POR QUE ESTUDAR O LIVRO DOS MÉDIUNS?
1) A mediunidade faz parte da vida
Médiuns somos todos, em maior ou em menor medida[1]. Inclusive as pessoas que não acreditam na existência dos Espíritos podem ser influenciadas por eles[2]. Estudar seriamente a mediunidade é, pois, de fundamental importância.
É particularmente
evidente a importância do estudo sério da mediunidade por parte dos
adeptos do espiritismo, já que este é uma ciência prática que consiste
nas relações que se pode estabelecer com os Espíritos e uma filosofia
que compreende todas as consequências morais que dimanam dessas relações[3].
Mesmo que o espírita não possua faculdades mediúnicas que hajam
produzido, até o momento, efeitos notórios ou ainda que ele não
participe nem venha a participar de reuniões mediúnicas, é recomendável
que estude a mediunidade a fim de que esteja preparado para lidar com
ela em si mesmo, especialmente se alguma faculdade mediúnica vier a
aflorar de maneira ostensiva, e nos demais, inclusive em situações
inesperadas, dentro e fora do centro espírita. De fato, a mediunidade
não se limita às reuniões mediúnicas: faz parte da vida.
2) O necessário alicerce
As obras fundamentais do espiritismo, indicadas no Catálogo racional das obras que podem servir para fundar uma biblioteca espírita, resultam dos sérios, prolongados e laboriosos estudos realizados por Allan Kardec, que compreenderam milhares de observações[4].
Na composição dessas obras, Allan Kardec contou com elevada assistência
espiritual, mas sem qualquer sinal exterior de mediunidade.
Ao invés de prejudicar,
a ausência de mediunidade ostensiva em Allan Kardec foi altamente
benéfica para a composição das obras fundamentais do espiritismo,
conforme ele mesmo explicou: “Com uma mediunidade efetiva, eu
somente teria escrito sob uma mesma influência. Teria sido levado a
aceitar como verdadeiro apenas o que me tivesse sido comunicado, e isso
talvez sem razão; ao passo que, em minha posição, convinha que eu
tivesse liberdade absoluta para obter o que é bom onde quer que se
encontrasse e de onde viesse. Portanto, tenho podido fazer uma seleção
dos diversos ensinamentos, sem prevenção e com total imparcialidade.
Tenho visto muito, estudado muito, observado muito, mas sempre com um
olhar impassível, e nada mais ambiciono senão ver a experiência que
tenho adquirido colocada a benefício de outros, e estou feliz de poder
evitar para eles os escolhos inseparáveis de todo noviciado”[5].
Sendo assim, em lugar de compor suas obras com parcialidade, sob uma
mesma influência espiritual, Allan Kardec valeu-se de dois critérios: a
lógica e o ensino geral e concordante dos Espíritos.
Tendo em vista a
elevada assistência espiritual, bem como a utilização dos critérios
seguros da lógica e da generalidade e concordância no ensino dos
Espíritos no processo de elaboração, as obras fundamentais do
espiritismo, publicadas por Allan Kardec, constituem o necessário
alicerce para a sólida formação doutrinária, inclusive no campo da
mediunidade.
3) A diretriz segura
Entre as obras fundamentais do espiritismo, destaca-se, em matéria de mediunidade, O livro dos médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores. Destina-se especialmente não apenas aos médiuns ostensivos, mas a todos que lidam com os fenômenos mediúnicos.
Já na Introdução, Allan
Kardec esclarece que a prática mediúnica está rodeada de muitas
dificuldades e que nem sempre está livre de inconvenientes, o que
somente um estudo sério e completo pode prevenir. Por conseguinte, o
Mestre de Lyon ressalta que não é suficiente um manual prático sucinto
para o estudo e a prática da mediunidade.
O livro dos médiuns,
que contém ensinamentos indispensáveis para evitar os escolhos na
prática mediúnica, é a diretriz segura no campo da mediunidade. Tamanha é
sua excelência que substituiu outra obra de Allan Kardec - a Instrução prática sobre as manifestações espíritas, um livro sério, mas que não trata, de maneira completa, das dificuldades na prática mediúnica[6].
4) Não basta receber a comunicação mediúnica: é indispensável analisá-la
O estudo de O livro dos médiuns
esclarece que não é suficiente a facilidade na recepção das
comunicações mediúnicas, o que pode ser obtido em pouco tempo, apenas
pelo hábito. É necessário adquirir experiência, que resulta do estudo
sério das dificuldades que se apresentam na prática mediúnica. A
experiência confere ao médium o tato necessário para apreciar a natureza
dos Espíritos que se manifestam, avaliar as qualidades boas ou más
deles mediante os indícios mais sutis e descobrir o engano dos Espíritos
mistificadores que se cobrem com as aparências da verdade. Sem a
experiência, todas as demais qualidades do médium perdem sua verdadeira
utilidade[7].
Não basta receber a
comunicação mediúnica: é necessário, portanto, analisá-la. As obras de
Allan Kardec, especialmente O livro dos médiuns, contêm o
conhecimento imprescindível para analisar as comunicações mediúnicas
segundo os critérios espíritas. De fato, entre outros temas de máxima
importância, O livro dos médiuns trata, com maestria, da
identidade dos Espíritos que se comunicam, das mistificações, das
obsessões, da influência do médium e do meio, do charlatanismo e das
contradições.
A análise das
comunicações mediúnicas é necessária também no tocante à divulgação do
espiritismo. Nem tudo o que comunicam os Espíritos deveria ser
publicado. Existem, entre os Espíritos, diversos graus de saber e de
ignorância, de moralidade e de imoralidade. Há comunicações mediúnicas
que produzem impressões equivocadas sobre o espiritismo; inclusive
existem aquelas que podem induzir a erro as pessoas que não têm o
necessário conhecimento doutrinário[8].
5) Mediunidade e progresso da humanidade
Quanto mais nos dedicamos a assimilar os ensinamentos contidos em O livro dos médiuns,
melhor compreendemos a fundamental importância do estudo sério da
mediunidade, bem como o papel e a responsabilidade que todos temos,
sejamos ou não médiuns ostensivos, como promotores do progresso
espiritual não apenas em nós, mas também no meio em que vivemos. De
fato, a mediunidade não é uma faculdade que deva servir para o
aperfeiçoamento de apenas uma ou duas pessoas. Seu objetivo é maior:
abrange toda a humanidade[9].
Simoni Privato Goidanich
Artigo publicado na Revista A senda (nov-dez 2019), da Federação Espírita do Estado do Espírito Santo
Referências:
[1] KARDEC, Allan. Le livre des médiums, n. 159.
[2] KARDEC, Allan. Le livre des Esprits, questão 459.
[3] KARDEC, Allan. Qu-est-ce que le spiritisme? Preambule.
[4] KARDEC, Allan. Le livre des médiums, n. 34.
[5] KARDEC, Allan. Revue Spirite - Journal d´Études Psychologiques, nov. de 1861, Réunion générale des Spirites bordelais - Discours de M. Allan Kardec.
[6] KARDEC, Allan. Le livre des médiums, Introduction.
[7] KARDEC, Allan. Le livre des médiums, n. 192.
[8] KARDEC, Allan. Revue Spirite - Journal d´Études Psychologiques, nov. de 1859, Doit-on publier tout ce que disent les Esprits?
[9] KARDEC, Allan. Le livre des médiums, n. 226-5.
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