REI TRIUNFANTE
Roma distendera o seu manto esmagador sobre o mundo conhecido, e as legiões temíveis dominavam os povos afligidos...
O poder da águia perigosa estava em toda parte, e o sofrimento humano era a consequência natural da sua grandeza.
Júlio César substituíra os deuses-lares e tornara-se divino, embora viesse a sucumbir sob o punhal traiçoeiro de Brutus e de outros senadores infiéis, no apogeu das suas glórias.
A decadência do primeiro Triunvirato deixara marcas de horror em toda parte, e o segundo esvaira-se em face do suicídio de Antônio, após vencido na segunda Batalha de Filipos por Cássio, e da supremacia de Otávio, governador de Roma.
Era, naquele momento atroz, um império esfacelado, mas que estava em lutas de reabilitação.
Nesse novo regime começou a pairar uma onda de harmonia onde antes os abutres das guerras devoravam os cadáveres dos povos vencidos.
Uma psicosfera de paz espraiava-se pela paisagem humana, e filósofos, poetas, artistas e sábios preenchiam os imensos espaços com lições de altruísmo e beleza.
As rebeliões, sempre esmagadas com impiedade, amainaram, e o progresso passou a derramar bênçãos de alegria e de esperança...
Foi nesse clima de relativo equilíbrio social, político e artístico, que nasceu Jesus, numa gruta modesta na pequena Belém de Judá.
Israel experimentava, há mais de quatrocentos anos, um silêncio sepulcral a respeito das revelações em torno do seu Messias, produzindo uma grande expectativa de esperança e de alegrias, de modo que pudesse atenuar as dores e as amarguras do seu povo.
Repentinamente houve um tumulto produzindo renovação dos costumes e receios sob a arbitrária governança de Herodes, o Grande, portador de uma crueldade jamais conhecida. Ele não era judeu, e sim idumeu, detestando o povo que governava, enquanto, por sua vez, era odiado por aqueles que lhe sofriam o jugo impiedoso.
A matança tornara-se quase natural, fosse no palácio suntuoso em Jerusalém ou em qualquer burgo dos mais miseráveis...
A Humanidade não podia compreender o que se estava passando, quando se Lhe ouviu a voz dúlcida e forte envolta em paz, enfrentando os abutres das guerras que devoram os cadáveres das nações vencidas.
* * *
Uma psicosfera de harmonia encontrava-se instalando na paisagem humana a oportunidade do amor e da fraternidade, com novos padrões éticos existenciais.
As rebeliões, antes esmagadas com impiedade, amainavam, e o progresso começou a derramar bênçãos inesperadas.
Uma revolução de ideias, como nunca antes acontecera, passou a soar de quebrada em quebrada, alterando a geografia dos corações humanos antes em desespero...
Tratava-se de uma voz que nenhuma tempestade lograva silenciar ou diminuir-lhe o impacto incomum.
Nesse comenos, um pequeno grupo de homens amorosos constituiu o modelo de uma sociedade feliz.
A mensagem era qual lâmina aguçada que penetrava as carnes do coração, e todos que a ouvissem não mais conseguiam permanecer indiferentes.
Apesar de ser dirigida aos abandonados pelo mundo, alcançava patamares elevados e contribuía para a instalação da justiça e da solidariedade entre os que se hostilizavam terrivelmente.
Avançando das praias do lago de Genesaré, ou mar da Galileia, região pobre e desprezada por muitos judeus, atravessava o deserto escaldante e as montanhas, alcançando o Sinédrio formal e hipócrita e abalando-lhe as estruturas frágeis.
As multidões sempre perseguidas e exaustas pelos impostos injustos, a avareza e o poder temporal perversos, chamava a atenção de todos e despertava o rancor dos dominadores servis.
Ninguém ficava insensível à Sua música incomparável.
Vestido de peregrina luz, os Seus vassalos multiplicavam-se, aureolados de paz.
Jamais alguém se apresentara com tanta autoridade que se exteriorizava sem a necessidade de armas, de grupos defensores, dos miserandos recursos terrestres que atemorizam.
Ele aparecia com os Seus de repente em lugar estranho e, ao distender as Suas mãos, alterava a existência daqueles que passavam a conhecê-lO.
Ninguém que O encontrasse ficava insensível ao Seu magnetismo: amavam-nO ou odiavam-nO de imediato.
Não havia dúvida: Ele era o Rei que se esperava, mas para cujo Reino não se estava preparado.
Não atemorizava ninguém, exceto pela nobreza dos Seus argumentos, evitava quaisquer manifestações infelizes e disseminava o amor, renegava a intriga, enquanto sustentava os caídos e padecentes de toda natureza.
Pouco a pouco, dividiram-se aqueles que O ouviam.
Ele falava dos Céus, e quase todos queriam a Terra.
Ele denunciava o crime; a maioria, porém, se comprazia na sua prática.
Ele cantava a humildade e a renúncia, vivendo com total simplicidade, e desagradava aos que cultivavam o orgulho e a posse.
A inveja e a sordidez humanas passaram a segui-lO.
Não para aprender a Sua mensagem, mas para surpreendê-lO em qualquer dito que se Lhe pudesse transformar em acusações, criando armadilhas e sedições para O aniquilarem.
...E Ele a todos surpreendeu, porque viera para amar e servir, edificando um Reino de Bênçãos no ádito dos corações, embora nem sempre recebesse amor, fidelidade e gratidão.
Essa conduta não O surpreendia, porque Ele sabia que a sementeira é imediata, mas o resultado exige tempo e oportunidade.
O Seu era o ministério de ensementar na História da Humanidade o poder do amor em confronto com as sombras dominadoras em toda parte.
Por isso, foi traído, negado, chibatado cruelmente e depois arrastado pelas estreitas ruas por onde passara antes em triunfo de mentira na direção do Calvário, que Lhe serviria de cenário para a ascensão a Deus.
* * *
Porque soubesse, desde então, que não havia lugar para Ele, prometeu enviar os Seus mensageiros, em momento grave da sociedade a fim de que a pudesse conduzir sob Sua tutela ao Reino dos Céus.
Surgiu o Espiritismo no Século das Luzes, que ora se expande e altera definitivamente a conduta da Humanidade para melhor.
Neste Natal, evoca-O, celebra-Lhe o nascimento, fazendo do próprio coração a Manjedoura para que Ele renasça e esparza a musicalidade sublime de que é portador, neste mundo em sombras que O aguarda.
Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica de 24
de setembro de 2018, no Centro Espírita Caminho da Redenção,
em Salvador, Bahia.
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