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24 abril 2017

Porque certos desafetos reencarnam como nossos familiares? - Morel Felipe Wilkon

 (Santos/SP)


"PORQUE CERTOS DESAFETOS REENCARNAM COMO NOSSOS FAMILIARES?"

Como a Doutrina Espírita explica a existência de desafetos dentro da própria família? Quase todas as famílias têm seus casos de desentendimento entre alguns dos seus membros, muitas vezes verdadeira aversão sem nenhuma explicação na existência presente. 

“Por que certos desafetos reencarnam como nossos familiares? Mesmo se o perdão for obtido em uma das partes eles continuarão reencarnando próximos um ao outro em outras vidas?”

É bom nós sabermos – e quem fez essa pergunta já sabe disso – que é comum que antigos desafetos reencarnem próximos um do outro, principalmente no meio familiar. Numa mesma família geralmente há o encontro de antigos desafetos. Por quê? Imagine que você se mude para o outro lado do mundo, que você nunca mais tenha contato com ninguém do Brasil, com ninguém que você conheceu aqui. Daqui a uns 40 anos, quando eventualmente você se lembrar de alguém que você conheceu aqui, de quem você vai se lembrar?

Você vai lembrar das pessoas que você ama e das pessoas que você odeia. Talvez você não ame ninguém, ou você não odeie ninguém. 

Mas você certamente formou vínculos de afeto e de desafeto. 

Muitas pessoas que nós conhecemos nessa existência não irão representar grande coisa para nós no futuro. São coadjuvantes em nossa vida. Mas há os protagonistas em nossa vida, que são aquelas pessoas por quem nós nutrimos sentimentos de amor e ódio.

São com essas pessoas que nós temos vínculos. É a elas que nós estamos ligados. É importante considerarmos que se nós sentimos ódio de alguém é porque muito provavelmente antes de experimentarmos esse sentimento de ódio nós sentimos por esse alguém algo muito próximo muito semelhante ao amor. Ninguém sente ódio de alguém se nunca gostou desse alguém antes. As relações de ódio quase sempre surgem a partir da traição, do engano, da inveja, da disputa desenfreada – mas antes de se manifestar a traição, o engano, a inveja, a disputa desenfreada, havia amor – não o amor verdadeiro porque nós ainda não sabemos amar de verdade, mas algo muito próximo ao amor.

Se uma pessoa que eu não conheço, ou um conhecido qualquer – se essa pessoa me trai, é claro que eu não vou gostar, mas também não vou morrer de ódio dessa pessoa.

Mas se alguém que eu amo – um irmão, um filho, o cônjuge – se um deles me trair, o amor que eu sinto poderia se transformar em ódio: eu tenho um vínculo muito forte com essa pessoa e esse vínculo permanece – ele apenas deixa de ser positivo e se torna negativo.

Os nossos grandes desafetos, então, são espíritos com quem nós já convivemos no passado, em outras existências, e são espíritos de quem nós já gostamos, fomos grandes amigos, talvez sócios, ou irmãos, ou amantes – já tivemos laços de amor no passado. Os espíritos se atraem por afinidade. 

A reencarnação acontece normalmente por afinidade. É um equívoco supor que todos nós passamos por um planejamento antes de reencarnar. Isso é correto se considerarmos que a Lei de Deus (o grande conjunto de Leis que nos regem) seja um planejamento – ou que comportem um planejamento. Mas não há planejamento individual para cada espírito que reencarna.

Nós nos aproximamos, então, por afinidade. Nós temos vínculos aqui, temos laços de afeto e desafeto com algumas pessoas, nós mantemos esses laços depois de desencarnados, e esses laços permanecem ainda quando reencarnamos. São esses vínculos que nos unem, que aproximam as pessoas em pequenos e grandes grupos.

– Qual é a razão, na Lei de Deus, para que os desafetos se encontrem? 
Não seria melhor se nós nunca mais encontrássemos os nossos desafetos? Não. Se nós não os encontrássemos novamente, nós não curaríamos as feridas produzidas por esses laços de ódio. O ódio é uma doença do espírito. 

Enquanto nós sentimos ódio, enquanto nós tivermos ódio dentro de nós, mesmo que bem controlado, mesmo que nós nem percebamos que sentimos ódio – nós não nos curamos. E a única maneira de curar essa doença chamada ódio – ódio e seus derivados: mágoa, rancor, ressentimento – o meio de nós curarmos essa doença é nos rearmonizando com nós mesmos e com os nossos desafetos.

Em relação ao perdão: eu posso perdoar, posso me elevar espiritualmente e superar esses laços negativos. Perdoar é desligar-se, deixar para trás. Perdoar alguém de quem eu tive ódio é romper com esses laços de ódio, eu já não estou ligado a essa pessoa por laços de ódio.

Poderíamos pensar, então, que basta perdoar para nos vermos livres dos nossos desafetos.

É mais ou menos. Quando eu perdoo eu me livro da doença, eu estou curado do ódio. Mas a Lei é perfeita. A Lei de Deus é perfeita. Nada escapa da Lei. 

Temos que considerar que nós contribuímos para a formação desses laços de ódio, nós contribuímos para que essa desarmonia acontecesse. 

Se examinarmos as nossas existências anteriores veremos que nós não somos vítimas. Podemos ter sido vítimas numa determinada existência, mas fomos algozes em outra existência anterior – às vezes espíritos se perseguem durante milênios, alternando as posições de perseguido e perseguidor. Isso só termina com o perdão e a rearmonização.

Referindo-se a esses laços de desafeto, a essas relações de ódio, Jesus nos ensinou no sermão da montanha:

“Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali, enquanto não pagares o último centavo.” Mateus 5:25-26

Temos que pagar até o último centavo. O que isso quer dizer?
Quer dizer que nós não nos elevaremos de verdade enquanto estivermos em débito com as Leis divinas.

Jesus disse para entrarmos em acordo com o nosso adversário, para nos conciliarmos, ou nos reconciliarmos com o nosso adversário – o adversário é esse desafeto que reencarnou como nosso familiar. 

Temos a oportunidade de nos reconciliarmos agora. Isso não quer dizer que temos que morrer de amores por esse familiar nosso. Se nós construímos grandes diferenças um com o outro, a ponto de mal nos suportarmos, dificilmente vamos amar esse desafeto, nesta reencarnação, como nós amamos outras pessoas. Mas é preciso começar a rearmonização. É preciso tolerar; compreender; ajudar, se for o caso; e querer o bem para essa pessoa, orar por essa pessoa – isso é o mínimo que podemos fazer.

O perdão liberta, é verdade. Mas não nos isenta de trabalharmos pela rearmonização, de trabalharmos pela harmonia do universo. A Lei de Deus é pura harmonia. Deus é amor, é alegria, é prazer – para vivermos o reino de Deus, que é o nosso próximo estágio evolutivo, temos que estar em plena harmonia com as Leis de Deus.


Fonte: Morel Felipe Wilkon


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