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16 dezembro 2019

Espiritismo, Magnetismo, Sonambulismo e Psicologia - Jacob Melo



ESPIRITISMO, MAGNETISMO, SONAMBULISMO E PSICOLOGIA


Existem coisas de difícil explicação. Algumas delas estão bastante vívidas no meio espírita. Escreverei sobre o entrelaçamento de quatro assuntos, compostos no título acima, que apresentam uma dessas grandes dificuldades de entendimento.

Na questão 555 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec afirma, de forma categórica, o vínculo do Espiritismo com o Magnetismo: essas duas Ciências “formam uma única”. E para que não restasse dúvida sobre se ele manteria tal pensamento ou se mudaria de ideia ao longo de seus restantes quase 12 anos neste mundo físico, 2 meses antes de desencarnar, portanto em Janeiro de 1869, na sua Revista Espírita, no artigo Estatística do Espiritismo, assim anotou acerca da questão: “O Magnetismo e o Espiritismo são, com efeito, duas ciências gêmeas, que se completam e se explicam uma pela outra, e das quais aquela das duas que não quer se imobilizar...”. (grifo original)

Em havendo tamanha ênfase, o mais natural seria de se esperar o franco e avançado desenvolvimento dessa Ciência, o Magnetismo, dentro do seio espírita. Contudo...

O sonambulismo – e isso é mais do que sabido e comprovado – é o parceiro inseparável do Magnetismo, seu filho direto e a quem serve como instrumento grandioso de prospecção e aprofundamento em vários estudos e setores da alma humana.

É tão forte o vínculo entre esses fenômenos – o magnético e o sonambúlico – que Allan Kardec tratava os dois como se fossem apenas um. Vejamos. Na Revista Espírita de junho de 1858, na coluna Variedades, artigo Os banquetes magnéticos, ele anotou: “Em nossa opinião, a Ciência magnética, Ciência que nós mesmos professamos há 35 anos, deveria ser inseparável da compostura” ... Já na Revista Espírita de maio de 1859, no artigo Refutação de um artigo de O Universo, assim pontuou: “Para mim que, durante trinta e cinco anos, fiz do sonambulismo um estudo especial” ... Não, isto não é uma confusão; apenas uma constatação do quanto, como magnetizador, ele se utilizou do sonambulismo e de suas enormes possibilidades de estudos.

Falta agora um outro elemento: a Psicologia. Onde ela entra no Espiritismo? Esta pergunta é recorrente; surge a cada vez que falamos dizendo que o Espiritismo tem fortes laços com a Psicologia – ou que deveria ter.

Em O Livro dos Espíritos, na questão 455, que trata do Resumo teórico do sonambulismo, do êxtase e da dupla vista, entre outras preciosidades ele assim se expressa: “Para o Espiritismo, o sonambulismo é mais do que um fenômeno psicológico; é uma luz projetada sobre a psicologia. É aí que se pode estudar a alma, porque é onde esta se mostra a descoberto”.

Mais definitivo ainda é quando ele explica o subtítulo que ele deu à Revista Espírita, logo na introdução de seu primeiro número: “Nosso quadro, como se vê, compreende tudo o que se liga ao conhecimento da parte metafísica do homem; estudá-la-emos em seu estado presente e em seu estado futuro, porque estudar a natureza dos Espíritos é estudar o homem, uma vez que deverá fazer parte, um dia, do mundo dos Espíritos; por isso acrescentamos, ao nosso título principal, o de jornal de estudos psicológicos, a fim de fazer compreender toda a sua importância.

E não poderia faltar uma outra colocação feita por ele em A Gênese, em seu primeiro capítulo, item 39: “O perispírito representa importantíssimo papel no organismo e numa multidão de afecções, que se ligam à fisiologia, assim como à psicologia”. – E o que não seria o perispírito senão esse elo, esse link portentoso a não apenas ligar o Espírito ao corpo, mas que possibilita todas as compreensões, pesquisas e percepções da essência da Vida, esse agente inoxidável que é trabalhado no Magnetismo tanto como no sonambulismo e na Psicologia!

Colocados os quatro elementos, vem o problema: por que será que o meio espírita é tão distante desses instrumentos de pesquisas, ajuda, progressos e redenção do próprio Espiritismo? O que será quem tem motivado a tantos não darem importância, sequer respeito, a tudo isso que existe e que está ao dispor do espírita, do ser humano, da humanidade?

Sabemos de muitos espíritas que estudam e estudaram Psicologia, mas, por difícil que seja de entender, uma larga maioria desses, depois de se apoderar do saber acadêmico dessa Ciência, parece desmerecer esses aspectos que são tão claros e que foram tão bem registrados na obra de Allan Kardec!

Já de há muito que falo do pouco caso que se faz do Magnetismo nesse meio deveras heterogêneo e, quiçá distante da base kardequiana. Agora se questiona: o que não se dizer, então, do sonambulismo? Afora a brava voz de um Adilson Mota – colaborador deste jornal – praticamente não ouvimos nem um outro burburinho a respeito. E sobre a Psicologia verdadeiramente Espírita, o que de fato tem sido difundido, se nem mesmo o “jornal de estudos psicológicos’, ou seja, a Revista Espírita, é lida por número significativo de espíritas?

São questões deste tipo que são muito difíceis de serem explicadas. Afinal, quem não gosta desses temas ou que se posiciona contra eles deveria, ao menos, explicitar suas posturas e justificativas, a fim de que fizéssemos melhor juízo e entendêssemos coisas tais, que soam como absurdas.

Espiritismo ter surgido como uma Ciência, fortalecido por um vigoroso viés filosófico e gerando conclusões morais, não se coaduna com esse descaso tão amplo quanto grave que vigora sabe-se lá sustentado por quem ou porquê.


Jacob Melo

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