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02 outubro 2008

Jesus, Um Exemplo Moral que Permanece até Hoje - Paulo Roberto Santos

JESUS, UM EXEMPLO MORAL QUE PERMANECE ATÉ HOJE

Autor: Paulo Roberto Santos

"Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar?" (Jesus - Mateus, 5:13).

Os estudiosos da Doutrina, aqueles mais lúcidos e menos apegados aos simplismos tão comuns em nosso meio, certamente olham em volta e se perguntam se o que vemos e percebemos condiz com as promessas de quase todas as religiões. Com certeza, concluem que não. Apesar de termos consciência de que o planeta se encontra em franco processo de transformação sócio-moral, a derrocada das instituições, a subversão dos valores e a perda de referenciais conduz a um estado de insatisfação interior. Está faltando algo ou muita coisa.

No que nos diz respeito a nós espiritistas, o que vem sendo feito pelo movimento espírita representa, em um número muito grande de casos, desperdício de esforço material e humano e resultados medíocres. O evangelismo piegas que assola nosso movimento começa a ser questionado e o que se espera é que dessa situação saia uma reciclagem dos modos de se fazer o movimento espírita. A própria literatura doutrinária, vasta, profunda e universalista (a prova disso é que todos lêem obras espíritas) vem sendo por vezes contaminada por obras de pouco ou nenhum valor doutrinário. Muitos crêem que toda obra mediúnica é necessariamente espírita, o que não é verdade.

A questão Roustaing, abordada por vários articulistas em vários periódicos, parece que finalmente está sendo analisada com a clareza e decisão necessárias, de modo a se por termo a um assunto que já se arrasta há quase cem anos no Brasil sob os auspícios da FEB.

Fora de nosso meio a situação não é melhor. Muitas religiões perdem adeptos para outras, competindo no mercado da fé como se o mundo tivesse se tornado um shopping-center de misticismo. Na economia, na política, nas relações internacionais, no relacionamento familiar, social e profissional vemos o mesmo desnorteamento. Problemas graves como os que temos no Brasil, na área social, reclamam soluções urgentes que as instâncias governamentais não podem ou não querem dar. Nosso país é hoje a nona economia mundial e o qüinquagésimo oitavo colocado no que diz respeito aos indicadores sociais, conforme critérios de avaliações internacionais.

Chega de justificar tudo isso como "carma coletivo". O problema liga-se à corrupção política e à incompetência administrativa.

Levantamos tais questões para levar o leitor a refletir que não se pode lançar toda a responsabilidade das transformações sociais nas mãos da Espiritualidade superior, enquanto cruzamos os braços e aguardamos os acontecimentos como se o aportar do terceiro milênio trouxesse as soluções milagrosas que muitos desejam. Não se pretende, por outro lado, que abandonemos nossos deveres e obrigações do cotidiano para nos unirmos numa cruzada de redirecionamento do mundo como se fôssemos uma comunidade de privilegiados. Não; muitos já correram atrás desse canto de sereia. O que se espera dos espíritas é que se conscientizem das realidades espirituais e que passem a vivenciá-las, mudando ou influenciando o comportamento daqueles com quem convivemos a partir do exemplo, mais do que recorrendo a discursos muitas vezes vazios, repetitivos e pouco convincentes porque são muito semelhantes aos de outras crenças.

O exemplo de Jesus permanece atual, mas é preciso antes compreender o papel daquele que em sua última passagem pela Terra foi chamado Joshua ben Joseph, Jesus filho de José. Ao contrário do que muitos ainda pensam, ele não foi um "doce e meigo rabi", frágil e alheio às agruras da vida humana, como se não as tivesse vivido. Jesus, de temperamento brando e pacífico, sabia ser firme e enérgico quando necessário. Sepulcros caiados, uma expressão forte dirigida aos fariseus que ainda ecoa atualíssima, após quase dois mil anos. É necessário que nos conscientizemos de que nós cristãos, os espíritas em especial, somos seguidores de um revolucionário que acabou preso e condenado, não por sua pregação religiosa, coisa que o Sinédrio não temia e que os romanos simplesmente olhavam de cima. Jesus foi crucificado por causa de seus ensinamentos politicamente explosivos. Seu conteúdo de reformulação da sociedade terrena tem alcance muito maior do que os restritos campos da religião. Posta em prática, a Boa Nova reformula todos os aspectos da vida social. Jesus não pode ser reduzido a um fundador de religião, deve ser visto como um dos maiores revolucionários que o planeta já conheceu. Um revolucionário no campo das idéias, da ética e da moral. Joshua ben Joseph falou ao homem-humano de todos os tempos, de todas as culturas e não apenas aos judeus. O problema é que entre Joshua ben Joseph (Jesus) e Joshua bar Abba (Barrabás), a maioria ainda escolhe este último.

Revitalizar o Evangelho através de uma visão menos romântica e devocional é a saída para o próprio movimento espírita, para que este se torne mais atuante e seguro de seus objetivos.

Já foi questionado a um psicólogo, certa vez, o que Jesus tinha de tão especial para impressionar até seus adversários e chegar a dividir o tempo em antes e depois dele. A resposta foi surpreendentemente simples e clara, expressa mais ou menos assim: "Jesus, ao relacionar-se com cada homem ou mulher, tratava cada um como se fosse o único e o mais importante ser da criação, por isso seu amor era sentido em profundidade e levava homens e mulheres a transformações radicais e definitivas em suas vidas". Será que a força das idéias do Cristo perdeu-se ao longo dos séculos ou nós é que nos tornamos incapazes de entendê-las em sua pureza e simplicidade?

Fonte: Jornal "A voz do Espírito"
Edição 80 - 07/08/1986

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