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28 fevereiro 2017

Panteísmo e Materialismo: As acusações mais absurdas ao Espiritismo - Lucas Berlanza Corrêa


PANTEÍSMO MATERIALISMO: AS ACUSAÇÕES MAIS ABSURDAS AO ESPIRITISMO


Em meio ao clima de acirramento de ânimos e de disposição para o debate e as disputas teóricas, temos visto, no campo da discussão espiritual ou religiosa, um sem-número de críticas mais refinadas e “intelectualizadas” ao Espiritismo, por assim dizer, por parte tanto de católicos e protestantes, quanto de agnósticos autointitulados “ex-espíritas”, procurando situar nossa doutrina no rol das concepções ultrapassadas e “datadas”, ou das completas falácias.

Da parte dos espíritas, seja por não darem a isso a devida importância, seja por não estarem suficientemente compenetrados dos princípios e da identidade da sua própria doutrina para formular as respostas devidas, esse tipo de ataque é recebido com absoluto silêncio e ignorância, ou respondido com destemperos que nos tiram a razão. Raros são os que se dispõem a, no interesse do esclarecimento dos próprios espíritas, destrinchar essas críticas e, ao fim e ao cabo, constatar, para aqueles mais incautos, que elas são pouco mais que repetições de ataques que já foram levantados contra Kardec no século XIX, e que podemos nos inspirar nas suas respostas – que ele, julgando conveniente, não se furtou de dar – para articular as refutações necessárias no hoje.

Prestando atenção a algumas dessas críticas, notamos que se repetiam duas que, por enfeitadas e sofisticadas que estivessem apresentadas, podemos, sem medo de errar, taxar de as mais obviamente estúpidas. Para os espíritas que não acompanham as recentes contendas, isto pode soar até inacreditável, mas temos visto o Espiritismo ser acusado de sustentar o Panteísmo e o Materialismo. Sim, você não leu errado.

Da parte do Panteísmo, muitas vezes os que sustentam essa tese esdrúxula se baseiam em comentários de autores posteriores a Kardec que sugeririam uma confusão essencial entre o Criador e suas criaturas. O Espiritismo, como sabemos, não pode assumir responsabilidade pelas opiniões dos espíritas, ou dos pretensos espíritas. Como doutrina didática que é, organizada por um pedagogo menos preocupado em produzir obras de garbo e elegância lírica – nada contra os livros que têm essa pretensão cultural, apenas ressalvamos que cada coisa tem seu departamento – que em traduzir o ensinamento coordenado dos Espíritos ao conhecimento geral, o Espiritismo provavelmente é a doutrina que mais cristalina e objetivamente se contrapõe à teoria panteísta.

Imediatamente no capítulo I da Parte Primeira de O Livro dos Espíritos, sob o subtítulo precisamente designado Panteísmo – PANTEÍSMO, leram bem? -, nossa doutrina se posiciona a respeito do assunto, no já bem conhecido formato de perguntas e respostas.

Em um apanhado das questões 14 a 16, vemos os Espíritos e Kardec, em conjunto, deixando claro que Deus NÃO É “a resultante de todas as forças e de todas as inteligências do Universo reunidas”, pois, se o fosse, Ele seria “efeito e não causa”. Em autêntica censura moral, dizem ainda que os proponentes de tal sistema são perigosamente arrogantes, pois, “Não podendo fazer-se Deus, o homem quer ao menos ser uma parte de Deus”. 

A doutrina deixa muito claro, para o desgosto de alguns místicos, que as criaturas, todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais, não são partículas de seu Criador, e não se confundem de maneira alguma com a Sua essência. Se assim fosse, Deus “nenhuma estabilidade teria; achar-se-ia sujeito a todas as vicissitudes, mesmo a todas as necessidades da Humanidade; faltar-lhe-ia um dos atributos essenciais da Divindade: a imutabilidade. Não se podem aliar as propriedades da matéria à ideia de Deus, sem que Ele fique rebaixado ante o nosso pensamento, e não haverá sutilezas de sofismas que cheguem a resolver o problema da Sua natureza íntima”. 

De todo modo, podemos afirmar que o sistema panteísta “confunde o Criador com a criatura, exatamente como o faria quem pretendesse que engenhosa máquina fosse parte integrante do mecânico que a concebeu.” Não satisfeito, Kardec reafirma: “A inteligência de Deus se revela em Suas obras como a de um pintor no seu quadro; mas as obras de Deus não são o próprio Deus, como o quadro não é o pintor que o concebeu e executou”. Ainda em Obras Póstumas, no famoso texto As Cinco Alternativas da Humanidade, vemos que Kardec insistiu no tema, sustentando as mesmas posições.

Por que afinal de contas insistir em negar o óbvio e em atribuir essa pecha ao Espiritismo? Por que ainda vejo essa acusação aparecer em várias cartilhas e artigos de portais católicos e protestantes?

Na Revista Espírita de junho de 1863, em Algumas refutações, Kardec discute com um sacerdote católico que fez ataque similar e desnuda que, para além de distorcer os fatos, ele também inventava palavras que o Espiritismo jamais disse. “Numa passagem de O Livro dos Espíritos ele nos faz dizer: ‘Há tanta distância entre a alma do animal e a alma do homem, quanto entre a alma do homem e a alma de Deus.’ (Nº 597). Nós dissemos: ‘… quanto entre a alma do homem e Deus’, o que é muito diferente. A alma de Deus implica uma espécie de assimilação entre Deus e as criaturas corpóreas. Compreende-se a omissão de uma palavra por inadvertência ou erro tipográfico, mas não se acrescenta uma palavra sem intenção. Por que essa adição, que desnatura o sentido do pensamento, senão para nos dar um tom materialista aos olhos dos que se contentarem em ler a citação sem verificá-la no original? Um livro que apareceu pouco antes de O Livro dos Espíritos, e que contém toda uma teoria teogônica e cosmogônica, faz de Deus um ser muito diversamente material, porque o faz composto de todos os globos do Universo, moléculas do ser universal que tem um estômago, come e digere, e de cuja digestão os homens são o mau produto. Contudo, nem uma palavra foi dita para combatê-lo.”

Como se vê, mais inverossímil do que a acusação de panteísmo, e às vezes curiosamente mesclada a ela, é a ideia de que o Espiritismo seria, paradoxalmente, materialista. Essa tese provém de muitos segmentos católicos que, também algo paradoxalmente, usam como referência distante o pensador perenialista René Guénon (1886-1951), autor do clássico O Erro Espírita – livro que os críticos do Espiritismo supõem não ter sido lido por nenhum espírita, como se fosse o ataque fulminante inescapável às nossas ideias, e acabam parecendo ter razão, já que, apegados a uma passividade incoerente com a conduta de Kardec, os espíritas efetivamente não se ocupam de conhecê-lo.

Os que tentam decretar um caráter materialista ao Espiritismo se apegam a algumas passagens. Uma delas, a questão 82 de O Livro dos Espíritos, em que os Espíritos relutam em admitir que eles próprios (os seres inteligentes da Criação) são imateriais.

“Imaterial não é o termo apropriado; incorpóreo, seria mais exato; pois deves compreender que, sendo uma criação, o Espírito deve ser alguma coisa. É uma matéria quintessenciada, para a qual não dispondes de analogias, e tão eterizada que não pode ser percebida pelos vossos sentidos.” Ao que Kardec acrescentou: “Dizemos que os Espíritos são imateriais, porque a sua essência difere de tudo o que conhecemos pelo nome de matéria. Um povo de cegos não teria palavras para exprimir a luz e os seus efeitos.

O cego de nascença julga ter todas as percepções pelo ouvido, o paladar e o tato; não compreende as ideias que lhe seriam dadas pelo sentido que lhe falta. Da mesma maneira, no tocante à essência dos seres super-humanos, somos como verdadeiros cegos. Não podemos defini-los, a não ser por meio de comparações sempre imperfeitas ou por um esforço da imaginação.” Ora, resta evidente que dizer que o Espíritos seriam uma “matéria quintessenciada” não passa de uma apropriação da nossa linguagem imperfeita e desprovida do alcance suficiente para uma expressão exata da ideia, empregada a fim de deixar claro que o Espírito é ALGUMA COISA. Que, em outras palavras, a seu modo, ele tem uma existência concreta, É algo.

Não pode ser encarada como mais do que uma concessão às imperfeições da nossa linguagem, sobretudo se nós constatarmos todo o esforço que O Livro dos Espíritos faz em traçar uma genealogia distinta ao espírito (princípio inteligente do Universo) e à matéria. Criados por Deus, ambos compõem a partir dEle os ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO. Não podem, pois, estar confundidos, e serem um e outro a mesma coisa. O que se tenta dizer aqui, portanto, é que se por “imaterial” queremos dizer que o Espírito (e o espírito, por extensão) não é nada, é menos que uma abstração, não tem qualquer essência, então o termo é ruim. Contudo, se queremos dizer com isso que ele é distinto e irredutível a tudo quanto nós pudermos imaginar sob o rótulo convencional de matéria, e que seu princípio não é igual ao princípio material, então o termo seria adequado.

A presença do períspirito, o envoltório do Espírito, este sim uma espécie de matéria, acompanhando o Espírito em toda sua existência e na manifestação dos fenômenos que ele pode produzir, é outro atalho que costuma ser usado para taxar o Espiritismo de materialista. O que poucos sabem é que isso não representa novidade alguma. No mesmo artigo de junho de 1863 citado acima, Kardec rebate rigorosamente a mesma crítica.

“O Espiritismo é acusado por alguns de basear-se no mais grosseiro materialismo, porque admite o períspirito, que tem propriedades materiais. É ainda uma falsa consequência, tirada de um princípio exposto incompletamente. Jamais o Espiritismo confundiu a alma com o períspirito, que não passa de um envoltório, como o corpo é outro envoltório. Tivesse ela dez envoltórios, isso nada tiraria de sua essência imaterial. Já não é o mesmo com a doutrina adotada pelo concílio de Viena, no Dauphiné – França, na sua segunda sessão, a 3 de abril de 1312. Segundo essa doutrina, ‘A autoridade da Igreja ordena crer que a alma é apenas a forma substancial do corpo; que não há ideias inatas, e declara heréticos os que negarem a materialidade da alma.’ Raul Fornier, professor de Direito, ensina positivamente a mesma coisa em seus discursos acadêmicos sobre a origem da alma, impressos em Paris em 1619, com aprovação e elogios de vários doutores em teologia.” E Kardec acrescenta: “É provável que o concílio, baseando-se nos fatos de numerosas manifestações espíritas visíveis e tangíveis referidas nas Escrituras, manifestações que não podem deixar de ser materiais, pois que impressionam os sentidos, tenha confundido a alma com o seu envoltório fluídico ou períspirito, cuja distinção o Espiritismo demonstra. Sua doutrina é, pois, menos materialista que a do concílio.”

Por nossa conta, acrescentamos que os mesmos que consideram de um materialismo grosseiro o Espírito ser revestido de um tipo de matéria são os que condenam certas seitas gnósticas do Cristianismo que demonizavam a matéria, considerando-a uma força do mal.

Ora, nem o períspirito torna o Espírito em si material, nem ele o torna menos digno ou relevante na obra de Deus; é matéria sim, matéria que se sutiliza, mas não se confunde com a essência do Espírito, nem vemos em que o rebaixe. Acrescentamos também, com todo o respeito aos dogmas alheios, que os mesmos que apontam essa pecha de panteísta ou materialista ao Espiritismo admitem perfeitamente a ideia de que Deus – sob a forma de sua Segunda Pessoa, a partir da doutrina estranha da Trindade – Se ENCARNOU entre os homens e sacrificou-se por eles, imiscuindo-se da matéria do mundo e de suas mutabilidades, portanto (independentemente das sutilezas teológicas que se tentem aplicar aqui, como a distinção das naturezas divina e humana de Jesus ou qualquer outro postulado exótico). Seria o Cristianismo tradicional muito mais materialista do que o Espiritismo? Eis uma questão.

Seja como for, o absurdo nos parece desnudado. Se existe uma doutrina à qual o Espiritismo declare oposição mais sistemática, é ao materialismo; nele enxergamos a ameaça mais perniciosa aos bons valores e à ordem social, e a destruição das mais sagradas esperanças. Fazer do Espiritismo materialista é aplicar-lhe a mais pérfida caricatura.


Lucas Berlanza Corrêa

27 fevereiro 2017

As causas das doenças - Visão Espírita - Zadro Jornada Monteiro



AS CAUSAS DAS DOENÇAS – VISÃO ESPÍRITA

Como surgem as doenças?
O espiritismo explica.

Será que, ao nos sintonizarmos com energias e atitudes negativas, não estamos abrindo caminho para ficarmos doentes? No livro Mãos de Luz, a curadora norte-americana Barbara Ann Brennan apresenta um raciocínio muito interessante: “Toda doença é uma mensagem direta dirigida a você, dizendo-lhe que não tem amado quem você é e nem se tratado com carinho, a fim de ser quem você é”. De fato, todas as vezes que nosso corpo apresentar alguma “doença”, isto deve ser tomado como um sinal de que alguma coisa não está bem.

A doença não é uma causa, é uma consequência proveniente das energias negativas que circulam por nossos organismos espiritual e material. O controle das energias é feito através dos pensamentos e dos sentimentos, portanto, possuímos energias que nos causam doenças porque somos indisciplinados mentalmente e emocionalmente. Em Nos Domínios da Mediunidade, André Luiz explica que “assim como o corpo físico pode ingerir alimentos venenosos que lhe intoxicam os tecidos, também o organismo perispiritual absorve elementos que lhe degradam, com reflexos sobre as células materiais”.

Permanentemente, recebemos energia vital que vem do cosmo, da alimentação, da respiração e da irradiação das outras pessoas e para elas imprimimos a energia gerada por nós mesmos. Assim, somos responsáveis por emitir boas ou más energias às outras pessoas. A energia que irradiamos aos outros estará impregnada com nossa carga energética, isto é, carregada das energias de nossos pensamentos e de nossos sentimentos, sendo necessário que vigiemos o que pensamos e sentimos.

Tipos de doenças


Podemos classificar as doenças em três tipos: físicas, espirituais e atraídas ou simbióticas. As doenças físicas são distúrbios provocados por algum acidente, excesso de esforço ou exagero alimentar, entre outros, que fazem um ou mais órgãos não funcionarem como deveriam, criando uma indisposição orgânica.

As doenças espirituais são aquelas provenientes de nossas vibrações. O acúmulo de energias nocivas em nosso perispírito gera a auto-intoxicação fluídica. Quando estas energias descem para o organismo físico, criam um campo energético propício para a instalação de doenças que afetam todos os órgãos vitais, como coração, fígado, pulmões, estômago etc., arrastando um corolário de sofrimentos.

As energias nocivas que provocam as doenças espirituais podem ser oriundas de reencarnações anteriores, que se mantém no perispírito enfermo enquanto não são drenadas. Em cada reencarnação, já ao nascer ou até mesmo na vida intra-uterina, podemos trazer os efeitos das energias nocivas presentes em nosso perispírito, que se agravam à medida que acumulamos mais energia negativa na reencarnação atual. Enquanto persistirem as energias nocivas no perispírito, a cura não se completará.

Já as doenças atraídas ou simbióticas são aquelas que chegam por meio de uma sintonia com fluidos negativos. O que uma criatura colérica vibrando sempre maldades e pestilências pode atrair senão as mesmas coisas? Essa atração gera uma simbiose energética que, pela via fluídica, causa a percepção da doença que está afetando o organismo do espírito que está imantado energeticamente na pessoa, provocando a sensação de que a doença está nela, pois passa a sentir todos os sintomas que o espírito sente. Aí, a pessoa vai ao médico e este nada encontra.

André Luiz afirma que “se a mente encarnada não conseguiu ainda disciplinar e dominar suas emoções e alimenta paixões (ódio, inveja, idéias de vingança), ela entrará em sintonia com os irmãos do plano espiritual, que emitirão fluidos maléficos para impregnar o perispírito do encarnado, intoxicando-o com essas emissões mentais e podendo levá-lo até à doença”.

O surgimento das doenças


A cada pensamento, emoção, sensação ou sentimento negativo, o perispírito imediatamente adquire uma forma mais densa e sua cor fica mais escura, por causa da absorção de energias nocivas. Durante os momentos de indisciplina, o homem mobiliza e atrai fluidos primários e grosseiros, os quais se convertem em um resíduo denso e tóxico. Devido à densidade, estas energias nocivas não conseguem descer de imediato ao corpo físico e vão se acumulando no perispírito. Com o passar do tempo, as cargas energéticas nocivas que não forem dissolvidas ou não descerem ao corpo físico formam manchas e placas que aderem à superfície do perispírito, comprometendo seu funcionamento e se agravando quando a carga deletéria acumulada é aumentada com desatinos da existência atual.

Em seus tratados didáticos, a medicina explica que, no organismo do homem, desde seu nascimento físico, existem micróbios, bacilos, vírus e bactérias capazes de produzirem várias doenças humanas. Graças à quantidade ínfima de cada tipo de vida microscópica existente, eles não causam incômodos, doenças ou afecções mórbidas, pois ficam impedidos de terem uma proliferação além da “cota -mínima” que o corpo humano pode suportar sem adoecer. No entanto, quando esses germes ultrapassam o limite de segurança biológica fixado pela sabedoria da natureza, motivados pela presença de energias nocivas no corpo físico, eles se proliferam e destroem os tecidos de seu próprio “hospedeiro”.

Partindo das estruturas energéticas do perispírito na direção do corpo, em ondas sucessivas, essas radiações nocivas criam áreas específicas nas quais podem se instalar ou se desenvolver as vidas microscópicas encarregadas de produzir os fenômenos compatíveis com os quadros das necessidades morais para o indivíduo. Elas se alimentam destas energias nocivas que chegam ao físico, conseguindo se multiplicar mais rapidamente e, em consequência, causando as doenças.

A recuperação do espírito enfermo só poderá ser conseguida mediante a eliminação da carga tóxica que está impregnada em seu perispírito. Embora o pecador já arrependido esteja disposto a uma reação construtiva no sentido de se purificar, ele não pode se subtrair dos imperativos da Lei de Causa e Efeito. Para cada atitude corresponde um efeito de idêntica expressão, impondo uma retificação de aprimoramento na mesma proporção, ou seja, a pessoa tem que dispender um esforço para repor as energias positivas da mesma maneira que dispende esforços para produzir as energias negativas que se acumulam em seu perispírito.

Eliminando as energias tóxicas


Assim, como decorrência de tal determinismo, o corpo físico que veste agora ou outro, em reencarnação futura, terá de ser justamente o dreno ou a válvula de escape para expurgar os fluidos deletérios que o intoxicam e impedem de firmar sua marcha na estrada da evolução. Durante a purificação perispiritual, as toxinas psíquicas convergem para os tecidos, órgãos ou regiões do corpo, provocando disfunções orgânicas que conhecemos como doença.

Quando o espírito não consegue expurgar todo o conteúdo venenoso de seu perispírito durante a existência física, ele desperta no além sobrecarregado de energia primária, densa e hostil. Em tal caso, devido à própria “lei dos pesos específicos”, ele pode cair nas zonas umbralinas pantanosas, onde é submetido à terapêutica obrigatória de purgação no lodo absorvente. Assim, pouco a pouco vai se libertando das excrescências, nódoas, venenos e “crostas fluídicas” que nasceram em seu tecido perispiritual por efeito de seus atos de indisciplina vividos na matéria.

Os charcos pantanosos do umbral inferior são do mesmo nível vibratório das manchas e placas, por isso servem para drenar essas energias nocivas. Embora sofram muito nesses locais, isso os alivia da carga tóxica acumulada na Terra, assim como seu psiquismo enfermo, depois de sofrer pela dor cruciante, desperta e se corrige para viver existências futuras mais educativas ou menos animalizadas.

Os espíritos socorristas só retiram dos charcos purgatoriais os “pecadores” que já estão em condições de uma permanência suportável nos postos e colônias de recuperação perispiritual adjacentes à crosta terrestre. Cada um tem certo limite que pode aguentar em meio a estes charcos, então eles são resgatados mesmo que ainda não tenham expurgado todas as placas, reencarnando em corpos onde permanecerão expurgando e drenando essas energias através das doenças que se manifestarão no corpo físico.

Ajuda da medicina


A doutrina espírita não prega o conformismo, por isso é lícito procurar a medicina terrena, que pode aliviar muito e curar onde for permitido. Se a misericórdia divina colocou os medicamentos ao nosso alcance é porque podemos e devemos utilizá-los para combater as energias nocivas que migraram do perispírito para o corpo físico, mas não devemos esquecer que os medicamentos alopáticos combatem somente os efeitos da doença.

Isto quer dizer que, quando as doenças estão presentes no corpo físico, devemos combatê-la, buscar alívio. Muitas vezes, estas doenças exigem tratamentos prolongados, outras vezes necessitamos até de cirurgia, mas tudo faz parte da “Lei de Causa e Efeito”, que tenta despertar para uma reforma moral através deste processo doloroso. Qualquer medida profilática em relação às doenças tem que se iniciar na conduta mental, exteriorizando-se na ação moral que reflete o velho conceito latino: mens sana in corpore sano.

Estados de indisciplina são os maiores responsáveis pela convocação de energias primárias e daninhas que adoecem o homem pelas reações de seu perispírito contra o corpo físico. Sentimentos como orgulho, avareza, ciúme, vaidade, inveja, calúnia, ódio, vingança, luxúria, cólera, maledicência, intolerância, hipocrisia, amargura, tristeza, amor-próprio ofendido, fanatismo religioso, bem como as conseqüências nefastas das paixões ilícitas ou dos vícios perniciosos, são também geradores das energias nocivas.

Ou seja, a causa das doenças está na própria leviandade no trato com a vida. Analisando criteriosamente o comportamento, ver-se-á que os males que atormentam as pessoas persistirão enquanto não forem destruídas as causas. Portanto, soluções superficiais são enganosas. É preciso lutar contra todas as aflições, mas jamais de forma milagrosa. Procuremos sempre pensar e agir dentro dos ensinamentos cristãos, a fim de alcançarmos a cura integral.



Prof. Ft. Zadro Jornada Monteiro 
Fonte: Revista Cristã de Espiritismo (website)



26 fevereiro 2017

Os malefícios espirituais da gula! - Ney Prieto Peres


 
OS MALEFÍCIOS ESPIRITUAIS DA GULA !



O excesso na alimentação é vício igualmente nocivo ao nosso organismo. Imaginemos a sobrecarga de trabalho que os nossos órgãos são obrigados a desenvolver desnecessariamente, apenas para satisfazer o exagerado prazer da gustação. Todo excesso de trabalho leva ao desgaste prematuro, quer de uma máquina, quer dos órgãos físicos, ou do corpo somático na sua generalidade. O desenvolvimento avantajado e antiestético dos órgãos responsáveis pela digestão caracteriza o glutão.

A gula também é uma manifestação de egoísmo. A porção alimentar que poderia sustentar mais uma ou duas pessoas é totalmente digerida por apenas uma, com visível prejuízo para a coletividade. A quantidade necessária de proteínas, gorduras, sais minerais, etc., para manter o corpo físico, é mais ou menos a metade ou a terça parte daquilo que nós normalmente ingerimos. A nossa alimentação diária já é excessiva. Todos nós normalmente ingerimos mais do que o necessário; somos, em alguma proporção, glutões. As pessoas gordas vivem, de um modo geral, muito menos que as magras e, além disso, estão sujeitas a enfermidades com mais frequência. Grandes quantidades de alimentos deglutidos não significa ter boa saúde.

Teoricamente, a energia alimentar contida numa amêndoa seria suficiente para nos nutrir o dia inteiro, caso soubéssemos e estivéssemos em condições próprias para absorvê-las por completo. Para aproveitar as energias e os valores alimentícios durante as refeições, é necessário que tenhamos a mente tranquilizada e as emoções acalmadas, além de estarmos concentrados na absorção dos mesmos. Quando nas refeições ocorrem discussões e contrariedades, ingerimos mal, provocando perturbações estomacais e impregnamos os alimentos mastigados de vibrações negativas altamente perniciosas ao nosso espírito.

Embora consideremos as proteínas de origem animal importantes à nossa subsistência, a preferência pelos produtos naturais, como cereais, verduras, frutas, ovos, mel, leite e seus derivados, é no nosso entender mais condizente com a natureza da criatura que busca ascender espiritualmente.

Porém, sejamos realistas e não nos fanatizemos seguindo a alimentação frugal como objetivo de ascensão espiritual, pois não é o que entra pela boca que nos faz melhores, mas o esforço que empreendemos em fazer com que através dela saiam apenas palavras confortadoras, dóceis, construtivas.

As gorduras que se acumulam no nosso organismo em forma de triglicérides e colesterol, prejudiciais ao nosso sistema circulatório, devem ser minoradas, até como recomendação médica geral. O comer exagerado é um vício, quando não, um costume que criamos para satisfazer nosso próprio orgulho e o prazer de saborear incontidamente os deliciosos quitutes. É realmente atraente o prazer de comer bem. Quem faz os alimentos se esmera para ser elogiado, agrada-o bem servir socialmente.

Quem aproveita os alimentos não se contém; o sabor não estabelece limites, mais e mais vai sendo engolido. O processo sugestivo é também um meio para se libertar, porém a orientação alimentar para as pessoas excessivamente gordas ou descontroladas nesse sentido deve ser dada por médico especialista, pois o controle alimentar por conta própria pode provocar um desbalanceamento, com graves consequências.

O processo sugestivo entra como meio de reação ao vício. Quando o desejo e os estímulos exagerados do apetite, diante de suculentos pratos e bonitas travessas, nos impulsionam a comer desmedidamente, podemos reagir pensando nos futuros prejuízos ao nosso corpo e nas consequências nocivas ao nosso espírito. Procuremos sempre reagir aos excessos alimentares, contendo os impulsos da gula, principalmente aos domingos, quando procuramos descansar o corpo físico das sobrecargas semanais. Há um preceito que ensina: "devemos terminar as refeições com fome".

Assim fazendo, naturalmente aprenderemos a comer menos, absorvendo melhor as energias alimentícias através de uma atitude tranquila e de uma mentalização positiva nas qualidades substanciosas dos mesmos. Comendo pouco nos alimentamos muito: essa é a chave para adquirir o equilíbrio alimentar e vencer a gula.


FAÇA SUA AVALIAÇÃO INDIVIDUAL

1. Quando você se alimenta, sente necessidade incontida de comer muito?
2. Acha que, de alguma forma, se excede na alimentação?
3. Cria na imaginação as oportunidades de saborear deliciosos pratos?
4. Fica tenso, nervoso ou contrariado quando tem que comer menos para dividir com outros?
5. Acha que reage com ganância e preocupação de não satisfazer a fome nas refeições conjuntas?
6. Consegue conter naturalmente o desejo exagerado de comer?
7. Quando se alimenta, procura mentalizar a absorção tranquila dos valores nutritivos?
8. Evita discussões e contrariedades nas horas das refeições?
9. Acha que necessita fazer regime alimentar?
10. Às vezes o comer muito reflete um desequilíbrio emocional ou psicológico. Acha que seria esse o seu caso? Em caso afirmativo, procure já um médico.

Ney P. Peres/ Espiritismo na Rede



Carnaval - Manoel Philomeno de Miranda



CARNAVAL


O ruído atordoante dos instrumentos de percussão incitava ao culto bárbaro do prazer alucinante, misturando-se aos trovões galopantes enquanto os corpos pintados, semidespidos, estorcegavam em desespero e frenesi, acompanhando o cortejo das grandes escolas de samba, no brilho ilusório dos refletores, que se apagariam pelo amanhecer.

Como acontecera nos anos anteriores, aquela segunda-feira de carnaval convidava ao desaguar de todas as loucuras no delta das paixões da avenida em festa.

Milhares de pessoas imprevidentes, estimuladas pela música frenética, pretendendo extravasar as ansiedades represadas, cediam ao império dos desejos, nas torrentes da lubricidade que as enlouquecia. A delinqüência abraçava o vício, urdindo as agressões, em cujas malhas se enredavam as vitimas espontâneas, que se deixavam espoliar.

As mentes, em torpe comércio de interesses subalternos, haviam produzido uma psícosfera pestilenta, na qual se nutriam vibriões psíquicos, formas-pensamento de mistura com entidades perversas, viciadas e dependentes, em espetáculo pandemônico, deprimente. As duas populações – a física e a espiritual, em perfeita sintonia – misturavam-se, sustentando-se, disputando mais largas concessões em simbiose psíquica.

Não obstante, como sempre ocorre em situações desta natureza, equipes operosas de trabalhadores espirituais em serviço de emergência, revezavam-se, infatigáveis, procurando diminuir o índice de desvarios, de suicídios a breve e largo prazo pelas conexões que então se estabeleciam, para defender os incautos, menos maliciosos, enfim socorrer a grande mole em desequilíbrio ou pronta para sofre-lhe o impacto.

– O – Onde a criatura coloque suas aspirações, ai encontra intercâmbio. O homem é o somatório dos seus anelos e realizações. Enquanto não elabore mais altas necessidades íntimas, demorar-se-á nas permutas grosseiras da faixa dos instintos primários. Em razão disso, a humanidade padece de carências urgentes nas áreas rudimentares da vida... Deixando-se martirizar pelos desejos inconfessáveis, ainda não se resolveu por uma conduta, realmente emocional, que lhe permita o trabalho íntimo de desembaraçar-se das sensações que respondem pelos interesses grosseiros, geradores das lutas pela posse com a predominância do egoísmo. Até agora a conquista do belo e a liberação dos vícios têm sido desafios para os espíritos fortes, que marcham à frente, despertando os da retaguarda, anestesiados na ilusão e agrilhoados aos prazeres aliciantes, venenosos.

Não nos cabe, todavia, duvidar da vitória do amor e do êxito que todos conseguirão hoje ou mais tarde.


Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda
Psicografia de Divaldo Pereira Franco
Obra: Nas fronteiras da Loucura


24 fevereiro 2017

Honestidade - Momento Espírita



HONESTIDADE


Quando alguém nos pergunta se somos honestos, em princípio ficamos indignados, só de pensar que alguém duvide de que o somos.

No entanto, é importante que reflitamos um tanto mais a respeito da honestidade.

Grande parte de nós nos dizemos honestos, mas será que verdadeiramente o somos?

Quando limpamos o jardim, por exemplo, nunca jogamos a sujeira no quintal do vizinho?

Saindo de um emprego, damos entrada no seguro desemprego, e logo, estamos empregados novamente. Comunicamos ao órgão competente que não necessitamos mais receber o seguro ou pedimos ao novo patrão que espere alguns meses para fazer o registro na carteira para que possamos receber em dobro?

Se estamos dirigindo um veículo, e, sem querer raspamos num outro que está estacionado, cujo dono não está por perto. Qual é nossa atitude? Damos no pé, ou deixamos um bilhete com o telefone para posterior contato?

Enfrentamos com honestidade a longa fila dos bancos, teatros, repartições, etc., ou sempre ficamos procurando um conhecido ou um jeito qualquer de passar à frente dos que chegaram antes de nós?

Se vamos a um espetáculo qualquer, costumamos marcar os lugares com bolsas, carteiras, ou outros objetos, para que nossos amigos que cheguem em cima da hora possam ocupar os melhores lugares, em detrimento dos que se esforçam e chegam cedo?

Se em época de eleições necessitamos pintar a casa, colocar vidros nas janelas, ou temos outra necessidade qualquer, procuramos um candidato para oferecer o nosso voto em troca de tais benefícios ou esperamos até que as possamos efetuar com nossos próprios recursos?

Tendo urgência no despacho de um processo em determinado órgão, esperamos o trâmite natural ou tentamos um jeitinho de ludibriar os que não têm condições de dar o conhecido jeitinho?

Se trabalhamos no setor de compras de uma empresa, procuramos realmente os melhores preços e condições de pagamento, pensando exclusivamente no melhor para a nossa empresa, ou compramos onde nos oferecem mais vantagens pessoais?

Ouvimos várias vezes o jargão popular afirmar que "TODO HOMEM TEM UM PREÇO". No entanto para a honestidade não há preço, não há barganha, não há corrupção, nem corruptores. A dignidade de um ser humano honesto não tem preço, pois seu valor é inestimável. Dessa forma, poderíamos alterar o jargão popular e dizer: TODO HOMEM DESONESTO TEM UM PREÇO, PORQUE A DIGNIDADE JAMAIS SE CORROMPE.

Se ainda não conquistamos a virtude da honestidade como deve ser, lutemos por conquistá-la, a fim de podermos olhar no espelho e não nos envergonharmos da figura ali refletida. Olhar nos próprios olhos e nada ter que censurar.

Pensamento:


Ser honesto é agir de conformidade com as leis divinas.

E não tentar ludibriar a própria consciência, porque mais cedo ou mais tarde ela nos apresentará a conta dos nossos equívocos.

Se o honesto hoje ainda é uma raridade, nós podemos inverter esse quadro, engrossando as fileiras dos que são verdadeiramente honestos, pois agindo assim, de nada teremos que nos arrepender.



Equipe de Redação do Momento Espírita


23 fevereiro 2017

A Virtude - Quintin López Gómez



A VIRTUDE


Etimologicamente, virtude provém do termo latino virtus, originário, por sua vez, de vir, qualidade distintiva de viril ou masculino.

Para Cícero, virtude é a força viril ou valor moral que se sobrepõe ao sofrimento e à morte.

De forma ordinária ou vulgar, a virtude pode ser considerada como a força física ou moral que produz qualquer coisa.

Desde o ponto de vista físico, a caracterizamos ao dizer: “A aviação tem a virtude de transportar com rapidez...” Além disso, se afirma: “Em virtude da posição de que desfruta o Governador...”

Com referência à virtude moral, esta é uma disposição habitual para fazer o bem. Conclui-se, por isso, que é um estado constante e não esporádico.

E afirmava Aristóteles que “o homem virtuoso é aquele que encontra prazer em realizar atos de virtude”.

Com isso, a virtude se transforma no hábito do bem, pois se incorpora ao modus operandi do indivíduo, tornando-se parte integrante de sua natureza.

A virtude sempre trabalha fiel às manifestações psicológicas e diante das leis, criando necessidade de atuar e produzindo prazer ao realizá-lo.

O homem a adquire com o esforço dirigido ao bem que o inspira e, insistindo em praticá-la, conforma sua vida e seus ditames.

Para conseguir essa disposição é imprescindível adquirir o conhecimento do bem: quer dizer que o homem saiba o valor moral de seus atos, de acordo com as leis morais.

Assim, a tendência ao bem é o primeiro passo para a virtude; sua realização se transforma em experiência estimuladora; porém, só é virtude quando se constituti em um hábito natural, consciente e prazeiroso.

O motivador da virtude e seu alimento é o amor ao bem, como afirmava Aristóteles, que o “Homem virtuoso é aquele que faz do bem uma necessidade imprescindível, que põe sua felicidade no bem”.

Somente os homens livres interiormente possuem a virtude, porque seus atos são resultado de sua livre determinação, por ordem íntima de sua vontade pessoal.

Santo Agostinho, que a adquiriu com grande esforço e perseverança, repassando, mentalmente, antes de dormir, todos os seus atos para verificar nos quais não fora correto e poder corrigi-los no dia seguinte, ensinava: “Virtude é a boa qualidade do ânimo, pelo qual se vive bem e a qual ninguém usa mal”, de acordo com sua argumentação moral.

Assim, o homem se inclina, moralmente, a uma constante ação do bem, que lhe faz bem através das boas ações.

A virtude é o resultado da ação consciente, iluminada pela inteligência e resultante de uma vontade determinada a fazer sempre o bem e amparada pelo sentimento que lhe propicia cooperação para seu cumprimento.

Sócrates, em sua ética, utilizando-se da teoria intelectualista, afirmava que a virtude “é a ciência do bem”, considerando que ninguém é conscientemente mau.

O homem, quando apresenta más ações, certamente está enfermo, fora de sua razão. Há, em todos os seres pensantes, uma tendência inata para o bem, porque todos possuem, em seu íntimo, a presença do psiquismo divino.

Herdeiro de Deus, o homem é deus em sua essência primeira a evoluir constantemente, rumo à perfeição.

Os epicuristas, apoiados em seu hedonismo, consideravam a virtude como a arte ou técnica para um gozo físico ou emocional, que resultasse na moral de seu próprio interesse.

Há, com efeito, virtudes intelectuais e morais.

As primeiras, atuam para o aperfeiçoamento da inteligência e as segundas, para trabalhar em favor da vontade, do sentimento e demais tendências.

A virtude intelectual busca a verdade, mediante o estudo, a reflexão, a atenção, que fortalecem a mente, desenvolvem a inteligência, na direção do objetivo que persegue: a posse da verdade, o conhecimento da ciência, a aquisição da sabedoria...

A virtude moral se desdobra em quatro classes de virtudes essenciais ou básicas, conhecidas desde a antiguidade: prudência, moderação, justiça e fortaleza, conforme as enumerava Aristóteles, fundamentais à sã conduta do homem.

Tradicionalmente, pode-se, ainda, classificar as virtudes como pessoais – para o aperfeiçoamento do indivíduo; sociais – que o preparam para fazer sempre o bem ao próximo; e religiosas – que facultam e dão sentido aos deveres em relação a Deus. É possível acrescentar às virtudes o bom conselho ou arte de bem aconselhar, o reto juízo ou o sentido comum que dá a capacidade para avaliar ou julgar os acontecimentos em seu valor real e às pessoas em sua própria realidade e outras expressões virtuosas...

O maior inimigo da virtude é o vício ou disposição para fazer o mal; este resulta dos apetites inferiores da personalidade com seus consequentes danos morais.

O vício é herança do primitivismo que ainda perdura na natureza humana, cuja vontade moral, débil, se submete a seus impulsos em prejuízo da razão. A virtude é a conquista mais desafiante para o homem, que deve se empenhar em conseguí-la. Ela propicia à vida nobreza e dignidade, trocando as asperezas do processo evolutivo e facultanto alegrias ao superá-las. A arte, a ciência, a tecnologia, facilitam e embelezam, sem dúvida, a vida, porém, somente a aquisição da virtude moral proporciona ao homem equilíbrio, autocontrole, feliz intercâmbio com seus semelhantes e com tudo o que o rodeia, transformando-se na mais alta realização pessoal.

Das virtudes cardinais bem vividas, nascem a fé, a esperança e a caridade, sem as quais o indivíduo não se encontra com seu próprio eu.

Dessas, surgem a humildade, o perdão, a paciência, a abnegação, a renúncia, a beneficência...

Diante de todas, para o perfeito êxito, impõe-se a humildade. Sem esta, as outras enfraquecem e perdem seu valor.

O orgulho, a vaidade, a presunção constituem vícios que impedem o desenvolvimento e a grandeza da virtude.

A ética espírita, examinando as virtudes cardinais ou essenciais para o homem, fiel ao pensamento cristão e paulino, estabelece que a caridade ou ação do bem por amor ao bem em favor de alguém, com conhecimento do bem, é, por excelência, a base mais importante para a consquista de outros relevantes valores morais.

Examinando a necessidade da virtude para o homem, ensina François-Nicolas-Madeleine (Espírito), em O Evangelho Segundo o Espiritismo [de Allan Kardec, capítulo XVII, ítem 8]: “A virtude, em seu mais alto grau, encerra o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio e modesto, são as qualidades do homem virtuoso. 

Infelizmente, estas qualidades estão, muitas vezes, acompanhadas de pequenas enfermidades morais que lhes tiram o brilho e as atenuam. O que faz ostentação de sua virtude, não é virtuoso, posto que lhe falta a qualidade principal: a modéstia, e posto que tem o vício mais contrário: o orgulho”.


Quintin López Gómez
Livro: Rumo às Estrelas
Divaldo Pereira Franco, por Espíritos Diversos



22 fevereiro 2017

Caridade e Mãos Vazias - Amilcar Del Chiaro Filho



CARIDADE E MÃOS VAZIAS


A conversa seguia animada naquela roda de amigos. Alguns comentavam as dificuldades da vida, a violência, a miséria, o egoísmo. O mais velho deles dizia: Existe uma doutrina que tem por lema – Fora da Caridade não há Salvação. Explica que a caridade não é apenas dar coisas materiais, mas, conviver, respeitar, aceitar o próximo como ele é, amar. A caridade não é dinheiro; é um ato de amor, é dar-se a si mesmo, o que sublima a personalidade e recompensa a renúncia com a alegria.

Outro mais jovem, disse: – Eu tenho as mãos limpas, porque nunca fiz o mal com a intenção de fazê-lo.

O primeiro amigo retrucou: – Limpas, mas vazias!

Um outro amigo, ainda jovem, contudo muito sábio, completou: Viver em caridade, é aprender a viver para os outros, deixar de pensar a penas em nós, e perceber que em cada minuto da nossa vida, enquanto repousamos ou nos alimentamos, ou nada fazemos na ociosidade, ou então fazendo coisas reprováveis, ruins, maldosas, há milhões de seres humanos, nossos irmãos que morrem de fome, de frio, castigados pelas secas ou pelas inundações e perdem o pouco que possuem. Enquanto gozamos na indiferença, milhões de crianças morrem, no mundo, de fome, de diarreia, de verminose, de desamor. Não poderíamos salvá-los todos, mas salvar muitos, como podemos salvar os que estão vivos.

E a violência, o tráfico de drogas que mata com armas sofisticadas? Indagou outro amigo.

– Só podemos vencê-los com a paz, e não com o pulso armado, respondeu o mais velho.

Abaixei a cabeça, ante a sabedoria dos amigos. Saí a passos lentos, meditando sobre tudo que ouvi.

Vamos agir para o bem, porém com a paz no coração.


Amilcar Del Chiaro Filho

21 fevereiro 2017

Interferência dos Espíritos em nossas vidas - Adésio Alves Machado



INTERFERÊNCIA DOS ESPÍRITOS EM NOSSAS VIDAS


A doutrina espírita não deixa dúvida ao informar que os Espíritos, por terem sido as almas dos homens que viveram na Terra, interferem na nossa vida com suas paixões perniciosas uns, e outros com suas aspirações de alto teor moral/espiritual.

A lei de ação e reação vai desenvolvendo a sua função na vida moral dos Espíritos, estejam na carne ou fora dela, porque a vida responde de conformidade com a qualidade da sementeira que deitarmos sobre ela.

O homem de hoje reflete a soma dos seus atos, de suas ações nas reencarnações passadas, é o que informa há milênios as religiões orientalistas. E, a partir de meados do século passado, com o advento da Doutrina dos Espíritos em 1857, o mundo ocidental se deixou incorporar pelo mesmo conceito. Ocidentalizou-se, com o missionário Allan Kardec, a lei de causa e efeito.

Estamos hoje defrontando pessoas e situações cujo início deu-se em vidas anteriores à atual, sendo cobrados por algumas pessoas por aquilo que lhes negamos antes, e por outras somos restituídos no que nos foi retirado no passado espiritual. É bom sabermos que não estamos apenas pagando, restituindo, mas recebendo, também, tendo de volta o que nos foi retirado indevidamente.

“O que nos acontece teve início antes”, é o que nos afirma Joanna de Ângelis.
v São sempre os mesmos Espíritos envergando novas personalidades nos novos palcos da vida, todos carregando a bagagem moral acumulada em inúmeras experiências reencarnatórias.

Pelo fato de toda ação construir uma reação semelhante, o nosso futuro começa agora a ser construído, tendo como base nossas iniciativas. Tudo quanto fizemos de bom ou de mal aos que conosco caminham pelas sendas da existência terrena, não se refuta no Espiritismo.

DEUS cria a vida e a entrega ao homem, transmitindo-lhe, na oportunidade, a responsabilidade de a conduzir, fornecendo-lhe meios e condições para o melhor desempenho de suas tarefas redentoras, como asseveraram os Espíritos a Allan Kardec, através das respostas às perguntas 704 e 711 de O Livro dos Espíritos.

Dispensemos acurada atenção aos nossos pensamentos, os quais vamos plasmando dia a dia no mundo mental, e que se vão condensando na esfera física caso sejam contumazes, determinando assim as nossas ações.

Necessário fugirmos das situações perturbadoras, sendo aconselhável nos fixarmos nos propósitos enobrecedores para que, só assim, desfrutemos de paz, para viver e oferecer.

Devemos elaborar um programa de cunho altruístico e cumpri-lo, dentro de deveres pequenos para os olhos do mundo, mas de alta significação às vistas divinas, os quais podemos assinalar: reservar algum dia da semana para uma visita aos enfermos; visitar um abrigo de crianças ou de idosos, levando carinho aos que lá se detêm; contribuir com alguma importância para um trabalho assistencial; mostrarmo-nos alegres; a todos tratar bondosamente; manter um clima de esperança íntimo que naturalmente haverá de refletir-se exteriormente, beneficiando os demais; dar um telefonema a um amigo ou parente necessitado; escrever umas poucas palavras de ânimo e de esperança; ajudar materialmente a uma família carente... . Recebemos o que damos, e se queremos receber mais do que damos, passemos a dar mais do que recebemos.

Junto às demonstrações de caridade, firmemos nossos mais acendrados propósitos de renovação moral, visando a superação das imperfeições e o alcance de novos limites, buscando nutrir otimismo que, com certeza, nos enriquecerá de boa disposição orgânica.

Nossos pensamentos ditarão as nossas aspirações, tarefas e ações, estabelecendo, caso sejam sadias, a sintonia com os Espíritos que facultarão aprendizagem no campo da educação superior, mas que, sendo doentias, perturbadoras e egoístas nos farão escravos das tendências inferiores.

Nossas realidades espirituais serão aquelas extravasadas e assimiladas pelos que conosco lidam, elas que se encontram sempre incrustadas nas camadas mais profundas do nosso psiquismo, aguardando a nossa voz de comando, que é acionada pela nossa vontade.

Compete-nos, diante de tamanha realidade, atuarmos no bem, sempre ligados ao amor, porque o amor responderá com total eficiência, já que ele reflete a interferência benfazeja dos Mentores da Vida Maior, na programação de nossa existência. Estabeleçamos com Eles um vínculo cada vez mais firme, certos de ser o recurso de que dispomos para vivermos a relativa felicidade na Terra, confiantes em que ela se estenderá além da aduana da morte, quando nos depararemos com a verdadeira vida, a espiritual.


Adésio Alves Machado
Artigo publicado originalmente no Jornal Espírita de Pernambuco – julho de 1999

20 fevereiro 2017

Aberrações biológicas diante dos engenhos da reencarnação

(Joseph Merrick - O homem elefante)


ABERRAÇÕES BIOLÓGICAS DIANTE DOS ENGENHOS DA REENCARNAÇÃO

No dia 02 de julho de 1997, uma equipe médica liderada pelo Dr. Ahmed Al Fadall anunciava a retirada de um feto do abdome de Hicham Ragab, pesando dois quilos, com olhos, nariz, língua, braços e pernas, conforme notícia veiculada no Jornal Correio Braziliense de 03 de julho de l997. O jovem, de apenas quinze anos, chegou ao Hospital al-Demardache, queixando-se de fortes cólicas abdominais, o que os médicos suspeitaram tratar-se de um tumor desenvolvido naquela região. Aparentemente, o feto seria o irmão gêmeo de Ragab, arriscou o médico. [1]

Lendo as notícias do portal Yahoo constatei que Cirurgiões japoneses fizeram uma descoberta macabra ao procederem uma apendicectomia de rotina. Os médicos acharam cabelo, osso e um pequeno cérebro deformado crescendo no ovário de uma adolescente.

Os profissionais disseram que o tumor retirado pelo abdômen era um teratoma cístico, no qual as células se transformam em diferentes tecidos, como ossos, nervos, cabelos e dentes.

Quando os médicos cortaram o tumor, encontraram pedaços de cabelo emaranhado e uma estrutura cerebral com um fino crânio em volta. De um lado, a massa se assemelhava a um tronco cerebral. O tumor era uma pequena versão de um cerebelo, parte do cérebro humano. O tumor era benigno e os pesquisadores do Centro Médico de Shiga, no Japão, disseram que os teratomas de ovário frequentemente contêm material cerebral. [2]

Existem algumas teorias sobre o motivo disso. Uma delas sugere que tumores desse tipo são como gêmeos parasitas. Angelique Riepsamen, da University of New South Wales, da Austrália, disse à revista New Scientist que “elementos semelhantes aos do sistema nervoso central são frequentemente encontrados nos teratomas ovarianos, mas estruturas parecidas com a de um cérebro adulto são raras.” [3]

Tais informações nos remeteu a uma reportagem que havíamos lido na antiga Revista Visão, de dezembro de 1986, onde lemos que “ao ser internado no setor pediátrico do Hospital de Bombain, na Índia, acometido de uma inflamação abdominal, um menino de quatro meses foi submetido a uma laparotomia (abertura cirúrgica da cavidade abdominal) por uma equipe médica, chefiada pelo Dr. B. L. Chitalangia, e, em meio à cirurgia, os médicos encontraram nada mais, nada menos, que um feto, pesando quatrocentos gramas, de estrutura anatômica com braços e pernas, mas, desprovido de crânio.” [4]

Para a Medicina, os fatos se constituem como um provável processo teratológico de precedentes raríssimos, visto que se caracterizam por uma interrupção da própria Natureza biológica de prováveis xifópagos.

Como buscarmos uma explicação espírita para essas “anomalias” da Natureza? Acidente na estrutura do conjunto genético? O “acaso” satisfaz a estas indagações? Evidentemente, as academias científicas não buscarão na etiologia de tais desarmonias genéticas as legítimas “raízes-causas”, posto que – e isso não é temerário afirmar – restringem-se a ilações de superfície, presas aos compêndios acadêmicos, atribuindo tais insólitos fenômenos ao fortuito acidente biológico.

Os Espíritos afirmam que no processo reencarnatório o Espírito se une ao corpo no instante da concepção, mas o processo só é completo no momento do nascimento. Durante a gestação o Espírito pode renunciar a habitar o corpo designado. Como os laços que a ele o prendem não são muito fortes, se o reencarnante recua diante da prova que escolheu, os laços reencarnatórios facilmente se rompem pela vontade do Espírito, e nesse caso o feto não sobrevive.

Muitas gestações são interrompidas, e isso se dá frequentemente como provação, quer para os pais, quer para o Espírito reencarnante. Advertindo porém que há natimortos a que não tinha sido destinado um Espírito à encarnação. É então uma gestação provida pelo desejo dos pais [gravidez psicológica] em que essa criança é gerada. [5]

Muitos desses processos gestacionais se estendem por muitas reencarnações, deixando estigmas no modelador do corpo biológico, ou períspirito (matriz das anomalias genéticas).

Quando a Medicina desvendar a estrutura funcional do perispírito e buscar o conhecimento sobre a preexistência dos Espíritos encarnados, encontrará a explicação para muitos desafios científicos, posto que se temos uma vida física somente, e tão-somente uma existência, nossa visão sobre Justiça Divina torna-se excessivamente acanhada.


Jorge Hessen


Referencias:

[1] Jornal Correio Braziliense, de 03 de julho de l997



[3] Idem

[4] Revista Visão, de dezembro de 1986

[5] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Perguntas: 344/345/354/355/356, RJ: Ed. FEB, 2002



19 fevereiro 2017

Mesa Branca? - Orson Peter Carrara


 (foto S.Vicente/SP)


MESA BRANCA?


Ela pode ser de madeira, de plástico ou até mesmo de concreto. Pode ser azul, marrom, branca ou a cor que o leitor imaginar, grande ou pequena, leve ou pesada, mas o fato é que nenhuma influência exerce sobre a prática espírita.

A mesa é móvel doméstico ou empresarial, de muita comodidade, que facilita as mais variadas tarefas, das simples às complexas, de uso particular ou coletivo, mas nada tem a ver com a Doutrina Espírita.

A cor, tamanho, peso ou material de que é feita, pouco importa para a prática espírita. Inclusive a própria mesa pode ser dispensada, sem qualquer prejuízo para as atividades, exceto para a questão de comodidade humana.

É claro que a usamos em nossos grupos, por mera questão de comodidade. Agora, a expressão que intitula o presente artigo é fruto da ignorância popular, ou se quisermos amenizar a frase, ela advêm da falta de conhecimento do que seja o Espiritismo.

O Espiritismo dispensa quaisquer objetos materiais, gestos ou rituais. Móveis, roupas especiais, velas, sinais, posturas e mesmo quaisquer expressões de cores – inclusive a cor de suposta mesa que esteja sendo usada ou cores de lâmpadas, cortinas e paredes – são absolutamente desnecessários, inúteis mesmo diremos.

Tudo porque a prática espírita está exclusivamente baseada na questão da sintonia mental e dos sentimentos que norteiam os que dela participam. E isto determina a qualidade de tais práticas.

Óbvio que nos referimos aqui à prática das reuniões mediúnicas, classificadas por quem desconhece o Espiritismo, como de mesa branca. Mas a prática espírita está também nos estudos, na caridade material e espiritual prestada aos necessitados, nas atividades de divulgação – em suas diversas modalidades –, mas também no intercâmbio com os espíritos (que nada mais são que criaturas humanas que já deixaram o corpo de carne pelo fenômeno biológico da morte), onde o uso ou não de uma mesa é questão secundária.

Portanto, ao ouvirmos a expressão mesa branca, já estamos cientes: quem a usa está totalmente desconectado da realidade da prática espírita. Se for algum grupo que a usa para auto-classificar-se, encontra-se equivocado. Se a qualificação surgir por terceiros, quem a emite é que desconhece o que está dizendo.

E como reconhecer, então, um grupo sério e identificado com a Doutrina Espírita? É fácil: basta observar três critérios: bom senso, lógica e fraternidade entre seus membros.

Orson Peter Carrara



18 fevereiro 2017

Celibato e castidade - Ricardo Orestes Forni



CELIBATO E CASTIDADE


É possível seguir Jesus, evidentemente nos limites que o nosso estágio evolutivo atual permite, não sendo celibatário?

Perfeitamente, por que não? Kardec, por exemplo, era casado. E muito bem-casado com Amélie Boudet, o que não o impediu, mas, muito pelo contrário, o sustentou na luta pela codificação e divulgação da Doutrina Espírita, revivendo o Cristianismo na sua pureza doutrinária. Portanto, ele seguiu Jesus sem ser celibatário.

Mudemos o enfoque. É possível seguir Jesus não sendo casto, considerando, da mesma forma, os limites que nossa evolução atual nos enseja? Não. Não é possível. E não é possível porque castidade, ao contrário do que muitos pensam, não se refere simplesmente à ausência de relacionamento sexual, mas sim de uma pureza interior que vai muito além da abstinência de sexo. Por essa pureza interior passa o bom emprego do sexo, onde um não transforma o outro no objeto de satisfação de seus instintos, mas onde uma pessoa se completa e completa a outra dentro de um clima de bem-querer onde só é possível ser feliz mergulhado na felicidade que emana do outro, e cujo autor somos cada um de nós.

Jesus, muito além de celibatário, era casto. Sua pureza moral não pode ser seguida com uma simples ausência da atividade sexual que muitas vezes leva o indivíduo ao desequilíbrio emocional, a exemplo de uma gigantesca represa que, quanto mais é contida, mais corre o risco de se romper na pedofilia, no estupro e tantos outros crimes que o sexo reprimido e desequilibrado enseja.

Chico Xavier e Divaldo Franco, para tomarmos exemplos dentro da Doutrina Espírita, optaram pelo celibato, face aos inúmeros compromissos que trouxeram junto à família espiritual de nosso planeta. Só que não ficaram apenas no celibato. Viveu o primeiro e vive o segundo também a castidade que a evolução alcançada pelos dois permite.

Albert Schweitzer era casado e casto. E exatamente por ser casto foi capaz de se entregar a tratar de leprosos no continente africano; a não pisar sobre uma simples flor silvestre por respeitar-lhe a existência e o direito à vida; a amar profundamente aos animais por entendê-los como criaturas de Deus e com o direito a viver, enquanto presenciamos motoristas insensíveis direcionando o veículo que dirigem, de forma irresponsável, para cima de uma pomba que busca o seu alimento numa via pública ou em direção a um cachorro abandonado de rua pelo simples prazer de tirar uma vida! Dia desses presenciei um motorista em alta velocidade na área urbana gritando com um cachorro que quase foi atropelado impiedosamente ao atravessar de um lado para o outro daquela via, como se o animal tivesse consciência de que atravessava uma rua. Poderia muito bem ter feito o mesmo com uma criança ou com um idoso com dificuldades de locomoção. Esse último não tem a castidade para seguir Jesus, por enquanto.

Martin Luther King Jr. era casado e casto para seguir Jesus a ponto de entregar a sua própria vida defendendo os direitos de nossos irmãos de cor de pele diferente da branca, como se esse tecido superficial que reveste nosso corpo não estivesse destinado à morte como todos os outros, mais dia, menos dia! Ele teve a castidade suficiente para seguir Jesus.

É impossível falar sobre celibato ou castidade sem que o tema sexo nos venha à mente. O que será que a Doutrina Espírita pode nos orientar a respeito? Vejamos as lições de Emmanuel contida no livro O Consolador, questão 184:Não devemos esquecer que o amor sexual deve ser entendido como o impulso da vida que conduz o homem às grandes realizações do amor divino, através da progressividade de sua espiritualização no devotamento e nos sacrifícios.

Haveis de observar que Deus não extermina as paixões dos homens, mas fá-las evoluir, convertendo-as pela dor em sagrados patrimônios da alma, competindo às criaturas dominar o coração, guiar os impulsos, orientar as tendências, na evolução sublime dos seus sentimentos.

Examinando-se, ainda, o elevado coeficiente de viciação do amor sexual, que os homens criaram para os seus destinos, somos obrigados a ponderar que, se muitos contraem débitos penosos, entre os excessos da fortuna, da inteligência e do poder, outros o fazem pelo sexo, abusando de um dos mais sagrados pontos de referência de sua vida.

Depreende-se, pois, que, ao invés da educação sexual pela satisfação dos instintos, é imprescindível que os homens eduquem sua alma para a compreensão sagrada do sexo.

Quando tivermos conseguido essa compreensão sagrada, o celibato será uma condição absolutamente dispensável em todo aquele que decidir seguir Jesus, pois que terá se iniciado no estado da castidade indispensável para segui- lo.


Ricardo Orestes Forni