SIM, SOMOS RACISTAS!
Somos racistas quando maquiamos o discurso de ódio, inventando justificativas para o injustificável.
Somos racistas quando “torcemos o nariz” para programas econômico-financeiros de inclusão social, com discursos abrandados de meritocracia, quando a “lei da vida” nos impulsiona, desde as espécies do reino animal, a prover as necessidades dos hipossuficientes. “O forte deve amparar o fraco”, como contido em “O livro dos Espíritos”.
Somos racistas quando nos sentimos ameaçados ao vermos uma pessoa preta se aproximar de nós, na rua.
Somos racistas quando nos sentimos ameaçados ao vermos uma pessoa preta se aproximar de nós, na rua.
Somos racistas quando percebemos que alguém sofre algum prejuízo em dada oportunidade, nos cenários sociais, e não dizemos e nem fazemos nada!
Somos racistas quando visualizamos que alguém olha para outrem, de outra cor, com suspeita ou prevenção, e não a acolhemos nem nos posicionamos contrariamente a tal atitude.
Somos racistas quando atribuímos papéis ou funções, em espaços de integração, como a praia, o avião, o shopping, a determinadas pessoas simplesmente em razão da cor da pele, como a servidão em espaços de transporte, limpeza, lazer ou comida, por exemplo.
Somos racistas quando buscamos nos justificar como não-racistas, com o discurso pronto de que temos, em nossos círculos familiares ou de amizade, pessoas de outra cor.
Os reflexos racistas estão por toda a parte, em múltiplas faces! E se amplificaram, tanto no Brasil, quanto nos Estados Unidos, com o retorno a discursos, candidaturas e gestões marcadas pela exclusão, pelos preconceitos em geral (não somente o étnico) e pela violência no discurso e na prática. No segundo, a eleição (ainda não oficialmente encerrada, mas que já proclamou um vencedor), ao que parece, há avanços. Espera-se que, por aqui, logo à frente, também hajam.
Em um estudo publicado pelo Instituto DataFolha, em 2019 e realizado pela Oxfam – Percepções sobre desigualdades no Brasil de 2019 – para a população brasileira em imensa maioria (72%) a cor da pele seria o elemento definidor da contratação por parte de empresas; para 81%, um número ainda superior, os pobres pretos sofrem mais do que os brancos e a raça define o tipo e o nível da abordagem policial. Exatamente como ilustra o caso no supermercado, ocorrido esta semana. É o racismo “fora do armário” e a desconstrução do mito do não-racismo.
Um dado significativo da esperança pela mudança (de mentalidade e de comportamento) está no relatório, de 2018, da Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior, que declinam que 70,2% dos estudantes de universidades públicas federais vêm de famílias com renda mensal per capita inferior a um salário mínimo, 64% são egressos de escolas públicas e 52,1% são pretos.
Antes que haja, também em relação a este texto, alguma sombra de preconceito, vou justificar porque estou utilizando PRETO ao invés de NEGRO. Em um depoimento tocante e necessário, que circula na internet, um ganês de nascimento que vive há mais de trinta anos, no Brasil, e já entendeu a cultura brasileira e, por extensão, a forma de manifestação, o palavreado, a riqueza (ou nem tanto) das expressões do nosso vernáculo e a utilização de expressões em dados contextos, assim se pronuncia:
“Tem uma coisa que eu não compreendo no Brasil. No tempo da escravidão, os negros e os indígenas brasileiros eram chamados de negros da terra. Isto até 1755, quando se aboliu a palavra negro para indígenas, porque proibiu a escravidão de índios.
O Brasil usa palavras como a lista negra, o dia negro, magia negra, câmbio negro, vala negra, mercado negro, peste negra, buraco negro, ovelha negra, fome negra, humor negro, nuvem negra, passado negro, futuro negro. Não deveria chamar uma criança de negro, entendeu? Esta é uma coisa passada. Quando chama uma criança de negro – e tudo o que é negro é relacionado a coisas negativas – a criança fica com dúvidas, dúvidas acerca de sua própria identidade!
No dicionário de língua portuguesa – você que ainda não prestou atenção – está escrito: negro quer dizer “infeliz, maldito”. Brasileiro, então, quando valoriza, ele não fala negro. Ele fala preto! Ele não come feijão negro, ele come feijão preto. O carro dele não é negro, é preto. Ele não toma café negro, toma café preto. Quando passa fome, a fome é negra. Quando ganha na loteria, ganha nota preta.
Se branco não é negativo, preto também não é, entendeu? Mas negro não! Negro é palavra cem por cento negativa. Atrasa, causa morte, causa miséria e doença. Então, já que o mundo mudou, vamos mudar nossa linguagem, também, pra acompanhar a mudança do mundo!”
Vejo sensatez, bondade, riqueza, brasilidade e fraternidade nesta manifestação. E é por isso que me sinto representado neste discurso.Voltando ao racismo, é preciso dizer que a escravidão (de pretos, de indígenas e de povos colonizados por outros povos) tem um papel preponderante neste cenário e fixou raízes profundas na estrutura de nossa sociedade contemporânea, manifestando-se na economia, na política e nas relações sociais.
O fato é que o racismo se amplificou no século XIX, com a reverberação do conceito de que a cor branca, no contexto europeu se postava numa fictícia posição de superioridade, autoproclamando que as características físicas da cor da pele (branca) eram ficticiamente superiores. E os brancos, assim, se perfilaram superiores a outros grupos.
E, então, o conceito de “raça”, que deriva disto, produz um fenômeno (a priori, incontrolável) que situa pessoas não-brancas (pretas, indígenas, amarelas) como pertencentes a uma raça, ao passo que pessoas brancas são consideradas indivíduos.
Não saberia, eu, dizer se todos somos racistas. Mas vivemos, indiscutivelmente, numa sociedade enraizada no racismo. Pois o racismo está em todas as relações sociais e é notório perceber que há privilégios a uns, na conjuntura brasileira, pela cor de pele, meramente.
Não precisamos, assim, de isonomia, igualdade, equivalência, porque o discurso, inclusive constitucional (“todos são iguais perante a lei”) é mais uma poesia legal sem amplitude e eficácia! É impermanente, posto que efêmero, instável e inconstante! O que necessitamos é de equidade, para concretizar as oportunidades para todos e, ainda mais, para não permitir nem tolerar nenhuma diferenciação, seja porque motivo for.
No agir, é fundamental, como muitos especialistas no estudo das ciências humanas, sociais e antropológicas têm afirmado:
1) perceber em realidade que todas as práticas sociais da atualidade contêm racismo;
2) que lutar contra o racismo é compromisso e responsabilidade de todos, inclusive os não-pretos;
3) que, por sermos privilegiados, por certas convenções sociais e em face de características exteriores (como a cor da pele) e devemos nos posicionar contra isso; que não se pode calar diante da opressão nem tolerar que os que lutam e denunciam as práticas racistas sejam calados;
4) que não é responsabilidade dos pretos (ou dos índios, ou dos amarelos) perceberem e lutarem contra o racismo; e,
5) que não devemos tratar pessoas, sob qualquer interesse ou justificativa, como objetos (inclusive sexuais).
E dizer: vidas pretas importam! Vidas importam, sempre!
Pela cor da pele, pela herança genética, pela ascendência genealógica, sou um homem branco, fruto da miscigenação de italianos, portugueses e alemães. Mas isso não me impede de me sentir como um preto, de me solidarizar ante a dor dos que, sendo pretos, sofrem algum tipo de preconceito e, muito mais, de me alinhar contra toda e qualquer atitude que, direta ou indiretamente, de modo superficial ou fundante, na seriedade ou na “brincadeira”, em público ou privativamente, pensem, falem ou ajam por puro preconceito contra qualquer irmão em Humanidade.
Neste ponto, sou um branco-preto, ou um preto-branco. E é fundamental que todos os humanos do século XXI se posicionem nada mais do que como homens!
Esta semana, nas redes sociais, houve quem cobrasse do chamado “movimento espírita” uma atitude em relação ao racismo, sobretudo em face do crime bárbaro cometido aqui no sul brasileiro, onde também eu estou. Em nome da Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo e em nome dos Movimentos “Espiritismo COM Kardec” e “Espíritas Progressistas”, nós nos manifestamos. Nós dizemos em alto e bom tom: – Não basta não ser racista. É preciso ser ANTIRACISTA.
Somos racistas quando visualizamos que alguém olha para outrem, de outra cor, com suspeita ou prevenção, e não a acolhemos nem nos posicionamos contrariamente a tal atitude.
Somos racistas quando atribuímos papéis ou funções, em espaços de integração, como a praia, o avião, o shopping, a determinadas pessoas simplesmente em razão da cor da pele, como a servidão em espaços de transporte, limpeza, lazer ou comida, por exemplo.
Somos racistas quando buscamos nos justificar como não-racistas, com o discurso pronto de que temos, em nossos círculos familiares ou de amizade, pessoas de outra cor.
Os reflexos racistas estão por toda a parte, em múltiplas faces! E se amplificaram, tanto no Brasil, quanto nos Estados Unidos, com o retorno a discursos, candidaturas e gestões marcadas pela exclusão, pelos preconceitos em geral (não somente o étnico) e pela violência no discurso e na prática. No segundo, a eleição (ainda não oficialmente encerrada, mas que já proclamou um vencedor), ao que parece, há avanços. Espera-se que, por aqui, logo à frente, também hajam.
Em um estudo publicado pelo Instituto DataFolha, em 2019 e realizado pela Oxfam – Percepções sobre desigualdades no Brasil de 2019 – para a população brasileira em imensa maioria (72%) a cor da pele seria o elemento definidor da contratação por parte de empresas; para 81%, um número ainda superior, os pobres pretos sofrem mais do que os brancos e a raça define o tipo e o nível da abordagem policial. Exatamente como ilustra o caso no supermercado, ocorrido esta semana. É o racismo “fora do armário” e a desconstrução do mito do não-racismo.
Um dado significativo da esperança pela mudança (de mentalidade e de comportamento) está no relatório, de 2018, da Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior, que declinam que 70,2% dos estudantes de universidades públicas federais vêm de famílias com renda mensal per capita inferior a um salário mínimo, 64% são egressos de escolas públicas e 52,1% são pretos.
Antes que haja, também em relação a este texto, alguma sombra de preconceito, vou justificar porque estou utilizando PRETO ao invés de NEGRO. Em um depoimento tocante e necessário, que circula na internet, um ganês de nascimento que vive há mais de trinta anos, no Brasil, e já entendeu a cultura brasileira e, por extensão, a forma de manifestação, o palavreado, a riqueza (ou nem tanto) das expressões do nosso vernáculo e a utilização de expressões em dados contextos, assim se pronuncia:
“Tem uma coisa que eu não compreendo no Brasil. No tempo da escravidão, os negros e os indígenas brasileiros eram chamados de negros da terra. Isto até 1755, quando se aboliu a palavra negro para indígenas, porque proibiu a escravidão de índios.
O Brasil usa palavras como a lista negra, o dia negro, magia negra, câmbio negro, vala negra, mercado negro, peste negra, buraco negro, ovelha negra, fome negra, humor negro, nuvem negra, passado negro, futuro negro. Não deveria chamar uma criança de negro, entendeu? Esta é uma coisa passada. Quando chama uma criança de negro – e tudo o que é negro é relacionado a coisas negativas – a criança fica com dúvidas, dúvidas acerca de sua própria identidade!
No dicionário de língua portuguesa – você que ainda não prestou atenção – está escrito: negro quer dizer “infeliz, maldito”. Brasileiro, então, quando valoriza, ele não fala negro. Ele fala preto! Ele não come feijão negro, ele come feijão preto. O carro dele não é negro, é preto. Ele não toma café negro, toma café preto. Quando passa fome, a fome é negra. Quando ganha na loteria, ganha nota preta.
Se branco não é negativo, preto também não é, entendeu? Mas negro não! Negro é palavra cem por cento negativa. Atrasa, causa morte, causa miséria e doença. Então, já que o mundo mudou, vamos mudar nossa linguagem, também, pra acompanhar a mudança do mundo!”
Vejo sensatez, bondade, riqueza, brasilidade e fraternidade nesta manifestação. E é por isso que me sinto representado neste discurso.Voltando ao racismo, é preciso dizer que a escravidão (de pretos, de indígenas e de povos colonizados por outros povos) tem um papel preponderante neste cenário e fixou raízes profundas na estrutura de nossa sociedade contemporânea, manifestando-se na economia, na política e nas relações sociais.
O fato é que o racismo se amplificou no século XIX, com a reverberação do conceito de que a cor branca, no contexto europeu se postava numa fictícia posição de superioridade, autoproclamando que as características físicas da cor da pele (branca) eram ficticiamente superiores. E os brancos, assim, se perfilaram superiores a outros grupos.
E, então, o conceito de “raça”, que deriva disto, produz um fenômeno (a priori, incontrolável) que situa pessoas não-brancas (pretas, indígenas, amarelas) como pertencentes a uma raça, ao passo que pessoas brancas são consideradas indivíduos.
Não saberia, eu, dizer se todos somos racistas. Mas vivemos, indiscutivelmente, numa sociedade enraizada no racismo. Pois o racismo está em todas as relações sociais e é notório perceber que há privilégios a uns, na conjuntura brasileira, pela cor de pele, meramente.
Não precisamos, assim, de isonomia, igualdade, equivalência, porque o discurso, inclusive constitucional (“todos são iguais perante a lei”) é mais uma poesia legal sem amplitude e eficácia! É impermanente, posto que efêmero, instável e inconstante! O que necessitamos é de equidade, para concretizar as oportunidades para todos e, ainda mais, para não permitir nem tolerar nenhuma diferenciação, seja porque motivo for.
No agir, é fundamental, como muitos especialistas no estudo das ciências humanas, sociais e antropológicas têm afirmado:
1) perceber em realidade que todas as práticas sociais da atualidade contêm racismo;
2) que lutar contra o racismo é compromisso e responsabilidade de todos, inclusive os não-pretos;
3) que, por sermos privilegiados, por certas convenções sociais e em face de características exteriores (como a cor da pele) e devemos nos posicionar contra isso; que não se pode calar diante da opressão nem tolerar que os que lutam e denunciam as práticas racistas sejam calados;
4) que não é responsabilidade dos pretos (ou dos índios, ou dos amarelos) perceberem e lutarem contra o racismo; e,
5) que não devemos tratar pessoas, sob qualquer interesse ou justificativa, como objetos (inclusive sexuais).
E dizer: vidas pretas importam! Vidas importam, sempre!
Pela cor da pele, pela herança genética, pela ascendência genealógica, sou um homem branco, fruto da miscigenação de italianos, portugueses e alemães. Mas isso não me impede de me sentir como um preto, de me solidarizar ante a dor dos que, sendo pretos, sofrem algum tipo de preconceito e, muito mais, de me alinhar contra toda e qualquer atitude que, direta ou indiretamente, de modo superficial ou fundante, na seriedade ou na “brincadeira”, em público ou privativamente, pensem, falem ou ajam por puro preconceito contra qualquer irmão em Humanidade.
Neste ponto, sou um branco-preto, ou um preto-branco. E é fundamental que todos os humanos do século XXI se posicionem nada mais do que como homens!
Esta semana, nas redes sociais, houve quem cobrasse do chamado “movimento espírita” uma atitude em relação ao racismo, sobretudo em face do crime bárbaro cometido aqui no sul brasileiro, onde também eu estou. Em nome da Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo e em nome dos Movimentos “Espiritismo COM Kardec” e “Espíritas Progressistas”, nós nos manifestamos. Nós dizemos em alto e bom tom: – Não basta não ser racista. É preciso ser ANTIRACISTA.
Caso contrário, sim, somos racistas!
Marcelo Henrique Pereira
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