EVITEMOS DA SÍNDROME DO “COITADINHO”
O problema da pobreza é muito diverso e
complexo. Talvez o ser pobre significa ter falta de segurança e
estabilidade, portanto não é só uma questão de carência de dinheiro. O
mundo atual tem alguns vencedores e muitos perdedores. Os pobres se
encaixam na categoria dos perdedores, daqueles que não podem surfar na
onda de mudança e que, de certa forma, são esmagados por ela.
A palavra “pobre” deriva do latim pauper,
radicado em paucus (pouco). No conceito original, “pobre” não era o
deserdado, mas o terreno agrícola ou gado que não produzia o suficiente.
Sob outro ponto de vista, entre alguns grupos, especificamente os
religiosos, a pobreza é considerada como necessária e desejável, e deve
ser aceita para alcançar um certo nível espiritual, moral ou
intelectual.
Nesse aspecto, o papa Francisco assevera
que a Igreja deve articular com a verdade e também com o testemunho da
pobreza. Não é possível que um fiel fale de pobreza e dos sem teto e
leve uma vida de faraó. Na Igreja há alguns que, ao invés de servir, de
pensar nos demais, se servem da Igreja. São os arrivistas, os apegados
ao dinheiro. Quantos padres e bispos deste tipo já vimos? É triste
dizer, não?
Pronunciei o pontífice ao jornal holandês “Straatnieuws”, de
Utrecht.
A pobreza é considerada como um elemento
essencial de renúncia por budistas e jainistas enquanto que para o
catolicismo romano, como vimos acima, é um princípio evangélico e é
assumido como um voto por várias ordens religiosas e é entendida de
várias formas. A ordem franciscana, por exemplo, abandona
tradicionalmente todas as formas de posse de bens. Neste caso, a pobreza
voluntária é normalmente entendida como um benefício para o indivíduo,
uma forma de autodisciplina através do qual as pessoas se aproximam de
Deus.
O professor de psicologia Elliot Berkman,
diretor do Laboratório de Neurociência Social e Afetiva da Universidade
do Oregon/EUA, estuda como o cérebro é parte da armadilha da pobreza.
As pessoas pobres frequentemente têm muita motivação para trabalhar
duro e ter vários empregos porque colocam o foco na sobrevivência no
momento presente ao invés do sucesso de longo prazo. Libertar as pessoas
da preocupação da sobrevivência diária é a melhor forma de garantir que
eles foquem no futuro. Afiança Berkman.
Para o Espiritismo, a pobreza, tal como a
riqueza, nada mais é que uma prova pela qual o Espírito necessita
passar, tendo em vista um objetivo mais alto que é o seu progresso. Deus
concede, pois, a uns a prova da riqueza, e a outros a da pobreza, para
experimentá-los de modos diferentes. A pobreza é, para os que a sofrem, a
prova da paciência e da resignação.
Ao que nasce na pobreza é dado aprender o
valor do trabalho árduo, resistir às tentações do ganho fácil,
descobrir os valores reais do espírito, e não raro se vê entre os pobres
as mais dignas demonstrações de solidariedade. Na pobreza aprendemos a
nos compadecer dos males alheios fazendo-nos compreendê-los melhor.
É evidente que a desigual repartição de
bens materiais, culturais e políticos exclui um vasto número de pessoas
deserdadas dos processos de participação e consente a coexistência em
formas inumanas de sobrevivência e de insignificante protagonismo
social. Por isso mesmo, diante dos deserdados, a nossa primeira e
obrigatória ação deve ser a do auxílio.
Mas primeiramente suavizemos o sofrimento
dos pobres, abraçando-o fraternalmente, manifestando de tal modo o
nosso sentimento de acolhida a fim de estabelecer o laço de confiança
essencial e poder ajudá-los. Em seguida, nos informemos a respeito da
situação transitória de seu sofrimento. Dessa forma, não cairemos nas
armadilhas que consideram o pobre como “coitadinho’, não vendo nele as
potencialidades de Espírito imortal e de indivíduo capaz de, com as
devidas oportunidades, prover dignamente a própria existência.
Aliás, a síndrome do “coitadinho” é uma
das moléstias oportunistas mais comuns da sociedade atual, onde muitos
deserdados têm medo de encarar a vida de frente e de cabeça erguida,
sendo maduros e responsáveis. A principal característica de uma pessoa
que sofre da síndrome do “coitadinho” é colocar-se como “vítima” das
circunstâncias, e como tal passa a ideia de que a culpa de sua pobreza é
dos outros. Aliás, os arautos das ideias do socialismo ATEU adoram
fazer isso!
Diante dos pobres, procuremos nos
informar de suas lutas materiais e verifiquemos se a oferta de trabalho e
de orientação espírita não será mais eficaz do que a aviltante doação
da esmola em seu favor. Recordando aqui que a esmola dentro da lógica
assistencialista é uma ação que atende a deficiência material sem o
móvel educativo e que envilece a humanidade do sujeito, adestrando-o à
condição da mendicância ou da dependência. Como tal, não atende ao
projeto regenerador do Espiritismo para Humanidade.
Não se pode esquecer que a Lei do
Trabalho e do Progresso, promulgada em O Livro dos Espíritos, relata
justamente a importância de o indivíduo romper com o acomodamento e
ultrapassar os obstáculos existenciais, o que inclui buscar sair também
da penúria material (pobreza) através de seu esforço.
Jorge Hessen
Site: A Luz da Mente
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