MÃE - QUE PESSOA É ESSA?
Não há uma pessoa no mundo que consiga esquecer-se da sua mãe. Este
ser tão importante surge-nos como uma proposta de vida. É ela quem nos
dá à luz, quem nos apresenta para o mundo, quem nos acolhe quando ainda
frágeis ao renascermos. Mais que isto é ela quem nos aconchega no útero
oferecendo-nos o grande laboratório natural para a materialização das
nossas futuras formas físicas, oferecendo-nos o calor e possibilidades
para nossas multiplicações celulares, atraídas que são pelo perispírito.
Ao final de nove meses ei-nos de volta para mais uma experiência no
corpo físico. Mais uma bendita oportunidade de avançarmos através da
nova reencarnação. Contudo, passados os tempos da glorificação apenas
superficial das mães, compete-nos agora, espíritos empossados da razão e
da lógica, estudarmos mais detidamente sobre este fabuloso evento
natural que é ser mãe. Ou seja: que pessoa é essa?
Vários literatos, poetas e menestréis têm cantado em versos e prosas a
figura materna como essencial para nossas vidas e para Deus. Aplaudimos
a todos eles. De fato é isto o que ocorre. Mas, porque ocorre?
Remontemos ao início. Os estudiosos da psicologia nos falam sobre o
Arquétipo da Grande Mãe. Antes é bom entendermos o que vem a ser um
Arquétipo. O termo "Arquétipo" foi usado por filósofos neoplatônicos,
como Plotino, para designar as idéias como modelos de todas as coisas
existentes, segundo a concepção de Platão. Nas filosofias teístas, o
termo indica as idéias presentes na mente de Deus. Pela confluência
entre neoplatonismo e cristianismo, o Arquétipo foi incorporado à
filosofia cristã, por Santo Agostinho, até vir a ser usado
academicamente por Carl Gustav Jung,
na psicologia analítica, para designar a forma imaterial à qual os
fenômenos psíquicos tendem a se moldar. Ou seja, os modelos inatos que
servem de matriz para o desenvolvimento da psique. A Grande Mãe é uma
designação da imagem geral, formada pela experiência cultural coletiva.
Como uma imagem, ela revela uma plenitude arquetípica que, neste caso
remonta a autoridade mágica da mulher; a sabedoria e exaltação
espiritual que transcendem a razão; qualquer instinto ou impulso útil;
tudo aquilo que é benigno, tudo que acaricia e sustém que propicia o
crescimento e a fertilidade”. Em suma, a mãe boa.
É assim que formamos em nossa psique a figura central da mãe. Ao
renascermos já estivemos em contato com ela por um bom período. Ouvimos
sua voz, o pulsar do seu coração, o seu acalanto quando nos acariciou,
perpassando por sobre o abdômen as suas mãos e ainda quando sonhou ter
em seus braços, nós, a criança esperada. Jung diz que, embora a figura
materna seja universal, sua imagem será matizada de acordo com as
experiências individuais do sujeito com a mãe pessoal. É isto que nos
prende a ela de forma indelével. As mães retiram do grande arquétipo
universal aquela parte que é dedicada a cada um em particular. De acordo
com suas necessidades, premissas e evolução. Pode-se dizer que é um
concerto perfeito entre Deus, a Mãe e o Filho. Segundo ainda o
pesquisador suíço a mãe pessoal é um receptáculo da projeção do
Arquétipo Materno com todas as suas características e atributos. Ela é o
primeiro “gancho” desta projeção, o que acaba por imputar-lhe “um
caráter mitológico e com isso lhe confere autoridade e até mesmo
numinosidade”, isto é autoridade divinal.
Segundo o Psicólogo brasileiro Alexandre Quinta Nova Teixeira, “Todo
Arquétipo tem em sua essência uma ampla gama de sentimentos, sentidos,
significados e símbolos diferentes dependendo de cada individualidade.
Ao pensar no Arquétipo Materno me vem à cabeça o princípio de tudo, o
início, pois foi a mãe que nos gerou a vida. Nada mais sublime que dar
vida a um outro ser. Esta é uma característica apenas das mulheres que
desejam ser mães. Ao mesmo tempo ela nos possibilita dar início as
nossas vidas e ao nosso processo de individuação”. Mais adiante o
psicólogo faz um comentário de extrema sensibilidade filial: “O ser mãe
eleva a posição da mulher a uma postura de deusa que cria seres
inofensivos e os transforma num passe de mágica em homens adultos
prontos para trilharem seus caminhos sozinhos”. Entendemos assim a
complexa presença das mães em nossas vidas. Ora, ninguém mesmo como uma
Grande Mãe, como proposta arquetípica, para exercer essa missão
extraordinária que é a de gerar um novo ser inofensivo e transformá-lo
numa pessoa adulta preparada para vida. Ainda citando o psicólogo
Alexandre Teixeira, ele diz que “Para as mulheres cumprirem este papel
um aspecto importante é o amor maternal”.
O espírito Victor Hugo no livro Dor Suprema, diz com propriedade que
mãe “É a excelsa criatura que, na Terra, representa diretamente o
Criador do Universo. Mãe é guia e condutora de almas para o Céu, é um
fragmento da divindade na Terra sombria, com o mesmo dom do Onipotente,
plasmar seres vivos, onde se alojam Espíritos imortais, que são
centelhas deíficas!”
Eu me lembro quando criança e já trabalhava na confeitaria com minha
mãe, ficávamos ouvindo rádio. Naquela época uma música era presente em
quase todas as programações. Chamava-se “Flor Mamãe”. Os versos diziam
que alguém andava por todos os jardins procurando uma flor para ofertar e
que somente a flor mamãe enfeita corações, sonhos, perfumando a ilusão
fazendo milagres quando em oração. Eu olhava para minha mãe e sorríamos
juntos. Em sua simplicidade ela me dizia que era exagero do poeta e eu
afirmava que não. Abraçava-a e ela osculava minha fonte, depois me
abraçava e dizia: “filho querido!” Essas lembranças nunca se apagam das
nossas mentes. São vivas. Mamãe já retornou à pátria espiritual fazem
mais de cinquenta anos e ainda a vejo andando, trabalhando, realizando,
amando os filhos por igual. Em mim ficaram essas marcas como ficaram em
todos os leitores as marcas das suas mães, como ficarão em todas as
crianças do presente. Este gozo materno ao qual todos estamos sujeitos
quando renascemos traz-nos o primeiro conforto, a primeira segurança, a
primeira paz. Creio mesmo que nenhum poeta ou literato poderá
descrevê-lo pois que é singular. É de cada mãe para cada filho, é a
expansão da divindade que coloca as mães como intermediárias do supremo
bem emitido por Deus para cada qual dos Seus filhos.
Marlyn Stone é arqueóloga e estudiosa das religiões, ela comenta
sobre o período do matriarcado dizendo que: “o matriarcado é uma
combinação de múltiplos fatores. Inclui matrilinearidade e
matrifocalidade”, significando a criação de um grupo familiar focado na
mãe. Marlyn Stone continua: “Porém o mais importante é que as mulheres
eram encarregadas da distribuição de bens do clã e,
especialmente, das fontes de sustento – dos campos e dos alimentos.” O
período do matriarcado ocorreu no passado e cada membro do clã
tornava-se dependente das mulheres. Elas geravam a vida, portanto a elas
a garantia da sustentação da própria vida.
Hoje a figura da mãe cresce na medida em que multiplicam na Terra os
seres reencarnados. Todos os dias são dias das mães. Segundo dados
recentes de pesquisas renascem em média duzentas e dez crianças por
minuto no mundo. São recebidas nos braços das mães que são mães pela
primeira vez ou não, isto pouco importa. O fato é que são recebidas e
embaladas naquele colinho amigo, naquele sorriso fraterno, naquela
estrutura de meiguice provindas da alma feminina. Quando a mãe recebe
nos braços aquele filho que acaba de nascer, não há uma pessoa que não
se consterne, que não acredita que haverá no mundo um tempo em que todas
as relações humanas passarão pelos caminhos do amor que educa e da
ternura que faz as almas crescerem no bem, segundo Herculano Pires.
E aqui pensamos naquelas mães que recebem em seus braços os filhos
com necessidades especiais. Que mesmo sabendo que o são, permitem que
renasçam não se interpondo entre a paternidade de Deus e as leis falhas
que muitos homens criam. Parabéns a essas mães que aceitam aqueles
renascimentos, que não abortam seus filhos indepedente da situação pela
qual que estão retornando ao plano físico. Joanna de Angelis, em página
psicografada por Divaldo Franco no dia 11 de abril de 2011 em Salvador,
nos diz que: “ Nada no Universo ocorre como fenômeno caótico, resultado
de alguma desordem que nele predomine. O que parece casual, destrutivo, é
sempre efeito de uma programação transcendente, que objetiva a ordem, a
harmonia”. Há ainda aquelas outras que aceitam os filhos de outras
mães. Que os adotam dedicando-lhes sua parcela de amor e benevolência.
Que os cria como sendo seus filhos, encaminhando-os para a vida. Só
mesmo um compromisso grandioso com Deus pode sustentá-las. Daí dizer
que: “Mãe é o anjo que Deus põe junto ao homem desde que ele entra no
mundo”, nas palavras de Fernando de Lacerda em seu livro: Do País da Luz
– volume quatro. Humberto de Campos em: Reportagem de Além Túmulo faz a
seguinte colocação: “E olvidaste, porventura, que ser mãe é ser médium
da vida? É esta transcendência que coloca o ser materno em posição de
destaque dentre as criaturas encarnadas e desencarnadas que vigem na
Terra”.
Allan Kardec em seus apontamentos de arquivo, diz que: “Mãe, em sua
perfeição, é o verdadeiro modelo, a imagem viva da educação. A perfeita
educação, na essência de sua natureza, em seu ideal mais completo, deve
ser a imagem da mãe de família”. É aqui que voltamos àquela figura ímpar
que nos enleva quando nela pensamos. Quando os dissabores diários nos
entorpecem os sentidos, quando as decepções nos visitam, quando as
promessas não são cumpridas. Um telefonema, um e-mail um: “alô mamãe” é
motivo de grande conforto espiritual. É certeza de que se todos falharem
conosco pelo menos uma estará ao nosso lado.
Sabiamente a poetisa
estadunidense Emily Dickinson declarou: "Mãe é aquela pessoa para quem
você corre quando está em apuros.”
Elizanda Iop, pedagoga e professora da Universidade do Oeste de Santa
Catarina, tece importante comentário: “Os vários períodos históricos da
humanidade mostram o papel da mulher na participação do grupo, seja
como mãe, com a função de reprodutora e dos cuidados com os filhos, seja
como mulher, mãe, trabalhadora e cidadã. Entre as comunidades sem
Estado predominou o matriarcado, cabendo à mulher a responsabilidade
política do grupo. As relações sociais no período em que predominava o
matriarcado não representaram a subjugação, nem a exploração do homem
pela mulher, portanto, é possível afirmar que as relações de gênero
produzidas no interior do grupo social eram igualitárias, no sentido de
não ter havido exploração sobre o homem.” Desde tempos remotos a mãe se
colocou como educadora e protetora por excelência. Os filhos, não
importam a idade, necessitam deste concurso real e decisivo em suas
vidas.
Marlyn Stone ainda comenta que no matriarcado: “a autoridade
materna é proeminente nas relações domésticas, devendo o marido
juntar-se à família da esposa, em vez de a esposa mudar-se para a vila
ou tribo do marido”.
Daí perguntarmos: Mãe – que pessoa é essa? Que vem de tão longe, de
tempos remotos, desde o matriarcado, abrindo caminhos para que a
humanidade cresça, vivenciando etapas, evoluindo como seres desde o
primitivo até o civilizado. Somente alguém ligado diretamente a Deus
pode desempenhar tão importante tarefa. A estatueta feminina que ficou
conhecida como a Cibele da Anatólia, datada de 6.000 a.C., exibe
uma Deusa Mãe corpulenta e em aparente processo de dar à luz. Sentada
num trono e ladeada por duas leoas, a estatueta foi encontrada num
compartimento de estocagem de grãos, o qual, segundo arqueólogos, sugere
uma maneira de proteger (como um amuleto, ou objeto de cunho religioso)
a colheita ou o suprimento de alimentos. As pegadas do culto à Deusa
mãe são assim encontradas desde épocas imemoriais até os tempos áureos
das civilizações antigas. Honoré de Balzac, o notável escritor francês
do século XVIII comentou que: "O coração de uma mãe é um abismo profundo
em cujo fundo você sempre encontra perdão.” Está aí o corolário da
Deusa Mãe, cultuada desde antes e reverenciada desde agora.
Se para a mãe o filho é a sua suprema realização resta-nos saber o
que fica para ela enquanto criatura doadora, enquanto amiga inseperável
dos rebentos, enquanto médium de Deus para Seus filhos na Terra.
Encontramos em Ramy Arany, terapeuta comportamental, as justas palavras
que cabem e competem a todas as mães do mundo: “Observe que há uma
profunda relação entre a evolução mãe-filho, pois a partir do
crescimento do filho é que a mãe vai também crescendo e amadurecendo. O
potencial materno já é com a mulher, pois isto é natural, porém, ele vai
aparecendo, se mostrando ao longo da existência da mulher como mãe”.
Há muito mais o que dizer sobre a figura materna. É muito profunda a
relação entre Deus – Mãe e Filho. Algumas delas é mesmo impossível
penetrar. Mãe é a essência do reinício, a configuração do mais puro amor
que pode existir entre os seres deste mundo. Mãe é a pessoa sobre a
qual as Leis da Natureza derramam suas benesses no ato de criar e
recriar, trazendo para a luz outros conteúdos de Deus.
Guaraci de Lima Silveira
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