Total de visualizações de página

30 novembro 2011

A Vida Verdadeira - Francisco de Paula Vítor


A VIDA VERDADEIRA

“Eu vim para que tenhais vida...” - Jesus (Jo, 10:10)

Entendendo a amplitude do conceito de vida, na Terra, e pensando na afirmativa de Jesus de que viera nos trazer vida, torna-se imperioso meditar na profundidade da questão.

Ele trazia vida para quem já estava na vida e vivo? Certamente que não. Ele vinha portando uma mensagem de vida espiritual para quem se encontrava num contexto de vida mortificada.

A vida espiritualizada corresponde a toda atividade da alma que exprime fidelidade ao bem, à alegria, ao trabalho digno, à esperança, à confiança nas resoluções de Deus e confiança no progresso do ser humano.
Essa vida interior também se nutre da convivência fraterna na sociedade, da exaltação das virtudes, da eliminação de tudo o que represente viciação, corrupção, defecção.

Em contrapartida, a morte será indicada por tudo o que insufle ou alimente a traição, a ignorância, a concupiscência, a exploração do homem pelo homem, a prostituição no seu sentido mais amplo, o desrespeito às bases da família, indicando descaso ou indiferença para com os valores das leis de Deus. Essa morte moral é fermentada pelos posicionamentos de descaso para com os movimentos do progresso de si mesmo, quando se prefere o nivelamento do ser pelas faixas inferiores da alma humana que, em situações assim, muito se assemelha aos níveis da selvageria, aos degraus da grosseria e brutalidade, quando não os ultrapassa.

A vida que Jesus veio trazer não é aquela que faz vicejar corpos esbeltos, mas aquela que faz brilhar almas formosas.

Por isso é que Ele se dirigia a quem se movia em corpos carnais, mas que padeciam de indescritíveis torturas da alma.

Daí ter Ele falado em vida abundante a quem se habituara a uma vivência mesquinha, empobrecida, apequenada.

Sua lição é, assim, para todos os tempos e povos, pois, quando encontramos sociedades ricas e homens pobres, medicinas desenvolvidas e homens enfermos, estados poderosos e homens escravos, religiões faiscantes de adereços e discursos pomposos e homens egoístas e materializados, à cata dos imediatismos perturbadores de um dia, sentimos a razão da mensagem do Mestre Nazareno: “Eu vim para que tenhais vida, e vida abundante”.

Permitamo-nos buscá-la, permitamo-nos vivê-la para que experimentemos a ventura dentro d’alma, desde aqui, das lidas terrenas, aclimatando-nos, pouco a pouco, à vivência ditosa junto aos Emissários da Vida Maior, que refletem, junto a nós, o pensamento do Cristo.

Ele é aquele que nos traz a vida verdadeira, vibrante, feliz, abundante, propondo-nos fazer nobre uso dela, a fim de que Nele possamos viver para sempre.

De “Quem é o Cristo?”
De J. Raul Teixeira
Pelo Espírito Francisco de Paula Vítor

29 novembro 2011

Por Amor a Deus - Irmão X


POR AMOR A DEUS

Diz antigo rifão que “mortalha não tem bolso”. A filosofia popular quer dizer que para os mortos terminaram todos os interesses. A maioria dos homens observa na morte o ponto final da vida. Nessa conceituação do transe derradeiro do corpo físico, os sentimentos mais belos que exornam a personalidade desaparecem com o cadáver, no banquete dos vermes.

Comumente, as criaturas temem a grande transformação. No leito dos moribundos, verifica-se o duelo cruel, em que a morte é sempre o adversário vitorioso. Não prevalecem aí os regulamentos alusivos à idade dos contendores, não prepondera o parecer dos médicos, nem o ritual dos sacerdotes. O inimigo invisível triunfa sempre, deixando às testemunhas amedrontadas os despojos do vencido, com passagem direta para o forno crematório ou para as estações subterrâneas, onde os ossos do morto repousarão, de acordo com as possibilidades financeiras da família. Há túmulos gloriosos, como os cenotáfios ilustres; e multiplicam-se, em toda parte, as sepulturas humildes, através das quais os filhos dos homens adubam incessantemente o solo, enriquecendo-o de húmus fecundante.

A alma do morto, porém, segue a sua trajetória. Impossível extinguir nela os sentimentos, as disposições interiores, as características, os afetos, que se espiritualizarão, vagarosamente, com o tempo e com o auxilio do Divino Poder. E porque as afinidades psíquicas são fatais como as leis biológicas, os desencarnados frequentemente gastam anos a desatar os laços que os prendem ao mundo, quando é preciso, de fato, desfazê-los, consoante os imperativos da evolução espiritual.

Muitos deles, dos que já atravessaram a corrente do Estige, desejariam a libertarão imediata de todas as influências terrestres. Entretanto, a alma é a sede viva do sentimento e de modo algum poderiam trair o coração. Constrangidos a seguir os vivos pela amorosa atração que lhes vibra no ser, demoram algum tempo entre as sombras que se estendem do fundo vale da incerteza ao monte luminoso da decisão.

Existiu um jovem irlandês, de nome Cornélius Magrath, que morreu aos vinte e dois anos, com a estatura de mais de dois metros e meio. Tendo despertado muito interesse da Ciência pelo seu caso de gigantismo, pediu aos amigos e pagou para que seu corpo fosse atirado ao mar, quando a morte lhe arrebatasse a vida. Todavia, mau grado ao seu desejo, a medicina da Inglaterra adquiriu-lhe o esqueleto, que foi conservado atenciosamente na Associação dos Cirurgiões de Londres, com objetivo de estudo.

Ocorre o mesmo com alguns mortos da Terra, que suplicam e pagam para que sua alma seja atirada ao oceano do esquecimento, de modo a se subtraírem à curiosidade dos vivos; mas a redenção exige o contrário e o Espírito semi-liberto permanece, por tempo indeterminado, na vizinhança dos homens, atendendo, muitas vezes, a imposições estranhas à sua própria vontade.

No quadro de obrigações dessa natureza, temos um companheiro que recebeu a incumbência de demorar alguns anos entre as associações terrenas, para suportar as dolorosas trepanações dos que fazem a cirurgia dos estilos, com objetivo de esclarecimento geral. Sofria bastante, na submissão a esse processo de auxiliar a Ciência, porque nem todos os cirurgiões o examinavam com a precisa assepsia espiritual, mas obedecia, satisfeito, consciente de cooperar na solução de grandes problemas do destino e da morte. No desenvolvimento de seus misteres, todavia, foi assaltado pelo incoercível desejo de revelar-se aos amigos de outro tempo, encasulados na carne, e, para tanto, começou a escrever-lhes páginas sentidas de carinho e saudade, vazando-as com o sentimento de seu coração. Seus companheiros antigos, porém, não lhe compreenderam as novas disposições. Uniram-se aos intransigentes cirurgiões da literatura e exigiram que o desencarnado viesse atendê-los, tal qual vivera no mundo, cheio das enfermidades e idiossincrasias oriundas dos vários agentes físicos que lhe determinavam a organização psíquica defeituosa. Sensível e afetuoso, ele lhes entregou os pensamentos mais nobres, porém os amigos reclamaram-lhe as vísceras mais grosseiras ; trouxe-lhes as idéias novas que lhe banhavam o íntimo, entretanto, requisitaram-lhe as velhas fórmulas que, noutra época, lhe encarceravam o ser ; dedicou-lhes a expressão mais alta de sua vida espiritual, mas pediram-lhe a revelação da vida mais baixa, com a apresentação das próprias glândulas doentes que a terra guardou para felicidade dele.

Algo preocupado, procurou o esclarecimento dos orientadores do serviço. Expôs o seu caso, comentou suas mágoas e apresentou suas razões.

Um deles, porém, o que chefiava o trabalho geral, pelo tesouro de amor e sabedoria que ajuntou no curso dos séculos, respondeu com serenidade :

– Cale em seu coração, meu filho, as angústias do homem antigo. Volte ao seu campo de ação e satisfaça a própria consciência. Todo particularismo é cárcere. Lembre-se de que as dádivas do Pai são comuns a todos nós, que as idéias não têm nome e de que o espírito é universal.

Nem mais uma palavra. O companheiro sorriu, trocou o manto roto, calçou duas sandálias novas, voltou ao serviço e, como aconteceu ao jovem irlandês que prosseguiu exibindo os ossos, por interesse da Ciência, ele continuou a espalhar as sementes das idéias, por amor a Deus.


Pelo Espírito Irmão X
Do livro: Lázaro Redivivo
Médium: Francisco Cândido Xavier

28 novembro 2011

Adversários Espirituais - Joanna de Ângelis


ADVERSÁRIOS ESPIRITUAIS

A ação do bem provoca, inevitavelmente, uma reação de violência naqueles que se comprazem no clima da viciação.

O esforço desprendido em favor da mudança emocional e psicológica das criaturas desperta um sentimento de revolta em muitos que se demoram nas licenças perniciosas.

Porque há tentativas em prol de um mundo menos infeliz, surgem movimentos que pretendem manter o estado vigente.

***

Há mentes que conspiram contra a tua dedicação e fidelidade ao ideal do bem.

Não te causem estranheza as dificuldades que se apresentam ante as tuas disposições de serviço edificante.

São inspiradas e promovidas pelos adversários ocultos, que se atribuem o direito de malsinar e perseguir.

Eles crivam a alma dos que lhe caem em desagrado com as farpas do ódio, gerando, em sua volta, cizânia, mal-estar e antipatia.

Promovem inveja de curso perigoso e estabelecem mal-entendidos de efeitos desagradáveis.

Excitam uns e adormecem outros, enquanto expõem o bom e o belo.

Recorrem a expedientes desonestos, desde que te desanimem o esforço.

Atrevem-se à agressão e armam os insensatos que convivem na mesma faixa vibratória, desejando paralisar-te o trabalho.

São os Espíritos imperfeitos, os impiedosos, que se alimentam, que se alimentam dos pensamentos mais sórdidos, vivendo uma psicosfera densa, onde estabelecem o seu campo de ação e aí se movimentam, que se fazem adversários gratuitos.

Respeita-os, sem os recear.

Não sintonizes com os seus ardis, nem reajas pela revolta ou mágoa, a fim de que não sincronizes psiquicamente com eles ou os que se lhes fazem
dóceis instrumentos.

O bem dá-te uma couraça de resistência e defesa.

***

Jesus, por todos os títulos, o Amigo Excelente, foi por eles visitado e, na ignorância em que se debatiam, não tergiversaram em intentar dificultar-Lhe o superior ministério. Como nada podiam conseguir diretamente, não desistiram: insuflaram invejas, ódios, perseguições e desequilíbrios contra o Senhor, que os venceu com o amor transcendente e sublime de que era dotado.

Joanna de Ângelis

De “Roteiro de Libertação”
De Divaldo P. Franco
Ditado por Diversos Espíritos

27 novembro 2011

Amor e Carma - Adenáuer Novaes


AMOR E CARMA

Muitas criaturas se ligam a outras por impositivos da Lei de Causa e Efeito, que geralmente faz com que o credor se uma ao devedor de si mesmo. Nas dificuldades de relacionamento, costuma-se evocar esse princípio como justificativa para as desavenças domésticas, porém, deve-se estar atento para as imperfeições próprias de cada um e que não estão relacionadas com o modo de ser do outro.

O casamento é portal de crescimento, qualquer que seja o passado dos cônjuges. Ligar-se a alguém é sempre opção de cada um, sem que signifique necessariamente anterior ligação cármica.

Quando o amor está presente numa relação, ele é capaz de suplantar qualquer carma passado, desde que o indivíduo não projete no outro suas próprias imperfeições.

O amor transcende a matéria da carne renascendo a cada nova etapa da Vida do espírito. Os vínculos afetivos entre as criaturas se fortalecem a cada encarnação, objetivando o amor puro e sincero.

Os vínculos que firmamos numa encarnação não quebram aqueles que fizemos nas vidas anteriores. O verdadeiro amor não se acaba nem diminui com a convivência do ser amado com outrem. Casar com alguém não significa prender-se àquela pessoa nas encarnações futuras. Os vínculos se fortalecem pelo amor, porém, podemos estar ligados a alguém se o agredimos numa existência e ele não se equilibrou, necessitando novamente de nossa presença em sua vida para o aprendizado mútuo.

Entregar-se ao comando do amor é libertar-se dos atavismos que nos prendem ao sofrimento. Quem se deixa viver pelo amor alcança a plenitude libertando-se de carmas passados, entendendo o sofrimento como processo educativo salutar.

Transformar seu carma negativo em positivo é colocar a energia do amor a serviço do Bem Maior. Só o amor pode mobilizar e alterar o destino no sentido do crescimento espiritual.

O amor nunca se acaba. Por mais inconseqüentes sejam as atitudes do outro, o amor verdadeiro permanece, desculpando e amparando o ser amado que momentaneamente desequilibrou-se.

Quando o amor já vem ferido de outras vidas, costuma reaparecer nas uniões provacionais. Se você se encontra nessa situação, verifique o que ainda não aprendeu com a nova união. É importante fazê-lo antes que seja tarde, para sua felicidade.

As uniões ditas cármicas podem se tornar uniões felizes desde que um dos cônjuges se disponha ao amor e a tornar o outro feliz. Repense sua união a fim de não ter que retornar nas mesmas circunstâncias.

Se você não mais deseja reencarnar na companhia de determinada pessoa, não a agrida. Termine a relação sem gerar carma negativo. Aprenda a conviver, como amigos.

Perceba que o amor de Deus coloca a serviço do ser humano Sua misericórdia, para diminuir os efeitos das atitudes negativas do passado, permitindo-lhe sua recuperação.

Não espere tempo algum para ajudar alguém com seu amor, sob pretexto da necessidade de que haja sofrimento para o progresso espiritual dele. Se possível, diminua aquele sofrimento.

Aprende você e aprende o outro.

Ninguém é dono da vida de ninguém. A desencarnação promove a alforria necessária para muitos indivíduos que se sentem presos na vida a alguém. Liberte-se libertando o outro da posse excessiva.

Não se obrigue a vincular-se a alguém por pena ou piedade.

Verifique suas necessidades evolutivas e o bem que você poderá fazer ao outro lhe permitindo sentir-se em igualdade de condições com seus semelhantes. Se a vida o colocou ao lado de alguém que necessita de cuidados, faça-o com consciência de seu papel e de sua responsabilidade.

O carma do filho deficiente coloca frente a frente antigos amores e, às vezes, antigos desafetos. A mãe que se dedica ao filho deficiente é duas vezes mãe, pois coloca acima de tudo o amor pelo seu filho que é diferente dos outros.

Não guarde mágoa em seu coração. Não o manche com a tinta negra do ódio. O verdadeiro amor não se magoa, pois compreende a atitude do outro, própria de seu nível de evolução.

***

Jesus reencarnou sem carma para nos ensinar, através de sua mensagem, como aprender com nossos equívocos do passado.

Fonte: capítulo 10 do Livro "Amor Sempre" de Adenáuer Novaes

Adenáuer Novaes (Salvador–BA) é conferencista, diretor da instituição filantrópica Fundação Lar Harmonia, do Centro Espírita Harmonia e do Centro Espírita Casa de Redenção Joanna de Ângelis, em Salvador.

26 novembro 2011

A Criança e o Culto do Evangelho no Lar - Izabel Bueno


A CRIANÇA E O CULTO DO EVANGELHO NO LAR

O Culto do Evangelho no Lar é a reunião da família para o estudo do Evangelho de Jesus.

O Nosso Mestre Jesus, reunindo com os seus discípulos na casa de Pedro, em uma noite prateada de luar, imprimindo rumo edificante à conversação, convidou os familiares do apóstolo à meditação elevada, e desenrolando os escritos da sabedoria, abriu na Terra, o primeiro culto cristão do lar, conforme narrativas do Espírito de Neio Lúcio, no livro "Jesus no Lar".

O nosso orientador Emmanuel nos afirma: "Quando o Evangelho penetra o Lar, o coração abre mais facilmente a porta ao Mestre Divino.

Tratando-se do estudo do Evangelho no lar, as crianças devem participar dessa reunião para iniciar desde cedo, o aprendizado das verdades eternas.

Sendo o lar "a primeira e a melhor escola onde recebemos as bases do sentimento para a formação do caráter", os princípios de responsabilidade serão consolidados pela compreensão dos ensinamentos evangélicos.

No ambiente do lar espírita, a evangelização da criança se processa através da orientação educativa oferecida pelos pais, o que se fundamenta no exemplo, nas palavras e nos atos, em todos os momentos da vida; garantindo uma percepção mais profunda dos problemas "do ser e do destino", considerando os valores morais.

Com as lições aprendidas na Escola de Evangelização Espírita e no Culto do Evangelho no lar, a criança será iniciada na aprendizagem dos ensinos de Jesus, preparando-se naturalmente para o estudo sistemático da ciência espírita.

Para suscitar o interesse das crianças, no horário do estudo do Evangelho no lar, devem ser estudadas as parábolas de Jesus, podendo também ser narradas histórias e cantadas músicas que lembrem as lições evangélicas.

Com este estudo metódico e perseverante, as crianças receberão as primeiras lições de moral, pois, será levado em conta o elemento espiritual nos fenômenos da vida, concorrendo assim, para a efetivação da educação integral.

Concluindo que o estudo da Doutrina Espírita constitui uma necessidade para o espírito humano, é imprescindível a sua continuidade, não somente no Centro Espírita, mas também em casa, porque além de contribuir para a ampliação do real conhecimento da vida verdadeira, envolve o lar em vibrações de paz e harmonia.

De "Crianças e Jovens"
De Izabel Bueno

25 novembro 2011

Na Escola do Evangelho - Humberto de Campos


NA ESCOLA DO EVANGELHO

Oferecendo este esforço modesto ao leitor amigo, julgo prudente endereçar-lhe uma explicação, quanto à gênese destas páginas.

Dentro deles, sou o primeiro e reconhecer que os meus temas não são os mesmos. Os que se preocupam com a expressão fenomênica, da forma não encontrarão, talvez, o mesmo estilo. Em período algum, faço referências de sabor mitológico. E, naqueles velhos amigos que, como eu próprio aí no mundo, não conseguem atinar com, as realidades da sobrevivência, surpreendo, por antecipação, as considerações mais estranhas. Alguns perguntarão, com, certeza, se fui promovido a ministro evangélico.

Semelhante admiração pode ser natural, mais não será, muito justa. O gosto literário sempre refletiu as condições da vida do Espírito. Não precisamos muitos exemplos para justificar o asserto. Minha própria atividade literária, na Terra, divide-se em duas fases essencialmente distintas. As páginas do Conselheiro XX são muito diversas das em que vazei as emoções novas que a dor, como lâmpada maravilhosa, me fazia descobrir, no país da minhalma.

Meu problema atual não é o de escrever para agradar, mas o de escrever com proveito.

Sei quão singelo é o esforço presente; entretanto, desejo que ele reflita o me testemunho de admiração por todos os que trabalham, pelo Evangelho do Brasil.

Nas esferas mais próximas da Terra, os nossos labores por afeiçoar sentimentos, à exemplificação do Cristo, são também minuciosos e intensos. Escolas numerosas se multiplicam para os espíritos desencarnados. E eu, que sou agora um, discípulo humilde desses educandários de Jesus, reconheci que os planos espirituais têm também o seu folclore... Os efeitos heróicos e abençoados muitas vezes anônimos no mundo, praticados por seres desconhecidos, encerram aqui profundas lições, em que encontramos forças novas. Todas as expressões evangélicas têm, entre nós, a sua história viva. Nenhuma delas é símbolo superficial. Inumeráveis observações sobre o Mestre e seus continuadores palpitam nos corações estudiosos e sinceros.

Dos milhares de episódios desse folclore do céu, consegui reunir trinta e trazer «o conhecimento do amigo generoso que me concede a sua atenção. Concordo em que é pouco; mas, isso deve valer como tentativa útil, pois estou certo de que não me faltou o auxílio indispensável.

Hoje, não mais cogito de crer, porque sei. E aquele Mestre de Nazaré polariza igualmente as minhas esperanças. Lembro-me de que, um dia, palestrando com alguns amigos protestantes, notei que classificavam a Jesus como “rocha do século”. Sorri e passei, como os pretensos espíritos fortes de nossa época, aí no mundão. Hoje, porém, já não posso sorrir, nem passar. Sinto e “rocha,” milenária, luminosa e sublime, que nos sustenta o coração atolado no pântano de misérias seculares. E aqui, estou para lhe prestar o meu preito de reconhecimento com estas páginas simples, cooperando com os que trabalham devotadamente na sua causa divina, de luz e redenção.

Jesus vê que no vaso imundo de meu espírito penetrou uma gota de seu amor desvelado e compassivo. O homem perverso, que chegava da Terra, encontrou o raio de luz destinado à purificação de seu santuário. Ele ampara os meus pensamentos com a sua bondade sem limites. A ganga terrena ainda abafa, em meu coração, o ouro que me deu da sua misericórdia; mas, com,o Bartolomeu, já possuo o bom ânimo para enfrentar os inimigos de minha paz, que se abrigam em mim mesmo. Tenho a alegria do Evangelho, porque reconheço que o seu amor não me desampara. Confiado nessa proteção amiga e generosa, meu Espírito trabalha e descansa.

Agora, para consolidar a estranheza, dos que me lêem, com o sabor de crítica, tão ao gosto do nosso tempo, justificando a substância real das narrativas deste livro, citarei o apóstolo Marcos, quando diz (4:34) : “E sem parábola nunca lhes falava; porém, tudo declarava em particular aos seus discípulos”; e o apóstolo João, quando afirma (21:25) : “Há, porem, ainda muitas outras coisas que Jesus fez e que, se cada uma de per si fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem”.

E é só. Como me sê, não faço referencia aos clássicos da literatura antiga ou contemporânea. Cito Marcos e João. E que existem, Espíritos esclarecidos e Espíritos evangelizados e eu, agora, pego a Deus que abençoe a minha esperança de pertencer ao número destes últimos.

Pedro Leopoldo, 9 de novembro de 1940.
Humberto de Campos

Do livro “Boa Nova”
Psicografia de Francisco Cândido Xavier

24 novembro 2011

Amor a Si Mesmo - Momento Espírita


AMOR A SI MESMO

A síntese proposta por Jesus, em torno do amor, é das mais belas psicoterapias que se conhece: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Ante a impossibilidade de o homem amar a Deus em plenitude, já que tem dificuldade em conceber o absoluto, realiza o mister, invertendo a ordem do ensinamento,amando-se de início, a fim de desenvolver as aptidões que lhe dormem em latência.

Esforçando-se para adquirir valores iluminativos a cada momento, cresce na direção do amor ao próximo, decorrência natural do autoamor, já que o outro é extensão dele mesmo.

Então, finalmente conquista o amor a Deus, em uma transcendência incomparável, na qual o amor predomina em todas as emoções e é o responsável por todos os atos.

O Espírito Joanna de Ângelis, através da mediunidade de Divaldo Franco, apresenta a necessidade primeira de autoamor, como alavanca fundamental para a conquista de todas as esferas desse sentimento supremo.
Mas, de que forma amar a si mesmo?

O como a si mesmo, da proposta de Jesus, é um imperativo que não deve ser confundido com o egoísmo, ou o egocentrismo.

Amar a si mesmo significa respeito e direito à vida, à felicidade que o indivíduo tem e merece.

Trata-se de um amor preservador da paz, do culto aos hábitos sadios e dos cuidados morais, espirituais e intelectuais para consigo mesmo.

É sempre estar fazendo as melhores escolhas para si mesmo, vendo-se como Espírito imortal, sem nunca deixar de respeitar, obviamente, o bem comum.

Quando escolho amar mais minha família, dedicando-me inteiramente aos relacionamentos, cultivando a paciência e a tolerância, estou amando a mim mesmo.

Quando escolho perdoar e deixar de levar comigo o peso de uma mágoa, estou amando a mim mesmo.

Quando escolho aprender, buscando aprimoramento intelectual nas áreas do conhecimento de meu interesse, estou me autoamando.

Quando me aceito como sou e vejo em minhas imperfeições situações temporárias - uma vez que me esforço para corrigir meus erros - estou amando a mim mesmo.

Quando me dedico, diariamente, ao exame de consciência, à meditação, ao autoconhecimento, estou dando provas de amor a mim mesmo.

São exemplos de atitudes, de pensamentos e sentimentos que elevam nossa auto-estima - que é este julgamento que fazemos de nós mesmos - e nos empurram sempre para frente, para a felicidade.

O auto-amor proporciona uma visão mais clara de quem se é, do que se deseja e do que não se deseja para si.

É através dele que estabelecemos metas para nossa existência: metas educacionais, familiares, sociais, artísticas, econômicas e espirituais, pensando em nós não apenas agora, mas nos cuidados para com o futuro.

Somos todos importantes. Criaturas únicas no Universo que buscam a felicidade através do aprender a amar: a si, ao outro e a Deus.

Ame a você mesmo... Enquanto é hoje.


Redação do Momento Espírita, com base no cap. 13, do livro Amor, imbatível amor, de Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.

23 novembro 2011

O Pensamento Comum para Unir os Espíritas - Orson Peter Carrara


O Pensamento Comum para Unir os Espíritas

Divergências à parte, sempre fruto dos estágios de amadurecimento e entendimento da proposta espírita, onde estarão unidos os espíritas? Em que ponto deverão apoiar-se para se encontrarem num pensamento comum?

Há uma receita para este desejado encontro!

Antes de apresentá-la, consideremos:

  • Existem polêmicas sobre este ou aquele ponto. Elas geram desentendimentos, desuniões e até antipatias pessoais. Posturas incoerentes com a Doutrina.
  • Há publicações de livros espíritas em grande escala na atualidade. Neste ponto há excessiva preocupação com a qualidade (nem sempre recomendável) das publicações e a imprensa perde precioso espaço preocupada em combater, quando deveríamos somente semear e construir. Na verdade, nesta área, aquilo que pode ser inútil e repetitivo para uns pode ser de grande utilidade para outros, levando-se em contas os diferentes estágios humanos. O que não serve para um pode ser necessário para outro. Tudo tem sua utilidade, mesmo aquilo que não alcance os estágios da razão e do bom senso. Sempre em razão dos níveis evolutivos. Isto não invalida o esforço que todos devemos perseguir para colocar a Doutrina, em toda a sua grandeza, nas atividades espíritas a que nos dediquemos. A própria trajetória humana, no processo evolutivo, mostra isso, misturando seres em diferentes degraus de intelecto e moralidade.
  • Qualquer tentativa de imposição ou constrangimento de idéias está distante da proposta espírita.
  • Ninguém tem o direito de arvorar-se como "dono da verdade". Somos todos aprendizes. Podemos estar absolutamente certos e coerentes num ponto, mas absurdamente distantes da Doutrina em outro ponto. Sempre fruto do amadurecimento e entendimento que temos com relação aos postulados doutrinários.
  • As diferentes posturas de prática espírita refletem o conhecimento dos integrantes ou dirigentes dos grupos, cujo universo pode ser analisado sob qualquer ângulo que se queira. Ora, isto é absolutamente natural numa Doutrina altamente democrática e respeitadora das diferenças individuais.
  • Os estágios destoantes, de aberrações doutrinárias, incoerentes com a genuína Doutrina Espírita, na verdade preparam futuros trabalhadores e iniciam muita gente nos conhecimentos sobre a imortalidade e comunicabilidade dos espíritos, mesmo que por agora de maneira muitas vezes até escandalosa. São estágios de treinamento, abrindo caminhos. No futuro, serão concordes com a orientação doutrinária.
  • A preocupação com a defesa em favor da Doutrina é desnecessária. A Doutrina fala por si e se os espíritas conscientes estudarem e colocarem em prática o que o Espiritismo traz, esta semeadura fará a defesa. Claro que devemos esclarecer de maneira permanente, usando os veículos de comunicação disponíveis, mas para semear o bem e nunca para atacar.
  • Os esforços de união dos espíritas, atendendo aos apelos da Espiritualidade, devem merecer nossa melhor atenção, pois que somente eles são instrumentos capazes de sanar as dificuldades trazidas pelas fraquezas humanas e pelos diferentes níveis de entendimento doutrinário.
  • Uma coisa é a assimilação dos ensinamentos espíritas pelos espíritas. Outra coisa é a ação que esta assimilação produz nos espíritas, já que todos provêm de formação distinta, de maturidade emocional e psicológica diferente e, claro, de entendimento intelectual também diferente.
  • Todo desentendimento gera atrasos no programa doutrinário, adia o planejamento estabelecido por Jesus para o progresso da Humanidade e portanto tem caráter prejudicial para os que se intitulam cristãos e para a tão comentada e esperada era da Regeneração.

Os convites de união entre os espíritas traduzem esforços para os propósitos do Cristo e precisamos pensar nisto, para não adiarmos tais propósitos.

Onde, pois, estarão unidos os espíritas?

Eis a receita: Ela está contida em O LIVRO DOS MÉDIUNS, cap. XXVII, item 302. A resposta é de O ESPÍRITO DE VERDADE e indica: "(...) A unidade se fará do lado onde o bem jamais tiver sido misturado ao mal; será desse lado que os homens se reunirão pela força das coisas, porque julgarão que aí está a verdade. Anotai, aliás, que os princípios fundamentais são os mesmos em toda parte, e devem vos unir num pensamento comum: o amor de Deus e a prática do bem. Qualquer que seja, pois, o modo de progressão que se suponha para as almas, o objetivo final será o mesmo, e o meio de atingi-lo é também o mesmo: fazer o bem; ora, não há duas maneiras de fazê-lo. Se se levantam dissidências capitais, quanto ao próprio princípio da Doutrina, tendes uma regra certa para apreciá-las, e essa regra é esta: a melhor doutrina é a que melhor satisfaz ao coração e à razão, e que tem mais elementos para conduzir os homens ao bem; eu vos certifico, é a que prevalecerá".

Vençamos, pois, esta tendência de combater idéias alheias e caminhemos para semear, construir, colocando no coração, em primeiro lugar, o amor de Deus e a prática do bem.

Porém, a propósito das distorções e desentendimentos, breve consulta ao O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, no capítulo XXI - HAVERÁ FALSOS CRISTOS E FALSOS PROFETAS (no item 8), nos dará a informação de que:

"(...) aqueles que envia para propagar a sua santa doutrina, e regenerar seu povo, serão, a exemplo do Mestre, brandos e humildes de coração acima de todas as coisas; (...) Lembrai-vos de que cada criatura leva na fronte, mas nos seus atos sobretudo, o cunho de sua grandeza ou da sua decadência.(...)" E depois no item 9: "(...) concluí que o verdadeiro missionário de Deus deve justificar a sua missão de superioridade, por suas virtudes, por sua grandeza, pelo resultado e pela influência moralizadora de suas obras.(...)"

Não fica mais fácil, por aí, procurar os caminhos do entendimento através do amor e tolerância uns para com os outros, aos invés de ficarmos a digladiar...?!

Orson Peter Carrara (Matão/SP)

Escritor e orador espírita. Constultor Editorial residente em Matão/SP

e-mail: orsonpeter@yahoo.com.br

Blog: http://orsonpetercarrara.blogspot.com/

22 novembro 2011

Civilização - Emmanuel


C I V I L I Z A Ç Ã O

Não podemos responsabilizar a civilização pelos desvarios do mundo, mas sim o homem que a desfigura.
Acaso seriam reprováveis as doações de Deus porque a maioria dos homens, por vezes, se faça infiel a si própria?
É por isso, talvez, que o apostolado de Jesus, acima de tudo, se dirige à consciência individual.

“Levanta-te e anda.”
“A tua fé te curou.”
“Vai e não peques mais.”

Semelhantes apelos repetem-se, frequentes, no serviço do Evangelho, porque o Mestre não ignorava que a solução dos problemas da paz e da felicidade entre as criaturas não reside na governança política, por mais respeitável que seja, de vez que os programas da legalidade terrestre atuam de fora para dentro, quando as nossas feridas morais se manifestam de dentro para fora.
Não vale acumular decretos e estatutos primorosos, quando não haja correção de caráter nos tutelados das leis humanas.
O homem leal à consciência tranquila terá sido próspero e feliz, tanto na Grécia educada e livre, como no mais tirânico dos regimes feudais, com a escravidão e a crueldade a lhe baterem à porta.
Despertemos para a obrigação de servir com amor, em todos os dias, compreendendo que somos todos irmãos, com deveres de assistência recíproca nas tarefas do mundo que é nosso próprio lar.
Não esperemos que outros façam o bem para que nos disponhamos a praticá-lo.
Evitemos a expectativa da alheia cooperação, quando é inadiável o testemunho pessoal e intransferível no culto sincero à fraternidade.

Vivamos com Jesus em nós mesmos, aceitando-lhe as diretrizes de renunciação ao próprio egoísmo e de consagração permanente à boa vontade, de uns para com os outros, em movimento espontâneo de solidariedade, longe de enxergarmos na civilização qualquer processo de decadência espiritual, nela encontraremos o abençoado campo de mais trabalho, no aperfeiçoamento de nós mesmos, a caminho de mais altas formas da Vida Superior.

Do livro "Nascer e Renascer"
Emmanuel (Espírito)
Francisco C. Xavier (psicografia)

21 novembro 2011

Justiça de Cima - Irmão X


JUSTIÇA DE CIMA


Quatro operários solteiros quase todos da mesma idade compareceram ao tribunal de Justiça de Cima, depois de haverem perdido o corpo físico, num acidente espetacular.

Na Terra, foram analisados por idêntico padrão.

Excelentes rapazes, aniquilados pela morte, com as mesmas homenagens sociais e domésticas.
Na vida espiritual, contudo, mostravam-se diferentes entre si, reclamando variados estudos e diversa apreciação.

Ostentando, cada qual, um halo de irradiações específicas, foi conduzido ao juiz que lhes examinara o processo, durante alguns dias, atenciosamente.

O magistrado convidou um a um a lhe escutarem as determinações, em nome do Direito Universal, perante numerosa assembléia de interessados nas sentenças.

Ao primeiro deles, cercados de pontos escuros, como se estivesse envolvido numa atmosfera pardacenta, o compassivo julgador disse, bondoso:
- De tuas notas, transparecem os pesados compromissos que assumiste, utilizando os teus recursos de trabalho para fins inconfessáveis. Há viúvas e órfãos, chorando no mundo, guardando amargas recordações de tua influência.

E porque o interpelado inquirisse quanto ao futuro que o aguardava, o árbitro amigo observou, sem afetação:
- Volta à paisagem onde viveste e recomeça a luta de redenção, reajustando o equilíbrio daqueles que prejudicaste. És naturalmente obrigado a restituir-lhes a paz e a segurança.

Aproximou-se o segundo, que se movimentava sob irradiações cinzentas, e ouviu as seguintes considerações:
- Revelam os apontamentos a teu respeito que lesaste a fábrica em que trabalhavas. Detiveste vencimento e vantagens que não correspondem ao esforço que despendeste.

E, percebendo-lhe as interrogações mentais, acrescentou:
- Torna ao teu antigo núcleo de serviço e auxilia os teus companheiros e as máquinas que exploraste em mau sentido. É indispensável resgates os débitos de alguns milhares de horas, junto deles, em atividade assistencial.

Ao terceiro que se aproximou, a destoar dos precedentes pelo aspecto em que se apresentava, disse o juiz, generoso:
- As informações de tua romagem no Planeta Terrestre explicam que demonstraste louvável correção no proceder. Não te valeste das tuas possibilidades de serviço para prejudicar os semelhantes, não traíste as próprias obrigações e somente recebeu do mundo aquilo que te era realmente devido. A tua consciência está quite com a Lei. Podes escolher o teu novo tipo de experiência, mas ainda na Terra, onde precisas continuar no curso da própria sublimação.

Em seguida, surgiu o último. Vinha nimbado de belo esplendor. Raios de safira claridade envolviam-no todo, parecendo emitir felicidade e luz em todas as direções.

O juiz inclinou-se, diante dele, e informou:
- Meu amigo, a colheita de tua sementeira confere-te a elevação. Serviços mais nobres esperam-te mais alto.

O trabalhador humilde, como que desejoso de ocultar a luz que o coroava, afastou-se em lágrimas de júbilo e gratidão, nos braços de velhos amigos que o cercavam, contentes, e, em razão das perguntas a explodirem nos colegas despeitados, que asseveravam nele conhecer um simples homem de trabalho, o julgador esclareceu persuasivo e bondoso:
- O irmão promovido é um herói anônimo da renúncia. Nunca impôs qualquer prejuízo a alguém, sempre respeitou a oficina em que se honrava com a sua colaboração e não se limitou a ser correto para com os deveres, através dos quais conquistava o que lhe era necessário à vida.

Sacrificava-se pelo bem de todos. Soube ser delicado nas situações mais difíceis. Suportava o fígado enfermo dos colegas, com bondade e entendimento. Inspirava confiança. Distribuía estímulo e entusiasmo. Sorria e auxiliava sempre. Centenas de corações seguiram-no, além da morte, oferecendo-lhe preces, alegrias e bênçãos.

A Lei Divina jamais se equivoca.
E porque o julgamento fora satisfatoriamente liquidado, o tribunal da Justiça de Cima, encerrou a sessão...

Do livro "Contos e Apólogos"
Imão X (Espírito)
Francisco C. Xavier (psicografia)

20 novembro 2011

Vigília Maternal - Anália Franco


VIGÍLIA MATERNAL

Cap. IV - Item 18

ESE

Sorves, em lágrimas silenciosas, o cálice da amargura, ante o filho desobediente, e notas no coração que o amor e a dor palpitam juntos em paroxismos e profundezas.

Desencantada com as leves nódoas de indignidade que lhe entreviste no caráter, reparas, chorando, que ele não é mais a aparição celeste dos primeiros dias, e, ao ponderar-lhe a falência iniciante, temes a liberdade que o tempo lhe concederá na construção do destino.

Pretextando querê-lo, não te rendas à feição de praça vencida... conquanto carregues o espinho da angústia engastado na alma, é preciso velar no posto de sentinela.

Não deformes o sentimento que te pulsa no peito.

Fortalece a própria vontade, governando-lhe os impulsos.

Ceder sempre, no fundo, é menosprezar.

Sê previdente, aparando-lhe os caprichos.

Acende a luz da prece e medita nas dores excruciantes que alcançaram também a Doce Mãe de Jesus e ergue a voz no corretivo às irreflexões e aos anseios imoderados que o visitam, se queres fazer dele um Homem.

Dosa o sal da energia e o mel da brandura, nos condimentos da educação.

Nem liberdade desordenada, nem apego excessivo.

Se teu filho é tua cruz, lembra-te de que, na Terra, não há nascimento de santos. Almas em luta consigo mesmas, é compreensível vivamos todos nós, não raro, em luta uns com os outros, nos passos ziguezagueantes da experiência.

Sê operosa e humilde, sem ser escrava.

Não cultives desgostos.

Sê fiel à esperança.

Não fites ingratidões, nem coleciones queixumes.

A missão divina da maternidade apoia-se na força onipotente do amor.

Envolve teu filho na palavra de benção, que vence o orgulho, e na luz do exemplo que dissipa as sombras da rebeldia.

Faze que se lhe desenvolvam os sentimentos bons do coração, que o musgo dos séculos recobriu e ocultou.

Não te faças borboleta do sono, quando a vida te pede vigílias de guardiã.

No rio da existência humana, os espíritas são as gotas d'água que se transformam em lâminas de arremesso contra as pedras dos obstáculos, talhando caminhos novos.

O Espiritismo gera consciências livres. Prova a teu filho semelhante verdade pelas próprias ações de renúncia e discernimento, conjugando o bálsamo do carinho com a rédea da autoridade.

Não queiras transformá-lo, à força, em escolhido, dentre aqueles chamados pelo Senhor.

Filhos do Eterno, todos somos cidadãos da Eternidade e somente elevamos a nós mesmo, a golpes de esforço e trabalho, na hierarquia das reencarnações.

Assim, pois, embora muita vez torturada na abnegação incompreendida, mostra a teu filho que a Lei Divina é insubornável e que todo espírito é responsável por si próprio.

Anália Franco
(Médium: Waldo Vieira)
De “O Espírito da Verdade”
De Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira
Autores diversos

19 novembro 2011

Se Desejas - Emmanuel


SE DESEJAS

Reunião pública de 23/11/59
Questão nº 843

Toda melhora parece distante.
Toda superação surge como sendo quase impossível. Pediste, porém, o berço terrestre, no exato lugar em que te cabe aprender e reaprender.
Não olvides, por isso, que o domínio da lição não dispensa a vontade.
Recebeste no lar muitos daqueles que te não alimentam a simpatia.
No entanto, se desejas, podes transformar toda aversão em amor, desde que te decidas a ajudá-los com paciência.
Sofres o chefe insano, a crivar-te de inúmeros dissabores.
Contudo, se desejas, podes convertê-lo em amigo, desde que te disponhas a auxiliá-lo sem pretensão.
Padeces dura condição social, renteando o infortúnio.
Todavia, se desejas, podes transfigurar a subalternidade em elevação, desde que te eduques, para que a vida te use em plano mais alto.
Trazes o órgão enfermo, a cercar-te de inibições. Entretanto, se desejas, podes aproveitá-lo, na própria sublimação, em nível superior.
Ainda hoje, é possível encontres sombras enormes...
O obstáculo dos que te não compreendem, a palavra dos que te insultam, o apontamento insensato ou as lágrimas que a prova redentora talvez te venha pedir.
Mas podes usar o silêncio e a oração, clareando o caminho...
Declaras-te sem trabalho, amargando posição desprezível, mas, se desejas, podes ainda agora começar humilde tarefa, conquistando respeito e cooperação.
Acusam-te de erros graves, criando-te impedimentos, mas, se desejas, podes tomar, em bases de humildade e serviço, a atitude necessária à justa renovação.
Sentes-te dominado por esse ou aquele hábito vicioso, que te exila no desapreço, mas, se desejas, podes reaver o próprio equilíbrio, empenhando energia e tempo no suor do trabalho digno.
Afirmas-te na impossibilidade de socorrer os necessitados, mas, se desejas, podes efetuar pequeninos sacrifícios domésticos em favor dos outros, de modo a que tua vida seja uma bênção na vida de teus irmãos.
Para isso, porém, é preciso não esquecer os recursos singelos que tanta gente deixa ao olvido...
O minuto de tolerância.
O esquecimento de toda injúria.
O concurso anônimo.
A bondade que ninguém pede.
O contacto do livro nobre.
A enxada obediente.
A panela esquecida.
O tanque de lavar.
A agulha simples.
A flor da amizade.
O resto de pão.
Queixas-te de necessidade e desencanto, fadiga e discórdia, abandono e solidão, mas, se realmente desejas, tudo pode mudar...

Do livro "Religião dos Espíritos", cap. 83,
Emmanuel (Espírito)
Francisco C. Xavier (psicografia)


18 novembro 2011

A Conquista da Serenidade -


A CONQUISTA DA SERENIDADE

Um dia amanhece, glorioso, com a luz do sol atravessando as folhas. Silêncio que é quebrado pelo som dos passarinhos que acordam.

Murmúrio de regatos que cantam, perfume de relva molhada pelo orvalho da noite. Será isso serenidade?

A natureza oferece ao homem a oportunidade do silêncio externo, o exemplo da calma. Mas sozinha, ela, a natureza, será capaz de trazer a paz interna?

Muita gente diz assim: Vou sair da cidade, a fim de descansar. Quero esquecer barulho, poluição, trânsito.

Essa é uma paz artificial. Em geral, depois de alguns dias descansando, a pessoa volta para a cidade e aos ruídos da chamada civilização. E ainda exclama ao chegar: Que bom é voltar para o conforto da cidade.

E, nas semanas seguintes, enfrenta novamente os engarrafamentos de trânsito, o som constante das buzinas, a fuligem. A comida engolida às pressas e o estresse do cotidiano estão de volta.


Então vem a pergunta: Será que realmente a serenidade existe em nossa alma? Se ela estivesse mesmo em nós, não teríamos de deixar o local em que vivemos para encontrar a paz, não é mesmo?

A conquista da serenidade é gradativa. A natureza não dá saltos e as mudanças de hábitos arraigados ocorrem muito lentamente. Não se engane com isso.

Muita gente acredita que a simples decisão de modificar um padrão de comportamento é suficiente para que isso aconteça. Mas não é assim.

Um antigo provérbio chinês traduz muito bem essa dificuldade. Ele diz assim: “Um hábito inicia como uma teia de aranha e depois se torna um cabo de aço”. O mesmo acontece em nossa vida.

E a conquista da serenidade não escapa a essa lógica de criar novos hábitos, de reeducar-se. Sim, pois tornar-se pacificado é um exercício de auto-educação.

A pessoa educa-se constantemente. Treina a paciência, o silêncio da mente. É uma conquista diária, um processo que vai se instalando e se fortalecendo.

E por onde começar? O melhor é iniciar pelo dia a dia. Treinando com parentes, amigos, colegas de trabalho. Não se deixando perturbar pelas pequenas coisas do cotidiano.

Das pequenas coisas que irritam, a pessoa passa a adquirir mais força para superar problemas mais graves, situações mais complexas.

Aos poucos, suaviza-se o impacto que os outros exercem sobre nós. Acalma-se o coração, domina-se as emoções, tranqüiliza-se a mente.

O resultado é o melhor possível. Com o passar do tempo, a verdadeira paz se instala. E mesmo em meio aos ruídos de todo dia, o homem pacificado não se deixa perturbar.

É como um oásis em meio ao caos da vida moderna. Um espelho de água em meio a tempestades. Esse homem, em qualquer lugar que esteja, traz a serenidade dentro de si.

Experimente começar essa jornada hoje mesmo. Vai torná-lo muito mais feliz.


* * *

A serenidade resulta de uma vida metódica, postulada nas ações dinâmicas do bem e na austera disciplina da vontade.

Mantenhamos a serenidade e a nossa paz se espalhará entre todos.


Redação do Momento Espírita, e pensamentos do verbete Serenidade, do livro Repositório de sabedoria, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.

17 novembro 2011

Visão de Eurípedes - Hilário Silva


VISÃO DE EURÍPEDES

Começara Eurípedes Barsanulfo, o apóstolo da mediunidade, em Sacramento, MG, observar-se fora do corpo físico, em admirável desdobramento, quando, certa feita, à noite, viu a si próprio em prodigiosa volitação. Subia, subia sempre, amparado por braços intangíveis. Viajou, viajou até que se reconheceu em campina verdejante. Reparava na formosa paisagem, quando, não longe, avistou um homem que meditava, envolvido por doce luz.

Como que magnetizado pelo desconhecido, aproximou-se...

Houve, porém, um momento em que estacou, trêmulo.

Algo lhe dizia no íntimo para que não avançasse mais...

E num deslumbramento de júbilo, reconheceu-se na presença do Cristo.

Baixou a cabeça, esmagado pela honra imprevista e ficou em silêncio, sentindo-se como um intruso, incapaz de voltar ou seguir adiante.

Ofuscado pela grandeza do momento, começou a chorar...

Viu, porém, que Jesus também chorava...

Traspassado de súbito sofrimento, por ver-lhe o pranto, desejou fazer algo que pudesse reconfortar o Amigo Sublime...Afagar-lhe as mãos ou estirar-se à maneira de um cão leal aos seus pés...

Mas estava como que chumbado ao solo estranho...

Recordou, no entanto, os tormentos do Cristo, a se perpetuarem nas criaturas que até hoje, na Terra, lhe atiram incompreensão e sarcasmo...

Nessa linha de pensamento, não se conteve. Abriu a boca e falou, suplicante:

a.. Senhor, por que choras?
O interpelado não respondeu.

Mas desejando certificar-se de que era ouvido, Eurípedes reiterou:

- Choras pelos descrentes do mundo?

Enlevado, o missionário de Sacramento notou que o Cristo lhe correspondia agora ao olhar. E, após um instante de atenção, respondeu em voz dulcíssima:

a.. Não, meu filho, não sofro pelos descrentes aos quais devemos amor. Choro por todos os que conhecem o Evangelho, mas não o praticam...
Eurípedes não saberia descrever o que se passou então. Como se caísse em profunda sombra, ante a dor que a resposta lhe trouxera, desceu, desceu... E acordou no corpo de carne. Era madrugada. Levantou-se e não mais dormiu.

Hilário Silva (CHICO XAVIER)

De "A Vida escreve"
De Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira
Pelo Espírito Hilário Silva

16 novembro 2011

Vigilância Mental - Miramez


Vigilância Mental

A vigilância é sempre a eterna âncora da alma, apoiada no fundo do mar tempestuoso da mente, a nos garantir a tranquilidade, disciplinando uma profusão de pensamentos diários, de maneira a serem úteis no seu campo de ação.

Sensibilizemos, pois, a consciência pela força da caridade, pelo ambiente da prece, na luz da fé, para que possamos sentir, antes de pensar, o teor das ideias. Quando os pensamentos estão em projetos, nas profundezas da vida, é mais fácil consertá-los, ou desvencilharmo-nos deles com a simples borracha da disciplina; ao passo que, depois de concretizados, dando forma aos sentimentos, tornar-se-á mais difícil a sua remoção, mesmo no campo reversivo, dada à coesão ocorrida por junção protogenética, com sintonia profunda de elementos sutis.

Quando acontece à alma viver em plano superior das emoções, por descuido, formar pensamentos negativos, conhecendo o processo de desintegrá-los, tais pensamentos, ao se formarem, são fotografados pela mente em milhões de ângulos, impregnando todo o cosmo orgânico e psíquico. O inconsciente demorará a acompanhar as vibrações escuras que viajam em todo o complexo humano, para desfazer-se das suas características malfazejas, bombardeando, aqui e ali, seus conglomerados de energias retardadas.

É bom notar o valor da vigilância, para que o corpo e a mente não sofram o castigo da imprudência. Devemos nos manter diligentes frente aos impulsos mentais inferiores, pois eles nos causam distúrbios de difícil reparo.

Resguardo não é medo. É bom senso a nos ajudar em ângulo diferente. Copiemos a natureza da árvore, quando sofre um golpe de afiada lâmina que aparece no seu ciclópico tronco; a emoção da planta se agita bem antes de ser ferida e os recursos aparecem por vias inumeráveis a desfazer o perigo iminente.

A mente humana adestrada perceberá os pensamentos inferiores bem antes da sua formação conata e deverá procurar os recursos que a inteligência lhe capacitou e a evolução lhe garantiu, para que o trabalho não se torne mais difícil. Em todos os casos, quem não se deu com a bênção da vigilância, procure fazer o melhor ao seu alcance. Trabalhe, lute na limpeza da mente, arranque o joio e queime pelos processos alcançados. Mas não fique parado.

Se já despertastes do sono, esforçai-vos para vos absterdes dos vícios e hábitos incômodos. É dignidade do espírito, não obstante, a sabedoria nos pede para que não deixemos seus lugares vazios. A supressão requer algo no lugar do suprimido. Se estais vos desvencilhando do ódio, colocai em sua área o amor. Se a vingança já está se desfazendo em vosso coração, não vos esqueçais de alimentar o perdão. Se a dúvida está desaparecendo dos vossos caminhos, tratai da fé com todos os seus recursos virtuosos.

Essa é a verdadeira vigilância do iniciado. O resguardo sem fanatismo ambiente a alma para grandes voos espirituais, sem acobertar erros, nem exagerar na rota da perfeição sem preparo.

Sabeis por que aconselhamos a escolha das sementes, que deveis plantar na lavoura mental? Achamos que estais conscientes do fato. No entanto, é bom que falemos mais. A repetição gera firmeza, principalmente no trato com a verdade. O plantio invigilante de ventos dá nascimento a tempestades, que arruínam o próprio dono.

Meus filhos, se começais hoje na educação da mente, tereis certeza da reversão da própria natureza inferior. Tereis que lutar com vós mesmos, muito, mas muito tempo, mas podeis carregar a convicção de que vencereis. Já dizia Jesus aos seus discípulos: "Aquele que perseverar até o fim será salvo".

Aquele que não esmorecer nesse empreendimento sagrado de educar a si mesmo, de limpar a mente, de criar nos campos férteis dos pensamentos áreas compatíveis com a luz, onde poderão nascer as mais belas diretrizes da alma, ajustando todas as emoções em uma dialética mental, conseguirá a transmutação dos desejos inferiores em sementes de luz, para que as plantas, flores e frutos sejam produtos do amor.

De “Horizontes da Mente”
De João Nunes Maia
Pelo Espírito Miramez


15 novembro 2011

Eutanásia - Marco Tulio Michalick


Eutanásia

Na realidade, trata-se de uma ação homicida cometida por um médico, um leigo (normalmente alguém da família do paciente) ou um julgador que possui o poder de decidir sobre a sobrevivência do enfermo.

A eutanásia pode ser positiva, quando geralmente se coloca fim à vida do paciente pela aplicação de fármacos, ou negativa, quando os meios ordinários indispensáveis para a manutenção vital são omitidos, bem como ocorrer de forma voluntária, o chamado “suicídio assistido”, praticado freqüentemente por um médico a pedido do paciente, ou involuntária, quando este não é consultado, não se pronuncia (às vezes, por ser incapaz de fazê-lo) ou nem mesmo a deseja. Há ainda a eutanásia eugenética, na qual se elimina toda vida considerada sem valor. Na Grécia antiga, por exemplo, a hegemonia espartana, sempre armada para guerras e destruições, inseriu em seu estatuto o emprego legal desse tipo de ação com enfermos, mutilados e psicopatas considerados inúteis.

Em virtude de toda a sua complexidade, a questão da eutanásia é debatida no mundo inteiro. A maioria dos países é contra sua prática, punindo aqueles que agem mesmo em situação humanitária, abreviando o sofrimento indesejado de um enfermo. Também as religiões se mostram contrárias a ela, por acreditarem que apenas Deus dá a vida e pode tirá-la. No livro Após a Tempestade, Joanna de Ângelis define a eutanásia como algo puramente material. “É uma prática nefanda que testemunha a predominância do conceito materialista sobre a vida, que vê apenas a matéria e suas implicações imediatas em detrimento das realidades espirituais, refletindo também a soberania do primitivismo animal na constituição emocional do homem”, afirma.

Já aqueles que são favoráveis à eutanásia dizem agir em nome do paciente em fase terminal, caracterizado por um quadro clínico irreversível, horríveis dores e sofrimentos, dando a impressão de que somente a morte é o caminho para livrá-lo de seu padecimento. O argumento dos utilitaristas é que um paciente em fase terminal custa muito caro para o governo e que esse dinheiro poderia ser destinado para curar pessoas com possibilidades de retorno à vida normal. Mas o que é caro para o Estado? Na verdade, nos dias de hoje, esse tipo de argumento não se sustenta diante do uso indevido dos recursos por parte do poder público, desviando-os para fins particulares ou gerando escândalos e mais escândalos.

Na sociedade em que vivemos, temos responsabilidades com nossos semelhantes. Portanto, cabe ao Estado a responsabilidade pela administração do dinheiro público e a conseqüente má gestão dele, não aos cidadãos, pois a péssima utilização dos recursos recai sobre as pessoas que pagam com a vida a prática de atos indignos por parte de outras. Negar um tratamento digno ao doente terminal devido à escassez de recursos em favor de pesquisas para salvar vidas é uma incoerência diante da realidade.

Valorização da vida

Em um artigo publicado em 1999 no jornal National Post, da cidade de Toronto, Canadá, Mark Pickup, paciente crônico de esclerose múltipla progressiva há 15 anos, mostrou toda a sua preocupação com a baixa estima que deficientes têm por parte de seus concidadãos. Segundo seu relato, quando soube das conseqüências de sua doença, ou seja, que sua visão se debilitaria, pernas e braços se atrofiariam, a capacidade de falar seria perdida, teria incontinência urinária, experimentaria um contínuo esgotamento, sofreria períodos em que a capacidade de pensar seria obscurecida e não poderia confiar em suas opiniões, concluiu que não teria qualidade de vida nessa existência, somente terror.

“Nos primeiros dias, meses e anos de minha doença, minha família me apoiou. Para eles, eu era valioso, inclusive quando eu mesmo duvidava disso. Se não tivessem agido dessa forma, eu poderia ter agradecido a visita de Jack Kevorkian. Se alguém me dissesse que minha carreira terminaria aos 37 anos, eu me desesperaria, como de fato aconteceu quando chegou o momento. Felizmente, muitos destes sintomas aterrorizantes diminuiram, agora me movimento com muletas e disponho de um veículo adaptado para as minhas necessidades. Não trabalho há nove anos, mas minha vida tem qualidade. Para quê? Para amar, ser amado, valorizado e acreditar que posso contribuir com algo para a comunidade”, explicou.

A história de Mark Pickup demonstra que ele valoriza a vida, vencendo os obstáculos que lhe são colocados no caminho e seguindo sua caminhada evolutiva através dos espinhos. Felizmente, esta é uma atitude corajosa, pois abreviar as dores por meio de uma morte “digna” não contribui para o crescimento espiritual. “Na sociedade, existe uma corrente subterrânea de hostilidade contra a vida humana imperfeita”, disse Pickup em seu artigo, perguntando mais adiante: “Aceita a eutanásia, o que o doente incurável ou incapacitado pode esperar”?

No Canadá, existe uma política de duas medidas, ou seja, uma pessoa que tem uma tendência suicida recebe toda a ajuda necessária, inclusive tratamento psiquiátrico, até que a crise passe, a fim de melhorar sua auto-estima para viver com dignidade, mas quando se trata de um doente incurável ou um deficiente, a discussão é em torno da “morte digna”, da liberdade de escolher o próprio fim. Em seu artigo, após indagar sobre a razão dessa diferença, Mark Pickup afirmou ser valioso “tanto quanto a pessoa sadia que deseja se suicidar, mesmo que não me valorize ou deixe de ser amado pelos outros”.

Já no Brasil, há poucos hospitais e associações cujo objetivo é oferecer o apoio necessário tanto para o doente terminal como aos seus familiares, a fim de que possam lidar melhor com a morte. Na verdade, trata-se de um procedimento paliativo, no qual o paciente recebe a ajuda de psicólogos, médicos, enfermeiros e assistentes sociais.

A reação dos pacientes terminais

O comportamento de uma pessoa que recebe a notícia de uma doença fatal é bastante imprevisível. Sabe-se que a primeira coisa que vem à mente dela é o torpor pela morte, o medo toma conta, começando a indagar a Deus coisas como “por que eu”? A família sofre, mas deve continuar firme ao lado do enfermo, pois como explica Joanna de Ângelis em Após a Tempestade, “as pessoas que se vinculam a eles na condição de pais, cônjuges, irmãos ou amigos também são partícipes dos dramas e tragédias do passado, responsáveis diretos ou inconscientes que ora se reabilitam, devendo lhes estender mãos generosas, auxílio fraterno ou, ao menos, migalhas de amor”.

As várias pesquisas realizadas com pacientes em estado terminal revelam dados interessantes, como, por exemplo, o fato da maioria deles admitir a possibilidade de existir vida após a morte. Outro ponto relevante é que muitas pessoas nesse estado se sentem culpadas ou com remorso por deixarem algum assunto mal resolvido ou não terem se reconciliado com quem se desentenderam.

Em seu livro Sobre a Morte e o Morrer, a psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross explica que os pacientes próximos do desencarne passam por cinco estágios. O primeiro é o da negação, quando não aceitam a idéia de morrer, passam a ignorar o diagnóstico médico e tentam manter sua vida normal. No segundo, quando se confirma a doença, passam a ter raiva de Deus e de todos, vindo a pergunta de sempre (por que eu?), além de passarem a ter inveja de pessoas sadias e reclamarem dos familiares que não os consideram. Depois, vem o estágio da barganha, quando começam a fazer promessas para Deus com o intuito de obter a cura, fase na qual seus espíritos estão mais tranqüilos e amistosos com os que lhes cercam. No quarto estágio, vem a depressão, muitas vezes, coincidente com o agravamento do estado de saúde ou a frustração com um novo tratamento. Por fim, vem a aceitação, quando, fisicamente debilitados, os pacientes se isolam, aceitam a idéia do fim e sentem remorso pelo que deixaram de fazer, tendo a sensação de derrota e impotência apesar de estarem mais saudáveis emocionalmente. A luta pela vida cessou e deu lugar à resignação.

Diante dessa realidade, abre-se espaço para o surgimento de pessoas como o médico norte-americano Jack Kevorkian, que responde pelo falecimento de 130 pacientes terminais. Em 1989, ele criou o primeiro aparelho para praticar a morte rápida, batizado de Tanatron, palavra originária do grego que significa “máquina da morte”. Com ele, aplicam-se doses altíssimas de analgésicos, seguidas por fortes dosagens de relaxantes musculares e soluções de potássio, que interrompem o funcionamento do sistema cardiorrespiratório. O processo era indolor e a máquina deixava o médico em posição cômoda, pois eram os próprios pacientes que abriam a válvula para injetar os medicamentos mortais.

Em 1998, Kevorkian operou os instrumentos da morte para Thomas Youk, que tinha 52 anos e sofria de um tipo de esclerose conhecida como Mal de Lou Gehrig, depois que ele assinou uma declaração formal na qual dizia que não desejava mais viver. Sua morte foi filmada pelo médico e mostrada nos Estados Unidos pela rede de televisão CBS, imagens que, depois, serviram de base para as autoridades judiciais do estado de Michigan abrirem um processo por homicídio, o quinto no país desde 1990, contra o “Doutor Morte”, como Kevorkian era conhecido. Julgado, foi condenado a cumprir 25 anos de prisão na penitenciária de Pontiac.

Impossibilidade reversível

Entretanto, não se pode esquecer que o mundo dá voltas e o que parece impossível hoje torna-se perfeitamente factível amanhã. “No que tange aos enfermos ditos irrecuperáveis, convém considerar que doenças ontem detestáveis e incuráveis são hoje um capítulo superado pelo triunfo de homens-sacerdotes da ciência médica, que a enobrecem pelo contributo que suas vidas oferecem para o benefício da humanidade. Sempre há, pois, a possibilidade de amanhã se conseguir a vitória sobre a enfermidade irreversível de hoje”, explica Joanna de Ângelis.

Segundo ela, espíritos missionários reencarnam diariamente com esse objetivo, impulsionando o progresso, descobertas e conquistas superiores para a vida e se tornando uma poderosa fonte de esperança e conforto para todos aqueles que sofrem com suas enfermidades. E acrescenta: “Portanto, cada minuto em qualquer vida é precioso para o espírito em resgate abençoado. Quantas resoluções nobres, decisões felizes ou atitudes desditosas ocorrem em um simples relance, um instante”? Temos aqui considerações importantes, que abrem a possibilidade de refletirmos melhor sobre as reais necessidades de aplicação da eutanásia em pacientes terminais e as posteriores implicações desse ato.

Artigo publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição 20.
Escrito por Marco Tulio Michalik