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31 outubro 2019

Interatividade em Tempos Líquidos - Geraldo Campetti Sobrinho



INTERATIVIDADE EM TEMPOS LÍQUIDOS


O maior paradoxo da atualidade é que vivemos num mundo inundado de informação, mas sedento de conhecimento.

Essa afirmação foi atribuída ao executivo estadunidense Jack Welch. Ela incita-nos a refletir sobre a nossa situação na sociedade pós-moderna, na qual os avanços científicos e tecnológicos ganham espaço e em que as relações humanas tornam-se cada vez mais líquidas, conforme vislumbrado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman.

*

Vivemos em um mundo movido à velocidade. Tudo é muito rápido e, cada vez mais, os acontecimentos se dão celeremente. A atualidade é marcada por uma síndrome que se poderia ironicamente denominar com a sigla SEI – a Síndrome do Excesso de Informação –, que nos afugenta a uma correria desenfreada para buscas constantes e insatisfatórias de obter mais e mais, como se abrigássemos em nossa intimidade um “poço sem fundo” que nunca se logra satisfeito com as fugazes conquistas ofertadas pela era pós-moderna, ora em curso.

Queremos mais, desejamos mais, e o mundo está aparentemente pronto para nos oferecer cada vez mais, numa insanidade quase incontrolável de aparências e ilusões.

É preciso dar uma pausa, rebobinar o filme da nossa história, ou, randomicamente, acessar o conteúdo informacional e a ocorrência fática que possam ter originado o que hoje praticamente não conseguimos suportar.

Para além da informação, que nos oferta o significado, é indispensável o conhecimento, que promove a interpretação. Entender o sentido de tudo e conseguir interpretar a realidade pode “abrir as portas” aos mais adequados caminhos da felicidade geral.

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A difusão dos postulados espiritistas nos tempos hodiernos é uma necessidade inadiável para a definitiva implantação do Reino de Deus na Terra, a começar por sua instalação no coração de cada um de nós. Acessar a informação espírita enquanto estivermos na caminhada terrena pode provocar a completa mudança na forma de pensar-sentir-agir do materialista, cético, agnóstico, ateu e, até mesmo, do religioso aberto a novidades transformadoras.

Por isso, temos o compromisso de divulgar o Espiritismo por meio das diversas mídias disponíveis na atualidade. São tantos os recursos de tecnologia da informação e comunicação, facilitando a interatividade entre as pessoas, independentemente de distâncias geográficas ou barreiras físicas, que não podemos descurar da responsabilidade de disseminar a mensagem do Evangelho de Jesus pelas luzes da Doutrina Espírita a todos os rincões do mundo, iluminando mentes e consolando corações.

Os mais modernos instrumentos de comunicações virtuais, digitais e eletrônicas, pela vulgarização do uso da rede mundial, possibilitaram o intercâmbio entre os povos dos diversos continentes e a aproximação dos homens pelas relações sociais e busca de negócios econômico-financeiros ou aqueles empreendimentos sem fins lucrativos que beneficiam o desenvolvimento das ciências e das artes, da filosofia e da educação, das condições de vida do ser humano.

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Se a informação e o conhecimento são importantes para a evolução humana, é preciso reconhecer que estamos hoje na era da interatividade, por meio da qual, espargindo o bem pelas luzes do Espiritismo, conseguiremos aplicar em nossa vida a mensagem do Cristo em toda a sua essência para a nossa plenitude e auxílio daqueles que buscam a paz e a serenidade acalentadas no alvorecer de um mundo de regeneração.

Com a base que o Espiritismo nos oferece, é possível atravessar o mar da liquidez, em que a insegurança será substituída pela certeza e as relações fugazes e descartáveis cederão lugar aos compromissos sérios e duradouros. À impermanência sobrevirá a imortalidade, conforme prenunciou o Espírito Pastorino pela psicografia de Divaldo Franco. 

Fonte: Geraldo Campeti Sobrinho
Democratização da informação: mito ou realidade? e Comunicação, interatividade e divulgação espírita. Disponível em:  www.febnet.org.br. Extratos dos textos publicados em: 21.7.2012; 1.3.2015. Acesso em: 26 set. 2019. Com atualizações.

30 outubro 2019

Espiritualismo fala de pecado? - Hugo Lapa



ESPIRITUALISMO FALA DE PECADO?


O espiritismo e o espiritualismo não falam em pecado… também não desejam impor regras de conduta a ninguém.

Tanto o Espiritismo quanto o Espiritualismo, assim como a Luminosofia mostram apenas a causa e a consequência de nossa conduta, de nossas escolhas.

Não há nenhum mal em você seguir por um ou outro caminho… o mal está no sofrimento que isso vai lhe proporcionar. A escolha de um caminho te levará a uma consequência… a escolha de outro caminho te levará a outra consequência… a escolha de um terceiro caminho te conduzirá a uma terceira consequência. Não há nenhum problema você escolher o primeiro, segundo ou terceiro caminho… você tem o livre arbítrio para decidir.

O que o Espiritualismo nos adverte é que a escolha de um caminho pode te conduzir ao sofrimento. O único mal de seguir um caminho de trevas é que este caminho te fará sofrer lá na frente… ele tem uma causa, que é nossa escolha… e tem uma consequência, que será o sofrimento. A escolha por um caminho de trevas te conduzirá a uma vida de trevas… onde as trevas vão escurecer a sua visão e toda a sua existência se transformará em trevas. Mais uma vez vemos claramente a causa e a consequência. Nenhum código de moral pré-estabelecido, nenhuma regra inviolável, nenhum decreto divino que define pecados. Apenas causa e efeito. O caminho e os resultados desse caminho.

É como uma pessoa que fuma. Será que é pecado fumar? Não… não é pecado, até porque não existem pecados. Mas o fumo é uma causa… e essa causa trará uma consequência, como também uma série de problemas de saúde que o fumante vai experimentar ao longo da vida. Então fumar não é pecado… o problema é a intoxicação que você produz a si mesmo e que te fará sofrer, caso você continue nesse caminho. A escolha é sua… O caminho do mal é um caminho de autointoxicação, em que o único prejudicado será a própria pessoa.

É pecado você mentir para uma pessoa? Não…. O grande problema é, mais uma vez, a causa e a consequência. O mentir repetido fará com que, por exemplo, ninguém mais no futuro acredite em você… e você poderá começar a mergulhar mais e mais na ilusão que você mesmo criou para si. Viver nessa ilusão vai certamente lhe causar sofrimento no futuro. O mesmo ocorre, por exemplo, com julgar o próximo. Jesus já nos advertiu a esse respeito… O mestre disse que “Quem julgar será também julgado”. Jesus não disse que julgar era pecado, que é errado, que viola regras divinas… mas ele apenas mostrou a causa e a consequência que o julgamento pode nos proporcionar.

Outra situação, por exemplo, é da pessoa que vive apenas juntando dinheiro em sua vida. Trata-se de uma pessoa materialista e que gosta de sempre acumular coisas, depositando sua vida nos bens materiais. Essa é outra condição que Jesus também nos advertiu, de acordo com a lei de causa e efeito. Jesus disse para não acumularmos tesouros na Terra, pois as traças os consomem e os ladrões arrombam e roubam. Jesus estava alertando que os tesouros da terra são sempre passageiros e quem se apega a eles, vai sofrer quando perde-los. Por isso, Jesus nos adverte a apenas buscar os tesouros do céu, pois estes não são passageiros e ficarão conosco pela eternidade.

Assim, não é pecado desejar ganhar mais e mais dinheiro… o único problema disso é que um dia esse dinheiro será perdido e quando isso ocorrer, a pessoa vai sofrer com essa perda. Mais uma vez vemos a causa (desejo pelo dinheiro) e a consequência (sofrimento da perda do dinheiro). Precisamos todos compreender bem esse mecanismo de causa e efeito; de escolhas e de consequências dessas escolhas, posto que a única razão pela qual devemos evitar certos comportamentos, atitudes ou decisões em nossa vida é que futuramente eles serão fonte de muito sofrimento. É uma escolha que nos prejudicará muito e que, no final das contas, não vai valer a pena. Jesus também se referiu a causa e a consequência em outras ocasiões, quando disse, por exemplo, que quem vive pela espada também perecerá pela espada.

É apenas isso que o Espiritualismo nos sinaliza… a causa e o efeito… a semeadura e a colheita. Você pode semear o que você quiser, mas será obrigado a colher o que semeou… e essa colheita pode não ser nada agradável. Você pode seguir o caminho que você quiser… o espiritualismo fala do livre arbítrio…. e o livre arbítrio é sagrado e ninguém pode viola-lo, nem mesmo Deus. Mas essa livre escolha vai sempre te trazer uma consequência… a essa consequência pode ser de muito sofrimento, dependendo do que você escolheu e semeou.


Hugo Lapa

29 outubro 2019

Resgate e Renovação - Emmanuel



RESGATE E RENOVAÇÃO


A reencarnação não seria caminhada redentora se já houvesse atendido a todas as exigências do aprimoramento espiritual.

Enquanto na escola, somos chamados ao exercício das lições. Ante a lei do renascimento, surpreenderás no mundo dificuldades e lutas, espinhos e tentações. Reencontrará afetos que a união de milênios tornou inesquecíveis, mas igualmente rentearão contigo velhos adversários, não mais armados pelos instrumentos do ódio aberto, e sim trajados noutra roupagem física, devidamente acolhidos a tua convivência dificultando-te os passos, através da aversão oculta.

Saberás o que seja tranqüilidade por fora e angústia por dentro. Desfrutarás a amenidade do clima social que te envolve, com os mais elevados testemunhos de apreço, e respirarás, muitas vezes, no ambiente convulsionado de provações entre as paredes fechadas do reduto doméstico. Entenderás, porém, que somos trazidos a viver, uns à frente dos outros, para aprender a amar-nos reciprocamente como filhos de Deus.

Perceberás, pouco a pouco, segundo os princípios de causa e efeito, que as mãos que te apedrejam são aquelas mesmas que ensinaste a ferir o próximo, em outras eras, quando o clarão da verdade não te havia iluminado o discernimento, e reconhecerás nos lábios que te envenenam com apontamentos caluniosos aqueles mesmos que adestraste na injustiça, entre as sendas do passado, a fim de te auxiliarem no louvor à condenação.

Ergues-te hoje sobre a estima dos corações com os quais te harmonizaste pelo dever nobremente cumprido; entretanto, sofres o retorno das crueldades que te caracterizavam em outras épocas por intermédio das ciladas e injúrias que te espezinham o coração.

Considera, porém, o apelo do amor a que somos convocados dia por dia e dissolve na fonte viva da compaixão o fel da revolta e a nuvem do mal. Aceita no educandário da reencarnação a trilha de acesso ao teu próprio ajustamento com a vida, amando, entendendo e servindo sempre. Se alguém te não compreende, ama e abençoa.

Se alguém te injuria, abençoa e ama ainda.

Seja qual seja o problema, nunca lhes conferirás solução justa se não te dispuseres a amar e abençoar. Onde estiveres, ama e abençoa sem restrições ante a consciência tranqüila e conquistarás sem delongas o domínio do bem que vence todo o mal.


Pelo Espírito Emmanuel
Do livro: Encontro de Paz
Médium: Francisco Cândido Xavier


28 outubro 2019

Policial Desequilibrado - Nilton Moreira



POLICIAL DESIQUILIBRADO


Houve tempo que em razão da não globalização ficávamos sabendo dos acontecimentos muito tempo depois e quando nos chegava aos ouvidos, às vezes nem dávamos mais atenção. A repercussão dos fatos ficava atrelada a onde e data que aconteceu.

Há apenas 50 anos estávamos com telefone de manivela, e quando chegou o telex nos sentimos o máximo em tecnologia. Após muito se falou em microondas e satélite. Depois houve o salto de qualidade nas comunicações, aparecendo celular e internet.

No âmbito do perfil de comportamentos tínhamos bem definidas pessoas equilibradas e desequilibradas mentalmente. As com distúrbios ficavam confinadas normalmente em sanatórios para tratamento psiquiátrico, e quando liberadas para suas casas se mantinham sob efeito de calmantes fortíssimos. Hoje graças o avanço da medicina e do entendimento mais aprofundado a respeito de cada perfil psicológico, podemos desempenhar nossas funções normalmente, embora ingerindo medicamentos controlados, já que causam pouco efeito colateral.

Não é mais possível esconder acontecimentos, visto a conexão global. Todos sabem da vida de todos, principalmente nas pequenas cidades, e o que era escondido ou censurado passou a ser inspiração para novelas dos mais diversos canais. Vemos a violência estampada nas televisões mostrando tudo sobre maldade nos canais abertos, dando parâmetros a quem tiver intenção de cometer crimes. A televisão passou de diversão e informação para escola explicativa de como articular delitos para quem não sabe.

Os conteúdos religiosos passaram a ter mais publicidade e as manifestações sejam espirituais do bem, demoníacas ou de ordem psíquica, são abordadas sem espanto, e o leigo instruiu-se e pode também opinar e comentar o perfil de cada manifestação.

Mas recentemente chamou atenção dos novelistas ou daqueles que apenas leem os resumos em revistas, a conduta do policial Camilo, o qual até certo curso do drama mostrava-se equilibrado, responsável e um ótimo colega, além de imparcial nas investigações, e de uma hora para outra mudou, passando ser agressivo e obcecado pelo amor da sua vida, e resolveu partir para ameaças, chantagem emocional, perdendo o controle por incapacidade de saber lidar com seus sentimentos de traição conjugal, tendo de ser inclusive chamado atenção por seu superior, delegado chefe.

Na vida real não é diferente e desde o tempo que Jesus esteve por aqui, guardiões do estado cometem deslizes como mencionado biblicamente em João 19. Desequilíbrios, neuroses, ciúmes, descontentamento, acontece em várias profissões, e policiais não estão livres de serem atingidos por estafas, estresses que pode levar uma minoria desses defensores da Lei a desencadear comportamento inadequado, principalmente ao ser acometido por ansiedade, angustia, desilusão, desprestígio, solidão e outros sentimentos. Dai, muitos enveredam para o álcool ou antidepressivos, que vai influir diretamente na conduta e profissão. Alguns infelizmente partem para o suicídio por não verem saída para seus problemas.

O personagem policial Camilo é obcecado pela personagem modelo Vivi. Parece não ser amor, mas é, pois já vi e acredito no amor com diversos matizes. Felizmente tal perfil parece ser só ficção, restando aos novelistas assistir se as consequências do comportamento do “policial desequilibrado” Camilo, encontra relação com a vida real ou não. Muita paz a todos.


Nilton Moreira
Fonte: EspiritBook

27 outubro 2019

Procura-se urgentemente quem ouça. E ouça com atenção! - Oceander Veschi



PROCURA-SE URGENTEME TE QUEM OUÇA,
E OUÇA COM ATENÇÃO


Este seria um cartaz que procura ansiosamente pessoas dispostas a doar sua atenção à quem precise desabafar.

Espero que ele nunca seja divulgado, espero mesmo que nunca precisemos chegar a este ponto.

Mas o fato é que realmente estamos carecendo de quem possa doar um pouquinho mais de seus ouvidos.

Isso é caridade pura.

Disse Allan Kardec que “Fora da caridade não há salvação”, e ainda achamos que se trata daquela caridade do voluntariado, que distribui alimentos aos carentes materiais. Esta também é uma linda e importante ação benfeitora, mas o que mais tem feito falta em nosso meio são aquelas pessoas interessadas no que alguém tem a falar.

Muitos estão em ponto de explosão, por guardarem tantas informações confusas consigo mesmos, e ficam ávidos por encontrarem alguém que lhes dê alguns minutos de atenção exclusiva.

Um estudo científico afirmou que conseguimos permanecer apenas 7 segundos atentos ao que o outro está nos dizendo, antes de começarmos a elaborar em nossas mentes algo para falar logo após o sujeito nos contar sua história. E muitas vezes nem o deixamos concluir sua fala: já vamos logo contando a nossa experiência, desconsiderando (muitas vezes sem perceber ou desejar fazer isto) o que o outro estava nos dizendo.

7 segundos.

É o limite caridoso da maioria de nós ao ouvir quem quer que seja, não importando a gravidade do fato nos sendo dito.

Precisamos urgentemente mudar esse quadro egoísta de nossa parte, doando nossa atenção esmerada àquele que eventualmente possa estar se sentindo liberto por termos dado a ele alguns minutos de atenção. Dá pra nos programarmos para agir assim.

Alguns podem dizer:

“- Mas o que eu posso fazer se as pessoas só me contam bobagens?”

Pra nós pode ser algo extremamente banal, mas para quem diz pode ser algo simplesmente vital, a ponto de que se a ouvirmos atentamente, ela mesma poderá encontrar as respostas aos seus questionamentos, simplesmente por estar nos contando suas dúvidas, tristezas e anseios. E ela mesma acabará encontrando as respostas que procura, porque está se ouvindo, ao nos contar seu anseio.

E ouvir é ser caridoso.

Se queremos nos “salvar” do egoísmo, que segundo o benfeitor Emmanuel é o “maior entrave para nosso desenvolvimento espiritual”, precisamos aprender urgentemente a sermos mais atenciosos ao que as pessoas nos dizem.

Um velho ditado diz que “Deus já nos deu a dica do que mais deveríamos fazer: ouvir mais e falar menos. Afinal, nos deu 2 ouvidos e uma boca somente”.

E quando falamos, acrescentamos pouco ao nosso conhecimento, afinal, só dizemos algo que já sabemos.

Mas quando ouvimos, abrimos um leque de oportunidades:

Podemos aprender algo que não imaginávamos, e muitas vezes dito por alguém que não dávamos a mínima confiança de que poderia nos ensinar algo substancial.

E se não aprendermos nada, pelo menos exercitamos o que os benfeitores fazem conosco desde sempre: ouvem nossas preces atentamente, sem nos interromper, e dão todo crédito às nossas solicitações. Todas.

Que nós tenhamos a capacidade de exercitar em nós este gesto caridoso:

O de se importar com quem nos rodeia, os ouvindo com atenção e nos interessando pelo seu conto.

Se pudermos ainda interagir com o assunto, pedindo mais detalhes e mostrando real comprometimento com o que é dito, ganharemos incontáveis bônus, por nós mesmos, nos informando inconscientemente que somos capazes de servir mais do que buscamos ser servidos.

Ah, e se fizermos isso com uma criança, ganharemos seu carinho e respeito pra sempre. As crianças nunca se esquecem de quem lhes dá atenção.

“Simbora” tirar o tampão dos ouvidos?

Nossa evolução espiritual agradece.


Oceander Veschi

26 outubro 2019

Trabalhar com Alegria - Momento Espírita



TRABALHAR COM ALEGRIA


Havia uma fazenda onde os trabalhadores viviam tristes e isolados uns dos outros.

Eles estendiam suas roupas surradas no varal e alimentavam seus magros cães com o pouco que sobrava das refeições.

Todos que viviam ali trabalhavam na roça do senhor João, dono de muitas terras, que exigia trabalho duro, pagando muito pouco por isso.

Um dia, chegou ali um novo empregado, cujo apelido era Zé Alegria.

Era um jovem agricultor em busca de trabalho.

Foi admitido e recebeu, como todos, uma velha casa onde iria morar enquanto trabalhasse ali.

O jovem, vendo aquela casa suja e abandonada, resolveu dar-lhe vida nova.

Cuidou da limpeza e, em suas horas vagas, lixou e pintou as paredes com cores alegres e brilhantes, além de plantar flores no jardim e nos vasos.

Aquela casa limpa e arrumada destacava-se das demais e chamava a atenção de todos que por ali passavam.

Ele sempre trabalhava alegre e feliz na fazenda, por isso tinha o apelido de Zé Alegria.

Os outros trabalhadores lhe perguntavam:

- Como você consegue trabalhar feliz e sempre cantando com o pouco dinheiro que ganhamos?

O jovem olhou para os amigos e disse:

- Bem, este trabalho hoje é tudo que eu tenho. Ao invés de blasfemar e reclamar, eu prefiro agradecer por ele. Quando aceitei trabalhar aqui, sabia das condições. Não é justo que agora que estou aqui, fique reclamando. Farei com capricho e amor aquilo que aceitei fazer.

Os outros, que acreditavam ser vítimas das circunstâncias, abandonados pelo destino, o olhavam admirados e comentavam entre si: - Como ele pode pensar assim?

O entusiasmo do rapaz, em pouco tempo, chamou a atenção do fazendeiro, que passou a observá-lo à distância.

Um dia o senhor João pensou:

- Alguém que cuida com tanto carinho da casa que emprestei, cuidará com o mesmo capricho da minha fazenda. Ele é o único aqui que pensa como eu. Estou velho e preciso de alguém que me ajude na administração da fazenda.

Num final de tarde, foi até a casa do rapaz e, após tomar um café bem fresquinho, ofereceu ao jovem o cargo de administrador da fazenda.

O rapaz aceitou prontamente.

Seus amigos agricultores novamente foram lhe perguntar:

- O que faz algumas pessoas serem bem sucedidas e outras não?

A resposta do jovem veio logo:

- Em minhas andanças, meus amigos, eu aprendi muito e o principal é que não somos vítimas do destino. Existe em nós a capacidade de realizar e dar vida nova a tudo que nos cerca. E isso depende de cada um.

* * *

Toda pessoa é capaz de efetuar mudanças significativas no mundo que a cerca.

Mas, o que geralmente ocorre é que, ao invés de agir, jogamos a responsabilidade da nossa desdita sobre os ombros alheios.

Sempre encontramos alguém a quem culpar pela nossa infelicidade, esquecidos de que ela só depende de nós mesmos.

Para encobrir sua indolência, muitos jogam a culpa no governo, nos empresários, nos políticos, na sociedade como um todo, esquecidos de que quem elege os governantes são as pessoas; que quem gera empregos são os empresários, e que a sociedade é composta pelos cidadãos.

Assim sendo, cada um tem a sua parcela de responsabilidade na formação da situação que nos rodeia.

E para ser feliz, basta dar ao seu mundo um colorido especial, como o personagem desta história que, mesmo numa situação aparentemente deprimente para os demais, soube fazer do seu mundo uma realidade bem diferente.

E conforme ele mesmo falou, existe em nós a capacidade de realizar e dar vida nova a tudo que nos cerca.


Equipe de Redação do Momento Espírita

25 outubro 2019

Duas consequências inevitáveis - Orson Peter Carrara



DUAS CONSEQUÊNCIAS INEVITÁVEIS


Devemos tudo à Vida abundante que desfrutamos. Deus, o Criador, dotou-nos de vida e possibilitou-nos intenso e contínuo aprendizado. Para que pudéssemos evoluir, aprender, e, portanto, adquirir méritos do esforço colocado a serviço da conquista da felicidade, cercou-nos de inúmeros recursos. Entre eles estão as maravilhas produzidas pela natureza. Desde o espetáculo do nascer do sol – que soa como amável e silencioso convite ao trabalho -, às frutas ou perfume das flores, à condição de seres sociais que se relacionam para o mútuo crescimento e mesmo a uma infinidade de tesouros que nem percebemos. Sempre estão a nossa volta e o espaço desta página seria insuficiente para relacionar.


Colocou-nos num planeta rico de possibilidades e perspectivas. Dotou o planeta de água, fauna e flora abundantes; deu-nos os animais, pássaros e outros seres como companheiros de viagem e ainda escalou experimentados irmãos mais velhos que visitam o planeta periodicamente para ensinar o caminho do acerto e da felicidade.


Entre eles, o maior de todos, Jesus de Nazaré, mensageiro do Evangelho, porta-voz direto do Pai Criador e que vivenciou em si mesmo o que ensinou.


Diante das possibilidades abertas, a humanidade vai caminhando, errando, acertando, aprendendo. Descobrimos nossas próprias leis, estamos pesquisando o que ainda nos intriga e lutamos contra dificuldades e obstáculos que são próprios e naturais de nosso atual estágio evolutivo. Sim, porque somos criaturas em caminhada, imperfeitas, inacabadas. O tempo nos levará à perfeição relativa, quando estaremos promovidos à condição de cooperadores da grandiosa obra de Deus.


Essas reflexões todas convidam-nos a pensar com mais seriedade sobre a vida no planeta. Não estamos aqui a passeio. Também não estamos no planeta pela primeira nem última vez. Somos todos irmãos, devemo-nos solidariedade recíproca e cumprimos um justo programa de auto-aperfeiçoamento, cuja finalidade é o progresso individual e coletivo. E neste coletivo incluímos toda a sociedade do planeta, em todos os sentidos e níveis que se queira analisar.


No geral, devemos entender que, como filhos de um Pai Bondoso e Justo, que ama profundamente suas criaturas, fica o dever do auto-aprimoramento intelecto-moral, único instrumento real de equilíbrio e felicidade. E consideremos que tudo isto enquadra-se até num dever de gratidão a tudo que recebemos diariamente de Deus, o Pai de todos nós.


E pensemos que o auto-aprimoramento intelecto-moral nos levará pelo menos a duas consequências inquestionáveis: dominaremos o egoísmo feroz que ainda nos domina (o que determinará o fim da onda de sofrimentos que abate o planeta) e partiremos, porque mais conscientes, aos deveres da solidariedade que, por conseqüência, trarão o equilíbrio que esperamos.



Orson Peter Carrara

24 outubro 2019

Implicações da culpa - Jorge Hessen



IMPLICAÇÕES DE CULPA


Muitas crianças são induzidas a agir de forma sempre “correta”, conforme o padrão do seu meio ambiente, dos valores éticos, das pressões existentes. Quando a criança é obrigada a fazer as coisas dessa ou daquela maneira, todas as vezes que faz de forma diferente desenvolve a culpa. A virtude do discernimento deve ser-lhe ensinada desde cedo pelos pais cônscios, por ser a virtude fundamental para que ela possa escolher com segurança aquilo que é certo de acordo com as leis divinas ínsitas na consciência.

Deve-se ensinar a criança a compreender as leis divinas; mostrá-la que errar é natural e faz parte do aprendizado, tanto quanto o erro deve ser reparado como condição natural para o desenvolvimento do senso moral. Mas se a criança desenvolve e cultua culpa e se acostuma com isso, quando chega à fase adulta a culpa se intensifica e se soma às culpas do passado, situando a vida numa condição insuportável.

A culpa ocasiona comoções, desordens autopunitivas e contribui para ausência de autoestima. Provoca compulsão autoexterminadora, como decorrência dos movimentos de autojulgamento, autocondenação e autopunição em que o culpado arruína a autoestima, tornando impossível o auto acolhimento amoroso.

A autoestima está conectada aos sentimentos básicos de autoaceitação, autoconfiança, autovalorização e autorrespeito, como anseios fundamentais para o equilíbrio do ser. Fora disso, surgem várias dificuldades de ordem mental e emocional, refletindo-se no corpo físico através do bombardeamento mental, comprometendo o organismo.

Sob a compulsão autoexterminadora pode-se chegar ao suicídio, direto ou ao suicídio indireto. Neste último caso, a pessoa martiriza o corpo através de emoções e pensamentos, entrando no estado de desinteresse pela vida, culminando em processos de depressões graves, ocasionando demais transtornos psíquicos e emocionais, como ansiedade generalizada, transtorno do pânico e desordem bipolar.

Na origem de toda doença sempre há componentes psíquicos ou espirituais. As moléstias são heranças decorrentes da divina Lei de Causa e Efeito, e decorrentes desta ou de vidas antecedentes. São escombros que fixaram nos genes os fatores propiciadores para a instalação dos distúrbios patológicos.

Quando fazemos esforços pacientes, continuados e perseverantes, desenvolvendo virtudes em nossos corações, mantemos inativadas as enfermidades genéticas. Podemos ter uma predisposição genética para o câncer e nunca desenvolvermos processos cancerígenos; podemos ter uma pré-disposição depressiva e jamais desenvolvermos a depressão; podemos ter uma família inteira com problemas genéticos que dependendo do nosso comportamento manteremos neutralizadas as predisposições genéticas enfermas.

Somos imagem e semelhança do Criador; somos de essência divina e fomos criados para a felicidade e harmonia. Quando procuramos desenvolver o equilíbrio existencial de forma responsável, não seremos alcançados pelas doenças genéticas, até porque não é a composição biológica que determina a saúde ou doença do espírito, mas é o espírito que comanda o corpo físico.

Sempre seremos amados pelo Criador, independentemente dos nossos erros. Será que um pai ou uma mãe ama o filho só quando ele faz as coisas certas? Na verdade os pais amam os seus filhos do mesmo jeito, independentemente das condições morais dos filhos. Será que um ser humano é mais amoroso do que Deus? Em face disso, não há razões para sustentarmos a baldia culpa impondo-nos a “distimia” (conduta mal-humorada), perdendo o interesse pelas atividades diárias normais, sentindo-se sem esperança, tendo baixa produtividade, baixa autoestima e um sentimento geral de inadequação como precursor da depressão.

Há os que mantêm o mal humor quase ininterruptamente. São aqueles que acordam mal-humorados, passam o dia mal-humorados e vão dormir mal-humorados, porque estão o tempo todo num processo de culpa em autojulgamento, autocondenação e autopunição. Para sair desse estado é imperioso desenvolver os sentimentos básicos da autoestima, da autoaceitação, da autoconfiança, da autovalorização e do autorrespeito.

Várias são as consequências da culpa, a saber: insegurança, isolacionismo, ausência de si mesmo (a) e dos outros. A pessoa entra em estado de isolamento psíquico e amplia o sentimento de abandono existencial. Não é possível alguém assim se sentir pertencente ao universo, e é exatamente o sentimento de pertencimento ao universo que gera em nós existencialismo e alegria de viver.


Jorge Hessen

23 outubro 2019

Tudo Passa - Bezerra de Menezes



TUDO PASSA


É uma doutrina diferente. Primeiro, o fato. Apareceram os fenômenos. Foram eles que disseram: Nós somos imortais e explicaram a questão da Imortalidade da alma. Então, nós podemos perceber a grandeza dessa mensagem de Deus, quando os Céus se abrem e o exército, sob o comando de Nosso Senhor Jesus Cristo, desce a Terra para consolar a Humanidade.

À semelhança de estrelas luminíferas, tombam os astros do saber e da verdade ao coração das criaturas humanas, convidando-as à ordem, à paz, ao amor, à caridade.

Filhos e filhas do coração, tende tento!

São estes dias que prenunciam aqueles bem-aventurados dias proclamados pelo Senhor da Vida.

É certo que o ultraje, a corrupção, a indignidade campeiam e a pessoa digna sente constrangimento em apresentar a sua honradez.

Com certeza uma grande noite desceu sobre a Terra e as criaturas aturdidas atiram-se ao precipício da loucura suicida.

Jamais houve na Terra tanta grandeza na ciência e tanta miséria moral. Nunca tantos anelaram por uma paz que nasce na consciência reta.

A Doutrina de Jesus chega até nós trazida pelos Seus embaixadores para dizer: Tende cuidado, a existência carnal é sempre muito breve na mensagem do tempo.

Facilmente, os gritos do ontem ressoam no hoje, no amanhã, pedindo misericórdia e amor, enquanto os Céus mandam que desçam à Terra aflita os seus emissários de luz para tornar os dias da Humanidade menos sofredores.

Trabalhai! Tornais-vos archotes luminosos para apagar a densa sombra da noite teimosa. Não vos esqueçais de que mesmo à meia-noite tenebrosa um segundo após é amanhecer.

Já amanhece dia novo. Ainda existem sombras teimosas, ainda pairam dores acerbas que vos preparam e a todos nós para a radiosa madrugada da vida plena.

Fostes chamados nestes dias, ouvistes os convites mais variados para a plenitude. Comovestes-vos algumas vezes com a mensagem de Jesus, traduzida pelos Seus discípulos devotados. Não a esqueçais. Retornai aos lares modificados. Pensai na paz do mundo iniciando a paz em vosso lar. Cantai alegria sorrindo mesmo diante do aparente infortúnio.

Tudo passa!

É a vida de natureza imortal e vós agora tendes conhecimento de que tudo dependerá da vossa contribuição.

Não temais, mesmo que os vossos joelhos estejam desconjuntados, como afirmava o Apóstolo Paulo. Avançai, a meta vos espera!

Jesus, de braços abertos, repete: Vinde a mim, eu vos consolarei.

Que o Senhor de bênçãos a todos nos abençoe.

São os votos do servidor humílimo e paternal de sempre,

Bezerra,

Muita paz, filhas e filhos.


Mensagem psicofônica através de Divaldo Pereira Franco, na conferência de encerramento da 66ª Semana Espírita de Vitória da Conquista, Bahia, em 8 de setembro de 2019.

22 outubro 2019

Suicídio - Divaldo P.Franco



SUICÍDIO


No ano de 1994, um jovem americano chamado Mike Emme, com 17 anos, suicidou-se dirigindo o seu carro amarelo. Seus familiares e amigos distribuíram no funeral cartões com fitas amarelas, oferecendo mensagens de consolo e solidariedade às pessoas que estivessem enfrentando o mesmo sofrimento do jovem e, de imediato, a mensagem se ampliou pelo mundo. O mês de setembro, dedicado à prevenção do suicídio, foi denominado amarelo.

A prevenção ao suicídio é um dever que não pode ser adiado, considerando-se essa terrível pandemia, que vem destruindo existências preciosas em toda parte do planeta. Tem-se procurado entender porque o século da ciência e da tecnologia nos seus mais altos níveis apresenta, simultaneamente, os conflitos do vazio existencial, da indiferença pela vida e a fuga terrível pelo autocídio.

As estatísticas são assustadoras, exigindo providências urgentes, especialmente nos lares, cuja estrutura moral vem-se deteriorando com velocidade. A destruição da família, o desrespeito às tradições, a desconsideração à velhice, a sexolatria, o exagerado culto ao corpo e a violência têm substituído todos os valores que constituem pilotis de segurança emocional, deixando sem sentido a existência.

O ser humano encontra-se numa terrível encruzilhada, sem haver conseguido encontrar um rumo digno para sair da situação em que se debate, tombando no desânimo e na frustração, que o levam à depressão, ao suicídio. Torna-se urgente a volta ao lar, à escola e aos ideais que dão sentido emocional e espiritual à existência física.

Ao lado deles a fé religiosa que vem desaparecendo com a volúpia do materialismo, também responde pelo tremendo caos que nos assusta.

A irresponsabilidade de alguns indivíduos frustrados e perturbados mentalmente fazem a exaltação ao suicídio como ato de coragem e de desprezo pela vida. A cada 40 segundos ocorre um suicídio, alcançando o índice de 800 mil por ano, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

São muitas as causas do suicídio, especialmente as de natureza mental, começando pelo transtorno de humor. Além dos psiquiátricos existem os de natureza obsessiva, provocados por Espíritos do mal. Busquemos todos enfrentar o problema abordando-o com clareza, explicando os efeitos infinitamente perturbadores para aqueles que fogem da luta e sofrem no Além, bem como estimulando ao respeito pelos valores da educação e da vida.

O suicídio não resolve os dramas existenciais, porque a vida prossegue e cada qual é feliz ou desgraçado na Espiritualidade, conforme haja vivido e desencarnado. Se nos permitirmos o desenvolvimento do amor, lograremos realizar a existência feliz.

Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, de 5.9.2019

21 outubro 2019

É possível provar que alguém foi curado pelo tratamento de passes? - Paulo Henrique de Figueiredo



É POSSÍVEL PROVAR QUE ALGUÉM FOI CURADO PELO TRATAMENTO DE PASSES?


Basta ligar a televisão e passear pelos canais para encontrar filas enormes de testemunhas das curas feitas pelos sacerdotes nos templos. Repetindo uma prática que remonta o Antigo Egito, há milhares de anos. E, cheios de esperança, milhões de enfermos, desiludidos pelos recursos da medicina comum, buscam um milagre que os salve da dor, e muitas vezes do abandono.

Por outro lado, há o atendimento aos doentes nas casas espíritas, prometendo não um milagre, mas a cura pelo método criado por Franz Anton Mesmer, a ciência do Magnetismo Animal, associada às pesquisas da cura por Allan Kardec, unindo o passe magnético à eficácia da prece e do magnetismo espiritual, pela intervenção dos bons espíritos. O tratamento do magnetismo animal também foi adotado por Hahnemann, criador da Homeopatia. De tal forma que essas três ciências se aproximam, revolucionando a medicina no sentido de uma atuação não alopática, ou seja, a favor do esforço natural do organismo no combate da doença, considerando que semelhante atrai semelhante. Assim, uma ação dinâmica, seja do passe, seja do remédio homeopático, provoca, por semelhança, os sintomas relacionados ao ciclo da cura, acelerando-o, até que a saúde esteja recuperada.

Mas será possível provar que esses métodos funcionam?

Ou toda cura, fora dos recursos da medicina comum, seria um milagre?

Estariam corretos os sacerdotes ao exibir em seus templos fileiras de casos de sucesso, como provas da intervenção direta de Deus por meio de suas mãos?

Seria o sobrenatural a resposta para o anseio dos enfermos desenganados ou afastados pela falta de recursos dos caros tratamentos de ponta disponíveis pela medicina? Ou mesmo cansados das intermináveis filas pela espera do tratamento público?

O Espiritismo fundamenta sua causa exatamente na superação do sobrenatural pelo conhecimento racional, pelo caminho das ciências!

Há um grave engano nessa questão, e está em falar dele o objetivo deste artigo.

Escolher entre um grupo de atendidos os casos efetivos de cura, não prova que o método empregado

Desse modo, apresentar os doentes curados como prova da eficácia da intervenção, seja divina, seja um tratamento espiritual, seja mesmo um remédio, não tem fundamento científico. Pois outro fator envolvido no caso pode ter sido a causa fundamental. Ou seja, entre os doentes curados, é possível até mesmo que nenhum deles tenha se curado pelo tratamento proposto, mas por outros motivos, até mesmo uma recuperação espontânea e natural.

O médico Franz Anton Mesmer, criador do Magnetismo Animal


Junte um grupo de doentes, e, depois de um tempo determinado, alguns vão estar curados inevitavelmente, por uma simples questão estatística! Caso você tenha visitado esses pacientes todas as semanas, e durante a visita tivesse feito um gesto qualquer, repetindo-o todas as vezes, ao final de alguns meses, alguns estarão curados. Mas será que foi esse gesto que os curou?

Quando, em 1780, os médicos da Faculdade de Medicina de Paris questionaram Mesmer quanto à eficácia de sua cura, desejando escolher alguns doentes para ele curar sob as vistas deles, Mesmer afirmou que isso nada provaria! O acúmulo de casos pode servir de exemplo, mas não provar a eficácia do tratamento, a não ser que se empregasse métodos comparativos, como um ensaio clínico:

“Nada parecia atingir mais diretamente este objetivo do que um ensaio comparativo do novo método de cura com os métodos antigos. A administração de remédios não poderia estar em melhores mãos do que aquelas da Faculdade, e é evidente que se o método novo obtivesse vantagem sobre o antigo, as provas a seu favor seriam as mais positivas”.

Diante dos questionamentos e dúvidas dos médicos da Faculdade, Mesmer fez a seguinte proposta, reproduzida em seu livro Resumo Histórico dos fatos relativos ao Magnetismo Animal, que está incluído na íntegra na obra Mesmer – a ciência negada do Magnetismo Animal:

1. Fazer a escolha de 24 doentes, dos quais 12 estariam reservados pela Faculdade para serem tratados pelos métodos comuns. Os outros 12 seriam enviados ao autor, que os trataria segundo seu método particular.

"Seria previamente realizado um protocolo do estado de cada doente. Cada protocolo seria assinado tanto pelos comissários da Faculdade como pelo autor e pelas pessoas propostas pelo governo.

A escolha dos doentes seria feita pela Faculdade, ou pela Faculdade e o autor em conjunto.

Para evitar todas as discussões posteriores e todas as exceções que poderiam acontecer segundo as diferenças de idade, de temperamentos, de doenças, de seus sintomas etc., a divisão dos doentes se faria por meio de um sorteio.

A forma de cada exame comparativo das doenças e suas épocas seria fixada por antecipação, a fim de que na sequência não se pudesse travar qualquer discussão razoável sobre os progressos obtidos por um ou por outro dos métodos.

O método do autor exigiria pouco gasto, não demandaria nenhuma recompensa de suas necessidades, mas seria natural que o governo bancasse as despesas relativas à manutenção dos 24 doentes.

As pessoas propostas pelo governo assistiriam a cada exame comparativo dos doentes e assinariam os protocolos, mas como é essencial evitar da parte do público toda censura quanto à inteligência ou conivência, seria indispensável que os prepostos do governo não fossem ligados a alguma corporação médica”.

É interessante saber que Mesmer tinha a lucidez quanto a necessidade de se empregar testes controlados por uma metodologia científica para apontar a eficácia do tratamento. Isso em 1782! Todavia, com o progresso das ciências, o estudo duplo-cego, também conhecido como ensaio clínico em dupla ocultação, ficou evidente como o critério mais adequado de validação para as práticas experimentais da medicina, aplicada aos seres humanos.

Formam-se dois grupos. Num grupo, aplica-se um método inócuo e no outro o tratamento em questão. Por exemplo, para um grupo ministra-se uma pílula com o medicamento estudado e no outro uma pílula com farinha. Após o período determinado pelo protocolo da pesquisa, os casos são tabulados e verifica-se estatisticamente se há influência do remédio na cura a partir da porcentagem de sucesso. Desse modo, nem o examinador, nem o examinado sabem o que está sendo utilizado para seu tratamento. Todavia, em se tratando de métodos que não a ingestão de substâncias, o pesquisador precisa elaborar protocolos de pesquisa compatíveis com o teste que deseja realizar.

Ou seja, formar filas de curados para confirmar a existência do milagre e de que o sacerdote é um enviado de Deus não tem qualquer fundamento lógico, além de uma falsa propaganda dirigida a fascinar o público, cego em busca de uma solução para suas dores.

Mas também os curadores, e as casas espíritas oferecendo tratamentos de cura, mesmo nada cobrando e recomendando o não afastamento do tratamento médico, estarão ingenuamente iludindo e se iludindo caso não empreguem o registro dos casos, nem convidem pesquisadores treinados para aplicar testes clínicos, no sentido de apontar a eficácia do tratamento empregado. Pois se Mesmer, Hahnemann e Allan Kardec iniciaram suas ciências confiando na metodologia científica para justificar suas ideias, não haverá outro caminho senão fazer uso do progresso desses recursos para dar continuidade aos seus esforços em nosso tempo.

A dominação faz da ignorância o alimento de seu poder. E a educação é o verdadeiro caminho da liberdade, da solidariedade e do mundo feliz e saudável do futuro. Respeitar a ciência e suas progressivas descobertas é uma exigência incontornável para o Magnetismo Animal, a Homeopatia e o Espiritismo, ciências irmãs.

Por Paulo Henrique de Figueiredo, autor de Mesmer – A Ciência negada do Magnetismo Animal, e de Revolução Espírita – a teoria esquecida de Allan Kardec.

20 outubro 2019

A perfeição que não temos - Vania Mugnato de Vasconcelos


A PERFEIÇÃO QUE NÃO TEMOS


A humanidade sempre vivenciou incontáveis mazelas morais e materiais. Mazela é palavra que define bem a situação, já que significa, figurativamente e segundo o dicionário Michaelis , “tudo que aflige ou molesta, adversidade”.

Realmente, o ser humano é afligido com desgraças materiais, morais e naturais. Alguns povos sofrem mais que outros, mas é certo que todos experimentam desventuras. Em outras palavras podemos afirmar que mesmo se forem felizes por um lado, de outro o sofrimento fará companhia aos homens.

Todos os indivíduos lutam contra a morte, a ignorância, as enfermidades psicológicas e físicas, a necessidade material, a descrença ou o vazio existencial. A que conclusão essa constatação nos leva? Que não somos perfeitos, nem felizes, pois o sofrimento, de modo geral, resulta de algum processo pessoal ou externo deficiente, consequência de decisões, ações e omissões equivocadas. Todos são herdeiros da sua forma de viver e do meio onde vivem.

Nem perfeitos nem felizes. Mesmo assim, seria possível conquistar e manter um pouco de paz e alegria, minimizar as necessidades e não sentir tanta solidão, obtendo qualidade de vida sob vários aspectos. Com um pouco de boa vontade da maioria, seria viável construir um mundo onde as pessoas, frágeis, sozinhas, pudessem tornar-se fortes a partir do apoio mútuo, como o galho que não verga quando unido a um feixe com outros galhos.

Contudo, apesar da obviedade da constatação acima, ao invés de buscar a união com objetivos comuns que facilite a existência, muitas pessoas criam divisas, grupos, lados, brigam por verdades parciais e mutáveis, como se fossem absolutas e eternas. Quantos arvoram-se em perseguidores e críticos das atitudes alheias, fazem-se cobradores da perfeição, preferencialmente, a alheia. Quantos cobram acerto e correção dos outros, mas eles mesmos não buscam realizar ou fazer melhor. Não, acham que é sempre mais simples ser o espectador que julga?!

Queremos um mundo melhor, mas a perfeição que não temos é a que cobramos dos outros. A conduta da pessoa moralizada passa pela auto melhoria, antes do julgamento do próximo. É necessário perceber e tentar evitar o que é erro e mau no outro, mas não se deve esquecer que esse mal pode estar dentro de nós. É isso que o Espiritismo ensina aos seus adeptos.


Vania Mugnato de Vasconcelos


19 outubro 2019

Relacionamentos e Emoções - Francisco Ortolan


RELACIONAMENTOS E EMOÇÕES

Está aí um tema difícil, em lidar conosco e com o próximo. Como é difícil compreender o outro quando temos dificuldade em lidar conosco. Isso acontece porque vivemos iludidos achando que o outro faria o que eu acho que é certo, ou que agiria da forma que eu gostaria. Ilusão é aquilo que pensamos, mas que não corresponde à realidade. São percepções que nos distanciam da verdade. Existe em relação a muitas questões da vida, como metas, comportamentos ou pessoas. E a pior das ilusões é a que temos com relação a nós: a auto ilusão.

No capítulo 11 do E.S.E. (Evangelho Segundo o Espiritismo) temos o depoimento de uma Rainha da França:

“Rainha entre os homens, como rainha julguei que penetrasse no reino dos céus! Que desilusão! Que humilhação, quando, em vez de ser recebida aqui qual soberana, vi acima de mim, mas muito acima, homens que eu julgava insignificantes e aos quais desprezava, por não terem sangue nobre!”

A desilusão dela faz-nos pensar em como estamos conduzindo nossa vida através de alguns questionamentos:

1) Será que o fato de estarmos dentro de uma Casa Espírita traz-nos a salvação?

2) Será que não estamos reproduzindo o comportamento de milênios, achando que por estarmos dentro de um templo religioso, basta?

Porque só se desilude quem um dia se iludiu. Não existe desilusão sem ilusão. Por isso precisamos parar de nos iludir. E como fazer isso? Como lidar com essa coisa criada há milênios e que faz parte de nossa personalidade?

Allan Kardec dá-nos a reposta quando diz: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e o esforço que emprega para vencer suas más inclinações”. Por isso, a base da Doutrina Espírita é a reforma interior. Ninguém mata sentimento. Reformar-se, interiormente, é ressignificar o que sentimos, ou seja, dar outro significado àquele mesmo sentimento. É aprender a desconstruir para reconstruir.

As ilusões decorrem das nossas limitações em perceber a natureza dos sentimentos. Na matriz das ilusões encontramos: CARÊNCIA, DESEJOS, CULPAS, TRAUMAS, FRUSTRAÇÕES e todo um conjunto de tendências que formam as emoções. Toda opinião que formamos hoje está ligada a fatos antecedentes, porque todos os pensamentos julgadores de hoje estão sedimentados em nossa memória profunda. Como diz o espírito Hammed: “São subprodutos de uma série de conhecimentos que adquirimos na idade infantil e também através das vivências pregressas.”

Por exemplo: Se vejo alguém jogando lixo pela janela do carro, instantaneamente, digo “porco”. Mas quantas vezes fizemos isso antes de ter esse entendimento? Ou: vejo uma pessoa casada e outra solteira tomando um suco juntas, é comum emitirmos um julgamento dizendo “ai tem coisa”, sem raciocinar que pode ser um irmão(ã), ou primo(a), ou uma entrevista de emprego; enfim, pode ser que não seja aquilo que imaginei.

As ilusões impedem-nos que realmente tenhamos olhos de ver, transferindo a responsabilidade a outrem. Adão disse a Deus: “eu não pequei, a culpa foi da mulher que me tentou”. Eva desculpando-se disse: “toda discórdia ocorrida cabe à maldita serpente”.

O objetivo da reencarnação consiste em desiludir-nos sobre nós mesmos, através de uma relação libertadora com o materialismo. Se não buscamos essa meta voltaremos pra casa da mesma forma que aqui chegamos.

Façamos a nossa parte, buscando a cada dia desconstruir as ideias formadas ao longo dos milênios, para reconstruir de uma forma mais sólida. Como disse Chico Xavier: “quer que aconteça algo diferente na sua vida? Faça algo diferente”.

Francisco Ortolan

18 outubro 2019

Yvonne e o Suicídio - Revista Fidelidade Espírita

(Gravura de Gustave Doré para obra A Divina Comédia de Dante Alighieri)


 YVONNE E O SUICÍDIO
(1.ATENDIMENTO A ESPÍRITOS SUICIDAS)
(trecho parcial)


Em toda a sua vida de médium, Yvonne do Amaral Pereira dedicou boa parcela do seu tempo ao atendimento a espíritos suicidas. Dizia mesmo que os amava, naturalmente por compreender a extensão das suas dores, dos seus sofrimentos. Aliás, ela fala um pouco desses sofrimentos no artigo “O Estranho Mundo dos Suicidas”, que podemos encontrar nas páginas do livro À Luz do Consolador.

Acompanhemos algumas observações suas: Durante nosso longo tirocínio mediúnico, temos tratado com numerosos Espíritos de suicidas, e todos eles se revelam e se confessam superlativamente desgraçados no Além-Túmulo, lamentando o momento em que sucumbiram. Certamente que não haverá regra geral para a situação dos suicidas. A situação de um desencarnado, como também de um suicida, dependerá até mesmo do gênero de vida que ele levou na Terra, do seu caráter pessoal, das ações praticadas antes de morrer.

Adiante, ainda falando sobre as dores dos suicidas, dores que são consequência natural do ato que praticam e não castigo de Deus, Yvonne esclarece: Num suicídio violento, como, por exemplo, os ocasionados sob as rodas de um trem de ferro ou outro qualquer veículo, por uma queda de grande altura, pelo fogo, etc., necessariamente haverá traumatismo perispiritual e mental muito mais intenso e doloroso que nos demais. Mas a terrível situação de todos eles se estenderá por uma rede de complexos desorientadores, implicando novas reencarnações que poderão produzir até mesmo enfermidades insolúveis, como a paralisia e a epilepsia, descontroles do sistema nervoso, retardamento mental, etc. Um tiro no ouvido, por exemplo, segundo informações dos próprios Espíritos de suicidas, em alguns casos poderá arrastar à surdez em encarnação posterior; no coração, arrastará a enfermidades indefiníveis no próprio órgão, consequência essa que infelicitará toda uma existência, atormentando-a por indisposições e desequilíbrios insolúveis.

Dos muitos espíritos suicidas que socorreu, em situações tão lamentáveis quanto as descritas no trecho acima, podemos destacar o caso de um operário alemão, residente da cidade de Petrópolis, que cometera suicídio devido a dificuldades financeiras. Chamava-se Wilhelm, tinha sido o construtor da casa em que ela se hospedara e tirara a própria vida, dez anos antes daquele 1935, com um tiro no coração. Desde a primeira noite na casa, Yvonne não conseguiu conciliar o sono. Ruídos, pancadas e agitação perturbaram sua paz por completo.

O suceder dos dias mais agravou o quadro, quando ela, atraída para o sótão, lá identificou a presença do espírito enfermo, que sofria o triste espetáculo da recordação cíclica do suicídio, passando por todas as angústias do momento trágico. Impregnada por energias tão densas, Yvonne foi, aos poucos, perdendo a saúde, e, se não fosse a intervenção dos espíritos, em especial de Charles e de Camilo Castelo Branco, talvez tivesse enlouquecido e mesmo desencarnado. Diariamente, envolvia aquele suicida em preces amorosas, promovendo o seu esclarecimento, conforme recomendação dos guias, através das páginas consoladoras de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

No entanto, compreendia que seria necessário, talvez, socorrê-lo diretamente, através da psicofonia, e, para isso, necessitava do concurso de um centro espírita. Buscou, assim, uma casa da cidade, mas encontrou duas dificuldades: a desconfiança dos trabalhadores da mesma, que não a conheciam, e a distância da instituição, que ficava bem afastada do bairro em que residia. Sem opção, restou a ela assistir o espírito com os recursos de que dispunha. Viveu, juntamente com ele, aquelas dores; compartilhou dos seus infortúnios; envolveu-o nas vibrações harmoniosas da prece; amou-o como a um filho querido ao coração. Dias antes de se retirar de Petrópolis, o suicida foi retirado da casa e levado para o refazimento em paragens espirituais. Já havia transcorrido um ano em que ela se vira mergulhada em atendimento tão delicado.

Ao escrever as páginas do livro “Recordações da Mediunidade”, o espírito Charles, seu amado guia, deu-lhe algumas explicações sobre aquele caso, das quais destacamos os seguintes trechos:

“O caso em apreço é um detalhe dos testemunhos que necessitavas apresentar à lei de reparações de delitos passados, testemunho de fé, tu que faliste pela falta de fé em ti mesma e no poder de Deus. Assim ligada a ti pelas correntes afins humanizadas, a entidade suicida adquiriu condições para se reanimar e perceber o que se tornava necessário à melhora do próprio estado, revigorando-se vibratoriamente para se desvencilhar do torpor em que se deixava envolver. E, um pouco mais à frente: Cumprias dever sagrado, reabilitavas tua consciência, servias ao Divino Mestre servindo à sombra da lei da fraternidade, que nos aconselha proceder com os outros como desejaríamos que os outros procedessem conosco.” 



Revista Fidelidade Espírita - Edição 104 Ano IX - Maio 2011 - Paginas 14 a 20

17 outubro 2019

Lutos e Redes Sociais - Jorge Hessen



LUTO E REDES SOCIAIS


Quase tudo que há alguns anos era armazenado em meio físico é agora arquivado em computadores, sejam os e-mails (substitutos das tradicionais cartas), fotos, vídeos ou outros tipos que talvez nem existissem sem a web. Atualmente, é natural possuirmos uma “identidade” na internet – um perfil no twitter, no facebook e outros. Um fenômeno intrigante tem surgido nesse ambiente virtual: a homenagem póstuma, ou seja, uma maneira de reconhecimento e congratulação realizada, posteriormente, à morte de um internauta.

Alguns murais do mundo internético têm-se transformado em memoriais aos finados. Escrevem-se mensagens de condolências para a família. Os comentários quase sempre são simples. Destaque-se que para alguns parentes de falecidos da rede são muito positivas as manifestações de carinho, por tratar-se de um lugar que para “sempre” vai ser do extinto. Há quem compare esses avisos como visitas ao cemitério. Creem ser muito bom o túmulo ser assim, um lugar virtual onde o desencarnado já esteve e deixou um pouco de sua essência.

Surgiu um ponto curioso: quando desencarnarmos, quem atualizará nossos dados? Que novos elementos seriam esses? Será que nossa “identidade virtual” permanecerá congelada em um onipresente sem futuro? Há quem afirme que existem hoje mais de 5 milhões de falecidos na rede social. O que advém com o espólio digital depois que um internauta desencarna? Será que os dados (perfis) deles, mantidos nas redes sociais da internet, podem alterar o luto dos parentes?

Para alguns estudiosos, a permanência na internet de uma parte da identidade virtual da pessoa morta altera um pouco a forma como lidamos com a morte. As funcionalidades das redes sociais ganham outros significados: um espaço para troca de mensagens e links vira um espaço de homenagens póstumas e até de conversas transcendentais.

O luto (1), seja ele virtual ou real, pode variar muito, dependendo das pessoas, do tipo de morte e da cultura, mas que o caminho mais comum é entender que a pessoa partiu e redefinir a vida com a ausência do ente querido. Uma das teorias mais consagradas para elucidar a reação humana durante o luto é a dos “cinco estágios”, desenvolvida pela psiquiatra suíça e reencarnacionista Elizabeth Kübler-Ross, em 1969. Segundo Kübler-Ross, até superar uma perda, as pessoas enlutadas passam por fases sucessivas de negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Essa teoria entrou até para a cultura popular.

Talvez, em razão da imponderável vida virtual, os recentes estudos sinalizam que há outras maneiras de lidar com a “partida” de quem amamos. Cerca de 50% das pessoas lidam muito bem com a “perda” e volta à vida normal em semanas. Apenas 15% de enlutados desenvolvem graves dificuldades que afetam a convivência social, possivelmente, porque o “aceitar perdas”, especialmente, aquelas referentes aos sentimentos é enormemente complexo e trabalhoso para tais pessoas.

Se o luto não é essencialmente tão insuportável quanto se concebia e se a maior parte dos enlutados conseguem suplantar bem uma “perda”, por que razão algumas pessoas não conseguem superar o trauma? Pois os 15% atravessam anos sobrevivendo como nos primeiros e mais complicados períodos do luto. Essas pessoas não conseguem retomar a vida. Cultuam a dor, em uma espécie de luto crônico, chamado pelos psiquiatras de “luto patológico” ou “luto complicado”. Nas mortes traumáticas, como acidente, suicídio, assassinato, pode haver uma fase de negação mais prolongada; a culpa e a revolta podem aparecer com mais intensidade.

Transportando o sentimento para a família, o luto pode provocar uma grave crise doméstica, pois exige a tarefa de renúncia, de excluir e incluir novos papéis na cena familiar. Percebe-se então que existe aí uma confusão, pois essa crise pode estancar o desenvolvimento dos parentes, fator que pode definir o processo de um luto crônico coletivo.

Sigmund Freud, em “Luto e Melancolia”, remete-nos para ponderações razoáveis sobre o desencadear patológico da “perda” afetiva pela desencarnação. Entre outras teses, o pai da psicanálise assegura que o luto é a resposta emocional benéfica, adequada para a ocorrência da “perda”, já que há necessidade do enlutado de reconhecer a morte como evento, como realidade que se apresenta e que, naturalmente, suscita constrangimento. O luto coloca-nos diante do fato, oferece-nos condições de obter dentro de nós mesmos esse impulso frente ao que nos origina ansiedade; ele é, consequentemente, uma maneira de reorganização psíquica.

Freud afiança que na melancolia o enlutado identifica-se com o morto e, ao deparar com essa “perda”, a pessoa entende que parte dela também está indo; há uma identificação patológica com o “de cujus”. Vemos então que no enlutamento melancólico há o que Freud chama de estado psicótico, em que o ego não suporta essa ruptura e adoece gravemente.

Para nós espíritas, a morte tem outro significado, sobretudo para os que aqui permanecem. Temos consciência da imortalidade, da vida além-túmulo. Allan Kardec remete-nos à Jesus, e com o Meigo Rabi certificamos que o fenômeno da morte é totalmente diferente. No túmulo de Jesus não há sinal de cinzas humanas. Nem pedrarias, nem mármores luxuosos com frases que indiquem ali a presença de alguém.

Quando os apóstolos visitaram o sepulcro, na gloriosa manhã da Ressurreição, não havia aí nem luto, nem tristeza. Lá encontraram um mensageiro do reino espiritual que lhes afirmou: não está aqui. Os séculos se esvaíram e o “túmulo [de Jesus] continua aberto e vazio, há mais de dois mil anos” (2)

Seguindo pois, com o Cristo, através da luta de cada dia, jamais encontraremos a angústia do luto por causa da morte de pessoa amada e sim a vida incessante.

Jorge Hessen

Referências:


(1) Luto [do latim luctu] – 1. Sentimento de pesar ou de dor pela morte de alguém. 2. A exteriorização do referido sentimento ou o tempo de sua duração. 3. Consternação, tristeza;


(2) XAVIER, FRANCISCO CÂNDIDO. Alvorada Cristã. Cap. 1. Ditado pelo Espírito Neio Lucio, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1991.