CIÚME: PROVA DE DESAMOR
Prender alguém, por mais dourados que
sejam os laços ou as correntes, não deixa de ser uma prova de desamor.
Como assim prender alguém? Não, não se trata de cativeiro, sequestro,
prisão em grades ou algemas reais nas mãos.
Referimo-nos antes aos efeitos danosos
do ciúme, do sentimento de posse sobre alguém ou das tentativas de
manipulação da liberdade de alguém em agir nesta ou naquela direção.
Afinal, consideremos que não podemos forçar ninguém a nada, a não ser
por força da Lei. O ciúme traz prejuízos de longo alcance, causando
sofrimentos para ambos os envolvidos, em autêntica prisão psicológica
cujos danosos efeitos não podemos prever.
É uma prova de desamor porque quem ama
não prende, pois o amor não impõe, não censura, não critica; o amor,
antes, compreende, tolera, entende, estimula, liberta.
Quem somos nós para determinar como,
quando e onde uma pessoa pode agir, estar ou conviver? Desde que a
pessoa haja com decência, dignidade, correção, como querer vigiar-lhe os
passos?
O Jornal da Cidade, de Bauru-SP, em sua edição de 27/01/2008, publicou no suplemento Comportamento, a excelente matéria Uma doença chamada ciúme,
assinada por Giuliana Reginatto. Referida reportagem inclui casos
famosos de ciúme, geradores de tragédias comoventes e transcreve trecho
importante do livro Ciúme – o lado amargo do amor, de Eduardo
Ferreira Santos, doutor em ciências médicas e mestre em psicologia, que
extraímos da reportagem citada: “O ciúme é egoísta. A pessoa exerce o
ciúme para restringir a liberdade do outro. Podemos compará-lo com a
dor: todo mundo sente dor, mas não é normal sentir muita dor, por tempo
prolongado. Ficar enciumado com uma determinada situação é diferente de
ser ciumento sempre, fantasiando motivos”.
A reportagem traz também o relato de
Cíntia Valadares, que procurou ajuda antes que uma obsessão pelo
ex-noivo culminasse em tragédia: “Por causa do meu ciúme ele foi parar
na delegacia.
Como eu não poderia ir a um jantar com ele e não queria
que fosse sozinho, fiz uma denúncia falsa. Inventei que havia sido
roubada e que sabia onde o ladrão estava. Dei o endereço da festa e ele
ficou detido por quatro horas. Para reatarmos, ele impôs que eu
procurasse tratamento”.
O tema, pois, merece cuidado e
atenção, pelos desdobramentos prejudiciais que acarreta nos
relacionamentos. Embora tenha usado o título acima para chamar a atenção
do leitor, o ciúme é também insegurança, forma de chamar atenção e um
verdadeiro transtorno, para o qual os psicólogos estão, estes sim mais
do que eu, capacitados para ampliar as considerações sobre causas,
consequências e tratamento. Mas é também, sem dúvida, em muitos casos,
uma prova de desamor.
Quem ama, confia! E prender ou
constranger alguém, impedir relacionamentos e vigiar, como verdadeira
neurose, é caso para terapia. Não somos propriedade de ninguém. Somos
seres em aprendizado, necessitados uns dos outros, para nos estendermos
as mãos nas experiências que nos façam crescer e conviver com harmonia.
Seu site: www.orsonpcarrara.com.br
e-mail: orsonpeter@yahoo.com.br
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