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09 junho 2014

A Bênção do Sofrimento - Joanna de Ângelis



A BÊNÇÃO DO SOFRIMENTO


Acompanhas o deperecer das forças do ser querido, que a enfermidade vitima silenciosamente, roubando-lhe as energias que antes oferecia movimento e saudável alegria.

Agora contemplas o corpo debilitado, assinalado pelas dores que o consomem, ora em delírio, fruto da enérgica medicação que faz diminuir a intensidade das dores, noutros momentos a débil lucidez que o faz reconhecer o estado de fraqueza em que se encontra.

Anelarias que as dores fossem diminuídas, e perguntas a razão pela qual a admirável máquina orgânica, rica de potencialidades e capaz de produzir tantas realizações edificantes, de um para outro momento é devorada por peculiares limitações, desconsertos, em marcha irrefreável para o fenômeno da morte.

Observas como experimentam aflições alguns Espíritos nobres e gentis, que trabalham em favor do Bem e cultivam os ideais de edificação e da caridade, enquanto outros, que se dedicam ao mal e preservam sentimentos destrutivos permanecem em irretocável estado de saúde ou desencarnam sem a presença das dores angustiantes.

Não é raro inquirires, porque coisas más acontecem a pessoas boas.

Esses fenômenos, porém, fazem parte do processo da evolução e constituem desafios que facultam o crescimento espiritual do ser.

O sofrimento, do ponto de vista espiritual, é uma verdadeira bênção que Deus oferece aos Seus filhos, a fim de proporcionar-lhes o desenvolvimento dos tesouros divinos que lhes permanecem em germe, liberando-os das heranças ancestrais que o capacitaram a alcançar o estado de humanidade.

Naturalmente que aqueles que hoje são bons, nem sempre o foram, e ora resgatam os lamentáveis enganos de jornadas ancestrais, nas quais se comprometeram de maneira infeliz, escrevendo a trajetória pela qual hoje peregrinam.

Sucede que as Leis Soberanas da Vida são feitas de amor e de justiça irrefragáveis, e ninguém as burla sem sofrer-lhes as consequências.

Por outro lado, aqueles que hoje permanecem na indiferença ou se comprazem em gerar dificuldades para o seu próximo, desfrutando de alegrias e concessões que parecem não merecer, estão dispondo da oportunidade de produzir e de despertar os sentimentos elevados que jazem entorpecidos pela inferioridade na qual ainda se encontram...

Volverão ao proscênio terrestre oportunamente, e serão considerados bons, experienciando as aflições que soam como injustas.

Bendize, desse modo, a dor do ser querido, neste momento de testemunho e de elevação moral, porquanto ela é a benfeitora anônima, a mensageira do amor de Deus em favor dos Seus filhos.

*

A árvore que não suporta a tempestade na fase de crescimento, não adquire solidez para manter-se ereta e resistente às intempéries.

Os metais que não experimentam a ardência da fornalha, são facilmente carcomidos pela oxidação.

O diamante que não passa pela dureza da lapidação, permanece como escuro carvão destituído de qualquer beleza, impossibilitado de refletir a magnitude das estrelas.

O barro, aparentemente imundo, que não experimenta o calor da madeira em combustão, permanece informe, não possuindo força para preservar as formas belas e de utilidade que lhe dão as operosas mãos do oleiro.

A pedra que não rola ao sabor das águas do córrego, não logra arredondar-se adquirindo especial aparência.

Tudo no Universo é resultado de incessantes transformações.

A estrela refulgente que deslumbra, é massa ígnea de elevada temperatura, assim como a dádiva da luz do Sol e da sua irradiação resulta, da consumpção da matéria em energia...

Vegetais, animais e seres humanos também são modelados na fornalha que lhes consome as formas, a fim de adquirirem a beleza transcendental a que o Criador lhes destina. Nunca reajas com rebeldia à sublime experiência do sofrimento que te modela interiormente, demonstrando-te, por um lado, a transitoriedade da aparência material, ao tempo em que te prepara para a perenidade da vida além da disjunção molecular, pelos infinitos roteiros da imortalidade.

Renasceste para redimir-te dos equívocos e disparates que te permitiste nas experiências transatas.

A dor daquele a quem amas é mensagem oportuna e advertência aos teus sentimentos, falando-te sem palavras que não permanecerás indene a equivalente processo iluminativo.

Preparas-te para a construção do Reino de Deus no próprio coração, de modo que, se estiver na divina planificação um testemunho equivalente para ti, estejas em condições de enfrentá-lo com elevação e alegria, considerando os benefícios que te advirão pelo sublime resgate.

E, se por acaso, fores convocado ao retorno, inesperadamente, sem o contributo da bênção do sofrimento na etapa final, por certo não estarás isento de o experimentares além da cortina da névoa carnal...

A existência material é concessão do Celeste amor para o aprimoramento do Espírito.

Aproveita toda e qualquer oportunidade para te edificares interiormente, valorizando a dádiva da saúde, assim como do conhecimento libertador, de modo que te transformes em exemplo de paz e de trabalho na ação imorredoura do Bem.

*

Mesmo Jesus, o Crucificado sem culpa, experimentou o sofrimento, a fim de ensinar pelo amor, que somente através da autodoação total é que se alcança a plenitude.

Toda a Sua existência na Terra foi assinalada pela sabedoria mediante o amor, a caridade, a misericórdia e o sacrifício pessoal. Nada obstante, não recalcitrou ante a dor que lhe impuseram os infelizes e desditosos, ensejando-lhe a máxima sublimação para que todos O pudessem imitar e agradecer, entregando-se-Lhe em regime de totalidade.

Joanna de Ângelis

Psicografia de Divaldo Pereira Franco, enquanto acompanhava Nilson de Souza Pereira, durante a grave enfermidade que o vencia, no entardecer do dia 1º de novembro de 2013, no Hospital Santa Isabel, em Salvador, Bahia.

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