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31 agosto 2011

Autógrafo de Deus - Momento Espírita


Autógrafo de Deus

Autógrafo é a assinatura original, de próprio punho, do autor de alguma obra.

Assinam seus quadros os pintores. No entanto, melhor do que a sua assinatura, o que diz se o quadro é verdadeiramente daquele pintor é o seu estilo.

Quem quer que se aprofunde pelo conhecimento da arte poderá, ao admirar uma tela, afirmar do seu autor. E identificar, inclusive, se for o caso, a que período da vida artística daquele pintor corresponde.

Quem escreve um livro, define-se por uma forma de escrever e, a partir daí passará a ser conhecido. Naturalmente, coloca seu nome na obra.

Mas, mais do que isso, identifica-se pelo estilo e a forma com que desenvolve o seu pensamento, ao transpô-lo para o papel.

Cada artista tem sua maneira peculiar de se identificar no seu trabalho.

E é assim que Ele é conhecido e admiradas as Suas produções, através dos tempos.

Quando nossos olhos se extasiam ante a prodigalidade da natureza;
quando nossos ouvidos se deliciam com os sons dos rios cantantes, com o murmúrio da fonte minúscula, com as águas que descem pelas encostas, despejando-se ruidosamente de alturas;
quando o vento flauteia uma canção entre os ramos ou agita com violência o arvoredo;
quando o sol se pinta de ouro e tudo enche de luz por onde se espraia;
quando o céu se faz de tonalidades mil, indefiníveis, num amanhecer indescritível;
quando tudo isso acontece, todo dia, a cada dia... procuramos o autor. E a assinatura.

O inacreditável do grandioso e das coisas minúsculas – tudo obedecendo a idêntico esmero, diz-nos da qualidade do artista.

A diversidade de tons, de sons nos fala de um Alguém superlativamente criativo pois que, há bilhões de anos, não reprisa um pôr de sol, nem o cristal da gota de orvalho, nem a combinação dos gorjeios da passarada.

Cada dia tudo é diferente. O sol retorna, as nuvens se espreguiçam, a pradaria se estende, alongando sua colcha de retalhos de cores diversas, bordadas cá e lá de flores miúdas... mas nada é igual.

As folhas nas árvores estão em número maior ou menor, a sinfonia das águas acabou de ser composta, os pássaros balançam-se em outras ramagens.

Sim, o artista responsável pelo concerto do dia e da noite é extraordinário.

Os homens afirmam que jamais O viram. Mas todos podem admirar Sua obra. Mesmo aqueles que Lhe negam a existência.

Esse artista inigualável assina a delicadeza das manhãs com o pincel da madrugada.

Podemos descobrir Seu autógrafo na tela do firmamento, no brilho das estrelas.

Podemos descobrir Sua escrita nas flores dos campos, dos jardins, das montanhas.

Ele é tão grande que a tela onde cria as Suas maravilhas vive em expansão.

Mas onde Esse artista coloca Sua mais especial assinatura é na essência de cada um dos filhos que criou.

Ela está em cada um de nós e se chama Imortalidade.

Pense nisso. Você é o mais especial autógrafo de Deus.

Redação do Momento Espírita


30 agosto 2011

Lembra-te de Deus - Meimei


LEMBRA-TE DE DEUS

Lembra-te de Deus para que não olvides a tua alma no labirinto das sombras.

O Criador vive e palpita na Criação que o reflete.

Quando estiveres ferido pelas farpas do sofrimento, lembra-te de Deus que, em muitas ocasiões, socorre a terra seca, por intermédio de nuvens tempestuosas.

Quando te sentires revoltado ante as misérias do mundo, lembra-te de Deus, cuja majestade permanece incorruptível, no próprio fruto podre, através da semente pura em que a planta se renovará exuberante e vitoriosa.

Lembra-te de Deus e aprende a não julgar com os olhos físicos, que apenas assinalam na Terra ligeiras nuances da verdade.

Tudo nos infinitos domínios do Infinito Universo transformação incessante para a gloria do bem.

Em razão disso, o mal sempre efêmero nevoeiro na exaltação da eterna paz, e toda sombra, por mais dilatada no espaço e no tempo, não passa de expressão transitória no jogo das aparências.

Não reproves, assim, o solo estéril pela carência que patenteia e nem condenes a víscera cadavérica pelo bafio que exala, porque, amanhã, a Bondade de Deus pode reunir um e outro, com eles edificando um berçário de lírios.

Não te antecipes à Justiça do Pai Celeste quando fores incomodado, porque o Pai Celeste sabe distribuir o pão e a corrigenda com os filhos que lhe constituem o patrimônio de excelso amor.

Ainda mesmo diante do inferno que nós criamos na consciência com os nossos erros deliberados, ei-lo, bondoso, a expressar-se com o seu Divino Devotamento, transformando-o em lixívia que nos sane as mazelas da alma.

Trabalha, ajudando sempre, na certeza de que Deus sustenta a vida, para que a vida se aprimore.

Assim sendo, no principio de cada dia ou no começo de cada tarefa nova, faze da oração a nota inicial de teu passo primeiro, para que te não falte a inspiração do Céu em toda a medida justa.

Quando fatigado, seja Deus teu descanso.

Quando aflito, seja Deus teu console.

Quando supostamente derrotado, seja Deus teu arrimo.

Quando em desalento, seja Deus tua fé.

Ergue, diariamente, um templo vivo de amor a Deus em teu espírito e rende-lhe preito incessante, através do serviço ao próximo, nas lutas de cada hora.

Em todos os lances de nossa peregrinação para os cimos, lembremo-nos de Deus para que não estejamos esquecidos de nós.

Pelo Espírito Meimei
Do livro: Vozes do Grande Além
Médium: Francisco Cândido Xavier

29 agosto 2011

Esclarecimento - André Luiz


ESCLARECIMENTO

Quando alinhamos nossas despretensiosas anotações acerca de "Nosso Lar", relacionando a nossa alegria diante da Vida Superior, muitos companheiros inquiriram espantados: - Afinal, o que vem a ser isso? Os desencarnados olvidam assim a paragem de que procedem? Se as almas, em se materializando na Terra, chegam do mundo espiritual, por que as exclamações excessivas de júbilo quando para lá regressam, como se fossem estrangeiros ou filhos adotivos de nova pátria?

O assunto, simples embora, exige reflexão.

E é necessário raciocinar dentro dele, não em termos de vida exterior, mas de vida íntima.

Cada criatura atravessa o portal do túmulo ou transpõe o limiar do berço, levando consigo a visão conceptual do Universo que lhe é própria.

Almas existem que varam dezenas de reencarnações sem a menor notícia da Espiritualidade Superior, em cuja claridade permanecem como que hibernadas, na condição de múmias vivas, já que não dispõem de recursos mentais para o registro de impressões que não sejam puramente de ordem física.

Assemelham-se, de alguma sorte, aos nossos selvagens, que, trazidos aos grandes espetáculos da ópera lírica, suspiram contrafeitos pela volta ao batuque.

E muitos de nós, como tantos outros, em seguida a romagens infelizes ou semicorretas, tornamos do mundo às esferas espirituais compatíveis com a nossa evolução deficiente, e, além desses lugares de purgação e reajuste, habitualmente somos conduzidos por nossos Instrutores e Benfeitores para ensaios de sublimação a círculos mais nobres e mais elevados, nos quais nem sempre nos mantemos com o equilíbrio desejável, já que nos achamos saudosos de contato mais positivo com as experiências terrestres.

Agimos, então, como alunos inadaptados de Universidade venerável, cuja disciplina nos desagrada, por guardarmos o pensamento na retaguarda distante, ansiosos de comunhão com o ambiente doméstico, em razão do espírito gregário que ainda prevalece em nosso modo de ser.

Como é fácil observar, raras Inteligências descem, efetivamente, das esferas divinas para se reencarnarem na esfera física.

Todos alcançamos as estações do berço e do túmulo, condicionando nossas percepções do mundo externo aos valores mentais que já estabelecemos para nós mesmos, porque todos nos ajustamos, bilhões de encarnados e desencarnados, a diferentes faixas vibratórias de matéria, guardando, embora, o Planeta como nosso centro evolutivo, no trabalho comum.

Desse modo, a mais singela conquista interior corresponde para nossa alma a horizontes novos, tanto mais amplos e mais belos, quanto mais bela e mais ampla se faça a nossa visão espiritual.

Construamos, pois, o nosso paraíso por dentro.

Lembremo-nos que os grandes culpados que edificaram o inferno, em que se debatem, respiram o ambiente da Terra – da Terra que é um santuário do Senhor, evoluindo em pleno Céu.

Nosso ligeiro apontamento em torno do assunto destina-se, desse modo, igualmente a reconhecermos, mais uma vez, o acerto e a propriedade da palavra de Nosso Divino Mestre, quando nos afirmou , convincente: - O reino de Deus está dentro de nós.

Pelo Espírito André Luiz Do livro: Vozes do Grande Além Médium: Francisco Cândido Xavier

28 agosto 2011

Somente Você - Marco Prisco


SOMENTE VOCÊ

Ninguém poderá carregar o fardo de suas dores.
Eduque-se com o sofrimento.

Ninguém entenderá os problemas complexos de sua existência.
Exercite o silêncio.

Ninguém seguirá com você indefinidamente.
Acostume-se com a solidão.

Ninguém acreditará que suas aflições sejam maiores do que as do vizinho.
Liberte-se delas com o trabalho de auto-iluminação.

Ninguém lhe atenderá todas as necessidades.
Subordine-se apenas ao que você tem.

Ninguém responderá por seus erros.
Tenha cuidado no proceder.

Ninguém suportará suas exigências.
Faça-se brando e simples.

Ninguém o libertará do arrependimento após o crime.
Medite na paciência e domine os impulsos.

Ninguém compreenderá seus sacrifícios e renúncias para a manutenção de uma vida modesta e honrada.
Persevere no dever bem cumprido.

Sábio é todo aquele que reconhece a infinita pequenez ante a infinita grandeza da vida. Embora ninguém possa servi-lo sempre, você encontrará um sublime Alguém, que tem para cada anseio de sua alma uma alternativa de amor.

Por você, Ele carregou o fardo do mundo...
Compreendeu os conflitos da vida...
Caminhou com todos...
Socorreu todos que O buscaram...
Matou a fome, saciou a sede e ouviu as multidões inquietas...
Atendeu à viúva de Naim, ao apelo materno em Caná...
Carregou a cruz da injustiça sem nenhuma reclamação...
Perdoou a traição de Judas, desculpou as negativas de Pedro e a ambos libertou do remorso com a concessão do trabalho em novos avatares...
Compreendeu as lutas da mulher atormentada, sedenta de paz; esclareceu o enfático doutor do Sinédrio, sedento de saber; arrancou das trevas o cego Bartimeu, sedento de claridade...
Ensinou que diante do amor todos os enigmas do Universo se aclaram, por ser o Pai Celeste a Suprema Fonte do Amor.
Não se imponha, pois, a ninguém.

Embora você dependa de todos, nada aguarde dos outros.
Receba e agradeça o que lhe chegue e como chegue, ajude e passe...

Aprenda que a luta é a lição de cada hora no abençoado livro da existência planetária, e siga adiante com Ele, que "jamais se escusava".

Marco Prisco (espírito),
Psicografia de Divaldo Franco
Livro: Ementário Espírita

27 agosto 2011

No Roteiro da Fé - Emmanuel


NO ROTEIRO DA FÉ

"Se alguém quer vir após mim, negue a si mesmo,
tome cada dia a sua cruz e siga-me." - Jesus



O aviso do Senhor é insofismável.

"Siga-me" - diz o Mestre.

Entretanto, há muita gente a lamentar-se de fracassos e desilusões, em matéria de fé, nas escolas do Cristianismo, por não Lhe acatarem o conselho.

Buscam Jesus, fazendo a idolatria em derredor de seus intermediários humanos e, como toda criatura terrestre, os intermediários humanos do Evangelho não podem substituir o Cristo, junto à sede das almas.

Aqui, é o padre católico, caridoso e sincero, contudo, incapaz de oferecer a santidade perfeita.

Ali, é o pastor da Igreja Reformada, atento e nobre, mas inabilitado à demonstração de todas as virtudes.

Acolá, é o médium espírita, abnegado e diligente, todavia distante da própria sublimação.

Mais além, surgem doutrinadores e comentaristas, companheiros e parentes, afeiçoados ao estudo e excelentes amigos, mas ainda longe da integração com o Benfeitor Eterno.

E quase sempre aqueles que o acompanham, na suposição de buscarem o Cristo, ante os mínimos erros a que se arrojam, por força da invigilância ou inexperiência, retiram-se, apressados, do serviço espiritual, alegando desapontamento e amargura.

O convite do Senhor, no entanto, não deixa margem à dúvida.

Não desconhecia Jesus que todos nós, os Espíritos encarnados ou desencarnados que suspiramos pela comunhão com Ele, somos portadores de cicatrizes e aflições, dívidas e defeitos, muitas vezes escabrosos. Daí o recomendar-nos: - "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me".

Se te dispõe, desse modo, a encontrar o Senhor para a edificação da tua felicidade, renuncia com desassombro às bagatelas da estrada, suporta corajosamente as conseqüências dos teus atos de ontem e de hoje e procura Jesus por Divino Modelo.

Não olvides que há muita diferença entre seguir o Cristo e seguir os cristãos.

De “ Palavras de Vida Eterna “
De Francisco Cândido Xavier
Pelo Espírito Emmanuel

26 agosto 2011

Balada de um Feto - Élzio Ferreira de Souza


BALADA DE UM FETO

Foi um momento de gozo em pequeno quarto escuro, a música romântica inspirando paixões, causava arrepios. Dentro em pouco, um novo ser mergulhava no ventre, suspirando – "Ma... mãe".

O tempo avança. Sinais diferentes. A gravidez se estabelece. No claustro materno, o ser se regozija, está seguro e protegido.

Mas eis que vem a ordem — "É necessário expulsá-lo". Não tem a quem recorrer, não sabe o que pensar, nem podia acreditar. Sua voz não é ouvida, sua presença é negada. Corações endurecidos têm ouvidos cerrados.

As mães dão a vida por seus filhos, como chamar a quem deseja matá-lo? Ao coração empedrado do pai, nem em sonhos podia falar: preso estava às contas e prazeres.

A escolha fora uma opção de amor. No tempo, era preciso apagar as mágoas do passado, eliminar tristezas, linchar o ódio, fazer crescer a união embalada na esperança.

Existiam milhões de ventres no mundo, reservatórios de vida e de luz, aquele fora o eleito sem o aleatório lotérico nem a casualidade da ocasião.

Agora era o dilema. E pensava: "Por que Jesus nascera e Maria não o abortara? Que teria sido do mundo se ela o rejeitasse?" Podia escutar o pensamento da mãe por dentro de si mesmo: "Ele não era Jesus..." E tinha em parte razão.

Mas para que mãe seu filho não é um menino Jesus, carregado dia e noite, quase de encontro ao peito? Não é, por isso, que as mães adoram seus filhos?

Ouvira uma ideia estranha, alguma coisa tenebrosa: "E se fosse um Hitler, um Mussolini, um Átila..., não seria melhor que tivessem sido abortados? Estes são mais prováveis que Jesus."

Não podia chorar porque ainda não tinha lágrimas; o pequeno corte labial, no entanto, abriu-se como num grito prima: "Milhões destes tiranos não valem um Jesus. Eles foram abortos na evolução. Quem os cria, senão o ódio, o rancor, o egoísmo? Quando se os implanta na cadeia da vida, destruindo fetos, que se pode esperar dos que renascem? Teria sido seu corpo concebido num momento de ódio? Não ouvira juras de amor entre a exaltação dos beijos? Como poderiam qualificá-lo agora de o Indesejado, se fora fruto do desejo?"

Enquanto pensava essas coisas, notou que o fio da vida se esvaia, pouca coisa poderia fazer. Agarrar-se ao ventre, colar-se ao corpo da que o expulsava, lutar, lutar, até tirar-lhe a vida e esperá-la do outro lado? Não."

Outra vez, quis chorar, mas não pôde: os que amam não destroem, e ele viera em nome do amor. Ele a marcaria apenas com o selo da saudade (o que, por engano, chamam de complexo de culpa): pelo resto da vida, pensaria nele, sem saber quem poderia ter sido: “um Beethoven, um Mozart, um Einstein, ou um João Ninguém, dissolvido, na multidão?” Ah! Seria sempre "seu pequeno Jesus" jogado no lixo.

Autor: Élzio Ferreira de Souza

25 agosto 2011

Álcool e Obsessão - Irmão Saulo


ÁLCOOL E OBSESSÃO
Irmão Saulo

A obsessão mundial pelo álcool, no plano humano, corresponde a um quadro apavorante de vampirismo no plano espiritual. A medicina atual ainda reluta - e infelizmente nos seus setores mais ligados ao assunto, que são os da psicoterapia - em aceitar a tese espírita da obsessão. Mas as pesquisas parapsicológicas já revelaram, nos maiores centros culturais do mundo, a realidade da obsessão. De Rhine, Wickland, Pratt, nos Estados Unidos, a Soal, Carington, Price, na Inglaterra, até a outros para-psicólogos materialistas, a descoberta do vampirismo se processou em cadeia. Todos os parapsicólogos verdadeiros, de renome científico e não marcados pela obsessão do sectarismo religioso, proclamam hoje a realidade das influências mentais entre as criaturas humanas, e entre estas e as "mentes desencarnadas".

Jean Ehrenwald, psicanalista, chegou a publicar importante livro intitulado: Novas Dimensões da Análise Profunda, corroborando as experiências de Karl Wick-land em Trinta Anos Entre os Mortos. Koogan, na Europa de hoje, acompanhado por vários pesquisadores, efetuou experiências de controle remoto da conduta humana pela telepatia, obtendo resultados satisfatórios. Tudo isso nada vale para os que se obstinam na negação pura e simples, como faziam os cientistas e os médicos do tempo de Pasteur em relação ao mundo bacteriano.

As quadras de Cornélio Pires sobre a obsessão alcoólica não são apenas uma brincadeira poética. Elas nos mostram - num panorama visto do lado oculto da vida - a própria mecânica desse processo obsessivo. Espíritos inimigos, (que ofendemos gravemente em existências anteriores), excitam-nos o desejo inocente de "tomar um trago". Aceitamos a "idéia maluca" e espíritos vampirescos são atraídos pelas emanações alcoólicas do nosso corpo. Daí por diante, como aconteceu a Juca de João Dório, "enveredamos na garrafa" e vamos parar no sanatório. Os espíritos vampirescos são viciados que morreram no vício e continuam no mundo espiritual inferior, aqui mesmo na Terra, buscando ansiosamente os seus "tragos". Satisfazem-se com as emanações alcoólicas de suas vítimas e continuam a sugá-las como vampiros psíquicos.

Nas instituições espíritas bem dirigidas esse processo é bastante conhecido, e são muitos os infelizes que se salvam após um tratamento sério. Nos hospitais espíritas as curas são numerosas. Veja-se a obra do Dr. Inácio Ferreira: Novos Rumos à Medicina, relatando as curas realizadas no Hospital Espírita de Uberaba. Não é só a obsessão alcoólica que está em jogo nos processos obsessivos. Os desvios sexuais oferecem um contingente talvez maior e mais trágico do que o do álcool, porque mais difícil de ser tratado.

Tem razão o poeta caipira ao advertir que "álcool, para ajudar, é cousa de medicina". Só nas aplicações médicas o álcool pode ser usado como remédio. Mas temos de acrescentar, infelizmente, que os médicos de olhos fechados para a realidade espiritual não estão em condições de atender aos casos de alcoolismo. Os grupos espíritas e as associações alcoólicas obtêm resultados mais positivos, quando em tratamentos bem dirigidos.

Do livro "Diálogo dos Vivos", Irmão Saulo
Francisco Cândido Xavier e J. Herculano Pires
Espíritos Diversos

24 agosto 2011

Convite a Fé - Joanna de Ângelis


CONVITE À FÉ

"Se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda..." (Mateus, 17:20.)

Para que a chama arda é indispensável a sustentação pelo combustível.

A fim de que o rio se agigante, a nascente prossegue sustentando-lhe o curso.

A mesa enriquecida pelo pão sacrifica o grão de trigo generoso.

No ministério da vida espiritual, a fim de que o homem sobreviva ao clima de desespero que irrompe de todo lado, com as altas cargas da aflição, do medo, da dúvida, que se generalizam, a fé é imprescindível para a aquisição do equilíbrio.

Seu milagre, todavia, depende do esforço despendido em prol da sua própria manutenção.

À fé inata devem ser adicionados os valores da reflexão e da prece de modo a canalizar a inspiração superior que passa a constituir fonte geradora de preservação do necessário capital da confiança.

Às vezes, para que as sementes que jazem no solo das almas, em latência, se desdobrem em embriões de vida, torna-se imperioso condicionamentos psíquicos, somente possíveis mediante a busca sistemática pela razão, pelos fatos, através da investigação.

Seja, porém, como seja, o homem não pode prescindir do valioso contributo da fé, a fim de colimar os objetivos da reencarnação.

Apressado, ante a infeliz aplicação do avião nos jogos da guerra, Alberto Santos Dumont preferiu a fuga, através do autocídio nefário...

Porque a dinamite fora usada para extermínio de povos Alfredo Nobel amargurou-se até a desencarnação..

Se tivessem fé, poderiam acompanhar a marcha do progresso, ensejada pelos seus inventos, colocados a serviço mesmo da Humanidade.

Não obstante houvessem perseverado confiantes no êxito dos seus empreendimentos, faltou-lhes a fé religiosa para sustentá-los nos momentos terríveis que tiveram de considerar, em face da vida física que se extingue e da espiritual que é indestrutível.

A fé é a flama divina que aquece o espírito e dá-lhe forças para superar tudo: mágoas, desaires, revoltas, traições e até mesmo a morte.

Alimentá-la para a própria paz é indeclinável dever que não podes postergar.

De “Convites da Vida”
De Divaldo P. Franco
Pelo Espírito Joanna de Ângelis

23 agosto 2011

Como Adorar a Deus - Rodolfo Calligaris


COMO ADORAR A DEUS

Em todas as épocas, todos os povos praticaram, a seu modo, atos de adoração a um Ente Supremo, o que demonstra ser a ideia de Deus inata e universal.

Com efeito, jamais houve quem não reconhecesse intimamente sua fraqueza, e a consequente necessidade de recorrer a Alguém, todo poderoso, buscando-Lhe o arrimo, o conforto e a proteção, nos transes mais difíceis desta tão atribulada existência terrena.

Tempos houve em que cada família, cada tribo, cada cidade e cada raça tinha os seus deuses particulares, em cujo louvor o fogo divino ardia constantemente na lareira ou nos altares dos templos que lhes eram dedicados.

Retribuindo essas homenagens (assim se acreditava), os deuses tudo faziam pelos seus adoradores, chegando até a se postar à frente dos exércitos das comunas ou das nações a que pertenciam, ajudando-as em guerras defensivas ou de conquista.

Em sua imensa ignorância, os homens sempre imaginaram que, tal qual os chefes tribais ou os reis e imperadores que os dominavam aqui na Terra, também os deuses fossem sensíveis às manifestações do culto exterior, e daí a pomposidade das cerimônias e dos ritos com que os sagravam.

Imaginavam-nos, por outro lado, ciosos de sua autenticidade ou de sua hegemonia e, vez por outra, adeptos de uma divindade entravam em conflito com os de outra, submetendo-a a provas, sendo então considerado vencedora aquela que conseguisse operar feito mais surpreendente.

Sirva-nos de exemplo o episódio constante do III Livro dos Reis, cap. 18, v. 22 a 40. Ali se descreve o desafio proposto por Elias aos adoradores de Baal, para saber-se qual o deus verdadeiro. Colocadas as carnes de um boi sobre o altar dos holocaustos, disse Elias a seus antagonistas: "Invocai, vós, primeiro, os nomes dos vossos deuses, e eu invocarei, depois, o nome do meu Senhor; e o deus que ouvir, mandando fogo, esse seja o Deus."

Diz o relato bíblico que por mais que baalitas invocassem o seu Deus, em altos brados e retalhando-se com canivetes e lancetas, segundo o seu costume, nada conseguiram.

Chegada a vez do deus de Israel, este fez cair do céu um fogo terrível, que devorou não apenas a vítima e a lenha, mas até as próprias pedras do altar.

Diante disso, auxiliado pelo povo, Elias agarrou os seguidores de Baal e, arrastando-os para beira de um rio, ali os decapitou.

O monoteísmo, depois de muito tempo, impôs-se, afinal, ao politeísmo, e seria de crer-se que, como esse progresso, compreendendo que o Deus adorado por todas as religiões é um só, os homens passassem, pelo menos, a respeitar-se mutuamente, visto as diferenças, agora, serem apenas quanto à forma de cultuar esse mesmo Deus.

Não foi tal, porém, o que sucedeu. E os próprios "cristãos", séculos, contrastando frontalmente com os piedosos ensinamentos do Cristo, empolgados pelo fanatismo da pior espécie, não hesitaram em trucidar, a ferro e fogo, milhares de "hereges" e "infiéis", para maior honra e glória de Deus!" – como se Aquele que é o Senhor da Vida pudesse sentir-se honrado e glorificado com tão nefandos assassínios...

Atualmente, bastante enfraquecido, o sectarismo religioso começa a derruir, o que constitui prenúncio seguro de melhores dias, daqui, daqui para o futuro.

Acreditamos, mesmo, que, graças à rápida aceitação que a Doutrina Espírita vem alcançando por toda parte, muito breve haveremos de compreender que todos, sem exceção, somos de origem divina e integrantes de uma só e grande família. E posto que Deus é Amor, não há como adorá-Lo senão "amando-nos uns aos outros", pois, como sabidamente nos ensina João, o apóstolo ( I ep., 4:20), "se o homem não ama a seu irmão, que lhe está próximo, como pode amar
a Deus, a quem não vê?"

De “As Leis Morais, Segundo a Filosofia Espírita”
De Rodolfo Calligaris

22 agosto 2011

Fenômenos da Sintonia Espiritual - Irmão Jacob


FENÔMENOS DA SINTONIA ESPIRITUAL

O dia correu, célere, multiplicando surpresas confortadoras, ao redor de meus passos, e, à noite, findo o culto doméstico das Palavras Divinas. Marta me convidou ao recolhimento, afirmando que a cidade permanecia cheia de atrativos e estudos para a noite; contudo, aconselhava-me o repouso, de modo a evitar excessos de impressões nas primeiras horas de meu contacto com a paisagem.

Surpreendendo-me, o amigo Andrade declarou que se demoraria junto de mim, naquela noite. Salientou que minhas forças jaziam quase refeitas, que começava a viver a experiência normal na esfera nova e, por isso, provavelmente eu necessitaria de instruções fraternas.

Não obstante intrigado, aceitei, satisfeito, o oferecimento gentil.

Passamos a extensa câmara destinada ao descanso, mas bastou que me entregasse à quietação para que certo fenômeno auditivo e visual me perturbasse as fibras mais íntimas.

Vi perfeitamente, qual se estivesse dentro de mim, as filhas queridas, então na Terra, e alguns poucos amigos, que deixara no mundo, dirigindo-me palavras de saúde e carinho.

Pai querido! Diga-me se você ainda vive! Desfaça minha dúvida, ensine-me o caminho, venha até mim!

Era a voz de uma delas a interpelar-me.

O amoroso chamamento ameaçava-me o equilíbrio. Minha razão pericultou por segundos. Onde me encontrava? Contemplava-a ao meu lado, queria beijar-lhe as mãos, expressando-lhe reconhecimento pela imensa ternura, mas debalde a buscava.

Ainda me não desembaraçara do involvidável momento de estranheza, quando um médium de minhas relações apareceu igualmente no quadro.

- Meu amigo! Fale-nos, conforte-nos!... – rogou, comovidamente.

Meu coração pulsou apressado. Como atender aos apelos?

Ia gritar, suplicando socorro. Todavia, o Irmão Andrade, mais prestativo e prudente que eu poderia supor, abeirou-se de mim e cientificou-me de que aquele era o fenômeno da sintonia espiritual, comum a todos os recém-desencarnados que deixam laços do coração, na retaguarda. Esclareceu que, através de semelhante processo, era mesmo possível comunicar-se com o círculo físico, quando o intermediário terreno possa conservar a mente na onda de ligação mental durante o tempo indispensável. Informou que a entidade desencarnada é suscetível de manter intenso intercâmbio pelos recursos do pensamento e que, por intermédio dessa comunhão íntima, encarcera-se o criminoso nas sombras das próprias obras, tanto quanto o apóstolo de bem vive com os resultados felizes de sua sementeira sublime de renúncia e salvação.

Insuflou-me forças vigorosas, utilizando passes de longo curso e, recomendando-me calma, asseverou que, aos poucos, saberia controlar o fenômeno das solicitações terrestres, canalizando-lhe as possibilidades para o trabalho de elevação.

Pelo Espírito Irmão Jacob
Do livro: Voltei
Médium: Francisco Cândido Xavier

21 agosto 2011

Despertamento para a Verdade - Joanna de Ângelis


DESPERTAMENTO PARA A VERDADE

Ilude-se, todo aquele que supõe que o encontro com a Verdade irá impedir-lhe a ocorrência de problemas e de desafios existenciais na jornada de evolução.

Engana-se, quem pretende viver experiências elevadas sem as lutas do quotidiano, em razão da sua vinculação com o espírito da Verdade.

Desperdiça o tempo, o indivíduo que acredita estar livre do sofrimento, somente porque se voltou para as lições libertadoras da Verdade.

Equivoca-se, a pessoa que, abraçando a Verdade, espera desfrutar de privilégios e prazeres contínuos.

Defrauda a consciência, o pretendente a uma vida de exceção, longe da dor, das provas necessárias, somente porque aderiu à Verdade.

Mente, para si mesmo, aquele que espera uma existência pacata, rica de experiências espirituais, sem os choques do mundo, agora, quando se encontrou com a Verdade.

Não existe um exemplo de alguém que haja despertado para a Verdade, que tenha modificada a trajetória da reencarnação, passando a gozar de dádivas especiais que o tomariam um eleito.

Pelo contrário, a Verdade induz à maturidade espiritual, à libertação da ignorância em tomo da vida, demonstrando que se está na Terra, num mundo transitório, momentâneo, programado para o retomo ao Grande Lar, após vencidas as etapas de progresso que lhe são necessárias durante o trajeto físico.

O conhecimento da Verdade dilata os horizontes do entendimento intelectual e racional do Espírito, a fim de que possa aplicar ao dever essencial, ao invés de deter-se nas banalidades que procura transformar em fundamentais à felicidade.

Ao mesmo tempo, convoca a mente à introspecção, à viagem silenciosa que leva ao autodescobrimento, de maneira a selecionar o que é fundamental e o que é secundário durante o périplo carnal.

Identificados os valores legítimos oferecidos pela reencarnação, entrega-se à reconstrução moral no campo das idéias, facultando melhor direcionamento dos esforços pessoais em favor do crescimento interior, com a mente inçada de esperanças e de bem-estar.

Uma incomparável alegria apossa-se-lhe do comportamento, alterando-o expressivamente, por facultar o aproveitamento do tempo para a vinculação com Deus através da Sua manifestação em todas as coisas.

Aberturas emocionais para o amor, para a fratemidade, para a compaixão, para a caridade ensejam-Ihe um intercâmbio contínuo com as Forças do Bem, que alimentam o ser e dele retiram energias que são aplicadas em favor dos menos aquinhoados.

Uma alteração real de objetivos alerta para a vivência contínua das emoções superiores.

A resignação ante os acontecimentos menos ditosos, os insucessos materiais, as enfermidades, as agressões e combates inevitáveis, transforma-se em recurso prodigioso para dar continuidade aos projetos evolutivos na direção da meta libertadora.

À medida que o ser se eleva, mais fácil apresenta-se-Ihe a faculdade de entender a vida e suas ocorrências, dando-lhe motivações para empreendimentos contínuos de paz e de construção da solidariedade.

Não espera que o mundo mude, antes muda em relação ao mundo, tomando-se um ponto de referência para outras futuras transformações que ocorrerão em favor da renovação da sociedade.

Já não mais escraviza-se a pessoas e a coisas por sabê-Ias todas efêmeras no curso infinito do progresso. Ama-as, porém, livre de dependência de qualquer espécie, por cuja forma não se detém na marcha, avançando sempre.

Compreende que nem todos, no momento, podem seguir-lhe os passos, o que não o aflige, nem o desestimula, porquanto reconhece a existência de níveis variados de consciências, continuando nos propósitos estabelecidos.

Vitimado por circunstâncias decorrentes dos atos infelizes do pretérito espiritual, enfrenta a situação com coragem, diluindo os efeitos com os métodos ao alcance, evitando novos comprometimentos que o afligirão no porvir.

Perseguido pela insensatez que campeia a soldo da comodidade em toda parte, sorri e continua, não se detendo a explicar a conduta, nem a debater a respeito da decisão de integrar-se no conceito da Verdade, vivendo-a, desde já, sem alarde, nem imposição de qualquer natureza.

Honestamente, é fiel a si mesmo e a Deus, que o atrai com a irresistível energia do amor, passando a nutrir-se desse pão de vida, sem a preocupação de justificar-se ou de arrebanhar adeptos para o seu desiderato.

Muitas vezes, a sós, está sempre com Deus, ou Deus está com ele, não se importando com o abandono a que se veja entregue por familiares, amigos ou correligionários.

Não se aflige hoje, ante a impossibilidade de conseguir a realização dos seus objetivos. Sabe que o importante é iniciar a busca, prosseguindo sem pressa, nem detença.

Nele fulgura a luz da paz, que o tranqüiliza, facultando-lhe entendimento de todos os acontecimentos.

Se a morte ameaça, prepara-se para recebê-Ia jovialmente, porque entende que ela será a sua ponte para alcançar o Outro Lado, onde espera ser feliz.

Vagarosamente e com decisão rompe o véu que o separa da Verdade, conforme acentuava São João da Cruz.

...E ocorrendo a morte, desperta em madrugada formosa para a qual se preparou durante a existência passada.

Eu sou o Caminho da Verdade e da Vida - afirmou Jesus.

A fim de ser alcançado - Deus em Plenitude - Jesus é o Caminho único, embora se multipliquem os missionários do amor, da compaixão e da sabedoria em todas as doutrinas espiritualistas, que vieram em Seu nome, a fim de preparar as criaturas para o grande encontro com o Seu coração.

Toma-O como modelo e guia, seguindo-O alegremente e a Verdade te embriagará de luz e de paz, concedendo-te Vida em abundância.

Pelo Espírito Joanna de Ângelis - Psicografia do médium Divaldo P. Franco, no dia 25 de dezembro de 2004, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.

20 agosto 2011

A Paz do Mundo e a Paz Interior - Momento Espírita


A Paz do Mundo e a Paz Interior

A maior parte dos seres humanos deseja a paz no Mundo. É como um sonho coletivo: nada de guerras, de conflitos originados por preconceitos ou disputas políticas e religiosas.

Entretanto, muitos esquecem de um detalhe: a paz é o resultado de uma construção de pessoas, grupos, comunidades e povos.

Ela nasce, muito antes, no coração de cada um de nós.

"A paz do mundo começa em mim. Se tenho amor, com certeza sou feliz. Se faço o bem ao meu irmão, tenho a grandeza dentro do meu coração."

A música do compositor Nando Cordel é uma bela tradução do verdadeiro espírito da paz.

Um sentimento que deve estar dentro da alma dos que desejam ver o Mundo mais aprimorado, do ponto de vista moral.

Mas há uma pergunta importante em meio a tudo isso: O que é a paz?

E você deve estar se perguntando: Será assim tão importante saber o que é a paz?

Claro que sim. Não se pode possuir aquilo que se desconhece. Então, falemos de paz...

Muita gente mistura os conceitos e acredita saber perfeitamente o que é a paz.

Alguns confundem paz com silêncio. Outros acreditam que a paz é a ausência de brigas.

Outros, ainda, imaginam que estar em paz significa ficar quieto, sem perturbar a quem quer que seja.

Finalmente, há os que acreditam que estar em paz é ter dinheiro sobrando para viver uma vida de conforto.

Será que isso é mesmo a paz? Será que essas situações trazem mesmo a tranqüilidade ou são apenas momentos menos tumultuados, com algum conforto material?

Pensemos juntos: paz não é simplesmente ausência de barulho.

Muita gente faz silêncio por fora, mas traz a alma sobrecarregada de ruídos. O tormento interno torna a criatura estressada e infeliz.

E quem acha que paz é a ausência de brigas e conflitos aparentes também pode estar enganado.

Quantas vezes a pessoa fica em silêncio somente porque tem medo de expressar sua opinião? Quantas vezes a raiva está bem camuflada sob uma aparência tranqüila?

Quem vê cara, não vê coração, diz a sabedoria popular. O mesmo acontece com a paz: nem sempre o rosto expressa o que vai na cabeça ou no coração da pessoa.

Em resumo: não se pode confundir paz com preguiça, displicência, comodismo ou covardia.

A paz é um estado de espírito permanente. Quem verdadeiramente vive em paz não perturba o mundo e nem se deixa perturbar por ele.

É claro que esse estado mental de completa paz é algo ainda um pouco distante da nossa realidade, mas o nosso papel é o do esforço constante para alcançarmos esse objetivo.

E se todo processo inicia em algum momento, como iniciar a conquista da paz?

Nossa sugestão: faça como se fosse um treinamento diário. Um treinamento de autoconhecimento. Principalmente, de auto-educação.

Comece reservando algumas horas para você e faça reflexões. Inicie fazendo um levantamento sobre todas as coisas, pessoas e situações que lhe causam irritação.

Em seguida, analise as razões porque você se irrita com essas pessoas e situações.

Pense em alternativas para não perder a calma. Faça simulações mentais, experimente seus limites, treine a paciência, exercite o equilíbrio.

Se fizer assim, possivelmente você estará melhor preparado para quando a situação ocorrer de fato. Estabeleça metas a serem alcançadas na conquista da paz.

Simultaneamente, exercite hábitos mentais positivos: meditação, boas leituras, relaxamento, músicas suaves.

Tudo isso fortalece a atmosfera de paz interior e reforça atitudes mais suaves e serenas.

Quando esses hábitos se consolidarem, quando a serenidade for obtida sem esforço, quando for mais fácil permanecer calmo, aí então você será forte candidato a se tornar exemplo para o Mundo.

Exemplo? Sim, amigo leitor: quem deseja a paz do Mundo deve se empenhar para ser exemplo vivo dessa paz.

É como uma árvore que, à medida que cresce, vai oferecendo benefícios de flores, perfume, cor e sombra aos que estão nas proximidades.

Por isso acredite: quem quer paz, nada exige dos outros. Faz a sua parte em silêncio e aguarda as conseqüências.

Momento Espírita

19 agosto 2011

O Desafio das Doenças Espirituais -


O Desafio das Doenças Espirituais

Medicina e Espiritualidade

A medicina humana não admite a existência do Espírito, não reconhecendo, conseqüentemente, as doenças espirituais. No passado, porém, durante séculos, o Espírito era considerado causa de doença, principalmente na loucura onde parecia evidente seu parentesco com o mal. Quando a Medicina começou a descobrir a fisiologia mecanicista dos fenômenos biológicos, excluiu dos meios acadêmicos a participação da alma, inclusive na criação dos pensamentos, que passaram a ser vistos como "secreção" do cérebro, e as doenças mentais, como distúrbios da química dos neurônios.

O médico espírita que pretender retomar, nos dias de hoje, a discussão sobre as doenças espirituais precisa expurgar, em primeiro lugar, a "demonização" das doenças, um ranço medieval que ainda contamina igrejas e repugna o pensamento médico atual.

A medicina moderna aprendeu a ajuizar os sintomas e os desvios anatômicos, usando sinais clínicos para fazer as classificações das doenças que conseguiu identificar. Para as doenças espirituais, porém, fica faltando conhecer "o lado de lá" de cada paciente para podermos dar um diagnóstico correto para cada necessitado. Já no século XVII, Paracelso atribuía causas exteriores ou perturbações internas aos doentes mentais, destacando oslunáticos (pela interferência das fases e movimentos da Lua), os insanos (pela hereditariedade), os vesanos (pelo abuso de bebida ou mau uso de alimentos) e os melancólicos (por um vício de natureza interna).

Para as doenças espirituais também percebemos causas externas e internas. Por enquanto, nossa visão parcial nos permite apenas uma proposta onde constem as possíveis causas da doença espiritual, sem o rigor que uma avaliação individual completa exigiria, adotando-se para tanto a seguinte classificação: doenças espirituais auto-induzidas (por desequilíbrio vibratório e auto-obsessão), doenças espirituais compartilhadas(por vampirismo e obsessão), mediunismo e doenças cármicas.

As Doenças Espirituais auto-induzidas.

Por desequilíbrio vibratório

O perispírito é um corpo intermediário que permite ao espírito encarnado exercer suas ações sobre o corpo físico. Sua ligação é feita célula a célula, atingindo a mais profunda intimidade dos átomos que constitui a matéria orgânica do corpo físico. Esta ligação se processa pelas vibrações de cada um dos dois corpos - físico e espiritual - cujo "ajuste" exige uma determinada sintonia vibratória. Como o perispírito não é prisioneiro das dimensões físicas do corpo de carne, podendo manifestar suas ações além dos limites do corpo físico pela projeção dos seus fluidos, a sintonia e a irradiação do perispírito são dependentes unicamente das projeções mentais que o espírito elabora, do fluxo de idéias que construímos. De maneira geral, o ser humano ainda perde muito dos seus dias comprometido com a crítica aos semelhantes, o ódio, a maledicência, as exigências descabidas, a ociosidade, a cólera e o azedume entre tantas outras reclamações levianas contra a vida e contra todos. Como o vigiai e orai ainda está distante da nossa rotina, desajustamos a sintonia entre o corpo físico e o perispírito, causando um"desequilíbrio vibratório". Essa desarmonia desencadeia sensações de mal-estar, como a estafa desproporcional e a fadiga sistemática, a enxaqueca, a digestão que nunca se acomoda, o mau humor constante e inúmeras outras manifestações tidas como "doenças psicossomáticas". Ainda nos dedicamos pouco a uma reflexão sobre os prejuízos de nossas mesquinhas atitudes, principalmente em relação a um comportamento mental adequado.

Por auto-obsessão

O pensamento é energia que constrói imagens que se consolidam em torno de nós. Impressas no perispírito elas formam um campo de representações de nossas idéias. À custa dos elementos absorvidos do fluido cósmico universal, as idéias tomam formas, sustentadas pela intensidade com que pensamos nelas. A matéria mental constrói em torno de nós uma atmosfera psíquica (psicosfera) onde estão representados os nossos desejos. Neste cenário, estarão todos os personagens que nos aprisionam o pensamento pelo amor ou pelo ódio, pela indiferença ou pela proteção, etc. Medos, angústias, mágoas não resolvidas, idéias fixas, desejo de vingança, opiniões cristalizadas, objetos de sedução, poder ou títulos cobiçados, tudo se estrutura em "idéias-formas" na psicosfera que alimentamos, tornando-nos prisioneiros dos nossos próprios fantasmas. A matéria mental produz a "imagem" ilusória que nos escraviza. Por capricho nosso, somos, assim, "obsedados" pelos nossos próprios desejos.

As doenças espirituais compartilhadas

Por vampirismo

O mundo espiritual é povoado por uma população numerosíssima de Espíritos, quatro a cinco vezes maior que os seis bilhões de almas encarnadas em nosso planeta. Como a maior parte desta população de Espíritos deve estar habitando as proximidades dos ambientes terrestres, onde flui toda a vida humana, não é de se estranhar que esses Espíritos estejam compartilhando das nossas condutas. Podemos atraí-los como guias e protetores, que constantemente nos inspiram, mas também a eles nos aprisionar pelos vícios - o álcool, o cigarro, as drogas ilícitas, os desregramentos alimentares e os abusos sexuais. Pare todas essas situações, as portas da invigilância estão escancaradas, permitindo o acesso de entidades desencarnadas afins. Nesses desvios da conduta humana, a mente do responsável agrega em torno de si elementos fluídicos com extrema capacidade corrosiva de seu organismo físico, construindo para si mesmo os germens que passam a lhe obstruir o funcionamento das células hepáticas, renais e pulmonares, cronificando lesões que a medicina considera incuráveis. As entidades espirituais viciadas compartilham dos prazeres do vício que o encarnado lhes favorece e ao seu tempo estimulam-no a nele permanecer. Nesta associação, há uma tremenda perda de enrgia por parte do encarnado. Daí a expressãovampirismo ser muito adequada para definir esta parceria.

Por obsessão

No decurso de cada encarnação, a misericórdia de Deus nos permite usufruir das oportunidades que melhor nos convém para estimular nosso progresso espiritual. Os reencontros ou desencontros são de certa maneira planejados ou atraídos por nós para os devidos resgates ou para facilitar o cumprimento das promessas que desenhamos no plano espiritual. É assim que, pais e filhos, reencontram-se como irmãos, como amigos, como parceiros de uma sociedade. Marido e mulher que se desrespeitaram, agora se reajustam como pai e filha, chefe e subalterno ou como parentes distantes, que a vida dificulta a aproximação. As dificuldades da vida de uma maneira ou de outra vão reeducando a todos. Os obstáculos que à primeira vista parecem castigo ou punição trazem no seu emaranhado de provas a possibilidade de recuperar danos físicos ou morais que produzimos no passado.

No decorrer de nossas vidas, seremos sempre ganhadores ou perdedores na grande luta da sobrevivência humana. Nenhum de nós percorrerá essa jornada sem ter que tomar decisões, sem deixar de expressar seus desejos e sem fazer suas escolhas. É aí que muitas e muitas vezes contrariamos as decisões, os desejos e as escolhas daqueles que convivem próximo a nós. Nos rastros das mazelas humanas, nós todos, sem exceção, estamos endividados e altamente comprometidos com outras criaturas, também exigentes como nós, que como obsessores vão nos cobrar noutros comportamentos, exigindo-nos a quitação de dívidas que nos furtamos em outras épocas. Persistem como dominadores implacáveis, procurando nos dificultar a subida mais rápida para os mais elevados estágios da espiritualidade. Embora a ciência médica de hoje ainda não a traga em seus registros, a obsessão espiritual, na qual uma criatura exerce seu domínio sobre a outra, é, de longe, o maior dos males da patologia humana.

Por mediunismo

São os quadros de manifestações sintomáticas apresentadas por aqueles que, incipientemente, inauguram suas manifestações mediúnicas. Com muita freqüência, a mediunidade se manifesta de forma tranqüila e é tida como tão natural que, o médium, quase sempre ainda muito jovem, mal se dá conta de que o que vê, o que percebe e o que escuta de diferente. Outras vezes, os fenômenos são apresentados de forma abundante e o principiante é tomado de medos e inseguranças, principalmente, por não saber do que se trata. Em outras ocasiões, a mediunidade é atormentada por espíritos perturbadores e o médium se vê às voltas com uma série de quadros da psicopatologia humana, ocorrendo crises do tipo pânico, histeria ou outras manifestações que se expressam em dores, paralisias, anestesias, "inchaço" dos membros, insônia rebelde, sonolência incontrolável, etc. Uma grande maioria tem pequenos sintomas psicossomáticos e se sente influenciada ou acompanhada por entidades espirituais. São médiuns com aptidões ainda muito acanhadas, em fase de aprendizado e domínio de suas potencialidades, uma tenra semente que ainda precisa ser cultivada para se desabrochar.

Por "doenças cármicas" (compromissos adquiridos)

A "doença cármica" é antes de mais nada uma oportunidade de resgate e redenção espiritual. Sempre que pelas nossas intemperanças desconsideramos os cuidados com o nosso corpo e atingimos o equilíbrio físico ou psíquico do nosso próximo, estamos imprimindo estes desajustes nas células do nosso corpo espiritual. É assim que, na patologia humana, ficam registrados os quadros de "lúpus" que nos compromete as artérias, do "pênfigo" que nos queima a pele, das "malformações" de coração ou do cérebro, da "esclerose múltipla" que nos imobiliza no leito ou das demências que nos compromete a lucidez e nos afasta da sociedade.

Precisamos compreender que estas e todas as outras manifestações de doença não devem ser vistas como castigos ou punições. O Espiritismo ensina que as dificuldades que enfrentamos são oportunidades de resgate, as quais, com freqüência, fomos nós mesmos quem as escolhemos para acelerar nosso progresso e nos alavancar da retaguarda, que às vezes nos mantém distantes daqueles que nos esperam adiante de nós. Mais do que a cura das doenças, a medicina tibetana, há milênios atrás, ensinava que médicos e pacientes devem buscar a oportunidade da iluminação. Os padecimentos pela dor e as limitações que as doenças nos trazem sempre possibilitam esclarecimento, se nos predispormos a buscá-lo. Mais importante do que aceitar o sofrimento numa resignação passiva e pouco produtiva é tentar superar qualquer limitação ou revolta, para promovermos o crescimento espiritual, através desta descoberta interior e individual.

Dr. Nubor Orlando Facure - Neurologista
Artigo inserido no Jornal Espírita de julho de 2004
www.feesp.com.br

18 agosto 2011

Quando os Familiares Adoecem - Wellington Balbo


Quando os Familiares Adoecem

A vida na Terra, caro leitor, não permite muitas reclamações. Uma queixa aqui outra acolá tudo bem. Mas viver reclamando das vicissitudes da existência é contraproducente, perda de tempo e energia.

O melhor é aproveitar os desafios existenciais e tentar resolvê-los.

Se forem, porém, insolúveis, daí resta-nos a resignação.

Já dizia mestre Wanderlei Luxemburgo: Problema sem solução é problema resolvido!
Toda esta introdução é para contar-lhes um fato.

Tenho uma tia que está há 27 anos deitada numa cama sem conseguir mexer qualquer membro. Não fala, não pede, não anda, não gesticula...

Esta tia tem 3 filhos e o marido que se revezam em seus cuidados.

Dão banho, papinha, trocam fralda, ministram remédio e tudo o mais que alguém enfermo necessita.

O pessoal antes reclamava, mas depois de alguns anos, já vencidos pelo cansaço resolveram aceitar a vida como ela é.

Bem, como eu disse, ela não faz nada, mas está vida, ou melhor dizendo, encarnada, coração pulsando e tudo mais.

Em casos assim, é importante lembrarmos que embora o corpo esteja baleado o Espírito está lúcido, vendo tudo o que se passa ao seu redor.

Já pensou que prisão, caro leitor? Nem direito a saidinha ela tem. Corrigindo: tem sim, quando nos momentos do sono de seu corpo físico. Mas observe a prisão que ela vive, 27 anos sem falar, andar, cantar, pular, dançar e, o pior: sem direito a reclamação.

Mas de retorno ao assunto Espírito e reforçando o que dissemos acima: embora o corpo esteja danificado, o seu Espírito sente, ama, emociona-se, pois as emoções residem no espírito.

Você questionará aonde quero chegar com esse papo.

Quero dizer aqui que não obstante as dificuldades e limitações físicas os meus primos a tratam normalmente. Conversam com ela, colocam-na a par das novidades da casa, se haverá reforma ou não, se brigaram com a namorada, se estão enfermos ou com saúde. Enfim, embora ela não se mexa e esteja prostrada em uma cama há quase três décadas, ela presta total atenção no que eles dizem. É óbvio: seu espírito está ativo, sentindo, amando, vivendo...

Cientes da realidade imortal não podemos deixar de tratar familiares doentes – aqui quem os tiver – como se não existissem.

É importante para seu caminhar evolutivo que recebam a atenção que merecem. Ele não responde? E daí? São dificuldades do corpo que serão sanadas com o tempo. Contudo a alma está bem viva e atenta.

Se você tem alguém em casa na situação provisória de invalidez física – invalidez aqui escrita para efeitos de entendimento sem cairmos em digressões filosóficas sobre o tema – não se limite aos cuidados básicos de alimentação e medicação. Vá além. Converse, beije, conte seus problemas, dê-lhe atenção.

Faça o ente querido fazer parte da família. Pode ser que agora ele não responda por conta da limitação física, mas tenha a certeza que no reencontro na Pátria Espiritual, quando liberto e recuperado do mal que o acometeu, o familiar certamente lhe agradecerá por você não tê-lo deixado alheio dos acontecimentos por conta de suas limitações físicas.

Afinal, muito pior do que a dificuldade do corpo é a cegueira que acomete quem não observa os largos horizontes do Espírito imortal.

Pensemos nisso!


Wellington Balbo, professor universitário, escritor e palestrante espírita. Bacharel em Administração de Empresas e licenciado em Matemática, é autor do livro "Lições da História Humana", síntese biográfica de vultos da História, à luz do pensamento espírita, dirigente espírita no Centro Espírita Joana D´Arc, em Bauru.

17 agosto 2011

Os Portões de Chegada - Momento Espírita


OS PORTÕES DE CHEGADA


Cada abraço daqueles guarda uma história diferente...

Cada reencontro daqueles revela um outro mundo, uma outra vida, diversa da nossa, da sua...

Se você nunca teve a oportunidade de observar, por mais de cinco segundos, todas aquelas pessoas - desconhecidos numa multidão - esperando seus amigos, seus familiares, seus amores, não tenha medo de perceber da próxima vez, a magia de um momento, de um lugar.

Falamos dos portões de chegada de um aeroporto, um desses lugares do mundo onde podemos notar claramente a presença grandiosa do amor.

Invisível, quase imperceptível, ali ele está com toda sua sublimidade.

Nas declarações silenciosas de um olhar tímido. No calor ameno de um abraço apertado. No breve constrangimento ao tentar encontrar palavras para explicá-lo.

Na oração de três segundos elevada ao Alto - agradecendo a Deus por ter cuidado de seu ente querido que retorna.

Richard Curtis, que assina a produção cinematográfica de nome Love actually - traduzida no Brasil como Simplesmente amor, traz essas cenas com uma visão muito poética e inspirada.

O autor oferece na primeira e última cenas do filme exatamente a contemplação dos portões de chegada de um aeroporto e de seu belíssimo espetáculo representando a essência do amor.

Ouve-se um narrador, nos primeiros segundos, confessando que, toda vez que a vida se lhe mostrava triste, sem graça, cruel, ele se dirigia para o aeroporto para observar aqueles portões e ali encontrava o amor por toda parte.

Seu coração alcançava uma paz, um alívio, em notar que o amor ainda existia e que ainda havia esperança para o mundo.

Isso tudo pode parecer um tanto poético demais para os mais práticos, é certo.

Assim, a melhor forma de compreender a situação proposta é a própria vivência.

Sugerimos que faça a experiência de, por alguns minutos, contemplar essas cenas por si mesmo, seja na espera de aviões ou outros meios de transporte coletivos.

Propomos que parta de uma posição mais analítica, de início, com algumas pitadas de curiosidade:

Que grau de parentesco possuem aquelas pessoas? - Há quanto tempo não se veem? - De onde chegam?

Ou, quem sabe, sobre outros: Que histórias têm para contar! - O que irão narrar por primeiro ao saírem dali? Sobre a família, sobre a viagem, sobre a espera em outro aeroporto?

Ao perceber lágrimas em alguns olhos, questione: De onde elas vêm? - Há quanto tempo não se encontram? - Que felicidade não existe dentro da alma naquele momento!

Por fim, reflita:

Por quanto tempo aquele instante irá ficar guardado na memória! O instante do reencontro...

Tudo isso poderá nos levar a uma analogia final, a uma nova questão: não seria a Terra um imenso aeroporto? Um lugar de chegadas e partidas que não param, constantes, inevitáveis?

Pensando nos portões de chegada na Terra, lembramos dos bebês, que abraçamos ao nascerem, com este mesmo amor daqueles que esperam num aeroporto por seus amados.

Choramos de alegria, contemplando a beleza de uma nova vida, e muitas vezes este choro é de gratidão pela oportunidade do reencontro.

É um antigo amor que, por vezes, volta ao nosso lar através da reencarnação.

Pensando agora nos portões de partida, inevitavelmente lembramos da morte, da despedida.

Mas este sentir poderá ser também feliz!

Como o sentimento que invade uma mãe ou um pai que dá adeus a um filho que logo embarcará em direção a outro país, a fim de fazer uma viagem de aprendizagem, de estudo ou profissional.

Choram sim, de saudade, mas o sentimento que predomina no bom coração dos pais é a felicidade pela oportunidade que estão recebendo, pois têm consciência de que aquilo é o melhor para ele no momento.

Vivemos no aeroporto Terra.

Todos os dias milhares partem, milhares chegam.

Chegadas e partidas são inevitáveis.

O que podemos mudar é a forma de observá-las.


Redação do Momento Espírita com base no cap. Os portões de chegada, do livro O que as águas não refletem, de Andrey Cechelero. Disponível no CD Momento Espírita, v. 12, e no livro Momento Espírita v. 6, ed. Fep.

16 agosto 2011

O Mensageiro do Amor - Neio Lúcio


O MENSAGEIRO DO AMOR

Falava-se na reunião, com respeito à preponderância dos sábios na Terra, quando Jesus tomou a palavra e contou, sereno e simples:
— Há muitos anos, quando o mundo perigava em calamitosa crise de ignorância e perversidade, o Poderoso pai enviou-lhe um mensageiro da ciência, com a missão de entregar-lhe gloriosa mensagem de vida eterna.

Tomando forma, nos círculos da carne, o esclarecido obreiro fez-se professor e, sumamente interessado em letras, apaixonou-se exclusivamente pelas obras da inteligência, afastando-se, enojado, da multidão inconsciente e declarando que vivia numa vanguarda luminosa, inacessível à compreensão das pessoas comuns.

Observando-o incapaz de atender aos compromissos assumidos, o Senhor Compassivo providenciou a viagem de outro portador da ciência que, decorrido algum tempo, se transformou em médico admirado.

O novo arauto da Providência refugiou-se numa sala de ervas e beberagens, interessandose tão somente pelo contacto com enfermos importantes, habilitados à concessão de grandes recompensas, afirmando que a plebe era demasiado mesquinha para cativar-lhe a atenção.

O Todo-Bondoso determinou, então, a vinda de outro emissário da ciência, que se converteu em guerreiro célebre.

Usou a espada do cálculo com mestria, pôs-se à ilharga de homens astuciosos e vingativos e, afastando-se dos humildes e dos pobres, afirmava que a única finalidade do povo era a de salientar a glória dos dominadores sanguinolentos.

Contristado com tanto insucesso, o Senhor Supremo expediu outro missionário da ciência, que, em breve, se fez primoroso artista.

Isolou-se nos salões ricos e fartos, compondo música que embriagasse de prazer o coração dos homens provisoriamente felizes e afiançou que o populacho não lhe seduzia a sensibilidade que ele mesmo acreditava excessivamente avançada para o seu tempo.

Foi, então, que o Excelso Pai, preocupado com tantas negações, ordenou a vinda de um mensageiro de amor aos homens.

Esse outro enviado enxergou todos os quadros da Terra, com imensa piedade.

Compadeceu- se do professor, do médico, do guerreiro e do artista, tanto quanto se comoveu ante a desventura e a selvageria da multidão e, decidido a trabalhar em nome de Deus, transformouse no servo diligente de todos.

Passou a agir em benefício geral e, identificado com o povo a que viera servir, sabia desculpar infinitamente e repetir mil vezes o mesmo esforço ou a mesma lição.

Se era humilhado ou perseguido, buscava compreender na ofensa um desafio benéfico à sua capacidade de desdobrar-se na ação regeneradora, para testemunhar reconhecimento à confiança do Pai que o enviara.

Por amar sem reservas os seus irmãos de luta, em muitas situações foi compelido a orar e pedir o socorro do Céu, perante as garras da calúnia e do sarcasmo; entretanto, entendia, nas mais baixas manifestações da natureza humana, dobrados motivos para consagrar-se, com mais calor, à melhoria dos companheiros animalizados, que ainda desconheciam a grandeza e a sublimidade do Pai Benevolente que lhes dera o ser.

Foi assim, fazendo-se o último de todos, que conseguiu acender a luz da fé renovadora e da bondade pura no coração das criaturas terrestres, elevando-as a mais alto nível, com plena vitória na divina missão de que fora investido.

Houve ligeira pausa na palavra doce do Messias e, ante a quietude que se fizera espontânea no ruidoso ambiente de minutos antes, concluiu ele, com expressivo acento na voz: — Cultura e santificação representam forças inseparáveis da glória espiritual.

A sabedoria e o amor são as duas asas dos anjos que alcançaram o Trono Divino, mas, em toda parte, quem ama segue à frente daquele que simplesmente sabe.

Pelo Espírito Neio Lúcio
Do livro: Jesus no Lar
Médium: Francisco Cândido Xavier

15 agosto 2011

Novos Dias - Eros


NOVOS DIAS

“Doravante, disse Jesus, fica proibido amar com ansiedade de ser amado e servir com a disposição de receber pagamento.

Os roseirais se debruçarão sobre as janelas das casas sorrindo pétalas exuberantes em participação da felicidade doméstica. E os girassóis darão as costas às ruas e campos onde florescem, esgueirando-se pelas frestas dos lares em festas, porque haverá tanta claridade no reduto doméstico que a estrela Solar será confundida com as constelações luminíferas, que explodirão, irisadas, no ninho familiar.

Ficará proibido, também, que o bolo da amizade, servido às pessoas, receba o fermento da suspeita.

A partir de então, já não será necessário que se fale de justiça com as palavras frias dos Códigos humanos. Cada um usufruirá do discernimento com o qual respeitará todos os direitos alheios entregando-se aos deveres que lhe cumpre realizar.

Não mais haverá sofrimento. E quem sofrer não se envergonhará disso, porque entenderá que toda dor recupera e somente padece quem é devedor.”

A piedade fraternal será transformada em flor de solidariedade que converge em dever sem a necessidade dos estímulos fortes.

Vicejará a liberdade sem punição. O revel fruirá da bênção de ser livre e lutará, ele próprio, pela reabilitação. Os animais e as aves não permanecerão em jaulas ou gaiolas. O homem estará subordinado às leis do amor, respeitando o seu irmão e todos os irmãos menores do bosque, do deserto e das planuras. E dar-se-á ao bem doravante...

Os órfãos, os anciãos, os fracos, os enfermos constituirão oportunidade para os aquinhoados com pais, os amparados pelos filhos, os sustentados pela fortaleza, os resguardados pela saúde, o que impedirá a miséria, a vergonha, o abandono, o sofrimento desnecessário.

O lobo e o cordeiros pastarão juntos”, quanto a borboleta e a abelha na mesma flor ou o regato e a fonte misturando as águas, sem guerra nem extermínio.

Os homens se fitarão nos olhos como as estrelas que se espiam no velário da noite transparente, e o ar balouçando a haste delicada da flor.

Os sorrisos dos pobres cantarão na melodia da bondade dos ricos, quais palmeiras farfalhantes nos braços da brisa.

Ninguém a sós... A solidão descerá ao auxílio alheio e a atividade festiva correrá na direção da soledade.

Ninguém mais chorará os seus mortos, nem lamentará os seus vivos, nem se amargurará com as tristezas... Irromperá uma orquestração de vozes no silêncio da saudade dos que ficaram, encorajando os debilitados. Essas melodias levantarão os enfraquecidos e todos cantarão...

Doravante, ninguém engane ninguém, pois que se estará enganando a si mesmo. Nem minta, nem ultraje, nem persiga mais. Todos se dêem as mãos e confraternizem com as rosas, com os girassóis, com as tardes coloridas, com os dias de cinza, com as noites estreladas, com as aves e os animais, e os regatos, e as árvores, compondo um quadro de amor perene, que se faça um perene feriado para o mal.

Doravante, disse o Senhor, e assim se fará nesses vindouros novos dias.”

Obra: No longe do Jardim
Eros (espírito)
Psicografia de Divaldo Pereira Franco

14 agosto 2011

Como Deus Criou os Pais - Momento Espírita


Como Deus Criou os Pais

Conta-se que quando Deus se dispôs a criar os pais, ele se esmerou a tal ponto que atraiu a atenção de um anjo, que ficou a observá-lo.

Deus começou fazendo um homem de estatura muito alta. O anjo vacilou um pouco, mas resolveu falar com o Criador:
“Senhor, que tipo de pai é este? Se as crianças são baixinhas, por que um pai tão alto? Ele terá dificuldades para jogar bolinhas de gude sem se ajoelhar. Não poderá colocar uma criança na cama, nem beijá-la, sem ter que se curvar muito.”

Deus sorriu e explicou que o pai precisava ser alto, para a criança ter alguém para enxergar, quando olhasse para cima.

Aí, ele partiu para colocar mãos grandes e vigorosas no modelo. O anjo criou coragem e falou outra vez:
“Senhor, desculpe-me. Mas mãos grandes são desajeitadas. Elas não vão conseguir abotoar botões pequenos, nem prender elásticos nos cabelos e nem retirar cisco do olho de uma criança. E como irão trocar fraldas num bebezinho?”

“Pensei nisso”, respondeu Deus, com toda sua paciência. “eu as fiz grandes o suficiente para segurar tudo o que um menino tira do bolso no fim do dia. E você verá, são pequenas o suficiente para segurar e acariciar o rosto de uma criança.”

Depois, Deus começou a modelar as pernas. E as fez longas, esguias. E colocou ombros largos no protótipo de pai que estava criando.

“O Senhor percebeu que fez um pai sem colo? Quando ele segurar uma criança, ela vai cair pelo vão das suas pernas!” – tornou a censurar o anjo.

Deus continuou a modelar, com todo o cuidado e esclareceu:
“Mães necessitam de colo. O pai necessita de ombros fortes para equilibrar um menino na bicicleta ou segurar uma cabeça sonolenta no caminho de casa, depois das brincadeiras do circo ou da ida ao parque.”

E Deus colocou pés grandes. Os maiores pés que o anjo já tinha visto. Ele não se conteve:
“Senhor, acha justo isso? Honestamente, o senhor acha que esses dois pés vão conseguir saltar rápido da cama quando o bebê chorar? E quando tiver que atravessar um salão de festas de aniversário de uma criança, então! No mínimo, com esses pés enormes vai esmagar umas três delas, até chegar do outro lado.”

“Eles vão ser úteis”, foi explicando o bom Deus. “você verá. Vão ter força para sustentar uma criança que deseje ver o mundo, do alto do pescoço do pai. Ou que deseje brincar de cavalinho.”
Vão dar passadas firmes e quando a criança as ouvir, subindo as escadas, em direção ao seu quarto, se sentirá segura, por saber que o pai logo mais estará ali, para abençoá-la, antes de se entregar ao sono.”

Deus continuou a trabalhar noite adentro. Deu ao pai poucas palavras, porém uma voz firme, cheia de autoridade. Deu-lhe também olhos que enxergavam tudo, mas que continuavam calmos e tolerantes.

Contemplando sua obra de arte, Deus resolveu acrescentar um último detalhe. Tocou com seus dedos os olhos do pai e colocou lágrimas que ele pudesse acionar, quando tivesse necessidade.
Aí, virou-se para o anjo e perguntou: “agora, você está satisfeito em ver que ele pode amar tanto quanto uma mãe?”

O anjo nada mais tinha a argumentar. Permaneceu em silêncio.

É de relevância a lição dos exemplos dos pais aos filhos, a par da assistência constante de que necessitam os caracteres em formação, argila plástica que deve ser bem modelada.

No compromisso do amor, estão evidentes o companheirismo, o diálogo franco, a solidariedade, a indulgência e a energia moral de que necessitam os filhos, no longo processo da aquisição dos valores éticos, espirituais, intelectuais e sociais.

Os deveres dos pais em relação aos filhos estão inscritos na consciência. Grande é a tarefa que lhes está reservada, no que tange aos deveres da educação dos espíritos que lhe são confiados na qualidade de filhos da carne.

Momento Espírita

13 agosto 2011

Ontem - Manuel da Nóbrega - Hoje - Emmanuel


ONTEM - MANUEL DA NÓBREGA - HOJE - EMMANUEL

Manuel da Nóbrega nasceu em Sanfins do Minho, Portugal, a 18 de outubro de 1517. Seu pai foi o desembargador Balthazar da Nóbrega, que desejava fazer do filho um jurista. Nóbrega, portador de gagueira, revelou em todos os cursos inteligência superior, possuir espírito refletido e ser um tanto introvertido. Estudante brilhante em sua aplicação já nos estudos prepapatórios, ingressou na Universidade de Salamanca em 1535, cursou cânones (direitos) 4 anos e transferiu‑se para a Universidade de Coimbra, para cursar o quinto e último ano. Recebeu a láurea de Bacharel dia 113 de julho de 1541 e logo depois doutorou‑se em Cânones. Nesta ocasião o seu professor orientador dr. Martim de Azpilcueta Navarro consignou o seguinte elogio: Doutíssimo Manuel da Nóbrega, a quem conferimos os graus universitários, ilustre pela ciência, virtude e linguagem".

Induzido por colegas que admiravam sua cultura, disputou sucessivamente duas cadeiras em concurso, uma na Universidade, outra no Colégio de Santa Cruz, tendo sido aprovado em primeiro lugar, porém os respectivos reitores preteriram‑no pelos segundos colocados, por ele revelar‑se gago.

Desde os tempos de estudante gostava de estudar os evangelhos, mormente as epístolas e os atos do Apóstolo Paulo. Fêz‑se advogado dos pobres. Em 1544 atendeu ao chamamento de sua consciência: ingressou para a nove! Companhia de Jesus para ser missionário de Jesus. Recebeu como missão, para cumprir votos, excursionar a pé por cidades e aldeias pregando, convertendo e batizando. Assim foi que percorreu a região entre Douro e Minho, estagiando em Sanfins, Valença, na Galiza e em Castela, praticando a humildade e vivendo de auxílios ou esmolas para comer, dormir e vestir. De início a gagueira impressionava mal os ouvintes, mas aos poucos foi melhorando dela a ponto de ser solicitado para pregar, visto que revelava muita sabedoria, levava vida pura e facilmente conciliava casais em desarmonia e convencia incrédulos. Em Sanfins, sua terra natal, sua ação foi grandemente benéfica, de tal modo que o premiaram com o título de comendador da Igreja. A esta altura de sua missão, foi chamado pelo Rei D . João 111 para vir em missão ao Brasil, como provincial, com mais 5 jesuítas, a fim de iniciarem a cristianização e o ensino primário dos indígenas. Aceitou porque viu nessa missão um caminho semelhante ao trilhado pelo Apóstolo Paulo na propagação do cristianismo.

Nóbrega e seus 5 companheiros embarcam na nau de Tomé de Souza, 1.o Governador Geral do Brasil, encarregado de dar sistematização à governança das capitanias, assistí‑las para desenvolvimento harmonioso com ás tribos indígenas e proporcionar ensino escolar e cristão a brasilíndios e mamelucos. Nas 8 semanas de viagem em mar tranqüilo Nóbrega planejou seu difícil trabalho. Ao desembarcar, no fim de março de 1549, na Bahia, carrega uma cruz, ajoelha‑se na praia, ora e exclama: "Esta terra é nossa empreza".

Caramurú (Diogo Alvares Corrêa), avisado da vinda do Governador, tratou de conciliar os ânimos dos indígenas contra os portugueses e preparou condigna recepção. Os jesuítas à frente cantando, seguidos do Governador, Ouvidor Geral e Provedor Geral, 200 soldados, 300 colonos contratados e 400 degredados formavam o préstito que maravilhava os índios.
Nóbrega e seus companheiros sabiam que o fracasso das capitanias freqüentemente atacadas pelos indígenas decorria da conduta escravocrata e imeral dos colonos, pelo relaxamento do sentimento religioso. Tinham eles pela frente grandes problemas: Aprendisado da língua tupi, ensino religioso e escolar dos indígenas e recuperação religiosa dos portugueses, muitos dos quais eram degredados.

0 aprendisado do tupi foi feito pelos jesuítas principalmente através de intérpretes portugueses, visto que a língua era difícil, possuía sons peculiares e havia ausência de algumas consonâncias do vernáculo. 0 Pe. João de Azpilcueta Navarro foi o primeiro a aprender o tupi e a auxiliar os colegas a falá‑lo. Nesse mesmo ano, depois de fundado o colégio da Bahia, Nóbrega distribui os companheiros: Navarro e Antônio Pires ficam na Bahia; Leonardo Nunes e Diogo Jácome vão para S. Vicente. Padre Nóbrega desloca‑se temporariamente para Porto Seguro. Alguns portugueses, tocados profundamente pela missão cristianizadora dos Jesuítas, tornam‑se irmãos leigos entregues ao apostolado da fé: Pêro Corrêa, que fôra caçador de índios para vender, e Antônio Rodrigues, varejador de sertões entre o Brasil, Paraguai e Perú, hábeis intérpretes, ingressam em S . Vicente. Surgem logo os primeiros frutos da ação dos devotados jesuítas. Criam eles aos poucos sua pedagogia para ensinar e cristianizar. Descobriram pela observação que o canto coral por meninos cantores trazidos de Portugal e outros mamelucos constituía ótima motivação para atrair os brasilíndios à igreja e à escola. Nova leva de jesuítas veiu em 1550, tendo à frente o Pe. Manuel de Paiva, que trouxe 7 meninos cantores.

Pe. Nóbrega sempre incansável na sua ação apostolar: conciliando, catequizando e educando. Em Pernambuco ele conseguiu que intérpretes instruidos ensinassem a doutrina a cem rapazes indígenas, a fim de que êstes transmitissem o aprendido a outros. Lá, disse ele em carta ‑ "os colonos são mais necessitados de religião e moral do que os bárbaros."

Com o segundo Governador Duarte da Costa chegaram à Bahia o Pe. Luiz da Grã, o irmão escolástico José de Anchieta, que interrompera o curso em Coimbra por motivo de saúde, esperançoso de que o clima do Brasil lhe fizesse bem, além de outros jesuítas. Chegaram a 13 de julho de 1553. Entregaram‑se todos ao estudo do tupí, sob a orientação do Pe. Navarro. Em dezembro partiram para S . Vicente em companhia do Pe. Leonardo. Pe. Nóbrega recebeu‑os carinhosamente. Anchieta trazia a fama de talentoso e virtuoso, e Nóbrega logo se lhe afeiçoa, fazendo‑o seu secretário. Quase todos sobem a Serra do Cubatão no começo do ano, passam por Santo André para convidares João Ramalho e sua família afim de assistirem a missa no dia 25 de janeiro, no alto do Inhapuambuçú, onde já estava pronta a Capela Escola dos Meninos de S . Paulo de Piratininga, assim denominada por Nóbrega em vocativa homenagem ao Apóstolo Paulo de Tarso, seu modelo.

Daí em diante Nóbrega e Anchieta formaram uma poderosa dupla cristianizadora, educadora e pacificadora. Pe. Nóbrega foi assim o pai espiritual da nossa abençoada cidade de S . Paulo. Foi também o fundador espiritual do Rio de Janeiro.

Depois de servir durante 21 anos à obra grandiosa da conversão dos selvagens à fé cristã, da educação escolar dos brasilíndios e mamelucos, da pacificação dos Tamoios em Iperoíg, sempre conciliando a convivência entre gentios e portugueses e reconvertendo ao cristianismo numerosos degredados e colonos de conduta imoral; advogando com inecedível brilho jurídico a liberdade dos indígenas contra a escravidão a que os reinóis porfiavam em mantê‑los, e apoiando os governadores nas suas lutas contra os francêses invasores do Rio de Janeiro para manter a integridade do imenso Brasil, e mesmo intentando a expansão cristã civilizadora para a conquista dos sertões pela fundação de núcleos de irradiação, como o foi o Colégio de S . Paulo de Piratininga, Manoel da Nóbrega viveu seus últimos anos no Rio de Janeiro, onde entregou sua alma de bom servidor a Deus no dia 18 de outubro de 1570.

EVOLUÇÃO ESPIRITUAL

Fazendo uma pesquisa na maravilhosa literatura espírita psicografada pelo mais perfeito médium brasileiro Francisco Cândido Xaxier, que em 43 anos recebeu e fez publicar 104 obras, a primeira das quais foi o "Parnaso do Além Túmulo" contendo 256 poesias de 56 poetas já falecidos, alinhando‑se entre eles Olavo Bilac, Raimundo Corrêa, João de Deus, Gustavo Teixeira, Guerra Junqueiro, Fagundes Varela, Cruz e Sousa, Castro Alves, Casimiro de Abreu, Baptista Capêlos, Augusto dos Anjos, Artur Azevedo, Antonio Nobre, Antero de Quental e Alberto de Oliveira, pude verificar que esse médium pedira licença ao espírito de maior luz que o assiste ‑ Emmanuel ‑ para transmitir‑lhe a indagação de amigos sobre quem fora ele na sua última encarnação. Respondeu que ao tempo de Jesus fora Publio Lêntulus e que na sua última passagem pelo planeta fôra padre católico desencarnado no Brasil. Um ano depois, em 7 de setembro de 1938, em mensagem íntima a Chico Xavier, Emmanuel escrevia pelo lápis mediúnico : "Algum dia, se Deus me permitir, falar‑vos‑ei do orgulho patrício Públio Lêntulus, a fim de algo aprenderdes das dolorosas experiências de uma alma indiferente e ingrata. Esperemos o tempo e a permissão de Jesus. "

Quando lhe foi permitido, em fins de 1928, Emmânuel começou a transmitir psicograficamente, pelas mãos de Chico Xavier, o romance "Há Dois Mil Anos", que contém a sua autobiografia na encarnação do Senador Públio Lêntulus, que vivera alguns meses em Kafarnaum, junto ao Lago Tiberíades, e tivera um diálogo com Jesus que lhe sugerira deixar a trilha errada e seguir o caminho da humildade, do bem e da justiça. Então, sendo "um coração empedernido, não soube aproveitar o minuto radioso que soara no relógio de sua vida de espírito, há dois mil anos". Mas Jesus lhe dissera por fim: "Volta pira tua casa que tua filhinha está curada (da lepra), não por ti, mas por tua esposa (Lívia, convertida) que está orando". Por essa benção recebida Públio Lêntulus fez uma comunicação ao Senado Romano sobre a extraordinária personalidade de Jesus Cristo, a qual constitui o mais perfeito retrato psico‑físico de Jesus. Publio morreu em Pompéia por ocasião da erupção do Vesúvio, mas renasceu na pessoa de Nestcírio, um grego muito culto, que fira feito escravo pelos romanos e comprado por família nobre de Roma, à qual servia como pedagogo. Era cristão desde jovem, quando assistia as pregações do apóstolo João Evangelista, em Êfeso. Costumava assistir às reuniões dos cristãos nas catacumbas e certa noite, depois de fazei magnífica pregação, substituindo o orador Policarpo, foi com todos os participantes preso e condenado a morrer a flexadas e ser devorado por féras no Círculo Máximo. Deu assim pleno testemunho de sua fé.

Emmanuel explicou na sessão de 12 de ,janeiro de 1949, pela psicografia, os motivos da sua reencarnação no alvorecer do século XVI em Portugal: "O trabalho de cristianização, irradiando‑se sob novos aspectos, do Brasil, não é novidade para nós. Eu havia abandonado o corpo físico em dolorosos compromissos, do século XV, na Península, onde nos devotáramos ao `crê ou morre", quando compreendi a grandeza do País que nos acolhe agora. Tinha meu espírito entediado de mandar e querer sem o Cristo. As experiências do dinheiro e da autoridade me haviam deixado a alma em profunda exaustão. Quinze séculos haviam decorrido sem que eu pudesse imolar‑me por amor ao Cordeiro Divino, como o fizera, um dia, em Roma, a companheira do coração (trata‑se de Lívia, esposa de Públio Lêntulus) .

"Vi a floresta perder‑se de vista e o patrimônio extenso entregue ao desperdício, exigindo o retorno à humanidade civilisada e, entendendo as dificuldades do silvícola relegado à própria sorte, nos azares e aventuras da terra dadivosa que parecia sem fim, aceitei a sotaina, de novo, e por Padre Nóbrega conheci, de perto, as angústias dos simples e as aflições dos degredados. Intentava o sacrifício pessoal para esquecer o fastígio mundano e o desencanto de mim mesmo, todavia, quis o Senhor que, desde então, o serviço americano e, muito particularmente, o serviço do Brasil, não me saísse do coração. A tarefa evangelizadora continua. A permuta de nomes não importa". Eis aí, leitores inteligentes, o conteúdo da confissão de Emmânuel contido na página 204 do excelente livro"Trinta Anos Com Chico Xavier", de Clóvis Tavares.

E assim na grande tarefa cristianizadora Manuel da Nóbrega, no Brasil, durante 21 anos, com humildade, devotamento, coragem, paciência, pureza de conduta, habilidade pedagógica e raciocínio elevado, empunhando a cruz e de espírito bem alto, venceu e perdoou a insolência do selvagem; combateu a devassidão de portugueses e a antropofagia do gentio, ensinou a fraternidade e o perdão aos inimigos, instruiu com simplicidade e amor os selvícolas fazendo‑os conhecera missão de Jesus a serviço de Deus; fundando colégios e igrejas, lançou os marcos fundamentais das duas maiores cidades brasileiras: S. Paulo e Rio de Janeiro. E através de 24 livros ditados da espiritualidade pela psicografia, além de colaboração em outros e das mensagens evangélicas que vem proporcionando à leitura de povos de língua portuguesa, pode ser considerado o espírito de alta luz de Emmânuel como o maior mensageiro de Jesus para o Brasil, Pátria do Evangelho, coração do mundo. "

Revista Internacional de Espiritismo – Junho – 1971