SOMOS TODOS MÉDIUNS?
Pergunto-me até que ponto esta afirmação é verdadeira. Para sanar esta dúvida, recorro à melhor das fontes: ALLAN KARDEC.
Com efeito, no Livro dos Médiuns, Capítulo XIV, item 159, Kardec afirma que "toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium". E com base nesta única frase, que é a frase introdutória do capítulo "OS MÉDIUNS", muitos disseminam aos quatro ventos a informação - senão errônea, mas certamente incompleta - de que "somos todos médiuns".
A frase utilizada fora do contexto que a empregou Kardec, na verdade mais confunde do que esclarece. Quem tiver o cuidado de ler não apenas a frase inicial, mas todo o parágrafo (pelo menos, o primeiro parágrafo...) vai ter uma visão mais abrangente, e mais correta, sobre esta afirmação de Kardec. Vejamos o que ele disse:
Livro dos Médiuns, Cap. XIV, OS MÉDIUNS, item 159:
"Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo não constitui privilégio e são raras as pessoas que não a possuem pelo menos em estado rudimentar. Pode-se dizer, pois, que todos são mais ou menos médiuns. Usualmente, porém, essa qualificação se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada, que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva."*
Este parágrafo esclarece muito bem. Vamos analisar as palavras de Kardec: "Usualmente, porém, a qualificação, (ou seja, o termo "médium") se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada, (ou seja, o termo "médium" SE APLICA SOMENTE aos que possuem uma mediunidade BEM CARACTERIZADA) que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade (ou seja, que se mostra de maneira patente ou mais ostensiva), o que depende de uma organização (ou seja, de uma condição orgânica) mais ou menos sensitiva."
Todos nós sentimos a influência de Espíritos. Recebemos essas influências através das boas intuições, ou mesmo das más, como é o caso das obsessões. As obsessões nada mais são do que a ação dos Espíritos sobre os encarnados: o obsedado recebe essas influências e é sensível a elas. Mas o fato de sentirmos influências espirituais - boas ou más - não nos torna médiuns, se entendermos a mediunidade como "aptidão para a produção de fenômenos mediúnicos, como o da psicofonia ou incorporação, psocografia, vidência, etc." Foi o que Kardec deixou claro quando disse que a qualificação, ou o termo "médium", "se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada", que se traduz por "efeitos patentes de certa intensidade".
Assim sendo, o termo "médium", conforme empregado por Kardec, refere-se a pessoas dotadas de uma faculdade específica para a produção de fenômenos ou para servirem como "intermediadores" entre o plano físico e o espiritual. Tanto é verdade que há vários tipos de médiuns, e é muito frequente que um médium possua uma faculdade (psicofonia ou psicografia, por exemplo), mas não possua outra (vidência ou mediunidade de efeito físico).
Foi o que Kardec disse no parágrafo seguinte, que eu reproduzo textualmente:
"Deve-se notar, ainda, que essa faculdade não se revela em todos da mesma maneira. Os médiuns têm, geralmente, aptidão especial para esta ou aquela ordem de fenômenos, o que os divide em tantas variedades quantas são as espécies de manifestações. As principais são: médiuns de efeitos físicos, médiuns sensitivos ou impressionáveis, auditivos, falantes, videntes, sonâmbulos, curadores, peneumatágrafos, escreventes ou psicógrafos."
Portanto: Todos somos dotados de consciência e intuição. Eu costumo dizer que a consciência é a voz de Deus dentro de nós, e a intuição é a voz de Deus fora de nós. Utilizo essa definição porque ela projeta bem o que quero retratar: Deus nos fala ao coração através de nossa consciência; e nos fala à razão através da intuição. É nesta qualificação que se inclui a frase "toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium", dita por Kardec.
Mas, para o exercício da faculdade mediúnica, é preciso que se tenha uma condição orgânica propícia aos diferentes tipos de mediunidade (ou, nas palavras de Kardec, "aptidão especial para esta ou aquela ordem de fenômenos"). É por isto que não é possível desejar desenvolver determinado tipo de mediunidade, se não se tem a condição orgânica para tanto. Esta condição orgânica independe do desejo do encarnado, como independe também da condição moral, social ou intelectual do médium.
Portanto, pela frase "somos todos médiuns" devemos entender que "todos temos intuição, em maior ou menor grau. E todos recebemos as influências - boas ou más - dos Espíritos, mais acentuadamente daqueles com os quais nos afinizamos." . Entretanto, médiuns videntes, audientes, psicógrafos, e dos demais tipos de mediunidade, são aqueles dotados de uma condição orgânica propícia ao desenvolvimento da faculdade mediúnica, o que independe de sua vontade ou de sua condição moral, social ou intelectual.
Aqui cabe, entretanto, uma ressalva: Se não somos todos médiuns, no sentido de servir como intermediadores na produção de fenômenos mediúnicos, todos nós podemos, por outro lado, nos comunicar com o Plano Espiritual. A interação entre os planos material e espiritual é permanente e incessante. A comunicação entre os dois planos não é sempre feita - ou somente feita - de forma ostensiva, como no caso das manifestações mediúnicas. Na absoluta maioria das vezes, ela se faz no silêncio de nossas orações. Se nós aqui sofremos influências espirituais, sem perceber ou mesmo sem acreditar em Espíritos, podemos todos, médiuns ou não, nos comunicar com eles através da oração.
A prece é nossa ligação direta com Deus, com os Espíritos Superiores, com nossos familiares e amigos que se encontram na Pátria Espiritual, e também com os Espíritos inferiores. Se os Espíritos obsessores agem sobre nós, nós podemos também agir sobre eles, através da PRECE. Se eles exercem uma influência negativa sobre nós, exerçamos nós uma influência positiva sobre eles, evangelizando-os, pedindo por eles através de nossas orações.
O que nos liga aos Espíritos, bons ou maus, é o pensamento. Nossa ligação se dá por afinidade - quando compartilhamos os mesmos anseios, desejos, intenções, ações. A prática constante da oração, além de nos imunizar contra as más influências, expande a nossa sensibilidade para perceber a influência de nossos Protetores Espirituais, e - mesmo sem possuir a faculdade mediúnica ou "aptidão especial para a produção de fenômenos" - podemos nos comunicar com eles e receber deles, através da intuição, as respostas às nossas preces.
Por Liz Bittar em 25.06.2013
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