A PEDRA DA SABEDORIA
Quando a primavera nos envolvia em desejos vãos, dúvidas e inquietações, deixávamos a pequena aldeia onde vivíamos, à margem do grande rio, e buscávamos a sombra do olmeiro, recanto aprazível onde costumava meditar um paciente "rishi", longe do tumulto das aglomerações urbanas.
Ali nos reuníamos, os jovens da aldeia, todas as manhãs e tardes, sentados em torno do mestre para melhor aproveitar suas lições. E então, fitando seus olhos mansos, aguardávamos as histórias que sempre ele reservara para nossos ouvidos ávidos.
Assim, ensinava-nos a distinguir a verdade da mentira, o bem do mal.
Suas histórias eram simples, tinham a pureza das águas correntes. Em meu desejo de aprender, eu lhe bebia as palavras como terra sedenta sorve a água das chuvas; por isso, guardei-as todas na memória.
Por muito tempo, como sementes em um canteiro, ficaram plantadas em minha lembrança... Um dia, senti que germinavam, ansiosas de floração. Eis por que deixo que venham à luz, narrando-as agora como costumava ouvi-las à sombra do olmeiro.
- Se um homem se julga superior - disse-nos, uma tarde, o "rishi" - mas escolhe um caminho errado, antecipa seu próprio fim. Não serei eu que lhe direi: Segues um caminho errado. Como me acreditaria, se o homem se considera sábio e a mim ignorante?
Então, contou-nos a história do homem que rejeitou a pedra da Sabedoria:
- Certo homem, que se acreditava sábio, encontrou, durante uma viagem de negócios que fizera a uma cidade vizinha, um mercador astuto que comerciava com pedrarias falsas, embora as apregoasse como legitimas e puras.
Ofuscado pelo brilho mentiroso das pedras, o homem que se julgava conhecedor das coisas e das almas, na ânsia de adquirir bens conquistados pelo ouro, não pelo esforço e experiência, comprou algumas, e pagou por elas grande quantia.
De volta à sua cidade, expunha, feliz, o seu pretenso tesouro a amigos e conhecidos. Até que, certa vez, exibiu-o a um perito, e este lhe revelou, finalmente, que as gemas não passavam de pedras sem valor.
Sabendo-se ludibriado, mais ferido em seu orgulho que na boa fé, atirou fora todas as pedras, indignado, esquecido de que fora vitima da própria presunção.
Tempos depois, um outro homem, que recebera a missão de ofertar as preciosas pedras da Sabedoria, a ele confiadas por Sivã, a todos que delas necessitassem, graciosamente, como o sol oferta luz, ao saber do logro aplicado ao homem que se considerava sábio, bateu à sua porta, ao entardecer.
Quando aquele o atendeu, o emissário de Sivã apresentou-lhe na palma da mão uma de suas valiosas pedras. Ao ver a gema, que cintilava em transparências azuladas à meia luz do poente, como se conservasse toda pureza e luminosidade do dia, o homem que se considerava conhecedor das coisas e das almas não lhe deu nenhuma importância, e repeliu o visitante, esbravejando:
- Não me enganarão mais! Fora da minha porta, cúpido homem... Do meu rico dinheiro não me levarás uma só moeda de cobre.
Tranquilo, respondeu-lhe o emissário, enquanto guardava sua preciosa pedra:
- Não vim te vender um tesouro, mas sim ofertá-lo a ti. Porém o repeles.
Melhor, não saberias aproveitá-lo...
Despediu-se então o enviado de Sivã e seguiu calmamente seu caminho, a distribuir dádivas como os pássaros ofertam cânticos e as plantas suas flores...
O homem que se considerava sábio conhecedor das coisas e das almas ficou parado em sua porta, a olhar, com desprezo, o vulto do emissário que aos poucos desaparecia no noturno que procedera à tarde.
Orgulhoso, monologava:
- Ninguém mais me enganará, ninguém...
No infinito, algumas estrelas fulgiam entre flocos de nuvens...
Ao vê-las, pensou o homem:
- São pirilampos... - e fechou a porta.
Fonte: Correio Fraterno
Espírito “Um jardineiro”
Médium: Dolores Bacelar
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