OS ESPÍRITOS PODEM RETROGADAR? -
Cápitulo - 9
A Doutrina Espírita nos ensina que, em sua origem, os Espíritos se
assemelham a inocentes crianças, isto é, são simples, ignorantes e
completamente inexperientes, carecendo adquirir, pouco a pouco, os
conhecimentos que haverão de conduzi-los à plenitude da sabedoria e da
bondade. (questão 634)
Diz-nos, ainda, que todos possuem, latentes, as mesmas faculdades, cujo
desenvolvimento mais ou menos rápido depende de seu livre arbítrio, o qual,
por sua vez, vai-se ampliando e fortalecendo à medida que cada um toma.
consciência de si mesmo nos embates da Vida.
Nessa escalada, os Espíritos estão sujeitos a errar e permanecer
estacionários por algum tempo; jamais, porém, poderão degenerar, tornandose
piores do que eram, nem. cristalizar-se definitivamente em determinado
estágio evolutivo, contrapondo-se à ordem divina que os inipele para a frente e
para o alto.
Deus, se o quisesse, poderia tê-los criado já perfeitos e isentos de
qualquer trabalho para gozarem os benefícios da perfeição. Em seus sábios
desígnios, todavia, fê-los apenas perfectíveis, para que lhes pertencessem os
méritos dessa glória e também porque só assim a saberiam apreciar
devidamente.
Perguntam alguns:
1) Se os Espíritos foram criados nem bons e nem maus, com iguais
aptidões Para. tudo, porque uns seguiram o caminho do bem e outros
trilharam a senda do mal?
2) Estes, os que se desencaminharam, não estarão contrastando a
afirmação kardequiana de que “os Espíritos não retrogradam”?
Respondendo à primeira questão, diremos que, em Conformidade com o
enunciado linhas acima, Deus deseja que todos tenham o merecimento do
progresso moral e da bem-aventurança a que se destinam e, por isso, a par
dos meios que lhes põe ao alcance para esclarecê-los e atraí-los a si, concedelhes
relativa liberdade para que realizem, pelo próprio esforço, esse sublime
desiderato.
Insipientes podem eles, então, tal qual o filho pródigo da parábola
evangélica, enveredar por ínvios carreiros (os vícios e os crimes),
distanciando-se da retidão (o cumprimento das leis de Deus). Cada vez, porém,
que isso acontece, sofrem tropeços quedas e acúleos que os fazem retornar ao
bom caminho.
Destarte, esses transviamentos temporários, Com as agruras que lhes são
consequentes, constituem experiências que eles vão adquirindo para se
conduzirem com acerto no futuro e não mais fugirem ao roteiro que lhes
cumpre palmilhar.
Conforme foi dito páginas atrás, o Bem é a única Realidade Absoluta, o
destino final da Criação, sendo o Mal apenas a ignorância dessa realidade,
ignorância que vai desaparecendo, paulatinamente, através do aprendizado em
vidas sucessivas.
“Errando também se aprende”, diz um refrão popular. E muito,
acrescentamos nós. De sorte que passar do estado de inocência, ou seja, de
total inconsciência para o de culpabilidade, em virtude de engano na escolha
de certo modo de agir, não significa retrogradar, mas sim ganhar tirocínio,
desenvolver a capacidade de discernimento, sem o que nenhum avanço seria
possível.
Em qualquer ramo de Ciência, depois de uma dezena de experimentações
diferentes mal sucedidas, o pesquisador estará evidentemente mais próximo da
solução que persegue do que antes de iniciá-las, porque os resultados obtidos,
embora negativos, lhe terão fornecido preciosos subsídios a respeito,
indicando-lhe o melhor rumo a tomar.
Como se sabe, milhares e milhares de coisas que tanto conforto e bemestar
oferecem, hoje, à Humanidade, são frutos de uma série enorme de
fracassos, senão mesmo de desastres e de sacrifícios cruciantes que afinal se
transformaram em grandes e esplêndidos triunfos.
Pois bem! O mesmo sucede na conquista da perfeição. Advertidos pela
Dor a cada falta que cometemos, vamos aprendendo a evitá-las e dia virá em
que, percebendo que “ser, feliz” é a consequência natural de “ser bom”, todos
haveremos de cumprir a Lei de Amor, estabelecida por Deus para a felicidade
de todos.
Os que perfilham doutrinas anti-reencarnacionístas não aceitam que todas
as almas sejam criadas “com iguais aptidões para evoluir” e nem aceitam que
as diferenças atuais dessas almas, em saber e moralidade, sejam o resultado
de progressos realizados em existências pregressas como ensina o Espiritismo
Essas diferenças, no entanto, são reais, incontestáveis e ressaltam à vista
de qualquer um, mas, como não encontram uma causa anterior para justificálas,
dizem: é porque. Deus as tem criado assim, desiguais e sem as mesmas
aptidões!
A que se reduziria neste caso, a Justiça Divina?
Rodolfo Callegaris
Obra: As Leis Morais
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