ANIMISMO NO CENTRO ESPÍRITA
O animismo é o terror de muitos médiuns e motivo de desconfiança por parte dos consulentes (ou pacientes; as pessoas que recebem o atendimento espiritual).
Quando nós falamos em animismo nós estamos nos referindo aos fenômenos produzidos ou experimentados pelo próprio espírito encarnado, com as suas próprias faculdades, sem a participação de um espírito desencarnado.
Toda faculdade que independe da participação de outro espírito é uma faculdade anímica.
Um exemplo é a projeção consciente, em que a pessoa, através de exercícios de mobilização de energias, ou de exercícios de visualização, mas principalmente com o uso de uma vontade forte, ela consegue sair do corpo físico com o seu corpo astral mantendo a consciência. Isso não pode ser confundido com o chamado desdobramento.
Quando nós dormimos normalmente nós nos desdobramos, ou seja, enquanto o corpo físico repousa, nós recobramos parcialmente a liberdade com o corpo astral. Mas não podemos chamar isso de projeção consciente (ou projeção astral). A projeção é o resultado de um exercício, que envolve a vontade, e é caracterizada pela manutenção da consciência.
Quem se projeta não é necessariamente médium. A pessoa não está servindo de intermediária para nenhum espírito.
Muitas faculdades que nós chamamos de mediúnicas na verdade são anímicas.
A vidência ou clarividência, por exemplo: você acha que é uma faculdade anímica ou mediúnica?
Allan Kardec criou uma expressão que hoje pode não parecer muito adequada: emancipação da alma. Ele se refere à emancipação, ou seja, à liberdade da alma em relação ao corpo.
– O que é isso?
Isso é um estado alterado de consciência. E não tem nada de extraordinário nisso. Nós entramos em estados alterados de consciência imediatamente antes de adormecer, imediatamente ao despertar, ou mesmo num relaxamento provocado, como na meditação.
O que ocorre nisso que Allan Kardec chama de emancipação da alma é que nós nos libertamos parcialmente do corpo físico. Essa relativa liberdade pode ser bem pequena ou muito ampla.
No nosso estado de consciência normal, o nosso contato com o mundo exterior se dá exclusivamente por intermédio dos nossos cinco sentido físicos. Quando nos libertamos parcialmente do corpo físico nossas percepções aumentam e temos, dependendo do grau dessa liberdade, até a possibilidade de agir em outros planos.
O animismo ocorre no estado de emancipação da alma.
Geralmente quando se fala em animismo no centro espírita ele está associado à mediunidade de incorporação (ou psicofonia).
Grande parte dos médiuns não tem certeza se a comunicação que ele está fazendo provém de um espírito ou dele mesmo. Essa desconfiança também existe por parte de dirigentes de grupos de atendimento espiritual e por parte dos consulentes.
Não há como saber, com certeza, o que vem do espírito e o que vem do médium.
A mediunidade é muito mais sutil do que os leigos imaginam. Para captar a mensagem do espírito com maior fidelidade, o médium precisa esvaziar-se de quaisquer preocupações externas e entrar num estado de emancipação da alma – no mínimo, um estado de relaxamento.
Isso nem sempre acontece. Temos que lembrar que a maior parte dos trabalhadores dos centros espíritas trabalha, tem outras ocupações. Nem todos podem chegar ao trabalho mediúnico com antecedência, nem todos dão o devido valor à necessidade desse estado de relaxamento, e, principalmente, nem todos conseguem se desligar dos seus problemas, das suas ocupações cotidianas.
Isso faz com que a percepção do médium seja mínima, e ele não consegue diferenciar o que é seu e o que não é seu numa comunicação.
Se o animismo fosse assumido como uma faculdade tão valiosa ou até mais valiosa do que a mediunidade, talvez as coisas fossem diferentes. É comum entre os trabalhadores dos centros espíritas esperar que os espíritos façam tudo, ou pelo menos deixar a maior parte do trabalho para os espíritos.
Se houvesse uma maior conscientização da importância do trabalho do trabalhador encarnado, talvez o seu senso de responsabilidade fosse mais exigido e ele então se prepararia melhor para o trabalho.
Quando nós temos noção da nossa importância e quando nós sabemos que um determinado trabalho depende de nós, da nossa participação efetiva, nós nos preparamos melhor para esse trabalho. É assim até na nossa vida profissional.
Será que os espíritos que trabalham no centro espírita são melhores que nós, encarnados?
A maioria pensa que sim. Eu afirmo que não.
Não faz sentido achar que os melhores estão todos do lado de lá. O estudo das obras de André Luiz nos mostra que os trabalhadores desencarnados são seres como nós – apenas estão livres da densidade da matéria, por isso percebem a realidade de uma forma mais ampla, sem tanto egoncentrismo como nós.
Mas nós temos as mesmas capacidades que eles e em algumas áreas até mais. Por estarmos num corpo físico nós temos a energia vital ou energia animal ao nosso dispor.
Nós vemos aqueles instrutores dos livros de André Luiz e temos a impressão de que eles são todos grandes mestres. Não são! São espíritos inteligentes e esforçados. Por que eles parecem tão melhores que nós? Por que nós vivemos tão ocupados com as coisas materiais, com o monte de compromissos que nós temos, que nós deixamos de lado as nossas próprias potencialidades – nós não investigamos e não desenvolvemos as nossas potencialidades.
Lembre-se que você já experimentou muitas existências. Você tem dentro de você um cabedal de conhecimentos incrível. Mas para ter acesso a isso você precisa investigar a si mesmo, conhecer a si mesmo e desenvolver o hábito de acessar as partes mais profundas do seu ser.
Isso não exige nenhum exercício extraordinário, a simples meditação serve. Experimente fazer exercícios respiratórios, mobilizar as suas energias, ativar os chacras, entrar num estado de profundo relaxamento e então orar – mas orar com imagens e com sentimento, não com palavras. Você descobre uma riqueza dentro de você!
O animismo não é prejudicial se o médium for bem preparado. Não faz diferença alguma se um conselho ou uma mensagem de apoio é oriunda de um espírito guia ou se vem do próprio médium. Também não faz diferença se a comunicação do médium é fiel ao que está acontecendo com o consulente ou não – desde que o médium tenha sensibilidade suficiente pra perceber o tipo de influência que está agindo sobre o consulente.
Se começarmos a levar o animismo a sério desenvolveremos melhor nossas potencialidades; ampliaremos o nosso senso de responsabilidade; tornaremos os atendimentos espirituais mais dinâmicos e completos; e, talvez o mais importante, seremos mais racionais, não dependeremos tanto de nossas crenças.
Morel Felipe Wilkon
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