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31 março 2009

O Esforço que Compensa - Momento Espírita

O Esforço que Compensa

O esforço constitui uma realidade sempre presente na vida humana.

Sempre que se trata de realizar alguma conquista, ele se faz necessário.

Qualquer que seja a área da atividade, realizações não surgem do nada.

Os atletas que encantam por suas habilidades têm um histórico de treinos exaustivos.

O sucesso no vestibular pressupõe intensa preparação.

Na faculdade, a obtenção do sonhado diploma exige dedicação e renúncias.

A conquista de uma boa situação profissional também requer muito esforço e persistência.

Quem deseja adquirir bens de valor, e não dispõe da quantia necessária, igualmente se dispõe a ingentes sacrifícios.

Muitos multiplicam horas extras, trabalham nos finais de semana ou mantêm dois ou três empregos para melhorar a própria situação financeira.

Mas ninguém considera tais sobrecargas como um mal ou um castigo.

As lutas e renúncias envolvidas na conquista do que se almeja são encaradas de forma positiva, por mais desgastantes que se apresentem.

Entende-se que conquistas relevantes pressupõem algum esforço.

É preciso sair da zona de conforto e fazer algumas renúncias para ver os próprios projetos realizados.

Trata-se da tranquila aceitação de um aspecto da lei do mérito que rege o Universo.

Apenas convém ampliar o alcance dessa aceitação.

Urge compreender que o esforço também constitui combustível imprescindível em termos de evolução espiritual.

Sem esforço, o ser permanece como sempre foi.

Para seguir adiante, é preciso empenho.

As conquistas materiais são respeitáveis e correspondem a aspectos importantes da vida humana.

Na luta por títulos acadêmicos, boa situação profissional ou mesmo por bens, a inteligência e a vontade se desenvolvem.

Contudo, por importante que seja o que se logrou obter em termos humanos e materiais, isso inevitavelmente ficará para trás.

Tudo o que é material é passageiro e precário.

Ninguém logrará levar seus títulos e posses no retorno à Pátria espiritual.

Mas os tesouros espirituais, esses jamais se perdem.

Bondade, pureza, amor ao trabalho, honestidade, humildade, paciência e capacidade de perdoar são conquistas imperecíveis.

Quem conseguir incorporá-las em seu ser jamais deixará de possuí-las.

O homem virtuoso leva em seu íntimo um tesouro de paz para onde quer que vá.

Por certo é necessário esforçar-se para ser digno e bondoso, notadamente em um mundo ainda marcado pela corrupção.

Entretanto, esse esforço realmente compensa.

Afinal, ele viabiliza deixar para trás as experiências dolorosas inerentes aos estágios mais primários da evolução.

Pense nisso!

Redação do Momento Espírita

30 março 2009

O Iluminado - Rabindranath Tagore

O Iluminado

As sucessivas ondas de perfume carreadas pelos ventos suaves da primavera faziam parte do festival de alegria que dominava a Natureza.

As folhas de mangueiras enfeitavam as portas das casas da aldeia, significando fecundidade em abundância, e o ashram se encontrava ornamentado de festões de flores de laranjeiras.

As pessoas transitavam felizes, ornadas de guirlandas coloridas, e as virgens descalças exibiam os braceletes e guizos reluzentes, assim como as jóias cintilantes que adornavam os sáris leves, dourados uns, prateados outros.

Enfeitadas com esmero e pintadas, aguardavam o Iluminado que deveria chegar, quais noivas ansiosas pelas núpcias anunciadas.

Crianças gárrulas, vestidas com cuidado, corriam de um para o outro lado, como abelhas operosas, embora não produzissem nada além da música estridente dos gritos e das risadas...

O Sol ameno beijava a terra verde exultante de vitalidade com carícia gentil.

De quando em quando, soavam os clarins anunciadores, informando a proximidade da comitiva que conduzia o Esperado.

O palanque no centro do ashram estava repleto com as autoridades e as personagens locais de maior destaque.

Todos O aguardavam com expectativa mal disfarçada.

Esperava-se que Ele chegasse numa carruagem ajaezada de gemas preciosas e ornada de ouro, conduzida por corcéis brancos igualmente recobertos de tecidos caros...

...Ele, porém, chegou caminhando, pés descalços, cabeça erguida e corpo coberto somente pela túnica em tonalidade açafrão, que lhe descia até ao solo.

Nenhum adorno se destacava na indumentária.

Os seus acompanhantes eram, também, destituídos de luxo e de ostentação.

A multidão não pôde esconder o desencanto.

Aguardava-se um rei poderoso que representava Brahma na Terra, e o mensageiro parecia tão pobre e sem valor!

Ele dirigiu-se ao estrado, subiu, calmamente, os degraus, saudou as personalidades com humildade, em melodiosas expressões Namastê!1

As pessoas acercaram-se mais e um silêncio cósmico facultou a oportunidade para Ele falar...

...Eu venho em nome da Luz Inapagável, que antecedeu ao tempo e ao espaço.

Eu sou o portador da Sua claridade, a fim de que toda a sombra se dilua nas mentes e nos corações humanos.

Eu sou a luminosa verdade que desalgema o Espírito da dominadora sombra da ignorância.

Eu sou o archote da esperança para quem busca, sou o socorro para quem o necessita.

Não tenho nada, além disso, nem me interessa possuir outras coisas...

Eu sou!...

Ante a expectação e a onda de ternura que invadiu as pessoas, um apelo maternal rompeu a pausa que Ele fez, rogando:

- Minha filha é cega! – e ergueu-a nos braços.

Ele sorriu, misericordioso, e, dos Seus olhos saíram raios brilhantes, atingindo a criança invidente, que gritou: - Vejo! – e prorrompeu em pranto...

Outrem suplicou:

- Cura as minhas feridas!

Ele estendeu as mãos que espraiaram radiante luz, que logo cicatrizou as úlceras...

...E todos que se encontravam nas trevas das aflições suplicaram remendos para os seus corpos corrompidos, enquanto Ele, curando-os, iluminou-lhes as almas equivocadas.

Quando a noite chegou estrelada, e Ele partiu, uma estrada esplendendo em luz feérica se estendeu da aldeia humilde, perdendo-se na direção do infinito.

O Iluminado compadecido, que nada possuía, era o amor que tudo pode e que se dá, deixando perene claridade naqueles que deambulam na escuridão da inferioridade.

Rabindranath Tagore

Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite de 7 de julho de 2008, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.

29 março 2009

Em Louvor da Oração - Emmanuel

EM LOUVOR DA ORAÇÃO

Pediste em oração a cura de doentes amados e a morte apagou-lhes as pupilas, regelando-te o coração; solicitaste o afastamento da prova e o acidente ocorreu, esmagando-te as esperanças; suplicaste a sustação da moléstia e a doença chegou a infligir-te deformidade completa; imploraste suprimentos materiais e a carência te bate à porta.

Mas se não abandonares a prece, aliado ao exercício das boas obras, granjearás paciência e serenidade, entendendo, por fim, que a desencarnação foi socorro providencial, impedindo sofrimentos insuportáveis; que o desastre se constituiu em medida de emergência para evitar calamidade contra quedas morais de soerguimento difícil e que as dificuldades da penúria são lições da vida, a fim de que a finança demasiada não se faça veneno ou explosivo nas suas mãos.

Da mesma forma quando suplicamos perdão das próprias faltas à Eterna Justiça, não bastam o pranto de compunção e a postura de reverência. Após o reconhecimento dos compromissos que nos são debitados no livro do espírito, continuamos tão aflitos e tão desditosos quanto antes. Contudo, se perseveramos na prece, com o serviço das boas ações que nos atestam a corrigenda, a breve trecho perceberemos que a Lei nos restitui a tranqüilidade e a libertação, com o ensejo de apagar as conseqüências de nossos erros, reintegrando-nos no respeito e na estima de todos aqueles que erigimos à condição de credores e adversários.

Se guardas esse ou aquele problema de consciência, depois de haver rogado perdão á Divina Bondade, sob o pretexto de continuar no fogo invisível da inquietação, não te afastes da prece mesmo assim.

Prossegue orando, fiel ao bem que te revele o espírito renovado.

A prece forma o campo do pensamento puro e toda construção respeitável começa na idéia nobre.

Realmente, sem trabalho que o efetive, o mais belo plano é sempre um belo plano a perder-se.

Não vale prometer sem cumprir.

A oração dentro da alma comprometida em lutas na sombra, assemelha-se à lâmpada que se acende numa casa desarranjada; a presença da luz não altera a situação do ambiente desajustado e nem remove os detritos acumulados no recinto doméstico, entretanto, mostra sem alarde, o serviço que se deve fazer.

Por Emmanuel
De "Á luz da oração",
de Francisco Cândido Xavier - autores diversos

28 março 2009

O Mel das Aparências - Cenyra Pinto

O MEL DAS APARÊNCIAS

Como saboreamos gulosamente o mel das aparências, como nos deixamos cair nas malhas das ilusões do mundo, como somos sujeitos às tentações!...
Carregamos conosco as conseqüências de todos os nossos atos do passado e, ainda incapazes de olhar para dentro de nós para sentirmos a causa que provoca efeitos tão desastrosos, persistimos em caminhar às cegas, tropeçando, caindo e levando outros a tombar, empurrados por nossa ignorância.

Até quando permaneceremos cegos, surdos e incapazes de encontrar o nosso verdadeiro ser? Até quando caminharemos às palpadelas, enveredando por caminhos ínvios, penetrando em encruzilhadas tentadoras, atrás do mais fácil e apetecível?

O mundo da matéria ainda é o único que nos interessa. Apelamos para Deus nas horas em que nos sentimos perdidos; tão logo, porém, encontramos a solução para o que nos aflige, esquecemos de seguir o caminho que nos foi apontado e que nos levaria à realização do objetivo a que todos somos destinados. É então que sofrendo e chorando entregamo-nos às vezes a um estado de indiferença e, assim, a angústia se apossa de nós e nos tornamos escravos de sentimentos destruidores que aos poucos nos levam ao desespero.

Sabemos que Deus vive em nós; que é luz, sabedoria e amor; que seu reinado é de paz e alegria; que somos herdeiros do seu reino, partículas dessa divindade, portanto, donos da felicidade; mas não conseguimos extrair esse potencial das nossas minas internas, para acrescer nossa vida de novos e permanentes valores.

Vivemos nos debatendo num mar de agonias, porque queremos o que é do mundo da matéria como uma finalidade, e esse mundo é exigente e quem a ele se escraviza torna-se corruptível, insaciável, vulnerável e infeliz, porque na Terra tudo é ilusório, tudo é fantasia...

Quando Jesus afirmou: "Meu reino não é deste mundo", advertiu-nos de que o reino do mundo é tentador e quem a ele se submete transforma-se num fantoche sem vontade própria.

"Buscai primeiro o reino de Deus e sua justiça. O resto virá por acréscimo."

Buscar o reino de Deus é lutar para libertar-se do reino do mundo, onde temos raízes profundas. As dificuldades de soltar esses tentáculos tornam-se quase insuperáveis, tal a sua profundidade no solo da nossa ignorância.

Se vivemos até agora acorrentados e descobrimos que temos sido joguetes de forças cegas, por que não lutarmos com todas as energias para nos libertarmos, sairmos das entranhas da terra e virmos à superfície, renovados, respirando livremente, e banhar-nos na luz da sabedoria divina, e assim podermos desfrutar da paz com que há tantos milênios sonhamos?

Atentos, aceitemos a adversidade como o "agora" de nossa transformação espiritual, o novo rumo com Jesus.

Arregimentemos nossas forças, alimentemos nossa vontade, avivemos a chama da fé e caminhemos em direção à esperança. Será nossa ressurreição.

Que o mel das aparências não mais tenha poder de nos seduzir.

Que a luz do Cristo ilumine nossa trajetória e possamos voltar serenos e confiantes, como o filho pródigo.

Que assim seja.

Fonte: "A verdade e a vida" - Cenyra Pinto

27 março 2009

Enredamentos Perigosos - Joanna de Ângelis

ENREDAMENTOS PERIGOSOS

Toda obra do Bem, no delineamento de propósitos, é nobre e transcendente, esmaecendo porém, quando se corporifica mediante a ação humana.

Sensibilizado pelos ideais de engrandecimento espiritual, o indivíduo emociona-se e procura entregar-se completamente, sonhando em tornar-se o instrumento da inspiração superior e, à vezes, consegue-o.

No entanto, porque é Espírito em rudes provas, embora os sentimentos que o animam, imprime as dificuldades pessoais, colocando sombra e empeços no labor a que se entrega.

Assim sendo, é compreensível que defrontemos no trigal dourado o escalracho infeliz, e na claridade do dia triunfante a nuvem carregada de sombras a impedir-lhe a irradiação da luz.

A Terra ainda não é o habitat, mas o educandário de homens e mulheres em lutas interiores, tentando arrancar a ganga externa para que brilhe a gema pura que lhe jaz no interior aguardando o momento de desvelar-se.

Valiosos e digno de encômios esse esforço hercúleo pela auto-superação, quando se constata o expressivo número daqueles que se escravizam aos comprometimentos torpes quão criminosos, que lhes exigirão oportuna reparação penosa.

O Senhor da Vinha não aguarda que venham cooperar com Ele os trabalhadores destituídos de mazelas ou imperfeições, pois que esses são raros, por isso aceita todos quantos despertam para a sua mensagem e se dispões a servi-lO.

Jesus conhecia a fraqueza moral de Pedro, todavia, convidou-o para o banquete da Boa Nova.

Francisco Bernardone vivia uma existência frívola e atormentada; apesar disto, doou-se, e, superando-se, tornou-se Sol medieval a clarear o futuro da humanidade.

Maria de Magdala, mesmo depois de O seguir, não ficou livre da suspeita nem da crítica severa do grupo no qual se movimenta.

Jesus aceitou-os a todos e transformou-os com o tempo em pilares da sua doutrina.

Descobrir o lírio no pantanal e a estrela além da tormenta constitui desafio para quem se candidata ao crescimento interior.

Nesse mister, surgem enredamentos perigosos, que complicam a marcha e dificultam a ascensão dos obreiros.

Dentre outros, a censura mórbida, constante, e a intriga perversa, intoxicam as melhores intenções e asfixiam muitos ideais em desenvolvimento.

São responsáveis pela crueldade da destruição de obras abençoadas e de esforços relevantes que são vencidos.

O cupim perseverante vence a madeira que sucumbe ao seu trabalho insensível.

Assim é a ação da maledicência impiedosa e insistente.

Para romper-se essa rede constritora, é necessário que o amor se compadeça do vigia dos atos alheios sempre pronto e a zurzir o látego, como se fosse inatacável.

Não te deixes contaminar pelo pessimismo nem pela censura contumaz que te tragam ao coração.

Tem paciência e dá-te conta que o acusador gratuito não ama, não coopera, apenas cria embaraços.

Ajuda em silêncio e confia em Deus, fazendo a tua parte da melhor forma ao teu alcance.

É mais valioso que teu próximo esteja tentando agir bem e auxiliar, apesar dos erros que comete, do que se estivesse no outro lado, entre os desequilibrados que aguardam a tua ajuda.

Viver em harmonia em um meio social - seja qual for, já que em todos eles existem dificuldades a vencer - constitui desafio para a evolução.

Ampara, portanto, o teu irmão que pensa em ser útil e ainda não o consegue, ao invés de hostilizá-lo, combatê-lo, semeares espinhos por onde ele segue ao levá-lo a julgamento público arbitrário pelos contumazes desocupados que se contentam em demolir.

Por: Joanna de Ângelis
Do livro: Fonte de Luz,
Médium: Divaldo Pereira Franco

26 março 2009

Poder Oculto, Talismãs, Feitiçaria - Raul Teixeira

Poder Oculto, Talismãs, Feitiçaria

Você tem medo de Espíritos? Tem medo de feitiços, trabalhos feitos? Tem medo?

É muito difícil encontrar alguém que não tenha.

É comum encontrarmos pessoas que dizem não ter medo dessas coisas. Algumas dizem: Tenho muita fé em Deus, essas coisas não me pegam.

Mas, por via das dúvidas, elas estão sempre colocando seu galhinho de arruda atrás da orelha, seu dente de alho no bolso, seu trevo de quatro folhas. Estão sempre procurando um colar especial, uma guia, sal grosso, banhos, embora ninguém acredite nessas coisas, embora as pessoas afirmem que nada lhes pega porque têm fé em Deus. Mas, na dúvida...

É muito interessante pensar nessas questões porque, afinal de contas, há mitos, os mais interessantes, em torno da crença popular, na influenciação dos Espíritos sobre a vida das pessoas.

Como nós temos muito mais adaptabilidade para esse universo mítico, mitológico, é fácil acreditar nessas coisas que a razão não aceita, mas a crença admite com tranquilidade.

É muito comum encontrarmos pessoas que imaginam que, através de expedientes externos, elas resolvam questões íntimas, questões da alma.

Imaginemos alguém que resolva tomar um banho para descarregar as energias envenenadas que ela assimilou espiritualmente. Os banhos de ervas, de sais, etc, terão efeito sobre o corpo físico, poderão tratar-nos a pele, poderão ter até efeitos neurológicos, no nosso sistema nervoso, nos acalmando, nos aplacando, mas não sobre a alma.

Nenhum desses expedientes exteriores resolve questões do íntimo do ser. Logo, se os banhos funcionassem, nós banharíamos, nas penitenciárias, todos os criminosos com essas ervas, com essas essências, com esses sais e todos se transformariam, da noite para o dia, em pessoas nobres, de bem.

É verdade que existem essas crenças, mas não é verdade que isso funcione como as pessoas imaginam: banhos para mudar a sorte, chás para mudar a sorte, se a sorte é definida pelas nossas ações, os caminhos que trilharemos à frente dependem do caminho que estamos trilhando agora.

Há outras pessoas que resolvem acender uma vela de tal cor para o seu anjo guardião, que ela nunca viu, não sabe quem é, nem sua evolução. E, se o nosso anjo guardião estiver precisando de um pedaço de vela de cera, o que é que nós esperaremos de nós próprios, se aquele ser, que foi incumbido de nos conduzir através da existência é tão carente, é tão necessitado de velas de cera...

Estamos falando de luz espiritual e não de luzes materiais. A vela colorida fica bonito. Se for perfumada, perfuma o ambiente. Se ela for de cinco minutos, de um dia, de sete dias, de mês, nenhum problema, mas não podemos misturar essa mitologia com as realidades da alma.

Aqueles que têm medo de trabalhos feitos e usam roupa branca para se proteger, usam roupas de tal cor para se proteger - se não tiverem o contato com a mente e o controle dos seus pensamentos, se não tiverem cuidado com aquilo que pensam, com aquilo que elaboram no íntimo de si, poderão usar a roupa que quiserem, acender a vela como quiserem, usar a defumação que quiserem, porque isso não resolve.

Senão, seria muito fácil viver na Terra. Lançaríamos mão desses expedientes. O que resolve é não ter medo de talismãs, de feitiçarias, de pactos demoníacos e tratar de ter uma vida consentânea, correspondente ao bem que nós estamos esperando da vida.

É tão importante saber que o feitiço que, porventura tenha sido feito contra alguém, não terá nenhum poder sobre esse alguém, se esse alguém estiver trilhando uma estrada positiva.

Mas, não precisará que ninguém faça feitiço para a alma atormentada nos seus próprios vícios, para os indivíduos que são infelizes em si mesmos, que abriram bueiros infernais na própria alma.

Não há necessidade de nenhum trabalho de magia contra eles porque, por si mesmos, eles farão vinculações com as faixas mentais inferiores da vida. Eles entrarão na sintonia de Espíritos devassos, tremendos, e serão pessoas muito infelizes.

* * *

Todas as pessoas que tenham medo de trabalhos feitos, de bruxaria, ou que se apeguem a talismãs, a breviários que as libertem de determinadas energias, precisarão, antes, se dar conta do seu estilo de vida moral.

Como é que elas estão vivendo? Qual é a relação delas com as pessoas, com o mundo, com as Leis de Deus?

Não me valerá a pena me besuntar de substâncias, me encher de miçangas, de penduricalhos, se o meu mundo interior estiver desguarnecido.

É importantíssimo, para todos nós, saber definitivamente que não há nenhuma necessidade de ter medo de poderes ocultos ou de feitiçaria. Saber que nenhum talismã resolve os nossos problemas, que são da alma.

Quando olhamos um acidente da estrada ou um acidente aéreo, quantas daquelas pessoas carregavam amuletos, santinhos? Quantas tinham poderes ocultos ou se baseavam em poderes ocultos de outros, e não resolveu a questão do que elas tinham que sofrer?

A nossa vida interior é que determina a nossa vida exterior. O nosso modo de ser lá, dentro de nós, é que estabelece as diretrizes que vamos encontrar do lado de fora. É o nosso mundo íntimo que se reflete para o exterior.

Então, não há nenhuma necessidade de temer. Nosso maior talismã, o talismã divino, é o tempo. O tempo é que nos permite o processo da reeducação. O tempo é que nos faz desenvolver habilidades que hoje nos faltam. O tempo é que nos abre espaço para nos reconciliar com os nossos adversários. O tempo é que nos permite a boa formação, a construção do lar, da família, a boa execução do trabalho.

Então, se o talismã é alguma coisa milagreira, se o talismã é alguma coisa que nos redime ou que nos retira de situações difíceis, o tempo é esse talismã.

E saber usar corretamente o nosso tempo, saber usar devidamente o nosso tempo, é um gesto, é um ato, é uma postura de sabedoria.

A criatura que tem medo é uma criatura escravizada. O medo é capaz de nos coarctar, de nos amarrar, de nos ancilosar os movimentos da alma e, certamente, a pessoa medrosa será sempre uma pessoa incapaz, porque ela terá medo da escuridão, ela terá medo da sexta-feira treze, ela terá medo dos gatos pretos, ela terá medo de usar roupa preta, ela terá medos... Ela será uma pessoa cheia de medos. E uma criatura cheia de medos não consegue viver feliz na Terra.

Se tem um desarranjo orgânico, foi o olho mau de alguém, foi o olho grande de alguém, foi a inveja de terceiros. A criatura passa a viver imaginando que o mundo inteiro a inveja.

Em minha cidade, tive ensejo de ver um carrinho, desses puxados na rua pelas criaturas que catam papéis, que retiram sua sustentação do lixo. Era uma carrocinha de madeira e papelão mas, na frente da carrocinha, estava uma figa de guiné, muito usada para espantar os males. E porque eu conhecia o puxador da carroça, perguntei-lhe: E aí Juvenal, por que é que você está com essa figa?

E ele respondeu-me: Ah, professor, é para me livrar da inveja.

Fiquei me posicionando no lugar daquele homem. Como ele valorizava a pouca coisa que tinha e ainda supunha que alguém daquilo pudesse ter inveja.

Desse modo, vemos como o medo nos tira o discernimento. Muito dificilmente esperaríamos alguém que tivesse inveja de uma vida daquelas, de catador de papéis, de coletor de lixos, e que retirava do lixo a sua sobrevivência.

Pouca gente teria inveja, no entanto, Juvenal colocava a figa de guiné na sua carroça, imaginando que alguém o estivesse invejando.

É tão importante saber que, para sair da sintonia do mal, da sombra e eliminarmos de uma vez esses fetiches relacionados aos feitiços, basta que tenhamos uma vida digna.

Não é necessário que sejamos santos ou santas. Basta ter uma vida associada ao bem, mantermos sintonias com Jesus de Nazaré, através de todo bem que possamos fazer. Amar o nosso semelhante, buscarmos ampliar o nosso quadro de amizades, respeitar nossa família e, fundamentalmente, respeitar a nós mesmos, e não há feitiço que nos encontre, não há trabalho de magia que nos derrube. Porque se Jesus é por nós, vale o jargão popular, quem será contra?

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 136, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em janeiro de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 14.09.2008.

25 março 2009

Psicogênese das Obsessões - Raul Teixeira

Psicogênese das Obsessões

Nos estudos da psicologia, encontramos uma gama de fenômenos que vem merecendo estudos bastante interessantes por parte dessa ciência. São os fenômenos da obsessão.

Quando a psicologia trabalha a questão obsessiva, procura nos mostrar que o indivíduo estará vivenciando essa experiência todas as vezes que nele se manifestar alguma idéia fixa.

A característica basal da obsessão é uma idéia que não cessa, que obsessa, que obsessiona, que perturba o indivíduo e não o abandona. Esteja fazendo o que for, ele está pensando naquilo. Esteja vivenciando o que for, onde estiver, é aquela idéia matriz, chumbada na sua estrutura mental. Isso caracteriza um fenômeno obsessivo.

Imaginemos uma pessoa ciumenta, tem uma fixação naquele objeto idolatrado, amado, querido, gostado, desejado, e esse objeto se torna algo perturbador, a tal ponto que pode se tornar uma idéia obsessiva, um fenômeno obsessivo. Costumeiramente, as criaturas com quadros de neurose, apresentam certas repetições obsessivas.

Natural é pensar então, que a psicologia vem tratando dessas questões com relativo êxito, porque vai buscando onde e como esse estado de coisas teve começo na alma do indivíduo ou na mente do indivíduo, para sermos mais psicológicos.

Desse modo, começamos a pensar em tantos outros fatores que deverão desencadear, sobre a criatura humana, esse tipo de fenômeno obsessivo.

Há criaturas que são, por si mesmas, do contra. Para elas, nada vai dar certo. Para elas ninguém presta, nada presta, são pessimistas, são negativas.

Óbvio que, ao alimentar esse estilo de vida mental, ao alimentar esse modo de pensar e de ser, ela vai se caracterizando por uma fixidez mental, uma fixação de idéias em torno de pessoas, de casos.

Ela tem a mesma idéia sempre sobre determinada coisa, disparatada quase sempre. Costumam ser pessoas fanáticas, obsessivas, se agarram a pessoas, a coisas, a objetos, a idéias e passam a se nutrir dessa tormenta.

É a obsessão psicologicamente considerada. Essas criaturas, naturalmente, vivem muito mal, sua qualidade de vida é terrível, e todas aquelas outras que têm que conviver com elas ou a sua volta, também estarão sendo bombardeadas pelas conseqüências dessas atitudes, dessas posturas, dessa obsessão.

Acontece que, quando pensamos numa criatura humana com todos esses encaixes mentais negativos, pessimistas, do contra, não podemos olvidar que ela será facilmente alvo de mentes que, desprendidas do corpo físico, mentes espirituais, ou se quisermos, seres espirituais, que também compartilham dessas propostas do pessimismo, do negativismo, do contra.

E, como somos nós os chamarizes daquelas criaturas espirituais que nos acompanharão, positivas ou negativas, começará então um processo obsessivo diferenciado.

Todas aquelas características do negativismo, do pessimismo, todas aquelas neuras, engendradas na intimidade do ser, poderemos chamar de uma auto-obsessão.

É um processo obsessivo que a criatura se impõe, é um processo de fixação ao qual a criatura se ajustou. Mas, quando entram elementos espirituais no contexto, quando entram mentes desencarnadas, se aproveitando desse material mental que é exalado, aí nós teremos a hetero-obsessão. A obsessão provocada por seres fora do indivíduo perturbado.

Claro que serão também seres espirituais perturbados se valendo da perturbação da criatura humana. Da mesma maneira que as moscas se valem das feridas abertas ou dos produtos expostos, que exalam aquelas substâncias por elas buscadas, naturalmente no campo mental, no campo do psiquismo, da mente espiritual, passa-se o mesmo.

A cada um, afirmou Jesus, é dado conforme suas obras. Se nos atiramos à obra do negativismo, do pessimismo, teremos criaturas do mesmo naipe, do mesmo teor, que do outro lado da vida nos inspirarão negativamente.

* * *

Todas as vezes que abrirmos as portas da nossa mente para que outros indivíduos nelas penetrem, certamente estaremos correndo um perigo muito maior.

É como alguém que tivesse deixado aberta a porta de sua própria casa. Dentro de sua casa é o seu domínio, o seu domicílio, mas se entrarem pessoas estranhas, desejosas de controlar sua vida, tudo será negativo a partir de então, muito mais do que já o era antes.

É nesse quesito que, quando abrimos o Evangelho de Mateus, e Jesus Cristo se refere aos Espíritos que são expulsos das criaturas, Ele propõe que essas criaturas que se viram liberadas dessa pressão demoníaca, diabólica, espiritual, a palavra pouco importa, trate de se reformar, ou seja, feche a sua porta íntima, vigie as entradas de sua emoção, de seu coração, de seu sentimento.

Cristo diz, conforme o Evangelho de Mateus, que quando isso não ocorre, o perturbador volta com sete espíritos. É um número cabalístico, é um número judaico, que tem uma certa magia, tanto que Ele orientou a Simão, para que perdoasse setenta vezes sete. O candelabro, símbolo judaico, tem sete braços, então o sete é um número místico entre os judeus.

Naturalmente, quando o Cristo estabeleceu que o perturbador voltaria com mais sete espíritos, voltaria com um grupo de entidades. É como qualquer doença na sua recidiva. A recidiva é costumeiramente mais grave do que a doença em si, porque ela já apanha o organismo fragilizado.

Assim, os processos obsessivos que não foram tratados devidamente enquanto era auto-obsessão, quando se convertem em hetero-obsessão, quando agora existem outras mentes encarnadas ou desencarnadas propiciando a gravidade do processo, quando essas coisas passam a se dar com a ajuda de seres externos ao perturbado, tudo fica mais difícil.

Agora, haverá necessidade de uma ajuda de terceiros, já que houve uma intervenção de terceiros no processo da tormenta obsessiva do indivíduo.

Se ele abriu de tal forma a sua casa mental, a sua casa íntima, permitindo que terceiros adentrassem e ali estabelecessem balbúrdia, tumulto, dificuldades, agora haverá necessidade de que outras pessoas ajudem a desfazer o problema ou a minorar o problema.

É então que, os indivíduos que já apelaram para a psiquiatria, para a psicologia, para vários tratamentos terapêuticos, diversos, vão buscar a ação da fé. É nessa hora que nós nos recordamos da oração.

Como é importante colocar a mente em sintonia com o mundo mais alto, com Deus, através dos bons anjos, através dos bons Espíritos, através dos seres imortais que respondem na Terra em Seu nome, junto às nossas necessidades.

Temos que apelar para a oração e, naturalmente, essa oração tem que partir de dentro, não poderá ser apenas uma repetição de palavras ou de fórmulas mágicas.

Para que haja sentido, a prece tem que brotar do cerne, do íntimo, da alma da criatura. Esse é um aspecto. Depois, colocar esse indivíduo perturbado para fazer alguma coisa boa, aprender a lidar no bem. Levar uma comida a um pobre, ajudar a uma criança que precise de material escolar, visitar uma obra de assistência para dar banho em uma criança, num idoso, fazer um curativo, cortar cabelo, cortar as unhas.

Quantos servicinhos pequenos e úteis nós poderemos fazer, e aqueles que estão vivendo o processo para sair da tormenta obsessiva poderão realizar.

Mudar a vida interior é a grande necessidade. Se não mudarmos a nossa composição íntima, será muito difícil nos libertarmos da perturbação obsessiva, da hetero-obsessão, porque os vampirizadores, as entidades negativas se aferram a nós pelas portas que nós lhes oferecemos.

Todo processo obsessivo tem origem na nossa intimidade, tem origem na nossa auto-obsessão, nessa perturbação que nos consentimos e que, depois, costuma ser muito difícil rechaçá-la, transformando a nossa vida para melhor.

Mas, quando tivermos essa consciência, essa busca de Deus, essa vontade de sarar, a oração e todos os seus componentes nos ajudarão bastante a resolver o problema.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 127, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em janeiro de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 21.09.2008.

24 março 2009

Os Mistérios da Vontade - Raul Teixeira

Os Mistérios da Vontade

A vida da gente é algo bastante fascinante, porque existe um leme e muito pouca gente se dá conta de que a nossa vida tem um leme.

É muito comum encontrarmos, em cada momento, nas nossas conversas, junto às pessoas de nosso relacionamento, aqueles discursos que dizem: Eu não consigo. Isso aí eu não consigo. Não sou capaz.Eu não dou conta. Ah! Isso é muito difícil.

Certamente quando encontramos esse tipo de discurso, percebemos que existe uma grande fragilidade do indivíduo, do dono do discurso, em função do que ele pretende expressar. Quase sempre ele deseja dizer da sua incapacidade, da sua impossibilidade.

Mas, existe um fator preponderante, torno a dizer, que é o leme das nossas ações. Esse leme de tudo quanto nós fazemos, chama-se vontade. Naturalmente que somos pessoas dotadas de vontade, no entanto, existe uma coisa chamada boa vontade e outra, má vontade.

Às vezes, temos má vontade de fazer as coisas para nós próprios e, certamente, em nível de psicologia humana, isso representa um grande paradoxo, porque a coisa que nós mais queremos é crescer, é evoluir, é progredir.

Ao mesmo tempo, parece que fazemos tudo para que esse estágio de evolução não se concretize e aí saímos com esses discursos vazios, frágeis: Eu não sou capaz, eu não posso, eu não consigo. Eu não dou conta. Já fiz de tudo. Já tentei tudo.

E sabemos que não é verdade, porque se tivéssemos tentado de fato, com boa vontade, teríamos conseguido.

Em verdade, a vontade é um leme, através de cuja ação, a embarcação da nossa vida, as nossas ações, se dirigem para onde nós quisermos.

Há pessoas que têm vontade de ser paparicadas, de serem vistas como coitadinha, de serem vistas como alguém que está sempre precisando de um afago alheio.

Não é a melhor opção, não é isso que deve ser a regra de nossa vida. A regra de nossa vida deve ser a da independência, de sabermos o que queremos e, ao sabermos o que queremos, tratarmos de marchar para esse objetivo. Nada de ficarmos com essas justificativas injustificáveis, de que não é capaz, de que não consegue. Porque quando nós dizemos assim, já estipulamos a incapacidade, já estabelecemos a nossa derrota.

É como se alguém fosse fazer um exame, uma prova, um concurso e dissesse: Eu sei que eu não vou passar.

Já determinou que não quer passar. É diferente daquela criatura que diz assim: Apesar de tudo eu vou fazer. Tive pouco tempo para estudar, tive pouco tempo para me preparar, porque trabalhei muito, porque viajei ou por qualquer outro motivo, mas eu vou tentar, eu vou conseguir.

Esse estado de ânimo em que a criatura diz: Eu vou conseguir, já deu a ela um background excelente para que ela alcance os objetivos de sua vida.

A vontade é esse timão, através do qual dirigimos a embarcação de nossa existência. Em todas as coisas que fazemos, só fazemos porque temos vontade.

Quando fazemos alguma coisa sem ter vontade, significa que é sem ter boa vontade. Mas, se estamos fazendo alguma coisa sem que tenhamos boa vontade, aí estaremos fazendo com má vontade.

A vontade sempre existe, mas ela pode ser uma vontade capaz de nos fazer crescer ou uma vontade capaz de nos atirar ao chão.

Qual é a nossa proposta de vida? Já que vontade vem do latim: volere, volere que deu volição, a vontade de, a vontade de realizar alguma coisa.

E a partir dessa volição, dessa vontade de realizar alguma coisa, nós somos responsáveis pela nossa vida, pelos passos da nossa vida, pelas coisas que desejamos ou não realizar.

Muitas vezes, o nosso discurso é de quem quer, mas a nossa prática é a de quem não quer. Muitas vezes dizendo não querer, o nosso discurso estabelece o que nós de fato desejamos.

* * *

Quando a criatura diz: Eu já tentei tudo, certamente essa é uma postura de comodidade, porque tudo ninguém jamais foi capaz de fazer. Nós fizemos algumas coisas e dessas coisas que fizemos, algumas deram certo, outras não deram certo.

Jesus Cristo foi especial ao nos dizer que tudo é possível àquele que crê. Lemos isto nas anotações do evangelista Marcos. E se tudo é possível àquele que crê, por que se torna possível a ele?

Porque essa crença está amalgamada sobre a vontade. Está alicerçada sobre a vontade. Tudo é possível àquele que tem vontade, poderíamos dizer assim. Porque quando nós temos vontade superamos problemas. Quando temos vontade superamos dificuldades, quando temos vontade nos esforçamos.

Essa vontade é um elemento catalisador que impulsiona dentro de nós as reações mais impossíveis. Aquela criatura que dizia assim: Não, com essa paralisia eu não serei capaz. E aí chega um fisioterapeuta, um médico, um amigo e diz assim: Você vai conseguir. Você é capaz.

E começa a fazer o exercício, começa a mostrar que é possível. No começo dói, no começo é difícil, no começo... mas o indivíduo vai vencendo as dificuldades.

Na medida em que vamos vencendo as nossas dificuldades, tudo se torna possível. É por isso que vimos Aleijadinho, com as deficiências que portava, ter se tornado o excelente engenheiro do barroco.

É por isso que vimos a notável Helena Keller, cega, surda, muda, tornar-se notável professora de cegos, surdos e mudos, viajar pelo mundo, fazer conferências.

É por causa disso que encontramos hoje as Olimpíadas para deficientes físicos, as Paraolimpíadas. E ficamos estupefatos, entusiasmados de ver o que vemos.

É por isso que hoje vemos criaturas cheias de mazelas orgânicas fazendo verdadeiros milagres, com o poder da sua vontade.

Quando temos vontade, o céu se move para nós. Quando temos vontade, arrastamos as montanhas mais pesadas e essa vontade é pródromo da fé, alimenta nossa fé.

E o Mestre Nazareno nos disse que, se tivéssemos fé do tamanho de um grão de mostarda, que é tido como dos menores grãos do mundo, uma das menores sementes do mundo, seríamos capazes de dizer às montanhas para que se afastassem e elas se afastariam.

Essas montanhas certamente não são as de granito, não são as montanhas da nossa geologia, são as montanhas da alma, as montanhas de problemas, as montanhas de dificuldades, de deficiências.

É por essa razão que somos movimentados pela nossa vontade.No mundo social, quando as obras não são feitas para a comunidade, dizemos que falta vontade política.

A vontade é, de tal forma identificada nas realizações da vida, que passamos a usá-la popularmente, sem que o povo se dê conta de que está enunciando uma grandíssima verdade.

Falta vontade política nos políticos, mas falta vontade política em nós. Às vezes, pela nossa política doméstica achamos que, se superarmos determinados problemas, não teremos mais o aconchego de Fulano, a paparicação de Beltrano.

Às vezes, na nossa política de vivência social com os nossos amigos, achamos que, se demonstrarmos a nossa capacidade, as pessoas não irão mais fazer para nós.

A nossa vontade precisa se associar à orientação de Jesus Cristo ao nos dizer que, tudo é possível àquele que crê.

Creiamos, desde hoje, que é possível sair da nossa deficiência, da nossa limitação, da nossa desordem interior.

Pessoas de pouca memória que dizem: Ah! Eu não sou capaz de lembrar. Não digam assim. Será melhor dizer: Vou fazer esforços para me lembrar. Porque estaremos trabalhando no positivo.

Quando eu já garanto que não serei capaz, de que já tentei tudo, estou me condenando à falência. A nossa vontade é o leme da embarcação da nossa vida. Se o timoneiro for um bom timoneiro, levará o barco da sua vida para o porto da paz e da realização. Mas, se ele for um mau timoneiro, certamente arremessará a nau de sua vida sobre os arrecifes, sobres as montanhas, e seu barco possivelmente, se não chegar a isso, adernará nas ondas bravias.

Vontade, volere, querer. Querer é poder, afirma o brocado popular.

E é por essa razão que, quando sentirmos a necessidade de querer, por que é que não vamos querer o bem, o amor e a paz, para que tudo mais se complete em nossa existência?

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 122, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em janeiro de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 24.08.2008.

23 março 2009

Imortalidade e Responsabilidade - Raul Teixeira

Imortalidade e Responsabilidade

Nós todos somos seres imortais. Você já deve ter ouvido falar que nós todos somos seres imortais.

Todos os religiosos admitem que nós somos imortais, dotados dessa característica que faz com que a morte não tenha poder de nos aniquilar.

Quando falamos em morte, é a morte do corpo, nunca a morte da alma. O Espírito é plenamente imortal. Podemos dizer que herdamos da Divindade, que é eterna, essa característica de sermos imortais.

Somos imortais, porque uma vez aparecidos no plano Divino, uma vez surgidos na tela cósmica do amor de Deus, nada nos poderá deletar.

Somos passíveis da eternidade, viveremos para sempre, porque Deus que nos criou, criou-nos para que sejamos perfeitos, ao longo dos milênios de evolução.

A nossa imortalidade nos dá essa garantia de que nós todos sairemos dos corpos pelos fenômenos da morte, do desprendimento, mas nunca sairemos da vida, essa estância que é um apanágio, que é uma característica dos seres espirituais. Nunca morrer.

Essa expressão que utilizamos para dizer que alguém morreu, é uma força de expressão. Morre-se quando se perde o corpo físico. Um corpo que, pela sua condição de desgaste, pela lesão que haja sofrido, pela enfermidade de que haja sido acometido, não pode mais servir ao Espírito imortal.

É como se tivéssemos um carro sem motor, é como se tivéssemos um veículo sem rodas e que, por causa disso, não mais o poderemos utilizar.

Então, a morte é uma expressão que se tornou coloquial, que se tornou bastante comum, exatamente para dizer que nós saímos do corpo, mas de nenhuma maneira saímos da vida.

Quando morremos, algo sai do corpo para habitar essa imensidão, algo se desprende da vibração orgânica. A carne, o corpo físico, o soma, como chamavam os gregos, tem o poder de abafar as potências da alma, tem a capacidade de diminuir as condições da alma.

Dessa maneira, nós pensamos como é que poderemos distender a nossa visão e enxergar o que se passa do outro lado do nosso país, ou em qualquer outro lugar do mundo, que não seja aqui ao nosso entorno?

Não podemos. Quando saímos do corpo, podemos. Porque o ser espiritual tem uma visão mais ampla, projeta a mente e visualiza aquilo que deseja.

Jesus Cristo nos ensinou que, onde estiver o nosso tesouro, aí estará o nosso coração. Como Espíritos fora do corpo, se estivermos em qualquer lugar e projetarmos o pensamento a outro lugar, onde se achem criaturas queridas ou situações que emprestemos valor, serão essas coisas nossos tesouros, e aí estará o nosso sentimento, aí estará o nosso coração.

Coração, cerne, intimidade. Não se trata de músculo cardíaco. Aí estará o nosso íntimo, nas palavras de Jesus.

Ora, nós saímos dos corpos e continuamos a viver. Se continuamos a viver, continuamos a travar contacto com nossos seres queridos.

Numa tese muito bem desenvolvida, o notável professor Rivail, que o mundo aprendeu a chamar de Allan Kardec, discute a tese – Há Espíritos? E essa tese ele discutiu ao abrir um dos seus livros chamado O livro dos médiuns. De uma maneira dialética, muito lúcida, o professor Rivail vai discutindo essa questão, uma após outra, uma sedimentada à outra, até chegar à conclusão de que sim, há Espíritos.

Ora, se há Espíritos, por que é que eles ao existir, não podem se comunicar conosco? E se se comunicam conosco, por que é que não nos podem trazer coisas boas, notícias boas ou notícias drásticas? Por que não podem entrar nessa relação mais profunda conosco?

Somos todos nós seres imortais, continuaremos a nos contactar ao longo de todos os tempos e fora das dimensões temporais. Saímos do corpo, mas isso não quer dizer que saímos da vida.

* * *

Quando constatamos que não saímos da vida, descobrimos uma coisa muito bonita para nós: nunca iremos morrer.

Se nunca iremos morrer, os nossos entes queridos também não, e aqueles que já se foram não estão mortos, eles vibram numa outra dimensão. Nossas mães, nossos pais, nossos irmãos e amigos converteram-se em estrelas. São astros luzentes ou estrelas obscuras, vibrando por nós ou aguardando nossa oração por eles.

É muito importante saber que somos imortais. Essa convicção de que o fato da linearidade do eletrocardiograma ou do eletroencefalograma ocorrer, não significa que a morte do coração ou a morte cerebral nos haja matado espiritualmente, nos haja destruído espiritualmente.

Os seres espirituais que somos prosseguiremos auferindo os valores que plantamos na Terra. Continuaremos a receber de volta os frutos, cuja sementeira um dia fizemos.

Foi Cristo que nos ensinou que a cada um será dado conforme suas obras e que a sementeira é livre, nada obstante é obrigatória a colheita.

Então isso se, por um lado, é uma maravilha para nossa consciência cristã, por outro lado é motivo de muita responsabilidade. Uma vez que a morte não nos mata essencialmente, só nos mata relativamente, porque nos arranca o corpo, uma vez que vamos chegar nessa dimensão espiritual e encontrar nossos amores, nossos entes queridos e toda felicidade que tenhamos amalgamado no mundo, o outro lado também é verdadeiro.

Iremos defrontar com todas as negatividades que tenhamos desenvolvido, colheremos os frutos azedos ou amargos que tenhamos plantado. Teremos que arrancar as plantas espinhosas cujas sementes atiramos pelos caminhos dos outros um dia. E, por esses caminhos nós mesmos teremos que passar.

Ora, se por um lado é importantíssimo saber que somos imortais, não podemos descurar da responsabilidade que essa condição nos imprime, nos impõe.

Somos imortais, mas igualmente somos responsáveis. Não precisamos trabalhar com o conceito de culpa. A culpa pesa-nos muito na consciência, na alma, na vida. Mas a responsabilidade é inerente a toda criatura.

E nós somos e seremos responsáveis pelas coisas boas que fizermos, quanto pelas coisas nocivas que realizarmos.

Vale então, viver na Terra, na relação com os nossos afetos, nossos familiares, nossos amores ou com a relação com o mundo, de tal maneira que não nos percamos dessa consciência de que, mais dia, menos dia, nós sairemos do corpo e continuaremos com as marcas positivas ou negativas para as quais tenhamos contribuído ao longo da estrada terrestre.

É tão importante que a gente saiba que é imortal. É tão importante saber que Jesus Cristo desmascarou a morte, tirou todo o status de que a morte era merecedora.

Nada obstante, Ele assevera para nós que, a cada um será dado conforme as suas obras. E já que não vamos morrer definitivamente, todo cuidado será pouco com as responsabilidades do nosso caminho.

Tratar as pessoas com lhaneza, com educação, com nobreza, mas também dizer-lhes: sim, sim, não, não. Afirmar das coisas que não gostamos, das coisas que ficaram mal feitas, são características de quem deseja evoluir com lucidez e com verdade.

Não é pelo fato de respondermos pelos nossos atos, que não teremos os nossos atos, mas vamos procurar tê-los muito bem feitos. Mesmo quando tenhamos que chamar a atenção desse ou daquele, mesmo quando tenhamos que admoestar nessa ou naquela circunstância, a nossa certeza de que tudo isso será para o bem, uma vez que o nosso Criador, que o Pai Celeste não está preocupado propriamente com aquilo que nós fazemos mas, sim, com o porquê de nós termos feito aquilo, dessa ou daquela maneira.

Vamos ter essa consciência de que o fato de não morrermos jamais, ao invés de nos permitir uma vida solta e leviana, nos impõe uma vida regrada, disciplinada, ajuizada, para que quando saiamos daqui, encontremos um grupo de almas queridas que nos recebam com carinho, pelo dever retamente cumprido. E aí então, juntos diremos:

Ave Cristo, pela imortalidade que Tu nos demonstraste!

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 104, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em agosto de 2007. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 28.09.2008.

22 março 2009

Sentido da Instrução - Raul Teixeira

Sentido da Instrução

Pouca gente se dá conta do valor da instrução. É verdade, muito pouca gente valoriza o saber.

Quando travamos contato com a questão instrucional, nos damos conta de que esse verbo, instruir, provém do latim: in - mais struere. In significando dentro de, como: injetar, injeção, investigar, introduzir. Struere significa ajuntar, amontoar, reunir, empilhar, e a idéia de reunir dentro de, ajuntar dentro de, nos dá o conceito de instruir.

Todas as vezes que nós estamos sendo instruídos, estamos aprendendo alguma coisa, estamos captando, alguém nos está ensinando, estamos fixando dentro de nós alguns valores, às vezes, até desvalores.

Mas, a instrução se refere a esse ajuntamento de recursos, a esse ajuntamento de informações que nos são passados de variadas formas. Essas informações, esses conteúdos, podem nos chegar através do livro.

E que viagens o livro nos faz realizar! Muitas vezes, jamais saímos do nosso país ou mesmo de nossa cidade para ir a outro lugar, mas, através do livro, travamos contato com a cultura desse lugar, com a geografia, com a história, com o meio ambiente, com a política desse lugar e acabamos por conhecê-lo de tal modo bem, que o livro se nos tornou um mestre silencioso.

Como faz falta um livro bom, um livro capaz de nos instruir, de nos fazer viajar, conhecer, melhorar a nossa escrita.

Sim, é verdade. Toda pessoa que se acostuma a fazer boas leituras, fala melhor, escreve melhor, de melhor modo se comunica e aí, o valor de um livro é incalculável.

Na medida em que temos visto passar o tempo, também temos visto se esvaziarem as bibliotecas, quando seria importante que as bibliotecas vivessem sempre abarrotadas de gente que vai ler, de gente que vai buscar emprestado para ler em casa, de gente que vai consultar revistas, jornais, de pessoas interessadas na instrução.

Quando nós pensamos nisso, a instrução não será apenas ler livros. Mas, quando nós assistimos a um bom filme, a uma boa peça teatral, quanta instrução nos advém desses recursos midiáticos.

Um bom filme nos leva a viajar, a conhecer lances da História, romances extraordinários vividos no mundo, por personagens que aprendemos a admirar, de tanto que já ouvimos falar deles.

Quem é que não se extasiou quando leu a respeito de Romeu e Julieta? Aqueles que puderam travar contato com esse romance, até hoje guardam em si, o livro, o filme a respeito desse notável casal italiano.

Quando nós pensamos em instrução, por que não falar da música? Meu Deus! Há pessoas que se conformam em ouvir a música, gostar da música, mas há outros que se interessam por saber quem é o compositor, quem fez a música, outros, quem é o autor, quem fez a letra. Outros se interessam pela história da música.

Há gente que gosta de música popular, de samba, de bolero, de hep, de reggae, de soul, mas há aqueles que gostam de clássicos, que gostam de óperas, e aí vão buscar a história.

Por que é que o cantor cantou daquele jeito, naquele determinado momento, naquela passagem? Por que é que ele modulou a voz daquele modo?

Há cultura, há instrução. Não estamos ouvindo por ouvir. Tudo quanto ouvimos, passa a ter sentido para nós e, a partir desse sentido, nós é que crescemos.

Falar as coisas com conhecimento de causa, sairmos gradativamente desse canhenho da ignorância. É uma maravilha nos sentirmos superiores a nós mesmos, não superiores a ninguém, mas a nós mesmos.Batemos o nosso próprio recorde.

E é tão bom saber, é tão bom nos instruir, que faz com que sejamos pessoas mais confiantes.

Quando abrimos a boca, sabemos o que estamos dizendo. E porque temos o hábito da instrução, temos também a noção daquilo que não sabemos. E quando temos a convicção a respeito do que não sabemos, somos tomados pelo espírito da humildade, de perguntar, de sondar, de averiguar, até descobrir.

* * *

Quando falamos da questão instrucional, ao lado de todas essas coisas, da música, clássica ou popular, lírica, como quisermos, do cinema, do teatro, do livro, não podemos esquecer das artes plásticas.

Quando visitamos um museu, será que nos comportamos como um jumento diante de um palácio de cristal, olhando aquele monumento, aquelas pinturas, aquela junção de cores, ou conseguimos identificar qual é a escola? É romancista, é cubista, é barroca, é clássica?

É tão bom podermos chegar diante de uma tela, e identificar o seu período, as características do seu pintor, a concepção daquela obra. Então a obra passa a ter sentido para nós, porque uma pintura é um discurso que o pintor fez, é um diálogo que o pintor deseja travar com alguém. Do mesmo modo, a música.

Daí então, quando olharmos um quadro, quando virmos uma escultura, esse caráter instrucional que estamos buscando desenvolver, vai nos dizer coisas maravilhosas a respeito do que até então desconhecíamos.

Mas, ao falarmos na necessidade da instrução, na importância de saber, vale a pena imaginar a nossa ciência. A ciência hoje, com toda essa maravilha que nos extasia. A tecnologia que se vale da ciência, que nasce no berço da ciência, para facilitar a nossa vida.

Os milhares e milhares de indivíduos que usam, diariamente, o telefone celular, mas que nunca ouviram falar de quem foi o inventor do telefone. Nunca ouviram falar de Graham Bell.

É importante nos interessarmos por saber quem foi que inventou esse aparelho tão fantástico, que nos permite falar com um indivíduo do outro lado do mundo, falar a grandes distâncias. Por isso, ele é chamado telefone. Tele quer dizer, à distância. Visão à distância, televisão. Audição à distância, fala à distância, é telefonia, fonia de fonos, de fala.

Então nós vamos vendo a instrução. Já sabemos o significado das palavras, agora identificamos a grandeza da tecnologia.

Como é importante podermos assistir a um jogo de uma Copa do Mundo, de uma Olimpíada que está se dando em qualquer parte do mundo, em tempo real. Já pensamos a respeito disso alguma vez?

Mas, quando nos damos conta dessa verdade, que nós poderemos alcançar nos instruindo, não podemos esquecer que os Nobres Guias da Humanidade, um dia, nos propuseram a necessidade de amar e de nos instruir.

Amai-vos e instruí-vos. O amor é Deus. Fora do amor não conseguimos nada. E a instrução é que nos permitirá, gradativamente, compreender as Leis de Deus. As Leis de Deus que estão em nós registradas, em nossa mente, em nosso psiquismo profundo.

E as Leis de Deus que estão nas coisas. Quando olhamos a planta que cresce, o animal que nasce, o movimento do dia, da noite, os arrebóis, os entardeceres.

Quando vemos os amanheceres notáveis, as auroras, e podemos compreender por que é que essas coisas se dão, em razão do movimento do sol, da Terra, dos astros.

Quando ouvimos falar em auroras boreais, quando ouvimos falar em cometas, em meteoritos. Tudo isso é engrandecimento da nossa vida, é cultura.

O Evangelho de Cristo é o manancial de bênçãos nos induzindo ao crescimento.

Jesus Cristo, um dia, disse aos Seus discípulos, querendo Se dirigir à Humanidade inteira: Brilhe a vossa luz.

Fazer brilhar a nossa luz é desenvolver nossos próprios valores, é desenvolver nossas condições de compreensão, de entendimento.

Saber olhar para as coisas e ler a vontade de Deus nelas explicitada. Entender a vontade de Deus é olhar a flor e entender a magia das cores, olhar seus pistilos, suas pétalas, e verificar o recado que Deus quer nos dar através do jardim.

É graças a esse poder de aprender, de nos instruir, que vamos gradativamente saindo do território da ignorância e mergulhando nesse oceano imenso do saber. Mas um saber que não pode se fechar na nossa mente, não pode se tornar uma riqueza cerebral apenas.

E, ao invés de nos tornarmos sabedores, conhecedores, será importante nos façamos pessoas sábias. Todo sábio é aquele indivíduo que sabe aplicar, em seu próprio proveito e em proveito da vida, todos os conhecimentos que porta, todos os conhecimentos que tem.

É através da instrução, de ajuntar por dentro de nós tanto saber, que nos candidatamos a nos tornar sábios, vivendo o amor de Deus na relação com o próximo.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 123, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em janeiro de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 05.10.2008

20 março 2009

A Revolução Planetária - Raul Teixeira

A Revolução Planetária

O nosso planeta é um corpo vivo solto no espaço. E, certamente este nosso planeta há passado por incontáveis transformações. Por ser um corpo vivo, está em processo de evolução permanente, de amadurecimento.

E por ser um corpo vivo e por estar nesse processo de amadurecimento, nós presenciamos a cada dia, tudo quanto vem ocorrendo com o nosso querido planeta terrestre. As suas transformações são incontáveis. A Terra é um mundo em transformações.

Basta pensarmos que aqui nós temos vivido transformações de variadas ordens. Há transformações geográficas. Naturalmente, quando pensamos nessas transformações geográficas, pensamos em transformações geopolíticas porque, afinal de contas, ainda nos lembramos bem da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Depois do extermínio do comunismo por Gorbatchev, a União Soviética desapareceu.

Tomba o regime, cai o muro de Berlim, acabam-se todas as pressões e o Portal de Brandenburg se abre para que as duas Alemanhas pudessem se confraternizar.

Mudanças geopolíticas porque, agora, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas se distribue, se racha, se parte nas suas Repúblicas componentes. Antes, pelo regime da força, ali estavam todos juntos. Depois abriu-se o sistema e a Rússia tomou a hegemonia da região, mas a União Soviética desapareceu.

Mas, se nós pensarmos nessa linha geopolítica, olhamos para os Bálcãs e verificamos que, com a morte do General Tito, desaparecem todos aqueles sistemas hegemônicos, e a Iugoslávia abre espaço para que surjam Montenegro, Sarajevo, várias outras Repúblicas. E o mundo se modifica outra vez, geopoliticamente.

Guerras, transformações, conflitos... Mas, se pensarmos em termos geológicos, o nosso planeta é um corpo ainda muito virgem. A Terra tem poucos milhões de anos. Para um corpo sideral é muito pouco tempo.

Basta pensarmos que ainda temos no coração do planeta, no cerne planetário, substâncias liquefeitas, substâncias em processos viscosos.Temos o nife, essa composição de níquel e de ferro, quase líquida. E, totalmente líquidas outras mais internas, pela temperatura exagerada da intimidade planetária.

É graças a isso, que nós ainda encontramos na Terra os vulcões. O que são os vulcões senão válvulas de escape, para que o planeta não estoure, sob as pressões internas dessas substâncias liquefeitas e quentes?

Os vulcões permitem que o esvurmar dessas substâncias possa dar à Terra um alívio, em sua pressão interior.

Encontramos na Terra, em função dessas camadas liquefeitas da sua intimidade, as camadas que se solidificaram sobre a parte liquefeita. E por isso encontramos as chamadas placas tectônicas: a parte sólida sobre essa parte líquida ou viscosa, essa massa em alta temperatura da intimidade do planeta.

Quando pensamos assim, começamos a compreender que, se existe uma quantidade líquida no miolo do planeta, e sobre ela está a parte sólida, qualquer movimento da parte líquida impõe movimentos à parte sólida.

Essas placas tectônicas se movem, e se move tudo que está sobre elas. É por isso que tremem edifícios, ruem pontes, desabam construções.

Quando essa camada líquida se move e as placas tectônicas se agitam nos fundos dos mares, as ondas agigantadas da intimidade dos mares se pronunciam, e quando chegam na superfície, nós encontramos os fenômenos notáveis que deram origem a um nome novo para o ocidente, as tsunamis. Graças ao movimento geológico, graças ao movimento planetário, graças a essa expressão de vida que a Terra demonstra em cada momento As nossas transformações planetárias são incalculavelmente importantes.

É por causa disso que nós deveremos estar sempre atentos à condição de vida do planeta, às manifestações de vida do mundo em que vivemos, para que possamos compreender a razão pela qual tantas outras coisas se vão dando, ao longo do tempo de existência do nosso mundo.

* * *

Esses maremotos, essas tsunamis fazem parte desse processo natural do planeta. E temos, ao lado dos terremotos, das tsunamis e dos vulcões, os furacões, os grandes ventos, os tornados, todo um movimento planetário que permite a existência desses fenômenos geoclimáticos.

A partir daí, vale a pena pensar que, se nós estamos sobre este planeta que se movimenta, que se transforma, que se agita em suas entranhas, considerando que Deus, o Criador, jamais erra, existem razões ponderáveis para que nós estejamos aqui renascidos sobre este planeta, para que nós vivamos aqui sobre o solo planetário.

E é por causa disso que verificamos o tipo de Espíritos que somos nós aqui na Terra. Como é que nós agimos e reagimos na nossa convivência com o mundo?

Somos ainda criaturas de índole um tanto ríspida. Guerreamos, somos belicosos, carregamos ainda essas marcas da beligerância em nossas atitudes. Ainda vivemos a falta de fraternidade, a traição contra amigos, familiares, entes queridos, a soberba, a vaidade.

Ainda carregamos na Terra essas marcas tremendas do orgulho individual, do orgulho familiar, do orgulho social e, óbvio que essas manifestações do nosso caráter dizem porque é que nós estamos aqui, num mundo em processo de amadurecimento, num planeta em processo de maturação.

Por que? Porque esses fenômenos que ocorrem no mundo, eles teriam que ocorrer. A Terra está amadurecendo, põe para fora seus produtos, treme nas suas bases.

Mas, nós, os humanos que estamos matriculados neste planeta, estamos aqui por razões muito especiais. A Divindade pretende que nós nos aproveitemos dessa realidade planetária para desenvolver muitas coisas que precisamos desenvolver: nosso conhecimento científico, nosso conhecimento tecnológico. Para que nós possamos nos desenvolver em termos morais, a partir dessas circunstâncias.

Graças aos fenômenos metereológicos do nosso mundo, a metereologia vem se desenvolvendo, capaz de dizer quando vai chover, a quantidade de chuva, quanto tempo vai durar; quando vai nevar, nas regiões onde neva, qual é a quantidade, qual é o tipo de neve, quanto tempo vai durar, para que as comunidades se previnam, principalmente as comunidades que têm plantações.

A nossa tecnologia vem se desenvolvendo a tal ponto, que já existem os sismógrafos, aparelhos capazes de detectar esses tremores de terra e avaliar quando é que esse tremor chegará onde o pesquisador se encontra.

Daí, nós vamos verificando que as transformações por que passa o planeta também têm o sentido de permitir à criatura humana o seu amadurecimento científico, tecnológico, emocional, moral.

Se nós pudermos pensar nessas transformações tecnológicas pelas quais tem passado nosso planeta, verificaremos coisas maravilhosas, principalmente no campo da informática.

E nos damos conta de que, na década dos quarenta do século XX, década de 1950, o mundo começou a ouvir falar de cérebros eletrônicos. A construção de Norberto Winer foi de ordem magnífica, porque ele pensou em construir uma máquina que pudesse realizar operações como o cérebro humano realiza.

Ele quis imitar o nosso sistema nervoso central. Por isso, a máquina se chamou cérebro eletrônico. Cabia em dois andares de um prédio. Hoje, nós encontramos os computadores de tal forma aprimorados, de tal modo aperfeiçoados, que cabem na palma da nossa mão.

Carregamos um aparelho que é, ao mesmo tempo, telefone celular, fax, televisão, máquina fotográfica, e até consegue falar, tão aprimorados estão os computadores.

Os satélites que a criatura humana mandou para rodear a Terra, como o Hubble, que manda fotografias do Cosmo alcançável, a cada décimo, milésimo, centésimo de segundo, para que a NASA possa saber o que se passa, para que as estações espaciais possam acompanhar o movimento do nosso planeta.

Deus pretende que com esses recursos nós evoluamos, nós cresçamos.

A Terra é um mundo vivo, é um corpo vivo que se agita, e nós, Espíritos nascidos nele, vivendo sobre ele, precisamos aprender a evoluir, crescer e amadurecer para Deus.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 133, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em janeiro de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 12.10.2008.

19 março 2009

A Humildade Focalizada - Raul Teixeira

A Humildade Focalizada

Entre as virtudes, existe uma que é o carro-chefe do progresso, e poucas vezes nos damos conta disto. Essa virtude se chama humildade.

Lamentavelmente, a humildade entrou nesse carreiro de má interpretação, do mesmo modo que as pessoas interpretam mal o amor, a paz, caridade, fraternidade. Costuma-se imaginar que elas sejam quaisquer coisas, menos aquilo que de fato elas são. A humildade não escapou desse trajeto da má interpretação.

Para muita gente, ser humilde é ser covarde, é a tibieza, é a timidez.

Mas, a humildade não tem nenhum compromisso com a covardia, nem com a tibieza, nem com a timidez. Pelo contrário, a humildade é uma virtude pró-ativa, é também uma virtude ativa.

A criatura humilde não é aquela que fica esperando cair do céu, quieta, parada, que não fala, que não reclama, que não chama atenção, que não se levanta. Não. A humildade, não. A humildade é exatamente aquela que esclarece, que orienta, que ilumina, que diz sim, que diz não, sem faltar com a verdade, sem faltar com o amor.

A humildade é exatamente a trilha sobre a qual o amor se move. Ninguém consegue amar se não for humilde.

É importante pensar nisso, quando nos lembramos que a natureza nos dá exemplos notáveis dessa virtude. Basta vermos como é que o sol trata o pântano. Para qualquer pessoa à margem desse lamaçal, o pântano não passaria de um fétido, de um charco mal cheiroso. Mas o sol beija o charco, beija o pântano, drena-o e permite que sobre ele nasçam flores. Permite que sobre ele caminhem os homens.É a humildade. Ele não se preocupa se ali era lama, ele se ocupa em atender.

Percebemos que a água, medicinal por si mesma, a água pura que nos dessedenta, que dessedenta os animais, que dessedenta os vegetais, teve que atravessar as camadas mais rústicas de pedra, o filtro das pedras, para tornar-se útil, depois que atravessasse a dificuldade.

Jamais alegaria cansaço, jamais atiraria no rosto de quem a absorve, dos homens, dos animais, das plantas, o seu cansaço, o seu desgaste.

Para chegar aqui, eu tive que atravessar as camadas de pedra. Para atendê-los, eu tive que sofrer isso, ou aquilo.

As águas, não. Onde elas estão, cantarolam, refrescam, hidratam, e ninguém sabe das suas lutas para chegar até ali, para chegar à nossa mesa.

Encontramos, depois do temporal que revirou a terra, que revolveu o solo, depois que a calmaria chega, novamente os vegetais crescerem sobre tudo que sobrou.

É bonito ver a natureza mostrando essa capacidade da humildade.

Como eu vou produzir sobre dejetos? Como eu vou iluminar o lamaçal? Mas por que eu tenho que servir às pessoas depois de ter enfrentado tantas dificuldades?

O sol sobre o charco, a água vazando os minerais, as pedras, as rochas; e o vegetal crescendo sobre os escombros deixados pelo aguaceiro, pela chuva, pelos temporais.

É tão importante saber que a humildade tem essa característica de servir, mas não de calar. De servir, mas não de se omitir.

A humildade é que fez com que nós conhecêssemos pelo mundo afora, a saga de homens notáveis como Martin Luter King Jr., nos Estados Unidos, o negro que não se conformava com o apartheid social norte-americano.

Em nome da sua humildade fez uma campanha, uma marcha sobre o Estado onde está a capital do país: a marcha sobre Washington, distrito de Colúmbia.

Para falar ao país, juntou os negros, os brancos, os amarelos, todos quantos viviam na América, incomodados com aquela situação do preconceito racial.

É claro que pagou com a vida a sua humildade, mas a partir disso, o preconceito racial caiu nos Estados Unidos. Nova legislação se levantou e o único negro que tem um dia oficial nos Estados Unidos, feriado nacional, é Martin Luter King Jr.

* * *

A partir de Martin Luter King Jr., com essa movimentação nos Estados Unidos, se pôde pensar num gesto de humildade e de grandeza.

Se pensarmos bem sobre isto, aquelas pessoas que tentam passar uma imagem de que são humildes, costumam ser muito orgulhosas. Aquelas que têm orgulho da própria humildade, porque Jesus Cristo é o ponto máximo da humildade na Terra, é o grande estro da humildade.

Mas Ele não Se omitiu, não mentiu, não fugiu. Pelo contrário, por Seu amor à verdade, na hora em que os soldados chegaram, no Monte das Oliveiras, para prendê-Lo, antes que Judas Lhe desferisse o beijo, os soldados perguntaram por Ele e Ele indagou:

A quem procurais?

A Jesus de Nazaré.

Aqui o tendes, eu o sou.

Ninguém faria isto. Normalmente, a criatura humana trataria de esgueirar-se, de fugir, de desaparecer dali.

Mas a humildade de Jesus Cristo não permitia que o fizesse. Porque a humildade é uma virtude corajosa. Ela sabe que nada pode empanar a verdade. Então, é uma virtude corajosa.

Em outros momentos: Vós me chamais Mestre e Senhor e dizei-o bem, porque eu o sou.

Quantas são as pessoas, entre nós, que ficam querendo fugir das palavras elogiosas, das palavras enaltecedoras, embora gostando delas?

Se fazemos um elogio por um prato bem feito - Quem sou eu? Não sou ninguém. Não fui eu. Longe de mim.

Bastaria à pessoa, se fosse de fato humilde, agradecer:

Muito obrigado, que bom que você gostou. Fiz para você gostar.

Isso é um gesto de humildade.

Qual é a cozinheira que cozinha para que ninguém goste da sua comida? Qual a costureira que costura para que ninguém goste do seu produto? Qual é o agricultor que planta, que colhe para que ninguém compre seus produtos?

Então, quando eles começam a retirar o corpo fora, é um gesto de falsidade. Eles estão gostando dos elogios, bastaria agradecer.

E se a pessoa disser-nos alguma coisa que a gente ainda de fato não é, o elogio se tornará um incentivo para que persigamos aquela virtude e não carreguemos o peso de um elogio vazio. A humildade tem essas características.

Quem é responsável por este material?

Sou eu.

Quem foi que fez esse quadro lindo?

Fui eu.

E, se a pessoa nos cobrir de elogios, e nós saibamos que não é tanto assim, aprendamos com os Imortais a dedicar a Jesus Cristo todos os aplausos, todos os elogios, todas as palavras entusiásticas, porque é Ele o nosso estro, o nosso Mestre e a nossa inspiração.

A humildade, então, é uma atitude que se tem diante da vida.

Toda criatura que trabalha honestamente para ganhar seu pão diário, é uma pessoa humilde. Se ela não fosse uma pessoa humilde, estaria querendo explorar alguém para ganhar por ela.

Toda criatura que realiza bem o seu mister, que dá conta do seu trabalho, que se preocupa em concluí-lo bem, em agradar a quem o requisitou, é uma pessoa humilde, porque gostaria de que os outros levassem uma boa imagem e gostassem do seu trabalho.

Quantas, quantas foram as vezes em que Jesus Cristo Se manifestou assumindo posições:

Eu sou o médico das almas. Eu sou o caminho, eu sou a verdade, eu sou a vida e ninguém chegará ao Pai, se não for por mim.

Imaginemos se, em nome da humildade, Jesus Cristo Se houvesse omitido: Não, não sou eu o caminho. Não, não sou eu.

Para onde os discípulos iriam? Para quem eles iriam, a quem buscariam?

Por isso, vale a pena na nossa vida assumirmos posições. Mas isso não será indício de vaidade? Não, será indício de verdade. Aquilo que é de nossa responsabilidade, nós assumimos e aquilo que é da responsabilidade do outro, nós dirigimos a outro:

Não, muito obrigado pelo elogio, mas quem fez foi ele. Muito obrigado, mas quem fez foi ela, isso não é obra minha.

Essa é a verdade da humildade. Quem não é humilde costuma apanhar os louros dos outros para si. Está numa equipe em que todos trabalharam e ele assume para ele as glórias, o louro, e não explicita que os seus companheiros participaram.

A humildade - temos que focalizar bem esta virtude, porque ela é o grande dínamo impulsionador do nosso progresso humano.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 126, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em janeiro de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 19.10.2008.

18 março 2009

Ser Obediente e Resignado - Raul Teixeira

Ser Obediente e Resignado

Conhecemos dois momentos muito interessantes, em algumas vidas bastante importantes. Um deles, é aquele momento em que, segundo os textos bíblicos, Maria de Nazaré ficou sabendo que seria mãe.

A sua expressão, conforme os registros religiosos, é muito interessante:

Senhor, faça-se em mim segundo a Tua vontade.

Esse é um momento que vamos deixar para analisar logo mais.

Depois, encontramos uma outra ocasião, em que o notável Francisco de Assis, diz assim:

Senhor, faze de mim um instrumento da Tua paz.

Quando percebemos isto, ficamos a analisar as duas posturas.

Maria, ao saber da sua gravidez, ao saber que tinha sido escolhida por Deus para dar a luz a um dos Seus mais eminentes filhos, na Terra o mais eminente, Jesus, se dirigiu ao Pai dizendo:

Faça-se em mim segundo a Tua vontade.

Esse momento em que Maria se refere a Deus dessa forma, se dirige a Deus desse modo, ela está demonstrando uma resignação. Mas era uma resignação de quem sentiu a importância daquele momento e daquela notícia.

Maria certamente, não poderia avaliar ainda as conseqüências, os desdobramentos dessa maternidade, possivelmente não. Mas, sabia que se era uma escolha do Criador, se era uma determinação de Deus, isso tinha que ser algo importante para a sua vida, para a vida.

No entanto, Francisco se utiliza de um outro recurso. Ele, sabedor de que ser instrumento de Deus ou do Cristo é algo de grandíssima magnitude, pede a Cristo ou pede a Deus, para que faça dele um instrumento do trabalho.

Esse momento franciscano é um momento de obediência a um propósito.

E nós notamos que na postura de Francisco, existe uma conscientização, uma reflexão, essa certeza de que tornar-se alguém instrumento do bem, é de fundamental importância para o próprio instrumento do bem, mas fundamentalmente para a vida.

Desse modo, estamos diante de duas questões fundamentais nas nossas relações humanas: aquela que diz respeito à obediência, e aqueloutra que se refere à resignação.

Todas as vezes que falamos em obediência, é muito comum que as pessoas entendam ou que nós entendamos, que obedecer a algo ou a alguém, é um gesto de humilhação.

Obedecer. Carregamos na alma esse impulso da oposição, do desacato e desse modo, a obediência entre nós não é uma coisa bem vista.

Quando os pais pedem aos filhos obediência, costumeiramente estão em clima de briga, de imposição, alguma disfunção familiar. E, então, a idéia da obediência costuma estar associada à idéia da humilhação.

Você tem que me obedecer, Fulano. Você tem que fazer o que eu digo, Beltrano.

E, no inconsciente geral existe essa idéia de que obedecer é humilhar-se. Nada obstante, o que nós aprendemos com os grandes Mestres da Humanidade, é que a obediência tem respaldo do discernimento, da razão.

Obedecer é estar de acordo com a razão. Não é se humilhar, não é fazer o que os outros queiram. É entender exatamente a importância daquilo que nós iremos fazer.

Obediência tem o respaldo, o apoio da razão. Se nós obedecemos sem raciocinar, naturalmente será um gesto de fanatismo, mas se nós obedecemos sabendo o que é que estamos fazendo, sem dúvida alguma, é a mais notável obediência. Aquela buscada por Francisco.

E a resignação, esse consentimento do coração, é aquela postura de Maria de Nazaré diante do que não se pode torcer. E sabendo da importância desse ato que não se pode torcer, ajustar-se à vontade de Deus, submeter-se à vontade de Deus, porque sendo Deus a Inteligência Suprema do Universo, tudo que Ele faz sobre nós e para nós, é perfeito.

* * *

Uma vez que tudo o que Deus faz para nós é positivo, é perfeito, é absoluto, resta pensar como é que nós agimos no cotidiano, quando temos necessidade de obedecer.

É uma luta do orgulho. Nós ficamos atormentados. A. soberba assoma em nossas atitudes, se apresenta em nossas atitudes e ficamos verdadeiramente transtornados.

É por isso que grande número dos indivíduos detesta obedecer sinal de trânsito, faixa de pedestre. Detesta obedecer às leis, porque imaginam que esta obediência lhes trará alguma humilhação.

É tão comum as pessoas trabalharem para desobedecer, para desacatar. Pisar no jardim, quando se pede não pisar, quando se proíbe pisar.

Pichar muros, quando se proíbe pichar ou há uma placa dizendo que não se deve pichar.

Fumar em lugares fechados, desrespeitando as outras pessoas que ali estão, apesar da placa indicando: Pede-se não fumar. Por favor, não fumar. Proibido fumar.

Essa concepção de desobedecer ao status quo é típico da criatura ainda inferiorizada. Ela poderia parar para pensar: Por que é que eu não devo pisar o jardim? Porque esse é um trabalho para todo mundo, é um trabalho que alguém fez com suor, com esforços. E por que é que eu tenho o direito de pisar?

Por que é que eu não devo fumar aqui?

Porque ninguém é obrigado a participar dos meus vícios. Ninguém tem que compartilhar do meu desejo, se não o deseja.

Por que eu não posso fazer essa contramão? Porque pode vir alguém obedecendo o sentido da rua e será atropelado por mim. De alguma forma eu estarei cometendo um equívoco ou um grave erro.

Todas as vezes que, diante da necessidade de obedecer, nós raciocinarmos, estaremos fazendo exatamente o que deve ser feito.

Obedecer é pedir autorização à razão para fazermos isto ou fazer aquilo, e nessa hora não importa quem é que nos tenha dado a ordem ou a determinação.

Muitos homens não gostam de acatar o que a esposa fala, o que uma mulher fala. Outras vezes, a mulher não gosta de obedecer ao que o marido diz, ao que um homem diz, por causa dessas tolices de machismos, de feminismos, sem acatar com o fato em si, sem atinar para o fato em si.

Obedecer não importa a quem. Pode ser dito por uma criança. Se a criança diz assim:

Cuidado, aí tem tinta fresca, passe por outro lugar - se nós insistirmos, vamos nos tingir com a tinta fresca.

Então, quando somos pessoas amadurecidas, não temos nenhum problema em obedecer, desde que vejamos sentido nisso, desde que haja sentido para isso.

E a resignação é este impulso do coração. Mas, quando falamos em impulso do coração, não deixa de ser uma força de expressão, porque o coração não tem impulso.

O impulso, de fato, é da inteligência e, diante das questões que nos levam à resignação, basta usar a inteligência para verificar que são coisas que não poderemos torcer. A resignação diante do inevitável, diante da morte, por exemplo.

Quando falamos em resignação, não se trata de uma acomodação. Vamos trabalhar nas pesquisas, na medicina, para evitarmos que as pessoas morram por qualquer coisa, por uma virose, por uma bacilose, por um processo qualquer que a ciência já tenha possibilidades para impedir.

A resignação nos leva a pensar que, sendo a desencarnação ou a morte um fenômeno natural, e que todos os indivíduos teremos que por ela passar, é o inevitável. Não me adiantará a insubordinação, o desespero, a gritaria, porque todas as criaturas no mundo morrem.

Ricos e pobres, potentados ou gentalha, todos morremos. O fato é que a resignação nos leva a esse consentimento do entendimento, do sentimento.

Por isto, fala-se que a resignação é o consentimento do coração, porque nós precisamos, depois de refletir, depois de raciocinar, depois de avaliar pela razão, abrir-nos para acatar aquilo que seja determinação da vida:

Senhor, faça-se em mim segundo a Tua vontade.

E pensar em Francisco:

Faze de mim um instrumento da Tua paz.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 129, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em janeiro de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 26.10.2008.

17 março 2009

Assistência Espiritual - Raul Teixeira

Assistência Espiritual

É muito comum nós escutarmos o ditado popular: Diga-me com quem andas e te direi quem és. Quem não conhece isto?

E, naturalmente, usamos esta expressão, para designar as pessoas que têm más companhias, que andam em boas companhias. Pela companhia que a gente escolhe, as pessoas nos caracterizam.

Fulano é bom menino, ele procura boas companhias. Fulana é boa moça, está sempre com boa gente.

E o contrário: Ele não vale nada, vê o tipo de pessoa com que ele anda.

Os seres espirituais têm uma outra maneira de encarar isso. Ao invés de dizer como nós dizemos, dize-me com quem andas e te direis quem és, eles têm uma outra maneira de informar:

Dize-me quem és e te direi com quem andas.

Porque os Espíritos partem do princípio que nós é que definimos aqueles seres que queremos como nossos acompanhantes espirituais. Todos nós temos acompanhantes espirituais indubitavelmente, quer nós acreditemos neles, quer não acreditemos neles. Quer sejamos materialistas, ateus, quer sejamos espiritualistas.

O fato é que, como afirmou Paulo de Tarso, nós estamos cercados por uma nuvem de testemunhas.

Testemunhas positivas, que querem nos ver crescer, avançar, progredir, e testemunhas negativas, aquelas que estão prontas para puxar-nos os tapetes.

Vale a pena enfocar a questão da assistência espiritual que todos temos, já que estamos cercados por nuvens de testemunhas; já que a população espiritual do planeta é muito maior do que a população encarnada no planeta. Isso quer dizer, há muito maior número de seres no mundo espiritual, do que de seres na Terra, envergando um corpo físico como nós.

Desse modo, é impossível que nós não tenhamos um acompanhamento espiritual grande. Mas, nem sempre esse acompanhamento espiritual é formado por seres que nos assistem, mas sim, por seres que nos rodeiam.

Aqueles que nos assistem, o fazem por afinidade conosco, por algum tipo de interesse junto a nós. Interesse em nossa evolução, em nosso progresso, em nosso crescimento, ou interesse em nossa desdita, em nossa infelicidade.

Mas, tudo isso não deixa de ser assistência espiritual.

Quem define o tipo de assistência espiritual somos nós, pela forma como se vive.

Esses assistentes espirituais, quando positivos, quando do bem, têm seu ponto máximo naquele ser que nós chamamos de anjo guardião.

Todos nós temos nossos anjos guardiães. Esses anjos guardiães são Espíritos que Deus estabeleceu que seriam nossos guias aqui na Terra, nossos tutores aqui no mundo. Inspirando-nos, acompanhando-nos, orientando-nos para o melhor, sempre para o melhor.

O anjo guardião sempre nos dá as boas dicas, os bons direcionamentos. Ele se comporta como o irmão mais velho ou como um pai extremado, um pai muito atencioso, que estivesse sempre desejoso de ver seus filhos felizes. Essa é a postura do anjo guardião.

Às vezes, nós damos muito trabalho ao nosso anjo guardião, porque tudo quanto ele nos sugere, nós fazemos o contrário, nós desacatamos, nós desobedecemos. E, por causa disto, certamente advêm sobre nós infelicidades, tormentos, dificuldades, quando não ouvimos a voz inspirativa do nosso anjo guardião.

Todos nós, detentores desses seres espirituais que nos assistem, deveremos aprender a travar contato mais próximo, mais íntimo com o nosso anjo guardião, que é o maior dos assistentes que acompanham a nossa vida aqui no planeta.

É esse anjo guardião o ser que Deus colocou para nos atender, para nos entender, colocou à nossa disposição.

Vale a pena que treinemos contato com esse anjo guardião. Como é que a gente consegue isto?

Através do exercício de silêncios íntimos.

Se somos pessoas, se formos indivíduos buscando sempre barulhos, tumultos, agitação; se gostarmos de muita atividade excessivamente barulhenta, com certeza não conseguimos o silêncio íntimo, para fazer ponte com nosso anjo guardião.

Ele é o ponta-de-lança da nossa vida. É ele que define aquilo que nós pretendemos conseguir, nos ajuda naquilo que desejamos alcançar, nos inspira para o bem e nos impulsiona para Deus.

Vale a pena pensarmos nesses assistentes espirituais sim, mas entendendo, que nosso dever imediato é contatar com intimidade o nosso anjo guardião.

* * *

É graças ao nosso anjo guardião, que muitas situações nos são evitadas, porque ele trata de nos anteceder em muitos lugares, em muitos acontecimentos, para que nós não sejamos apanhados de surpresa.

Quantas vezes é ele que nos inspira mudanças de caminho, a adoção de determinado caminho. É ele que nos inspira voltar à casa, depois de termos saído, e aí descobrimos que ficou uma panela no fogão aceso, que ficou uma panela sobre a chama acesa.

É ele que nos orienta para olhar o berço da criança, que às vezes está de bruços, sufocada. É ele que nos orienta dar uma olhada no carro, antes de ligarmos a chave, e percebemos que há alguma alteração, algum vazamento. O nosso anjo guardião está sempre a postos, conduzindo-nos os passos, orientando-nos os passos.

Mas, nem sempre nós desenvolvemos afinidade com nosso anjo guardião. Às vezes, nossos interesses, nossas práticas, nossas ações buscam mais os assistentes negativos, os nossos comparsas espirituais, comparsas de nossos erros, comparsas de nossos equívocos.

Muitas vezes, nós damos mais atenção espiritual aos seres que nos querem puxar para baixo, porque eles nos inspiram, por exemplo, para a bebida e nós vamos, nos inspiram para o acinte à vida, e nós adotamos a sua inspiração, nos inspiram para o crime, e nós vamos, nos incitam para a droga, e nós vamos.

Certamente, ninguém recebe somente uma inspiração. Quando nos vem à mente uma idéia negativa, paralelamente vem outra positiva: Fulano, faça isto, e a outra voz interna que diz: Não faça isto. Beltrano, prove isto, e outra voz interna que nos sugere: Não prove isto. E fica por conta do nosso livre-arbítrio, decidir o que fazemos e o que não fazemos.

Os nossos assistentes espirituais positivos, os Benfeitores Espirituais de nossas vidas, estão sempre pelejando para que nós acertemos, para que cresçamos, para que soframos menos. Mas eles não nos podem impedir sofrer, se nós buscamos o sofrimento.

É por isto que nos cabe ter mais atenção para com nossa vida, porque, de acordo com a maneira que nós formos, estabeleceremos quais serão as entidades espirituais que nos acompanharão, que formarão esse grupo de testemunhas acompanhando nossa vida, cobrindo e secundando os nossos atos.

É por causa disto que Jesus Cristo orientava-nos para o fato de ser Ele o Caminho, ser Ele a Verdade, dirigindo-nos para a grande Vida.

Não é à toa que Paulo de Tarso nos propunha: Vede prudentemente como andais, porque a forma pela qual nós andamos, os destinos que buscamos, definirão a assistência espiritual com que contaremos.

Não adianta as pessoas dizerem que sua vida está indo para trás, que elas não têm sorte na vida, se seus pensamentos, se suas ações, se suas buscas, são de má índole, são de má qualidade.

Se quando a pessoa pensa em alguém ou em alguma coisa, pensa sempre para baixo, pensa sempre negativamente, é óbvio, que o tipo de entidades espirituais que lhe darão assistência, que a acompanharão, serão entidades de baixo nível.

Temos a responsabilidade sobre a assistência espiritual que temos.

Era muito comum, ao tempo do saudoso Chico Xavier, as pessoas dizerem que se aproximavam de Chico Xavier e se sentiam bem, sentiam-se agasalhadas, sentiam-se abraçadas por Chico Xavier, que dava a cada pessoa a sensação de que eram as mais amadas por ele, graças a esse envolvimento espiritual de Chico Xavier, a influência positiva que ele exercia sobre as pessoas.

Isso porque Chico Xavier tinha uma assistência espiritual notável. O Espírito Emmanuel, seu guia espiritual, seu anjo guardião, criava em torno dele uma aura de paz, de felicidade, de alegria, com toda responsabilidade que o Chico tinha nas suas realizações.

Era por isso, pela vida que ele levava, que merecia a assistência do Espírito Emmanuel.

Muitos de nós gostaríamos de ter como guias espirituais Espíritos positivamente bons, almas nobres, Espíritos angélicos. Mas, para isso, nós temos que fazer a parte que nos cabe aqui na Terra: a luta por ser bons, a luta por melhorar a nossa maneira de viver, a luta por melhorar aqueles que estão à nossa volta, e semear pelos caminhos por onde passamos as sementes da felicidade.

Nossos assistentes espirituais, estão profundamente relacionados aos nossos hábitos, aos nossos pensares, ao nosso psiquismo.

Por causa disso, vale a pena que você, que eu, que nós todos, busquemos ao longo dos nossos caminhos, maior entrosamento com o nosso anjo guardião, desenvolvendo silêncios íntimos, o ato de orar e de meditar profundamente.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 146, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em abril de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 09.11.2008.