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23 dezembro 2021

Andarilhos e o Espiritismo - Juliana Procópio


ANDARILHOS E O ESPIRITISMO

Nas estradas, ruas e avenidas de grandes ou pequenas cidades, muitos de nós já observamos pessoas caminhando num frenético vai e vem. Mas poucos se apercebem de muitas pessoas que caminham pelas estradas numa caminhada sem fim. São aqueles que conhecemos como andarilhos.

Andarilho, no dicionário, é aquele que anda muito, que percorre muitas terras. Ou ainda aquele que não tem moradia, que perambula pelas rodovias e ruas de cidade a cidade.

Segundo estimativas publicadas em 2018 pelo IBGE, o Brasil possui em torno de 101 mil moradores de rua. Dentro desta estimativa não temos certeza do número exato das pessoas que passam o dia a caminhar nos diferentes espaços desse nosso país, quiçá no planeta todo.

São tantos os nossos irmãos que se encontram nesse momento vagando por ruas e avenidas buscando muitas vezes um propósito para suas vidas. Sim, um propósito, pois nem todos os andarilhos são pessoas sem familiares ou oriundos de uma boa condição financeira. Muitos sendo questionados apenas dizem que não gostam de estar parado em um único lugar, que andar ajuda a pensar, etc.

Esses irmãos são muitas vezes julgados por nós, pois não se encaixam no que consideramos uma vida normal. Além de moradores de rua, passam suas vidas a andar longas distancias todos os dias. Meimei em “Mensagem do homem triste”, no livro “Ideal Espírita” (ed. CEC), de Espíritos diversos, psicografado por Francisco Cândido Xavier diz:

“Passaste por mim com simpatia, mas, quando me viste os olhos parados, indagaste em silêncio porque vagueio na rua.

Talvez por isso estugaste o passo e, embora te quisesse chamar, a palavra esmoreceu-me na boca.

É possível tenhas suposto que desisti do trabalho, no entanto, ainda hoje, bati, em vão, de oficina a oficina... Muitos disseram que ultrapassei a idade para ganhar dignamente o meu pão, como se a madureza do corpo fosse condenação à inutilidade; e outros, desconhecendo que vendi minha roupa melhor para aliviar a esposa doente, despediram-me apressados, acreditando-me vagabundo sem profissão.

Não sei se notaste quando o guarda me arrancou à contemplação da vitrina, a gritar-me palavras duras, qual se eu fosse vulgar malfeitor. Crê, porém, que nem de leve me passou pela mente a ideia de furto; apenas admirava os bolos expostos, recordando os filhinhos a me abraçarem com fome, quando retorno à casa.

Ignoro se observaste as pessoas que me endereçavam gracejos, imaginando-me embriagado, porque eu tremesse, encostado ao poste; afastaram-se todas, com manifesto desprezo, contudo não tive coragem de explicar-lhes que não tomo qualquer alimento há três dias...

A ti, porém, que me fitaste sem medo, ouso rogar apoio e cooperação. Agradeço a dádiva que me estendas, no entanto, acima de tudo, em nome do Cristo que dizemos amar, peço me restituas a esperança, a fim de que eu possa honrar, com alegria, o dom de viver. Para isso, basta que te aproximes de mim, sem asco, para que eu saiba, apesar de todo o meu infortúnio, que ainda sou teu irmão”.

No filme Forrest Gump – O Contador de Histórias, o personagem sai pelas estradas do seu país caminhando sem destino e muitas pessoas passam a segui-lo na esperança de chegar a algum lugar específico e de repente ele para e retorna para casa do mesmo jeito que começou sua caminhada. Mas, e todos os que o seguiram, o que buscavam encontrar? Ficaram se questionando? Buscaram novo significado a sua caminhada?

Quantos de nós já não tivemos a vontade de sair pelo mundo andando sem destino quando nos deparamos com situações que não encontramos uma resposta. Mas, para muitos, essa ideia é passageira e continuam seguindo suas vidas.

No entanto, mesmo assim o que sai da nossa normalidade é visto como loucura, preguiça, malandragem. Não nos importamos em olhar o outro como um ser humano, com suas batalhas internas assim como nós.

O que fazemos para acolhê-los? Você os enxergam na rua como potenciais inimigos ou pessoas que merecem uma oportunidade? Isso faz muita diferença.

Claro assim como entre médicos, advogados, atendentes, policiais e outros profissionais, também entre eles existem os oportunistas, mas se colocarmos a todos no mesmo patamar do que é mal, qual a real oportunidade que estamos oferecendo a eles?

No mundo espiritual somos todos errantes caminhando pelas reencarnações em busca de nossa evolução.

Segundo Allan Kardec em O Livro dos Médiuns, erraticidade é o estado em que se encontram os Espíritos errantes, ou erráticos, isto é, não encarnados e em processo de evolução, durante o intervalo de suas existências corporais, A duração em que o Espírito permanece na erraticidade e as condições dessa vivência variam, havendo relação direta com o adiantamento espiritual de cada indivíduo e das suas necessidades evolutivas, podendo essa permanência durar muito pouco ou custar longo tempo, em circunstâncias desde o ditoso ao penoso. Não é o mesmo estado de que gozam os Espíritos puros — aqueles que já percorreram toda a trajetória evolutiva e não mais precisam reencarnar para fins de aperfeiçoamento; estes então desfrutam da plenitude da vida espiritual.

Portanto somos todos espíritos errantes que de reencarnação em reencarnação buscamos galgar os degraus da evolução e podemos nos aproximar da perfeição e dos mundos perfeitos, pois Jesus Cristo mesmo nos disse “que existem várias moradas na casa de meu Pai”. Se a casa de Deus é todo o universo conhecido ou não como podemos acreditar que só aqui no planeta Terra existe vida e mais, que não existe vida após a morte. Seria acreditar que temos um Pai injusto não é mesmo?

Na questão nº 234, de O Livro dos Espíritos, é perguntado pelo codificador se há de fato, como já foi dito, mundos que servem de estações ou pontos de repouso aos Espíritos errantes? A qual os espíritos respondem que “Sim, há mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos que lhes podem servir de habitação temporária, espécies de bivaques, de campos onde descansem de uma demasiada longa erraticidade, estado este sempre penoso. (…). São o que conhecemos pelas obras como Nosso Lar de colônias espirituais, ou o umbral onde permanecem os espíritos que precisam passar pelo remorso, culpa ou revolta.

Portanto quando olharmos para um irmão na condição de andarilho, rogue a Deus por sua vida, passe boas vibrações. Já disse nosso mestre Jesus “Não necessitam de médico os sãos, mas sim os doentes”.

Portanto olhemos com mais empatia por nossos irmãos, sejam eles em que situação estejam.

Juliana Procópio
Fonte:
Blog Letra Espírita

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