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04 abril 2018

Um menido de dez anos - Orson Peter Carrara




UM MENINO DE DEZ ANOS



Enquanto os pais assistiam ao show musical, acomodados no grande salão do belo teatro, o garoto de apenas dez anos estava no banheiro “aprontando”. Ele simplesmente “socou” vários rolos de papel higiênico nos vasos sanitários, entupiu os ralos do chão e das pias com o mesmo papel picadinho e saiu deixando todas as torneiras abertas.

O resultado não se fez esperar. Em breve tempo a água invadiu o espaço todo que dava acesso aos sanitários, surpreendendo o público e funcionários na saída do show.

O autor da “arte” não foi descoberto no momento. A mãe veio me contar posteriormente porque o garoto, ouvindo minha palestra sobre minha timidez na infância e adolescência, quis conversar comigo. Disse-me ele do enfrentamento com os colegas na sala de aula, que o atormentam – segundo sua versão –, razão pela qual identificou-se com a minha fala. Durante nossa conversa, transmiti-lhe otimismo, pedi-lhe que não reagisse às provocações, abracei-o e o estimulei ao bom comportamento. Mas eu ainda não sabia do episódio do teatro.

Depois juntei as peças. O garoto, como qualquer criança da sua idade, ainda não tem noção exata, nem maturidade para muitas situações, embora saibam bem as crianças dessa idade o que é certo e o que é errado. Mas o episódio do banheiro, ainda que sendo uma aventura irresponsável com evidentes prejuízos, é também uma explosão de agressão às dificuldades próprias dos embates da idade nos confrontos com colegas da mesma faixa etária.

Sentindo-se acuado, pressionado, a reação vai se apresentar de alguma forma, até para chamar a atenção.

Os psicólogos tem melhores condições do que eu para bem definir tais situações e até sugestões para atenuar essas crises e reações internas que não estão apenas na infância, mas também na idade adulta. Quantos adultos que agem como crianças mimadas!

Mas o fato é que, percebendo os pais tais dificuldades, a ajuda e apoio precisam aparecer, para não piorar a situação.

O diálogo, a presença carinhosa ao invés de punitiva, o exemplo de companheirismo e compreensão e as orientações de pais e educadores e até mesmo a terapia psicológica são de grande valia para alteração do quadro.

A frequência ao templo religioso, com as práticas próprias de cada religião e mesmo a prece em casa, são recursos preciosos para acalmar esses ímpetos desagradáveis que ocorrem com nossas crianças. E, claro, a mudança para melhor no comportamento dos adultos.

O fato final é que pais e educadores não podem ignorar tais ocorrências. As crianças trazem consigo seus traumas e dificuldades e precisam da orientação e ajuda dos adultos. Nem sempre conseguem entender e superar os enfrentamentos que a vida vai trazendo.

Como ignorar isso? Por omissão desse quadro é que estamos tendo tantos adultos e jovens desequilibrados promovendo tantas tragédias no cotidiano da vida humana.

É pela nossa indiferença em casa também que muitos de nossos jovens adentram o perigoso caminho das drogas e se deixam arrastar pela violência. Existem, é claro, outras causas e também não podemos generalizar, mas os filhos precisam do carinho dos pais e seus educadores e o grande desafio é que esse carinho não pode ser castrador nem liberal demais.

O equilíbrio entre os dois pontos é o grande desafio para os pais.

Falar para eles, desde tenra idade, da bondade de Deus para conosco, do respeito aos animais, ao patrimônio público, aos mais velhos, às instituições, aos professores; ensinar-lhes a orar, falar-lhes diretamente ao coração – com exemplos – do Evangelho do Cristo é vacina certa e indicada que evita o adulto ou o jovem desequilibrado dos anos futuros.

Essa semeadura prudente evita o egoísmo feroz que caracteriza a sociedade moderna, geradora de tanta violência e desrespeito ou indiferença para com a vida. A gratidão, a alegria de viver, a honestidade, a coragem, a determinação e a fé são valores que os pais e educadores nunca devem desistir de transmitir às novas gerações.

Basta pensar que nunca esquecemos as lições de honestidade que recebemos de nossos pais.

Nunca esqueceremos os exemplos de dignidade, perseverança e trabalho que semearam no ambiente doméstico e da fé ardente que nos transmitiram. Isso faz o adulto consciente. As bagagens do adulto se formam na infância, sob influência direta do adulto.

Estejamos, pois, atentos, com nosso dever de educar!


Por Orson Peter Carrara



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