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30 junho 2014

Perdoar é Esquecer ? - Doracy Mércia de A. Mota


PERDOAR É ESQUECER?

Perdoar é esquecer ?

Não.

Perdoar independe de esquecer.

Uma coisa nada tem a ver com a outra, são coisas distintas – até porque não somos alienados.

Temos no cérebro uma memória que registra todos os fatos, por isto quem perdoa não tem que, necessariamente, esquecer do agravo sofrido.

O que é preciso, na verdade, é esquecer no sentido de diluir a mágoa, a raiva ou o ressentimento que o fato gerou, caso contrário o perdão é superficial ou até mesmo ilusório.

Esse tipo de esquecimento é extremamente benéfico para quem sofreu algum tipo de agressão, porque a energia gerada, a cada instante em que se revive o fato infeliz, aumenta a ferida que se formou e numa verdadeira roda viva acumula novo e desnecessário sofrimento.

Tanto isto é uma verdade que a própria ciência da psicologia diz a todo instante, atestando que o esquecimento da mágoa por si só vale como uma excelente psicoterapia, pois que...

O apego à ofensa propicia ao ofendido a oportunidade de carregar sozinho a chaga em que ela se constitui.

A diferença está naquele que realmente perdoa e consegue liberta-se daquela parte pesada da lembrança a ponto de não mais sofrer ao relembrá-la.

Daí, como diz Divaldo Pereira Franco:-
- “Perdoar é bom para quem perdoa.”, ou seja, quem perdoa livra-se do fardo triste que carregava e quem foi perdoado nem sempre alcança a mesma graça de vez que assumiu um ônus pelo qual responderá, ainda que perdoado.

Alguém diria:-
- “Mas então prevalece a Lei de Talião*?”

E responderíamos:-
- Absolutamente que não!

Prevaleceria e prevalecerá sempre a misericórdia divina, a Lei de Causa e Efeito, segundo, a qual Deus nos propicia o ensejo de resgatar nossos erros, ou dívidas, como querem alguns, valendo lembrar que esse pagamento não acontece necessariamente pela dor, especialmente quando o ofensor se arrepende do at que praticou, podendo assim anular seu débito pela força do amor e doação que dispensar a outrem.

Vemos isto no Evangelho de João, quando ele afirma que:-
- “O amor cobre uma multidão de pecados”.

Quanto a Lei de Talião, embora absurda e abominável a nossos olhos, era uma necessidade daquela época em que o homem era bárbaro, época em que o homem tinha muito pouca consciência do que era Amor e Respeito, e que só era contido pelo medo dos castigos, tão ou mais horríveis que o ato praticado.

Foi essa uma das grandes razões da vinda de Jesus ao nosso Planeta.

Uma das partes mais lindas de sua missão foi justamente mudar a concepção de um Deus tão bárbaro quanto o homem, ensinando sobre um Deus justo...

Mas infinitamente bom.

Severo... mas infinitamente misericordioso.

Um Deus que a tudo perdoa, mas que deixa ao sabor do livre arbítrio de cada um a responsabilidade de suas atitudes e o aprendizado que elas possam trazer.

Ainda enfocando as benesses de que é alvo aquele que perdoa, lembramo-nos que Emmanuel, Espírito de grande sabedoria, numa psicografia do nosso bom e inolvidável Chico Xavier, nos esclarece em “O Consolador”, questão 337:-
- “Concilia-te depressa com o teu adversário” – essa é a palavra do Evangelho, mas se o adversário não estiver de acordo com o bom desejo de fraternidade, como efetuar semelhante conciliação?

- Cumpra cada qual o seu dever evangélico, buscando o adversário para a reconciliação precisa, olvidando a ofensa recebida.

Perseverando a atitude rancorosa daquele, seja a questão esquecida pela fraternidade sincera, porque o propósito de represália, em si mesmo, já constitui uma chaga viva para quantos o conservam no coração. ”

Vemos aí, embutida nas palavras de Emmanuel mais um alerta a considerar; aquele que busca sinceramente o perdão já está fazendo dignamente a sua parte, ainda que o ofendido se recuse.

Quando aquele que concede o perdão não deve se ater ferrenhamente ao que vai ser feito do perdão que concedeu, pois já fez a sua parte, também aí, o que se seguir é problema do perdoado.

Sabemos que mesmo com todo estes conhecimentos muitas vezes perdoar é um aprendizado difícil, que, não raro, requer um esforço muito grande.

Mas por isto mesmo é divino, é o caminho da porta estreita que vale a pena enfrentar, pois se o próprio Cristo nos disse que devemos perdoar “setenta vezes sete”é porque em sua divina sabedoria sabia que não só o ofensor, mas também o ofendido possui fragilidade de caráter e igualmente ser perdoado setenta vezes sete.

Para concluir lembramo-nos de que... esquecendo ou não, se o perdão é algo muito importante para o perdoado, é ainda muito mais para aquele que tem a felicidade de conseguir perdoar, porque...

Quem perdoa já cresceu no amor...

Quem humilde e sinceramente pede perdão...

Caminha para o mesmo crescimento.

Doracy Mércia De A. Mota

Bibliografia:-
O Consolador – Emannuel e Chico Xavier
O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec
* Olho por olho e dente por dente.

29 junho 2014

Reflexões sobre a Grande Transição Planetária - Suely Caldas Schubert


REFLEXÕES SOBRE A GRANDE TRANSIÇÃO PLANETÁRIA

Queridos amigos, estas são reflexões imprescindíveis, que todos nós, espíritas, comprometidos com a divulgação e vivência dos ensinamentos do Espiritismo, necessitamos fazer, compreendendo que estamos sendo convocados, diretamente, para contribuir com o processo de regeneração da Humanidade.

Minha proposta aos queridos amigos é a de observarmos mais atentamente a mensagem-revelação do Espírito Órion., contida no livro Transição Planetária.

Ressaltarei desse capítulo, que é o terceiro, os pontos referentes à convocação que é feita pelo emissário que veio de uma das Plêiades (constelação do Touro), especialmente a nós, espíritas.

Inicialmente apresento algumas considerações:

O livro Transição Planetária, a meu ver, é a obra mediúnica mais importante dos últimos tempos ao abordar o grandioso processo da renovação planetária, conforme está predito, e como isso se realizará, para que a Terra alcance o patamar da regeneração.

Jesus, no Sermão profético (Mt c.24 e 25; Mc c.13; Lc 21:5-36) fala do “princípio das dores” e da “grande tribulação”.

Em O Livro dos Espíritos, em resposta à questão 1019 proposta por Allan Kardec, o Espírito São Luís elucida, com muita clareza, o que deverá ocorrer para que o bem reine na Terra. Também em A Gênese, cap. XVIII, Kardec aprofunda os esclarecimentos com relação à grande transformação moral e espiritual do planeta.

Na magnífica obra mediúnica Há dois mil anos, (FEB, 1939), Emmanuel, através da psicografia de Chico Xavier, relata no cap. VI da segunda parte, intitulado “Alvoradas do reino do Senhor”, o discurso de Jesus (texto que divulguei há 3 anos para todos os nossos grupos), quando recepcionava um grupo de mártires sacrificados no circo romano. Segundo Emmanuel, o Mestre fez naquele momento sublime, “a exposição de suas profecias augustas”. Nessa importante profecia – recordemos que isto aconteceu há dois mil anos –encontramos detalhes de como se dará a transição, que ora está em curso.

No ano de 1948, a FEB lança o livro Caminho, verdade e vida, de Emmanuel/Chico Xavier, em cujo cap.140, intitulado “Para os montes”, o autor espiritual tece comentários sobre um dos versículos do Sermão profético, conforme Mt 24:16. O texto é notável pois traça um panorama - àquela época –do que estamos vivendo hoje.

Recentemente, a Mentora Joanna de Ângelis, através de Divaldo Franco, divulga a mensagem intitulada “A Grande transição”, (livro Jesus e Vida – LEAL, 2007) excelente esclarecimento sobre o tema que estou enfocando. Interessante assinalar que esta mensagem foi transmitida, penso eu, como preparação para o livro Transição Planetária , que é o objeto de nossas reflexões.

Todos os textos acima evidenciam que a importante contribuição do querido Benfeitor Manoel Philomeno de Miranda, está doutrinariamente fundamentada nas obras citadas.

A obra Transição Planetária, traz, portanto, minuciosos esclarecimentos acerca do processo da regeneração do planeta Terra. Sendo assim é imprescindível que todos os que estarão recebendo essas reflexões estejam em dia com a leitura desse livro. E quem já leu releia...

A seguir, observemos o trecho em que Órion esclarece a vinda de milhares de Espíritos da mesma Esfera ao qual pertence que, inicialmente, estarão se dirigindo às comunidades espirituais (que são denominadas entre nós de ‘colônias espirituais’) que estão próximas à Terra, expondo o grandioso programa ,“de forma que, unidos, formemos uma só caravana de laboriosos servidores, atendendo as determinações do Governador terrestre, o Mestre por excelência.”

“De todas essas comunidades(colônias espirituais) seguirão grupos espirituais preparados para a disseminação do programa, comunicando-se nas instituições espíritas sérias e convocando os seus membros à divulgação das diretrizes para os novos cometimentos.

Expositores dedicados e médiuns sinceros estarão sendo convocados a participarem de estudos e seminários, para que seja desencadeada uma ação internacional no planeta, convidando as pessoas sérias à contribuição psíquica e moral em favor do novo período.”

É importante que leiam todo o capítulo e que atentemos para as advertências que Órion transmite. Claro que os testemunhos acontecerão, como podemos imaginar. Na parte final da mensagem ele afirma : “ O modelo a seguir permanece Jesus, e a nova onda de amor trará de retorno o apostolado, os dias inesquecíveis das perseguições e do martirológio que, na atualidade, terá características diversas, já que não se podem matar impunemente os corpos como no passado...” Queridos amigos, agora já sabemos.

A sintonia com essa programação depende de cada um, desde que aceite participar. Mas penso que todos estamos, vibratoriamente e honrosamente,engajados nesse nobre propósito.

Como diz Joanna, a amorável Benfeitora de todos nós:

“Aclimatados à atmosfera do Evangelho, respiremos o ideal da crença... E unidos uns aos outros, entre os encarnados e com os desencarnados, sigamos.

Jesus espera: avancemos

Autoria: Suely Caldas Schubert


28 junho 2014

Obsessão e Reciprocidade - Jorge Hessen



OBSESSÃO E RECIPROCIDADE


A obsessão corresponde a certa influência perniciosa na mente. Etimologicamente o termo tem sua origem no vocábulo obsessione, palavra latina que significa impertinência, perseguição. Os dicionaristas costumam definir a palavra como sendo uma preocupação com determinada ideia, que domina doentiamente o espírito, resultante ou não de sentimentos recalcados. A terminologia obsessão é usada, comumente, para denotar ideia fixa em alguma coisa, tique nervoso, gerador de manias, atitudes estranhas etc. Na perspectiva espírita, o termo tem uma acepção e explanação mais amplas. Consubstancia-se na influência maléfica relativamente inflexível que desencarnados e/ou encarnados, tão ou mais atrasados que nós mesmos, podem exercer sobre a nossa estrutura psicofísica.

Kardec elucida que “se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que uma parte dele passe bem”. (1) O psiquiatra tradicional por exemplo, diz que obsessão é um pensamento ou um impulso persistente ou recorrente, indesejado e aflitivo, que vem à mente involuntariamente, a despeito de tentativa de ignorá-lo ou de suprimi-lo.

Os ortodoxos da medicina, sob os antolhos do materialismo decrépito, não admitem nada fora da matéria, portanto, não podem entender uma causa oculta (espiritual). Quando a academia científica tiver saído da extemporânea rotina mecanicista, ela reconhecerá na ação do mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivemos uma força que reage sobre as coisas físicas tanto quanto sobre as coisas morais. Esse será um novo caminho aberto ao progresso e a chave de uma multidão de fenômenos mal compreendidos pela escola psiquiátrica.

Não há razão para que a Psiquiatria condene os processos espíritas no tratamento dos casos de obsessão e auto-obsessão. É muito importante ampliar o entendimento das causas originais de uma esquizofrenia sob o impacto da obsessão e considerar imprescindível o tratamento espiritual [desobsessão, passe, água fluidificada, oração] oferecido pela Doutrina Espírita, com base nos ensinamentos do Cristo, que um dia, inevitavelmente, constará nas propostas científicas para o tratamento de todas as doenças humanas.

Nosso mundo mental é como um céu, contudo do firmamento descem raios de sol e chuvas benéficas para a vida planetária, assim como, no instante do atrito de elementos atmosféricos, desse mesmo céu procedem faíscas elétricas destruidoras. Da mesma forma funciona a mente humana. Dela se originam as forças equilibrantes e restauradoras para os trilhões de células do organismo físico, mas quando perturbada, emite raios magnéticos de elevado teor destrutivo para a nossa estrutura psíquica.

Como máquina, nosso corpo se encontra sujeito a desgastes naturais, até porque muitos obsidiados não sabem usufruir do corpo de forma correta. Nesse sentido, os obsessores (encarnados e desencarnados) sabem explorar, até que o enfermo chegue à patologia de difícil diagnóstico. O estado obsessivo procede da intimidade do homem, exteriorizando-se em forma de tormentos físicos, mentais e emocionais. Suas causas quase sempre remontam a vidas passadas.

Paixões, ódios, fanatismo, avareza e muitos outros fatores são as fontes geradoras da obsessão, que atualmente se constitui um dos mais terríveis flagelos da humanidade. A mente transmite ao corpo, a que se ajusta durante a encarnação, todos os seus estados felizes ou infelizes, equilibrando ou conturbando o ciclo de causa e efeito, portanto, a obsessão é uma patologia que guarda a sua origem profunda no Espírito que delinquiu.

O melhor processo para nos livrarmos de um obsessor é nos tornarmos bons. Chico Xavier disse não “adiantar ao diabo ficar soprando onde não há brasas”. É verdade! As trevas exteriores se ligam pelas sombras interiores. O que nos algema a um obsessor é a iniquidade que alimentamos nas atitudes e intenções. O que nos vincula a um obsessor vingativo é a nossa obstinação de não perdoar. O que nos conecta a um obsessor infeliz é o desgosto que cultivamos no coração.

Muitas vezes procurado pelos obsidiados, Jesus adentrava mentalmente nas causas da sua inquietude e, usando de sua autoridade moral, libertava tanto os obsessores quanto os obsidiados, permitindo-lhes o despertar para a vida animada rumo à recuperação e à pacificação da própria consciência. Entretanto, Jesus não libertou os obsidiados sem lhes impor a intransferível necessidade de renovação íntima, nem ejetou os perseguidores inconscientes sem fornecer-lhes o endereço de Deus.

Em resumo, identificamos sempre na obsessão (espiritual) o resultado da invigilância e dos desvios morais. Para garantirmo-nos contra a sua influência, urge fortalecer a fé pela renovação mental e pela prática do bem nos moldes dos códigos evangélicos propostos por Jesus Cristo, não nos esquecendo da narrativa de Mateus: “vigiai e orai para que não entreis em tentação”. (2)


Jorge Hessen

Referências: 

[1] Kardec, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo, RJ: Ed. FEB, 2001, Introd., item XIX
[2] Mt 26,41

27 junho 2014

O Espírita e o Mundo Atual - Irmão Saulo



O ESPÍRITA E O MUNDO ATUAL


A Terra está passando por um período crítico de crescimento. Nosso pequenino mundo, fechado em concepções mesquinhas e acanhados limites, amadurece para o infinito. Suas fronteiras se abrem em todas as direções. Estamos às vésperas de uma Nova Terra e um Novo Céu, segundo as expressões do Apocalipse. O Espiritismo veio para ajudar a Terra nessa transição.

Procuremos, pois, compreender a nossa responsabilidade de espíritas, em todos os setores da vida contemporânea. Não somos espíritas por acaso, nem porque precisamos do auxílio dos Espíritos para a solução dos nossos problemas terrenos. Somos espíritas porque assumimos na vida espiritual graves responsabilidades para esta hora do mundo. Ajudemo-nos a nós mesmos, ampliando a nossa compreensão do sentido e da natureza do Espiritismo, de sua importante missão na Terra. E ajudemos o Espiritismo a cumpri-la.

O mundo atual está cheio de problemas e conflitos. O crescimento da população, o desenvolvimento econômico, o progresso cientifico, o aprimoramento técnico, e a profunda modificação das concepções da vida e do homem, colocam-nos diante de uma situação de assustadora instabilidade. As velhas religiões sentem-se abaladas até o mais fundo dos seus alicerces. Ameaçam ruir, ao impacto do avanço cientifico e da propagação do ceticismo. Descrentes dos velhos dogmas, os homens se voltam para a febre dos instintos, numa inútil tentativa de regressar à irresponsabilidade animal.

O espírita não escapa a essa explosão do instinto. Mas o Espiritismo não é uma velha religião nem uma concepção superada. É uma doutrina nova, que apareceu precisamente para alicerçar o futuro. Suas bases não são dogmáticas, mas cientificas, experimentais. Sua estrutura não é teológica, mas filosófica, apoiada na lógica mais rigorosa. Sua finalidade religiosa não se define pelas promessas e as ameaças da Teologia, mas pela consciência da liberdade humana e da responsabilidade espiritual de cada indivíduo, sujeita ao controle natural da lei de causa e efeito. O espírita não tem o direito de tremer e apavorar-se, nem de fugir aos seus deveres e entregar-se aos instintos. Seu dever é um só: lutar pela implantação do Reino de Deus na Terra.

Mas como lutar? Este livrinho procurou indicar, aos espíritas, várias maneiras de proceder nas circunstâncias da vida e em face dos múltiplos problemas da hora presente. Não se trata de oferecer um manual, com regras uniformes e rígidas, mas de apresentar o esboço de um roteiro, com base na experiência pessoal dos autores e na inspiração dos Espíritos que os auxiliaram a escrever estas páginas. A luta do espírita é incessante. As suas frentes de batalha começam no seu próprio íntimo e vão até os extremos limites do mundo exterior. Mas o espírita não está só, pois conta com o auxílio constante dos Espíritos do Senhor, que presidem à propagação e ao desenvolvimento do Espiritismo na Terra.

A maioria dos espíritas chegaram ao Espiritismo tangidos pela dor, pelo sofrimento físico ou moral, pela angústia de problemas e situações insolúveis. Mas, uma vez integrados na Doutrina, não podem e não devem continuar com as preocupações pessoais que motivaram a sua transformação conceptual. O Espiritismo lhes abriu a mente para uma compreensão inteiramente nova da realidade. É necessário que todos os espíritas procurem alimentar cada vez mais essa nova compreensão da vida e do mundo, através do estudo e da meditação. É necessário também que aprendam a usar a poderosa arma da prece, tão desmoralizada pelo automatismo habitual a que as religiões formalistas a relegaram.

A prece é a mais poderosa arma de que o espírita dispõe, como ensinou Kardec, como o proclamou Léon Denis e como o acentuou Miguel Vives. A prece verdadeira, brotada do íntimo, como a fonte límpida brota das entranhas da terra, é de um poder não calculado pelo homem. O espírita deve utilizar-se constantemente da prece. 

Ela lhe acalmará o coração inquieto e aclarará os caminhos do mundo. A própria ciência materialista está hoje provando o poder do pensamento e a sua capacidade de transmissão ao infinito. O pensamento empregado na prece leva ainda a carga emotiva dos mais puros e profundos sentimentos. O espírita já não pode duvidar do poder da prece, pregado pelo Espiritismo. Quando alguns "mestres" ocultistas ou espíritas desavisados chamarem a prece de muleta, o espírita convicto deve lembrar que o Cristo também a usava e também a ensinou. Abençoada muleta é essa, que o próprio Mestre dos Mestres não jogou à margem do caminho, em sua luminosa passagem pela Terra!

O espírita sabe que a morte não existe, que a dor não é uma vingança dos deuses ou um castigo de Deus, mas uma força de equilíbrio e uma lei de educação, como explicou Léon Denis. Sabe que a vida terrena é apenas um período de provas e expiações, em que o espírito imortal se aprimora, com vistas à vida verdadeira, que é a espiritual. Os problemas angustiantes do mundo atual não podem perturbá-lo. Ele está amparado, não numa fortaleza perecível, mas na segurança dinâmica da compreensão, do apercebimento constante da realidade viva que o rodeia e de que ele mesmo é parte integrante. As mudanças incessantes das coisas, que nos revelam a instabilidade do mundo, já não podem assustar o espírita, que conhece a lei de evolução. Como pode ele inquietar-se ou angustiar-se, diante do mundo atual?

O Espiritismo lhe ensina e demonstra que este mundo em que agora nos encontramos, longe de nos ameaçar com morte e destruição, acena-nos com ressurreição e vida nova. O espírita tem de enfrentar o mundo atual com a confiança que o Espiritismo lhe dá, essa confiança racional em Deus e nas suas leis admiráveis, que regem as constelações atômicas no seio da matéria e as constelações astrais no seio do infinito. O espírita não teme, porque conhece o processo da vida, em seus múltiplos aspectos, e sabe que o mal é um fenômeno relativo, que caracteriza os mundos inferiores. Sobre a sua cabeça rodam diariamente os mundos superiores, que o esperam na distância e que os próprios materialistas hoje procuram atingir com os seus foguetes e as suas sondas espaciais. Não são, portanto, mundos utópicos, ilusórios, mas realidades concretas do Universo visível.

Confiante em Deus, inteligência suprema do Universo e causa primária de todas as coisas, - poder supremo e indefinível, a que as religiões dogmáticas deram a aparência errônea da própria criatura humana, - o espírita não tem o que temer, desde que procure seguir os princípios sublimes da sua Doutrina. Deus é amor, escreveu o apóstolo João. Deus é a fonte do Bem e da Beleza, como afirmava Platão. Deus é aquela necessidade lógica a que se referia Descartes, que não podemos tirar do Universo sem que o Universo se desfaça. 

O espírita sabe que não tem apenas crenças, pois possui conhecimentos. E quem conhece não teme, pois só o desconhecido nos apavora.

O mundo atual é o campo de batalha do espírita. Mas é também a sua oficina, aquela oficina em que ele forja um mundo novo. Dia a dia ele deve bater a bigorna do futuro. A cada dia que passa, um pouco do trabalho estará feito. O espírita é o construtor do seu próprio futuro do mundo. Se o espírita recuar, se temer, se vacilar, pode comprometer a grande obra. Nada lhe deve perturbar o trabalho, na turbulenta mas promissora oficina do mundo atual.

Em resumo: O espírita é o consciente construtor de uma nova forma de vida humana na Terra e de vida espiritual no Espaço; sua responsabilidade é proporcional ao seu conhecimento da realidade, que a Nova Revelação lhe deu; seu dever de enfrentar as dificuldades atuais, e transformá-las em novas oportunidades de progresso, não pode ser esquecido um momento sequer; espíritas, cumpramos o nosso dever!



José Herculano Pires (Irmão Saulo)
Livro Tesouro dos Espíritas

26 junho 2014

Padrão dos pensamentos determina ambiente - Orson Peter Carrara


PADRÃO DOS PENSAMENTOS DETERMINA AMBIENTE

Allan Kardec usou o mesmo título, em sua Revista Espírita de maio de 1867, para abordar a questão da influência dos maus fluidos - produzidos pelos sentimentos contrários à caridade -, que tornam os ambientes desagradáveis e muitas vezes intoleráveis.

Não é outra a causa dos constrangimentos que se estabelecem nos relacionamentos, especialmente em grupos onde o ambiente "parece pesar" e surgem as sensações de desconforto. E há que se considerar que a permanências desses "ambientes pesados", característicos de ondas mentais conflitantes, pode acarretar graves prejuízos morais e mesmo desuniões e danos à saúde, já que desencadeadores de obsessões.

A abordagem do Codificador é extremamente lúcida e coerente. Selecionamos alguns trechos ao leitor, indicando, todavia, a fonte original para leitura e estudo na íntegra, conforme citado no primeiro parágrafo.

"(...) sabemos que, numa reunião, além dos assistentes corporais, há sempre auditores invisíveis; que sendo a impermeabilidade uma propriedade do organismo dos Espíritos, estes podem achar-se em número ilimitado num dado espaço. (...) 

Sabe-se que os fluidos que emanam dos Espíritos são mais ou menos salutares, conforme seu grau de depuração. Conhece-se o seu poder curativo em certos casos e, também, seus efeitos mórbidos de indivíduo a indivíduo.

 Ora, desde que o ar pode ser saturado desses fluidos, não é evidente que, conforme a natureza dos Espíritos que abundam em determinado lugar, o ar ambiente se ache carregado de elementos salutares ou malsãos, que devem exercer influências sobre a saúde física, assim como sobre a saúde moral? 

Quando se pensa na energia da ação que um Espírito pode exercer sobre um homem, é de admirar-se da que deve resultar de uma aglomeração de centenas ou milhares de Espíritos? Esta ação será boa ou má conforme os Espíritos derramem num dado meio um fluido benéfico ou maléfico, agindo à maneira das emanações fortificantes ou dos miasmas deletérios, que se espalham no ar. 

Assim se pode explicar certos efeitos coletivos, produzidos sobre massas de indivíduos, o sentimento de bem-estar ou de mal-estar, que se experimenta em certos meios, e que não tem nenhuma causa aparente conhecida, o entusiasmo ou o desencorajamento, por vezes a espécie de vertigem que se apodera de toda uma assembléia, de toda uma cidade, mesmo de todo um povo. 

Em razão do seu grau de sensibilidade, cada indivíduo sofre a influência desta atmosfera viciada ou vivificante. Por este fato, que parece fora de dúvida e que, ao mesmo tempo que a teoria e a experiência, nós achamos nas relações do mundo espiritual com o mundo material, um novo princípio de higiene, que, sem dúvida, um dia a ciência fará entrar em linha de conta.(...)"

Ora, o trecho transcrito é por demais claro. Ele remete a outras tantas considerações, impossíveis de serem trazidas ao simples espaço de um artigo. Mas poderíamos ponderar sobre como subtrair-se a estas influências (e Kardec aborda isso na continuidade do texto). 

 O fato concreto é que somos sempre responsáveis pelo tipo de influência que atraímos ou alterações que produzimos nos fluidos que nos circundam por força dos sentimentos e pensamentos que cultivamos.

Numa assembléia, pequena ou numerosa, o padrão dominante dos pensamentos é fator decisivo para determinar o tipo de sensação que vigorará "no ar" daquele ambiente. Alterá-lo também é tarefa dos mesmos pensamentos e sentimentos. Fruto da perseverança no bem e no reconhecimento dos valores que conduzem ao estabelecimento da harmonia na convivência.

Uma vez mais surge a necessidade da melhora moral como único recurso de vivermos melhor.

Por Orson Peter Carrara


25 junho 2014

Evangelho e Exclusivismo - Emmanuel



EVANGELHO E EXCLUSIVISMO


Quase todos os santuários religiosos divididos entre si, na esfera dogmática, isolam-se indebitamente, disputando privilégios e primazias. E até mesmo nos círculos da atividade cristã, o espírito de exclusivismo tem dominado grupos de escol, desde os primeiros séculos de sua constituição.

Em nome do Cristo, muitas vezes a tirania política e o despotismo intelectual organizaram guerras, atearam fogueiras, incentivaram a perseguição e entronizaram a morte.

Pretendendo representar o Mestre, que não possuía uma pedra onde repousar a cabeça dolorida, o Imperador Focas estabelece o Papado, em 607, exalçando a vaidade romana. Supondo agir na condição de seus defensores, Godofredo de Bulhão e Tancredo de Siracusa organizam, em 1096, um exército de 500.000 homens e estimulam conflitos sangrentos, combatendo pela reivindicação de terras e relíquias que recordam a divina passagem de Jesus pela Terra. Acreditando preservar-lhe os princípios salvadores, Gregório IX, em 1231, consolida o Tribunal da Inquisição, adensando a sombra e fortalecendo criminosas flagelações, no campo da fé religiosa. Convictos de garantir-lhe a Doutrina, os sacerdotes punem com o suplício e com a morte valorosos pioneiros do progresso planetário, quais sejam Giordano Bruno e João Huss.

Semelhantes violências, todavia, não passam de manifestações do espírito belicoso que preside as inquietudes humanas.

Cristo nunca endossou o dogmatismo e a intransigência por normas de ação.

Afirma não haver nascido par destruir a Lei Antiga, mas para dar-lhe fiel cumprimento.

Não hostiliza senão a perversidade deliberada.

Não guerreia.

Não condena.

Não critica.

Combate o mal, socorrendo-lhe as vítimas.

Dá-se a todos.

Ensina com paciência e bondade o caminho real da redenção.

Começa o ministério da palavra, conversando com os doutores do Templo, e termina o apostolado, palestrando com os ladrões.

A ninguém desdenha e os transviados infelizes lhe merecem mais calorosa atenção.

Prepara o espírito dos pescadores para os grandes cometimentos do Evangelho, com admirável confiança e profunda bondade, sem exigir-lhes qualquer atestado de pureza racial.

Auxilia mulheres desventuradas, com serenidade e desassombro, em contraposição com os preconceitos do tempo, trazendo-as, de novo, à dignidade feminina.

Não busca títulos e, sim, inclina-se, atencioso, para os corações.

Nicodemos, o mestre de Israel, e Bartimeu, o cego desprezado, recebem dEle a mesma expressão afetiva.

A intolerância jamais compareceu ao lado de Jesus, na propagação da Boa Nova.

O isolacionismo orgulhoso, na esfera cristã, é simples criação humana, fadado naturalmente a desaparecer, porque, na realidade, nenhuma doutrina, quanto o Cristianismo, trouxe, até agora, ao mundo atormentado e dividido os elos de amor e luz da verdadeira solidariedade.


Pelo Espírito Emmanuel
Do livro: Roteiro
Médium: Francisco Cândido Xavier

24 junho 2014

Ação e Reação - Scheilla


AÇÃO E REAÇÃO

Descoberta pelo extraordinário físico Inglês do século XVII, Sir Isaac newton, a lei de ação e reação que trata das interações entre os corpos materiais, também se constitui em importante lei moral que rege as relações entre os espíritos.

No plano das causas e dos efeitos em que estagia, o homem dispõe do livre- arbítrio ou livre vontade de ação do ser, através do qual toma resoluções em sua vida, acelerando ou retardando o seu progresso.

Neste contexto, a responsabilidade surge como leme orientador da liberdade de ação, ensejando ao navegante atento e vigilante, a oportunidade de conduzir o barco do seu destino de acordo com a correnteza das leis divinas, que governam o oceano da existência.

Cada ação praticada assemelha-se a um fio condutor que nos liga ao objeto da nossa atitude, exigindo uma reação contrária, a fim de retornar ao equilíbrio anterior, pois o universo, apesar do aparente caos, é pura harmonia em sua essência.

Um gesto, uma palavra ou mesmo um pensamento desarmônico pode durar apenas um segundo. todavia, é difícil quantificar o tempo necessário para que o serviço de reação restabeleça a harmonia perdida.

Por outro lado, um simples olhar de bondade propicia, ao seu autor, o retorno imediato do beneficiado, em forma de luminoso agradecimento, transmitido pelo fio condutor da fraternidade.

Nossas existências anteriores estão interligadas pelo ciclo incorruptível da ação e reação, transformando-nos em construtores do próprio destino, e a doutrina da reencarnação é chave para a compreensão desse encadeamento de causas e efeitos, que se estende de uma vida a outra.

Sob esta ótica, a reencarnação, ao invés de castigo ou punição divina, é oportunidade bendita de crescimento e elevação espiritual, na qual a criatura humana tem a possibilidade de harmonizar as ações do pretérito delituoso com a sublime reação do amor.

Nesta divina equação, cujo resultado é o progresso do ser, o Sublime Matemático do Universo nos legou o tempo como fator de balanceamento entre as incógnitas do ontem e as variáveis do hoje.

Assim, alma amiga, aproveita cada minuto disponível, e inicia agora a tua reação de renovação.

Ontem, traíste a lealdade do companheiro de jornada. Hoje, defronta-te novamente com ele, na pessoa do filho problema, a cobrar-te paciência e dedicação.

Ontem, desprezaste e conspurcaste o amor sincero da companheira, lançando-a nas garras do desespero e do suicídio. Hoje, a encontramos nos teus braços, como a filhinha doente, a te exigir renúncia e abnegação.

Ontem, doastes ao mendigo na sarjeta, um pouco do teu excedente. Hoje, quando o pão ameaça faltar à tua mesa, mãos anônimas acorrem generosas, mitigando-te a fome do corpo e da alma.

Ontem, num ato de coragem, colocaste em risco a própria vida, salvando a criança que se afogava. Hoje, a identificamos na figura do médico de plantão, que com desvelo e perícia, ressuscita-te os batimentos cardíacos, trazendo-te de volta à vida.

Em qualquer situação, segue o roteiro infalível prescrito por Paulo, o apóstolo dos gentios, quando afirmou que o amor cobre a multidão dos pecados, e utiliza com sabedoria os mecanismos da ação e reação para libertar-se do ciclo vicioso que te prende à retaguarda.

Se o ontem é cabedal de experiências acumuladas e o amanhã é esperança de realização, o presente é instante abençoado que nos permite harmonizar o passado e preparar a boa colheita para o futuro.

Scheilla
Mensagem psicografada pelo médium Chico Xavier - Chácara em Belo Horizonte/ MG, em 10.04.1993

23 junho 2014

Qual a finalidade da Mediunidade na face da Terra? - Albino Teixeira



QUAL A FINALIDADE DA MEDIUNIDADE NA FACE DA TERRA?


Divaldo Franco responde: A mediunidade é, antes de tudo, uma oportunidade de servir, bênção de DEUS, que faculta manter o contato com a vida espiritual.

Graças ao intercâmbio podemos ter aqui, não apenas a certeza da sobrevivência da vida após a morte, mas também o equilíbrio para resgatarmos com proficiência os débitos adquiridos nas encarnações anteriores.

É graças à Mediunidade que o homem tem a antevisão do seu futuro espiritual, e, ao mesmo tempo, o relato daqueles que o precederam na viagem de volta à Erraticidade, trazendo-lhe informes de segurança, diretrizes de equilíbrio e a oportunidade de refazer o caminho pelas lições que ele absorve do contato mantido com os desencarnados. Assim, a Mediunidade tem uma finalidade de alta importância, porque é graças a ela que o homem se conscientiza das suas responsabilidades de Espírito imortal. Conforme afirmava o apóstolo Paulo, se não houvesse a ressurreição do Cristo, para nos trazer a certeza da vida espiritual, de nada valeria a mensagem que Ele nos deu.

Há mediunidade mais importante que outras? E médiuns mais fortes que outros?

Raul Teixeira responde: Verdadeiramente não pode haver mediunidade mais importante que outras, nem médium mais forte do que outros. Existem médiuns e mediunidades. Segundo Paulo de Tarso, existem os “dons” e ele se refere à visão, à audição, à cura, à palavra, ao ensino, mas disse que um só é o Senhor.

Ela provém da mesma fonte. Os indivíduos que psicografam, que psicofonizam, que materializam poderão todos realizar um trabalho apostolar na realidade em que se encontram. Não é o número de possibilidades que dá importância ao médium. O que engrandece espiritualmente o médium é aquilo que ele faz com os dons que possua. Verificamos que a importância do médium se localiza na honra que tem de poder servir.

O médium mais forte que outro, na Doutrina Espírita, não existe, mas sim, existem os que são mais dedicados que outros, mais afervorados que outros, que estão renunciando à matéria e efetuando o esforço do auto-aprimoramento mais que outros. Isso ocorre. E é esse esforço para algo mais alto que confere ao médium, ou a outro servidor qualquer, melhores condições de estar à frente na lide. Mas isso não significa que o que venha na retaguarda não poderá alcançá-lo, realizando os mesmos esforços.

O nosso venerável Chico Xavier dizia para os companheiros que o questionavam que o dia em que não chorava, não viveu. Depreendemos disso que quanto mais se alteia à mediunidade, colocando aquele que dela é portador numa posição de destaque, numa posição de claridade, naturalmente, os que não desejam a luz atirarão pedras à lâmpada, tentando quebrá-la, quando não desejam derrubar o poste que a sustenta.

Daí, o médium mais importante ser aquele que mais disposto esteja para enfrentar essas lutas em nome do Cristo, Médium de Deus por excelência, e o mais importante Senhor da mediunidade que nós conhecemos.

Não caberá nenhum desânimo a nenhum de nós outros que ainda nos localizamos numa faixa singela de mediunidade, galgando os primeiros passos.livro_diretrizes_de_seguran Isto porque já ouvimos companheiros que gostariam de receber mensagens como o Chico recebia, desejariam receber obras daquele talante, desejariam ser médiuns da envergadura desse ou daquele companheiro que se projeta na sociedade, mas desconhecem a cota de sacrifícios diários, de lutas, de lágrimas, de renúncias a que eles têm de se predispor e se dispor. Por isso, em Espiritismo, não há médiuns superiores a outros, nem mediunidades mais importantes que outras; existem oportunidades para que todos nós tomemos a charrua da evolução sem olharmos para trás, crescendo sempre.

Numa colocação feita pelo espírito Albino Teixeira através de Chico Xavier, no livro Paz e Renovação, diz ele: “Que o melhor médium para o mundo espiritual não é o que seja portador de múltiplas faculdades, mas é aquele que esteja sempre disposto a aprender e sempre pronto a servir.” 

Fonte: Livro - Diretrizes de Segurança , de Divaldo Franco e Raul Teixeira. Ed. Frater.

“o melhor médium para o mundo espiritual não é o que seja portador de múltiplas faculdades, mas é aquele que esteja sempre disposto a aprender e sempre pronto a servir.”


Espírito Albino Teixeira
Publicado na coluna da Liga Espírita Pelotense no dia 02 de Setembro 2012 – JORNAL DIÁRIO DA MANHÃ

22 junho 2014

Provação - Mozart


PROVAÇÃO

Complementando-nos as tarefas, na noite de 2 de dezembro de 1954 fomos surpreendidos com a presença do Irmão Mozart, desencarnado há tempos, e que, através do médium, nos relatou sua triste história. Foi pessoalmente conhecido de alguns dos nossos companheiros de agremiação e seu comunicado faz-nos lembrar as palavras do Divino Mestre: — “Muito se pedirá de quem muito recebeu.”

Meus irmãos.

Sou um mendigo de consolação, batendo-vos à porta. Lembro-me da seara espírita com a tortura do exilado, chorando o paraíso perdido, e recordo a mediunidade com a aflição do lavrador, carregado de remorsos por haver sentenciado a enxada que lhe era própria ao desvalimento e à ferrugem.

Noutro tempo, partilhei o pão que vos nutre a mesa, no entanto, envenenei-o com a lama da vaidade e sofro as conseqüências.

Benfeitores espirituais auxiliaram-me na obtenção das preciosas oportunidades que desfrutei em minha última existência na Terra, contudo, apesar de desligado agora do veículo físico, ainda não consegui amealhar suficiente luz para reaver o caminho de retorno a eles.

Tenho os horizontes mentais sob o fumo do incêndio que ateei no meu próprio destino.

Amparado por recursos da Vida Superior, sob a flama de ardente entusiasmo, comecei a missão da cura...

Utilizando a prece, via fluir por meus dedos a energia radiante e restauradora, extasiando-me ante as feridas que se fechavam, ante as dores que desapareciam e ante os membros semimortos que readquiriam movimento.

Com o trabalho veio o êxito e com o êxito chegaram as considerações públicas e os caprichos individuais satisfeitos que me fizeram estremecer...

Não consegui suportar a coroa de responsabilidade que me ornava a cabeça, resvalando na perturbação e na inconsciência.

Asseverando-me espiritualista, recolhi do Espiritismo e do Esoterismo conhecimentos e princípios que me favoreceram a extensão da influência pessoal.

Cego para as lições claras da vida e surdo aos apelos de ordem moral, intentei dominar as mentes alheias e explorá-las a meu bel-prazer.

Manejando a força magnética, encastelei-me no poder oculto...

Tarde, porém, reconheci que o poder oculto, sem o poder do reto pensamento, é tão perigoso para a alma quanto o dinheiro mal conduzido ou a ciência mal aplicada, que esbarram, invariavelmente, na extravagância ou no arrependimento, na loucura ou na morte.

Em minha insensatez, acreditando-me dono da luz, pretendi substituir os Instrutores Espirituais que se expressavam por intermédio de minhas mãos, entretanto, ai de mim!... A candeia sem combustível confunde-se com as trevas...

E eu que desejava escravizar, acabei escravizado, que sonhava honrarias, adquiria a vergonha, que me propunha deter a fortuna, terminei possuído pela indigência, que admitia vencer, vi-me derrotado, em pavorosa humilhação...

E, atravessando a grande fronteira, sou ainda um enfermo em dolorosa experiência.

É por isso que, em me reconfortando ao contacto de vossa casa simples e de vossas orações sinceras, deixo-vos, com o meu reconhecimento, os meus pobres apelos:

— Espiritualistas, Espiritistas e Esoteristas, orai e vigiai! Não vos interesseis simplesmente por vosso bem-estar, olvidando o bem-estar dos outros!...

Não fujais ao trabalho.

Não vos furteis ao estudo.

Não olvideis a simplicidade!

Não eviteis a luz!...

E, sobretudo, para que aflitivas surpresas não vos povoem a estrada futura, tende por norma, além dos apontamentos, avisos e diretrizes dos orientadores que se responsabilizam por nossos campos de atividade, o roteiro do Mestre dos mestres, que nos ensinou para a conquista real da felicidade o extremo sacrifício a favor do próximo e que nos legou a cruz da renunciação, como sublime talismã, capaz de garantir-nos a vitória na vida eterna!...

Pelo Espírito Mozart
Do livro: "Instruções Psicofônicas"
Médium: Francisco Cândido Xavier

21 junho 2014

Reencarnação – Oportunidade Especial - Espírito Lúcius


REENCARNAÇÃO - OPORTUNIDADE ESPECIAL


A importância da vida carnal, para o mundo espiritual, equivale à importância da escola para o ignorante.

No nível de evolução primitivo em que se acha o ser humano, recém-liberto dos patamares da animalidade irracional, a vida carnal é o estágio mais favorável para a eclosão da consciência, tanto pelo discernimento do certo e do errado, quanto pela possibilidade de avaliação constante de seu amadurecimento verdadeiro, motivado pela possibilidade de agir sem a recordação de seus antigos equívocos, melhorando-se realmente ou mantendo-se nos mesmos padrões primitivos.

Além disso, renascer significa retomar os projetos evolutivos interrompidos, dando continuidade aos edifícios da própria elevação, corrigindo os desvios inadequados e semeando novas relações para a perpetuação da obra.

Através do renascimento corporal, o Espírito volta ao convívio daqueles com quem já se afinou, aprofundando os laços do afeto, da mesma maneira que precisa corrigir os desajustes com aqueles a quem feriu, reparar os males espalhados por entre suas vítimas, devolver os bens aos que foram espoliados, tudo isso permitindo que cada um se corrija e se desculpe a si mesmo.

As estruturas espirituais garantiram, portanto, o recurso mais sublime para a desobstrução dos infernos, repletos de culpados eternos, segundo as antigas concepções dogmáticas.

Não mais prisões como calabouços sombrios. O útero da mãe passou a ser o alvará de soltura para os aflitos, o altar para os santos, o bálsamo medicamentoso para os machucados, o pão para os famintos, a luz para os cegos, a escola para os ignorantes, a rota segura para os perdidos da estrada, a esperança para os que se condenavam, sucumbindo ao peso das próprias culpas.

A reencarnação e o calor da maternidade se ergueram ao longo de todos os milhares de anos passados como a sagrada maneira de o Amor de Deus se fazer sentir ao Espírito abatido, recomeçando a jornada interrompida anteriormente e marcada pelos equívocos da ignorância.

Por isso ser tão importante que se lhe dêem garantias para o contínuo reciclar de corpos, através dos quais Espíritos superiores transitam pela Terra, ampliando os mecanismos de reforma das instituições e acelerando a transformação da ignorância.

Este é também o fator que vem motivando a grande luta dos representantes da treva espiritual, tristes filhos de Deus temporariamente inconscientes de seus nobres destinos, procurando meios para obstar a chegada de tais entidades mais elevadas, como se pudessem, com isso, barrar o progresso a que está fadada a humanidade.

Seus empenhos atuais na aprovação de leis que favorecem o procedimento abortivo indiscriminado em todos os povos da Terra correspondem ao esforço desesperado de lutar contra o progresso espiritual da comunidade, uma vez que seus representantes inferiores poderão estar mais livres para agir, independentemente das amarras carnais que os tirariam de circulação por vários anos, tanto quanto, com o aborto legalizado, garantiriam uma maior probabilidade para conseguirem influir sobre os seres menos preparados, fazendo-os provar excessivamente o cálice do prazer, sem os entraves da responsabilidade que a procriação representa.

Ao espalharem essa idéia permissiva como legitima, estariam contando com mais uma arma no arsenal do convencimento dos imaturos, que procurariam o recurso abortivo com a justificativa de que não é crime, de que a lei autoriza e de que, assim, não estão cometendo nenhuma infração.

O que ocorre ao ser humano, no entanto, é que a prática de tal agressão intra-uterina produz efeitos que ele desconhece em sua complexidade, mesmo que o aborto, tendo sido praticado à sombra da lei, tenha contado com as melhores condições de higiene, com o amparo de médicos competentes e de familiares carinhosos.

Trata-se de uma nódoa que a própria mulher sabe que inseriu em sua consciência e, diante das leis do universo, cada equívoco precisa ser reparado de maneira completa.

Ao se conseguir a aprovação legal para a prática indiscriminada do aborto, as forças inferiores da vida visam garantir que isso facilite às pessoas a utilização fácil de seu mecanismo destruidor, sabendo que isso as irá prender aos complexos de culpa da consciência infratora, tornando-as facilmente manipuláveis a partir desse ponto fraco, favorecendo a multiplicação dos males mentais, espirituais e físicos.

Todo complexo de culpa é um câncer no Espírito, que se multiplica através dos desajustes celulares por ele estimulados no organismo físico, seja na presente encarnação, seja em encarnações futuras.

E esse padrão de atitude, ferindo a vida de outros seres em processo de reencarnação, significa a ação nociva que não ataca apenas a carne de um organismo administrado pela mulher que escolheu abortar. Lesa outro ser, um Espírito que, muitas vezes, lhe foi um credor em outras vidas, que hoje volta como filho muitas vezes para receber aquilo que lhe fora negado ou tirado. Como conseguir reparar o erro quando, antes de se ver amado pela mulher que o abandonara um dia, volta a ter o corpo expelido, sem direito de gritar ou pedir socorro?

Uma série de traumas morais e perseguições espirituais que isso desencadeia é muito grande, que só podem ser reparados quando os que se envolveram com ele colhem os resultados dolorosos de sua prática, quando a entidade reencarnante que foi lesada perdoa o ato criminoso que a vitimou e quando todos os que o fizeram se empenham pela dedicação firme e determinada no caminho oposto, através da ajuda às crianças abandonadas, sem pais que as amparem na vida material e que se vêem desamparadas do amor materno ou paterno.


Livro Esculpindo o Próprio Destino, cap. 33
Espírito Lúcius
Psicografia de André Luiz Ruiz


20 junho 2014

História de um Médium - Irmão X


HISTÓRIA DE UM MÉDIUM

As observações interessantes sobre a doutrina dos Espíritos sucediam-se umas às outras, quando um amigo nosso, velho lidador do Espiritismo, no Rio de Janeiro, acentuou, gravemente:

- "Em Espiritismo, uma das questões mais sérias é o problema do médium..."

- "Sob que prisma?" - Indagou um dos circunstantes.

- "Quanto ao da necessidade de sua própria edificação para vencer o meio."

- "Para esclarecer a minha observação - continuou o nosso amigo - contar-lhe-ei a história de um companheiro dedicado, que desencarnou, há poucos anos, sob os efeitos de uma obsessão terrível e dolorosa."

Todo o grupo, lembrando os hábitos antigos, como se ainda estacionássemos num ambiente terrestre, aguçou os ouvidos, colocando-se à escuta:

- "Azarias Pacheco - começou o narrador - era um operário despreocupado e humilde do meu bairro, quando as forças do Alto chamaram o seu coração ao sacerdócio mediúnico. Moço e inteligente, trabalhava na administração dos serviços de uma oficina de consertos, ganhando, honradamente, a remuneração mensal de quatrocentos mil réis.

Em vista do seu espírito de compreensão geral da vida, o Espiritismo e a mediunidade lhe abriram um novo campo de estudos, a cujas atividades se entregou sob uma fascinação crescente e singular.

Azarias dedicou-se amorosamente à sua tarefa, e, nas horas de folga, atendia aos seus deveres mediúnicos com irrepreensível dedicação. Elevados mentores do Alto forneciam lições proveitosas, através de suas mãos. Médicos desencarnados atendiam, por ele, a volumoso receituário.

E não tardou que o seu nome fosse objeto de geral admiração.

Algumas notas de imprensa evidenciaram ainda mais os seus valores medianímicos e, em pouco tempo, a sua residência humilde povoava-se de caçadores de anotações e de mensagens. Muitos deles diziam-se espíritas confessos, outros eram crentes de meia-convicção ou curiosos do campo doutrinário.

O rapaz, que guardava sob a sua responsabilidade pessoal numerosas obrigações de família, começou a sacrificar primeiramente os seus deveres de ordem sentimental, subtraindo à esposa e aos filhinhos as horas que habitualmente lhes consagrava, na intimidade doméstica.

Quase sempre cercado de companheiros, restavam-lhe apenas as horas dedicadas à conquista de seu pão cotidiano, com vistas aos que o seguiam carinhosamente pelos caminhos da vida.

Havia muito tempo perdurava semelhante situação, em face de sua preciosa resistência espiritual, no cumprimento de seus deveres.

Dentro de sua relativa educação medianímica, Azarias encontrava facilidade para identificar a palavra de seu guia sábio e incansável, sempre a lhe advertir quanto à necessidade de oração e de vigilância.

Acontece, porém, que cada triunfo multiplicava as suas preocupações e os seus trabalhos.

Os seus admiradores não queriam saber das circunstâncias especiais de sua vida.

Grande parte exigia as suas vigílias pela noite a dentro, em longas narrativas dispensáveis. Outros alegavam os seus direitos às exclusivas atenções do médium. Alguns acusavam-no de preferências injustas, manifestando o gracioso egoísmo de sua amizade expressando o ciúme que lhes ia nalma, em palavras carinhosas e alegres. Os grupos doutrinários disputavam-no.

Azarias verificou que a sua existência tomava um rumo diverso, mas os testemunhos de tantos afetos lhe eram sumamente agradáveis ao coração.

Sua fama corria sempre. Cada dia era portador de novas relações e novos conhecimentos.

Os centros importantes começaram a reclamar a sua presença e, de vez em quando, surpreendiam-no as oportunidades das viagens pelos caminhos de ferro, em face da generosidade dos amigos, com grandes reuniões de homenagens, no ponto de destino.

A cada instante, um admirador o assaltava:

- "Azarias, onde trabalha você?..."

- "Numa oficina de consertos."

- "Ó! Ó!... e quanto ganha por mês?"

- "Quatrocentos mil réis."

- "Ó! mas isso é um absurdo... Você não é criatura para um salário como esse! Isso é uma miséria!...”

Em seguida outros ajuntavam: - "O Azarias não pode ficar nessa situação. Precisamos arranjar-lhe coisa melhor no centro da cidade, com uma remuneração à altura de seus méritos ou, então, poderemos tentar-lhe uma colocação no serviço público, onde encontrará mais possibilidades de tempo para dedicar-se à missão...”

O pobre médium, todavia, dentro de sua capacidade de resistência, respondia:

- "Ora, meus amigos, tudo está bem. Cada qual tem na vida o que mereceu da Providência Divina e, além de tudo, precisamos considerar que o Espiritismo tem de ser propagado, antes do mais, pelos Espíritos e não pelos homens!...”

Azarias, contudo, se era médium, não deixava de ser humano.

Requisitado pelas exigências dos companheiros, já nem pensava no lar e começava a assinalar na sua ficha de serviços faltas numerosas.

A princípio, algumas raras dedicações começaram a defendê-lo na oficina, considerando que, aos olhos dos chefes, suas falhas eram sempre mais graves que as dos outros colegas, em virtude do renome que o cercava; mas, um dia, foi ele chamado ao gabinete de seu diretor que o despediu nestes termos:

"Azarias, infelizmente não me é possível conservá-lo aqui, por mais tempo. Suas faltas no trabalho atingiram o máximo e a administração central resolveu eliminá-lo do quadro de nossos companheiros."

O interpelado saiu com certo desapontamento, mas lembrou-se das numerosas promessas dos amigos.

Naquele mesmo dia, buscou providenciar para um nova colocação, mas, em cada tentativa, encontrava sempre um dos seus admiradores e conhecidos que obtemperava:

- "Ora Azarias, você precisa ter mais calma!... Lembre-se de que a sua mediunidade é um patrimônio de nossa doutrina... Sossega, homem de Deus!... Volte à casa e nós todos saberemos ajudá-lo neste transe."

Na mesma data, ficou assentado que os amigos do médium se cotizariam, entre si, de modo que ele viesse a perceber uma contribuição mensal de seiscentos mil réis, ficando, desse modo, habilitado a viver tão somente para a doutrina.

Azarias, sob a inspiração de seus mentores espirituais, vacilava ante a medida, mas à frente de sua imaginação estavam os quadros do desemprego e das imperiosas necessidades da família.

Embora a sua relutância íntima, aceitou o alvitre.

Desde então, a sua casa foi o ponto de uma romaria interminável e sem precedentes. Dia e noite, seus consulentes estacionavam à porta. O médium buscava atender a todos como lhe era possível. As suas dificuldades, todavia, eram as mais prementes.

Ao cabo de seis meses, todos os seus amigos haviam esquecido o sistema das cotas mensais.

Desorientado e desvalido, Azarias recebeu os primeiros dez mil réis que uma senhora lhe ofereceu após o receituário. No seu coração, houve um toque de alarma, mas o seu organismo estava enfraquecido. A esposa e os filhos estavam repletos de necessidades.

Era tarde para procurar, novamente, a fonte do trabalho. Sua residência era objeto de uma perseguição tenaz e implacável. E ele continuou recebendo.

Os mais sérios distúrbios psíquicos o assaltaram.

Penosos desequilíbrios íntimos lhe inquietavam o coração, mas o médium sentia-se obrigado a aceitar as injunções de quantos o procuravam levianamente.

Espíritos enganadores aproveitaram-se de suas vacilações e encheram-lhe o campo mediúnico de aberrações e descontroles.

Se as suas ações eram agora remuneradas e se delas dependia o pão dos seus, Azarias se sentia na obrigação de prometer alguma coisa, quando os Espíritos não o fizessem. Procurado para a felicidade no dinheiro, ou êxito nos negócios ou nas atrações do amor do mundo, o médium prometia sempre as melhores realizações, em troca dos míseros mil réis da consulta.

Entregue a esse gênero de especulações, não mais pode receber o pensamento dos seus protetores espirituais mais dedicados.

Experimentando toda sorte de sofrimentos e de humilhações, se chegava a queixar-se, de leve, havia sempre um cliente que lhe observava:

- "Que é isso, "seu" Azarias?... O senhor não é médium? Um médium não sofre essas coisas!...

Se alegava cansaço, outro objetava, de pronto, ansioso pela satisfação de seus caprichos:

- "E a sua missão, "seu" Azarias?... Não se esqueça da caridade!..."

E o médium, na sua profunda fadiga espiritual, concentrava-se, em vão, experimentando uma sensação de angustioso abandono, por parte dos seus mentores dos planos elevados.

Os mesmos amigos da véspera piscavam, então, os olhos, falando, em voz baixa, após as despedidas:

- "Você já notou que o Azarias perdeu de todo a mediunidade?..." - Dizia um deles.

- "Ora, isso era esperado - redargüia-se - desde que ele abandonou o trabalho para viver à custa do Espiritismo, não podíamos aguardar outra coisa."

- "Além disso - exclamava outro do grupo - todos os vizinhos comentam a sua indiferença para com a família, mas, de minha parte sempre vi no Azarias um grande obsidiado."

- "O pobre do Azarias perverteu-se - falava ainda um companheiro mais exaltado - e um médium nessas condições é um fracasso para a própria doutrina..."

- "É por essa razão que o Espiritismo é tão incompreendido! - sentenciava ainda outro - Devemos tudo isso aos maus médiuns que envergonham os nossos princípios."

Cada um foi esquecendo o médium, com a sua definição e a sua falta de caridade. A própria família o abandonou à sua sorte, tão logo haviam cessado as remunerações.

Escarnecido em seus afetos mais caros, Azarias tornou-se um revoltado.

Essa circunstância foi a última porta para o livre ingresso das entidades perversas que se assenhorearam de sua vida.

O pobre náufrago da mediunidade perambulou na crônica dos noticiários, rodeado de observações ingratas e de escandalosos apontamentos, até que um leito de hospital lhe concedeu a bênção da morte..."

O narrador estava visivelmente emocionado, rememorando as suas antigas lembranças.

- "Então, quer dizer, meu amigo - observou um de nós - que a perseguição da polícia ou a perseguição do padre não são os maiores inimigos da mediunidade"...

- "De modo algum. - Replicou ele, convicto. - O Padre e a política podem até ser os portadores de grandes bens."

E, fixando em nós outros o seu olhar percuciente e calmo, rematou a sua história, sentenciando, gravemente:

- "O maior inimigo dos médiuns está dentro de nossos próprios muros!..."

Pelo Espírito Irmão X
Do livro: Novas Mensagens
Médium: Francisco Cândido Xavier