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03 maio 2017

Sociedade Alternativa - Vladimir Alexei


 SOCIEDADE ALTERNATIVA


Vladimir Alexei Dirão os amigos que sou saudosista. Talvez seja. Mas não se espantem: sinto falta das Instituições Fortes em nosso país e, consequentemente, em nosso Movimento Espírita. Para que não pairem dúvidas, instituição forte não é instituição militar. É instituição que possui liderança.

A Federação Espírita Brasileira se transformou em algo muito mais sério e grave do que sua teimosia em propagar o misticismo roustanguista. Talvez o despreparo daqueles que chegaram e, dos que se perpetuam nas sombras para conduzir uma instituição de tamanho porte, seja um dos motivos de sua inércia. Sem contar seu compromisso espiritual com o país. Ela simplesmente não representa mais, nem a Unificação, nem a liderança dos espíritas que, por algum motivo, ainda nutriam admiração por aquela secular instituição. Se não fossem os livros por ela editados, talvez, já não vinculássemos o seu nome às figuras ilustres que um dia representaram aquela Casa, como Ewerton Quadros, Bezerra de Menezes, Leopoldo Cirne, Bittencourt Sampaio e muitos outros.

Posso dizer que, nos últimos 25 anos, não me recordo de nenhum momento tão acéfalo assim para a liderança do Movimento Espírita. É uma reflexão, subjetiva, é verdade, de quem acompanha com preocupação o rumo que o Movimento Espírita está tomando. As lideranças espíritas não conversam entre si, independentemente, de sua posição no movimento espírita. Como pode isso?!

Creio que a FEB, hoje, não saiba o impacto causado por sua ineficácia, seja na gestão ou na produção de conteúdos doutrinários orientativos. À semelhança do país, a ausência de uma liderança, causa males muito graves. Fazem surgir oportunistas, vendilhões que se passam por missionários, sincretismos sutis, docetismo... um verdadeiro laissez-faire (é como o Raul Seixas em sua música: “faça o que quiseres pois é tudo da lei”).

Por isso o saudosismo: era muito bom o engajamento federativo para produzir conteúdo doutrinário, propaga-los e receber críticas e sugestões em seguida. Havia, no movimento crítico, uma proposta de estudo, ainda que não calibrada adequadamente. Era mais saudável! O que se vê hoje? Nada. Inércia total. Formiguinhas continuam trabalhando intensamente nas casas espíritas, enquanto o movimento federativo está em profunda letargia, gangrenando lentamente...

Tudo passou a ser comum. Ou seja, por mais autonomia que toda casa espírita deve ter, a ausência de uma liderança que estimule as casas a seguirem estudos doutrinários, é um ponto grave de atenção. Falta União entre as casas espíritas e em todo o movimento espírita. Mas, os amigos dirão, existem livros que orientam Casas Espíritas. Sim! E quem segue essas orientações?? Tornou-se algo para “inglês ver”.

Haverá, neste primeiro semestre de 2017, evento em uma capital, em um hotel, com capacidade para 750 lugares. Estão cobrando R$30,00, por pessoa. A arrecadação desse evento servirá para o que? Onde será empregado esse recurso? Exercitar a reflexão é importante. Será que os organizadores, tenho certeza que fazem a organização com todo carinho e amor, não percebem que estão repetindo o fracasso materialista que chafurdou a sociedade no que vemos hoje de mais decadente em termos de religião? O espiritismo se tornou mais uma seita ou religião exterior, nos moldes decadentes que vemos hoje. O que nos difere das demais religiões?

Não satisfeitos em baratear a mediunidade, onde os médiuns infelizmente não estudam, e cada vez mais escrevem obras de qualidade duvidosa, realizar eventos se transformou em um grande negócio. Cuidado. Muita informação não significa qualidade e nem geração de conhecimento. Onde ocorre o intercâmbio? Cadê o “estabelecimento central” idealizado por Allan Kardec? Ah! são as casas espíritas! E como as temos conduzido? Como anda nossa fraternidade para com os que chegam e para com aqueles que estão ativos conosco nos trabalhos?

Desde a casa espírita até a federação, num fluxo contínuo de informações, em via de mão dupla, parece que a ruptura se agravou. Não sou da área da saúde, mas diria que há fuga de energia nessa via, ou então, ela passou a ser uma “via tripla” com a criação da “sociedade alternativa dos eventos”. Qual o retorno dessa outra via? A qual movimento espírita ela beneficia? Porque há dedicação de energia para fazer esses eventos acontecerem. Isso não diminui seu brilhantismo, ok?! Quem está lá, voluntariamente, merece todo nosso respeito por tamanha dedicação e desvelo.

Não sei vocês, mas, está feio ouvir as pessoas no meio espírita dizerem que “servem Jesus”, que “trabalham por Jesus”, que “seguem Jesus”, que “bom é só Kardec”, que “todos devem estudar Kardec”, quando repetimos os mesmos erros de movimentos religiosos do passado. Ninguém disse que seria fácil despir o homem velho e vestir o homem novo, porém, nada que aprendemos até hoje, substitui a força que a União é capaz de proporcionar. E isso está em baixa.

Se a Federação não é mais a entidade que representa a União pela unificação (acho que nem sabem o que é “unificação” hoje em dia), se aqueles que produzem eventos acreditam unir as pessoas em torno de uma obra (ego), se os vendilhões se veem como missionários, se os médiuns não estudam, se o momento é de crise e exige liderança, e ninguém faz nada junto, apenas separado, e ainda assim, disser que tudo está conforme a lei, a notícia não é boa. Não está dando certo. É uma “revelação” mediúnica? Não. É, simplesmente, uma, dentre outras, análises que podem ser feitas do momento que vivemos.

Autor: Vladimir Alexei é orador espírita na cidade de Belo Horizonte/MG e apresenta o Evangelho na Rede aos sábados as 8hs pela Rede Amigo Espírita

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