Total de visualizações de página

06 abril 2011

Educação Evangélica - Emmanuel


EDUCAÇÃO EVANGÉLICA

Todas as reformas sociais, necessárias nos vossos tempos de indecisão espiritual, têm de processar-se sobre a base do Evangelho.
Como? poderá objetar-nos. Pela educação, replicaremos.

O plano pedagógico, que implica esse grandioso problema, tem de partir ainda do simples para o complexo. Ele abrange atividades multiformes e imensas, mas não é impossível. Primeiramente, o trabalho de vulgarização terá de intensificar-se, lançando, através da palavra falada ou escrita do ensinamento, as diminutas raízes do futuro.

Toda essa demagogia filosófico-doutrinaria que vedes nas fileiras do Espiritismo tem a sua razão de ser. As almas humanas se preparam para o bom caminho. A missão do Cristianismo, na Terra, não era a de mancomunar-se com forças políticas que lhe desvirtuassem a profunda significação espiritual para os homens. O Cristo não teria vindo ao mundo para instituir castas sacerdotais, nem para impor dogmatismos absurdos. Sua ação visava justamente a necessidade de remodelar-se a sociedade humana, eliminando-se os preconceitos religiosos, constituiu essa ação a causa da sua cruz e do seu martírio, sem nos desviarmos, contudo, do terreno das profecias que o anunciavam.

Todas as atividades bélicas, todas as lutas anti-fraternas no seio de povos irmãos, quase todos os absurdos que complicaram a vida do homem vieram da escravização da consciência pessoal ao conglomerado de preceitos dogmáticos das igrejas que se levantaram sobre a doutrina sagrada do Divino Mestre, contrariando as suas bases, digladiando-se mutuamente, condenando-se urnas às outras, em nome de Deus.

Aliado ao Estado, o Cristianismo deturpou-se, perdendo as suas características divinas.

Sabemos todos que a humanidade terrena atinge atualmente as culminâncias de um dos seus mais importantes ciclos evolutivos. Nessas transformações, há sempre necessidade do pensamento religioso, mantendo a espiritualidade das criaturas em momentos tão críticos. A idéia cristã se encontrava afeta o trabalho de sustentar essa coesão de sentimentos de confiança e de fé, por parte das criaturas humanas, nos seus elevados destinos. Todavia, encarcerada nas grades dos dogmas católicos, a doutrina de Jesus não poderia de modo algum amparar o espírito humano nessas dolorosas transições.

Todas as exterioridades da igreja deixam nas almas atuais, sedentas de progresso, um vazio muito amargo.

E, justamente, quando o positivismo alcançava o absurdo extremo da negação com Augusto Comte e o catolicismo tocava a suprema extravagância das afirmativas com Pio IX, proclamando a suposta infalibilidade papal, o Céu deixa cair sobre a Terra a revelação abençoada dos túmulos. O Consolador, prometido pelo Mestre, chegava no momento oportuno. Urgia reformar, reconstruir, aproveitar o material ainda firme, para destruir os elementos apodrecidos, na reorganização do edifício social.

É por isso que a nossa palavra bate insistentemente nas antigas teclas do Evangelho cristão, porquanto não existe outra fórmula que possa dirimir o conflito da vida atormentada dos homens. A atualidade requer a difusão dos seus divinos ensinamentos. Urge, sobretudo, a criação de núcleos verdadeiramente evangélicos, por onde se possa veicular a orientação cristã que por sua vez deverá ser mantida no lar, pela dedicação dos seus chefes As escolas do lar são mais que precisas, em vossos tempos, para a formação do espírito que atravessará a noite de lutas que a vossa Terra está vivendo, em demanda da gloriosa luz do porvir.

Há necessidade de iniciar-se o esforço de regeneração em cada individuo, dentro do Evangelho, com a tarefa, nem sempre amena, da auto-educação, evangelizado o individuo, evangeliza-se a família; regenerada esta, a sociedade estará em caminho de sua purificação, reabilitando-se simultaneamente a vida do mundo.

Não preconizamos a educação defeituosa de determinadas noções doutrinárias, mas facciosas, por facilitarem na alma infantil a eclosão de sectarismos prejudiciais e incentivarem o espírito de separatividade. Não concordamos tampouco com a educação ministrada nos moldes desse materialismo demolidor, que não vê no homem se não um complexo celular, onde as glândulas, com as suas secreções, criam uma personalidade fictícia e transitória.

Não são os sucos e os hormônios, em sua mistura adequada nos laboratórios internos do organismo, que estruturam o espírito imortal. Ao contrário dessa visão audaciosa dos cientistas, são fluidos imponderáveis e invisíveis; atributos da individualidade que preexiste ao corpo e a ele sobrevive, que dirigem todos os fenômenos orgânicos que os utopistas da biologia tentam em vão solucionar com a eliminação da influência espiritual. Todas as câmaras misteriosas desse aparelho admirável, que é o mecanismo orgânico do homem, estão repletas de uma luz invisível para os olhos mortais.

As atividades pedagógicas do presente e do futuro terão de caracterizar-se pela sua feição evangélica e espiritualista, se quiserem colaborar no grandioso edifício do progresso humano.

Os estudiosos do materialismo não vêem que todos os seus estudos apenas se baseiam na transição e na morte. Todas as realidades da vida se lhes conservam inapreensíveis pelas faculdades sensoriais. Suas analises objetivam somente a carne perecível. O corpo que estudam, a célula que examinam, o composto químico submetido á critica minuciosa são acidentais e passageiros.

Os materiais humanos postos sob os seus olhos pertencem ao domínio da transformação, através do suposto aniquilamento. Como poderá, pois, esse movimento de extravagâncias do espírito humano presidir á formação da mentalidade geral que o futuro requer para realização dos seus grandiosos projetos? A intelectualidade acadêmica está fechada no circulo da opinião dos catedráticos, como a idéia religiosa está presa no cárcere dos dogmas absurdos.

Os cristãos novos terão de marchar contra esses gigantes, com a liberdade dos seus atos e de suas idéias.

Por enquanto, todo o nosso trabalho objetiva a formação da mentalidade cristã por excelência, mentalidade purificada, livre dos preceitos e preconceitos que impedem a marcha da humanidade. Formadas estas correntes de pensadores esclarecidos no Evangelho, entraremos então no ataque ás obras. Os jornais educativos, as revistas, os livros, os centros de estudos, os clubes do pensamento evangélico, as assembléias da palavra, o filme que ensina e moraliza, tudo sobre base do sentimento cristão, não constituem uma utopia dos nossos corações.

Essas obras que hoje surgem, vacilantes e indecisas, no seio da sociedade moderna, experimentando quase sempre um fracasso temporário, indicam que a mentalidade evangélica não está ainda edificada. Os andaimes, porém, aí estão, esperando o momento final da imponente construção.

Toda a tarefa, no momento, é formar o espírito genuinamente cristão; terminado esse trabalho, os homens terão atingido o dia luminoso da paz universal e da concórdia de todos os corações.

Emmanuel
Recebida pelo médium Francisco Xavier em 20 de setembro de 1936
Fonte: Reformador – novembro, 1936

Nenhum comentário: