MEDO DA MORTE
Mesmo sendo espírita e médium ostensivo, confesso que sempre tive dificuldade para lidar com a morte. Um medo orbita em torno da ideia, o que, em diversas ocasiões, resultou em pensamentos questionadores e conversas aflitas, e até mesmo desrespeitosas, com o Criador.
Recordo de duas situações particulares que me ajudaram bastante com a questão. Em ambas o contexto era o mesmo:
Na primeira situação, eu estava perdido em pensamentos à noite, no meio da natureza, contemplando um céu estrelado daqueles de tirar o fôlego. Participava de uma vivência de uma fraternidade espiritualista e me retirei por uns momentos para olhar o céu e questionei, em prece:
— Por que o Senhor fez as coisas desse jeito? Por que precisamos nascer e morrer, e passar por essa angústia terrível?
— Não fui Eu que fiz assim - uma voz me respondeu no meio dos confusos pensamentos. São vocês que criaram esse olhar sobre a morte.
Imediatamente me coloquei em reflexão. De fato, qual o maior problema - a morte em si, ou a crença que criamos em torno desse assunto, sobretudo no ocidente? Se aprendêssemos desde cedo a olhar para a morte, talvez ela ficasse mais leve.
Em outra situação, algum tempo depois, me vi em circunstâncias parecida. Novamente o estado de questionamento. Novamente o céu de tirar o fôlego. Olhar para o céu sempre me ajuda a lembrar da minha pequenez e da grandeza da Criação. Me traz um certo alento para a alma:
Recordo de duas situações particulares que me ajudaram bastante com a questão. Em ambas o contexto era o mesmo:
Na primeira situação, eu estava perdido em pensamentos à noite, no meio da natureza, contemplando um céu estrelado daqueles de tirar o fôlego. Participava de uma vivência de uma fraternidade espiritualista e me retirei por uns momentos para olhar o céu e questionei, em prece:
— Por que o Senhor fez as coisas desse jeito? Por que precisamos nascer e morrer, e passar por essa angústia terrível?
— Não fui Eu que fiz assim - uma voz me respondeu no meio dos confusos pensamentos. São vocês que criaram esse olhar sobre a morte.
Imediatamente me coloquei em reflexão. De fato, qual o maior problema - a morte em si, ou a crença que criamos em torno desse assunto, sobretudo no ocidente? Se aprendêssemos desde cedo a olhar para a morte, talvez ela ficasse mais leve.
Em outra situação, algum tempo depois, me vi em circunstâncias parecida. Novamente o estado de questionamento. Novamente o céu de tirar o fôlego. Olhar para o céu sempre me ajuda a lembrar da minha pequenez e da grandeza da Criação. Me traz um certo alento para a alma:
— O Senhor está mesmo aí?
— Até estou, mas estou mesmo é aqui - uma voz ressoou intensa e carinhosa, no centro do meu peito, desarmando qualquer possibilidade de mais questionamentos.
Fiquei extasiado por alguns breves infinitos instantes e em seguida voltei para a pousada onde estava hospedado. Na entrada estava um cachorro de rua, carinhoso e de olhar doce que seguira a mim e a minha esposa nos passeios do Distrito onde estávamos. Abaixei-me para fazer um carinho no amigo, ainda tocado pela experiência. Ele me retribuiu abanando o rabinho e virando a barriga pra cima, olhando para mim com seu olhar doce. Arrisco dizer que estava sorrindo, ao seu próprio modo:
Fiquei extasiado por alguns breves infinitos instantes e em seguida voltei para a pousada onde estava hospedado. Na entrada estava um cachorro de rua, carinhoso e de olhar doce que seguira a mim e a minha esposa nos passeios do Distrito onde estávamos. Abaixei-me para fazer um carinho no amigo, ainda tocado pela experiência. Ele me retribuiu abanando o rabinho e virando a barriga pra cima, olhando para mim com seu olhar doce. Arrisco dizer que estava sorrindo, ao seu próprio modo:
— Também estou aqui - a voz ressoou de novo no centro do meu peito.
Por muito tempo, lutei intensamente contra as reflexões sobre a morte. A incongruência entre os pensamentos e estados emocionais perturbava bastante. Mesmo após viver inúmeras experiências espirituais, me pegava em inquietantes pensamentos. E a reflexão sobre minhas crenças e experiências particulares promoviam um estado de culpa e raiva de mim mesmo por tais questionamentos.
Na manhã seguinte à experiência com o cachorro, acordei sentindo uma serenidade indefinível. O problema nunca foram as dúvidas, mas a postura. A morte física é uma realidade. Aprendi e sei que isso não representa o fim de tudo e esse nunca foi realmente o problema. De fato, a morte mostra a efemeridade da vida no estado em que está estabelecida. Tudo muda, a vida é impermanente. Logo, é importante viver sempre da melhor maneira possível.
A essência da vida são as relações. O ser humano existe basicamente em seus relacionamentos. São através deles que nossa realidade pessoal pode se manifestar, sem máculas. A partir do modo como reagimos e nos portamos perante os outros e às situações é que sabemos quem somos. Então qual o propósito de uma busca por autoconhecimento e espiritualidade se isso não toca a forma como nos portamos?
Qual o sentido dos livros, cursos, palestras, meditações, orações e tantas outras tentativas, se nos momentos em que a vida nos convida a optar por viver melhor, ou seja, nas situações de conflito, escolhemos dar lições de moral nos outros, ou nos anestesiamos com explicações pseudo-sábias sobre os possíveis por quês daquilo estar acontecendo, ou até mesmo assumimos a risonha mas covarde e absurda postura de dizer: "sou assim mesmo, fazer o que né? Na próxima vida eu resolvo".
— Não há próxima vida. Há uma só vida que muda de forma o tempo todo, fazendo com que cada momento seja único - ressoou novamente a voz que me falara depois do carinho no cachorro, na manhã seguinte ao ocorrido - aceite o convite para viver.
Nesse momento respeitosamente silenciei meus pensamentos. Evoquei o sentimento de medo da morte e pedi que viesse da forma mais pura e intensa possível e falei:
— Me perdoe, medo da morte. Tenho sido injusto com você. Sempre tento tirar você de mim dizendo que a morte não existe, mas ela existe sim, e você me mostra isso. Obrigado, você me ajuda a lembrar que preciso viver.
Na manhã seguinte à experiência com o cachorro, acordei sentindo uma serenidade indefinível. O problema nunca foram as dúvidas, mas a postura. A morte física é uma realidade. Aprendi e sei que isso não representa o fim de tudo e esse nunca foi realmente o problema. De fato, a morte mostra a efemeridade da vida no estado em que está estabelecida. Tudo muda, a vida é impermanente. Logo, é importante viver sempre da melhor maneira possível.
A essência da vida são as relações. O ser humano existe basicamente em seus relacionamentos. São através deles que nossa realidade pessoal pode se manifestar, sem máculas. A partir do modo como reagimos e nos portamos perante os outros e às situações é que sabemos quem somos. Então qual o propósito de uma busca por autoconhecimento e espiritualidade se isso não toca a forma como nos portamos?
Qual o sentido dos livros, cursos, palestras, meditações, orações e tantas outras tentativas, se nos momentos em que a vida nos convida a optar por viver melhor, ou seja, nas situações de conflito, escolhemos dar lições de moral nos outros, ou nos anestesiamos com explicações pseudo-sábias sobre os possíveis por quês daquilo estar acontecendo, ou até mesmo assumimos a risonha mas covarde e absurda postura de dizer: "sou assim mesmo, fazer o que né? Na próxima vida eu resolvo".
— Não há próxima vida. Há uma só vida que muda de forma o tempo todo, fazendo com que cada momento seja único - ressoou novamente a voz que me falara depois do carinho no cachorro, na manhã seguinte ao ocorrido - aceite o convite para viver.
Nesse momento respeitosamente silenciei meus pensamentos. Evoquei o sentimento de medo da morte e pedi que viesse da forma mais pura e intensa possível e falei:
— Me perdoe, medo da morte. Tenho sido injusto com você. Sempre tento tirar você de mim dizendo que a morte não existe, mas ela existe sim, e você me mostra isso. Obrigado, você me ajuda a lembrar que preciso viver.
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