DA APARÊNCIA DOS DESENCARNADOS
É recorrente esta dúvida da parte daqueles que leem nossas obras psicografadas, de vez que elas narram, em diferentes ocasiões, a vida dos desencarnados em colônias e cidades dimensionais das esferas invisíveis.
Alguns têm curiosidade de saber em qual forma física se apresentariam a nós, se os pudéssemos rever enquanto ainda nos demoramos na materialidade, levando em consideração que já tivemos múltiplas reencarnações e, a partir disso, aparências corpóreas. Outros, indagam se, desencarnando na senectude, conservariam o aspecto da velhice na materialidade terrena, ou teriam chance de rejuvenescer na vida espiritual, de sorte que a frequência com que a questão é exposta revela tanto o interesse reiterado da parte de quem quer compreender as condições da vida após a desencarnação, quanto também certa relevância atribuída ao tema, originada, nalguns casos, em certa desculpável vaidade do ser em jornada evolutiva.
Com efeito, todos desejaríamos voltar às moradas do Espírito contando com chances reais de ostentar a vitalidade e a saúde daquelas melhores fases da nossa estadia no corpo físico. A disposição para o trabalho e as atividades de nosso maior interesse, bem como o aspecto de nossa melhor e mais confortável preferência. E, quando explicamos, com base nos estudos do assunto contidos nas obras da Codificação espírita, e em vivências pessoais de ordem mediúnica que as ratificam, que ao Espírito plenamente adaptado às esferas espirituais cabe a capacidade de plasticidade do perispírito - seu veículo de manifestação corpórea na Espiritualidade, também considerado de composição material, embora quintessenciadas. Ao ouvinte ocorrem, com razões, dúvidas sinceras de como pode isto ser possível.
As modificações neste sentido são realizadas pelo Espírito adaptado às características da vida espiritual mediante a utilização do influxo firme e disciplinado da vontade. Para aparecer aos reencarnados, sobretudo quando em estado desperto, demanda ainda uma combinação fluídica eficiente entre ambos, nem sempre disponível.
De começo, ao desencarnar - e na dependência da infinidade de condições dentro das quais, para cada um de nós, acontece a transição -, tal realização não se faz possível, e conserva-se, durante algum tempo, a réplica do estado corpóreo de nossa expressão mais recente na matéria. Todavia, nos lugares dimensionais mais felicitados por padrões de vida aperfeiçoados, aos quais se aporta mediante afinidade vibratória individual, as readaptações salutares de aspecto se dão com frequência, destituídas de maiores complicações, e o Espírito assume para si a aparência de sua preferência e com a qual melhor se identifique, em acordo com cada circunstância de convivência.
Refiro-me a readaptações salutares, porque a plasticidade de aparências ao influxo da vontade é atributo de qualquer Espírito em estado de erraticidade, e muitos podem utilizá-la para fins nocivos, como acontece nos casos de obsessão, ou quando Espíritos zombeteiros se valem da sensibilidade mediúnica acentuada de algum incauto para pregar-lhe sustos ou aterrorizá-lo.
Recordo-me da vivência inesquecível de cerca de vinte anos atrás quando, mediante projeção noturna do corpo, recebi a visita de meu avô materno desencarnado, nítida e inesquecível. Havia nos deixado tempos antes, aos oitenta e quatro anos, vitimado por um derrame que o levou do mundo material com a aparência depauperada pelo sofrimento da doença que o consumiu por algumas semanas, somado aos avanços da idade. No encontro noturno acontecido entre nós na ocasião, contudo, para minha profunda surpresa, me surgiu remoçado pelo menos uns trinta anos, e eu lhe dizia isso, lembro-me claramente: "Vô! Como o senhor está mais moço!".
Sorridente, corado e feliz, ele trajava roupa de sua preferência quando ainda estava entre nós, que descrevi depois à minha avó, e ela confirmou como sendo uma das suas favoritas. E, entre algumas notícias reconfortantes do seu estado de desencarnado nas esferas espirituais naquela época, disse-me algumas coisas mais que, para fundo espanto, foram confirmadas no dia seguinte, já desperta, através de conversa casual posterior com minha mãe.
Entre vários episódios relacionados e ilustrativos da questão da aparência dos Espíritos, quero relatar também a de anteontem para ontem, quando me ocorreu outra vivência feliz, no mesmo estado de desprendimento - desta vez, na presença do meu mentor das esferas invisíveis, Caio Quinto, autor de nossos livros psicografados, em cuja presença espiritual, recorrentemente, me vi ao longo dos anos, conhecendo-lhe assim, em detalhes, a aparência.
Tendo sido em mais de duas reencarnações militar dos exércitos romanos da antiguidade, sempre me surgira à visão do espírito, ao longo das últimas décadas, na aparência de um homem maduro, robusto, de barba cerrada, como consta na pintura mediúnica publicada em meus sites e constante da orelha de capa de alguns dos nossos livros. Nesta noite, no entanto, para minha surpresa, o mesmo Caio me surgiu grisalho - como se se passassem uns vinte anos, e o reencontrasse noutra fase de uma vida corpórea.
Risonho, de têmpera enérgica e personalidade marcante, como sempre, mostrava-se num ambiente onde se viam outras pessoas, como uma alegre reunião familiar. Feliz, e aparentemente divertido, quando lhe expressei minha grande surpresa com aquela modificação intencional na sua aparência, que quase me fazia não tê-lo reconhecido, habituada como me vejo com o seu aspecto mais moço. Mas ele me puxou pela mão, e explicou, como nunca deixou de fazer:
- Ora, você também está noutra fase da vida de reencarnada. Se bem não nos submetamos à decrepitude corpórea onde nos achamos agora, quis me mostrar a você na forma compatível com a fase que você mesma atravessa na matéria, já que nas nossas convivências do passado, em várias reencarnações e em situações repetidas, acontecia entre nós uma discrepância de idades que variava entre dez a quinze anos... Então resolvi, a partir de agora, e respondendo a este seu condicionamento psicológico forte e antigo, surgir diante de você do modo como, a meu respeito, o seu psiquismo está habituado. Achei que seria confortável e prazeroso à sua receptividade...
Parecia brincar, ao me explicar esta plasticidade fabulosa que imprimiu ao seu aspecto, na intenção de responder a uma expectativa de tônica espiritual que me condiciona de há muitos séculos, vê-lo sempre como alguém dez ou quinze anos mais velho do que eu! Mas era ele mesmo, inconfundível - belo e carismático como sempre se mostrou, denotando alguém na faixa dos seus sessenta anos de vida corpórea, frente aos meus atuais cinquenta e um!
Foi mais uma demonstração prática de que, na Espiritualidade, dispomos de meios de imprimir à aparência aquilo que melhor e mais confortavelmente nos identifica, senão perante nós mesmos, também diante daqueles com quem somos chamados a conviver.
Referência doutrinária:
O Livro dos Médiuns, cap. VI, itens de 101 a 109:
1. Os Espíritos podem se tornar visíveis?
— Sim, sobretudo durante o sono. Entretanto, certas pessoas os veem também no estado de vigília, mas isso é mais raro.
Nota de Kardec: Enquanto o corpo repousa, o Espírito se desprende dos laços materiais, fica mais livre e pode mais facilmente ver os outros Espíritos e entrar em comunicação com eles. O sonho é uma recordação desse estado. Quando não nos lembramos de nada, dizemos que não sonhamos, mas a alma não deixou de ver e de gozar da sua liberdade.
7. Qual o objetivo dos Espíritos que aparecem com boa intenção?
— Consolar os que lamentam a sua partida; provar-lhes que continuam a existir e estão perto deles; dar conselhos e algumas vezes pedir assistência para eles mesmos.
31. Os Espíritos podem fazer-se visíveis com outra aparência, além da humana?
— A forma humana é a sua forma normal. O Espírito pode variá-la na aparência, mas conservando sempre o tipo humano. Podendo tomar todas as aparências, o Espírito se apresenta com aquela que melhor o possa identificar, se for esse o seu desejo. (...) Mas os Espíritos comuns, das pessoas que conhecemos, vestem-se geralmente como o faziam nos últimos dias de sua existência. (...) Há os que muitas vezes se apresentam com símbolos da sua elevação, como uma auréola ou asas, pelo que são considerados anjos. Outros carregam instrumentos que lembram suas atividades terrenas: assim, um guerreiro poderá aparecer com uma armadura, um sábio com seus livros, um assassino com seu punhal, e assim por diante. Os Espíritos superiores apresentam uma figura bela, nobre e serena. Os mais inferiores têm algo de feroz e bestial, e algumas vezes ainda trazem os vestígios dos crimes que cometeram ou dos suplícios que sofreram.
Christina Nunes
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