiosa ampliam a capacidade de entendimento dos seus realizadores, que mais tarde transferirão para o planeta em ministérios enriquecedores e felizes.

Escolas e Universidades especializadas transferem o conhecimento das Esferas ditosas para esses laboriosos buscadores da verdade, que se capacitam para os futuros cometimentos iluminativos.

Não havendo lugar para a inação, o trabalho fraternal de auxílio recíproco faculta que sejam organizadas caravanas especiais de socorro às criaturas humanas, que passam a ser tuteladas pelo nobre auxílio, a fim de que se renovem, tenham as suas aflições minoradas quando não cessadas, e o amor se encarregue de equacionar os tremendos conflitos gerados pelo ódio, pela vingança e pela revolta, que remanescem naqueles que pretendem desforçar-se dos males de que foram vítimas, e sem apoio na confiança irrestrita em Deus, que a tudo corrige pelo amor, tomam nas mãos á clava da justiça e enlouquecem, ampliando os círculos das obsessões e as manifestações de doenças e dramas de toda natureza, que infligem aos seus desafetos com objetivos destrutivos...

Aprende-se a ajudar em anonimato reconfortante, oferecendo-se apoio e inspiração àqueles que se encontram algemados aos vícios e aos tormentos, sem nunca deixarem desanimar, mesmo quando os resultados não se fazem auspiciosos.

Treinam misericórdia em visitas de auxílio e amparo às regiões de sofrimentos inenarráveis, de onde procuram retirar aqueles que se apresentam com melhores disposições íntimas para o refazimento pessoal.

Assumem responsabilidades com muitos daqueles que aportam às províncias onde residem como náufragos, e são internados em clínicas próprias de acordo com as mazelas que conduzem, assim como de repouso e refazimento, para a adequada reconquista da saúde e da paz interior.

Simultaneamente, reconstroem-se grupos familiares que volverão à Terra, a fim de repararem equívocos juntos ou construírem novas edificações de harmonia.

Não sendo necessários largos períodos para o repouso, em razão da inexistência do cansaço, o desenvolvimento de atividades é sempre ampliado, com intervalos de auspiciosos encontros de arte e de beleza ou para se poder fruir as esplendorosas mensagens da Natureza sem a poluição mental, geradora das demais que ameaçam a vida terrestre.

Os espíritos intercambiam sentimentos de afetividade pura e profunda, sem quaisquer tormentos egotistas e derivados das faixas primevas do processo evolutivo. O sexo apresenta-se sem as particularidades morfológicas, mantendo-se as expressões recentes da reencarnação anterior, porém, sem os impulsos perturbadores da libido, a manifestar-se em outros departamentos da emotividade.

Não há competição destrutiva, em que alguns pretendam o pódio da glória, porque o maior servidor sempre passa sem a ostentação nem a volúpia da fatuidade humana.

Todos empenham-se em trabalhar pelo próprio, assim como pelo crescimento geral, esforçando-se em cooperar e produzir, conscientes dos deveres que produzem a realização da felicidade.

Desde as mais inexpressivas até as mais desafiadoras atividades, esses mundos espirituais ensejam o prosseguimento da vida em contínuo dinamismo. Eis por que o ultrapassado conceito morrer para descansar, faz-se substituído por viver além-da-morte para prosseguir em crescimento infatigável no rumo do Infinito.

Treine-se na Terra a ação que prodigaliza ventura, e após a morte do veículo físico, prosseguir-se-á em atividade ordeira e confortadora com que sempre se apresentará a vida no seu sentido imortal.

Manoel Philomeno de Miranda
Psicografia de Divaldo Pereira Franco
Livro: Reencontro com a Vida - 17

17 janeiro 2022

Dentro do “pão de cada dia” – Orson Peter Carrara

 
DENTRO DO "PÃO DE CADA DIA"

Peço ao leitor raciocinar comigo. O texto apresenta uma argumentação que pode ser encarada como um pedido de alguém que deseja acertar, que procura entender, que faz um esforço por ser melhor. E mais: enquadra-se perfeitamente em nosso tempo. Tanto nos conflitos e questionamentos interiores que todos fazemos como na realidade do cotidiano nacional e mundial, diante dos desmandos humanos. A tradução é de Salvador Gentile.

Acompanhe comigo. Diz o texto: “(…) Afastai também de nosso espírito o pensamento de negar a vossa justiça, vendo a prosperidade do mau e a infelicidade que oprime, por vezes, o homem de bem. Sabemos agora, graças às novas luzes que vos aprouve dar-nos, que a vossa justiça se cumpre sempre e não falta a ninguém; que a prosperidade material do mau é efêmera como a sua existência corporal, e que terá terríveis reveses, ao passo que a alegria reservada àquele sofre com resignação será eterna. (…)”.

O trecho, que é parcial dentro de uma análise mais longa de mais de uma página, enquadra-se na realidade do que estamos vivendo no planeta. A prosperidade desonesta desenfreada e gerada pela ambição desmedida, em prejuízo de outros que se esforçam no trabalho e na honestidade, com infelicidade, indignação e as vezes até revoltas com os abusos de toda ordem.

Por outro lado, a constatação dessas ilusões que passam com a mesma rapidez com que passa a vida. E, claro, com as consequências advindas dos abusos e arbitrariedades praticadas com ou sem consciência dos malefícios que espalham.

Não falamos apenas das crises políticas que perduram. Falamos de nós mesmos, seres humanos que se permitem abusos, ilusões, desejando a todo custo a felicidade ou a prosperidade, mesmo que a custo do prejuízo alheio ou da infelicidade de outras pessoas, ainda que não diretamente.

Mas, o raciocínio é claro. Que nos afastemos do pensamento de achar que a justiça maior não age, nem é indiferente. Existe um comando para a vida que estabeleceu leis que geram consequências toda vez que ultrapassamos o dever de amar e respeitar a integridade alheia, em todos os sentidos, repetimos, ainda que indiretamente.

A justiça sempre se fará presente, senão pelos frágeis mecanismos humanos, mas perene nos tribunais da Divina Consciência.

Referida exortação é um convite para que não nos revoltemos com as injustiças, com os desmandos, com os abusos. Antes que tenhamos compaixão com os que ignoram a Lei de Amor que rege os destinos humanos. Nem duvidemos da justiça perene que comanda vida, anda que desrespeitada. As consequências dos abusos serão sempre amargas, exigindo reparações no tempo e no espaço.

Por isso muito mais sábio a resignação que aguarda, que tem compaixão e ainda ora em favor daqueles que se perdem nos equívocos.

O citado e brilhante trecho está no capítulo XXVIII na apreciação de Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, e contido no contexto que estuda a Prece Dominical, perfeitamente enquadrado no quesito Dai-nos o pão de cada dia. Como a indicar que o pão de cada dia também é essa postura de resignação e confiança na Paternidade Divina que tudo comanda, não abandona seus filhos e ainda permite os abusos para que aprendamos finalmente a respeitar e cumprir a Lei de Amor, mandamento máximo das leis divinas.

Dai-nos, pois, Pai, o pão da compreensão com as fraquezas, equívocos e abusos alheios a que todos estamos sujeitos, mas também o pão da fortaleza que alimenta para não cairmos nessas tolas e vazias ilusões do poder, da ganância, da vaidade, da ambição.

É o pão que alimenta em todos os sentidos, perde seu sentido figurado para ganhar em extensão de autêntico significado espiritual para o equilíbrio de nossas vidas.


Por Orson Peter Carrara