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13 agosto 2011

Ontem - Manuel da Nóbrega - Hoje - Emmanuel


ONTEM - MANUEL DA NÓBREGA - HOJE - EMMANUEL

Manuel da Nóbrega nasceu em Sanfins do Minho, Portugal, a 18 de outubro de 1517. Seu pai foi o desembargador Balthazar da Nóbrega, que desejava fazer do filho um jurista. Nóbrega, portador de gagueira, revelou em todos os cursos inteligência superior, possuir espírito refletido e ser um tanto introvertido. Estudante brilhante em sua aplicação já nos estudos prepapatórios, ingressou na Universidade de Salamanca em 1535, cursou cânones (direitos) 4 anos e transferiu‑se para a Universidade de Coimbra, para cursar o quinto e último ano. Recebeu a láurea de Bacharel dia 113 de julho de 1541 e logo depois doutorou‑se em Cânones. Nesta ocasião o seu professor orientador dr. Martim de Azpilcueta Navarro consignou o seguinte elogio: Doutíssimo Manuel da Nóbrega, a quem conferimos os graus universitários, ilustre pela ciência, virtude e linguagem".

Induzido por colegas que admiravam sua cultura, disputou sucessivamente duas cadeiras em concurso, uma na Universidade, outra no Colégio de Santa Cruz, tendo sido aprovado em primeiro lugar, porém os respectivos reitores preteriram‑no pelos segundos colocados, por ele revelar‑se gago.

Desde os tempos de estudante gostava de estudar os evangelhos, mormente as epístolas e os atos do Apóstolo Paulo. Fêz‑se advogado dos pobres. Em 1544 atendeu ao chamamento de sua consciência: ingressou para a nove! Companhia de Jesus para ser missionário de Jesus. Recebeu como missão, para cumprir votos, excursionar a pé por cidades e aldeias pregando, convertendo e batizando. Assim foi que percorreu a região entre Douro e Minho, estagiando em Sanfins, Valença, na Galiza e em Castela, praticando a humildade e vivendo de auxílios ou esmolas para comer, dormir e vestir. De início a gagueira impressionava mal os ouvintes, mas aos poucos foi melhorando dela a ponto de ser solicitado para pregar, visto que revelava muita sabedoria, levava vida pura e facilmente conciliava casais em desarmonia e convencia incrédulos. Em Sanfins, sua terra natal, sua ação foi grandemente benéfica, de tal modo que o premiaram com o título de comendador da Igreja. A esta altura de sua missão, foi chamado pelo Rei D . João 111 para vir em missão ao Brasil, como provincial, com mais 5 jesuítas, a fim de iniciarem a cristianização e o ensino primário dos indígenas. Aceitou porque viu nessa missão um caminho semelhante ao trilhado pelo Apóstolo Paulo na propagação do cristianismo.

Nóbrega e seus 5 companheiros embarcam na nau de Tomé de Souza, 1.o Governador Geral do Brasil, encarregado de dar sistematização à governança das capitanias, assistí‑las para desenvolvimento harmonioso com ás tribos indígenas e proporcionar ensino escolar e cristão a brasilíndios e mamelucos. Nas 8 semanas de viagem em mar tranqüilo Nóbrega planejou seu difícil trabalho. Ao desembarcar, no fim de março de 1549, na Bahia, carrega uma cruz, ajoelha‑se na praia, ora e exclama: "Esta terra é nossa empreza".

Caramurú (Diogo Alvares Corrêa), avisado da vinda do Governador, tratou de conciliar os ânimos dos indígenas contra os portugueses e preparou condigna recepção. Os jesuítas à frente cantando, seguidos do Governador, Ouvidor Geral e Provedor Geral, 200 soldados, 300 colonos contratados e 400 degredados formavam o préstito que maravilhava os índios.
Nóbrega e seus companheiros sabiam que o fracasso das capitanias freqüentemente atacadas pelos indígenas decorria da conduta escravocrata e imeral dos colonos, pelo relaxamento do sentimento religioso. Tinham eles pela frente grandes problemas: Aprendisado da língua tupi, ensino religioso e escolar dos indígenas e recuperação religiosa dos portugueses, muitos dos quais eram degredados.

0 aprendisado do tupi foi feito pelos jesuítas principalmente através de intérpretes portugueses, visto que a língua era difícil, possuía sons peculiares e havia ausência de algumas consonâncias do vernáculo. 0 Pe. João de Azpilcueta Navarro foi o primeiro a aprender o tupi e a auxiliar os colegas a falá‑lo. Nesse mesmo ano, depois de fundado o colégio da Bahia, Nóbrega distribui os companheiros: Navarro e Antônio Pires ficam na Bahia; Leonardo Nunes e Diogo Jácome vão para S. Vicente. Padre Nóbrega desloca‑se temporariamente para Porto Seguro. Alguns portugueses, tocados profundamente pela missão cristianizadora dos Jesuítas, tornam‑se irmãos leigos entregues ao apostolado da fé: Pêro Corrêa, que fôra caçador de índios para vender, e Antônio Rodrigues, varejador de sertões entre o Brasil, Paraguai e Perú, hábeis intérpretes, ingressam em S . Vicente. Surgem logo os primeiros frutos da ação dos devotados jesuítas. Criam eles aos poucos sua pedagogia para ensinar e cristianizar. Descobriram pela observação que o canto coral por meninos cantores trazidos de Portugal e outros mamelucos constituía ótima motivação para atrair os brasilíndios à igreja e à escola. Nova leva de jesuítas veiu em 1550, tendo à frente o Pe. Manuel de Paiva, que trouxe 7 meninos cantores.

Pe. Nóbrega sempre incansável na sua ação apostolar: conciliando, catequizando e educando. Em Pernambuco ele conseguiu que intérpretes instruidos ensinassem a doutrina a cem rapazes indígenas, a fim de que êstes transmitissem o aprendido a outros. Lá, disse ele em carta ‑ "os colonos são mais necessitados de religião e moral do que os bárbaros."

Com o segundo Governador Duarte da Costa chegaram à Bahia o Pe. Luiz da Grã, o irmão escolástico José de Anchieta, que interrompera o curso em Coimbra por motivo de saúde, esperançoso de que o clima do Brasil lhe fizesse bem, além de outros jesuítas. Chegaram a 13 de julho de 1553. Entregaram‑se todos ao estudo do tupí, sob a orientação do Pe. Navarro. Em dezembro partiram para S . Vicente em companhia do Pe. Leonardo. Pe. Nóbrega recebeu‑os carinhosamente. Anchieta trazia a fama de talentoso e virtuoso, e Nóbrega logo se lhe afeiçoa, fazendo‑o seu secretário. Quase todos sobem a Serra do Cubatão no começo do ano, passam por Santo André para convidares João Ramalho e sua família afim de assistirem a missa no dia 25 de janeiro, no alto do Inhapuambuçú, onde já estava pronta a Capela Escola dos Meninos de S . Paulo de Piratininga, assim denominada por Nóbrega em vocativa homenagem ao Apóstolo Paulo de Tarso, seu modelo.

Daí em diante Nóbrega e Anchieta formaram uma poderosa dupla cristianizadora, educadora e pacificadora. Pe. Nóbrega foi assim o pai espiritual da nossa abençoada cidade de S . Paulo. Foi também o fundador espiritual do Rio de Janeiro.

Depois de servir durante 21 anos à obra grandiosa da conversão dos selvagens à fé cristã, da educação escolar dos brasilíndios e mamelucos, da pacificação dos Tamoios em Iperoíg, sempre conciliando a convivência entre gentios e portugueses e reconvertendo ao cristianismo numerosos degredados e colonos de conduta imoral; advogando com inecedível brilho jurídico a liberdade dos indígenas contra a escravidão a que os reinóis porfiavam em mantê‑los, e apoiando os governadores nas suas lutas contra os francêses invasores do Rio de Janeiro para manter a integridade do imenso Brasil, e mesmo intentando a expansão cristã civilizadora para a conquista dos sertões pela fundação de núcleos de irradiação, como o foi o Colégio de S . Paulo de Piratininga, Manoel da Nóbrega viveu seus últimos anos no Rio de Janeiro, onde entregou sua alma de bom servidor a Deus no dia 18 de outubro de 1570.

EVOLUÇÃO ESPIRITUAL

Fazendo uma pesquisa na maravilhosa literatura espírita psicografada pelo mais perfeito médium brasileiro Francisco Cândido Xaxier, que em 43 anos recebeu e fez publicar 104 obras, a primeira das quais foi o "Parnaso do Além Túmulo" contendo 256 poesias de 56 poetas já falecidos, alinhando‑se entre eles Olavo Bilac, Raimundo Corrêa, João de Deus, Gustavo Teixeira, Guerra Junqueiro, Fagundes Varela, Cruz e Sousa, Castro Alves, Casimiro de Abreu, Baptista Capêlos, Augusto dos Anjos, Artur Azevedo, Antonio Nobre, Antero de Quental e Alberto de Oliveira, pude verificar que esse médium pedira licença ao espírito de maior luz que o assiste ‑ Emmanuel ‑ para transmitir‑lhe a indagação de amigos sobre quem fora ele na sua última encarnação. Respondeu que ao tempo de Jesus fora Publio Lêntulus e que na sua última passagem pelo planeta fôra padre católico desencarnado no Brasil. Um ano depois, em 7 de setembro de 1938, em mensagem íntima a Chico Xavier, Emmanuel escrevia pelo lápis mediúnico : "Algum dia, se Deus me permitir, falar‑vos‑ei do orgulho patrício Públio Lêntulus, a fim de algo aprenderdes das dolorosas experiências de uma alma indiferente e ingrata. Esperemos o tempo e a permissão de Jesus. "

Quando lhe foi permitido, em fins de 1928, Emmânuel começou a transmitir psicograficamente, pelas mãos de Chico Xavier, o romance "Há Dois Mil Anos", que contém a sua autobiografia na encarnação do Senador Públio Lêntulus, que vivera alguns meses em Kafarnaum, junto ao Lago Tiberíades, e tivera um diálogo com Jesus que lhe sugerira deixar a trilha errada e seguir o caminho da humildade, do bem e da justiça. Então, sendo "um coração empedernido, não soube aproveitar o minuto radioso que soara no relógio de sua vida de espírito, há dois mil anos". Mas Jesus lhe dissera por fim: "Volta pira tua casa que tua filhinha está curada (da lepra), não por ti, mas por tua esposa (Lívia, convertida) que está orando". Por essa benção recebida Públio Lêntulus fez uma comunicação ao Senado Romano sobre a extraordinária personalidade de Jesus Cristo, a qual constitui o mais perfeito retrato psico‑físico de Jesus. Publio morreu em Pompéia por ocasião da erupção do Vesúvio, mas renasceu na pessoa de Nestcírio, um grego muito culto, que fira feito escravo pelos romanos e comprado por família nobre de Roma, à qual servia como pedagogo. Era cristão desde jovem, quando assistia as pregações do apóstolo João Evangelista, em Êfeso. Costumava assistir às reuniões dos cristãos nas catacumbas e certa noite, depois de fazei magnífica pregação, substituindo o orador Policarpo, foi com todos os participantes preso e condenado a morrer a flexadas e ser devorado por féras no Círculo Máximo. Deu assim pleno testemunho de sua fé.

Emmanuel explicou na sessão de 12 de ,janeiro de 1949, pela psicografia, os motivos da sua reencarnação no alvorecer do século XVI em Portugal: "O trabalho de cristianização, irradiando‑se sob novos aspectos, do Brasil, não é novidade para nós. Eu havia abandonado o corpo físico em dolorosos compromissos, do século XV, na Península, onde nos devotáramos ao `crê ou morre", quando compreendi a grandeza do País que nos acolhe agora. Tinha meu espírito entediado de mandar e querer sem o Cristo. As experiências do dinheiro e da autoridade me haviam deixado a alma em profunda exaustão. Quinze séculos haviam decorrido sem que eu pudesse imolar‑me por amor ao Cordeiro Divino, como o fizera, um dia, em Roma, a companheira do coração (trata‑se de Lívia, esposa de Públio Lêntulus) .

"Vi a floresta perder‑se de vista e o patrimônio extenso entregue ao desperdício, exigindo o retorno à humanidade civilisada e, entendendo as dificuldades do silvícola relegado à própria sorte, nos azares e aventuras da terra dadivosa que parecia sem fim, aceitei a sotaina, de novo, e por Padre Nóbrega conheci, de perto, as angústias dos simples e as aflições dos degredados. Intentava o sacrifício pessoal para esquecer o fastígio mundano e o desencanto de mim mesmo, todavia, quis o Senhor que, desde então, o serviço americano e, muito particularmente, o serviço do Brasil, não me saísse do coração. A tarefa evangelizadora continua. A permuta de nomes não importa". Eis aí, leitores inteligentes, o conteúdo da confissão de Emmânuel contido na página 204 do excelente livro"Trinta Anos Com Chico Xavier", de Clóvis Tavares.

E assim na grande tarefa cristianizadora Manuel da Nóbrega, no Brasil, durante 21 anos, com humildade, devotamento, coragem, paciência, pureza de conduta, habilidade pedagógica e raciocínio elevado, empunhando a cruz e de espírito bem alto, venceu e perdoou a insolência do selvagem; combateu a devassidão de portugueses e a antropofagia do gentio, ensinou a fraternidade e o perdão aos inimigos, instruiu com simplicidade e amor os selvícolas fazendo‑os conhecera missão de Jesus a serviço de Deus; fundando colégios e igrejas, lançou os marcos fundamentais das duas maiores cidades brasileiras: S. Paulo e Rio de Janeiro. E através de 24 livros ditados da espiritualidade pela psicografia, além de colaboração em outros e das mensagens evangélicas que vem proporcionando à leitura de povos de língua portuguesa, pode ser considerado o espírito de alta luz de Emmânuel como o maior mensageiro de Jesus para o Brasil, Pátria do Evangelho, coração do mundo. "

Revista Internacional de Espiritismo – Junho – 1971

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