TRAIÇÃO SOB A ÓTICA ESPÍRITA
No livro Nosso Lar, pelo espírito André Luiz, psicografia de Chico Xavier temos uma preciosa lição no que se refere à traição.
André ao receber a visita de sua mãe, indaga por seu pai:
"- E meu pai? - perguntei - onde está? Por que não veio com a senhora?
Minha mãe estampou singular expressão no rosto e respondeu:
- Ah! teu pai! teu pai!... Há doze anos que está numa zona de trevas compactas no Umbral.
Na Terra, sempre nos parecera fiel às tradições da família, arraigado ao cavalheirismo do alto comércio a cujos quadros, pertenceu até ao fim da existência e ao fervor do culto externo, em matéria religiosa; mas, no fundo, era fraco e mantinha ligações clandestinas, fora do nosso lar.
Duas delas estavam mentalmente ligadas a vasta rede de entidades maléficas, e, tão logo desencarnou o meu pobre Laerte, a passagem no Umbral lhe foi muito amarga, porque as desventuradas criaturas, a quem fizera muitas promessas, aguardavam-no ansiosas, prendendo-o de novo nas teias da ilusão. A princípio, ele quis reagir, esforçando-se por encontrar-me, mas não pôde compreender que após a morte do corpo físico a alma se encontra tal qual vive intrinsecamente.
Laerte, portanto, não percebeu minha presença espiritual, nem a assistência desvelada de outros amigos nossos. Tendo gasto muitos anos a fingir, viciara a visão espiritual, restringira o padrão vibratório, e o resultado foi achar-se tão-só na companhia das relações que cultivara irrefletidamente, pela mente e pelo coração. Os princípios da família e o amor ao nosso nome ocuparam algum tempo o seu espírito. De algum modo, lutou, repelindo as tentações; mas caiu afinal, novamente enredado na sombra, por falta de perseverança no bem e reto pensamento.
Muitíssimo impressionado, perguntei:
- Não há, porém, meios de subtraí-lo a tais abjeções?
- Ah! meu filho - elucidou a palavra materna -, eu o visito freqüentemente. Ele, porém, não me percebe. Seu potencial vibratório é ainda muito baixo.
Tento atraí-lo ao bom caminho, pela inspiração, mas apenas consigo arrancar-lhe algumas lágrimas de arrependimento, de quando em quando, sem obter resoluções sérias. As infelizes, das quais se tornou prisioneiro, retiram-no às minhas sugestões.
Venho trabalhando intensamente, anos a fio, solicitei o amparo de amigos em cinco núcleos diversos, de atividade espiritual mais elevada, inclusive aqui em "Nosso Lar".
Certa vez, Clarêncio quase conseguiu atraí-lo ao Ministério da Regeneração, mas debalde. Não é possível acender luz em candeia sem óleo e sem pavio... Precisamos da adesão mental de Laerte, para conseguir levantá-lo e abrir-lhe a visão espiritual. No entanto, o pobrezinho permanece inativo em si mesmo, entre a indiferença e a revolta.
Assombravam-me as informações referentes a meu pai. Que espécie de lutas seriam as dele? Não parecia sincero praticante dos preceitos religiosos, não comungava todos os domingos? Enlevado com a dedicação maternal, perguntei:
- A senhora, entretanto, auxilia o papai, não obstante a ligação dele com essas mulheres infames?
- Não as classifiques assim - ponderou minha mãe -' dize, antes, meu filho, nossas irmãs doentes, ignorantes ou infelizes. São filhas de nosso Pai, igualmente. Não tenho feito intercessões apenas por Laerte, mas por elas também, e estou convencida de haver encontrado recursos para atraí-los todos ao meu coração.
Espantou-me a grande manifestação de renúncia."
Vemos nesse contexto que o Pai do André embora vivesse uma vida de mentiras, chegando ao plano espiritual teve que enfrentar a verdade que só sua consciência conhecia.
E ainda que tenha sido para ele uma aventura sem grande importância, não imaginava que seria tão sério para as criaturas com quem se envolvia. Não esperava que esses encontros gerasse tantas expectativas nessas mulheres a ponto de cobrar no além-túmulo o que não conseguiram enquanto encarnadas.
Muitas vezes enganamos pessoas a nossa volta, (seja em uma traição no relacionamento afetivo como qualquer outra ligação) na ilusão que é uma ação boba, que não trará grandes consequências. O que esquecemos é que como o Laerte, temos a ilusão que podemos enganar, brincar com o outro e ficar por isso mesmo.
O que pra você pode ser, mais um encontro casual sem importância sentimental, para o outro pode estar contribuindo para criar desilusões de grande impacto.
Brincar com as pessoas gera consequências gravíssimas, até porque aquele que engana, logo esquece, mas o que é enganado, dependendo de sua evolução moral pode gerar rancores e ódios criadores de muito sofrimento para todos os envolvidos.
É preciso analisar os atos. Se colocarmos na cabeça que cada ato nosso gera uma reação, nós agiríamos com mais cautela e não daríamos vazão as nossas fraquezas com tanta displicência. Será que uma satisfação momentânea vale anos de sofrimento?
Nada nesse mundo vale a nossa paz.
Tratar o outro com respeito e se colocar sempre na mesma situação. E se fosse comigo? Esta é a pergunta que nos livrará de muitos tropeços.
Enquanto a mãe de André tida aos olhos terráqueos como a traída, a idiota, a coitada... estava na verdade em paz e feliz na colônia, pedindo por aqueles que a enganavam, e que por isso estavam em zonas de sofrimento.
Outra coisa que ela diz é que, o Laerte estava tão acostumado a mentir, a enganar, que viciara a visão. É o que costumamos dizer que tem gente que mente tanto que acaba acreditando na própria mentira. E por estar nesse padrão vibratório pesado não conseguia nem enxergar a ajuda que o Alto lhe enviava. É preciso muitas lágrimas para limpar a cegueira que criamos sob nossos olhos.
Nem todos evoluem pelo amor, infelizmente muitos só avançam pela dor.
Aqui não nos cabe julgamentos mas apenas a lição de que nada fica impune. Ainda que nos pareça que não estamos prejudicando ninguém, quando o véu da encarnação se rompe conseguimos enxergar com exatidão o peso de nossos atos.
Orai e vigiai, nos refletiu Jesus conhecendo bem as nossas faltas. Como Irmão Maior, nos alertou ao fato de amarmos ao próximo como a nós mesmos. Ou seja, fazer pelo outro apenas o que queríamos que nos fizesse.
Werlany Maciel
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