Divergências à parte, sempre fruto dos estágios de amadurecimento e entendimento da proposta espírita, onde estarão unidos os espíritas? Em que ponto deverão apoiar-se para se encontrarem num pensamento comum?
Há uma receita para este desejado encontro!
Antes de apresentá-la, consideremos:
- Existem polêmicas sobre este ou aquele ponto. Elas geram desentendimentos, desuniões e até antipatias pessoais. Posturas incoerentes com a Doutrina.
- Há publicações de livros espíritas em grande escala na atualidade. Neste ponto há excessiva preocupação com a qualidade (nem sempre recomendável) das publicações e a imprensa perde precioso espaço preocupada em combater, quando deveríamos somente semear e construir. Na verdade, nesta área, aquilo que pode ser inútil e repetitivo para uns pode ser de grande utilidade para outros, levando-se em contas os diferentes estágios humanos. O que não serve para um pode ser necessário para outro. Tudo tem sua utilidade, mesmo aquilo que não alcance os estágios da razão e do bom senso. Sempre em razão dos níveis evolutivos. Isto não invalida o esforço que todos devemos perseguir para colocar a Doutrina, em toda a sua grandeza, nas atividades espíritas a que nos dediquemos. A própria trajetória humana, no processo evolutivo, mostra isso, misturando seres em diferentes degraus de intelecto e moralidade.
- Qualquer tentativa de imposição ou constrangimento de idéias está distante da proposta espírita.
- Ninguém tem o direito de arvorar-se como "dono da verdade". Somos todos aprendizes. Podemos estar absolutamente certos e coerentes num ponto, mas absurdamente distantes da Doutrina em outro ponto. Sempre fruto do amadurecimento e entendimento que temos com relação aos postulados doutrinários.
- As diferentes posturas de prática espírita refletem o conhecimento dos integrantes ou dirigentes dos grupos, cujo universo pode ser analisado sob qualquer ângulo que se queira. Ora, isto é absolutamente natural numa Doutrina altamente democrática e respeitadora das diferenças individuais.
- Os estágios destoantes, de aberrações doutrinárias, incoerentes com a genuína Doutrina Espírita, na verdade preparam futuros trabalhadores e iniciam muita gente nos conhecimentos sobre a imortalidade e comunicabilidade dos espíritos, mesmo que por agora de maneira muitas vezes até escandalosa. São estágios de treinamento, abrindo caminhos. No futuro, serão concordes com a orientação doutrinária.
- A preocupação com a defesa em favor da Doutrina é desnecessária. A Doutrina fala por si e se os espíritas conscientes estudarem e colocarem em prática o que o Espiritismo traz, esta semeadura fará a defesa. Claro que devemos esclarecer de maneira permanente, usando os veículos de comunicação disponíveis, mas para semear o bem e nunca para atacar.
- Os esforços de união dos espíritas, atendendo aos apelos da Espiritualidade, devem merecer nossa melhor atenção, pois que somente eles são instrumentos capazes de sanar as dificuldades trazidas pelas fraquezas humanas e pelos diferentes níveis de entendimento doutrinário.
- Uma coisa é a assimilação dos ensinamentos espíritas pelos espíritas. Outra coisa é a ação que esta assimilação produz nos espíritas, já que todos provêm de formação distinta, de maturidade emocional e psicológica diferente e, claro, de entendimento intelectual também diferente.
- Todo desentendimento gera atrasos no programa doutrinário, adia o planejamento estabelecido por Jesus para o progresso da Humanidade e portanto tem caráter prejudicial para os que se intitulam cristãos e para a tão comentada e esperada era da Regeneração.
Os convites de união entre os espíritas traduzem esforços para os propósitos do Cristo e precisamos pensar nisto, para não adiarmos tais propósitos.
Onde, pois, estarão unidos os espíritas?
Eis a receita: Ela está contida em O LIVRO DOS MÉDIUNS, cap. XXVII, item 302. A resposta é de O ESPÍRITO DE VERDADE e indica: "(...) A unidade se fará do lado onde o bem jamais tiver sido misturado ao mal; será desse lado que os homens se reunirão pela força das coisas, porque julgarão que aí está a verdade. Anotai, aliás, que os princípios fundamentais são os mesmos em toda parte, e devem vos unir num pensamento comum: o amor de Deus e a prática do bem. Qualquer que seja, pois, o modo de progressão que se suponha para as almas, o objetivo final será o mesmo, e o meio de atingi-lo é também o mesmo: fazer o bem; ora, não há duas maneiras de fazê-lo. Se se levantam dissidências capitais, quanto ao próprio princípio da Doutrina, tendes uma regra certa para apreciá-las, e essa regra é esta: a melhor doutrina é a que melhor satisfaz ao coração e à razão, e que tem mais elementos para conduzir os homens ao bem; eu vos certifico, é a que prevalecerá".
Vençamos, pois, esta tendência de combater idéias alheias e caminhemos para semear, construir, colocando no coração, em primeiro lugar, o amor de Deus e a prática do bem.
Porém, a propósito das distorções e desentendimentos, breve consulta ao O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, no capítulo XXI - HAVERÁ FALSOS CRISTOS E FALSOS PROFETAS (no item 8), nos dará a informação de que:
"(...) aqueles que envia para propagar a sua santa doutrina, e regenerar seu povo, serão, a exemplo do Mestre, brandos e humildes de coração acima de todas as coisas; (...) Lembrai-vos de que cada criatura leva na fronte, mas nos seus atos sobretudo, o cunho de sua grandeza ou da sua decadência.(...)" E depois no item 9: "(...) concluí que o verdadeiro missionário de Deus deve justificar a sua missão de superioridade, por suas virtudes, por sua grandeza, pelo resultado e pela influência moralizadora de suas obras.(...)"
Não fica mais fácil, por aí, procurar os caminhos do entendimento através do amor e tolerância uns para com os outros, aos invés de ficarmos a digladiar...?!
Orson Peter Carrara (Matão/SP)
Escritor e orador espírita. Constultor Editorial residente em Matão/SP
e-mail: orsonpeter@yahoo.com.br
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