Há um momento em nossas vidas em que todos nós nos rendemos ao
inevitável apelo para o autoconhecimento. Enquanto isto não acontece,
passamos pela vida como que anestesiados e insensíveis à realidade de nós
mesmos, agindo e reagindo ao sabor dos ditames impostos pela sociedade em
que vivemos.
A partir do ponto em que nos rendemos ao clamor íntimo do
autodescobrimento, iniciamos uma verdadeira cruzada na tentativa de obter
respostas às questões relacionadas com o velho dilema do "Conhece-te a ti
mesmo". Começamos então a questionar a nossa própria realidade existencial,
a origem da vida, a razão de estarmos aqui nesta existência, o porquê das
experiências ou relacionamentos a que somos expostos, e até arvoramo-nos no
direito de questionar o acerto da decisão Daquele que nos criou e nos
colocou nessas circunstâncias.
No extraordinário livro Memórias do Padre Germano encontramos um
ilustrativo exemplo desse dilema que ainda é uma característica da
avassaladora maioria dos espíritos encarnados no planeta Terra, haja visto o
baixo nível evolutivo dos seus habitantes. Através da maravilhosa obra de
Amália Domingo Soler, o padre Germano nos relata o dilema que viveu em uma
das suas encarnações aqui em nosso orbe, na qual experimentou, como membro
da igreja de Roma, a permanente e asfixiante sensação de viver se sentindo
com um peixe fora d'água, especialmente ao desempenhar a espinhosa função
eclesiástica de confessor. Em momento de inquietação angustiante, ele assim
se manifesta:
"Amado Deus, por que tive eu que nascer nas fileiras desta ordem
religiosa?Por que Você me obrigou a ser guia dessas pobres ovelhas, meus
paroquianos, se eu não posso tão pouco guiar a mim mesmo? Senhor, deve haver
outras moradas no espaço, porque aqui neste planeta uma alma capaz de pensar
fica asfixiada ao presenciar tanta miséria e hipocrisia. Eu desejo seguir o
caminho certo, mas ao longo da jornada eu vejo tantas armadilhas!"
O exemplo é mesmo bem ilustrativo, mas cabe ressaltar que ao
folhearmos as páginas deste excepcional livrinho, temos a convicção de que o
padre Germano era um espírito em estágio evolutivo bem acima da maioria de
todos nós e que cumpriu a sua missão naquela existência de forma exemplar,
podendo mesmo servir de guia e modelo para todos nós que aspiramos passar
pelos embates da vida e cumprirmos com a nossas tarefas onde quer que a vida
nos coloque.
A Doutrina dos Espíritos veio para nos dar as respostas àquelas
questões existenciais e acima de tudo para nos mostrar com uma clareza
insofismável, as razões e os porquês de estarmos aqui e expostos às
experiências e aos relacionamentos que temos vivenciado nesta encarnação. É
bem verdade que ela só nos dá as respostas de que necessitamos para
cumprirmos com a nossa tarefa de espíritos encarnados e galgar alguns
degraus a mais na nossa escala evolutiva rumo a felicidade. Mas o que é mais
importante e digno da atenção de todos nós que aspiramos sincera e
honestamente por um mundo de Paz e Harmonia, enfim, um mundo regenerado, é
que além das respostas que obtemos através da mensagem dos espíritos, existe
nesta mesma mensagem um apelo claro ao nosso senso de responsabilidade
perante a Lei de Causa e Efeito. A esta sim, teremos que nos curvar, pois
somente o respeito e a adesão incondicional às suas diretrizes propiciarão o
advento de um mundo de Paz e Harmonia para todos nós.
Assim, que tenhamos ouvidos para ouvir e olhos para enxergar e
adotemos em nossas vidas a máxima insculpida na Doutrina dos Espíritos que
nos diz: "Fora da caridade não há salvação".
Autor: Antonio Leite
Fonte: Boletim GEAE 493, de 14/06/2005
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