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24 dezembro 2015

A Prevenção da Depressão de Natal à Luz do Espiritismo - Ercília Zilli


A PREVENÇÃO DA DEPRESSÃO DE NATAL À LUZ DO ESPIRITISMO

As festas natalinas e os dias que as antecedem, para muitas pessoas pode ser uma época triste, que vem acompanhada por sentimentos de solidão, desamparo e desânimo, onde são tomadas por uma angústia e uma tristeza aparentemente sem motivo. Uma melancolia crescente que chega a incomodar, sintomas que se assemelham a um quadro depressivo. Essa condição é chamada Depressão de Natal ou “Christmas Blues”.

Mas o que é a Depressão de Natal? Por que isso ocorre? Como a luz do conhecimento espírita pode ajudar em sua prevenção? 

A psicóloga Ercília Zilli, fundadora da ABRAPE – Associação Brasileira de Psicólogos Espíritas e comunicadora da Rádio Boa Nova, fala sobre a depressão de natal e a sua prevenção à luz do Espiritismo.

O que é depressão? Ercilia Zilli: A palavra depressão tem a sua origem no latim deprimire e significa prensar de alto a baixo, comprimir. A depressão, bem como os transtornos mentais são preocupações que datam de 2.600 AC.

Hipócrates (460-370 a.C.), o pai da medicina e seus discípulos, foram os primeiros a falar sobre “melancolia”, descrevendo um conjunto de sintomas próximo do atual conceito de depressão.

A depressão é um estado patológico de sofrimento psíquico com gravidade de ânimo, tristeza, sentimento de menos valia e sensação de impotência para trabalhar e pensar. Pode ser causada por traumas emocionais, envelhecimento, ou ser conseqüência de uma predisposição genética.

A depressão surge a partir de uma alteração na comunicação entre as células cerebrais, que são os neurônios, realizada, principalmente, por dois neurotransmissores: a serotonina e a noradrenalina. Quando os níveis desses neurotransmissores se desequilibram, causam alterações químicas e fisiológicas.

O que os especialistas chamam de depressão, é algo muito mais grave do que sentir-se triste, eventualmente, pois o indivíduo não consegue ter controle sobre o seu estado emocional.

E a depressão de Natal?
Ercilia Zilli: Como vimos, a depressão é resultado de alguma pressão e o Natal tem um profundo significado de união, amor e trocas afetivas. Portanto, pode ser ocasião de percepção de solidão, sensação de não ser amado, carências afetivas, entre outras, conscientes ou inconscientes, reconhecidas ou não. A obrigação de sorrir, de perdoar e de ser fraterno pode não ser compatível com os sentimentos de uma pessoa nessa época do ano, fazendo com que ela se sinta falsa e inadequada.

Quais são os principais sintomas da depressão?
Ercilia Zilli: A depressão é uma doença que se caracteriza por um estado de humor deprimido, no qual a pessoa fica angustiada, profundamente triste, entediada, e, às vezes, indiferente a estímulos. Como os sentimentos são embotados e confusos, o indivíduo não demonstra afetividade em relação às pessoas que o cercam. As atividades cotidianas parecem não ter significado e mesmo aquelas mais simples, demandam um grande esforço.

Os sintomas mais frequentes são a sensação de vazio, tristeza, choro, irritabilidade, pressão no peito, ansiedade, perda ou ganho de peso significativos, insônia ou hipersonia, agitação ou retardo motor, dores de estômago, nas costas e espalhadas pelo corpo. Dores de cabeça, redução da libido, falta de concentração, indecisão, sentimento de culpa e aparente perda do amor pela família, são queixas muito relatadas. O desejo de morrer pode acontecer, resultando numa tentativa de suicídio. O indivíduo deixa de ter a percepção do outro e fecha-se em si mesmo e a vida parece totalmente desinteressante, da mesma forma que os familiares, amigos, passeios, hobbies e sexo.

Existem maneiras de lidar com a depressão de Natal?
Ercilia Zilli: A maneira de lidar com a depressão de Natal é a mesma que para outros tipos de depressão. O diagnóstico precisa ser realizado por profissionais especializados, bem como o tratamento. Nenhuma depressão pode ser banalizada e, se necessário, é importante tomar medicação apropriada. A solução, no entanto, é o autoconhecimento e um novo posicionamento diante de si próprio e da vida. Em algum momento, a pessoa vai precisar se olhar com coragem, reconhecer as suas carências e necessidades, entender o que está acontecendo e buscar a solução através de uma nova forma de pensar e agir. A psicoterapia é de grande valia nesse processo e a sua função é ajudar o paciente a entender o seu quadro, buscar e analisar fatos da sua vida que possam ter contribuído para o surgimento da depressão, fortalecer e potencializar esse indivíduo para que ele possa reassumir a direção de sua vida, realizar escolhas, elaborar perdas, vencer medos e fantasias e buscar o eixo da sua existência.

Quais são as principais razões para que a depressão cresça a cada ano?
Ercilia Zilli: A depressão sempre existiu, porém hoje, temos mais conhecimento para entender melhor esse transtorno. Também está deixando de ser tabu reconhecer o problema, buscar tratamento adequado e falar sobre esse tema. A vida moderna, agitada, apressada, competitiva, vai quebrando vínculos e afogando afetos. A depressão é uma manifestação de imaturidade emocional, aliada a outros fatores. Com o acúmulo de cobranças externas e internas, é possível que o indivíduo não tenha equilíbrio para fazer as escolhas mais coerentes com o que sente. Vai se sobrecarregando, se estressando e, quando não da conta, sente-se fracassado.

Na época das festas de final de ano aumenta a busca por psicoterapia?
Ercliia Zilli: É inevitável que se faça um balanço no final do ano, com revisão dos acontecimentos e das metas estabelecidas anteriormente. Nem sempre alcançamos o sucesso almejado no início do ano, portanto, é importante que as metas estabelecidas sejam viáveis, caso contrário, estaremos plantando decepções, frustrações. Por vezes, é alcançado um bom resultado nesse balanço, mas sabemos que o bom é inimigo do ótimo. Se não for, ótimo é frustrante. Quando estabelecemos uma meta, fazendo um projeto de vida, é importante sabermos que correções de rota terão que ser feitas, bem como adequações diante de fatos novos. Na minha experiência clínica, é comum a busca de psicoterapia no começo do ano, parte do projeto de uma “nova vida”. O objetivo do tratamento psicológico é “trazer para hoje” a emoção e o entendimento de algo que aconteceu no passado próximo ou distante. Um autor muito querido dizia que “a neurose é uma mentira esquecida, na qual ainda acreditamos”.

Algumas pesquisas dizem que o período entre o Natal e o Ano Novo é o que apresenta o maior número de suicídios. Esse fato é real?
Ercilia Zilli: Faltam dados conclusivos para que possamos afirmar que aumenta o número de suicídios entre o Natal e o Ano Novo, mas podemos, sim, dizer que muitas pessoas se sentem deprimidas pelo inevitável olhar para dentro de si próprio nessa época do ano. É comum a saudade de pessoas que já desencarnaram e a falta de formação religiosa leva a uma grande sensação de perda.O distanciamento do objetivo da celebração do Natal, que é a vinda de Jesus ao plano material, contribui para uma grande perda de significado. A figura que mais se vê é a do Papai Noel, e lamentavelmente, não celebramos Jesus. O simbolismo dos presentes que Jesus teria recebido foi substituído pelo consumismo desenfreado.

Como a luz do conhecimento espírita pode ajudar no combate à depressão?
Ercilia Zilli: O conhecimento do espiritismo e os tratamentos espirituais podem ser extremamente importantes no tratamento da depressão. Saber que não estamos abandonados e condenados a um eterno sofrimento, mas no caminho do crescimento espiritual, nos leva a entender as provas que passamos, faz uma grande diferença. Reconhecer que a mente em desequilíbrio é porta aberta a influencia espiritual negativa, leva o ser humano a reconhecer o que é seu e o que não é da sua mente, bem como a uma busca de equilíbrio de pensamentos e ações. Os resultados dos tratamentos combinados: psicoterapia + medicação (quando necessária) e tratamento espiritual são excelentes. A conscientização de uma pessoa quanto ao fato dela ser um espírito em busca de evolução, juntamente com o autoconhecimento propiciado pela psicoterapia, faz uma enorme diferença quando ela se defronta com alguma frustração, decepção ou perda.Muitas vezes, um ego imaturo se frustra com facilidade, porque acha que a vida deve corresponder às suas expectativas infantis. Com o amadurecimento, o indivíduo pára de brigar com a vida e passa a buscar o entendimento e a ação produtiva correspondente. A fé transformadora é luz que clareia os nossos territórios íntimos.

Para saber mais sobre o assunto:

Leia: O Espírito em Terapia – Ercília Zilli – Mundo Maior Editora.

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