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30 junho 2016

Morte, um tema que ainda golpeia anseios e aflige sentimentos - Jorge Hessen



MORTE, UM TEMA QUE AINDA GOLPEIA ANSEIOS E AFLIGE SENTIMENTOS


O homem contemporâneo, que investiga desde o micro ao macrocosmo, cambaleia ante os vestíbulos da sepultura com a mesma amargura dos egípcios, dos gregos e dos romanos de épocas recuadas. Os milênios que arrasaram civilizações e refundiram povos não transformaram a emblemática expressão do túmulo. Infinito ponto de interrogação, a morte continua ferindo sentimentos e torturando inteligências. O homem tem sentido perturbação e temor perante a expectativa da desencarnação. E esse receio tem sido alimentado por uma mistura de falsos conceitos religiosos, senso comum e crenças pessoais arraigadas.

O problema do medo da morte é que ele pode impedir que se tenha encanto na vida e minar a confiança de que a vida tenha maior significado. As religiões textualistas são especialmente responsáveis por gerar uma série de fobias e mitos a respeito da inevitável viagem ao túmulo. A má formação religiosa tem deixado muitas pessoas confusas a respeito da situação dos mortos no além-tumba. Os destinos, que incluem o céu, inferno, purgatório, limbo, vão desde o misterioso até o absolutamente assombrador. Por outro lado, a obra Death -The Final Stage of Growth afiança que a morte é uma parte integrante da nossa vida. É normal, é o fim natural de todos os organismos vivos. Tal crença materialista, por sua vez, tem fomentado uma filosofia niilista e o comportamento pessimista.

Há pessoas que sofrem de tanatofobia (receio mórbido da morte). Psicólogos têm examinado os efeitos mentais e sociais causados por pensar na morte. Segundo alguns, pensar na morte nos torna mais nacionalistas, mais preconceituosos e reforça atitudes igrejeiras ou inconscientemente religiosas, bem como afetam as crenças políticas. Narram que a morte nos deixa mais punitivos e conservadores. A lembrança da morte alimenta o desejo por fama comumente associado a uma imortalidade simbólica, daí a busca pela imortalidade nas tais academias de letras.

Será que pensar mais na morte pode nos tornar mais punitivos e preconceituosos? Talvez n’alguns tais efeitos possam ocorrer justamente porque estejam desacostumados a pensar e falar sobre a morte. Entendemos que pensar diariamente sobre a inexorável lei da desencarnação pode nos tornar mais sóbrios diante dos desafios do dia-a-dia. Reconhecemos além disso que o viver tentando ocultar na consciência a futura desencarnação demonstra uma evidente pusilanimidade diante dos necessários obstáculos da reencarnação.

O problema do medo da morte é que ele pode impedir que tenhamos liberdade e prazer de viver. Daí o conforto que a Doutrina Espírita nos traz, ao instruir sobre a vida do espírito aqui e no além. Somos espíritos eternos, nossa vida não principia nem termina em uma única existência. Da mesma forma, as legítimas afeições são para sempre. As afeições não morrem com a desintegração do corpo físico. Os sentimentos não pertencem ao corpo, mas ao espírito, e os transportamos conosco. A morte apenas dilata as concepções e nos aclara a introspecção, iluminando-nos o senso moral, sem resolver, obviamente, de maneira absoluta, os problemas que o Universo nos propõe a cada passo, com os seus espetáculos de grandeza.

A desencarnação é a única regra para a qual não há exceção. Todos pereceremos, portanto não há como iludirmos o pensamento tentando camuflar esse impositivo da natureza. Em face disso, permitamos que o pensamento sobre a “morte” componha de forma ininterrupta e serena nossos estados mentais, reflexão sem a qual estaremos desaparelhados para a desencarnação ou até despreparados para enfrentar com resignação a “morte” dos nossos entes queridos.

A “morte” física não é o extermínio das aspirações e anseios no bem, porém o ingresso para a existência autêntica, para a vida real. Sim! A existência física é ilusória, fugaz, transitória demais. A separação do corpo pela “morte” não é uma anomalia da natureza; simplesmente transfere-se da dimensão física para o ambiente espiritual. Todavia, efetivamente importa refletir que “morrer” (término da vida biológica) e desencarnar (desligamento do perispírito) são fenômenos que nem sempre acontecem simultaneamente. Os intervalos de tempo para desligar-se do corpo variam para cada Espírito. Para uns podem ser mais demorado, para outros podem ser passagens ligeiras.

Nossas ações tecem asas de libertação ou grilhetas de cativeiro, para a nossa vitória ou nossa perda. A maior surpresa da morte física é a de nos colocar face a face com própria consciência, onde edificamos o céu, estacionamos no purgatório ou nos precipitamos no abismo infernal. Nesse sentido, a ninguém devemos o destino senão a nós próprios.

O intervalo de tempo entre a “morte” biológica e a desencarnação tem relação direta com os pensamentos e ações praticados enquanto encarnados. Ninguém topará com o “céu” ou o “inferno” do lado de “lá”, porquanto o “empíreo” e a “geena” são conteúdos mentais construídos aqui no plano físico. Após o fenômeno da desencarnação, cada Espírito irá deparar com o cárcere ou a liberdade de consciência a que faz merecer como fruto do desleixo ou disciplina mental que cultivou durante a experiência física.

São indescritíveis flagelações no além, que vão da inconsciência descontínua à loucura completa, senhoreiam as mentes torturadas, por tempo variável, conforme as atenuantes e agravantes da culpa, induzindo as autoridades superiores a interna-las no plano físico (reencarnação), quais enfermos graves, em celas físicas de breve duração, para que se reabilitem, gradativamente, com a justa cooperação dos Espíritos reencarnados, cujos débitos com eles se afinem. Os endividados que se afundaram nos excessos, nas viciações, nos prazeres mundanos, cunham intensas impressões e vínculos magnéticos na matéria, e unicamente alcançarão a liberação desses laços após um intervalo de tempo muito longo. Lembrando que mesmo após a ruptura dos embaraços magnéticos, que o algemavam à vida física, padecerá no além, por tempo indefinido, os tormentos disseminados nas vias de suas experiências no mal (eis aí a símbolo do inferno).

Já os que vivem com mais dedicação às coisas do Espírito, esses encontram maiores elementos de paz e felicidade no futuro. Todos os que alcançaram aproveitar a encarnação sem viciações e apegos, os que cumpriram a lei de amor, adquirem laços magnéticos menos densos prendendo o Espírito ao corpo. Nesse caso, a desencarnação será rápida, proporcionando adequada liberdade, até mesmo antes de sua consumação. Para os que sofreram mais, em razão da sua renúncia aos apelos da vida mundana, a morte é um remanso de tranquilidade e de esperança. Encontrarão no além a paz ambicionada nos seus dias de lágrimas torturantes (eis aí a metáfora do céu).

Jorge Hessen
Site: A Luz da Mente
 

29 junho 2016

O ser humano - Divaldo P.Franco

 
O SER HUMANO

Inúmeros estudiosos do ser humano asseveram que ele é constituído, sob o ponto de vista psicológico, por cinco características: personalidade, conhecimento, identificação, consciência e individualidade.

À medida que desenvolve os valores intelecto-morais, aprimora-se, enriquece-se de beleza e de harmonia. Em luta constante, porém, a personalidade tenta manter-se dominadora, permitindo-se violar todas as regras estabelecidas para o equilíbrio da sociedade, em favor da sua autorrealização.

Portadora da sombra que se assenhoreia das outras faculdades, conduz o indivíduo para os desvãos do crime de toda ordem, sobrepondo-se aos demais, embora conhecendo as deficiências morais.

O processo de evolução, no entanto, trabalha para que haja a superação do ego e a perfeita identificação com o self, o que significa controle ideal de todas as suas possibilidades em favor da individualidade, que é o Espírito imortal.

Quando o ser identifica-se como imperecível, empenha-se por libertar-se das paixões primárias e esforça-se para conquistar os valiosos recursos do amor e da abnegação, optando pelo bem-estar que favorece o desenvolvimento ético-moral da Humanidade. Enquanto permanece vinculado às ideologias materialistas, com algumas exceções, entrega-se aos desvarios para viver o prazer até a exaustão, tudo fazendo para o aprisionamento na posse e nos frutos espúrios que lhe advêm, especialmente quando essa aquisição é conseguida mediante a ilicitude, a corrupção e o vício.

Nunca será demasiado afirmar que o ser humano tem necessidade urgente de desenvolver o sentimento do amor, superar os instintos básicos, utilizando-os por necessidade, porém, mantendo os ideais que favorecem a conquista da consciência cósmica, a que deverá viger no futuro, quando o bem triunfar entre as criaturas.

Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no Jornal A Tarde, coluna Opinião, em 3.12.2015.

28 junho 2016

A Menina que chorava na calçada - Hermínio C.Miranda




A MENINA QUE CHORAVA NA CALÇADA


NUMA DESSAS MANHÃS ensolaradas de domingo, saímos para a habitual caminhada pelas ruas mais tranqüilas do bairro em que moramos.

Logo ali em baixo, a uma quadra de distância, chorava uma menina na calçada. Não tinha mais que três ou quatro anos, era bonita e estava bem vestidinha, como se acabasse de se aprontar para um passeio. A poucos passos dela um jovem senhor contemplava-a, amargurado. Não era um choro escandaloso, birrento e malcriado, o dela, mas pranto sofrido, vindo de um sofrimento maior e mais profundo que se mostrava no seu olhar angustiado. A dor da querida e desconhecida irmãzinha doeu em mim também. Antes que desse conta do que fazia, aproximei-me dela e coloquei minha ternura de avô em algumas palavras de solidariedade e consolo. Por que razão estaria chorando aquele ser que apenas reiniciava suas experimentações com a vida? Não quis ser indiscreto, nem invasivo, dado que todos nós temos direito à privacidade, mas o jovem fez, voluntariamente, um comentário sucinto: a menina queria que a mãe também fosse com ela. Não me caberia perguntar mais nada e nem precisava. Desenhou-se logo todo o quadro.

Papai e mamãe estavam, certamente, separados. A justiça decidira que papai ficaria autorizado a vir buscá-la aos domingos para passar o dia com ele. Teria ele outra companheira?

Ou mamãe estaria de marido novo? Não sei. Para a menina que chorava na calçada, eles continuavam sendo papai e mamãe, só que, agora, separados. Falavam pouco ou nunca, um com o outro, mal se olhavam, pareciam inimigos. Mal começara a vida para ela e já as coisas mudavam de maneira brutal, no seu pequeno universo pessoal. De repente, ficaram confusas e incompreensíveis.

Por exemplo: por que razão mamãe não podia ir com ela passar o dia com papai?

Às vezes bem que a gente gostaria de fazer umas mágicas, como naquelas antigas histórias de fadas. Como a de reunir aquele triângulo, mãe, pai e filha. Mas isto importava desfazer outro triângulo, mamãe, papai e a ‘outra’, ou, quem sabe, papai, mamãe e o ‘outro’. Ou, então, pegar aquela criança ao colo e levá-la para uma terra onde ninguém se separasse de ninguém. Mas isso eu não podia fazer e ainda que pudesse, não o faria, sem interferir no livre-arbítrio de cada uma das pessoas envolvidas.

Tratava-se de um drama pessoal com várias pontas espinhentas que machucavam a todos, especialmente a sofrida menina que queria levar consigo a mãe naquele passeio de domingo de sol.

Só me restava seguir meu caminho e vê-los seguirem o deles. Seja como for, levei comigo um pouco daquela dor e deixei com a criança confusa uma vibração de ternura. Levei mais que isso, um tema para meditar.

Vindo de casamentos duradouros, minhas matrizes de avaliação de certas situações da vida encontram-se — reconheço-o honestamente —, talvez desatualizadas e inservíveis para muita gente. Mãe e pai, sogra e sogro só se separam pela morte. Ao escrever estas linhas, minha própria união já passou pelo marco número 50. Não posso, obviamente, responder pelos nossos antepassados; quanto a nós, contudo, sim, houve problemas de relacionamento ao longo do percurso. Quem não os tem? Ademais, estamos aqui precisamente para esmerilhar arestas, corrigir desafeições, ampliar afetos, cultivar entendimentos, pacificar antigos rancores, testemunhar dedicações e devotamentos. Se no primeiro ou no segundo embate, ou no centésimo, damos o processo de ajuste por encerrado, estaremos apenas adiando para não sei quando e onde e como, a oportunidade da paz. É que as harmonias da paz a gente não consegue comprar na farmácia, ou no supermercado — é trabalho lento e difícil para uma vida e até mais. 

Exige compreensão, tolerância e renúncia. O lar é um ponto de encontro, o momento cósmico é aquele, as condições estão ali criadas para que tudo dê certo e, se cada um tiver que tomar diferentes rumos após o trabalho da conciliação, partirão todos como amigos que apenas se despedem por algum tempo, com encontros marcados no futuro, para dar prosseguimento aos projetos em comum, e, portanto, para novas etapas evolutivas, dado que somos todos companheiros de viagem. Não adianta a gente abandonar de repente a tarefa do entendimento ou da convivência para seguir sozinho, mesmo que se esteja em condições de fazê-lo. Vai faltar alguma coisa no futuro. Alguma coisa que a gente deixou de fazer quando tinha tudo para concretizá-la.

Uma entidade espiritual contou-nos, a respeito disso, uma historinha ilustrativa. Ela —uma mulher, vinha caminhando com um companheiro de jornada evolutiva. Acerta altura, precisavam dar um passo decisivo. Figurativamente, pararam ambos a uns poucos passos de um portal que prenunciava nova etapa de realizações e progresso, dado que percebiam luzes brilhando lá adiante. Houve um momento de confabulação, pois ele relutava em seguir adiante. Acabaram separando-se. Ele ficou e ela foi em frente. Sofria, agora, por não ter insistido um pouco mais ou, quem sabe, ter permanecido com ele por mais algum tempo, até que ele se decidisse a acompanhá-la. Não o fez e, daquele momento em diante, cada um seguiu sua própria rota. Ela nos contava agora, em pranto, o desacerto da decisão. Perderam-se de vista por muito tempo. Ela caminhou um bom trecho pelos caminhos da luz, mas ele demorou-se pelos seus próprios espaços, provavelmente, porque não estavam mais juntos para negociar com a vida a estratégia da paz.

— É como se você tivesse, lá no futuro — contou ela —, um valioso tesouro guardado num cofre à sua espera. Você chega primeiro, mas o cofre só poderá ser aberto com duas chaves e você tem apenas a sua; a outra está com a pessoa que ficou para trás. Ou você a espera ou tem que ir buscá-la, para terem, juntos, acesso ao tesouro.

A história daquela irmã ficou em mim como uma parábola. Será que não estamos sendo impacientes demais com os companheiros de viagem? Será que um pouquinho mais de tolerância e compreensão não teriam evitado os desacertos?

A família é a nossa universidade. Ou saímos dela diplomados, com mestrado ou PhD concluídos, prontos para as conquistas pessoais, ou dela nos retiramos precipitadamente interrompendo o curso das esperanças. Tanto quanto pude apurar, na pesquisa feita para escrever a parte que me coube no livro de Deolindo Amorim, ainda não se chegou, após vários milênios de experimentação, a um modelo melhor de célula social do que a família. E posso garantir que não faltou experimentação. Tentou-se de tudo, numerosas fórmulas e processos foram testados, mas o modelo antigo resistiu. Se agora as coisas não estão dando certo, acham os entendidos que a falha não é do modelo, mas das pessoas.

Como não sou especialista do ramo, prefiro não entrar na discussão, o que não significa, de modo algum, que deixe de ter minha opinião a respeito. Tenho-a e muito nítida. Acho que se jogou fora a fórmula antes de ter uma que a substituísse com vantagens, se é que um dia a teremos. Penso mais ainda: que a falência do sistema começou a partir do momento em que se separou sexo para um lado e amor para outro. Vejo nessa dicotomia “amor sexo” a projeção, no plano em que vivemos, de outra dicotomia mais ampla, ou seja, matéria e espírito, na qual o amor é atributo da entidade espiritual e o sexo instrumentação meramente biológica, a fim de assegurar a todos renovadas oportunidades de reencarnação. Juntos, realizam a tarefa da continuidade da vida na carne, ao passo que a separação deles cria turbulências imprevisíveis, porque, desligado do componente espiritual do ser o sexo recorre ao artifício da paixão, que, em vez de chama que ilumina e aquece, é labareda que consome e logo se extingue, em sombras.

Enquanto nossas paixões vão e vêm, ofuscam-nos e apagam, sofrem os seres que se dispuseram a conviver conosco, nesta dimensão.

Conflitos entre pai e mãe, repercutem no âmago dos filhos, sopram-lhes temores aos ouvidos, criam para eles um clima de incertezas e insegurança, paralisam esperanças. Eles precisam de ambos para levar a bom termo o projeto de vida que lhes cabe implementar. Alguns deles vêm para a aventura da vida terrena com o propósito de cimentar a união, reparando fraturas remanescentes de passadas disputas. A tarefa da conciliação constitui elevada prioridade para todos e, por isso, não há esforço ou sacrifício, tolerância ou compreensão que sejam demais. Se o preço parece excessivamente alto é porque a dívida é, igualmente, vultosa.

Se, porém, a despeito de tudo o que for dito, planejado e considerado, a ruptura ocorre mesmo, pelo menos que se faça tudo civilizadamente, sem rancores ou agressões, com um mínimo possível de dor para todos, mas, principalmente, para os filhos.

Estou dramático? Talvez. Apocalíptico? Não. É o que vemos nos painéis que a vida em sociedade vem exibindo nestes tempos difíceis. Se, por acaso, você me perguntar que tenho eu a ver com isso, um septuagenário já no poente da existência, poderei dizer das minhas razões.

Há uns poucos anos, numa das viagens aos Estados Unidos, fui convidado para fazer uma palestra a um grupo de pessoas interessadas nos enigmas e perplexidades da vida. Não que eu tenha soluções prontas e acabadas para as mazelas humanas, mas porque venho insistindo teimosamente, obstinadamente, em que está fazendo uma falta terrível à sociedade em que vivemos a visão da realidade espiritual. Em vez de nos vermos como espíritos temporariamente acoplados a um corpo físico, assumimos a identidade desse corpo, confundimo-lo com a nossa própria individualidade e estamos levando o espírito a reboque, como um traste inútil e que, além de tudo, estaria atrapalhando a plena realização da insensatez que parece instalada na memória coletiva.

Mas e daí? Por que a preocupação, se já está chegando a hora de você ir embora, para essa dimensão cósmica da qual você tanto fala? — insistirá você. É simples, “meu caro minha querida”.

Esta não será, certamente, minha derradeira passagem pela matéria bruta. Terei que voltar para aqui de outras vezes, como também você. Ao retornar, em novo corpo físico, para mais uma existência, não me importa qual será a minha raça, cor, nacionalidade ou condição social. O que desejo, pretendo e peço a Deus é que tenha mãe e pai que se amem e que me amem. E que me proporcionem o apoio e o carinho de que vou necessitar até que possa recomeçar a exploração do mundo com meus próprios recursos. Foi o que disse aos americanos.

Não desejo, se isto for possível, ficar chorando em alguma esquina do mundo futuro, porque minha mãe não pode ficar junto de mim e de meu pai. Vou precisar deles, minuto por minuto, do amor que desejo que tenham por mim, tanto quanto do amor que tenham um pelo outro, por Deus e pela vida. Quero que me falem de Deus, me ensinem de novo a falar com ele, a vê-lo através das minhas lágrimas e a senti-lo em mim, nos momentos de harmonização cósmica. Como iria cumprir um programa desses

numa sociedade que se esqueceu d’Ele, tanto quanto de si mesma, porque só cuida do momento que passa e do próximo prazer? 

Do livro "Nossos Filhos São Espíritos", cap. 21, Hermínio Correa de Miranda

27 junho 2016

Perdoar a si mesmo - Morel Felipe Wilkon


PERDOAR A SI MESMO


Perdoar a si mesmo é mais urgente que perdoar ao próximo. Se você não perdoar a si mesmo, como vai ter condições de perdoar a quem quer que seja? Se não perdoar seus próprios erros, suas próprias faltas, como conseguirá perdoar os erros e faltas alheias? Perdoe primeiro a si mesmo, logo, urgentemente, se possível ainda hoje, pois ninguém merece viver carregando culpas velhas de erros cometidos no passado. 

Não faça essa injustiça consigo mesmo, perdoe-se! O sentimento de culpa age como autopunição, mas a autopunição só é válida quando lhe faz querer reparar o mal cometido. Para chegar a esse ponto, você deve passar pelo estágio do remorso, que é o reconhecimento do mal realizado e consequente sofrimento; e do arrependimento, que é a ânsia de reparar ou compensar o mal que foi causado por você. Se você já passou desse ponto, a autopunição não tem mais serventia para você. É um peso morto.

Se você não chegou a arrepender-se, não acha que seja necessário reparar ou compensar o mal que causou, talvez esteja entrando ou já entrou num processo de vitimização e auto piedade. Reconheça seus erros, levando em conta que muitas vezes erramos tentando fazer o que nos parece melhor em determinadas circunstâncias.

Reconheça seus erros, reveja os sentimentos e valores que o levaram a cometer deslizes e adotar comportamentos errados, abra-se consigo mesmo. Você certamente já se deu conta disso, mas não custa perguntar: Você já se deu conta de que você mesmo é sua única companhia obrigatória? Que você vai acompanhar você para o resto dessa vida e para além dela, para sempre? Você já percebeu que você está com você em todos os momentos da sua vida, bons e maus, aproveitando os benefícios e sofrendo os malefícios? Se importe mais consigo mesmo. Respeite mais a si mesmo. E, acima de tudo, seja seu melhor amigo! Abra-se consigo mesmo, conte de seus velhos medos, de suas vergonhas, fraquezas que só você conhece. Cure essas feridas, seja amoroso consigo.

Você precisa de você. Perdoe-se! Faça as pazes com você, e comece já a mudar seu padrão de pensamentos e sentimentos. Controle seus pensamentos, eles são determinantes para o que você faz de você. Ame mais, comece por amar a você mesmo. Se não amar a você, como vai amar a seu próximo? Devemos amar o próximo como a nós mesmos, e devemos amar muito ao nosso próximo. Isso quer dizer que você deve amar-se muito, muito mesmo. Devemos perdoar ao próximo: “Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.” A quem você acha que está pedindo para perdoar as suas ofensas do mesmo modo que você perdoa a quem o ofendeu? Quem você acha que julga seus erros e ofensas? Deus? Não, Deus não julga, essa parte compete a nós mesmos, manifestações de Deus que somos. Somos nós que nos julgamos, somos nós que nos condenamos e somos nós que na maioria das vezes nos esquecemos de nós mesmos no fundo do cárcere da autopunição. Depois de já ter cumprido a pena a que inconscientemente nos impomos, ficamos esquecidos na masmorra suja do remorso inútil esperando por nossa própria clemência. 

Então tenha consideração por você mesmo, reveja seus conceitos, tome mais cuidado com suas atitudes para com você mesmo e para com o próximo. Acima de tudo, seja um vigilante atento dos seus pensamentos. Conduza seus pensamentos para o lado positivo das coisas, pois tudo na vida tem seu lado bom, quando queremos vê-lo. É muito importante que você perdoe ao próximo. Na verdade, é imprescindível. Mas antes disso, perdoe a si mesmo. Já está mais do que na hora.


Morel Felipe Wilkon
Fonte: Associação de Divulgação da Doutrina Espírita

26 junho 2016

O pecado da permanência - Jane Maiolo janemaiolo@bol.com.br



 O PECADO DA PERMANÊNCIA


Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores. Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos. [1]

A palavra pecado no hebraico e no grego comum significa "errar", no sentido de não atingir um alvo, ideal ou padrão. Na acepção bíblica denota qualquer ato, sentimento ou pensamento que viola a Lei de Deus, ou seja, pecar é “falhar” ou transgredir os Códigos dos estatutos divinos.

Bem provável que nós seres espirituais em constante aprendizado na matéria densa já experienciamos inúmeras situações onde a “falha” era nossa marca registrada.

A transgressão à lei de amor tem nos feito cativos, recalcitrantes e vagarosos.

O Espiritismo surge em nossa existência como farol a iluminar os caminhos que percorremos. É bem verdade que antes do conhecimento do Espiritismo não era tão consciente e nítida nossa condição de espíritos imortais e responsáveis pelos atos perante a eternidade. Beneficiados pela Terceira Revelação somos compelidos a adotar novos rumos de entendimento, sempre atentos à afirmativa do apóstolo Tiago: “Portanto, se alguém sabe fazer o que é certo e ainda assim não o faz, está pecando. ” [2] É bem verdade que por decorrência dessas inobservâncias e “falhas” acumulamos débitos, muitas vezes impagáveis, contudo por misericórdia divina realinharemo-nos com as propostas de evolução que nenhum de nós conseguiremos fugir.

Pelas nossas transgressões à lei divina, intoxicamo-nos de ideias malsãs, comportamentos duvidosos e geramos frutos do dissabor. Adoecemos, pois o corpo mental não suporta a vibração e sintonia constante do mal.

Somos seres completos e complexos. Entre o espírito e o corpo físico existe o corpo psicossomático (períspirito) dotado de um campo magnético definido por André Luiz como túnica eletromagnética. Tal Benfeitor revelou a singularidade da vida no mundo espiritual, através da psicografia de Francisco Candido Xavier. Esse corpo sutil, quintessenciado é capaz de captar as ondas do pensamento, agregá-las, irradiá-las e emanar os fluidos pertencentes à sua identidade espiritual. Esclarece o autor de “Nosso Lar” que “todos os seres vivos (...) dos mais rudimentares aos mais complexos se revestem de um halo energético que lhes corresponde à natureza (…) Nas reentrâncias e ligações sutis dessa túnica eletromagnética de que o homem se entraja, circula o pensamento, colorindo-a com as vibrações e imagens de que se constitui, aí exibindo, em primeira mão, as solicitações e os quadros que improvisa, antes de irradiá-los no rumo dos objetos e das metas que demanda. ” [3]

A mente, essa incógnita para a ciência humana, e verdadeiramente deve ser conhecida, explorada, apreendida e meditada. As “falhas” que temos cometido por imaturidade, insensatez, invigilância, ignorância ou simplesmente por maldade tendem a conspurcar essa túnica eletromagnética, que Jesus afirmou ser o traje nupcial necessário para permanecer nas esferas mais elevadas do mundo espiritual.

As anomalias psíquicas estão cada vez mais frequentes e passamos achar que é normal aquilo que antanho conceituamos anormal. 

Agredimos o semelhante, dissimulamos situações, corrompemos os sentimentos, caluniamos contra o próximo e tantas outras insanidades prepetramos ao longo do tempo. Portanto, cometemos “pecados”.

O homem do século XXI enfermou moralmente. “Falhou”. Transgrediu. “Pecou”. Não que dantes estivesse incólume ao “pecado”, mais porque a ignorância, de certa forma atenuava, suas responsabilidades. Evoluímos. Sentimos. Expressamos.

O corpo doente é o reflexo do estado mórbido do ser espiritual. As doenças psicossomáticas nascem da obstinação da ira, do rancor, do ressentimento, da mágoa, do orgulho, da presunção, dentre tantos outros vícios morais que impregnamos na intimidade. O padrão mental que adotamos é capaz de alterar nossas estruturas mais íntimas a ponto de perturbar as células físicas e culminar em doenças instaladas no corpo físico pelo desiquilíbrio psicoemocional e energético.

O adoecer psíquico é o mais grave problema do ser imortal, visto que macula sua identidade espiritual conduzindo-o pelos caminhos da culpa, levando-o a experienciar angústias, medos, inseguranças, que nada mais são que consequências correspondentes às “falhas morais” ante os ditames dos códigos do BEM.

Importante lembrar que ao estagiar nessas estações de aprendizagem o espírito pode adotar, se assim o desejar, uma nova postura mental e compreender que haverá enormes esforços a serem empregados para realinhar-se ao que é bom, saudável e divino. Pois se a mente em desequilibrio é capaz de fazer-nos adoecer, é preciso aceitar racionalmente que a mente sã é capaz de gerar saúde em nós. É como diz o adágio: Mens sana in corpore sano ("uma mente sã num corpo são") é uma célebre frase latina, proveniente da obra Sátira X do poeta romano Juvenal.

Ensinariam os nobres amigos da erraticidade: “A espiritualidade vem demostrando a relação da mente com o sistema imunológico afirmando que ideias enobrecedoras levam a fixações positivas, com a formação de substâncias defensivas vindas do pensamento, com o aumento das imunoglobulinas” [4] que são as defesas do soro sanguineo.

A Doutrina Espírita vem lançar luzes sobre esses pontos nevrálgicos e nos ensina a buscar horizontes e fixar de maneira educativa nossa mente em paisagens mais esperançosas. É possível nos tranformar.

Busquemo-nos a renovação mental através da lei de justiça, amor e caridade e viveremos saudáveis invariavelmente identificados com as leis de Deus.



Referências bibliográficas:

[1]Tiago 2:9

[2]Tiago 4:17

[3] XAVIER, Francisco Cândido. Evolução em dois mundos- cap.17- primeira parte- ditado pelo espírito André Luiz – Brasília /DF: Ed FEB.

[4] Franco, Divaldo Pereira; Outros; Albuquerque, Alcione; Paulo, Jaider Rodrigues de – Livro: Das Patologias aos Transtornos Espirituais- AMEMG- pág, 78.1ª edição .BH. Editora INEDE, 2006.

25 junho 2016

A mediunidade é um privilégio? - Luiz Gonzaga Pinheiro



A MEDIUNIDADE É UM PRIVILÉGIO ?


"Sempre se disse que a mediunidade é um dom de Deus, uma graça, um favor divino. Por que, então, não é um privilégio dos homens de bem? E por que há criaturas indignas que a possuem no mais alto grau e a empregam no mau sentido?

- Todas as nossas faculdades são favores que devemos agradecer a Deus, pois há criaturas que não as possuem. Podias perguntar por que Deus concede boa visão a malfeitores, destreza aos larápios, eloquência aos que só a utilizam para o mal. Acontece o mesmo com a mediunidade. Criaturas indignas a possuem porque dela necessitam mais que as outras, para se melhorarem."

Bem tolo é o que assim pensar, ou ousar fazer da mediunidade objeto de suas satisfações pessoais.

A mediunidade indica, quase sempre, pesados títulos a resgatar, através das moedas do esforço e do aprimoramento colocadas a favor do próximo, quando o devedor se exime das angustiantes promissórias que o chumbam à retaguarda.

Admitir a mediunidade por outro prisma é resvalar no orgulho, tropeçar na vaidade e cair no fracasso.

É sabido que Deus fornece aos devedores valorosos empréstimos, que, aceitos e cultivados, representam a chave das algemas com as quais se imantam. A doença representa, não raro, a visita de Deus aos nossos sítios ou a resposta a nossos pedidos de saúde espiritual.

A dor física ou moral, criação nossa, há de sempre retornar aos nossos caminhos, no serviço de terraplenagem para rumos mais altos. A mediunidade representa a oportunidade santa para um acerto de contas com a vida, ocasião em que deve funcionar como um buril nas mãos hábeis do escultor.

Necessário é que se entenda que não há privilégios na lei divina. Recebe-se o que foi doado. A vida traz de volta aquilo que se lhe oferta. Considerar o médium como um predestinado, privilegiado ou santo, é desconsiderar a justiça divina, que pugna pela eqüidade.

Devemos, antes de tudo, entender o médium como aquele que tenta resgatar uma hipoteca de avultada quantia, razão pela qual necessita de apoio e compreensão. Tecer-lhe elogios, antecipar-lhe os primeiros lugares, buscá-lo em consultas vulgares é colocar-lhe graxa aos pés.

Diante do companheiro que usa a intermediação com o invisível, destacando os interesses mundanos ou pessoais, há de se lamentar o desvio da função, o tempo desperdiçado, o agravamento da dívida. Ninguém que mercadeje os talentos divinos fica sem a resposta da dor.

E a resposta da dor é a que todos conhecemos pelas nossas incoerências e desvios nas propriedades da alma. Bons e maus médiuns existem nas incontáveis atividades humanas. Todavia, resgata-se o mal praticado pelo bem operado, o ódio curtido pelo amor vivido, o trabalho negado pelo esforço dobrado. Mediunidade não é privilégio. Privilégio é trabalhar e sofrer por amor a Jesus Cristo, como afirma o iluminado mentor Emmanuel.

 Luiz Gonzaga Pinheiro

24 junho 2016

Síndrome da Vitima: A incapacidade de aceitar o mundo como ele é - Antônio Roberto Soares



SÍNDROME DE VÍTIMA: A INCAPACIDADE DE ACEITAR O MUNDO COMO ELE É

Todo o comportamento humano decorre da concepção que nós temos da realidade e nessa realidade existem dois pólos bastante distintos: aquilo que nós somos e aquilo que nos cerca. Nossa postura na vida depende do modo como estabelecemos essa relação: a relação entre nós e os outros, entre nós e os membros da nossa família, entre nós e outros membros da sociedade, entre nós e as coisas, entre nós e o trabalho, entre nós e a realidade externa. A nossa maneira de sentir e de viver depende de como cada um de nós interioriza a relação entre essas duas partes da realidade. E uma das formas que aprendemos de nos relacionarmos com os outros é a postura que designamos por vítima.

O que é a vítima? A vítima é a pessoa que se sente inferior à realidade, é a pessoa que se sente esmagada pelo mundo externo, é a pessoa que se sente desgraçada face aos acontecimentos, é aquela que se acostuma a ver a realidade apenas em seus aspectos negativos. Ela sempre sabe o que não deve, o que não pode, o que não dá certo. Ela consegue ver apenas a sombra da realidade, paralelo a uma incrível capacidade para diagnosticar os problemas existentes. Há nela uma incapacidade estrutural de procurar o caminho das soluções e, neste sentido, ela transfere os seus problemas para os outros; transfere para as circunstâncias, para o mundo exterior, a responsabilidade do que está lhe acontecendo. Esta é a postura da justificativa. Justificar-se é o sinal de que não queremos mudar. Para não assumirmos o erro, justificamo-nos, ou seja, transformamos o que está errado em injusto e, de justificativa em justificativa, paralisamo-nos, impedimo-nos de crescer.

A vítima é incompetente na sua relação com o mundo externo. 

Enquanto colocarmos a responsabilidade total dos nossos problemas em outras pessoas e circunstâncias, tiraremos de nós mesmos a possibilidade de crescimento. Em vez disso, vamos procurar mudar as outras pessoas.

Este tipo de postura provém do sentimento de solidão. É quando não percebemos que somos responsáveis pela nossa própria vida, por seus altos e baixos, seu bem e seu mal, suas alegrias e tristezas; é quando a nossa felicidade se torna dependente da maneira como os outros agem. E como as pessoas não agem segundo nosso padrão, sentimo-nos infelizes e sofredores. Realmente, a melhor maneira de sermos infelizes é acreditarmos que é à outra pessoa que compete nos dar felicidade e, assim, mascaramos a nossa própria vida frente aos nossos problemas.

A postura de vítima é a máscara que usamos para não assumirmos a realidade difícil, quando ela se apresenta. É a falta de vontade de crescer, de mudar‚ escondida sob a capa da aparição externa. Essa é uma das maiores ilusões da nossa vida: desejarmos transferir para a realidade que não nos pertence, sobre a qual não possuímos nenhum controle, as deficiências da parte que nos cabe. Toda relação humana é bilateral: nós e a sociedade, nós e a família, nós e o que nos cerca. O maior mal que fazemos a nós próprios é usarmos as limitações de outras pessoas do nosso relacionamento para não aceitarmos a nossa própria parte negativa.

Assim, usamos o sistema como bode expiatório para a nossa acomodação no sofrimento. A vítima é a pessoa que transformou sua vida numa grande reclamação. Seu modo de agir e de estar no mundo é sempre uma forma queixosa, opção que é mais cômoda do que fazer algo para resolver os problemas. A vítima usa o próprio sofrimento para controlar o sentimento alheio; ela se coloca como dominada, como fraca, para dominar o sentimento das outras pessoas.

O que mais caracteriza a vítima é a sua falta de vontade de crescer. 

Sofrendo de uma doença chamada perfeccionismo, que é a não aceitação dos erros humanos, a intolerância com a imperfeição humana, a vítima desiste do próprio crescimento. Ela se tortura com a idéia perfeccionista, com a imagem de como deveria ser, e tortura também os outros relativamente àquilo que as outras pessoas deveriam ser. Há na vítima uma tentativa de enquadrar o mundo no modelo ideal que ela própria criou, e sempre que temos um modelo ideal na cabeça é para evitarmos entrar em contato com a realidade. A vítima não se relaciona com as pessoas aceitando-as como são, mas da maneira que ela gostaria que fossem. É comum querermos que os outros sejam aquilo que não estamos conseguindo ser, desejar que o filho, a mulher e o amigo sejam o que nós não somos.

Colocar-se como vítima é uma forma de se negar na relação humana. Por esta postura, não estamos presentes, não valemos nada, somos meros objetos da situação. Querendo ser o todo, colocamo-nos na situação de sermos nada. Todavia, as dificuldades e limitações do mundo externo são apenas um desafio ao nosso desenvolvimento, se assumirmos o nosso espaço e estivermos presentes.

Assim, quanto pior for um doente, tanto mais competente deve ser o médico; quanto pior for um aluno, mais competente deve ser o professor. Assim também, quanto pior for o sistema ou a sociedade que nos cerca, mais competentes devemos ser com pessoas que fazem parte desta sociedade; quanto pior for nosso filho, mais competentes devemos ser como pai ou mãe; quanto pior for a nossa mulher, mais competentes devemos ser como marido; quanto pior for nosso marido, mais competentes devemos ser como esposa, e assim por diante. Desta forma, colocamo-nos em posição de buscar o crescimento e tomamos a deficiência alheia como incentivo para nossas mudanças existenciais. Só podemos crescer naquilo que nós somos, naquilo que nos pertence. A nossa fantasia está em querermos mudar o mundo inteiro para sermos felizes. Todos nós temos parte da responsabilidade naquilo que está ocorrendo. Não raras vezes, atribuímos à sociedade atual, ao mundo, a causa de nossas atribulações e problemas. Talvez seja esta a mais comum das posturas da vítima: generalizar para não resolver.

Os problemas da nossa vida só podem ser resolvidos em concreto, em particular. Dizer, por exemplo, que somos pressionados pela sociedade a levar uma vida que não nos satisfaz, é colocar o problema de maneira insolúvel. Todavia, perguntar a nós mesmos quais são as pessoas que concretamente estão nos pressionando para fazer o que nos desagrada, pode ajudar a trazer uma solução. 

Só podemos lidar com a sociedade em termos concretos, palpáveis. 

Conforme nos relacionamos com cada pessoa, em cada lugar, em cada momento, estamos nos relacionando com a sociedade, porque cada pessoa específica, num determinado lugar e momento, é a sociedade para nós naquela hora. Generalizamos para não solucionarmos, e como tudo aquilo que nos acontece está vinculado à realidade, todas as vezes que quisermos encontrar desculpas para nós basta olhar a imperfeição externa.

Colocar-se como vítima é economizar coragem para assumir a limitação humana, é não querer entender que a morte antecede a vida, que a semente morre antes de nascer, que a noite antecede o dia. A vítima transforma as dificuldades em conflito, a sua vida num beco sem saída. Ser vítima é querer fugir da realidade, do erro, da imperfeição, dos limites humanos. Todas as evidências da nossa vida demonstram que o erro existe, existe em nós, nos outros e no mundo. Neurótica é a pessoa que não quer ver o óbvio.

A vítima é uma pessoa orgulhosa que veste a capa da humildade. O orgulho dela vem de acreditar que ela é perfeita e que os outros é que não prestam. Crê que se o mundo não fosse do jeito que é‚ se sua esposa não fosse do jeito que é‚ se seus filhos não fossem do jeito que são, se o seu marido fosse diferente, ela estaria bem, porque ela, a vítima, é boa, os outros é que têm deficiências, apenas os outros têm que mudar.

A esse jogo chama-se o "Jogo da Infelicidade". A vítima é uma pessoa que sofre e gosta de fazer os outros sofrerem com o sofrimento dela, é a pessoa que usa suas dificuldades físicas, afetivas, financeiras, conjugais, profissionais, não para crescer, mas para permanecer nelas e, a partir disso, fazer chantagem emocional com as outras pessoas.

A vítima é a pessoa que ainda não se perdoou por não ser perfeita e transformou o sofrimento num modo de ser, num modo de se relacionar com o mundo. É como se olhasse para a luz e dissesse: "Que pena que tenha a sombra...", é como se olhasse para a vida e dissesse: "Que pena que haja a morte...", é como se olhasse para o sim e dissesse: "Que pena que haja o não...". E se nega a admitir que a luz e a sombra são faces de uma mesma moeda, que a vida é feita de vales e de montanhas.

Não são as circunstâncias que nos oprimem, mas, sim, a maneira como nos posicionamos diante delas, porque nas mesmas circunstâncias em que uns procuram o caminho do crescimento, outros procuram o caminho da loucura, da alienação. As circunstâncias são as mesmas, o que muda é a disposição para o alvorecer e para o desabrochar, ou para murchar e fenecer.

Autor: Antônio Roberto Soares/Psicólogo

23 junho 2016

Encanto Pessoal - Joanna de Ângelis


ENCANTO PESSOAL

Generaliza-se e se intensifica, na sociedade hodierna, a irradiação agradável do encanto pessoal de cada criatura, que passa a condicionar-se em padrões de comportamentos capazes de conquistar admiração e gerar afetividade.

Campeões da beleza estudam técnicas de apresentação e postura, a fim de mais expandirem os recursos de que são dotados, colocando-se a serviço do mercado das sensações, de que desfrutam largas fatias de fama e de dinheiro.

Representantes do sexo em expansão, fixam conduta e artifícios de sedução, adquirindo certo magnetismo artificial de que se impregnam, conquistando espaço nos veículos de comunicação de massa, vendendo sensações fortes, sob o açodar de interesses vigorosos.

Criaturas ambiciosas esfalfam-se em cursos de variada denominação, tentando imitar os seus ídolos, adaptando-se aos modismos, de forma a competir nos jogos das forças em desgoverno da propaganda exagerada, buscando aparecer e brilhar sob as luzes dos refletores.

***

O encanto pessoal passou a constituir meta a ser lograda, como se a vida ficasse reduzida à aparência e ao fulgor breve da quadra juvenil.

O magnetismo humano resulta do estado espiritual de cada ser.

Conforme sejam as suas expressões íntimas, irradia-se a claridade ou a sombra da sua constituição emocional.

Pode acontecer que a beleza física sobreponha-se aos estados mórbidos da personalidade, e um encanto que não corresponde à realidade se exteriorize atraente, agradável, avassalador...

O treinamento artificial pode favorecer a aparência do indivíduo, para que se lhe torne mais interessante a presença.

A maneira de falar, de vestir, de sentar, de andar, de comportar-se e o estudo de cada postura, dão ao ser humano um significado que contribui para a sua representatividade social.

Indispensável, porém, que haja um esforço para a sua mudança interior, no sentido de melhorar-se.

A aquisição e desenvolvimento dos valores morais permitem uma emanação de energia salutar, cativante, que torna a pessoa querida e respeitada.

A técnica exterior, porém, é verniz que não logra ocultar a face real do homem, enquanto o seu estado de alma, trabalhado com os valores intelecto-morais, dá-lhe o verdadeiro brilho, que impregna todos quantos dele se acercam.

Os expoentes do encanto pessoal, invejados e imitados, não raro vivem atormentados e inquietos, realizando mecanismos de evasão a fim de ocultarem, sob uma aparência irreal, o que lhes vai no íntimo.

***

Narram os Evangelhos que, de Jesus, se irradiava peregrina claridade e que as Suas vestes resplandeciam.

Quantos O tocavam se beneficiavam, pois que, Dele saíam virtudes...

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Se desejas possuir um superior magnetismo, envolvente e benéfico, em forma de encanto pessoal, ama e exterioriza o amor, tornando-te gentil e bom, afável e generoso, cordial e manso, alegre e devotado.

O amor é o dínamo gerador de todas as forças positivas e representativas da vida, ao teu alcance, para a glória e a honra da própria Vida.


Pelo Espírito Joanna de Ângelis
De “Alegria de Viver”, de Divaldo Pereira Franco

22 junho 2016

Tabagismo como libertar-se do vício - Magaly Sonia Gonsales


TABAGISMO COMO LIBERTAR-SE DO VÍCIO

Com sua proposta para o auto-conhecimento e a reforma íntima, o Espiritismo torna-se um grande aliado ao viciado que almeja sua libertação

Vícios, paixões e desatinos humanos normalmente se desenvolvem e fazem morada em nosso corpo carnal quando estamos invigilantes e quando nosso padrão vibratório está tão baixo que nos deixamos dominar por forças do plano astral inferior ou seja, quando perdemos por completo o controle sobre nossos próprios atos e quando não mais conseguimos evitar certas ações e atitudes que até então julgávamos ter sobre nossa vontade. Então, infelizmente, estamos nas malhas do vício. Isso normalmente acontece quando estamos invigilantes e por mantermos um comportamento moral condizente com espíritos do plano inferior e, portanto, ficamos literalmente nas mãos deles. Dessa forma, não mais teremos nenhum controle, nem sobre nosso corpo físico e nem sobre os danos que estamos causando ao nosso perispírito, ao dar vazão aos vícios em geral e desregramentos da vida carnal. Nessa categoria, podemos citar o alcoolismo, o tabagismo, os tóxicos, a alimentação carnívora, o sexo, a maledicência, a avareza, a mentira e tantos outros que nos oprimem, que atentam contra a delicadeza da vestimenta perispiritual que nos envolve e sobre a qual estamos atentando e, muitas vezes, destruindo o que de mais importante nos foi emprestado para que possamos evoluir e alcançar outros planos espiriiuais que é o nosso corpo físico.

O vício do fumo foi adquirido pelos espanhóis, junto aos índios da América Central, que o encontraram nas adjacências de Tobaco, provínoia de Yucatán. Um dos primeiros a cultivar o tabaco na Europa foi o Monsenhor Nicot, embaixador da França em Portugal, de onde se derivou o nome de nicotina, dado à principal toxina nele contida. O fumo, pelos danos que ocasiona ao organismo, é, por isso mesmo, perigo para o corpo e para a mente..."- Examinando a Obsessão. Os distúrbios provocados nos que se iniciam no vício, tais como tonteiras, vômitos, perturbações bronquiais, são indício do envenenamento que o fumo provoca e da luta que o organismo trava ao se defender para adaptar se ao mesmo. Uma vez estabelecido o vício, a pessoa se torna vítima do tabagismo, uma doença à qual se entrega, abdicando da própria vontade, incapaz de resistir à vontade de fumar, que se transforma em ação obsessiva simples.

Que a ação do fumo seja ofensiva o demonstram as próprias propagandas que alardeiam a utilização de filtros ou a consecução de cigarros com muito menos nicotina. Mas além desta, ele contém outros venenos como: ácido tânico, omálico, oxálico, amônia e outros que lhe imobilizam outras importantes defesas do organismo. Sua ação se torna muito pior para aqueles que detêm certas insuficiências orgânicas, acrescendo-as ainda mais. As mulheres, entretanto, são as mais prejudicadas, por sua natureza mais delicada e sensível, principalmente na gravidez, tornando-as mais propensas aos distúrbios da gestação. Além do mais, são afetadas na própria fertilidade. O fumo" ...Hábito vicioso, facilita a interferência de mentes desencarnadas também viciadas, que se ligam em intercâmbio obsessivo simples, a caminho de dolorosas desarmonias..." - Examinando a Obessão.


VÍCIO E VAMPIRISMO

Intercâmbio obsessivo simples, pois não influi no cunho moral do homem, nem o avilta até a degradação completa, como acontece com o vício da embriaguez ou da toxicomania. Mas se a pessoa se entregar em demasia ao hábito, poderá servir de "piteira viva" para desencarnados também viciados, de natureza inferior que, ao se servirem dele para satisfazer o vício de fumar, poderão influenciá-lo a fumar muito mais e estabelecer com ele uma forma de simbiose prejudicial, inoculando-lhe pensamentos deletérios, de ordem moral inferior, cuja receptividade será tanto maior quanto mais fraquezas a pessoa possa ter. Trata-se, enfim, de más companhias que, por sua influência perniciosa, poderão acarretar deslizes morais perigosos e associações com delinqüentes e viciados.

Mas nem sempre tais influências provocam situações de domínio caracterizáveis. O domínio psíquico tem diversas gradações e a pessoa pode passar uma existência inteira a desviar-se do que se havia proposto antes de reencarnar, sem aperceber se. Ao desencarnar, os vícios se tornam mais dominantes, acarretando momentos de angústia muito cruciantes que impelem a buscar a saciedade no vampirismo dos encarnados "...Infunde pena a angústia dos desencarnados amantes da nicotina..."

O vício do fumo é uma porta aberta para o início das obsessões mais variadas e, embora obsessão simples, pode servir de trampolim a outras de maior gravidade, pela sujeição a espíritos atrasados. O viciado no fumo é mais uma vítima de sua debilidade mental do que mesmo de uma invencível atuação fisiológica, ele esquece-se de si mesmo e, por isso, aumenta progressivamente o uso do cigarro, tentado continuamente pelo desejo insatisfeito, criando então uma segunda natureza que se torna implacável e exigente carrasco.

Os efeitos perniciosos do cigarro transformam-se em enfermidades crônicas que minam as defesas naturais e de proteção do organismo. Uma das mais conhecidas enfermidades crônicas é a célebre "bronquite tabagista" ou a causada por distúrbios próprios da "asma brônquica", com a presença do incômodo pigarro, que é produto da irritação constante causada pelo fumo às mucosas respiratórias. O fumante inveterado vive com a faringe, a laringe, os brônquios, o estômago e intestinos supercarregados de nicotina e de todos os derivados tóxicos do fumo, obrigando a sua natureza à permanente vigilância, a fim de se poder manter em relativo contato com os fenômenos da vida física exterior.

Portanto, como vimos, o fumo é um dos grandes responsáveis pela falência moral do homem, visto que ele abre brechas para todos os tipos de obsessões.

Assim, para "largar o cigarro" é preciso readquirir o poder da vontade de que se acha escravizado a ele. É na mente do homem que, antes de tudo, deve ser empreendida uma campanha sadia contra o vício. Através de reflexões inteligentes, deve ele se convencer da tolice de se submeter a prejuízos físicos, psíquicos e econômicos, causados pelo cigarro, o charuto ou o cachimbo.


RETOMANDO O CONTROLE

Portanto, a ofensiva não deve ser iniciada contra o objeto do vício, que é o fumo, mas no sentido de recuperar o comando mental perdido. Há que ser retomado novamente o psiquismo diretor dos fenômenos de relação entre a alma e o meio. É preciso que o homem se torne outra vez senhor absoluto dos seus atos, desprezando as sugestões tolas e perniciosas do vício que o domina. É certo que a libertação do vício de fumar seria muito mais difícil se, por afinidade de vícios ou devido a qualquer desregramento moral, a criatura já estiver sendo cercada por entidades de astral inferior, atraída para junto de si. Neste caso, a libertação não só requer o domínio da própria vontade, como ainda a adoção de um modo de vida que provoque o desligamento de outra vontade viciosa e livre, do além-túmulo.


OS EFEITOS DO TABAGISMO

Assim como devasta a vontade e a lucidez, o cigarro ataca e destrói o organismo, criando doenças e provocando disfunções.

Eis apenas alguns de seus efeitos:

Sistema Respiratório

Bronquite, Enfisema, Câncer pulmonar, Angina do peito, Laringite, Tosse, Tuberculose, Traqueíte, Rouquidão.

Sistema Digestivo

Diminui a secreção gástrica, diminui o apetite e dificulta a digestão: úlcera gastroduodenal; quilite (inflamação dos lábios), sialorréia (salivação abundante); hepatite; aumento do ácido úrico, provocando a chamada Gota.

Sistema Circulatório

Arteriosclerose (20 cigarros ou mais por dia); varizes; flebite, isquemia; úlceras varicosas; palpitação; mal de Buerger (trombose); aceleração de doenças coronárias e cardiovasculares.

Sistema Nervoso

Uremia; Mal de Parkinson; vertigens; náuseas; dores de cabeça; nervosismo; opressão.

Assim como o alcoolismo, a falta do fumo para o viciado gera ansiedade, angústia etc.

Desencadeia crises, convulsões e espasmos. É a dependência mental, psíquica e física.


POR QUE FUMAR?

O tabaco era usado na prática de feitiçarias, nas quais os indígenas acreditavam que a fumaça afastava os "maus espíritos". Como defumador, os pajés jogavam folhas secas de tabaco no braseiro, ao mesmo tempo que invocavam os deuses. Os nativos, com o tempo, passaram a fazer um rolo de folhas secas de tabaco fumegantes, aspirando e tragando a fumaça demonstrando visível sensação de prazer.V Hoje o fumo é consumido em larga escala, graças à herança daqueles costumes nativos, porém sob a égide de mentiras comerciais douradas, condutoras à exacerbação do consumo. 


COMO PREVENIR

Na família, pelo exemplo. Na sociedade, pela educação, onde sejam demonstrados os males do vício e na religião, pelo respeito devido ao corpo e à vida.

Nosso organismo possui extraordinária capacidade de refazimento e de recuperação. Estima-se, contudo, que a eliminação dos agentes nocivos do fumo no corpo humano processa-se em período de tempo igual à duração do vício. Por exemplo: quem fuma há 10 anos, se deixar o vício, levará aproximadamente outros 1 0 anos para extirpar completamente do seu corpo os sintomas negativos do fumo.


COMO DEIXAR DE FUMAR

A melhor maneira é fazê-lo de uma só vez, com extraordinária força de vontade. Pegue seu maço de cigarros e jogue-o no lixo. É melhor passar alguns dias de angústia, mas reprimir definitivamente o desejo de fumar do que prolongar essa agonia indefinidamente até que um câncer pulmonar ou laríngeo faça-o por você.


COMO O ESPIRITISMO VÊ O TABAGISMO 

Como uma infeliz criação humana, dentre tantas... Por ser gerador de doenças e dependência (viciação), promove graves distorções no corpo e no caráter, refletindo-se em danos impressos no perispírito.

E isso representará sofrimento em vidas futuras, se não já a partir desta. O fumante, após desencarnar, certamente irá ressentir-se da falta do fumo. Buscará desesperadamente satisfazer o vício, só o conseguindo, tal como no processo de vampirismo, ou seja, como o homem nunca está só, física ou espiritualmente; fixado no vício, terá permanentemente companhia de encarnados e desencarnados sintonizados com ele. Por outro lado, o Espiritismo oferece inestimável apoio ao viciado que queira libertar-se, através da "Evagelho-terapia", o tratamento pelo Evangelho, a cura do espírito.

Sim, cuidando do corpo, cuida-se de uma fração episódica da existência do indivíduo, porém, cuidando-se do espírito, cuida-se da erradicação do mal, construindo-se uma obra para a eternidade!

Cada tendência negativa superada - entre as quais o alcoolismo - representará mais um degrau alcançado na escada do progresso espiritual.

Nesse particular, o espiritismo representa poderoso estímulo à cura, pela reforma íntima do indivíduo, pois o levará à reflexão e ao conhecimento das conseqüências infelizes do tabagismo e alcoolismo em futuras reencarnações. A ótica reencarnacionista, calcada na lógica, no bom senso e principalmente na Justiça Divina, levará o homem a não assumir dívidas hoje para resgate nas próximas vidas e nem a jogar espinhos na frente do seu caminho...

Magaly Sonia Gonsales

Tratamento para tabagismo na Federação Espírita de São Paulo terças 14h e 19h30 sábados 16h. Rua Maria Paula, 140, Centro - Telefone: (11) 3115-5544 

Referências:
  • CURTI, Rino - "Espiritismo e Obsessão" 
  • KUHL, Eurípedes - "Tóxicos - Duas Viagens"

O livro "Malefícios do Fumo"é uma contribuição inestimável a todos aqueles que desejam abandonar um vício que tanto mal traz às pessoas.

(Extraído da Revista Cristã de Espiritismo, nº 07)

21 junho 2016

O Perispírito ou Corpo Espiritual - Léon Denis



O PERISPÍRITO OU CORPO ESPIRITUAL

Os materialistas, em sua negação da existência da alma, muitas vezes têm apelado para a dificuldade de conceberem um ser privado de forma. Os próprios espiritualistas não sabem explicar como a alma imaterial, imponderável, poderia presidir e unir-se estreitamente ao corpo material, de natureza essencialmente diferente. Essas dificuldades encontram solução nas experiências do Espiritismo.

Como precedentemente já o dissemos, a alma está, durante a vida material, assim como depois da morte, revestida constantemente de um envoltório fluidico, mais ou menos sutil e etéreo, que Allan Kardec denominou perispírito ou corpo espiritual. Como participa simultaneamente da alma e do corpo material, o perispírito serve de intermediário a ambos: transmite à alma as impressões dos sentidos e comunica ao corpo as vontades do Espírito. No momento da morte, destaca-se da matéria tangivel, abandona o corpo às decomposições do túmulo; porém, inseparável da alma, conserva a forma exterior da personalidade desta. O perispírito é, pois, um organismo fluídico; é a forma preexistente e sobrevivente do ser humano, sobre a qual se modela o envoltório carnal, como uma veste dupla e Invisível, constituída de matéria quintessenciada, que atravessa todos os corpos por mais impenetráveis que estes nos pareçam.

A matéria grosseira, incessantemente renovada pela circulação vital, não é a parte estável e permanente do homem. É perispírito o que garante a manutenção da estrutura humana e dos traços fisionômicos, e isto em todas as épocas da vida, desde o nascimento até à morte. Exerce, assim, a ação de uma forma, de um molde contrátil e expansível sobre o qual as moléculas vão incorporar-se.

Esse corpo fluídico não é, entretanto, imutável; depura-se e enobrece-se com a alma; segue-a através das suas inumeráveis encarnações; com ela sobe os degraus da escada hierárquica, torna-se cada vez mais diáfano e brilhante para, em algum dia, resplandecer com essa luz radiante de que falam as Bíblias (antigas) e os testemunhos da História a respeito de certas aparições. É no cérebro desse corpo espiritual que os conhecimentos se armazenam e se imprimem em linhas fosforescentes, e é sobre essas linhas que, na reencarnação, se modela e forma o cérebro da criança. Assim, o intelecto e o moral do Espírito, longe de se perderem, capitalizam-se e se acrescem com as existências deste. Daí as aptidões extraordinárias que trazem, ao nascer, certos seres precoces, particularmente favorecidos.

A elevação dos sentimentos, a pureza da vida, os nobres impulsos para o bem e para o Ideal, as provações e os sofrimentos pacientemente suportados, depuram pouco a pouco as moléculas perispiríticas, desenvolvem e multiplicam as suas vibrações. Como uma ação química, eles consomem as partículas grosseiras e só deixam subsistir as mais sutis, as mais delicadas.

Por efeito inverso, os apetites materiais, as paixões baixas e vulgares reagem sobre o perispírito e o tornam mais pesado, denso e escuro. A atração dos globos Inferiores, como a Terra, exerce-se de modo irresistível sobre esses organismos espirituais, que, em parte, conservam as necessidades do corpo e não podem satisfazê-las. As encarnações dos Espíritos que sentem tais necessidades sucedem-se rapidamente, até que o progresso pelo sofrimento venha atenuar suas paixões, subtrai-los às influências terrestres e abrir-lhes o acesso de mundos melhores.

Estreita correlação liga os três elementos constitutivos do ser. Quanto mais elevado é o Espírito, tanto mais sutil, leve e brilhante é o perispírito, tanto mais isento de paixões e moderado em seus apetites ou desejos é O corpo. A nobreza e a dignidade da alma refletem-se sobre o perispírito, tornando-o mais harmonioso nas formas e mais etéreo; revelam-se até sobre o próprio corpo: a face então se ilumina com o reflexo de uma chama interior.

É pelas correntes magnéticas que o perispírito se comunica com a alma. É pelos fluídos nervosos que ele está ligado ao corpo. Esses fluídos, posto que invisíveis, são vínculos poderosos que o prendem à matéria, do nascimento à morte, e mesmo, nos sensuais, assim o conservam, até à dissolução do organismo. A agonia representa a soma de esforços realizados pelo perispírito a fim de se desprender dos laços carnais.

O fluído nervoso ou vital, de que o perispírito é a origem, exerce um papel considerável na economia orgânica. Sua existência e seu modo de ação podem explicar bastantes problemas patológicos. Ao mesmo tempo agente de transmissão das sensações externas e das impressões Íntimas, ele é comparável ao fio telegráfico, transmissor do pensamento, e que é percorrido por uma dupla corrente.

A existência do perispírito era conhecida dos antigos. Pelas palavras — Och.ema e Férouer, os filósofos gregos e orientais designavam o invólucro da alma “lúcido, etéreo, aromático”. Segundo os persas, assim que chega a hora da reencarnação, o Férouer atrai e condensa em torno de si as moléculas materiais que são necessárias à constituição do corpo, e, pela morte deste, as restitui aos elementos que, em outros meios, devem formar novos Invólucros carnais. O Cristianismo também conserva vestígios dessa crença. S. Paulo, em sua primeira Epístola aos Coríntios, exprime-se nos seguintes termos: “O homem está na Terra com um corpo animal e ressuscitará com um corpo espiritual. Assim como tem um corpo animal, também possui um corpo espiritual.”

Embora em diversas épocas tenha sido afirmada a existência do perispírito, foi ao Espiritismo que coube determinar o seu papel exato e a sua natureza. Graças às experiências de Crookes e de outros sábios ingleses, sabemos que o perispírito é o instrumento com cujo auxílio se executam todos os fenômenos do Magnetismo e do Espiritismo. Esse organismo espiritual, semelhante ao corpo material, é um verdadeiro reservatório de fluídos, que a alma põe em ação pela sua vontade. É ele que, no sono natural como no sono provocado, se desprende da matéria, transporta-se a distâncias consideráveis e, na escuridão da noite como na claridade do dia, vê, percebe e observa coisas que o corpo não poderia conhecer por si.

O perispírito tem, portanto, sentidos análogos aos do corpo, porém muito mais poderosos e elevados. Ele tudo vê pela luz espiritual, diferente da luz dos astros, e que os sentidos materiais não podem perceber, embora esteja espalhada em todo o Universo.

A permanência do corpo fluídico, antes como depois da morte, explica também o fenômeno das aparições ou materializações de Espíritos. O perispírito, na vida livre do espaço, possui virtualmente todas as forças que constituem o organismo humano, mas nem sempre as põe em ação. Desde que o Espírito se acha nas condições requeridas, isto é, desde que pode retirar do médium a matéria fluídica e a força vital necessárias, ele as assimila e reveste, pouco a pouco, as aparências do corpo terrestre. A corrente vital circula, então, e, sob a ação do fluído que recebe, as moléculas físicas coordenam-se segundo o plano do organismo, plano de que o perispírito reproduz os traços principais. Logo que o corpo humano fica reconstituido, o seu organismo entra em funções.

As fotografias e os moldes obtidos em parafina mostram-nos que esse novo corpo é idêntico ao que o Espírito animava na Terra; mas essa vida só pode ser temporária e passageira, porque é anormal, e os elementos que a produzem, após uma curta condensação, voltam às fontes donde foram emanados.


Léon Denis
Obra: Depois da Morte - Capítulo 21