Tema sempre atual, a infertilidade preocupa e abala muitas famílias. É considerado infértil todo casal que, após um ano de relações sem o uso de métodos anticoncepcionais, não consegue gerar um filho, ou ainda, na ocorrência de gravidez, levar a gestação até o nascimento do bebê.
Os fatores que possibilitam uma provável infertilidade são muitos: a causa pode ser feminina (alterações anatômicas nos órgãos reprodutivos – útero, trompas ou ovários – e problemas hormonais), masculina (alterações – acusadas no espermograma – ou disfunções no aparelho reprodutor masculino), mista (abrangendo tanto o homem quanto a mulher) ou ainda não ter causas aparentes.
Após esse período de um ano, que pode ser reduzido para seis meses caso a mulher tenha mais de 35 anos, a infertilidade necessita de esclarecimentos médicos e apoio de familiares e até mesmo terapêutico para que o casal consiga compreender e aceitar a situação e, então, procurar o tratamento mais adequado.
Mas como entender o porquê desses problemas, principalmente sob o aspecto espiritual? Essa preocupação esteve na programação do Mednesp, o congresso da Associação Médico-Espírita do Brasil, realizado em 2009, em Porto Alegre (RS), com palestra proferida pelo dr. Décio Iandoli Júnior, cirurgião do aparelho digestivo e membro da AME-Mato Grosso do Sul, com o qual a Folha Espírita conversou.
Folha Espírita – O número de casais inférteis parece ter aumentado de uns anos para cá. Isso faz parte do atual momento planetário?
Décio Iandoli Júnior – Eu penso que as mudanças sociais, principalmente no que se refere ao papel da mulher, é o mais importante fator gerador desse aumento da infertilidade. Antigamente, as mulheres eram criadas para casar e ter filhos, assim, contraíam matrimônio e tinham filhos muito antes dos 35 anos de idade. Porém, isso mudou bastante, pois as mulheres vão estudar, entram no mercado de trabalho, alcançam seus objetivos profissionais para, então, pensar em ter filhos, levando essa decisão para uma idade em que a sua fertilidade, por questões biológicas, está em declínio. Isso, sem dúvida, gera essa maior frequência de casais que não conseguem engravidar.
FE – Casais com taxas normais de hormônios e perfeito funcionamento das glândulas reprodutivas apresentam dificuldade para engravidar. Como entender?
Décio – Existe uma porcentagem considerável de casais inférteis cuja causa biológica não é encontrada. Creio que nesses casos é preciso que se levem em consideração hipóteses dentro do paradigma espiritualista, sempre lembrando que não existem pessoas iguais, e que toda generalização leva ao erro. Acredito que desequilíbrios no centro de força genésico do homem, da mulher, ou de ambos, provocados por atitudes de desajuste ligadas ao sexo e à maternidade ou paternidade, nesta ou em outras vidas, podem ser a causa da infertilidade, provocando a impossibilidade de gerar descendentes e impondo uma prova a ser vencida pelo casal, ou seja, uma lição a ser aprendida.
FE – Por conta de problemas para gerar filhos, alguns casais resolvem partir para a adoção e logo em seguida conseguem engravidar. Como explicar esse fato?
Décio – Esses casos são um bom exemplo de atitudes terapêuticas, ou seja, através de uma ação positiva, conseguem corrigir os desequilíbrios energéticos, causados por lesões perispiríticas, e “curam” a disfunção biológica como consequência. Não só a adoção, mas também qualquer trabalho meritório, principalmente junto a crianças, ou qualquer outra ação caridosa que possa anular os desajustes do passado podem levar ao mesmo resultado da adoção, ou seja, reverter a infertilidade, pois, eliminando-se a causa, desaparece o efeito.
FE – Procedimentos de inseminação artificial e fertilização in vitro são aceitos no paradigma médico-espírita?
Décio – O paradigma médico-espírita é incondicionalmente a favor da vida e vê como legítimo o desejo de gerar descendentes biológicos e passar pela incrível experiência da gravidez, pois sabemos que a motivação para esse desejo é bastante complexa e envolve fatores biológicos, sociais, conjugais e espirituais. Sendo assim, somos a favor de todo esforço legítimo de dar a esses casais a oportunidade de ter seus filhos biológicos.
O que não podemos entender nem aceitar é o paradoxo que temos observado nos grupos de reprodução assistida, onde o embrião, tão desejado e obtido com tanto esforço, sofrimento e dispêndio financeiro, é tão desprezado e desqualificado a partir do momento em que se consegue uma gestação de sucesso. Descartar embriões ou utilizá-los para qualquer fim que não a reprodução, a chamada “redução”, em que são mortos os embriões “excedentes” implantados no útero, são atos contra a vida e a dignidade humana, tomados, justamente, por aqueles que lutam para promovê-la, o que, em minha opinião, pode ampliar os “débitos” daqueles que estão envolvidos no problema e na sua solução.
Lutamos pela normatização ética da reprodução humana assistida, disciplinando a geração dos embriões, produzindo-se e implantando-se no útero apenas aqueles que se pretenda utilizar e promovendo a adoção dos embriões já formados e cujos pais não desejem utilizá-los. Alguns países da Europa já tomaram essas atitudes.
FE – Como entender a infertilidade do ponto de vista espiritual?
Décio – Sabemos, pela lei de causa e efeito, que tudo o que vivenciamos hoje tem uma causa no passado. Porém, sabemos também que um número enorme de variáveis, que supera em muito a nossa capacidade de compreensão, está agindo para que estejamos exatamente onde estamos hoje. Dessa forma, nossa capacidade de identificar e entender os motivos de nossas vicissitudes é bastante reduzido.
O fato de certos casais viverem essa angústia de não poder ter filhos biológicos pode até estar relacionado com fatores que nem mesmo imaginamos e que podem estar ligados às condições de transição do planeta e não ao carma específico de cada um. Quem pode saber? Sendo assim, o que nos resta é trabalhar para superar nossas dores e dificuldades, trabalhar para gerar conforto e desenvolvimento a nós mesmos, ao nosso grupo familiar e a toda a humanidade, de acordo com as oportunidades que a vida nos dá, sem nunca esquecer, entretanto, que a responsabilidade de nossas escolhas não pode ser transferida a quem quer que seja, e que a coerência de nossos atos com nossos ideais deve ser procurada incessantemente. Creio que isso vale para os médicos, para os pacientes, mas também, e principalmente, para todos aqueles que já têm consciência das leis naturais que nos foram comunicadas pelo mestre Jesus e que foram tão bem esclarecidas pela Doutrina Espírita. A estes cabe também a responsabilidade de propagar a necessidade da luta pelos direitos dos mais desamparados e impedidos de defender seus direitos. Cabe aos mais conscientes a tarefa de disseminar o amor e de erradicar a ignorância, não perdendo a oportunidade de expor, aonde quer que vá, sua posição bem clara e firme de defesa à vida seja qual for a forma em que ela se apresente.
Seremos julgados por aquilo que fizermos, e o juiz de cada um é sua própria consciência. Por mais que tentemos nos abster, ela nos acompanha aonde quer que possamos ir. Portanto, se não podemos fugir, só nos resta lutar.
Giovana Campos/Décio Iandoli Júnior
Folha Espírita
Fevereiro de 2010 - Edição 426
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