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06 fevereiro 2019

Rei Triunnfante - Joanna de Ângelis



REI TRIUNFANTE


Roma distendera o seu manto esmagador sobre o mundo conhecido, e as legiões temíveis dominavam os povos afligidos...

O poder da águia perigosa estava em toda parte, e o sofrimento humano era a consequência natural da sua grandeza.

Júlio César substituíra os deuses-lares e tornara-se divino, embora viesse a sucumbir sob o punhal traiçoeiro de Brutus e de outros senadores infiéis, no apogeu das suas glórias.

A decadência do primeiro Triunvirato deixara marcas de horror em toda parte, e o segundo esvaira-se em face do suicídio de Antônio, após vencido na segunda Batalha de Filipos por Cássio, e da supremacia de Otávio, governador de Roma.

Era, naquele momento atroz, um império esfacelado, mas que estava em lutas de reabilitação.

Nesse novo regime começou a pairar uma onda de harmonia onde antes os abutres das guerras devoravam os cadáveres dos povos vencidos.

Uma psicosfera de paz espraiava-se pela paisagem humana, e filósofos, poetas, artistas e sábios preenchiam os imensos espaços com lições de altruísmo e beleza.

As rebeliões, sempre esmagadas com impiedade, amainaram, e o progresso passou a derramar bênçãos de alegria e de esperança...

Foi nesse clima de relativo equilíbrio social, político e artístico, que nasceu Jesus, numa gruta modesta na pequena Belém de Judá.

Israel experimentava, há mais de quatrocentos anos, um silêncio sepulcral a respeito das revelações em torno do seu Messias, produzindo uma grande expectativa de esperança e de alegrias, de modo que pudesse atenuar as dores e as amarguras do seu povo.

Repentinamente houve um tumulto produzindo renovação dos costumes e receios sob a arbitrária governança de Herodes, o Grande, portador de uma crueldade jamais conhecida. Ele não era judeu, e sim idumeu, detestando o povo que governava, enquanto, por sua vez, era odiado por aqueles que lhe sofriam o jugo impiedoso.

A matança tornara-se quase natural, fosse no palácio suntuoso em Jerusalém ou em qualquer burgo dos mais miseráveis...

A Humanidade não podia compreender o que se estava passando, quando se Lhe ouviu a voz dúlcida e forte envolta em paz, enfrentando os abutres das guerras que devoram os cadáveres das nações vencidas.

* * *

Uma psicosfera de harmonia encontrava-se instalando na paisagem humana a oportunidade do amor e da fraternidade, com novos padrões éticos existenciais.

As rebeliões, antes esmagadas com impiedade, amainavam, e o progresso começou a derramar bênçãos inesperadas.

Uma revolução de ideias, como nunca antes acontecera, passou a soar de quebrada em quebrada, alterando a geografia dos corações humanos antes em desespero...

Tratava-se de uma voz que nenhuma tempestade lograva silenciar ou diminuir-lhe o impacto incomum.

Nesse comenos, um pequeno grupo de homens amorosos constituiu o modelo de uma sociedade feliz.

A mensagem era qual lâmina aguçada que penetrava as carnes do coração, e todos que a ouvissem não mais conseguiam permanecer indiferentes.

Apesar de ser dirigida aos abandonados pelo mundo, alcançava patamares elevados e contribuía para a instalação da justiça e da solidariedade entre os que se hostilizavam terrivelmente.

Avançando das praias do lago de Genesaré, ou mar da Galileia, região pobre e desprezada por muitos judeus, atravessava o deserto escaldante e as montanhas, alcançando o Sinédrio formal e hipócrita e abalando-lhe as estruturas frágeis.

As multidões sempre perseguidas e exaustas pelos impostos injustos, a avareza e o poder temporal perversos, chamava a atenção de todos e despertava o rancor dos dominadores servis.

Ninguém ficava insensível à Sua música incomparável.

Vestido de peregrina luz, os Seus vassalos multiplicavam-se, aureolados de paz.

Jamais alguém se apresentara com tanta autoridade que se exteriorizava sem a necessidade de armas, de grupos defensores, dos miserandos recursos terrestres que atemorizam.

Ele aparecia com os Seus de repente em lugar estranho e, ao distender as Suas mãos, alterava a existência daqueles que passavam a conhecê-lO.

Ninguém que O encontrasse ficava insensível ao Seu magnetismo: amavam-nO ou odiavam-nO de imediato.

Não havia dúvida: Ele era o Rei que se esperava, mas para cujo Reino não se estava preparado.

Não atemorizava ninguém, exceto pela nobreza dos Seus argumentos, evitava quaisquer manifestações infelizes e disseminava o amor, renegava a intriga, enquanto sustentava os caídos e padecentes de toda natureza.

Pouco a pouco, dividiram-se aqueles que O ouviam.

Ele falava dos Céus, e quase todos queriam a Terra.

Ele denunciava o crime; a maioria, porém, se comprazia na sua prática.

Ele cantava a humildade e a renúncia, vivendo com total simplicidade, e desagradava aos que cultivavam o orgulho e a posse.

A inveja e a sordidez humanas passaram a segui-lO.

Não para aprender a Sua mensagem, mas para surpreendê-lO em qualquer dito que se Lhe pudesse transformar em acusações, criando armadilhas e sedições para O aniquilarem.

...E Ele a todos surpreendeu, porque viera para amar e servir, edificando um Reino de Bênçãos no ádito dos corações, embora nem sempre recebesse amor, fidelidade e gratidão.

Essa conduta não O surpreendia, porque Ele sabia que a sementeira é imediata, mas o resultado exige tempo e oportunidade.

O Seu era o ministério de ensementar na História da Humanidade o poder do amor em confronto com as sombras dominadoras em toda parte.

Por isso, foi traído, negado, chibatado cruelmente e depois arrastado pelas estreitas ruas por onde passara antes em triunfo de mentira na direção do Calvário, que Lhe serviria de cenário para a ascensão a Deus.

* * *

Porque soubesse, desde então, que não havia lugar para Ele, prometeu enviar os Seus mensageiros, em momento grave da sociedade a fim de que a pudesse conduzir sob Sua tutela ao Reino dos Céus.

Surgiu o Espiritismo no Século das Luzes, que ora se expande e altera definitivamente a conduta da Humanidade para melhor.

Neste Natal, evoca-O, celebra-Lhe o nascimento, fazendo do próprio coração a Manjedoura para que Ele renasça e esparza a musicalidade sublime de que é portador, neste mundo em sombras que O aguarda.


Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica de 24 de setembro de 2018, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.


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