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26 agosto 2015

As afeições terrenas e a Reencarnação - Allan Kardec



AS AFEIÇÕES TERRENAS E A REENCARNAÇÃO

O dogma da reencarnação indefinida encontra oposições, no coração do encarnado que ama, porque, em presença dessa infinidade de existências, produzindo laços em cada uma delas, ele pergunta com espanto em que se tornam as afeições particulares, e se estas não se fundem num único amor geral, o que destruiria a persistência da afeição individual. Ele se pergunta se esta afeição individual não é apenas um meio de adiantamento e então o desânimo desliza em sua alma, porque a verdadeira afeição experimenta a necessidade de um amor eterno, sentindo que ela não se cansará jamais de amar. O pensamento desses milhares de afeições idênticas lhe parece uma impossibilidade, mesmo admitindo faculdades maiores para o amor.

O encarnado que estuda seriamente o Espiritismo, sem ideia preconcebida para um sistema e não para outro, sente-se arrastado para a reencarnação pela justiça que decorre do progresso e do avanço do Espírito a cada nova existência; mas quando o estuda do ponto de suas afeições do coração, duvida e se espanta mal grado seu. Não podendo pôr de acordo esses dois sentimentos, ele se diz que aí ainda um véu a levantar e seu pensamento em trabalho atrai as luzes dos Espíritos para pôr em concordância o coração e a razão.

Disse antes: a encarnação para onde é anulada a materialidade. Mostrei como o progresso material a princípio tinha requintado as sensações corporais do Espírito encarnado; como o progresso espiritual, vindo a seguir, havia contrabalançado a influência da matéria, depois a tinha subordinado a sua vontade e que, chegado a esse grau de domínio espiritual, a corporeidade não tinha mais razão de ser, pois o trabalho estava realizado. Examinemos agora a questão da afeição sob os aspectos materiais e espirituais.

Para começar, o que é a afeição, o amor? Ainda a atração fluídica, atraindo um ser para outro, unindo-os no mesmo sentimento. Essa atração pode ser de duas naturezas diversas, pois os fluidos são de duas naturezas. Mas para que a afeição persista eternamente, é preciso que seja espiritual e desinteressada; são precisos abnegação, devotamento e que nenhum sentimento pessoal seja o móvel deste arrastamento simpático. Desde que nesse sentimento haja personalidade, há materialidade. Ora, nenhuma afeição material persiste no domínio do Espírito. Assim, toda afeição apenas resultante do instinto animal ou do egoísmo, se destrói com a morte terrestre.

É assim que seres que se dizem amadas são esquecidos após pouco tempo de separação! Vós os amastes por vós e não por eles, que não vivem mais; esquecestes e os substituístes; procurastes consolo no esquecimento; tornam-se indiferentes porque não tendes mais amor. Contemplai a humanidade e vede quão poucas às afeições verdadeiras na terra! Assim, não se devem admirar tanto da multiplicidade das afeições aí contraídas. São em minoria relativa, mas existem as que são reais e persistem e se perpetuam sob todas as formas, primeiro na terra, depois se continuando no estado de Espírito, numa amizade ou num amor inalterável, que cresce, elevando-se mais. Vamos estudar esta verdadeira afeição: a afeição espiritual.

Ela tem por base a afinidade fluídica espiritual que, atuando só, determina a simpatia. Quando assim é, é a alma que ama a alma e essa afeição só toma força pela manifestação dos sentimentos da alma. Dois Espíritos unidos espiritualmente se buscam e tendem sempre a aproximar-se; seus fluidos são atrativos. Se estiverem no mesmo globo, serão impelidos um para o outro; se separados pela morte terrena, seus pensamentos unir-se-ão na lembrança e a reunião far-se-á na liberdade do sono; e quando soar a hora da reencarnação para um deles, procurará aproximar-se de seu amigo, entrando no que é a sua filiação material, e o fará com tanto mais facilidade quanto seus fluidos perispiritais materiais encontrarão afinidades na matéria corporal dos encarnados que deram à luz o novo ser.

Daí um novo aumento de afeição, uma nova manifestação de amor. Tal Espírito amigo vos amou como pai, vos amará como filho, como irmão ou como amigo, e cada um desses laços aumentará de encarnação a encarnação e se perpetuará de maneira inalterável quando, realizado o vosso trabalho, viverdes a vida do Espírito.

Mas esta verdadeira afeição não é comum na terra e a matéria a vem retardar, anular-lhe os efeitos, conforme ela domine o Espírito. A verdadeira amizade, o verdadeiro amor, sendo espiritual, tudo quanto se refere à matéria não é de sua natureza e em nada concorre para a identificação espiritual. A afinidade persiste, mas fica em estado latente até que, dominando o fluido espiritual, de novo se efetua o progresso simpático.

Resumindo, a afeição espiritual é a única resistente no domínio do Espírito. Na terra e nas esferas do trabalho corporal, concorre para o avanço moral do Espírito encarnado que, sob a influência simpática, realiza milagres de abnegação e de devotamento aos seres amados. Aqui, nas moradas celestes, ela é a satisfação completa de todas as aspirações e a maior felicidade que o Espírito possa desfrutar.

Revista Espírita 1864 - Allan Kardec - pág. 52

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