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11 julho 2019

Escravos do vício - Magaly Sonia Gonsales



ESCRAVOS DO VÍCIO


O vício das drogas caracteriza-se pelo impulso praticamente incontrolável do viciado procurar satisfação no ilusório prazer que as mesmas possam proporcionar-lhe.

A procura da droga evidencia a escravidão em que se encontra o viciado, que busca por meio dela manifestar sua independência em relação aos seus semelhantes, ou a uma situação que aparentemente diminui sua posição na família ou na sociedade, e reage aos seus agressivamente, procurando evidenciar um sentimento de superioridade.

A indução às toxicomanias decorre, quase sempre, da influência ou da convivência com viciados, que podem despertar, inicialmente a curiosidade das pessoas para seu uso, chegando, assim, às primeiras experiências, aparentemente inofensivas e que podem proporciona-lhes um estado de euforia, de ilusória disposição e coragem para enfrentar situações na vida, mas que exigem a continuidade de sua ingestão.

Os principais efeitos dessas substâncias no organismo estão subordinados à área neuropsíquica, afetando o seu próprio julgamento. É onde vão surgindo lacunas progressivamente crescentes, que podem se caracterizar pelo desrespeito aos valores humanos, levando a pessoa a tornar-se um ser anti-social, quase sempre levando-a a perder o respeito por seus semelhantes.

Para satisfazer suas necessidades, pode realizar assaltos, roubos, seqüestros ou chegar até mesmo ao homicídio. Tudo pela droga!

São vícios que não poupam idade, sexo, raça, profissão, ou situação social, envolvendo, paralelamente, inúmeras pessoas que se enquadram como traficantes e passadores da droga, pondo em risco a segurança e a tranqüilidade da sociedade.

Portanto, as drogas podem ser consideradas como um dos piores flagelos de que a Humanidade tem notícia. Afeta o homem já na vida intra-uterina, gerando deformações pela via da hereditariedade, quando pais já são viciados. Já na vida física, tem atacado o homem em tenra idade, sob os mais diversos aspectos. Penetra, como dissemos, todos os segmentos da sociedade, em todos os países do mundo, minando-a a ponto de dominar governantes, líderes religiosos, educadores etc.

Os vícios estão alterando o curso da história da criatura humana e a violência tem descambado para as conquistas fáceis e a mola disso é a prática dos vícios. Além dos casos de overdose, anualmente milhares desencarnam em acidentes de trânsito, provocados pelo consumo de drogas ou álcool. Muitos são os que contraem doenças contagiosas, pela prática invigilante dos sexo desequilibrado, aprisionados pelos efeitos infelizes do álcool e das drogas.

Por faltas ao trabalho, queda de produção e qualidade, estimam os estudiosos que se perdem anualmente 25 bilhões de dólares em produtividade. São números arrasadores, espantosos, dramáticos e parece que as autoridades e a própria sociedade começam a considerá-los irreversíveis.

A publicação intitulada O mosaico da droga, de responsabilidade da UNESCO, declara que em certos países parece diluir-se a preocupação que o problema da droga suscitava há cerca de uma década.

Há uma tentativa de "desdramatizar" a questão. Nítida postura de cruzar os braços, portanto. Em alguns países, como na Holanda, o usa da maconha tornou-se lícito.

O espiritismo e os tóxicos


O viciado em drogas assemelha-se a uma embarcação em que, por invigilância, põe-se a navegar na correnteza forte de um caudaloso rio, desapercebendo ou mesmo desafiando as águas que mais à frente irão despencar numa gigantesca cachoeira.

O espiritismo não propõe soluções específicas, procurando regulamentar cada atitude ou ditar normas de comportamento humano.

Prefere acatar, em toda a sua amplitude, os dispositivos das Leis Divinas que asseguram a todos o direito de escolha e a responsabilidade conseqüente pelo que fizerem. Prefere a atitude do Cristo, que condena o pecado, mas oferece sua ternura e compreensão ao pecador, procurando mostrar-lhe o que precisa fazer para livrar-se do erro, construindo oportunidades de acerto.

Em vez de condenar a civilização pelos nossos equívocos, os espíritos ensinaram a Kardec que "condenássemos antes os que dela abusam e não a obra de Deus" (O Livro dos Espíritos, questão 790). Pouco adiante, na pergunta 793, documentaram o entendimento deles acerca das correções necessárias, ao informarem que reconheceríamos uma civilização completa "pelo desenvolvimento moral". E prosseguem: "Credes que estais muito adiantados porque tendes feito grandes descobertas e obtido maravilhosas invenções; porque vos alojas e vestis melhor do que os selvagens. Todavia, não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonram e puderdes viver entre vós, como irmãos, praticando a caridade cristã. Até lá, sereis apenas povos esclarecidos, não tendo percorrido senão a primeira fase da civilização".

A civilização em si não é um mal e nem pode ser, mas está sendo afetada e contaminada por mazelas humanas, por turbulências no comportamento dos próprios seres que a desenvolvem. A receita que a doutrina espírita prescreve para os males da civilização pode até parecer óbvia e simples demais, mas a questão é que a verdade é simples e óbvia, embora nem sempre atinemos rapidamente com ela.

Resumem-se tais prescrições na prática da caridade e do entendimento, em convivência fraterna, inteligente que dissipe os temores, não identificados alguns e conhecidos outros, que mantêm uma parte considerável da humanidade em permanente regime de estresse e de angústia. É esse o diagnóstico da ciência. Ou seja, especialistas que propõem mecanismos sociais de mútuo apoio e entendimento para exorcizar o fantasma aterrador do medo generalizado, do qual os mais desesperados fogem desabaladamente, despencando em abismos tenebrosos, empurrados por drogas alienantes.

Cresce assustadoramente a massa de desesperados, criaturas sem raízes, a vagarem sem rumo e sem destino, arrastados por circunstâncias que não sabem como superar porque não se empenham em entender a realidade da própria vida. Não sabem, tais pessoas, que são seres espirituais imortais, programados para a felicidade. Pensam muitos que são apenas um corpo físico pressionado por necessiades a serem satisfeitas, por temores de que é preciso escapar, por angústias que têm de ser sufocadas, quando temores e angústias são conseqüência e não causa da visão deformada da realidade.

Muitos dos que nascem em lares desajustados recorrem aos entorpecentes, mas quem está cogitando aí de investigar as verdadeiras causas do desajuste e o que fazer para promover atitudes e medidas de auxílio?

Partem para o uso de drogas muitos que sofrem de carência afetiva, certo. Mas o que desencadeou nessas criaturas o doloroso processo de carência? Não seria porque o afeto que hoje lhes falta eles próprios recusaram-se a doar em outros tempos? Buscam a alienação da droga os que perderam o endereço de Deus. Nem sabem que pertencem a uma comunidade de seres imortais ligados por vínculos industrutíveis e destinados à felicidade em algum ponto na intersecção espaço/tempo.

O problema aflitivo da droga, não é, portanto, basicamente, um caso de polícia. É um problema espiritual, distúrbio emocional do ser humano em atrito com as Leis Divinas.

Isto não quer dizer que devamos condenar aquele que recorre à droga porque rejeita a realidade. Ele precisa de compreensão e de esclarecimento.

Precisa descobrir sua própria realidade espiritual, sua condição de ser preexistente, sobrevivente e imortal, a caminho de perfeição, por mais distante que este se coloque afugentada pelos desacertos.

Compreensão e amadurecimento


" O homem não passa subitamente da infância à madureza" – disseram os espíritos a Kardec.


Para que amadureçam, os imaturos que recorrem ao processo de fuga proporcionando pelas drogas, precisam antes do amor que, na sua dinâmica, se converte em caridade. Envolvido pela sua turbulência íntima, o dependente da droga não está preparado para ser orientado e rejeitará sumariamente qualquer tentativa de pregação com a qual seja abordado. Não rejeitará, porém, a abordagem do amor fraterno, que é, precisamente, o componente pelo qual mais anseia, na tormentosa aflição e solidão em que vegeta. As multidões que se despedem a cada instante da vida física e retornam ao mundo invisível, continuam vivas, pensantes e atuantes, arrastando problemas que não conseguiram solucionar aqui, e que, lamentavelmente, conseguiram quase sempre agravar. Esta multidão desencarnada também exerce suas pressões sobre a que ficou na carne por mais algum tempo. Temos encontrado espíritos que nos falam de suas manobras para levar seres encarnados a se drogarem, a fim de poderem usufruir uma quota de alienação, pois eles também estão tentando aflitivamente, fugir da realidade que lhe é penosa demais para suas estruturas desarticuladas.


O problema das drogas oferece pois, no enfoque espiritual doutrinário do espiritismo, aspectos inusitados, surpreendentes e desconhecidos de muitos. O drogado pois, é um doente espiritual, carregado de problemas cármicos e que se deixa arrastar pela correnteza da vida na ilusão de que está sendo levado para longe da realidade que o assusta e aflige. Em verdade, porém, para onde for, aqui ou no mundo ultradimensional em que irá continuar a viver na condição de espírito, estará sempre ligado à realidade desagradável, que não é exterior e sim interior, com raízes profundamente mergulhadas no solo íntimo do passado. Somente através do amor poderá ele ser instruído acerca dessa realidade, a fim de que, entendendo-a, fique preparado para aceitá-la e vencer os obstáculos que estão a bloquear seu caminho rumo à felicidade a que todos temos direito inalienável. Entendimento e amor fraterno é o que nos recomendou o Espírito da Verdade, com extraordinário impacto e poder de síntese, numa frase que se tornou antológica. – "Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo" – recomendou ele.

Consequências espirituais


Espiritualmente, os vícios acarretam vinculações perispirituais, cujas consequências se projetam na vida espiritual futura, depois que a alma se desprende do corpo físico, com a agravante de poder ser responsável por doenças cármicas em reencarnações vindouras.

É oportuno lembrar ainda que muitos viciados são pessoas dotadas de mediunidade, sofrendo a atuação de entidades espirituais que se sintonizam com os seus pensamentos e se comprazem em fazer com que se mantenham no vício e dificultam a sua recuperação, indicando a necessidade de um tratamento espiritual que deve ser feito paralelamente ao tratamento médico. Além da modalidade de tratamento, outros recursos são utilizados, como o passe magnético, a água fluidificada e a desobsessão, sempre que necessária.

Os vícios evidenciam a degradação dos seres humanos comprometidos, infelicitando famílias, agredindo a sociedade e a dignidade humana. Como estão vinculados à alma, constituem um atraso espiritual das criaturas que se mantêm presas a uma situação que macula sua própria condição humana.

A Psicologia revela que a consciência é o substrato secreto da alma que julga os atos de cada um. Embora presente em todas as pessoas, mantém-se apagada entre os viciados, que se encontram sob o domínio de ações instintivas que se agigantam, conduzindo inúmeras criaturas à degradação de sua personalidade, destruindo lares e traumatizando a sociedade. Segundo Allan Kardec, no livro O Céu e o Inferno, o ser humano é independente, atuando através da vontade e do livre-arbítrio, para praticar o bem ou mal, indicando que "o Espírito deve progredir por impulso da própria vontade, nunca por qualquer sujeição. O bem e o mal são praticados em função do livre-arbítrio e, conseqüentemente, sem que o Espírito seja fatalmente impelido para um ou outro".

O que vale dizer que, para se preservar dos vícios, a pessoa deve fortalecer os recursos da alma, com pensamentos positivos e disposição para dar à sua vida uma conotação condizente com sua aspiração mais nobre.

Ao desencarnar, o períspirito mantém integralmente as mesmas sensações experimentadas na jornada terrena. Encontra no mundo espiritual inúmeros espíritos, invariavelmente similares, em tendências, gostos, graus de evolução. Com eles conviverá. O toxicômano, em particular, conviverá com desencarnados viciados. Verá que seu perispírito (igual ao seu corpo físico), está depauperado, destrambelhado, cheirando mal, repleto de naúseas e mazelas – fome, frio, dor... Desgraçadamente, terá consciência desses tormentos, de maneira plena e permanente: não dorme, não desmaia... Fica vagando por regiões cinzentas sem água, sem sol.

Ficará sofrendo durante o tempo em que permanecer empedernido no vício.

Ao menor sinal de arrependimento sincero, ao primeiro pensamento de prece a Deus, significando o desejo de se corrigir, recomeçar um novo caminho e uma nova dia de reto proceder, a ajuda divina se apresentará de imediato, na forma de espíritos dedicados às tarefas socorristas.

A dor é a mestra maior e último recurso natural para reconduzir o homem ao caminho do Bem. O viciado, ao desencarnar, percebendo que agora tudo está mais difícil, pois além de não poder satisfazer a ânsia da droga, ainda está doente, fraco, faminto etc, mais do que nunca, desejará as drogas.

Carente e sem nenhuma proteção, ficará à mercê de legiões de malfeitores espirituais. Será sim, admitido nessas legiões, mas como elemento escravo, desprezível e inferior...

Aprenderá rápido, que só no plano material poderá dar vazão ao vício. Qual vampiro, poucas vezes sozinho – quase sempre em bandos – irá aos lares dos toxicômanos encarnados, aderindo aos mesmos mente a mente, induzindo-os ao consumo das drogas, caso já não o esteja fazendo. Sem nenhuma reserva moral, em troca de alguma satisfação do vício, será submetido a uma série de perversidades.

Com o tempo, poderá, pelo livre-arbítrio, tomar duas atitudes:


a) Arrepender-se do mal praticado, do desrespeito às leis naturais, almejando melhorar de vida. O nível de sinceridade desse arrependimento determinará a ajuda que virá em seu socorro.

b) Revoltar-se ainda mais e tornar-se desejoso de vingança contra seus algozes. O desejo de vingança lhe dará forças para desencadear uma fieira de maldades. Seu poder, ampliado, atingirá um ponto em que a Justiça Divina considera como saturação, dando um basta: compulsoriamente retornará à carne. Só que em tristes condições...

Nem poderia ser diferente!


A dor física e moral, num corpo deformado e sem defesas orgânicas, será constante em sua vida, como inigualável recurso educador.

Superando o vício


A superação dos vícios envolve a colaboração da sociedade, através da formação de bons hábitos de vida da juventude, que está particularmente exposta aos mesmos. São ações que devem envolver as famílias, associações esportivas e culturais, as instituições religiosas e, particularmente, as escolas, baseadas na educação integral, mostrando aos jovens que eles são seres humanos, são almas viventes, responsáveis perante a Criação, e que podem superar as tendências que as levam às ilusórias facilidades na vida.

A educação é uma força poderosa, que, vivificada pelo exemplo, pelo interesse e pelo esclarecimento no momento oportuno, pode contribuir para formar criaturas responsáveis, dedicadas ao trabalho e à solidariedade que devem envolver as atribuições da vida.

Considerando que os vícios estão relacionados a distúrbios da alma, não se pode esperar que os mesmos sejam sanados em um curto período de tempo.

A educação espiritual vai de encontro às necessidades de esclarecimentos da alma, mostrando-lhe sua natureza e suas possibilidades de ascender a planos mais elevados de esclarecimento, alcançando sua libertação, de maneira a que se mantenha jungida pela condição de sobrevivência humana. A educação espiritual visa promover o crescimento interior do ser humano, que assume nova dimensão de vivência, ao vencer esse degrau de sua evolução espiritual, tornando-se capaz de dirigir os seus próprios atos e alcançar planos mais elevados de desenvolvimento.

Tratamento espiritual


Para o tratamento dos males decorrentes do uso das drogas, a Medicina dispõe de admiráveis recursos importantes para controlá-los, praticamente em todos os recantos da Terra, embora esse trabalho não dependa apenas das ações médicas, requerendo da sociedade muita dedicação, respeito e amor.

Abordando esse problema, André Luiz, no livro No Mundo Maior, afirma: "A medicina inventará mil modos de auxiliar o corpo atingido em seu equilíbrio interno; por essa tarefa edificante, ela nos merecerá sempre sincera admiração e amor, entretanto, cumpre a nós outros praticar a medicina da alma, que ampare o espírito enleado nas sombras"... E continua no terceiro parágrafo: "É mister acender, em derredor de nossos irmãos encarnados na Terra, a luz da compaixão fraterna, traçando caminhos à responsabilidade individual. Haja mais amor ante os vales da demência do instinto e as derrocadas cederão lugar a experiências santificantes".

O tratamento médico baseia-se fundamentalmente na assistência médica e psiquiátrica. Paralelamente, deve ser feito o tratamento espiritual aplicado nos centros espíritas, como a fluidoterapia e demais recursos, tanto na prevenção, como no tratamento das doenças da alma.

Há muitas pessoas que procuram o tratamento espiritual e esperam obter a cura imediata, como num abrir e fechar de olhos, como se fosse um passe de mágica, que as fizesse voltar à normalidade. Em geral, a cura espiritual requer profundidade de propósitos e continuidade de ações, que levam à transformação íntima da pessoa diante do problema que está enfrentando. Essa transformação, também chamada de Reforma Íntima, é um processo que resulta da educação da alma e requer a completa adesão do doente ao tratamento instituído.

É a educação que se realiza com a liberdade de culto e com responsabilidade de propósitos, de acordo com o conceito segundo o qual Jesus não está enclausurado entra as paredes de um templo, mas alcança a imensidade do Universo, como Cristo Cósmico e está presente entre as pessoas de boa vontade que pautam suas próprias vidas segundo a Lei do amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.


Magaly Sonia Gonsales
Este artigo e a imagem foram publicados na Revista Cristã de Espiritismo, edição 32.


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