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29 abril 2019

Notre-Dame de Paris - Divaldo P.Franco



NOTRE-DAMES DE PARIS


No momento em que escrevo este artiguete, arde em devoradoras chamas a incomparável Catedral de Notre-Dame de Paris, um dos mais grandiosos símbolos da capital francesa.

Não posso negar a dor íntima que experimento ao ver a destruição de um dos mais notáveis templos góticos da humanidade.

Visitei-a mais de quinze vezes, em todas ocasiões em que estive em Paris. Exercia sobre mim um fascínio indescritível, evocando o período das Cruzadas como o da Revolução de 1789.

No seu interior estiveram reis e a ralé, potentados e miseráveis, bárbaros e santos, imperadores e o povo em súplica, rogando as bênçãos de Nossa Senhora, em períodos de guerra, de peste, no passado, e de júbilo.

Napoleão Bonaparte, no dia 2 de dezembro de 1804, ali fez-se coroar imperador dos franceses, enquanto, anos antes, ela fora palco do materialismo em famoso discurso que expulsava Deus do país…

Começou a ser construída em 1163 e é um dos monumentos históricos mais extraordinários do engenho humano, na pequena Île de la Cité, dedicada à Mãe de Jesus.

Tudo nela era especial, desde suas imensas colunas, suas torres, teto, vitrais, subsolo onde eram guardados tesouros de valor incalculável, repositório de histórias vivas da cultura francesa. Recordo-me do incêndio do Museu Histórico do Rio de Janeiro, que destruiu documentos insubstituíveis e a memória de acontecimentos únicos do nosso país.

Penso, nestes dias de ódio e de primarismo, acompanhando na França os casacos amarelos, vândalos destruidores da pior espécie, assim como os anarquistas de todo o mundo e da nossa Pátria que não perdem oportunidade de destruir tudo, em alucinada volúpia de prazeres patológicos, inclusive matando seres humanos.

Se ambos incêndios foram por negligência humana, igualmente considerada criminosa, estarrece-nos mais, porém, se foram com o objetivo de instalar na Terra o pavor e no último caso anular “o Cristianismo que comanda o ocidente há dois mil anos e deve ser aniquilado a qualquer preço”, muito pior para a nossa paradoxal civilização.

Estamos numa encruzilhada sociocultural das mais complexas.

De um lado, predominam as paixões mais asselvajadas que se possa imaginar ao lado de especial tecnologia de ponta e de ciência avançada, sem ética nem moral, nem paz ou alegria de viver. E do outro, as perspectivas de mudança de comportamento, voltando-se aos valores da dignidade, da família e da humanidade.

Nas sombras das incertezas, cabe-nos a todos nós e a cada um em particular a conduta nobre e o desenvolvimento da cultura da paz e do amor. Seja Notre-Dame de Paris o último espetáculo truanesco destes dias desafiadores, que devem ceder lugar aos deveres de elevação moral do ser humano.



Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, 18 de abril 2019


28 abril 2019

O Circulo de Oração - F.Labouriau

 


O CÍRCULO DE ORAÇÃO



Noite de 11 de agosto de 1955.

Em finalizando as nossas tarefas no socorro aos sofredores desencarnados, comparece o irmão José Xavier que nos recomenda fraternalmente:

- Solicitamos dos companheiros alguns momentos de acurada meditação para articularmos com mais segurança o “tono vibratório” de nossa reunião, porque, hoje, um novo amigo, o Professor Labouriau, ocupará o canal mediúnico, a fim de expressar-se quanto ao valor de um círculo de oração. Com efeito, daí a instantes transfigura-se o médium. A entidade comunicante senhoreira-lhe todas as forças. Levanta-se. Fala-nos à maneira de um preceptor interessado na educação dos aprendizes. E transmite-nos o fulgurante estudo que oferecemos neste capítulo.

Comentemos a importância de um círculo de oração nos serviços de assistência medianímica, como um aparelho acelerador de metamorfose espiritual.

Imaginemo-lo assim como um ciclotron da ciência atomística dos tempos modernos.

Os companheiros do grupo funcionam como eletroímãs, carregados de força magnética positiva, e negativa, constituindo uma corrente alternada de alta freqüência, através da qual o socorro do Plano Superior, transmitido por intermédio do dirigente físico, exterioriza-se como sendo um projétil de luz sobre o desencarnado em sombra que, simbolizando o núcleo atômico a ser atingido, permanece justaposto ao alvo mediúnico.

No bombardeio nuclear, sabemos que um próton, arremessado sobre o objetivo, imprime-lhe transformação compulsória à estrutura essencial.

Um átomo elevar-se-á na escala do sistema periódico, na medida das cargas dos corpúsculos que lhe forem agregados.

Assim sendo, a projeção de um próton sobre certa unidade química determina a subida de um ponto em sua posição na série estequiogenética.

A carga do único próton do núcleo do átomo de Hidrogênio, de número atômico 1, arrojada sobre o Lítio, cujo número atômico é 3, modificá-lo-á para Berílio, que tem número atômico 4; ou, sobre o Alumínio, de número atômico 13, alterá-lo-á para Silício, cujo número atômico é 14.

Nesse mesmo critério, a injeção de um núcleo de átomo de Hélio com seus dois prótons, de número atômico 2, sobre Berílio, de número atômico 4, adicionar-lhe-á dois pontos acima, convertendo-o em Carbono, cujo número atômico é 6.

Recorremos a figurações elementares do mundo químico para dizer que no círculo de oração o impacto das energias emitidas de nosso plano, através do orientador encarnado, em base de radiações por enquanto inacessíveis à perquirição terrestre, provoca sensíveis alterações na mente perturbada, conduzida à assistência cristianizadora.

Consciências estagnadas nas trevas da ignorância ou da insânia perversa, são trazidas à retorta mediúnica para receberem o bombardeio controlado de forças e idéias transformadoras que lhes renovam o campo íntimo, e, daí, nasce a guerra franca e sem quartel, declarada a todos os grupos respeitáveis do Espiritismo pelas Inteligências que influenciam na sombra e que fazem do vampirismo a sua razão de ser.

Todos vós, que recolhestes do Senhor os mandatos do esclarecimento, os recursos da mediunidade e os títulos da cooperação, no trato com os reinos do Espírito, sabei que para conservardes um círculo de oração, equilibrado e seguro, é imprescindível pagar os mais altos tributos de sacrifício, porque, em verdade, retendes convosco poderosa máquina de transmutação espiritual, restaurando almas enfermas e transviadas em núcleo de ação eficiente, que vale por reduto precioso de operações da Esfera divina, no amparo às necessidades e problemas da Terra.

Unamo-nos, assim, no trabalho do Cristo, como obreiros da Grande Fraternidade, mantendo-nos diligentes e alertas, na batalha incessante do bem contra o mal em que devemos servir para a vitória da Luz.


Pelo Espírito F. Labouriau
Do livro: Vozes do Grande Além
Médium: Francisco Cândido Xavier


Desafios da Educação no Século XXI - Rose Mary Grebe



DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI


É praticamente geral a ideia que temos que viver em sociedade e a cooperação acontece entre as pessoas, ainda que muitos neguem isto. Em nossa vida atual a solidariedade é fundamental para que sobrevivamos. Basta pensarmos um pouco sobre os caminhos por que passaram os nossos alimentos, vestuário, todos os nossos bens de consumo. Se antigamente alguém poderia viver isoladamente, hoje não é mais possível. Nenhum ser humano possui todas as capacitações para suprir as necessidades. Além disso, estamos inseridos em uma lei de Deus que é a de SOCIEDADE.

Carlos Toledo Rizzinni, no livro Evolução para o Terceiro Milênio esclarece:


“Desde o nascimento, a sociedade exerce pressão no sentido de que certos tipos de comportamento, admitidos como melhores, sejam acatados. Ela define implicitamente os valores, as normas de vida, os traços de caráter, motivos, etc, que a criança deverá assimilar e robustecer para apresentar um comportamento razoável.”

Então é esta sociedade, formada por todos nós, quem dita um modelo para que as crianças sejam criadas e educadas. Portanto, precisamos pensar sobre algumas questões referentes à nossa criança, que influenciarão na sua educação de forma geral e por toda vida.

# A criança é um ser reencarnado; isso pressupõe individualidade e o entendimento de que esse ser não é uma tábula rasa. Ela já viveu muitas experiências; traz consigo boas e más tendências como herança de suas vidas passadas

Todos os dias fazemos a constatação de que:


# As crianças que nascem são muito diferentes - é notório a inteligência das nossas crianças. Muitas vezes, quando as vemos com um celular, ficamos de boca aberta, “onde ela aprendeu tudo isso?” Muitas perguntas que fazem, nem sabemos responder. Tempos atrás os pais e o professor é que sabiam tudo.

# Nós vivemos num mundo de tecnologia - ninguém pode dizer que vive sem as tecnologias da atualidade. E as nossas crianças, desde bebê, estão expostas a isso também. Vamos fazer uma “mea culpa”: a televisão muitas vezes é utilizada como babás.

A criança da atualidade é aquela que detém muitas informações, muitos sons e muitas cores em seus registros. Todos que temos crianças por perto como filhos, netos, sobrinhos, alunos, sabem as dificuldades de se educar nos dias atuais. Professores passam por sérias dificuldades e todos sabemos o que tem acontecido nas escolas, pois os jornais escancaram tudo. Percebemos um desrespeito às instituições, públicas ou privadas.

As crianças de que estamos falando são as da geração ALPHA nascidas a partir de 2010. Esta geração, de acordo com estudos, é formada por pessoas muito mais independentes e com um potencial muito maior de resolver problemas do que seus pais e avós. Se por um lado têm facilidade para certas áreas, quando se trata de usar a rapidez do pensamento, para outras que exigem concentração e seriedade, aparecem as dificuldades. Daí temos educar no tocando do uso disciplinado destas novas tecnologias, sem exageros. Buscamos no Livros dos Espíritos uma questão que sendo antecedente a este tempo, concorda plenamente com estes estudos.

379. O Espírito que anima o corpo de uma criança é tão desenvolvido quanto o de um adulto?


— Pode mesmo ser mais, se ele mais progrediu, pois são apenas os órgãos imperfeitos que o impedem de se manifestar. Age de acordo com o instrumento de que se serve.

O conhecido Psiquiatra Augusto Cury tem dado grande contribuição sobre este tema. Inclusive definindo o que tem acontecido a esta geração. Ele diz que nossas crianças sofrem de Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA): “Quem tem SPA não consegue gerenciar os pensamentos plenamente, não consegue tranquilizar sua mente. O maior vilão da qualidade de vida do homem moderno não é seu trabalho, nem a competição, a carga horária excessiva ou as pressões sociais, mas o excesso de pensamentos.”

E então são estas as crianças que estão sob nossa responsabilidade que deveremos preparar para tudo o que estamos vendo e vivendo. Daí a educação não poder ser mais a mesma nem a instrução que é feita pela escola.

Nossa primeira escola é o lar, que nos dias atuais se apresenta sob diversas configurações familiares. É deste lar que deverá sair a educação para esse “serzinho”, que o influenciará para a vida. O primeiro gesto educativo é o exemplo, mais do que mil palavras. A família precisa ter valores morais consolidados, para que possa mostrar aos seus. Esses valores serão de acordo com o que queremos para o futuro. As crianças da atualidade necessitam de explicações, não podemos mais dizer “faça porque eu mandei”.

Esses pequenos seres, ainda que muito experientes precisam ser cuidados. Thereza de Brito nos fala:

“Cada criança é um Espírito inteiro, integral, com delicado circuito capacitado a assimilar toda e qualquer informação que se lhe traga, sem qualquer análise ou seleção, uma vez que o seu mundo psíquico não se acha ainda em condições para discernir com profundidade.” (Vereda Familiar, Raul Teixeira. P. 69)

O Pediatra José Martins Filho, Presidente da Academia Brasileira de Pediatria faz a seguinte constatação:

“As crianças de hoje são as que foram menos acalentadas na história e têm necessidade e carência afetiva por falta de colo e de presença. Os trabalhos mostram que elas tendem a apresentar muito mais problemas de desenvolvimento, problemas escolares, agressividade e na idade adulta, muitas vezes fenômenos psicoemocionais e biológicos causados por essa forma nova de cuidar”.

Nesta nossa missão de pais e educadores nos cabe dar limites: toda criança deve ser criada sabendo quais são os seus limites. Precisamos ter a mais absoluta certeza de que os limites que não dermos, a sociedade dará, de uma forma sempre dolorosa. Talvez não nos demos conta, mas isto interferirá não só na infância, mas por toda uma vida. A este respeito nos alerta Maria Luísa Ferrerós:

“ Se não o ensinarmos a respeitar normas de convivência com pessoas que mais o amam neste mundo, que são seus pais, quando for mais velho, ele não saberá se fazer respeitar pelos outros, não saberá como interpretar as ações dos demais e se deixará pisar por seus amigos, seus chefes, parceiros, etc.”... (Como Educar seu filho com limites e amor.)

A Psicóloga Juliana Morillo assevera:

Uma criança sem limites...

... cresce insegura.
... não aprende a confiar em si mesma
... acha que pode tudo.
... não consegue lidar com as frustrações naturais da vida.
... tem baixa autoestima.


A escola precisa se preparar para esta sociedade que mudou. Seus desafios são grandes. Não é mais possível uma escola do passado. Digo isto com tristeza, porque parece que tudo a nossa volta mudou, menos a escola. Aqui incluo as públicas e particulares.

Para refletir:

  • A internet e todas as novas tecnologias que surgem a todo o momento são ferramentas neutras e o seu uso depende de nós.
  • Professores desafiadores, que aproveitam os conhecimentos dos alunos para seguir em frente.
  • Fazer o aluno pensar; não se pode mais dar um quadro ou páginas de conteúdo para que o aluno devolva no dia da prova.
  • Postura de autoridade, sem ser autoritário.
  • Conteúdos significativos. O aluno precisa saber porque vai aprender tal conteúdo.
  • Sensibilidade e empatia. Muitos alunos trazem situações tão sérias como: violência doméstica, fome, violência infantil...
  •  
Rose Mary Grebe
 Notas da palesta de 04/02/2019
 


 Referências Bibliográficas

1. Rizzini, Carlos Toledo. Evolução para o Terceiro Milênio. 18 Ed. Sobradinho: DF. Editora Edicel, 2009.

2. Brito, Thereza de. Vereda familiar.5 ed. Niteroi. RJ: Frater, 2004.

3. Ferrerós, Maria Luisa. Como Educar seu filho com limites e amor.

4. Kardec, Allan. Livro dos Espíritos. Tradução de José Herculano Pires. 66ed. São Paulo. Lake, 2006.

5. Artigos retirados da Internet.


27 abril 2019

Autossabotagem – Sidney Fernandes



AUTOSSABOTAGEM


Burlar a própria dieta, adiar indefinidamente os estudos para um concurso, recusar promoções na carreira, chegar atrasado ou faltar a compromissos importantes e repetir atitudes destrutivas são sintomas de autossabotagem.

Steven Berglas e Edward Jones, psicólogos americanos, desde 1978 passaram a considerar pessoas que apresentam esfarrapadas desculpas de carro enguiçado, gato doente ou emergência no trabalho, como genuínos artistas que dificultam a própria vida, de forma deliberada ou inconsciente. São pessoas que sabotam a si mesmas, porque não se julgam competentes ou merecedoras de uma situação melhor, e depois se oprimem.

A psicologia detectou hábitos e características crônicos na maioria dessas pessoas:

— Vitimização e falta de perseverança: o infeliz geralmente não assume responsabilidade por seus atos e não é perseverante na resolução de seus problemas;

— Confiança: pessoas felizes acreditam no lado bom das pessoas, enquanto pessoas infelizes são desconfiadas e se acham perseguidas por todo mundo;

— Lado ruim: pessoas infelizes tendem a fechar os olhos para o bom e a enaltecer somente o ruim;

— Sorte: a desculpa mais comum do incompetente é acreditar que a sorte favorece o outro e o azar é o seu companheiro inseparável;

— Medo: a insegurança e o medo do fracasso são atitudes paralisantes para a evolução pessoal;

— Perfeição: o infeliz e o autossabotador cobram-se em demasia e exigem perfeição em seus atos e resultados. “O ótimo é inimigo do bom”, diria Voltaire.

***

Embora a ciência traga preciosa contribuição para o equilíbrio da personalidade humana, divorciar-se das causas espirituais poderia agravar o entendimento pleno do assunto.

Seria ingenuidade de nossa parte apelar para a suposta argumentação de que a autossabotagem se deve a existências pregressas regadas de luxos e riquezas, que nos levaram à derrocada existencial. Essas supostas facilidades seriam, inconscientemente, repudiadas por nosso espírito. Daí chegaríamos a tortas justificativas para a indolência, à falta de empenho, a descontinuidade de esforços, a insegurança e outras fobias.

Embora nos pesem, na atual vida, os insucessos do passado, convém sopesar alguns alertas da espiritualidade:

— A capacidade de sermos felizes depende de nós mesmos: embora vivamos num mundo de provas e expiações, do homem depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra;

— Pessoas são perseguidas pelo azar?: lançamos à conta do destino o que as mais das vezes é apenas a consequências das nossas próprias faltas;

— Males são provocados por obsessores?: Deus não o permitiria. Espíritos podem se aproveitar de nossas más tendências para nos inspirar para o mal. Assim acontece com todas as tentações;

— Sofro mais do que os outros!: Deus é soberanamente justo e bom e não age com parcialidade. As vicissitudes derivam de causas justas que, se não forem encontradas nesta vida, com certeza serão devidas a males de existências passadas;

— Meus planos são prejudicados pelos espíritos: Geralmente erramos na elaboração e na execução de nossos projetos. Eventuais más influências dos espíritos podem ser evitadas pelo nosso empenho e pela retidão de nosso caráter;

— Deus não ouve minhas preces: A prece atrai bons espíritos que nos dão forças para suportar os obstáculos. Além disso, a resignação faz com que as provas nos pareçam menos rudes. A prece nunca é inútil, porque fortalece quem ora.

***

A autossabotagem não faz parte do nosso quadro de expiações e provações e surge por causa de nossa invigilância e desatenção para com oportuna recomendação de Jesus, segundo anotações de Mateus:

Buscai primeiro o Reino de Deus e sua justiça.

Segundo Emmanuel, a maioria das dificuldades que encontramos, quando perdemos a bússola da vida, decorre:

— dos nossos caprichos, do predomínio de nossas opiniões, da subordinação e submissão de outrem aos nossos pontos de vista, imposição de autoridade e plena satisfação própria no imediatismo vulgar.

Em suma, a autossabotagem será evitada quando levarmos a sério as nossas obrigações de cristãos, colocando o bem comum acima de nossas exigências personalistas.

Encerro este texto, caro leitor, lembrando esta recomendação de Allan Kardec:

Quanto mais inteligência tem o homem para compreender um princípio, tanto menos escusável é de o não aplicar a si mesmo. Em verdade vos digo que o homem simples, porém sincero, está mais adiantado no caminho de Deus, do que um que pretenda parecer o que não é.


Sidney Fernandes


26 abril 2019

O Mal Existe - Morel Felipe Wilkon




 O MAL EXISTE?



Para a Doutrina Espírita, o Mal é fruto da ignorância. É compreensível que muitas pessoas não concordem com isso. Os jornais noticiam todos os dias os crimes mais bárbaros e chocantes. De tempos em tempos, a grande mídia aproveita a repercussão ocasionada por um crime fora do comum para elevar seus níveis de audiência.

O posicionamento do Espiritismo sobre o tema já era defendido por Sócrates, quatrocentos e poucos anos antes de Cristo. Para Sócrates, os atos errados são consequência da própria ignorância, e o Mal é a ausência do Bem, é o não-Bem. O fato é que nós evoluímos para a verdade através dos erros.

Inúmeros filósofos e cientistas tentaram desvendar a origem do Mal. Para uns, sua origem está na sociedade, para outros, o Mal se deve a características do cérebro, outros opinam que o Mal advém de nossa ancestralidade animal.

Suas explicações são plausíveis, dignas de credibilidade. Mas falta a eles um ponto fundamental, sem o qual não é possível chegar a nenhuma conclusão definitiva: a reencarnação.

Sem considerar a reencarnação não há como compreender que a origem do Mal é espiritual, pois os espíritos que habitam a Terra são ainda muito imperfeitos. Na questão 120 do Livro dos Espíritos vemos que, para chegar ao Bem, todos passam pela ignorância. Isso deixa claro que o Mal e ignorância estão intimamente ligados. Ignorância das Leis de Deus, ignorância das Leis cósmicas que regem todas as coisas.

Quem pratica o Mal não mede consequências. Se conhece as consequências e mesmo assim pratica o Mal, não compreende a gravidade dessas consequências. Pensa e age movido pelo mais profundo egoísmo. É horripilante ver alguém que não se importa a mínima com o seu próximo, que ri de situações angustiantes, que não se sensibiliza com nada. Por isso custamos a acreditar, a aceitar, a compreender que o Mal é apenas fruto da ignorância, do desconhecimento.

O Espiritismo, antes de mais nada, é esclarecedor. Desde a obra de Allan Kardec, seu papel fundamental é de esclarecimento, orientação e educação. Seu campo de estudo é vasto, suas obras literárias, abundantes. Não falta material de estudo para desenvolver nosso intelecto.

O nosso grande desafio é o aprimoramento moral, a reforma íntima.


Você vê todos os dias pessoas que vivem como zumbis. Pessoas que revezam seu tempo entre um trabalho obrigatório em busca do sustento e a procura de prazer. Suas vidas se resumem a isso. A maioria da população vive assim: come, bebe e dorme.

Eles têm a desculpa da ignorância, pois ainda não despertaram, ainda não se deram conta de sua condição verdadeira, de sua natureza espiritual. Nós não temos essa desculpa. Nossa cobrança será maior. Nossa consciência nos chama a atenção de acordo com o nosso grau de maturidade moral e espiritual.


A quem muito foi dado, muito será cobrado.


Morel Filipe Wilkson


25 abril 2019

A Força do Amor - Divaldo P.Franco



A FORÇA DO AMOR


Quanto mais o tempo se sucede no passar das horas, mais o amor se torna evidente como sendo a alma da vida, em razão da ordem que se observa no Universo e nas Leis que o mantém.

Não raro, defrontamos o caos em determinadas circunstâncias e ocorrências, mas mesmo aí, com acurada observação, constatamos uma ordem que responde pelo fenômeno e procedente desse equilíbrio que Aristóteles denominava como sendo harmonia.

As diferentes filosofias existenciais não têm conseguido manter a ordem espontaneamente e, não poucas vezes, regimes totalitários as aplicam utilizando as armas de destruição.

O amor, desde quando enunciado por Jesus, abriu espaço nas mentes e nos corações para os espetáculos de beleza, de progresso, através da Ciência e da Tecnologia de ponta. Na raiz de uma ou de outra conquista do pensamento, encontramos os notáveis missionários que se consagraram a criá-las, colocando-as a serviço do ser humano, a fim de o arrancar da ignorância, da superstição e penetrar nos então insondáveis mistérios existentes.

Quase todos aqueles que se dedicaram ao trabalho de construir instrumentos de riqueza para o ser humano renunciaram aos prazeres, às comodidades, às conveniências pessoais, e não foram poucos aqueles que se fizeram abençoados pelo êxito depois da morte em situações difíceis de ser suportadas.

Enfrentando a barreira da ignorância e da ferocidade, esses heróis modificaram a face do planeta, ofereceram verdadeiros milagres de conforto, de solução dos desafios da Natureza, de possibilidades de intercâmbio fraternal, de compreensão dos acontecimentos e de solidariedade humana.

Quantos foram vítimas das próprias descobertas, até o momento em que encontraram os mecanismos capazes de frear os perigos e facilitar a sua execução.

Causou espanto mundial a carta que Albert Einstein fez à sua filha Lieserl, e que foi publicada algo recentemente.

Permito-me a licença de transcrever alguns parágrafos desse extraordinário documento:
“Quando propus a teoria da relatividade, poucos me entenderam, e o que vou agora revelar a você, para que transmita à humanidade, também chocará o mundo com sua incompreensão e preconceitos...

... Há uma força extremamente poderosa para a qual a ciência até agora não encontrou uma explicação formal. É uma força que inclui e governa todas as outras, existindo por trás de qualquer fenômeno que opere no universo e que ainda não foi identificada por nós.

Esta força universal é o AMOR.

Quando os cientistas estavam procurando uma teoria unificada do Universo, esqueceram a mais invisível e poderosa de todas as forças.

...O Amor é Deus e Deus é o Amor.”


Divaldo P.Franco
Artigo publicado no Jornal A Tarde, na coluna Opinião, 04 de abril de 2019
Fonte: Intelítera

24 abril 2019

Fumo de terceira mão - Nilton Moreira




FUMO DE TERCEIRA MÃO


Quando nascemos vamos ter uma trajetória neste Planeta por período que não sabemos, pois nos esquecemos das metas traçadas na espiritualidade, já que muitas crenças dizem que já existíamos antes. Algumas dizem que possuímos um corpo psicossomático, perispírito, alma, psicossoma, corpo astral, enfim são muitas as denominações, cujo corpo invisível para nós, já existia e sobreviverá após o passamento, pois que a matéria orgânica se decompõe formando outros micros organismos.

Concluímos então, que todas as agressões que cometermos ao nosso corpo orgânico também repercutirão no corpo somático. Sendo assim, também concluímos sem muito aprofundamento que o ato de fumar, por exemplo, além de nos causar dificuldades já nesta vida, também será um fardo no qual teremos de conviver numa futura vida, até porque o vício continuará, mas isso é assunto para outro momento.

Então se faz necessário que demos adeus a qualquer dependência, mas no caso específico do cigarro esse adeus deve ser sem rancores, sem mágoas, já que ele é considerado de muitos fumantes e foi também meu no passado, um companheiro em certas horas.

Mas Pais que fumam e tentam disfarçar o ambiente ligando ventiladores, abrindo janelas, ou colocando aromatizantes, quase nada fazem de proveito, pois especialistas identificaram já algum tempo outra ameaça à saúde dos filhos: o fumo de terceira mão.

Esse é o termo usado para descrever a mistura invisível, porém tóxica, de gases e partículas impregnadas nos cabelos e roupas de fumantes, sem mencionar travesseiros e carpetes, que permanecem por muito tempo após a fumaça sair do recinto. O resíduo inclui metais pesados, cancerígenos e até materiais radioativos com que crianças pequenas podem entrar em contato e ingerir, quando estão engatinhando ou brincando no chão. Médicos do Hospital de Crianças MassGeneral, em Boston, cunharam o termo "Fumo de terceira mão" para descrever essas substâncias químicas em um novo estudo que se focou nos riscos que elas representam a bebês e crianças. O estudo foi publicado em edição do periódico Pediatrics. "Todo mundo sabe que o fumo de terceira mão é prejudicial, mas disso eles não sabiam," disse o doutor Jonathan P. Winickoff, autor líder do estudo e professor assistente de pediatria da Escola de Medicina de Harvard.

Fumo de terceira mão é aquele cheiro que sentimos quando um fumante entra no elevador ou transporte coletivo, após ter saído para acender um cigarro, ele disse, ou em um quarto de hotel onde pessoas fumaram. "Seu nariz não mente," ele disse. "Isso é tão tóxico que seu cérebro diz a você: 'saia daqui". O que ouvimos em diversos grupos foi, 'ligo o ventilador e a fumaça desaparece”. O doutor Philip Landrigan, pediatra que lidera o Centro de Crianças de Saúde Ambiental na Escola de Medicina Mount Sinai de Nova York, disse que o termo fumo de terceira mão é novíssimo e tem implicações comportamentais. “Fechar a porta da cozinha, ou área de serviço para fumar não protege as crianças dos efeitos da fumaça,” ele disse. “Existem cancerígenos nessa fumaça de terceira mão”. Entre as substâncias do fumo de terceira mão estão o cianureto de hidrogênio, usado em armas químicas; butano, usado em fluidos de isqueiros; tolueno, encontrado em solventes; arsênio; chumbo; monóxido de carbono; e até polônio-210, um cancerígeno altamente radioativo. Está aí um ingrediente a mais para dar um basta no cigarro, visando preservar nossos corpos carnal e espiritual.

Nilton Moreira
Coluna Semanal - Estrada Iluminada
Fonte:  Espirit Book
 

23 abril 2019

Decadência da ética - Vianna de Carvalho




DECADÊNCIA ÉTICA


Analisando-se a situação socioespiritual do planeta na atualidade, não há como negar-se a presença da destrutiva onda de pessimismo e utilitarismo que domina as criaturas humanas em toda parte.

Apoiados no niilismo, embora os comportamentos rotulados de religiosos de alguns de seus segmentos sociais, o cinismo das pessoas e a decadência da ética dão-nos a dimensão do desespero que avassala as mentes e os corações atormentados.

Em consequência, a violência e o despautério, a drogadição e o erotismo substituem as aspirações de enobrecimento dos seres, como mecanismos escapistas para preencher o vazio existencial e o desencanto que se apossaram do século XX, que se desenhava com perspectivas iluministas, libertadoras, ricas de anseios de felicidade e de beleza.

A amargura toma conta dos indivíduos que se sentem coisificados, enquanto a revolta arma as multidões desvairadas que se levantam contra os abusos do poder, as injustiças sociais, os desregramentos dos dominadores, a desonestidade dos legisladores que perderam o respeito moral, a liberdade, e o direito de viver com o mínimo de honorabilidade que seja...

Pode-se afirmar que a aparente calma que ainda paira sobre algumas nações não esconde os paióis de explosivos prestes a deflagrar o estouro prenunciador das tragédias que produz.

Não se trata, porém, de uma ocorrência inesperada, quando se observam as suas raízes plantadas no fim do século XVIII, por ocasião da Revolução Francesa, quando a tirania substituiu os ideais dos filósofos da liberdade, instaurando os dias do terror. Em desesperada tentativa de manter a ordem na França, Robespierre, chamado o incorruptível, que lutara pelos ideais da fraternidade, da liberdade e da igualdade, não teve forças morais para resistir às pressões do desespero das massas e de outros pensadores, mantendo a guilhotina a funcionar sem trégua, a ponto de tornar-se ultrajante ditador e sanguinário. Vítima de um golpe de seus adversários da Convenção, foi preso e também guilhotinado.

Nesse período difícil, a morte de Deus foi anunciada, e a revolta retirou os vestígios da Sua presença no país, inclusive mudando os nomes de ruas, boulevards e praças que os tivessem de santos ou denominações religiosas, assim os objetos de culto das igrejas, tentando apagar a lembrança da fé e da crença espiritual no território francês.

Logo depois, com o retorno de Deus por meio da Concordata de 1802, firmada por Napoleão Bonaparte com o Vaticano, permaneceram os ódios e resquícios do período de revolta e de perseguições inclementes, dando lugar a um amortecimento ético dos sentimentos. O Iluminisno em declínio favoreceu o Positivismo em ascensão, enquanto as ideias pessimistas e destrutivas de Arthur Schopenhauer espalhavam-se por toda parte, proclamando a desnecessidade de Deus e de qualquer formulação religiosa no comportamento humano.

À medida que o materialismo tomava conta da cultura, a amargura doentia de Friedrich Nietzsche passou a comandar as mentes e os corações desesperados, amparados no ceticismo científico das Academias, que assevera ser a alma uma sudorese cerebral que desaparecia com a morte do encéfalo. Nessa paisagem de morbidez e desencanto, o ateísmo tornou-se a diretriz comportamental dos indivíduos, que logo depois se atiram à guerra perversa de 1869-1870, que ressurgiu entre 1914-1918 e retornou calamitosa entre 1939-1945, com as mais inacreditáveis cargas de ódio e destruição de que a História tem notícia. Muito contribuíram para essa tragédia as ideias do super-homem do referido Nietszsche e o pensamento de Heidegger, que muito influenciou o surgimento do nazismo, partido ao qual ele se filiou por algum tempo, embora rompendo depois quando da perseguição aos professores judeus da Universidade de Freiburg, onde era reitor...

A ética do mais forte substituiu a dos direitos humanos e da dignidade, em face da aristocracia do poder totalitário e mesmo de alguns governantes...

Heidegger influenciou filosoficamente Jean-Paul Sartre com o seu pensamento sobre o ser, servindo de inspiração para o existencialismo e total desinteresse pelos valores ético-morais que conduziram a civilização ao longo dos séculos.

Viver agora e fruir ao máximo, não poucas vezes sem qualquer respeito pelos direitos dos outros, cultivar o prazer até a exaustão, passaram a ser os comportamentos aceitos e divulgados como recurso valioso para a preservação da vida e das experiências de alegria e de bem-estar.

Lamentavelmente, as religiões ortodoxas, incapazes de oferecer resistência filosófica e ética aos absurdos da nova ordem, por se manterem fiéis aos programas medievais totalmente ultrapassados, foram desprezadas e consideradas responsáveis pela miserabilidade do ser humano, pelos seus desaires, pelas suas amarguras.

Carregado pelas heranças teológicas do pecado e da culpa, o ser humano rompeu com as tradições enganosas e preferiu arrostar as consequências da sua liberdade, derrapando na libertinagem.

Sucede que, toda vez quando se arrebentam as algemas da escravidão de qualquer tipo, a ânsia de liberdade é tão grande que, por desconhecimento dos seus limites, aquele que a aspira tomba nos revaladouros da irresponsabilidade, da agressividade aos direitos alheios, do abuso desrespeitoso.

Assim ocorrendo, desaparece a ética da conduta para apresentar-se o direito de exceção, colocando-se o indivíduo acima da lei, da ordem e de qualquer restrição.

Os avanços da Ciência, demitizando algumas das informações e dogmas religiosos, os milagres de Jesus, que passaram a ser observados do ponto de vista das doutrinas psicológicas e parapsicológicas, reduziram a cultura ao materialismo, desde 1859, quando Charles Darwin, por intermédio do Evolucionismo, aplicou o golpe de misericórdia ao mitológico Criacionismo bíblico, servindo de suporte para a vitalização do ateísmo.

A contribuição da Tecnologia, alargando e aproximando os espaços e as distâncias, facultando a demonstração dos postulados científicos por meio das experiências dos fatos, foi fundamental para a indiferença humana pelos códigos de dignidade e de valorização da própria vida.

O século XX, portanto, herdeiro da revolução filosófico-científica do passado, rapidamente aceitou o novo comportamento que se consolidou durante a revolução hippieista dos anos 60, quando se deram as grandes mudanças de conduta, e a tradições nobres como a família, o casamento, a dignidade, a ordem passaram a ser instituições ultrapassadas.

Irrompendo em avalancha avassaladora, tomou conta da juventude, que se sentia castrada pela intolerância e pelo poder dominador, passando a constituir um novo mundo, um modo diferente de vida...

O aborto, a eutanásia, o suicídio, a agressividade, passaram a ser éticos na linguagem nova, que iam culminar nos homens e mulheres bombas, nos atentados terroristas, no crime organizado, na violência urbana, no alcoolismo exacerbado, no tabagismo, na drogadição e no sexo destituído de qualquer sentido moral e afetivo.

Dando-se largas aos instinto primário, o nadismo, estimulando o erotismo, coisificou os seres humanos, que passaram a vender-se no mercado da luxúria sem qualquer pudor, sob o disfarce de experiências artísticas, desde que economicamente rentáveis.

Nesse comércio hediondo, em que pouquíssimos logram alcançar os patamares elevados, multidões de jovens inexperientes são devorados pelas máfias que o administram, passando os tratores da indiferença sobre os corpos e as almas mutiladas daqueles que ficaram vencidos durante as tentativas iniciais.

Inevitavelmente, houve uma total decadência ética da cultura e da civilização, que passaram a adorar os novos deuses do prazer e do engodo, da utopia e da mentira, embora vivendo-se o vazio existencial que leva à depressão e ao suicídio.

Nada obstante, nesse ínterim surgiu o Espiritismo em 1857, revitalizando a ética moral, baseada nas lições insuperáveis de Jesus, que foram corrompidas pelas ambições e conchavos humanos através dos séculos, desde o dia em que se uniram ao Império Romano, passando de perseguidas a perseguidoras.

Com a revelação dos imortais, a vida passou a ter sentido profundo e significado psicológico indiscutível, como decorrência da proposta filosófica erguida pelos pilotis dos fatos demonstrativos da imortalidade da alma, da vida futura, da Justiça Divina e da Lei de Causa e Efeito, responsável por todos os fenômenos humanos.

A partir de então, embora lentamente, vem sendo restaurada a proposta do amor como fonte inexaurível para a felicidade, em razão dos seus conteúdos otimistas e realistas, que dignificam a espécie humana, proporcionando-lhes os necessários estímulos para desenvolver e atingir as culminâncias da iluminação pessoal.

A falência do novo comportamento niilista encontra-se em toda parte, porque a sua doutrina enganou os seus adoradores, conduzindo-os às aflições superlativas e às angústias dantes jamais vivenciadas.

Aturdidas, essas multidões decepcionadas e sem rumo buscam, mesmo sem o saber, retornar às origens do bem e da alegria, ao encontro da pureza de sentimentos e de convivência nobre, sentindo falta da fraternidade que deve sempre viger entre os seres humanos, sequiosos de paz e de esperança.

Ninguém pode viver em equilíbrio sem a bênção confortadora da esperança que abre perspectivas formosas para o futuro.

O Espiritismo, portanto, possuindo os paradigmas que foram deixados para trás pelo anarquismo e ceticismo, apresenta-os como propostas que levam à ética do dever e da harmonia, proporcionando ventura.

A crença em Deus, a crença na imortalidade da alma, a crença na comunicabilidade dos Espíritos, a crença na reencarnação, a crença na pluralidade dos mundos habitados e as propostas ético-morais de O evangelho segundo o espiritismo, que proporciona uma releitura das lições insuperáveis de Jesus, conforme as conhecemos em as narrativas dos evangelistas, são as novas diretrizes para a construção do ser humano feliz e da sociedade contemporânea, reflexionando e vivendo a vigorosa ética espírita, que resume as mais grandiosas formulações da ancestral diante das novas necessidades que tomam conta da sociedade.

Revigorada, a ética lentamente ressurge e passará a comandar os destinos humanos na direção da paz e da alegria de viver mediante o correto culto dos deveres.



Vianna de Carvalho
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, em Boca Raton, Flórida, EUA, na manhã de 24 de junho de 2009.


22 abril 2019

É sempre assim - Orson Peter Carrara

(O menino que descobriu o vento - Copyright Netflix)


É SEMPRE ASSIM


É comum, muito comum, que toda iniciativa, toda ideia inovadora, toda postura que altere paradigmas e tente vencer preconceitos ou modelos ultrapassados, encontre resistência, encontre circunstâncias desafiadoras, contrárias e mesmo pessoas que – muitas vezes até com violência, ainda que velada – movimentam forças e opiniões para desmotivar ou destruir anseios de progresso ou de mudanças…

Note-se que nomes famosos ou não, que de certa forma alteraram padrões de comportamento, trouxeram inovações que beneficiaram muita gente ou provocaram benéficas mudanças no modus operandi – seja de uma empresa, de uma instituição, de uma nação ou mesmo da civilização – nunca encontraram facilidades. Ao contrário, tudo parecia conspirar contra. Muitos obstáculos se apresentaram, aparentemente insuperáveis como verdadeiros testes de paciência e perseverança.

Isso está bem caracterizado no espetacular filme "O Menino que descobriu o vento", cuja sinopse deixo ao leitor pesquisar, para estimular a curiosidade e ampliar o prazer da busca pelo filme, disponível no Netflix. De lançamento muito recente, eis opção que desejo recomendar ao leitor, pois as lições ali contidas de perseverança, coragem, fé e determinação são marcantes, sem falar dos exemplos variados do que é capaz a corrupção, ou dos efeitos danosos da omissão política ou mesmo do desinteresse pelo bem da coletividade. Além, é claro, dos benefícios todos da humildade e da confiança na vida.

Não deixe, pois, de ver. Emoção e reflexão garantidos.

Para bem ilustrar nosso raciocínio, vale buscar o livro A Gênese, em seu capítulo XVI, item 12, onde encontramos: “As mais das vezes, os acontecimentos vulgares da vida privada são consequência da maneira de proceder de cada um: este, de acordo com as suas capacidades, com a sua habilidade, com a sua perseverança, prudência e energia, terá êxito naquilo em que outro verá malogrados todos os seus esforços, por efeito da sua inaptidão, de sorte que se pode dizer que cada um é o artífice do seu próprio futuro, futuro que jamais se encontra sujeito a uma cega fatalidade, independente da sua personalidade. Conhecendo-se o caráter de um indivíduo, facilmente se lhe pode predizer a sorte que o espera no caminho por onde haja ele enveredado.”

Parece-nos muito oportuno refletir esse ângulo das experiências humanas…


Orson Peter Carrara

21 abril 2019

Amor e trabalho andam juntos? - Anselmo Ferreira Vasconcelos



O AMOR E TRABALHO ANDAM JUNTOS?



A indagação acima é pertinente, já que reina a sensação de que tal combinação é impossível. Amor no contexto do trabalho não é um tema amplamente escarafunchado. Com efeito, há muito espaço ainda, especialmente dentro da área do comportamento organizacional e da psicologia industrial, para significativos avanços em relação ao entendimento da manifestação do amor no trabalho.

Afinal, não há lógica nenhuma em imaginar ou transformar o ambiente de trabalho em cenário de confrontos e desamor. Mas enquanto ainda não se desenvolvem estudos mais profundos, particularmente sob o enfoque fenomenológico, tem-se como aceitável que o amor, na visão dos scholars, é um construto multifacetado. Para eles, aliás, prevalece a compreensão de que o amor no trabalho pode manifestar-se de várias maneiras, tais como estar disposto em ser útil, em conhecer as necessidades dos outros, em ter coragem para expressar admiração e respeito pelo trabalho dos companheiros.

Por ora, no entanto, segundo as pesquisas, duas marcantes características foram devidamente identificadas: trata-se de algo calcado em valores e foco na organização como uma comunidade. Talvez tão pouco ainda tenha sido revelado devido à nossa incapacidade — assim especulo — de enxergar no trabalho que realizamos — independentemente do que fazemos — o desdobramento de amor que eventualmente nos anima. Seja como for, em tendo a oportunidade de ter um trabalho — algo extraordinário no momento em que vivemos sob crescente domínio da inteligência artificial e robótica — é preciso igualmente saber retribuir, de alguma maneira, a bênção recebida.

Voltamos a esse assunto devido às tragédias coletivas e aos sinais visíveis de ausência de amor no trabalho sob as perspectivas acima mencionadas. Para muitos, infelizmente, o trabalho é apenas um meio de se ganhar a vida, pagar as contas, acumular patrimônio e assim por diante. Ou seja, muitas pessoas percebem o trabalho apenas como um meio de subsistência ou eventual enriquecimento e nada mais. Suas mentes não conseguem ainda divisar a atividade laboral sob a perspectiva transcendental. Seguem daí as atitudes negligentes, as cogitações infelizes e, o mais preocupante, as decisões temerárias.

Explicando melhor, as tragédias de Mariana, Brumadinho e do Ninho do Urubu não foram obras do acaso. Em síntese, foram frutos amargos gerados pela falta de amor ao próximo. Cristo, a quem temos por modelo de amor, deixou-nos dois mandamentos basilares: amar a Deus e ao próximo como se fosse nós mesmos. Tais deveres representam a essência do desafio humano no cadinho da matéria acrisolante. Conforme nossa conduta nestas duas dimensões, haveremos de avançar para a luz ou padecer nas sombras.

Portanto, o desenvolvimento do amor no trabalho é a chance de mostrar se estamos efetivamente prontos para cooperar e contribuir na obra divina. Tendo por premissa Deus e os nossos vizinhos, não cabe de nossa parte outra atitude a não ser ajudar, facilitar, proteger e amparar os que precisam de nós ou de nosso esforço. Quando vemos, por exemplo, pontes caindo — ou em vias de — nas grandes cidades, remédios e médicos faltando nos hospitais públicos, idosos desrespeitados, serviços malfeitos ou perigos subestimados devido à ganância ou negligência de executivos e agentes do Estado, então, é preciso rever o que estamos fazendo em relação aos dons e potencialidades que o Pai nos outorgou.

Por outro lado, cabe lembrar que o nosso envolvimento em malfeitorias ou atos de perversidade nos prejudicará aqui e do outro lado. Não há justificativa aceitável para quem usa o seu trabalho para prejudicar ou lesar os outros, mesmo que se trate de “obrigações da função”. Tenhamos muito cuidado com relação ao meio que escolhemos para ganhar a vida, pois daremos conta do que fizermos perante as leis do mundo e as de Deus.

Nesse sentido, o Espírito Manoel Philomeno de Miranda faz importante advertência aos indivíduos de conduta delituosa, na obra Transição Planetária (psicografia de Divaldo Pereira Franco), que vale destacar:

“As criaturas que persistirem na acomodação perversa da indiferença pela dor do seu irmão, que assinalarem a existência pela criminalidade conhecida ou ignorada, que firmarem pacto de adesão à extorsão, ao suborno, aos diversos comportamentos delituosos do denominado colarinho branco, mantendo conduta egotista, tripudiando sobre as aflições do próximo, comprazendo-se na luxúria e na drogadição, na exploração indébita de outras vidas, por um largo período não disporão de meios de permanecer na Terra, sendo exiladas para mundos inferiores, onde irão ser úteis limando as arestas das imperfeições morais, a fim de retornarem, mais tarde, ao seio generoso da mãe-Terra que hoje não quiseram respeitar.”

Posto isto, lembremos também que fazer ao outro o que desejamos para nós é uma obrigação moral. É a oportunidade de reciprocar os proeminentes benefícios do amor que nos envolvem desde o nascimento. Assim sendo, adornar as nossas tarefas com esse sentimento sublime nos aproxima da divindade. Todos nós temos condições de nos conduzir consoante esse preceito. A transformação da Terra para uma morada melhor, mais iluminada, dependerá exclusivamente do nosso empenho em aplicar o amor em tudo o que fizermos e tocarmos. Tal esforço contará muito a nosso favor hoje e sempre. Do contrário, será muito desagradável retornar ao mundo espiritual sem termos uma lista de feitos com base nesse sentimento.

Anselmo Ferreira Vasconcelos
Fonte: O Clarim


20 abril 2019

O grave problema do suicídio e sugestão para as casas espíritas - Wellington Balbo



O GRAVE PROBLEMA DO SUICÍDIO E SUGESTÃO PARA AS CASA ESPÍRITAS


Faz algum tempo que me debrucei para estudar o suicídio. Porque ocorre, os pensamentos que transitam pela mente de quem pensa na ideia do suicídio e tantas outras questões sempre me chamaram a atenção, tanto que escrevi, junto com dois amigos, o livro “Evite a rota do suicídio” e lá se vão 10 anos.

Faz aproximadamente 6 meses que retomei as pesquisas sobre o suicídio e, então, apliquei questionários com 10 perguntas para pessoas que já tiveram a ideia do suicídio ou tentaram consumar o ato.

Estou ainda reunindo o material, mas as respostas que obtive permitem, de certa forma, elencar alguns pontos para nossa reflexão.

Um desses pontos é o de que se pode, até para melhor organização de nossos estudos e, também, implantação de ações que coíbam o triste ato, separar em dois grupos aqueles que pensam em suicídio.

Esses dois grupos não são de caráter absoluto e não fecham qualquer questão.

Grupo 1 – os que pensam em suicídio por ocasião de alguma contrariedade, situação difícil, enfim, algo que lhe escape o controle e que pareça sem solução.

Pode-se colocar aí aqueles que pensam em cometer o ato porque o relacionamento terminou, morreu um ente querido, situação financeira caótica e tantas outras coisas. Neste grupo o tratamento é, digamos, menos complexo. Muitas vezes o desabafo, o ombro amigo, a ida ao terapeuta e ao psiquiatra para regularizar as questões hormonais e psíquicas podem resolver o assunto.

No caso do centro espírita, deixo a sugestão de criar um departamento específico para tratar de pessoas com ideias suicidas. Interessante capacitar os trabalhadores para que possam bem receber e acolher essas pessoas. Sem dúvida que, com capacitação e a potente e esperançosa tese da imortalidade da alma muitos casos de suicídio serão evitados pelos centros espíritas e seus trabalhadores.

Apenas para pegar um caso e ilustrar, Kardec trata de uma situação dessas – suicídio realizado por impulso e por amor – na Revista Espírita, setembro de 1858, e dá ao texto o título de: Suicídio por amor.

Pelo título, leitor, certamente você saberá do que se trata. Fica a dica para a consulta do referido texto, que conta, ainda, com a evocação do Espírito que cometeu o suicídio.

Vamos para o grupo 2.

Grupo 2 – os que trazem a prova de vencer a tendência suicida. Nestes casos a coisa é um pouco mais complexa, porquanto, não raro há junto o componente da obsessão em forma mais aguda.

A ideia suicida parece que está cristalizada de tal modo que dela não se desvencilha facilmente. Na Revista Espírita, janeiro de 1869, pouco antes do seu desencarne, Kardec trata do tema em texto com o título: “Suicídio por obsessão”. O referido texto narra a história de um indivíduo que havia sido impelido por um Espírito a cometer o suicídio. O jovem ouvia incessantemente uma voz a chamar:

“Vem, vem!”.


Este Espírito que o chamava havia sido sua esposa em existência anterior e, por vingança, queria levá-lo ao suicídio. O rapaz não resistiu à obsessão e cometeu o triste ato.

Aqueles que se encaixam neste grupo, além do tratamento convencional, com terapeutas, psicólogos e psiquiatras, deve buscar um centro espírita que terá trabalhador capacitado para identificar possíveis componentes que sugerem a obsessão e, a partir daí, dar o devido encaminhamento ao assunto.

Importante, também, o acompanhamento por parte da equipe do centro espírita para monitorar a situação, haja vista que se trata de casos mais complexos e que requerem um cuidado maior.

Atrevo-me até a dar uma sugestão para situações assim: que o centro espírita ou qualquer local que trate o caso esteja sempre perto da pessoa, acompanhando-a.

Para encerrar o presente texto, é significativo repetir que nos casos de ideia suicida jamais se pode abrir mão do acompanhamento médico e psicológico convencional, sendo o acompanhamento espiritual uma forma de tratamento paralelo aos convencionais.


Wellington Balbo

19 abril 2019

Doação e Transplante de Órgãos na Visão Espírita - Carlos Roberto de Souza



DOAÇÃO E TRANSPLANTE DE ÒRGÃOS NA VISÃO ESPÍRITA


A Doutrina Espírita, fundamentada numa bioética do amor, amplia o debate e oferece relevante contribuição ao tema”, declara o médico anestesiologista Carlos Roberto de Souza, presidente da Associação Médico-Espírita de Campina Grande (PB).

Como pensar nos transplantes, sob o ponto de vista espírita?


Carlos Roberto de Souza – A doação deve ser voluntária e consciente. Para o doador, é uma atitude de desapego à matéria e de amor ao próximo, que lhe traz benefícios espirituais. Para o receptor, é um exemplo da misericórdia divina que permite, por moratória, a continuidade da existência física.

Você considera seguras as avaliações clínicas da morte encefálica?


Souza – Sim, se forem realizadas de acordo com a Resolução CFM 1.408/97, que tem como base critérios científicos, os quais definem o que é parada total e irreversível das funções encefálicas, principalmente do tronco encefálico, cuja destruição leva à separação da alma do corpo físico.


Como o coração ainda bate, haveria, de alguma forma, repercussão negativa sobre o doador, no momento do transplante? Se houver, há meios espirituais de contorná-la?


Souza – Sim, dependendo da situação evolutiva do ser espiritual e quando a retirada do órgão é feita contra a sua vontade. Nesses casos, os efeitos negativos podem ser atenuados, pelos benfeitores espirituais, por meio do magnetismo curativo, dos esclarecimentos do espírito a respeito dos benefícios do ato de doação e também pelas preces de agradecimento feitas pelos receptores dos órgãos.


Você conhece casos da literatura mediúnica espírita que traz a descrição feita pelo espírito doador sobre o transplante efetuado?


Souza – Sim, uma mensagem do espírito Roberto Igor Porto da Silva, sobre a doação do seu coração para transplante, e outra de Wladimir César Ranieri, referente à doação de suas córneas, ambas psicografadas por Chico Xavier e publicadas na Folha Espírita de fevereiro de 1998. Eles relatam que, apesar de a doação ter sido involuntária, foram beneficiados com o ato e fariam tudo novamente.

Que existe de real quanto à repercussão dos hábitos do doador no transplantado?


Souza – Existem muitas teorias que tentam explicar o fenômeno da “memória celular” registrado nesses casos, o que necessita de mais estudos. Mesmo considerando que, inicialmente, os órgãos do doador estejam impregnados de sentimentos, uma vez que ele é transplantado, automaticamente, passa a receber a influência dos moldes perispirituais do receptor e a obedecer ao novo comando mental. Uma influência psicológica e comportamental do doador só é possível quando o receptor mantém sintonia mental na mesma faixa vibratória do doador (desencarnado).

Qual o futuro dos transplantes?


Souza – Muito promissor, principalmente pelas descobertas de medicamentos (Bortezomib) e desenvolvimento de novas técnicas (como no transplante de traqueia), que diminuem ou eliminam a rejeição, reduzindo a necessidade do uso de imunossupressores. Também pelo maior esclarecimento da população, que vem aumentando a oferta de órgãos e possibilitando a dilatação da existência e a diminuição do sofrimento daqueles que merecer em continuar encarnados e souberem aproveitar, por meio da renovação moral, a nova oportunidade concedida pela bondade divina.


Carlos Roberto de Souza
Folha Espírita – Edição número 417


18 abril 2019

Complexidades do fenômeno mediúnico - Manoel Philomeno de Miranda




COMPLEXIDADES DO FENÔMENO MEDIÚNICO



À primeira vista, o intercâmbio seguro entre os Espíritos desencarnados e os homens parece revestir-se de muita simplicidade.

Considerando-se que, após a morte do corpo, o ser apresenta-se com todos os atributos que lhe caracterizavam a existência física, é de crer-se que o processo da comunicação mediúnica torna-se natural e rápido, fácil e simples.

Como em qualquer procedimento técnico, no entanto, vários requisitos são-lhe exigíveis, o que torna a sua qualidade difícil de ser conseguida, ao mesmo tempo complexa para a sua realização.

O processo de comunicação dá-se somente através da identificação do Espírito com o médium, perispírito a perispírito, cujas propriedades de expansibilidade e sensibilidade, entre outras, permitem a captação do pensamento, das sensações e das emoções, que se transmitem de uma para outra mente através do veiculo sutil.

O médium é sempre um instrumento passivo, cuja educação moral e psíquica lhe concederá recursos hábeis para um intercâmbio correto. Nesse mister, inúmeros impedimentos se apresentam durante o fenômeno, que somente o exercício prolongado e bem dirigido consegue eliminar.

Dentre outros, vale citar as fixações mentais, os conflitos e os hábitos psicológicos do sensitivo, que ressumam do seu inconsciente e, durante o transe, assumem com vigor os controles da faculdade mediúnica, dando origem às ocorrências anímicas.

Em si mesmo, o animismo é ponte para o mediunismo, que a prática do intercâmbio termina por superar. Todavia, vale a pena ressaltar que no fenômeno anímico ocorrem os de natureza mediúnica, assim como nos mediúnicos sucedem aqueles de caráter anímico.

Qualquer artista, ao expressar-se, na música, sempre dependerá do instrumento de que se utilize. O som provirá do mecanismo utilizado, embora o virtuosismo proceda de quem o acione.

O fenômeno puro e absoluto ainda não existe no mundo orgânico relativo...

Os valores intelectuais e morais do médium têm preponderância na ocorrência fenomênica, porquanto serão os seus conhecimentos, atuais ou passados, que vestirão as ideias transmitidas pelos desencarnados.

Desse modo, a qualidade da comunicação mediúnica está sempre a depender dos valores evolutivos do seu intermediário.


*

Não há dois médiuns iguais, qual ocorre em outras áreas das atividades humanas, nas quais cada pessoa apresenta-se com os seus próprios recursos, assinalada pelas suas particulares características.

Quando se tratar de médium com excelentes registros e grande fidelidade no conteúdo da mensagem recebida, eis que defrontamos alguém que repete experiências transatas, havendo sido instrumento mediúnico anteriormente.

Na variada gama das faculdades, as conquistas pessoais armazenadas contribuem para que o fenômeno ocorra com o sucesso desejado.

Seja no campo das comunicações intelectuais, seja naqueles de natureza física, o contributo do médium é relevante.

Não seja, portanto, de estranhar que um médium, psicógrafo ou psicofônico, tenha maior facilidade para o registro de mensagens de um tipo literário ao invés de outro, logrando, por exemplo, admiráveis romances e deploráveis poemas, belas pinturas e más esculturas, facilidade para expressar-se em idiomas que não apenas aquele que hoje lhe é familiar, em razão de experiências vivenciadas em reencarnações anteriores.

Também há médiuns com aptidão para receber Espíritos sofredores, o que lhes deve constituir uma bênção, facilitando-lhes a aquisição de títulos de enobrecimento, pela ação caridosa que desempenhem. Não obstante, haverá, igualmente, a mesma predisposição para sintonizar com as Entidades Nobres, delas haurindo e transmitindo a inspiração, a sabedoria e a paz.

A ideia, o impulso procedem sempre do Espírito desencarnado, porém o revestimento, a execução vêm dos cabedais arquivados no inconsciente do médium.

A luz do Sol ou outra qualquer, ao ser coada por uma lâmina transparente, reaparecerá no tom que lhe é conferido pelo filtro.

No fenômeno mediúnico sucede da mesma forma.


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Tendo em vista que a faculdade é orgânica, os recursos da aparelhagem exercem grande influência na ocorrência do fenômeno.

Assim considerando, o exercício, que educa os impulsos e comanda a passividade, é de capital importância.

À medida que vão sendo eliminados os conflitos pessoais, mais transparentes e fiéis se farão as mensagens, caracterizando os seus autores pelo conteúdo, estilo, elaboração da ideia e, nas manifestações artísticas, pelas expressões de beleza que apresentam.

A educação mediúnica, à semelhança do desenvolvimento de qualquer aptidão, impõe tempo, paciência, perseverança, estudo, interesse.

O investimento de cuidados específicos, na mediunidade, será compensado pelos resultados comprovadores da sua legitimidade, como também pelos ensinamentos e consolos recebidos na sua aplicação.


*

Faculdade neutra, do ponto de vista moral, pode o indivíduo ser portador de conduta irregular com largo campo de registro, em razão do seu pretérito, enquanto outros, moralizados, não possuem as mesmas possibilidades, o que não os deve desanimar.

A moral, no entanto, é exigível, em razão dos mecanismos de sintonia que a conduta proporciona.

Uma existência assinalada pela leviandade, por abusos de comportamento, por atitudes vulgares, atrai Espíritos igualmente irresponsáveis, perversos, perturbadores e zombeteiros.

A convivência psíquica com essas mentes e seres costuma por afetar as faculdades mentais do individuo, que termina vitimado por lamentáveis processos de obsessão, na sua variada catalogação.

As comunicações sérias e nobres somente têm lugar por instrumentos dignos e equilibrados.


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Na sua condição de instrumento e na sua postura de passividade, o médium não pode provocar determinadas comunicações, mas sim, criar as condições e aguardar que ocorram.

Cabe-lhe estar vigilante para atender as chamadas que se originam no mundo espiritual, fazendo-se maleável e fiel portador da responsabilidade que lhe diz respeito.


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O fenômeno mediúnico, para suceder em condições corretas, necessita que o organismo do instrumento se encontre sem altas cargas tóxicas de qualquer natureza, porquanto as emoções em desalinho, o cansaço, as toxinas resultantes dos excessos alimentares bloqueiam os núcleos de transformação do pensamento captado nas mensagens, o que equivale a semelhantes acontecimentos em outras atividades intelectuais, artísticas e comportamentais.

Atitude física, emocional e mental saudáveis, são a condição ideal para que o fenômeno mediúnico suceda com equilíbrio e rentabilidade.

Quando acontece pela violência, sem a observância dos requisitos essenciais exigíveis, alguns dos quais aqui exarados, já que outros ainda existem e merecem estudos, estamos diante de manifestações obsessivas, de episódios mediúnicos perturbadores, nunca, porém, de fenômenos que se expressem com a condição espírita para uma vivência mediúnica dignificadora.


Manoel Philomeno de Miranda
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, em 1º.11.1993, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.