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31 maio 2016

A Desobsessão e o Centro Espírita - Esther Fregossi Gonzalez



A DESOBSESSÃO E O CENTRO ESPÍRITA


O recurso espírita conhecido como desobsessão, por sua complexidade e abrangência, requer uma ação sistêmica de todas as atividades e procedimentos que o Centro Espírita realiza.

No âmbito da desobsessão, há duas vertentes de ações bem definidas: o atendimento aos encarnados e o atendimento aos desencarnados.

Sabidamente o processo desobsessivo se processa nos planos espiritual e físico, um constituindo sequência natural do outro, exigindo sincronia e integração das duas dimensões: tarefas do plano físico geridas pelos homens, mediante inspiração dos Espíritos, e tarefas do plano espiritual geridas pelos Espíritos com a colaboração dos homens.

Todo este conjunto de tarefas, em um Centro Espírita bem estruturado, em que as ações se entrelaçam num clima de harmonia e afetividade legítima, produz uma psicosfera de superior qualidade, que constitui a base para o êxito dos processos desobsessivos.

A eficácia do processo desobsessivo espírita depende assim do conjunto de ações realizadas, umas diretamente relacionadas com o atendimento aos encarnados - Atendimento Fraterno, Exposição Doutrinária, Estudo Sistematizado (adulto e infantojuvenil), Assistência Social, etc. - e outras direcionadas ao atendimento aos desencarnados - a Reunião Mediúnica.

Ambos os atendimentos caracterizam-se pelo Acolhimento, Consolo, Esclarecimento e Orientação ao Ser Imortal– encarnado ou desencarnado, objetivando a sua promoção integral.

As diversas fases de que se constitui o processo desobsessivo evidenciam a necessidade de uma ação integrada de todas as atividades do Centro Espírita. Pela relevância, estas atividades devem ser conduzidas e realizadas por trabalhadores com domínio pleno dos princípios espíritas, o que requer estudo continuado, notadamente do conteúdo de O Livro dos Médiuns.

Deveremos entender os Centros Espíritas como organizações coletivas, em que estejamos interessados na proposta desobsessiva globalizada”. 1

Imprescindível, para tanto, investir na qualificação continuada do trabalhador espírita, capacitando-o para atuar como colaborador esclarecido e elemento consciente do processo desobsessivo, que se efetiva em todas as atividades do Centro Espírita- nas duas dimensões da Vida.

Por outro lado, é oportuno lembrar que os recursos espíritas são apenas parte do processo desobsessivo, uma vez que “ (...) as imperfeições morais dão azo à ação dos Espíritos obsessores e que o mais seguro meio de a Por outro lado, é oportuno lembrar que os recursos espíritas são apenas parte do processo desobsessivo, uma vez que “ (...) as imperfeições morais dão azo à ação dos Espíritos obsessores e que o mais seguro meio de a pessoa se livrar deles é atrair os bons pela prática do bem.” 2 

É, portanto, dever do Centro Espírita difundir estes princípios que revelam simultaneamente a origem e a solução para as obsessões, promovendo a renovação mental e moral dos frequentadores e adeptos.

O Centro Espírita que sinaliza aos seus frequentadores com a “cura da obsessão” apenas através de recursos espíritas,escomprometida com a imprescindível renovação íntima do assistido, está adotando atitude de lesa consciência, em postura inócua e enganadora, definitivamente contrária às diretrizes espíritas.

Na atualidade, diante da crescente incidência da obsessão em todas as suas variantes, cumpre que os Centros Espíritas ofereçam aos seus frequentadores não apenas os recursos, mas, notadamente a profilaxia espírita.

Unamo-nos assim, nesta desafiadora tarefa de tornar o Centro Espírita efetivamente um núcleo de referência em qualidade e eficácia no tratamento e na prevenção da obsessão, nos seus variados matizes.

Recordemos o insigne Codificador: “..., o conhecimento do Espiritismo, longe de facilitar o predomínio dos maus Espíritos, há de ter como resultado, em tempo mais ou menos pró-ximo, e quando se achar propagado, destruir esse predomínio, dando a cada um os meios de se pôr em guarda contra as sugestões deles.” 3

Referências:


(1) PUGLIESE, Adilton. “Obsessão Instalação e Cura”, cap. 4. Item 4.1.
(2) KARDEC, Allan, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIII, item 252.
(3) _____________, O Livro dos Médiuns, Cap. XXIII, Item 244.

30 maio 2016

O Estranho Mundo dos Suicidas - Frederico Francisco

 
O ESTRANHO MUNDO DOS SUICIDAS

Frequentemente somos procurados por iniciantes do Espiritismo, para explicações sobre este ou aquele ponto da Doutrina. Tantas são as perguntas, e tãoO estranho mundo dos suicidas variadas, que nos chegam, até mesmo através de cartas, que chegamos à conclusão de que a dúvida e a desorientação que lavram entre os aprendizes da Terceira Revelação partem do fato de eles ainda não terem percebido que, para nos apossarmos dos seus legítimos ensinamentos, havemos de estabelecer um estudo metódico, parcelado, partindo da base da Doutrina, ou exposição das leis, e não do coroamento, exatamente como o aluno de uma escola iniciará o curso da primeira série e não da quarta ou da quinta.

Desconhecendo a longa série dos clássicos que expuseram as leis transcendentes em que se firmam os valores da mesma Doutrina, não somente nos veremos contornados pela confusão, impossibilitados de um sadio discernimento sobre o assunto, como também o sofisma, tão perigoso em assuntos de Espiritismo, virá em nosso encalço, pois não saberemos raciocinar devidamente, uma vez que só a exposição das leis da Doutrina nos habilitará ao verdadeiro raciocínio.

Procuraremos responder a uma dessas perguntas, de vez que nos chegou através de uma carta, pergunta que nos afligiu profundamente, visto que fere assunto melindroso, dos mais graves que a Doutrina Espírita costuma examinar. A dita pergunta veio acompanhada de interpretações sofismadas, próprias daquele que ainda não se deu ao trabalho de investigar o assunto para deduzir com a segurança da lógica. Pergunta o missivista:

- Um suicida por motivos nobres sofre os mesmos tormentos que os demais suicidas? Não haverá para ele uma misericórdia especial?

E então respondemos:

- De tudo quanto, até hoje, temos estudado, aprendido e observado em torno do suicídio à luz da Doutrina Espírita, nada, absolutamente, nos tem conferido o direito de crer que existam motivos nobres para justificar o suicídio perante as leis de Deus. O que sabemos é que o suicídio é infração às leis de Deus, considerada das mais graves que o ser humano poderia praticar ante o seu Criador. Os próprios Espíritos de suicidas são unânimes em declarar a intensidade dos sofrimentos que experimentam, a amargura da situação em que se agitam, consequentes do seu impensado ato. Muitos deles, como o grande escritor Camilo Castelo Branco, que advertiu os homens em termos veementes, em memorável comunicação concedida ao antigo médium Fernando de Lacerda, afirmam que a fome, a desilusão, a pobreza, a desonra, a doença, a cegueira, qualquer situação, por mais angustiosa que seja,, sobre a Terra, ainda seria excelente condição "comparada ao que de melhor se possa atingir pelos desvios do suicídio".

Durante nosso longo tirocínio mediúnico, temos tratado com numerosos Espíritos de suicidas, e todos eles se revelam e se confessam superlativamente desgraçados no Além-Túmulo, lamentando o momento em que sucumbiram. Certamente que não haverá regra geral para a situação dos suicidas. A situação de um desencarnado, como também de um suicida, dependerá até mesmo do gênero de vida que ele levou na Terra, do seu caráter pessoal, das ações praticadas antes de morrer.

Num suicídio violento como, por exemplo, os ocasionados sob as rodas de um trem de ferro, ou outro qualquer veículo, por uma queda de grande altura, pelo fogo, etc., necessariamente haverá traumatismo perispiritual e mental muito mais intenso e doloroso que nos demais. Mas a terrível situação de todos eles se estenderá por uma rede de complexos desorientadores, implicando novas reencarnações que poderão produzir até mesmo enfermidades insolúveis, como a paralisia e a epilepsia, descontroles do sistema nervoso, retardamento mental, etc. Um tiro no ouvido, por exemplo, segundo informações dos próprios Espíritos de suicidas, em alguns casos poderá arrastar à surdez em encarnação posterior; no coração, arrastará a enfermidades indefiníveis no próprio órgão, consequência essa que infelicitará toda uma existência, atormentando-a por indisposições e desequilíbrios insolúveis.

Entretanto, tais consequências não decorrerão como castigo enviado por Deus ao infrator, mas como efeito natural de uma causa desarmonizada com as leis da vida e da morte, lei da Criação, portanto. E todo esse acervo de males será da inteira responsabilidade do próprio suicida. Não era esse o seu destino, previsto pelas leis divinas. Mas ele próprio o fabricou, tal como se apresenta, com a infração àquelas leis. E assim sendo, tratando-se, tais sofrimentos, do efeito natural de uma causa desarmonizada com leis invariáveis, qualquer suicida há de suportar os mesmos efeitos, ao passo que estes seguirão seu próprio curso até que causas reacionárias posteriores os anulem.

No caso proposto pelo nosso missivista, poderemos raciocinar, dentro dos ensinamentos revelados pelos Espíritos, que o suicida poderia ser sincero ao supor que seu suicídio se efetivasse por um motivo nobre. Os duelos também são realizados por motivos que os homens supõem honrosos e nobres, assim como as guerras, e ambos são infrações gravíssimas perante as leis divinas. O que um suicida suporia motivo honroso ou nobre, poderia, em verdade, mais não ser do que falso conceito, sofisma, a que se adaptou, resultado dos preconceitos acatados pelos homens como princípios inabaláveis.

A honra espiritual se estriba em pontos bem diversos, porque nos induzirá, acima de tudo, ao respeito das mesmas leis. Mas, sendo o suicida sincero no julgar que motivos honrosos o impeliram ao fato, certamente haverá atenuantes, mas não justificativa ou isenção de responsabilidades. Se assim não fosse, o raciocínio indica que haveria derrogação das próprias leis de harmonia da Criação, o que não se poderá admitir.

Quanto à misericórdia a que esse infrator teria direito como filho de Deus, não se trataria, certamente, de uma "misericórdia especial". A misericórdia de Deus se estende tanto sobre esse suicida como sobre os demais, sem predileções nem protecionismo. Ela se revela no concurso desvelado dos bons Espíritos, que auxiliarão o soerguimento do culpado para a devida reabilitação, infundindo-lhe ânimo e esperança e cercando-o de toda a caridade possível, inclusive com a prece, exatamente como na Terra agimos com os doentes e sofredores a quem socorremos. Estará também na possibilidade de o suicida se reabilitar para si próprio, através de reencarnações futuras, para as duas sociedades, terrena e invisível; as quais escandalizou com o seu gesto, e para as leis de Deus, sem se perder irremissivelmente na condenação espiritual.

De qualquer forma, com atenuantes ou agravantes, o de que nenhum suicida se isentará é da reparação do ato que praticou com o desrespeito às leis da Criação, e uma nova existência o aguardará, certamente em condições mais precárias do que aquela que destruiu, a si mesmo provando a honra espiritual que infringira.

O suicídio é rodeado de complexos e sutilezas imprevisíveis, contornado por situações e consequências delicadíssimas, que variam de grau e intensidade diante das circunstâncias. As leis de Deus são profundas e sábias, requerendo de nós outros o máximo equilíbrio para estudá-las e aprendê-las sem alterá-las com os nossos gostos e paixões.

Assim sendo, que fique bem esclarecido que nenhum motivo neste mundo será bastante honroso para justificar o suicídio diante das leis de Deus. O suicida é que poderá ser sincero ao supor tal coisa, daí advindo então atenuantes a seu favor. O melhor mesmo é seguirmos os conselhos dos próprios suicidas que se comunicam com os médiuns: - Que os homens suportem todos os males que lhes advenham da Terra, que suportem fome, desilusões, desonra, doenças, desgraças sob qualquer aspecto, tudo quanto o mundo apresente como sofrimento e martírio, porque tudo isso ainda será preferível ao que de melhor se possa atingir pelos desvios do suicídio. E eles, os Espíritos dos suicidas, são, realmente, os mais credenciados para tratar do assunto.

Frederico Francisco
Revista Reformador de março de 1964

29 maio 2016

Ricos de Bens, pobres de virtudes! - Francisco Rebouças


RICO DE BENS, POBRE DE VIRTUDES!

A ideia primitiva da psicologia sociológica do passado recomendava a posse como forma de segurança na vida do indivíduo, pois, entendiam que a felicidade do homem, poderia ser medida em razão dos haveres acumulados, e a tranquilidade do indivíduo estava supostamente representada pela falta de preocupação que ele demonstrava em relação ao presente como ao futuro.

Dessa forma, concluía-se que o homem rico poderia aguardar uma velhice sem tantas preocupações, de forma descansada, sem problemas financeiros, o que justificava ter como a grande meta o acúmulo e a conquista dos bens e haveres materiais, porque a escala de valores mantinha como patamar mais elevado a fortuna endinheirada, como se a vida se restringisse a negócios, à compra e venda de coisas, de favores, de posições, de títulos etc.

Mesmo as religiões, que preconizavam a renúncia ao mundo e aos bens terrenos, reverenciavam os poderosos, os ricos, enquanto se adornavam de requintes, e seus templos se transformavam em verdadeiros bazares, palácios e museus frios, nos quais a solidariedade e o amor eram desconhecidos ou simplesmente desprezados.

Tinha-se a impressão que a felicidade seria possível, desde que se pudesse comprá-la. Todos os pareceres sobre a felicidade traziam como impositivo prioritário o prestígio social decorrente da posse financeira ou do poder político. Assim, adotou-se o conceito irônico de que o se o dinheiro não dá felicidade a quem o possui quem não o tem, estará definitivamente condenado a ser infeliz.

O que se observa quando se analisa essa forma de ver a vida, é que o imediatismo substituiu os valores legítimos da vida, levando o indivíduo a um prejudicial e equivocado relaxamento pelos códigos éticos e morais, as conquistas intelectuais, as virtudes, por parecerem de menor importância para a conquista da felicidade, pelo indivíduo que não seja possuidor de grande quantidade de bens materiais.

Não se procurava averiguar se as pessoas poderosas e possuidoras de coisas materiais, eram realmente felizes, ou se apenas fingiam sê-lo, não se procurava saber em quantas oportunidades a riqueza em nada lhes adiantou na resolução de problemas internos, que infelicitam também aos possuidores de riquezas, não se procurava saber quantas vezes esses ricos gostariam de passar livres e desapercebidos pelas avenidas sem serem incomodados, o que por essa razão não podem se sentir livres para fazerem o que lhes aprazia e não o que lhes impunham a condição de ricos.

Nos dias da atualidade, embora os avanços da Psicologia profunda, ainda permanecem os mesmos incentivos para que o homem tenha, sem a preocupação com o que ele seja, prolongando essa arcaica, infantil e perniciosa cultura, mantendo os mecanismos escapistas da personalidade, fazendo que a existência permaneça como um jogo, e os bens, como as pessoas, tornem-se brinquedos nas mãos dos seus possuidores, esquecidos de que os homens, entretanto, não são marionetes de fácil manipulação. Cada indivíduo tem as suas próprias aspirações e metas, não podendo ser movido, pelo prazer insano ou até mesmo, com bons propósitos, por outras pessoas.

Está na hora de entender que esses atavismos infantis não absorvidos pela idade adulta, impedem o amadurecimento psicológico encarregado do discernimento, que são igualmente responsáveis pela insegurança que leva o indivíduo a amontoar coisas e a cuidar do ego, em detrimento dos bens espirituais que trás latente no Ser imortal que é. Só o amadurecimento psicológico equipa o homem de resistências contra os fatores negativos da existência, as ciladas do relacionamento social, as dificuldades do cotidiano, preparando o para jornadas maiores no continuar de sua caminhada evolutiva, e sua vida é composta justamente de todas as ocorrências, agradáveis ou não, que trabalham pelo progresso, em cuja correnteza todos navegam na busca do porto da felicidade e da pureza espiritual que nos aguarda ainda distante. Preciso se faz, manter-se o equilíbrio entre o ter e o ser, e entender definitivamente, que nessa luta entre o ego artificial, arquetípico, e o eu real, eterno e evolutivo, os conteúdos ético-morais da vida têm prevalência, devendo ser incorporados à nossa conduta, em buscando da sonhada auto realização.

Claro que ninguém deseja fazer apologia da escassez ou da miséria, nem tampouco, propor o desdém à posse, por entender ser ela uma necessidade para a realização pessoal de qualquer ser humano. O que queremos deixar bem claro é o fato de que os recursos amoedados, o poder político ou social são mecanismos de progresso, de satisfação, enquanto conduzidos pelo homem, qual locomotiva a movimentar esses recursos com os nobres objetivos a que estão destinados pela Soberana Inteligência do Universo. O Homem precisa entender que, os bens materiais devem ser bem utilizados, para que possam gerar benefícios em seu proveito e do seu próximo, e que não foram criados para torná-los servis, nem para levá-los à escravização pelos encantos proporcionados pelos prazeres fugidios e passageiros que lhes entorpecem.

São ferramentas propostas pela Divindade para o progresso e evolução do indivíduo, no amadurecimento psicológico que lhes facultam os meios de gerir os recursos, sem se lhes submeter aos impositivos do orgulho e da vaidade, conquistando a sabedoria necessária para administrar os valores de qualquer natureza, a benefício da vida e da coletividade.

Os nobres valores da realidade espiritual brotam do que se é, jamais do que se tem.

Francisco Rebouças

28 maio 2016

Xipófagos - Ricardo Di Bernardi


 
XIPÓFAGOS


Os chamados xifópagos, conhecidos a nível popular como gêmeos siameses, são aqueles que apresentam seus corpos unidos por um segmento físico. Comumente se observa o uso indevido do termo “xipófago”, ao invés da designação correta, xifópago.

 A nomenclatura provém de xifoide, que é apêndice terminal do osso  denominado  “esterno” ( com “s” ) ,  situado na frente do tórax onde se unem as costelas, como se esses gêmeos fossem ligados por esta parte do corpo; aliás, isso frequentemente  não corresponde à realidade. As ligações podem se efetuar por diversos órgãos ou segmentos corporais, inclusive, inviabilizando a gestação ou sobrevivência de ambos os recém-natos.

Na situação onde duas entidades espirituais se ligam à esfera perispiritual materna e, posteriormente, ao fluido vital do óvulo, este tende a se bipartir  quando ocorre a fecundação, uma vez que,  a célula germinativa  está sob a influência de duas energias espirituais diferentes. No início da embriogênese, quando o ovo inicia sua multiplicação, há a separação em duas células que desenvolverão dois organismos filhos.

Quando se processa uma separação total, nascem gêmeos univitelíneos normais. No entanto, no caso dos xifópagos, permanecem unidos por um ponto ou segmento que se desenvolve durante a gestação, originando a ligação física de duas criaturas. Essa ligação pode se efetuar inclusive por órgãos vitais, impossibilitando a intervenção cirúrgica, especialmente em determinadas regiões do planeta onde os recursos são ainda rudimentares na área da assistência médica.

Do ponto de vista da ciência espírita, temos a informação que as  pessoas  costumam  se  vincular  energeticamente a outras,  pela  sua postura mental. Há casos onde esta fixação atinge níveis patológicos de ligação e  de intercâmbio energético-vibratório entre ambas.       

Espíritos que se odeiam mutuamente, por exemplo, mantém um estreito e intenso fluxo de energia entre si prendendo-se reciprocamente. Em muitas circunstâncias, não há possibilidade em curto prazo ou mesmo em médio prazo, de se dissolver estas ligações para a recuperação psíquica de ambos os envolvidos.

 À medida que os anos passam, no mundo espiritual,  a imantação se acentua atingindo níveis graves de comprometimento do corpo astral dos mesmos.

A anestesia temporária, pela terapia de nova reencarnação, poderá servir de impulso renovador na reconstituição da normalidade.

Considerando sempre que os pais são coparticipes do processo, os vínculos comuns do pretérito é que os leva a vivenciar esta situação. Não são, portanto, vítimas inocentes de uma lei natural injusta e arbitrária.

Os reencontros são decorrentes de afinidades que se atraem, conforme a sintonia energética; nada mais é que o  seu merecimento ou consequência da lei natural de causa e efeito que se opera automaticamente.

Inimigos, que estabelecem vínculos expressivos e desequilibrantes, retornam juntos e unidos. Não conseguem se separar, jungidos pelo forte laço extrafísico que se expressará pela equivalente ligação biológica.

Em outros casos,  quando existiam obsessões de naturezas diversas onde a dupla se realimentava por vias anormais, e mútuas, só a drenagem para a periferia física desta ligação, poderá facilitar o rompimento energético já estabelecido. Renascem então, ligados.

A visão espiritual do processo, além de poder contribuir cientificamente em futuro próximo, para a compreensão da gênese do problema, serve desde já, também, para alertar com relação às fixações monoideísticas desequilibrantes.

Além  dos  recursos  clássicos   convencionais, a  terapia da     prece,     no   sentido   de   doação  energética, é o recurso ideal para atenuar o sofrimento dos envolvidos nesta dolorosa situação.

 A aplicação dos passes e o esclarecimento aos familiares são indispensáveis  para suavizar as dores e apontar a solução, que se descortinará para eles em futuro próximo : a reconciliação, e a união pelo vínculo normal e saudável do amor.

 
Dr. Ricardo Di Bernardi
Alvorada de Luz - Londrina PR- julho 2001
Revista Espírita Allan Kardec - Goiânia, GO ano XII Nº 50

27 maio 2016

O adolescente e o problema das drogas - Joanna de Ângelis


O ADOLESCENTE E O PROBLEMA DAS DROGAS

Entre os impedimentos para a auto identificação, no período da adolescência, destaca-se a rejeição.

Caracterizado pelo abandono a que se sente relegado o jovem no lar, esse estigma o acompanha na escola, no grupo social, em toda parte, tornando-o tão amargurado quão infeliz.

Sentindo-se impossibilitado de auto realizar-se, o adolescente, que vem de uma infância de desprezo, foge para dentro de si, rebelando-se contra a vida, que é a projeção inconsciente da família desestruturada, contra todos, o que é uma verdadeira desdita. Daí ao desequilíbrio, na desarmonia psicológica em que se encontra, é um passo.

Os exemplos domésticos, decorrentes de pais que se habituaram a usar medicamentos sob qualquer pretexto, especialmente Valium e Librium, como buscas de equilíbrio, de repouso, oferecem aos filhos estímulos negativos de resistência para enfrentar desafios e dificuldades de toda a natureza. Demonstrando incapacidade para suportar esses problemas sem a ajuda de químicos ingeridos, abrem espaço na mente da prole, para que, ante dificuldades, fuja para os recantos da cultura das drogas que permanece em voga.

Por outro lado, a exuberante propaganda, a respeito dos indivíduos que vivem buscando remédios para quaisquer pequenos achaques, sem o menor esforço para vencê-los através dos recursos mentais e atividades diferenciadas, produz estímulos nas mentes jovens para que façam o mesmo, e se utilizem de outro tipo de drogas, aquelas que se transformaram em epidemia que avassala a sociedade e a ameaça de violência e loucura.

O alcoolismo desenfreado, sob disfarce de bebidas sociais, levando os indivíduos a estados degenerativos, a perturbações de vária ordem, torna-se fator predisponente para as famílias seguirem o mesmo exemplo, particularmente os filhos, sem estrutura de comportamento saudável.

O tabagismo destruidor, inveterado, responde pelas enfermidades graves do aparelho respiratório, criando dependência irrefreável, transformando-se em estímulo nas mentes juvenis para a usança de tais bengalas psicológicas, que são porta de acesso a outras substâncias químicas mais perturbadoras.

A utilização da maconha, sob a justificativa de não ser aditiva, apresentada como de consequências suaves e sem perigo de maiores prejuízos, com muita propriedade também denominada erva do diabo, cria, no organismo, estados de dependência, que facultarão a utilização de outras substâncias mais pesadas, que dão acesso à loucura, ao crime, em desesperadas deserções da realidade, na busca de alívio para a pressão angustiante e devoradora da paz.

Todas essas drogas tornam-se convites-soluções para os jovens desequipados de discernimento, que se lhes entregam inermes, tombando, quase irremissivelmente, nos seus vapores venenosos e destruidores, que só a muito custo conseguem superar, após exaustivos tratamentos e esforço hercúleo.

Os conflitos, de qualquer natureza, constituem os motivos de apresentação falsa para que o indivíduo se atire ao uso e abuso de substâncias perturbadoras, hoje ampliadas com os bntaminação e deixando-se infectar.

A curiosidade que elege determinados comportamentos desequilibradores já é sintoma de surgimento da distonia psicológica, que deve ser corrigida no começo, a fim de que se seja poupado de maiores conflitos ou de viarbitúricos, a heroína, a cocaína, o crack e outros opiáceos.

E não faltam conflitos na criatura humana, principalmente no jovem que, além dos fatores de perturbação referidos, sofre a pressão dos companheiros e dos traficantes que se encontram nos seus grupos sociais com o fim de os aliciar; a rebelião contra os pais, como forma de vingança e de liberdade; a fuga das pressões da vida, que lhe parece insuportável; o distúrbio emocional, entre os quais se destacam os de natureza sexual...

A educação no lar e na escola constitui o valioso recurso psicoterapêutico preventivo em relação a todos os tipos de drogas e substâncias aditivas, desvios comportamentais e sociais, bengalas psicológicas e outros derivativos.

A estruturação psicológica do ser é-lhe o recurso de segurança para o enfrentamento de todos os problemas que constituem a existência terrena, realizando-se em plenitude, na busca dos objetivos essenciais da vida e aqueloutros que são consequências dos primeiros.

Quando se está desperto para as finalidades existenciais que conduzem à auto realização, à auto identificação, todos os problemas são enfrentados com naturalidade e paz, porquanto ninguém amadurece psicologicamente sem as lutas que fortalecem os valores aceitos e propõem novas metas a conquistar.

Os mecanismos de fuga pelas drogas, normalmente produzem esquecimento, fugas temporárias ou sentimento de maior apreciação da simples beleza do mundo, o que é de duração efêmera, deixando pesadas marcas na emoção e na conduta, no psiquismo e no soma, fazendo desmoronar todas as construções da fantasia e do desequilíbrio.

É indispensável oferecer ao jovem valores que resistam aos desafios do cotidiano, preparando-o para os saudáveis relacionamentos sociais, evitando que permaneça em isolamento que o empurrará para as fugas, quase sem volta, do uso das drogas de todo tipo, pois que essas fugas são viagens para lugar nenhum.

Sempre se desperta desse pesadelo com mais cansaço, mais tédio, mais amargura e saudade do que se haja experimentado, buscando-se retomar a qualquer preço, destruindo a vida sob os aspectos mais variados. Por fim, deve-se considerar que a facilidade com que o jovem adquire a droga que lhe aprouver, tal a abundância que se lhe encontra ao alcance, constitui-lhe provocação e estímulo, com o objetivo de fazer a própria avaliação de resultados pela experiência pessoal. Como se, para conhecer-se a gravidade, o perigo de qualquer enfermidade, fosse necessário sofrê-la, buscando-lhe a coagens assinaladas por perturbações de vária ordem.

Em todo esse conflito e fuga pelas drogas, o amor desempenha papel fundamental, seja no lar, na escola, no grupo social, no trabalho, em toda parte, para evitar ou corrigir o seu uso e o comprometimento negativo.

O amor possui o miraculoso condão de dar segurança e resistência a todos os indivíduos, particularmente os jovens, que mais necessitam de atenção, de orientação e de assistência emocional com naturalidade e ternura.

Diante, portanto, do desafio das drogas, a terapia do amor, ao lado das demais especializadas, constitui recurso de urgência, que não deve ser postergado a pretexto algum, sob pena de agravar-se o problema, tornando-se irreversível e de efeitos destruidores.

Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco
Obra: Adolescência e Vida - LEAL

26 maio 2016

Vamos Todos para o Umbral? - Marcus De Mario


VAMOS TODOS PARA O UMBRAL?


Muitos espíritas acreditam que todos os homens e mulheres, após a desencarnação, deverão passar pelo Umbral, região espiritual caracterizada pelo sofrimento. Será isso verdade? Como nem sempre as afirmações possuem base doutrinária segura, vamos neste estudo tentar melhor compreender o processo da volta ao mundo espiritual. E para isso nada melhor do que iniciar com Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, trazendo para nossas reflexões o capítulo 3 da 2ª parte de O Livro dos Espíritos, “Retorno da Vida Corpórea à Vida Espiritual”.


Logo no início, a partir da questão 149, ficamos sabendo que a morte nada mais é do que o retorno da Alma ao mundo espiritual, onde ela mantém a sua individualidade e faz sua identificação através do perispírito, ou corpo espiritual. Na questão 150b os benfeitores espirituais da humanidade ensinam que levamos de volta o desejo de ir para um mundo melhor, e quanto mais pura for a Alma mais ela estará desligada das coisas materiais. Essa informação já provoca um questionamento: se o indivíduo, homem ou mulher, que é a Alma imortal, teve uma existência dedica ao bem e vivendo com simplicidade, levando consigo a aspiração de conseguir elevação espiritual por isso, por que haveria de passar, mesmo que por um minuto, nas zonas umbralinas?

Na questão 154 ficamos sabendo que a Alma nada sofre no momento da separação do corpo, pois o processo é gradual. 

Comentando esse processo, na questão 155, temos a seguinte explicação de Kardec:


“Durante a vida o Espírito está ligado ao corpo pelo seu envoltório material ou perispírito; a morte é apenas a destruição do corpo, e não desse envoltório, que se separa do corpo quando cessa a vida orgânica. A observação prova que no instante da morte o desprendimento do Espírito não se completa subitamente; ele se opera gradualmente, com lentidão variável, segundo os indivíduos. 

Para uns é bastante rápido e pode dizer-se que o momento da morte é também o da libertação, que se verifica logo após. Noutros, porém, sobretudo naqueles cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito mais demorado, e dura às vezes alguns dias, semanas e até mesmo meses, o que não implica a existência no corpo de nenhuma vitalidade, nem a possibilidade de retorno à vida, mas a simples persistência de uma afinidade entre o corpo e o Espírito, afinidade que está sempre na razão da preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. É lógico admitir que quanto mais o Espírito estiver identificado com a matéria, mais sofrerá para separar-se dela. Por outro lado, a atividade intelectual e moral e a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida corpórea, e quando a morte chega é quase instantânea”

Lembremos que Allan Kardec muito observou e estudou sobre a realidade da vida após a morte, e suas pesquisas sempre tiveram o critério do método científico, nada aceitando que não explicasse os fatos e não estivesse de acordo com a universalidade do ensino dos Espíritos (ou Almas). Com esses critérios ele esclarece que aquele/a que viveu no campo moral, utilizando a inteligência para o bem, mantendo elevação de pensamento, já mesmo no corpo inicia seu desprendimento, lançando-se à dimensão espiritual com naturalidade e rapidez. Então, voltamos a indagar: por que uma pessoa do bem, uma pessoa altruísta, que domina a si mesmo, teria que passar pelo Umbral após a morte do corpo?


Será que Chico Xavier, Irmã Dulce, Madre Tereza de Calcutá, Francisco de Assis, Bezerra de Menezes, Gandhi e tantos outros benfeitores encarnados, homens e mulheres que semearam o bem e o amor, que combateram em si mesmos os vícios e foram campeões de virtudes, ao desencarnarem, tiveram que passar pelo Umbral? Se a resposta for positiva, outra indagação: e a justiça divina, onde fica? Então nossos esforços em sermos melhores, mais moralizados e espiritualizados não nos isenta de sofrer, mesmo que pouco, na volta à condição plena de Espírito? A razão nos diz que não pode ser assim, que a lei é de evolução, e que os atos de caridade nos dão os méritos necessários para sermos recebidos como vencedores de nós mesmos e do mundo. Deus não poderia ser injusto para com seus filhos que, famosos ou não, cumpriram integralmente com suas missões de melhorar a si mesmos e ao mundo.


Reproduzamos agora a questão 160: “O Espírito encontra imediatamente aqueles que conheceu na Terra e que morreram antes dele? – Sim, segundo a afeição que tenham mantido reciprocamente. Quase sempre eles o vêm receber na sua volta ao mundo dos Espíritos, e o ajudam a libertar-se das faixas da matéria. Vê também a muitos que havia perdido de vista durante a passagem pela Terra; vê os que estão na erraticidade, bem como os que se encontram encarnados”.


Tudo está mergulhado no amor, e a misericórdia, bondade e justiça divinas não poderiam funcionar diferente: os que nos amam nos aguardam e recebem do outro lado da vida. Afeições cultivados ao longo da existência terrena granjeiam para nós sólidas amizades, outras tantas afeições que vão nos amparar, motivo pelo qual podemos perguntar: Se temos tantos que nos amam, que nos querem o bem, que nos são gratos, e eles podendo (e podem) interceder a nosso favor, por que deveríamos primeiro sofrer, para só depois podermos conviver com eles?

Pertubação espiritual

O que confunde muitos espíritas de pouco estudo, é o item, no mesmo capítulo de O Livro dos Espíritos, sobre a Perturbação Espírita. Entretanto, a leitura atenta das duas primeiras questões já nos esclarece, não deixando margem a qualquer dúvida:


“163. Deixando o corpo, a alma tem imediata consciência de si mesma?
– Consciência imediata não é o termo: ela fica perturbada por algum tempo”.


“164. Todos os Espíritos experimentam, no mesmo grau e pelo mesmo tempo, a perturbação que se segue à separação da alma e do corpo?
– Não, pois isso depende da sua elevação. Aquele que já está depurado se reconhece quase imediatamente, porque se desprendeu da matéria durante a vida corpórea, enquanto o homem carnal, cuja consciência não é pura, conserva por muito mais tempo a impressão da matéria”.


Perturbação espiritual no após morte não significa passar pelo Umbral, e sim aquele momento, de maior ou menor tempo, de maior ou menor intensidade, de readquiri a própria consciência, o que vai depender da elevação moral/espiritual da pessoa (Espírito), do seu maior ou menor grau de apego à matéria. Temos, nesse sentido, o testemunho de milhares de depoimentos dos Espíritos através da mediunidade, onde muitos declaram que não se lembram do que lhes aconteceu, mas apenas que caíram em sono mais ou menos profundo, vindo a despertar num posto de socorro ou colônia espiritual, já atendidos e amparados.


Bem, de tudo o que pudemos refletir, podemos concluir que nem todo Espírito, após a desencarnação, tem que passar, necessariamente, pelo Umbral. Todos teremos, de forma mais leve ou não, a perturbação espiritual, mas aquele que pratica o bem e ama o próximo, readquire sua consciência de forma quase imediata, sendo recebido pelos seus amigos e familiares, todos em júbilo, por poderem compartilhar com ele as benesses da lei divina, que reconhece o justo do injusto, o bom do mau, como só poderia acontecer em face da razão e da lógica.


 
Marcus De Mario é Escritor, Educador e Consultor.
Fonte: Orientação Espírita


25 maio 2016

O Espiritismo não é obra de romance - Herculano Pires


O ESPIRITISMO NÃO É OBRA DE ROMANCE


A mediunidade dinâmica não permanece em êxtase no organismo do médium. Não age de maneira discreta e sutil, como a mediunidade estática. Pelo contrário, extravasa agitada em fenômenos de captação e projeção, não raro explodindo em casos obsessivos. É a chamada mediunidade de serviço, destinada ao auxílio e ao socorro do próximo. Decorre de compromissos assumidos no plano espiritual, seja para auxiliar indiscriminada-mente os que necessitam de ajuda e orientação, seja para o resgate de dívidas morais do passado com entidades necessitadas, cujo estado inferior se deve, em parte ou totalmente, a ações do médium em vidas anteriores. O médium não desfruta apenas as vantagens da mediunidade generalizada, pois se vê investido de uma missão mediúnica a que os Espíritos deram o nome de mediunato.

A situação do médium é bem diferente da comum. Ele é continuamente solicitado para atender a entidades desencarnadas carentes de auxílio e elucidação. Se rejeita o seu compromisso ou tenta protelá-lo fica sujeito a perturbações e final-mente à obsessão. 

O mediunato lhe foi concedido para reparar os erros do passado e recuperar os espíritos que pôs a perder, levou à descrença e até mesmo à revolta em vidas passadas. Não obstante o determinismo implícito no mediunato, o seu livre-arbítrio continua intacto. Assim como escolheu e pediu essa situação ao voltar à encarnação, por sua livre vontade, assim também poderá agora optar pelo cumprimento da missão ou pela sua rejeição, arcando naturalmente com as conseqüências da fuga ao dever.

O mediunato é também concedido em casos de pura assistência ao próximo e ajuda à Humanidade, como nos mostra o exemplo histórico das meninas Boudin, Julia e Carolina, em Paris, cuja mediunidade admirável garantiu o êxito da missão de Kardec.

Mas o próprio Kardec não era médium, porque a sua missão era científica e não mediúnica. Cabia-lhe estudar e pesquisar a mediunidade para desdobrar a incipiente cultura terrena, revelando aos cientistas a face oculta da Natureza, a realidade desconhecida do outro mundo que eles não percebiam e quando percebiam não aceitavam.

As meninas Boudin, que estavam com apenas 14 e 16 anos, foram os instrumentos mediúnicos de que ele se serviu para a elaboração da Doutrina। Interrogava os espíritos através delas, aceitava ou rejeitava o que diziam, discutia livremente com eles e observava outros médiuns, como a Srta. Jafet, Didier Filho, Camille Flammarion, Victorien Sardou e muitos outros. Não era um profeta, nem um vidente ou Messias: era um pesquisador incansável e exigente. A volumosa, minuciosa e inabalável obra que deixou, formando um maciço de mais de vinte volumes de quatrocentas páginas em média, mostra porque ele não podia dispor de um mediunato. Tinha de dedicar-se inteiramente, como se dedicou até à exaustão, ao trabalho intelectual. E grandiosa a epopéia humilde desse homem, pesquisador solitário de uma ciência que todos combatiam e ridicularizavam. Se não estava investido de mediunato, dispunha da intuição em alto grau, de um bom-senso que lhe permitiu solidificar e estruturar a doutrina em bases seguras e vencer facilmente as mais sofisticadas investidas dos intelectuais, dos sábios, dos ateus e materialistas, das academias e instituições culturais, das igrejas e dos teólogos, mostrando-lhes com serenidade e clareza meridiana os erros temerários em que incidiam. A mediunidade estática lhe permitia, nos últimos anos de trabalho, ser advertido diretamente pelos espíritos de lapsos ocorridos em seus escritos, como se pode ver em suas anotações publicadas em Obras Póstumas. Se os homens não fossem tão estúpidos, como demonstrou Richet em L'Homme Stupide, teriam poupado Kardec dos muitos dissabores e das muitas lutas que teve de sustentar.

Para se compreender melhor a razão pela qual Kardec não teve um mediunato, basta lembrar o caso de Swedenborg na Suécia e de Andrew Jakson Davis nos Estados Unidos. O primeiro era um dos maiores sábios do século XVIII, amigo de Kant e foi um precursor do Espiritismo. Mas, dotado de extraordinária vidência, perdeu-se nas suas próprias visões, fascinado pela realidade invisível, e acabou criando uma seita eivada de absurdos. O segundo era também vidente e lançou uma série de livros em que o fantástico supera as possibilidades do real.

Kardec pôde realizar seu trabalho com firmeza porque não quis ser mais do que homem, como dizia Descartes, permanecendo com os pés no chão e examinando todas as manifestações espirituais com o mais rigoroso critério científico.

Os fenômenos mediúnicos são os mais difíceis de se examinar com frieza. O médium não escapa aos impactos emocionais dessas manifestações, como Kardec viu no próprio exemplo de Flammarion. Por outro lado, a condição de médium o tornaria suspeito aos olhos desconfiados dos homens de ciência. Sua posição firme no campo cultural e nas áreas de pesquisa, que lhe valeram o louvor de Richet e o respeito de Crookes, Zöllner e outros cientistas conscienciosos, e principalmente sua lógica poderosa o livraram dos perigos que ele mesmo apontava no tocante à complexa e fascinante problemática do Espiritismo. Tinha de falar aos homens como homem, e assim o fez, com a linguagem humana dos que buscam a verdade.

Mesmo no meio espírita o critério de Kardec ainda não foi suficientemente compreendido.

Muitos censuram o seu comedimento em tratar de assuntos melindrosos da época. Não entendem o valor de O Livro dos Médiuns e vivem à procura de novidades apresentadas em obras mediúnicas suspeitas.

Não percebem que o problema mediúnico só agora pode ser tratado cientificamente com mais desembaraço, graças ao avanço das ciências nos últimos anos. Poucos entendem o critério modelar de uma obra difícil como A Gênese e de um livro como O evangelho Segundo o Espiritismo, em que as questões explosivas da fé irracional e das influências mitológicas teriam de ser contornadas. 

Nas mãos de um vidente esses livros não poderiam ser escritos com a clareza racional em que o foram, porque as visões místicas influiriam na sua elaboração.

A vidência, como todas as formas de mediunidade, pode ocorrer ocasionalmente a qualquer pessoa, mas a sua ação permanente, nos casos de mediunato, pode bloquear a razão e excitar o misticismo. Nesses casos o místico está sujeito a enganos fatais.

O espírito encarnado está condicionado à vida do plano material, não dispondo de segurança para lidar com os problemas do plano espiritual. Mas a vaidade humana leva os videntes a confiarem nas suas percepções, pois isso os coloca acima dos outros.

No desdobramento, com fins de pesquisa no outro plano, esse problema se agrava, pois o deslocamento do espírito para um campo de ação que não é o seu, durante a encarnação, o coloca no plano espiritual como um estrangeiro que precisaria de tempo para ajustar-se a ele. Por isso Kardec preferiu o estudo e a investigação através das manifestações mediúnicas, onde é possível controlar-se a legitimidade das informações dadas pelos próprios habitantes do plano espiritual.

Richet levantou o problema do condicionamento da vidência à crença do vidente. Frederic Myers demonstrou que a nossa mente está condicionada para a interpretação das percepções sensoriais.

A consciência supraliminar, onde funciona a nossa mente de relação, está voltada para as condições do mundo em que vivemos. 

A consciência subliminar, que equivale ao inconsciente, destina-se a funcionar normalmente na vida futura, ou seja, no plano espiritual. Kardec observou tudo isso com rigor, através de pesquisas incessantes, nas comunicações mediúnicas de espíritos encarnados, como se pode ver nos relatos de suas pesquisas publicados na Revista Espírita. Os próprios espíritos recém-desencarnados referem-se sempre às dificuldades que enfrentam para adaptar-se às condições do mundo espiritual. É pois, uma temeridade confiar-se na vidência para estabelecer novos princípios ou sistemas de prática espírita. A vidência auxilia nas pesquisas, mas não pode ser o seu instrumento único.

Os videntes que se colocam na posição de conhecedores absolutos do outro mundo, esquecendo-se de que o seu equipamento sensorial e mental pertence a este mundo, e se apresentam na condição de mestres e reformadores da doutrina enganam-se a si mesmos e enganam aos outros.

Pode-se alegar a existência do mediunato da vidência. Mas esse mediunato jamais é concedido para as aventuras de espíritos de vivos no plano espiritual, porque isso seria condenar o médium a uma situação de dualidade perigosa na vida terrena. O mediunato da vidência existe, mas para fins de auxílio às pesquisas ou para demonstrações da verdade espírita, mas nunca para a criação de condições anômalas no campo mediúnico. As próprias obras mediúnicas, psicografadas, que descrevem com excesso de minúcias a vida no plano espiritual, devem ser encaradas com reserva pelos espíritas estudiosos.

Emmanuel explica, prefaciando um livro de André Luiz, que o autor espiritual se serve de figuras analógicas para explicar fatos e coisas que não poderiam ser explicados de maneira fidedigna em nossa linguagem humana.

São perigosas as duas posições extremadas: a dos que não aceitam essas obras como válidas e a dos que pretendem substituir por elas as obras de Kardec.

Os princípios da Codificação não podem ser alterados pela obra de um espírito isolado. A Codificação não é obra de vidência, mas de pesquisa científica realizada por Kardec sob orientação e vigilância dos Espíritos Superiores.

Estamos numa fase de rápidas transformações de conceitos e valores, mas não devemos esquecer que os conceitos e os valores do Espiritismo não se restringem ao momento atual. São conceitos e valores destinados à nossa preparação para o futuro, de maneira que não estão peremptos.

De tudo isso resulta um acréscimo da responsabilidade espíri-ta para todos os que se deixam levar pela fascinação das novidades. O Espiritismo é um campo de estudos difícil e melindroso, em que não podemos descuidar um só instante da bússola da razão. Ao tratar de assuntos espíritas estamos agindo num campo magnético em que se digladiam as forças do bem e do mal. Nem sempre sabemos distingui-las com segurança e podemos deixar-nos levar por correntes de pensamento desnorteantes. A vaidade, a pretensão, o orgulho humano sempre vazio e fácil de ser levado pelos ventos da mistificação, o desejo leviano de nos diferenciarmos da maioria, a ambição doentia e tola de nos fantasiarmos de mestres podem levar-nos à traição à verdade.

A obra de Kardec é a bússola em que podemos confiar. Ela é a pedra de toque que podemos usar para aferir a legitimidade ou não das pedras aparentemente preciosas que os garimpeiros de novidades nos querem vender.

Essa obra repousa na experiência de Kardec e na sabedoria do Espírito da Verdade. Se não confiamos nela é melhor abandonarmos o Espiritismo. Não há mestres espirituais na Terra nesta hora de provas, que é semelhante à hora de exames numa escola do mundo. Jesus poderia nos responder, diante da nossa busca comodista de novos mestres, como Abraão respondeu ao rico da parábola: "Porque eu deveria mandar-vos novos mestres, se tendes convosco a Codificação e os Evangelhos?".

A mediunidade dinâmica do mediunato exige o nosso esforço contínuo na luta para sustentação da verdade espírita no mundo. Mas ninguém se esquiva sem graves conseqüências ao dever da vigilância. Os espíritos mistificadores contam apenas com dois pontos de apoio para nos envolverem: a vaidade e a invigilância. É mais fácil a eles se aproximarem de nós e conquistar a nossa atenção, do que aos espíritos esclarecidos nos socorrerem com suas intuições ponderadas. Estamos num mundo de provas e de expiações, somos espíritos em evolução, na maioria repetidores de encarnações fracassadas. Nosso livre-arbítrio não pode ser violado, mas quando aceitamos as mistificações de pretensos reformadores usamos o livre-arbítrio na escolha infeliz que então fazemos. Este é um ponto importante de doutrina em que devemos pensar incessantemente. Nossa responsabilidade no tocante ao mediunato não nos permite leviandade alguma que não tenha um preço a pagarmos no presente ou no futuro. Num ambiente mediúnico dominado pelo desejo de novidades e pela expectativa do maravilhoso, estamos sujeitos sempre a nos embriagar com o vinho das ilusões. O principal dever dos médiuns resume-se em duas palavras: fidelidade e vigilância.

Se não formos fiéis à doutrina e não estivermos sempre vigilantes às ciladas das trevas, estaremos sujeitos a seguir o caminho dos falsos profetas da Terra e da erraticidade, que o cego da parábola levará ao barranco para cair com ele.


J.Herculano Pires

24 maio 2016

A Lei Humana e a Lei Divina - Irmão José

 
A LEI HUMANA E A LEI DIVINA

A sociedade humana poderia ser regida somente pelas leis naturais, sem o recurso das leis humanas?

- Poderia, se os homens as compreendessem bem e tivessem vontade de praticá-las; então seriam suficientes. Mas a sociedade tem as suas exigências e precisa de leis particulares.  (O Livro dos Espíritos, questão 794)

Esclarecemos, de início, que a nossa própria visão – a dos espíritos que, presentemente, nos encontramos fora do corpo – é limitada à condição espiritual que alcançamos.

Não temos a pretensão da verdade integral. Qual ocorre à maioria dos espíritos, todos estamos ainda sujeitos à Lei do Progresso. 

Entendamos, no entanto, que mesmo as Leis Divinas reveladas aso homens adaptam-se à sua capacidade de assimilá-las.

No próprio Decálogo, o primeiro dos dez mandamentos foi, em parte, específico para o povo judeu: “Eu sou o senhor vosso Deus, que vos tirei do Egito, da casa da servidão”...

O terceiro mandamento, “Lembrai-vos de santificar o dia de sábado”, hoje já não deve ter aplicação literal, posto que todos os dias devem ser igualmente santificados pelo trabalho. Jesus esclareceu que o sábado havia sido feito em função do homem, e não o homem em função do sábado.

As Leis Divinas, as mesmas para todo o Universo, são, inegavelmente, imutáveis em sua essência; todavia, repetimos, adaptadas à condição espiritual de cada orbe e ao grupo de espíritos a que se dirigem.

A tendência natural é que as leis humanas evoluam no sentido das Leis Divinas, com elas se identificando. Vejamos, no entanto, que com referência ao Decálogo, foram as Leis Divinas que procuraram adequar-se à condição dos homens da época.

Séculos depois, Jesus viria ampliar-lhes a concepção, asseverando sempre: “Aprendestes o que foi dito... eu porém, vos digo...” Os homens, espíritos indisciplinados, ainda carecem de leis que os constranjam ao respeito aos semelhantes – base de toda instituição social.

É natural, pois, que algumas leis, como por exemplo, a pena de morte, ainda subsista em alguns países e, em outros que já a haviam banido, cogite-se de fazê-la voltar, até ser extinta de vez.

Sem que os valores morais da criatura se fixem, adquirindo estabilidade, os seus valores externos estarão sujeitos a variações. 

Estando em transição, subsistem , na Humanidade, indiscutíveis traços de primitivismo de que ela, pouco a pouco, encontra-se emergindo.

Recordemo-nos de que não faz muito tempo, a Teologia discutia, em intermináveis concílios, se a mulher era ou não dotada de alma. 

Aristóteles, um dos principais filósofos gregos, chegou a dizer que “a Natureza só faz mulheres quando não pode fazer homens. A mulher é, portanto, um ser inferior”.

Até a vinda de Jesus à terra, a mulher era aviltada e tida na condição de simples alimária pela sociedade machista da época. 

Escolhendo aparecer, redivivo, em primeiro lugar, a Maria de Magdala, em detrimento dos Apóstolos, o Cristo teve a intenção de dar à mulher um papel de relevância no Cristianismo, vencendo, neste sentido, a resistência dos primitivos cristãos, inclusive a de Paulo de Tarso, que chegou a escrever em sua primeira Carta aos Coríntios, capítulo 14, versículo 34: “As mulheres estejam caladas nas igrejas, porque não lhe é permitido falar...”.

Portanto, há ainda a longa estrada a ser percorrida pela legislação humana, par que, finalmente, ela venha a ser um verdadeiro reflexo da Legislação Divina, que imperará na consciência e no coração do homem.

Pelo Espírito Irmão José, mediunidade de Carlos A. Baccelli
Da obra "Segundo o Livro dos Espíritos"
Editora Didier, primeira edição, capítulo 48, novembro de 2009

23 maio 2016

Desigualdade social e reencarnação - Jorge Hessen


DESIGUALDADE SOCIAL E REENCARNAÇÃO

Auroville é uma pequena cidade localizada na Índia. Foi fundada em 1968 pelo casal Sri Aurobindo e Mirra Alfassa. Ali, todos os moradores recebem um salário mínimo e podem trabalhar com o que se adaptem. É uma urbe que não tem políticos ou classes sociais. Não há religião oficial e o dinheiro é de somenos importância. Atualmente, cerca de duas mil pessoas moram na cidade, que tem capacidade de acolher até 50 mil habitantes.

É uma cidade autossustentável, tem campos cultiváveis, pequenas fábricas, restaurantes, padarias, hospitais, escolas e cinemas, além de um pequeno jornal local, tudo alimentado por energia solar. Não existem prefeito, governador ou secretários. Sempre que surge um problema, uma assembleia é convocada e os cidadãos da comunidade elegem um conselho para solucioná-lo.

Os habitantes de Auroville são livres para exercer seus rituais e acreditar no que quiserem, desde que não incomodem ou tentem pregar suas crenças aos concidadãos. Para residir na cidade, o interessado precisa comprar uma casa, que custa em média 3 mil dólares. No primeiro ano que passa na cidade, o novato é observado e avaliado pela comunidade. Depois de um ano, período que eles chamam de “estágio”, os cidadãos de Auroville decidem se a pessoa pode ou não permanecer entre eles.

Observamos ser um lugar apinhado de utopias e talvez não muito encantador, pois com meio século de existência e com capacidade para receber até 50 mil moradores, hoje só habitam cerca de duas mil pessoas. Como disse, deve ser um lugar pouco atraente, ou os cidadãos de Auroville devem ser intransigentes (pouco democráticos, diria!). Pode ser que o processo de seleção pela comunidade sobre os que podem ou não residir na cidade (após um ano de “estágio” no local) seja muito rígido ou discriminatório, sabe-se lá!…

Talvez tenham conquistado em Auroville a virtual igualdade dos “bens”, mas convidamos os leitores a meditarem aqui acerca da teoria da desigualdade das riquezas conforme ensinou Kardec, demonstrando que o princípio da pluralidade das existências pode oferecer a real explicação sobre as dessemelhanças dos “bens” na Terra.

Sabemos que há “espíritas progressistas”, que apontam Kardec como um ingênuo por ter explanado sobre a desigualdade das riquezas explicando-a sob a lei da reencarnação. Evocam tais “espíritas progressistas” que o proprietário dos meios de produção gera riquezas só para si, enquanto aos que trabalham resta o salário, representando apenas uma parte da riqueza gerada. Creem no lema “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”, por isso os “espíritas progressistas” divergem de Kardec, dizendo que o Codificador se equivocou quando afirmou que é um ponto matematicamente demonstrado que a fortuna igualmente repartida daria a cada qual uma parte mínima e insuficiente.

Kardec assegurou também que se houvesse a repartição dos bens materiais (riqueza), o equilíbrio estaria rompido em pouco tempo, pela diversidade dos caracteres e das aptidões. Tal verdade espírita é intolerável para os “espíritas progressistas”, pois estes defendem a distribuição irrestrita dos bens produzidos pelas empresas a fim de que os proletários possam viver na prerrogativa e violência ideológica do infausto igualitarismo; os “espíritas progressistas” idealizam uma sociedade altruísta (à moda deles), sem valorizar as legítimas conquistas individuais para a boa performance das estruturas sociais.

Quando Kardec afirmou que se a repartição da riqueza fosse possível e durável, cada um tendo apenas do que viver, e que seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e o bem-estar da Humanidade, os “espíritas progressistas” blasonaram que isso representa uma blasfêmia, pois as tecnologias produzidas têm atendido fundamentalmente às necessidades supérfluas da grande massa de consumidores – portanto, pessoas que já possuem o necessário podem utilizar a sua riqueza para o consumo do supérfluo.

Gritam furiosamente os tais “espíritas progressistas”, levantando por que supor que Deus é o agente da concentração de riquezas? Bradam, então, que a riqueza concentra-se pelo simples fato de que quem já possui fortuna tem mais chances de vencer num mercado competitivo, e assim acumular mais riqueza num movimento crescente de concentração de capital. Como se observa uma, dedução horizontalizada, superficial, mecanicista e nada razoável dos “insurgentes progressistas”, que insistem em dizer que isso não significa que devamos “ler a realidade” como um “plano de Deus”.

Creem os “progressistas” que a riqueza pode e deve ser concentrada sob a propriedade coletiva (sic), visando exclusivamente o benefício geral da humanidade, não permitindo a desigualdade de riqueza, pois assim toda a sociedade acaba “refém” da decisão do endinheirado de bem ou mal utilizar a riqueza. Além do quê, a sua apropriação fica sendo necessariamente injusta, já que os trabalhadores que recebem salário como remuneração pela venda de sua força de trabalho não ganham integralmente por toda a riqueza por eles produzida.

Expõem ainda os “progressistas” que em dez anos, no Brasil, as desordens distributivas estão na ordem do dia, pois os ricos se tornaram mais ricos, os pobres se tornaram menos pobres e uma certa classe média tradicional viu sua posição relativa em relação a essas duas outras camadas prejudicada. A classe média perdeu status. Os ricos se distanciaram e os pobres se aproximaram, daí o conflito atual. Que saibam utilizar a inteligência a fim de entenderem que “as classes [sociais] existiram e existirão sempre, o que porém deve preocupar, e é racional estabelecer a solidariedade entre elas, a conciliação de seus interesses, a multiplicação urgente das leis de assistência social, únicas alavancas mantenedoras da ordem.”[1]

É bem verdade que a desigualdade social ou econômica é um problema presente em todos os países (ricos ou pobres), decorrente da má distribuição de renda e, ademais, pela falta de investimento na área social. Compreendemos que uma repartição mais equitativa dos “bens” é imprescindível. Há “trocentas” teorias sociológicas, mil sistemas diferentes, tendendo a reformar a situação das classes desprovidas, a assegurar a cada um, pelo menos, o estritamente necessário. Ótimo!

Mas, infelizmente, noutro cenário, ao invés da recíproca tolerância que deveria aproximar os homens, a fim de lhes permitir estudar em conjunto e resolver os mais graves problemas sociais, tem sido com violência e atualmente no Brasil com ameaça na boca (verbal e saliva hostil ou “cuspidela”) que o militante reivindica seu lugar na ágape social. Outrossim, é uma lástima ver o endinheirado aguilhoado no seu egoísmo e recusando a ofertar aos famintos as menores migalhas da sua fortuna. Dessa forma, um muro tem separado ambos, e os quiproquós, as selvagerias, as cupidezes, as animosidades, os desrespeitos acumulam-se dia a dia.

Politicamente sabemos que as leis elaboradas pelos legisladores podem, de momento, modificar o exterior, mas não logram mudar a intimidade do coração humano; daí vem serem os decretos de duração efêmera e quase sempre seguidos de uma reação mais depravada. A origem do mal reside no egoísmo e no orgulho. Os abusos de toda espécie cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade.

Para confirmar as magníficas teses de Kardec sobre o assunto, reflitamos com Emmanuel: “A desigualdade social é o mais elevado testemunho da verdade da reencarnação, mediante a qual cada espírito tem sua posição definida de regeneração e resgate. Nesse caso, consideramos que a pobreza, a miséria, a guerra, a ignorância, como outras calamidades coletivas, são enfermidades do organismo social, devido à situação de prova da quase generalidade dos seus membros. Cessada a causa patogênica com a iluminação espiritual de todos em Jesus-Cristo, a moléstia coletiva estará eliminada dos ambientes humanos”.[2]

Jorge Hessen

Referências bibliográficas:

[1] Xavier Francisco Cândido. Palavras do infinito, III parte, ditado pelo Espírito Emmanuel, SP: Ed. LAKE, 1936

[2] Xavier , Francisco Cândido. O Consolador, pergunta 55, ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed. FEB,1978

22 maio 2016

Como evitar a obsessão - Gerson Simões Monteiro


COMO EVITAR A OBSESSÃO

A perniciosa influência de um Espírito obsessor pode levar a criatura humana ao estado depressivo, e até mesmo ao suicídio. A pessoa sente vontade de chorar, sem motivo algum; passa a ter sentimentos de tristeza, desânimo e idéia fixa em situações deprimentes; e, por fim, pode ter a idéia de se matar. Há inclusive casos em que o obsidiado sente vontade de beber, fumar ou de usar outras drogas compulsivamente.

É bom esclarecer que no mundo espiritual tanto vivem os bons quanto os maus Espíritos, influenciando as criaturas humanas no dia-a-dia. Os bons nos ajudam e nos influenciam para o bem, como, por exemplo, o benfeitor espiritual Bezerra de Menezes, que foi bondoso médico na Terra e continua nos ajudando espiritualmente por amor ao Cristo.

Já os maus Espíritos podem influenciar os encarnados com as suas vibrações malévolas e pensamentos negativos, desde que a pessoa abra brechas através de sua má conduta. Eles agem pelo desejo de vingança, ou pela vontade simplesmente de absorverem as emanações fluídicas de pessoas que fazem uso de bebidas alcoólicas, ou de outras drogas.

Por isso mesmo é que, em todos os casos nos quais há tais influências espirituais obsessivas, a prece direta a Deus é o mais poderoso meio que está à disposição do obsidiado. Aliás, Allan Kardec, n’O Evangelho segundo o Espiritismo, apresenta diversas preces que podem ser feitas por eles.

O processo obsessivo é sempre bilateral, ou seja, é a própria pessoa encarnada que oferece campo para o Espírito obsessor agir. Não basta, portanto, o Espírito obsessor desejar fazer o mal ou induzir a pessoa ao erro se ela estiver vigilante, pois o Espírito nada conseguirá.

Enfim, para a pessoa se libertar das malignas companhias, ela, além de orar, precisa também mudar seu comportamento moral. A primeira coisa a fazer é seguir a recomendação de Jesus, ou seja, perdoar os inimigos. Também é importante praticar a caridade, e abandonar todos os vícios. Afinal, quem muda seu proceder para o bem atrai para si a companhia dos bons Espíritos, liberta-se dos maus e, com isso, consegue a cura da obsessão.

Gerson Simões Monteiro